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  1. Vulcão Descabezado Grande ao fundo Início: 4km além do acampamento 6 da Reserva Altos de Lircay Final: povoado de Radal Duração: 2 dias Distância: 34,7km Maior altitude: 2210m Menor altitude: 639m Dificuldade: média Esta é a segunda parte da travessia Parque Tricahue - Reserva Altos de Lircay - Reserva Radal Siete Tazas que durou no total cinco dias. A primeira parte está em https://www.mochileiros.com/topic/74545-travessia-parque-tricahue-reserva-altos-de-lircay-chile-abr2018. Os três parques citados situam-se na região de Maule, no Chile, próximos às cidades de Molina e Talca, cerca de 215km e 270km ao sul de Santiago respectivamente. Eles não chegam a ter área contígua mas a proximidade é tão grande que me inspirou a querer cruzar os três num único trekking. 04/04/18 - 4º DIA - Travessia Reserva Altos de Lircay - Reserva Radal Siete Tazas - trilha bem marcada mas nenhuma sinalização Início: 4km além do acampamento 6 da Reserva Altos de Lircay Final: acampamento El Bolsón da Reserva Radal Siete Tazas Duração: 9h25 Distância: 14,8km Maior altitude: 2210m Menor altitude: 1635m Dificuldade: fácil A temperatura mínima da noite foi de -0,1ºC. Saí da barraca às 8h com 0,2ºC. Deixei o local de acampamento às 9h25 e logo após uma suave subida entrei num amplo vale onde encontrei o lugar que procurava na tarde anterior para acampar: uma infinidade de gramados planos ao lado de água boa e fácil. Se tivesse andado mais alguns metros... Água boa eu só encontraria novamente ao final desse dia, já chegando ao acampamento El Bolsón. Cordón del Guamparo A trilha me levou para o fundo desse vale, diretamente em direção aos belos paredões do Cordón del Guamparo. Após uma curta subida (na qual os paredões do cordón se mostram ainda mais bonitos) a trilha bifurcou às 10h58. Segundo o gps os dois lados estariam corretos, seriam apenas variantes, mas a trilha da direita (descendo) ganhou um pasto e começaram a aparecer trilhas de gado para todos os lados, me desviando do caminho certo. Voltei à bifurcação e tomei o lado da esquerda (direita na volta), que subiu, subiu e alcançou o alto exatamente onde havia outra bifurcação (também sem sinalização). Segundo o gps o lado da esquerda leva a uma tal Laguna Colorada (entre outros destinos), então fui para a direita na direção de um chapadão. Agora caminho sobre os paredões da extremidade leste do Cordón del Guamparo. Perdi a trilha por alguns metros mas a reencontrei bem marcada mais à esquerda. Um bonito gavião procurava comida entre as pedras e pude me aproximar um pouco para fotografá-lo. No final da subida, às 12h53, passei próximo a uma estrutura de ferro já meio tombada e sem uso. A trilha desceu e se alargou numa estrada abandonada, a qual subiu e desceu em direção a um gramadão. Aqui o caminho mais visível era a continuação da estrada abandonada para a esquerda, mas não. A travessia continuava por uma discreta trilha que sai para a direita alguns metros antes de iniciar o gramadão. Nenhuma placa ali também. Na sequência passei à direita de uma pequena lagoa onde pastavam cavalos (água ruim) e continuei por esse pequeno vale onde não encontrei água boa. Vi formações rochosas bem interessantes mais à frente e à direita parecia haver até um mini Enladrillado. Às 14h48 alcancei o ponto mais alto do dia (2210m) e a paisagem se abriu de maneira espetacular para a Reserva Radal Siete Tazas, podendo ver o acampamento El Bolsón, ainda muito distante, meu destino final nesse dia. Atrás dele a montanha chamada de Colmillo del Diablo (Dente Canino do Diabo). Para trás ainda podia ver quase todo o percurso do dia de hoje. No horizonte a sudeste ainda se destacavam os vulcões Descabezado Grande e Quizapú/Cerro Azul e à direita (mais abaixo um pouco) visualizava os paredões do vale do Rio Claro. Um mirante realmente de tirar o fôlego. Vulcão Descabezado Grande ao fundo A trilha de descida era bem visível na encosta à direita, mas o trecho inicial exige cuidado (e um bastão, de preferência) pois é bem inclinado e com pedrinhas soltas. Depois fica mais fácil, porém ao dobrar ao outro lado da encosta volta a piorar e se torna uma ladeira de terra e pedras soltas bastante cansativa e que parece não ter fim. Cheguei ao limite das árvores às 17h04 e logo caminhava por um bonito bosque. Cruzei um riacho por um tronco e conversei com um homem que estava ali arrumando a tralha para pôr nos cavalos. Por causa dos cavalos essa água não era confiável para beber. Nesse local registrei a menor altitude do dia: 1635m. Saí da mata, caminhei por uma trilha entre pedras e cruzei o profundo leito de um rio seco. Depois dele a única trilha que encontrei estava me levando na direção errada, então cruzei aquele chapadão de pedras sem trilha mesmo, apontando o gps para o El Bolsón (norte) para chegar logo. Um jovem a cavalo com uma espingarda me parou para perguntar se havia visto suas ovelhas e me pediu um cigarro. Às 17h56 cheguei a um rio que cruzei facilmente pelas pedras. Parei para um lanche rápido e matar a sede. Essa foi a primeira água boa desde o vale próximo ao local onde acampei. Continuei no rumo norte para o acampamento, atravessei uma estradinha de rípio, cruzei o límpido Rio Claro (esse é outro) pelas pedras e entrei assim na área do Parque Nacional Radal Siete Tazas. Fui para a direita após o rio e cheguei às 18h50 ao acampamento El Bolsón. Havia apenas uma barraca, depois chegou um casal chileno que vinha também da Reserva Altos de Lircay seguindo as minhas pegadas... Nesse acampamento há um chalé que funciona como refúgio, uma casa de pedra em estado precário, sanitários e duchas separados para homem e mulher, dois lavatórios. Água potável pode-se pegar no rio ou nas torneiras. Gramados para acampar são quase infinitos e os arbustos protegem do vento. Subi a um mirante próximo para fotos do Salto del Indio e do pôr-do-sol. Nessa hora passou um cavaleiro com seus cachorros. Mais ao fundo do gramadão de acampamento vacas pastavam. Será que estou mesmo num parque nacional?... Altitude de 1676m. Vulcão Quizapú/Cerro Azul 05/04/18 - 5º DIA - saída da Reserva Radal Siete Tazas e final da longa travessia Início: acampamento El Bolsón da Reserva Radal Siete Tazas Final: povoado de Radal Duração: 6h10 Distância: 10,4km de trilha + 9,5km de estrada Maior altitude: 1688m Menor altitude: 639m Dificuldade: fácil A temperatura mínima da noite foi de 0,5ºC. Saí da barraca às 7h50 com 5ºC. Se eu não tivesse que chegar a Santiago no dia seguinte (e tivesse comida para mais um dia) teria percorrido os pontos principais desse setor do parque, como a Laguna de las Animas, o Valle del Indio e o Colmillo del Diablo. No caminho para o acampamento Parque Inglês (caminho da saída do parque) havia ainda as trilhas La Montañita, Mala Cara, Chiquillanes e El Coigüe. E em outros setores do parque havia as famosas cachoeiras Siete Tazas (Sete Xícaras), La Leona e Velo de la Novia, mas nestas ainda poderia passar já que ficavam na estrada para o povoado de Radal, onde tomaria o ônibus para Molina e de lá a Talca (onde deixei parte da minha bagagem). Queria sair cedo pois iria tentar uma carona até Radal ou mesmo a Molina. Desmontei acampamento com muito frio pois o sol demoraria a chegar ao vale. Saí às 9h20 e cruzei pelas pedras um riacho 5 minutos depois. Uns 300m adiante passei por uma estaca que marcava 11km, distância que faltava para o acampamento Parque Inglês e a saída do parque segundo a medição da Conaf (o meu gps marcou 9,5km até o Parque Inglês). A trilha é bem marcada já que é muito usada e não gera dúvida pois é bem sinalizada. Percorre a encosta direita do vale do Rio Claro. Às 10h15 cruzei um riacho de água boa para consumo. Às 11h38 passei pela entrada da trilha La Montañita à direita (6h de duração). Às 11h54 passei pela entrada da trilha Mala Cara à esquerda (1h de duração). Às 12h passei pela entrada da trilha Chiquillanes à direita. Aí começou a chover e tive de guardar a câmera e vestir as roupas impermeáveis. Às 12h45 passei pelo acampamento Parque Inglês. Mais 150m passei pela administração e com outros 190m saí do parque. Na estrada de terra fui para a direita na esperança de uma carona até o povoado mais próximo, Radal. A chuva deu uma amenizada. Mas não havia movimento de carros nessa altura da estradinha. Poderia ter mais sorte a partir das Siete Tazas, atrativo muito visitado. Primeiro passei por um acesso particular às Siete Tazas e Salto la Leona, que é pelo camping Valle de las Catas, que cobra CLP 2500 (R$13) para visitar as Siete Tazas e as outras quedas do Rio Claro. Cerca de 650m adiante cheguei ao acesso oficial da Conaf, que cobra CLP 5000 (R$26) o ingresso de estrangeiros. Como chovia passei batido e continuei pela estrada para não perder alguma possível carona. Fiz sinal para quatro carros mas nenhum parou. Às 14h50 passei pela grande cascata Velo de la Novia, visível da estrada e sem cobrança de ingresso. Por fim, às 15h30 cheguei ao povoado de Radal. Altitude de 639m. A chuva havia parado. Ainda bem que foi tudo descida, nem pareceu que caminhei 20km. Ônibus para Molina só no dia seguinte às 7h30 (ainda é noite nesse horário). Havia diversas opções de camping, até por CLP 2500 (R$13). O camping da Conaf, na saída do povoado, era muito bonito e cobrava só CLP 4000 (R$21). Mas minha esperança de carona não morria. Tentaria até o final da tarde, se não conseguisse acamparia ali para tomar o ônibus no dia seguinte. Me posicionei num local de boa visão para os carros e continuei "haciendo dedo". Até que um carrão bonito e caro parou. Eram duas garotas colombianas e se dispuseram a me levar até Molina com a maior boa vontade. Imagine uma situação dessa no Brasil... No caminho ainda pegaram um casal da Venezuela que também dependia de carona para voltar a Santiago naquele dia. Chegamos a Molina às 17h33 e fui ao terminal de ônibus em frente ao mercado municipal tomar o ônibus das 18h10 para Talca, onde estava minha mochila pequena com as coisas que deixei no hostal. Vale do Rio Claro DADOS DA TRAVESSIA COMPLETA Travessia Parque Tricahue - Reserva Altos de Lircay - Reserva Radal Siete Tazas Início: portaria do Parque Tricahue setor Tricahue Final: povoado de Radal Duração: 5 dias Distância: 70,5km Maior altitude: 2233m Menor altitude: 490m Dificuldade: muito alta por não haver trilha definida no 2º dia Informações adicionais: Ônibus de Molina a Radal: Molina-Radal: jan e fev: seg a qui: 12h30, 18h15, 20h15 sex e sáb: 11h30, 12h30, 18h15, 20h15 dom: 7h45, 14h, 19h30, 22h resto do ano: 17h Radal-Molina: jan e fev: seg a qui: 7h10, 10h30, 15h45 sex e sáb: 7h10, 10h30, 15h45, 18h30 dom: 10h30, 13h30, 15h30, 18h45 resto do ano: 7h30 Ônibus de Talca a Vilches (para quem for diretamente à Reserva Altos de Lircay): Talca-Vilches: seg a dom e feriado: 7h15, 12h, 16h50 Vilches-Talca: seg a sáb: 7h15, 9h15, 17h10 dom e feriado: 9h15, 14h, 17h10 O grau de dificuldade que coloco nos relatos é uma avaliação pessoal e considera que o trilheiro esteja acostumado a caminhadas de vários dias com mochila cargueira. Para um iniciante considere todas as trilhas como difíceis. Para um iniciante que não esteja em boa forma física é melhor procurar trilhas fáceis de um dia para ganhar experiência e condicionamento. Rafael Santiago abril/2018 https://trekkingnamontanha.blogspot.com.br
  2. Laguna Chica Esta é a primeira parte da travessia Parque Tricahue - Reserva Altos de Lircay - Reserva Radal Siete Tazas que durou no total cinco dias. A segunda parte está em https://www.mochileiros.com/topic/74549-travessia-reserva-altos-de-lircay-reserva-radal-siete-tazas-chile-abr2018. Os três parques citados situam-se na região de Maule, no Chile, próximos às cidades de Molina e Talca, cerca de 215km e 270km ao sul de Santiago respectivamente. Eles não chegam a ter área contígua mas a proximidade é tão grande que me inspirou a querer cruzar os três num único trekking. 31/03/18 - CONHECENDO O PARQUE NATURAL TRICAHUE Circuito Tricahue (El Motor - Los Picudos) Início e final: portaria do Parque Tricahue setor Armerillo Duração: 3h ida até a cachoeira, 3h45 volta Distância: 8,9km ida, 8,7km volta Maior altitude: 1230m Menor altitude: 490m Dificuldade: média (muita subida e pouca água) O Parque Natural Tricahue é uma reserva particular, diferentemente dos outros dois parques que são administrados pela Conaf, órgão florestal oficial do Chile. Tricahue é o nome de uma espécie de papagaio que habita essa região. O Parque Tricahue tem dois setores (Armerillo e Tricahue) e teoricamente duas portarias. Digo teoricamente pois no setor Tricahue encontrei apenas uma porteira de arame aberta e ninguém para me receber ou cobrar a entrada. Nele há algumas cabanas de aluguel. Já no setor Armerillo há uma família residente que cobra o ingresso e o pernoite em cabana ou barraca. Nesse setor estão as trilhas mais procuradas (El Tata e El Motor). Tomei no terminal rodoviário de Talca o micro-ônibus para o povoado de Armerillo às 7h30 (ver horários abaixo em Informações Adicionais). Ainda era noite, em abril só começa a amanhecer depois das 7h40. A viagem durou 1h18min. Pedi ao motorista que me deixasse no Parque Tricahue e ele erroneamente me deixou no Refúgio Tricahue, que fica entre os dois setores/portarias do parque. Voltei 1,2km a pé até a placa do parque (setor Armerillo) e bati na casa às 9h08. Todos dormiam. No Chile é costume das pessoas acordarem bem tarde. O homem que me atendeu me deu informações sobre as duas trilhas principais e quando falei que queria cruzar à Reserva Altos de Lircay ele desaconselhou e enfatizou que se eu fosse seria minha inteira responsabilidade. O caminho não estava bom, pouca gente fazia aquilo. Altitude de 490m. Montei a barraca, dei uma olhada rápida no museu com amostras da flora local e parti às 11h17 para o Circuito Tricahue (El Motor - Los Picudos), o mais difícil dos dois. Inicilmente é a mesma trilha do Tata, ao chegar ao anfiteatro ao ar livre há uma bifurcação: Motor à direita e Tata às esquerda. Altitude de 601m. Tomei a direita às 11h43 e daí em diante foi uma subida incessante até o Mirador Los Volcanes, a 1107m de altitude, de onde se divisam os vulcões Descabezado Grande e Quizapú/Cerro Azul. Felizmente a subida se dá pela sombra da mata. O caminho é largo, uma estrada abandonada. Após o mirante a trilha nivela um pouco e se torna bem mais fácil. Mas apesar da mata o terreno é seco, o dia estava bem quente e a única fonte de água estaria só mais à frente. Cascada El Chucao Às 13h52 tomei a esquerda na bifurcação sinalizada como "Cruze Bajada Tricahue". À direita será o caminho que pegarei na volta. Pouco antes dessa bifurcação alcancei o ponto mais alto da caminhada: 1230m. Com mais 7 minutos cheguei ao tal Motor, uma máquina a vapor arrastada até aquele lugar por bois numa época em que funcionava ali uma serraria. Mais à frente a trilha desce por um caminho de pedras e passa finalmente por uma fonte de água, 255m antes do Refúgio El Ciprés, onde se pode acampar também (não é permitido usar o interior do refúgio). Mais 480m e a trilha termina na Cascada El Chucao, aonde cheguei às 14h20. Altitude de 1134m. Apesar do feriado de Semana Santa só mais três pessoas chegaram à cachoeira. Lá no camping havia só mais uma barraca (aliás de um casal muito simpático). Certamente escolhi o lugar ideal para ter paz e sossego em pleno feriadão. Iniciei o retorno às 15h10 pelo mesmo caminho até a bifurcação Cruze Bajada Tricahue. Tomei a esquerda e de cara já deu pra notar a trilha estreita, bem diferente do caminho largo por onde subi. Essa trilha tinha sinalização de setas brancas e vermelhas somente em alguns pontos e é tão pouco pisada que chega a gerar algumas dúvidas. A descida se dá pela encosta e é preciso algum cuidado com a inclinação forte e com alguns locais onde uma queda seria desastrosa. Impressiona a quantidade da planta chagual, um tipo de bromélia, já com as flores secas nessa época. Se a trilha não é tão fácil quanto a outra (a que usei para subir) a paisagem compensa. Aos poucos os vales do rios Los Picudos e Los Tricahues se abrem à esquerda formando um belíssimo cenário. E bem no alto as montanhas chamadas Los Picudos. Só não se deve distrair com o panorama e não prestar atenção onde pisa. Cuidado! Num certo momento cruzei com uma aranha grande (caranguejeira ou parecida), bicho não muito fácil de se ver nas trilhas aqui do sudeste do Brasil. Depois entrei num bosque denso e essa descida não terminava nunca. A trilha desembocou num caminho largo em que fui para a direita. Me aproximei do leito do Estero Los Tricahues (única fonte de água fácil em toda essa descida) e às 17h48 uma placa causou mais confusão do que informação. A placa no chão apontava para a frente e dizia "Sendero Rojo" (trilha vermelha), enquanto uma trilha à esquerda vinha do rio. Segui em frente, para onde a placa apontava (mas depois vi que deveria ter entrado nessa trilha à esquerda e cruzado o rio para não passar por propriedades particulares). Segui em frente, cruzei uma cerca de troncos, depois uma cerca de arame farpado e percebi que não devia estar mais na área do parque. Mas continuei. Peguei uma estradinha mais ou menos paralela à estrada principal do vilarejo Armerillo que deu num portão alto (aberto) e um galpão. Cruzei essa propriedade sem ver ninguém e cheguei enfim à estrada principal, porém com um portão de ferro alto e trancado. Encontrei um ponto mais fácil de pular a cerca de arame farpado com alambrado e ganhei a estrada finalmente. Mais 180m à direita e estava de volta ao camping às 18h55, faltando 46 minutos para o pôr-do-sol. Vale do Estero Los Tricahues 01/04/18 - 1º DIA DA TRAVESSIA - Trilha El Tata e Travessia Parque Tricahue - Reserva Altos de Lircay (1ª parte) Circuito Trilha El Tata Início e final: portaria do Parque Tricahue setor Armerillo Duração: 2h35 Distância: 5km Maior altitude: 765m Menor altitude: 490m Dificuldade: fácil Travessia Parque Tricahue - Reserva Altos de Lircay (1ª parte) Início: portaria do Parque Tricahue setor Tricahue Final: cota dos 1174m Duração: 5h Distância: 8km Maior altitude: 1174m Menor altitude: 543m Dificuldade: esta 1ª parte foi fácil Saí às 8h57 e fui percorrer a Trilha El Tata. Esse é o nome de um exemplar de 526 anos de um coigüe (ou coihue). Tata em espanhol significa avô. Inicialmente a mesma trilha do Motor até a chegada ao anfiteatro. Ali tomei a bifurcação da esquerda. Subida rápida até o primeiro mirante, Mirador Armerillo, porém a neblina da manhã impedia a visão do largo vale e montanhas ao fundo. Ali a trilha inicia um circuito e o sentido sugerido é o anti-horário. Porém, como a neblina ia me tirar a visão nos mirantes seguintes, fiz o circuito ao contrário, descendo logo ao vale do Estero Armerillo, no sentido horário. Às 9h53 pude pegar água nesse estero (rio) e 6 minutos depois fotografei a bonita Cascata El Pozón. Às 10h09 cheguei ao velho coigüe. Um painel faz uma cronologia de acontecimentos relevantes no Chile ao longo da vida dessa incrível árvore de cinco séculos. Curioso é que o tronco tem uma parte oca tão grande que um adulto consegue entrar. Ali se pode pegar água facilmente do rio para um lanche e há até banheiros! Às 10h28 continuei o circuito para retornar ao camping, passando por dois outros mirantes, agora com céu aberto e sem neblina. Passei pelo anfiteatro e cheguei ao camping às 11h32. Almocei, desmontei a barraca, arrumei a mochila, conversei mais um pouco com meus simpáticos vizinhos e às 14h22 parti para a aventura não recomendada pelo dono do camping, a travessia para a Reserva Altos de Lircay. Pozón Eu tinha dois caminhos gravados no gps: um seria a partir do Motor, numa trilha quase apagada que explorei no dia anterior; o outro seria a partir da Entrada Tricahue do parque, distante 2,6km dali pela estrada principal do vilarejo. A primeira opção me pareceu talvez menos usada que a segunda e com a agravante de chegar à Reserva Altos de Lircay pela portaria, enquanto a segunda chegava pela Laguna del Alto, o que já me colocava a caminho do terceiro parque, o Radal Siete Tazas. Caminhei os 2,6km até a Entrada Tricahue e se não fosse o gps teria passado direto pois não há nenhuma placa indicando que aquela porteira de arame (aberta) é a entrada de um parque. Para chegar ali caminhei 2km a partir do camping pela estrada principal (de rípio) do vilarejo e entrei na rua à esquerda quando há uma curva de 90º para a direita e uma ponte. Há uma placa na curva indicando a entrada do Parque Tricahue a 400m. Cruzei por uma ponte de concreto o pedregoso Estero Los Tricahues e encontrei numa curva a porteira de arame aberta com uma placa dizendo "se arrienda cabaña". Era ali mesmo. Entrei às 14h58 e fui para a esquerda, passei pelas cabanas e encontrei um caminho largo que se dirigia ao rio, num local onde há várias caixas de abelha. Uma plaquinha com uma seta e a figura de um caminhante me confirmaram o caminho. Vi algumas pessoas que deviam estar hospedadas nas cabanas mas ninguém para cobrar a entrada ou dar orientações. Altitude de 543m. Segui por esse caminho largo no sentido norte, passei por uma placa "Al Pozón", numa bifurcação fui para a esquerda e às 15h53 cheguei a uma clareira à esquerda. A proximidade com o Estero Los Tricahues me fez ir buscar água e por acaso descobri o tal Pozón. Havia vários sinais de acampamento por ali e realmente é um lugar bem agradável para ficar, mas eu tinha um trajeto muito incerto pela frente e tinha que continuar. Saí do Pozón às 16h30 e a trilha estreitou por algum tempo, mas depois voltou a alargar, como uma estrada abandonada. Em determinado momento não notei um totem de pedras e uma seta azul celeste na árvore apontando para a direita e segui em frente. Cheguei a um desmoronamento e não era possível seguir. Até pensei que ali seria o fim da minha aventura mas no retorno vi a plaquinha e entrei na trilha bem marcada à esquerda. Ali começava uma subida que duraria o restante do dia e todo o dia seguinte, com todas as dificuldades que ainda vou contar. A direção geral da caminhada nessa hora muda de norte para nordeste pelo vale do Estero Los Tricahues. Às 18h12 a trilha alcança uma grande clareira gramada com pés de amora silvestre por todos os lados, um surpreendente espaço para acampamento onde caberiam muitas barracas, porém sem água próximo. A trilha volta a penetrar a mata ao final da clareira, à direita. Dali em diante, ao mesmo tempo que as amoreiras dão frutos doces para a gente se fartar, dificultam a passagem com seus muitos espinhos. Às 18h32, apesar de uma seta azul celeste na árvore apontar para a esquerda, continuei pela trilha principal em frente e só depois de quase 300m percebi que estava na direção errada, indo para sudeste, quando deveria sempre continuar para nordeste. Voltei e só então vi uma trilha bem apagada indo para a direita (esquerda na vinda). Quando passou das 19h comecei a procurar um lugar para a barraca, mas não estava fácil achar. Nessa procura me deparei com outra caranguejeira, essa bem maior que a do dia anterior. Por fim às 20h, 20 minutos após o pôr-do-sol, encontrei um espaço onde caberia a barraca e com bem pouca inclinação. Mas o que me fez ficar com a pulga atrás da orelha é que não encontrei a continuação da trilha, que já estava cada vez mais apagada. Altitude de 1174m. Vulcão Descabezado Grande 02/04/18 - 2º DIA - Travessia Parque Tricahue - Reserva Altos de Lircay (2ª parte) com muitas dificuldades de percurso Travessia Parque Tricahue - Reserva Altos de Lircay (2ª parte) Início: cota dos 1174m Final: próximo à Laguna Chica na Reserva Altos de Lircay Duração: 10h Distância: 7,5km Maior altitude: 2110m Menor altitude: 1146m Dificuldade: muito alta por não haver trilha definida Comecei o dia na expectativa de encontrar a continuação da trilha, que parecia morrer ali onde acampei. Depois de muito sobe-desce e vai-volta encontrei, e assim comecei a caminhar efetivamente às 9h56. Com 7 minutos encontrei uma ótima fonte de água. E com mais 5 minutos um excelente lugar para duas barracas com o rio ao lado. Pena que não consegui chegar a esse local no dia anterior. Havia sinais mesmo de acampamento (fogueira, mesinha e banco de troncos) e uma lata de tinta azul celeste usada na marcação da trilha. Mais à frente duas singelas quedinhas d'água seriam a última fonte de líquido até o final do dia. A trilha sobe para um bonito mirante e finalmente avisto o panorama acima das árvores, tanto para norte (meu destino) quanto para sul (de onde vim). Alguns totens continuam a aparecer, mas à medida que subo a trilha vai sumindo de vez. Logo estava procurando a trilha em meio a arbustos e touceiras de capim e bambuzinhos. As dificuldades começavam. E com o calor aumentando o cansaço não ia demorar a chegar. Segui nessa procura até que me deparei com uma matinha e nada de trilha para entrar nela. Ou seja, não havia mais caminho aberto. Nem sabia se estava na altura certa da encosta ou deveria procurar mais acima ou mais abaixo. Eram 12h23 e parei para um lanche e descanso. Em 3h procurando a trilha havia avançado apenas 2km. Temia pelo que viria pela frente num lugar como aquele em que ninguém passa mais, porém era cedo para pensar em desistir. Povoado de Armerillo já bem distante Descansei por quase uma hora. Depois entrei na mata sem a mochila e no vai-e-volta encontrei uma árvore pintada. Pelo menos estava no lugar onde um dia existiu uma trilha... Passei pela matinha (que felizmente era curta), subi um pouco e encontrei um rastro de trilha para continuar. Até que uma vala enorme me obrigou a subir a encosta de uma vez, tomando a direção sudeste por algum tempo. Alcancei o alto já sem trilha novamente e andei por uma crista, voltando ao meu sentido nordeste. Mas outra erosão enorme me deteve às 14h57 e tive que subir forte de novo para a direita (sudeste). Lá no alto voltei a encontrar uma seta azul celeste e pedras pintadas dessa cor. E com uma frequência que me fez tirar um pouco os olhos do gps e caminhar algum tempo orientado por essas marcações. Mas a alegria não durou muito pois cresceram moitas de ñirre exatamente onde passava a trilha. Esses arbustos são duros e era preciso abri-los para encontrar possíveis marcações. A essa altura me assombrava a idéia de encontrar algum impedimento no caminho e ter de voltar tudo aquilo que caminhei, com toda a dificuldade que já havia passado... Após o cinturão de ñirres e outras matinhas, o caminho se abriu e agora só tinha vegetação baixa e pedras pela frente. Parece que o pior havia passado. Cheguei enfim à crista dessa encosta e pude visualizar os vulcões Descabezado Grande e Quizapú/Cerro Azul a leste, além de uma paisagem incrível para todos os lados. Essa crista ainda ascendia bastante mas meu caminho (sem trilha) seria pela encosta mesmo, subindo suavemente. Aos poucos fui me aproximando de conjuntos de grandes blocos de pedra e me preocupava não conseguir passar por eles. Mas não houve grande dificuldade e finalmente às 18h46 alcancei um selado que me abriu visão para a Reserva Altos de Lircay! Estava entrando em sua área. Terminou a saga? Não, faltava chegar a alguma laguna para ter água para acampar... doce ilusão. Altitude de 2102m nesse mirante. Poucos metros antes o gps havia registrado a maior altitude do dia: 2110m, ou seja, desnível de 964m com todas as dificuldades de percurso. Continuei exatamente no rumo norte descendo por uma outra encosta. Passei por um novo cinturão de ñirres duros, pulei muitos blocos de pedra, mais ñirres, uma ladeira de pedras e do alto avistei a primeira laguna do parque, a Laguna Chica... totalmente cercada por ñirres!!! E a noite já ia chegar... Tentei o caminho mais direto mas os ñirres eram muito difíceis e havia uma vala funda no meio. Pensei em contornar todo o cinturão mas já caía a noite. Atravessei uma faixa de ñirres mais fácil e por sorte encontrei um lugar plano para a barraca às 19h50. Ouvi barulho de água mais abaixo e desci só com a garrafa e a lanterna para procurar. Encontrei o precioso líquido escorrendo numa grotinha... ufa! Subi de volta à mochila e voltei ao lugar plano já no escuro. A noite foi de lua cheia mas estreladíssima. Altitude de 1986m. Laguna del Alto 03/04/18 - 3º DIA - Travessia Parque Tricahue - Reserva Altos de Lircay (3ª parte) - como é bom voltar a caminhar por uma trilha! Travessia Parque Tricahue - Reserva Altos de Lircay (3ª parte) Início: próximo à Laguna Chica na Reserva Altos de Lircay Final: 4km além do acampamento 6 da Reserva Altos de Lircay Duração: 10h Distância: 20,3km Maior altitude: 2233m Menor altitude: 1657m Dificuldade: fácil A temperatura mínima da noite foi de 6,3ºC. A dificuldade desse dia no máximo seria chegar à Laguna del Alto pois dali em diante tinha certeza de que haveria trilha consolidada pois é um dos atrativos mais procurados da Reserva Altos de Lircay. Levantei acampamento às 9h32 e de cara tinha que procurar uma forma de contornar o cinturão de ñirres e alcançar a Laguna Chica. O caminho mostrado no gps era muito ruim. Desci então até o local onde peguei água e um pouco abaixo cruzei o riacho sem dificuldade. Na outra margem escalaminhei a encosta bem íngreme. Dali em diante chegar à margem da laguna foi moleza. E encontrei pegadas de cavalo, o que me guiou rapidamente à Laguna del Alto, maior e ainda mais bonita que a primeira, cercada por montanhas de pedra, com destaque para o Cerro Peine. Ali sim respirei aliviado pois sabia que a primeira etapa da travessia estava conquistada. De agora em diante não teria mais perrengue pois a ligação entre os parques Altos de Lircay e Radal Siete Tazas já está bem consolidada (pelo menos era a informação que me deram). Cruzei o riacho que é vertedouro da Laguna del Alto às 11h05 e por trilha bem marcada iniciei o caminho ao Enladrillado, outro grande atrativo desse parque. De cara uma longa subida (com água) e no alto fui à direita na bifurcação sinalizada (à esquerda desceria à administração). Caminhei pela borda de um imenso vale cuja vertente oposta foi meu ponto de chegada ao parque no dia anterior. Depois baixei a um amplo vale chamado de Vega El Arriero nos mapas e subi pelo lado oposto (havia muito pouca água ali). Após um percurso pela crista na qual alcancei a maior altitude do dia (2233m), já visualizando o vale do Rio Lircay bem abaixo à esquerda (norte), cheguei às 13h54 ao Enladrillado. Trata-se de um platô em que as rochas "cortadas" naturalmente em formatos regulares se dispõem de tal maneira que parecem ladrilhos. Não bastasse essa forma curiosa o platô está à beira do precipício que cai para o imenso vale do Rio Claro, sendo por isso um mirante espetacular para esse vale e as montanhas a perder de vista, com destaque para os vulcões Descabezado Grande e Quizapú/Cerro Azul. Altitude de 2182m. Enladrillado Saí de lá às 14h33 e imediatamente comecei a descida em direção ao Rio Lircay e ao acampamento da Reserva Altos de Lircay. A parte inicial da ladeira é um convite irresistível a um belo tombo pois é inclinada e repleta de pedrinhas soltas. A visão para esse quadrante norte também é bastante ampla e bonita. Às 15h43 entrei na mata e 7 minutos depois devia ter ido à direita numa bifurcação para chegar mais rápido ao acampamento. Fui para a esquerda seguindo a seta e caminhei bem mais. Foi distração... Às 16h08 passei direto pelo acampamento 6 da Reserva Altos de Lircay pois queria adiantar o máximo possível a travessia para a Reserva Radal Siete Tazas. Vi apenas 3 ou 4 barracas montadas. Não vi nenhum guardaparque e ninguém me questionou nada. Cruzei a ponte e continuei à esquerda na bifurcação da Vega Los Treiles. Mas havia tempo para conhecer o Mirador del Valle del Venado antes de prosseguir na travessia. Parei na bifurcação sinalizada desse mirante, escondi a cargueira na mata próxima e segui à direita na bifurcação às 16h25. Pensei em ir e voltar rapidamente sem mochila mas o caminho em grande parte é de pedras soltas, por isso levei mais tempo do que pensava (32min ida) e me cansei mais também. Cheguei ao mirante às 16h57 e fiquei até 17h24. A paisagem é parecida com a do Enladrillado porém de um ponto mais baixo. Do mirante desce a trilha para o próprio Valle del Venado e para o grande Circuito del Cóndor, de vários dias de duração e que também termina na Reserva Radal Siete Tazas. Às 17h57 peguei a mochila e tomei a esquerda na mesma bifurcação (a placa não informa nada sobre essa trilha da esquerda). Ao chegar à primeira mata há uma bifurcação sutil em que a trilha mais marcada vai para a esquerda, mas eu tomei o lado da direita, bem menos marcado. Nesse ponto e daí em diante não há mais sinalização alguma. Já estou fora da área do parque nacional segundo o gps. Só para informação, essa trilha da esquerda, a mais pisada, é a trilha Sillabur que leva ao acampamento Antahuara. Ao cruzar o riacho seguinte atenção de novo. Há trilha saindo para a direita e para a esquerda, mas deve-se ir para a esquerda. Havia vacas nas imediações mas peguei água limpa nesse riacho. Nele a menor altitude do dia: 1657m. Subi, cruzei um descampado, subi um pouco mais e ao visualizar a baixada seguinte já sabia que teria que acampar por ali pelo adiantado da hora. Cruzei a baixada e tentei encontrar mais adiante algum local plano e sem pedrinhas para montar a barraca, mas encontrava cada vez mais pedras. Voltei um pouco e acampei na baixada mesmo, às 19h40. No dia seguinte encontrei a poucos metros dali grandes gramados perfeitos para acampar e com água limpa bem ao lado. Fica a dica! Dessa maneira, consegui adiantar uma hora da caminhada do dia seguinte, o que foi importante. Altitude de 1725m. Vale do Rio Claro DADOS DA TRAVESSIA COMPLETA Travessia Parque Tricahue - Reserva Altos de Lircay - Reserva Radal Siete Tazas Início: portaria do Parque Tricahue setor Tricahue Final: povoado de Radal Duração: 5 dias Distância: 70,5km Maior altitude: 2233m Menor altitude: 490m Dificuldade: muito alta por não haver trilha definida no 2º dia Informações adicionais: Ônibus de Talca a Armerillo (a passagem custa CLP 1500 (R$8) e a viagem leva cerca de 1h20min): Talca-Armerillo: seg a dom e feriado: 7h30, 10h, 13h30, 16h30, 20h30 Armerillo-Talca: seg a dom e feriado: 7h10, 9h30, 13h25, 17h, 18h30, Ônibus de Talca a Vilches (para quem for diretamente à Reserva Altos de Lircay): Talca-Vilches: seg a dom e feriado: 7h15, 12h, 16h50 Vilches-Talca: seg a sáb: 7h15, 9h15, 17h10 dom e feriado: 9h15, 14h, 17h10 A entrada no setor Armerillo custa CLP 2000 (R$10,70) para quem vai só passar o dia. O camping custa CLP 3500 (R$18,70) por pessoa por noite e dá direito a percorrer todas as trilhas sem custo adicional. Há banheiros e ducha quente (a água só saía quente no banheiro feminino quando estive lá). Acampa-se entre patos, galinhas, gansos e perus, uma verdadeira sinfonia. O grau de dificuldade que coloco nos relatos é uma avaliação pessoal e considera que o trilheiro esteja acostumado a caminhadas de vários dias com mochila cargueira. Para um iniciante considere todas as trilhas como difíceis. Para um iniciante que não esteja em boa forma física é melhor procurar trilhas fáceis de um dia para ganhar experiência e condicionamento. Rafael Santiago abril/2018 https://trekkingnamontanha.blogspot.com.br Mirador Valle El Venado
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