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Um guia de turismo do Piauí vem chamando atenção nas redes sociais ao comparar pinturas rupestres datadas de até 40 mil anos atrás com os jogos olímpicos de Paris. Em uma série publicada em seu perfil do Instagram, Ari Lima faz uma alusão comparativa das imagens em pedra de um sítio arqueológico no Parque Nacional da Serra da Capivara, no município de Coronel José Dias, com as diversas modalidades retratadas na competição. Nas publicações, intituladas "Olimpíadas na Pré-história", Ari mostra a semelhança das pinturas com a performance de atletas brasileiros nos jogos de Paris, assim como estrelas de olimpíadas anteriores. Leia mais: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/ultima-hora/pi/guia-turistico-mostra-semelhanca-de-jogos-olimpicos-com-pinturas-rupestres-na-serra-da-capivara-1.3543122 https://www.instagram.com/ariguiaserradacapivara?igsh=MTFkbmpxbmNod3k0dQ==
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Essa foi uma viagem desejada por muitos anos, mais de 20, talvez uns 30 anos, quando pela primeira vez ouvi falar sobre Niede Guidon, e sobre arqueologia, uma ciência que estuda o antigo, assunto que me inspira até hoje e que foi um dia o meu desejo de carreira, hoje não mais. Eu acho. Por volta de maio decido que nesse ano (2023), minha viagem seria para lá, então comecei a fazer cotação de passagem aérea, e iniciei o contato com o guia Bruno Freitas, de quem retirei o contato no site mochileiros.com. Falei também com o Waltércio, que se mostrou muito receptivo, oferecendo até o serviço de buscar no aeroporto, caso tivesse interesse. Fechei a compra das passagens para o dia em que encontrei melhor valor considerando o número de dias que pretendia ficar no parque e que oferecia o voo direto, uma opção que sempre busco, pois passar ainda mais horas para viajar além do tempo de voo não me atrai muito, e que ainda me permitia sair e voltar por Guarulhos, melhor opção para quem mora na Zona Leste de São Paulo. Esses são detalhes que acabam fazendo alguma diferença. Aprendi com amigos, que pesquisar na internet em diferentes sites, e depois comprar a passagem direto no site da companhia aérea é mais seguro. Encontrei uma boa opção de comprar a passagem junto com o aluguel do carro descendo em Petrolina. Existe a opção de descer no aeroporto de Teresina, mas seriam ainda mais horas de viagem até São Raimundo Nonato. A informação que encontrei naquele momento é que o valor da diária do guia estava em $250 reais, mais os $ 300 se eu quisesse que o guia me levasse no carro dele aos locais do passeio. Essa opção de pagar o carro do guia achei totalmente inviável, pois sairia muito mais caro, e ainda me deixa presa, sem uma opção de ter um carro a minha disposição para ir em locais em que não preciso estar com o guia, almoçar onde preferir, dar uma volta em São Raimundo, conhecer outros vilarejos etc. Ainda não existem ônibus locais que ligam São Raimundo ao Sitio do Moco, o vilarejo onde escolhi ficar hospedada. Uma única opção de ônibus da Viação Gontijo, que sai de Petrolina para São Raimundo Nonato na segunda, quinta ou domingo, e ainda voltando de São Raimundo para Petrolina de segunda, terça ou sexta. Inicio da viagem Nossa ida para o aeroporto foi de trem, partindo da estação Tatuapé do metrô, sai um trem para a estação Engenheiro Goulart da CPTM, de lá outro trem leva até a Estação Aeroporto, onde se pega uma ônibus gratuito que leva aos terminais de embarque. Nosso Voo era as 23:50h, chegamos em Petrolina por volta de 3:00 horas, não tinha buscado informação mais precisa, e só quando desembarquei descobri que a agência de aluguel de carros Movida ficava bem próximo ao aeroporto. Um funcionário da Movida estava esperando os passageiros que tinham carro alugado, eu, minha filha Sophia e mais umas duas pessoas, embarcamos na Van que nos levou há uns 200 metros à frente onde ficava a agência. Uns 40 minutos depois de desembarcar do voo eu já estava de posse do carro que eu tinha alugado, o que me surpreendeu, pois eu achava que teria que ficar umas horas no aeroporto e esperar a agência abrir pela manhã. Enfim, mesmo já tendo feito algumas viagens de avião, essa, de alugar o carro no próprio aeroporto era minha primeira vez. Por causa disso, eu acabei não buscando reservar um local para dormir nesse primeiro dia. Ficamos dando umas voltas em plena madrugada por Petrolina, pois eu não tinha decidido exatamente o que faria nesse primeiro dia. Procurei por algumas pousadas simples para dormir um pouco e logo seguir viagem, mas em plena madrugada não achei nada aberto. Passamos por um Ibis no caminho, mas nem entrei para ver a diária. Acabamos dormindo umas duas horas no carro em frente uma farmácia Drogasil no centro. Depois de dormir um pouco, caiu minha ficha de que seguir viagem assim sem dormir bem era uma péssima ideia, eu tinha tempo, então procuramos um hotel para dormir mais umas horas. Dormimos um pouco e recuperada, mais disposta, resolvi dar uma volta para conhecer Petrolina, afinal, desde o início eu já sabia que devia aproveitar todo o tempo e oportunidade que tivesse, não sabia quando e se voltaria por ali um dia. Foi o que fizemos, fomos até a orla, encontrei a balsa, que cobrava $ 2,50 para a travessia pelo Rio São Francisco entre Petrolina até Juazeiro, uma travessia de uns 10 minutos, que desembarca do lado de Juazeiro na Bahia. Pronto, achamos o que fazer naquele dia, para não ficar com a sensação de perder um dia. Passeamos no comercio de Juazeiro, tomamos água de coco do jeitinho que eu curto, com direito a comer a popa do coco, inclusive com o conselho do moço que vendia, de que a popa é bem nutritiva, me esqueci o termo que ele usou, algo do tipo “pura cartilagem”, na verdade ele está mesmo mais do que certo. Afinal, a popa do coco tem até mais nutrientes do que o próprio coco. Pronto, já estava aproveitando muito ali. Almoçamos ainda em Juazeiro, em um restaurante que fica próximo a saída da balsa, um tipo de quiosque, que serve algumas opções de prato, desde peixe, carneiro e carne de sol. A vista, bem ao lado do rio, permitia ver dali a ida e volta das balsas, a visão da ponte que liga Juazeiro e Petrolina e o tráfego constante de carros na ponte e até um Jet-ski que passava no rio no momento que eu gravada um vídeo. Escolhemos o PF de carne de sol, e acrescentei mais uma porção de macaxeira. A quantidade de comida foi mais do que suficiente para mim e para Sophia, minha filha de 13 anos. Reparei que ao lado desse restaurante que me esqueci de anotar o nome, mas que para localizar é sem erro, bem próximo da saída de balsa, tinha também a barraca de Acarajé da Ana, fiquei curiosa em saber se o acarajé dali seria parecido com o que comi em salvador anos atras e não havia gostado muito. Descobri dias depois, na minha volta, que não, era até que muito bom, porém não exatamente o Acarajé feito na barraca da Ana, mas o que era feito na barraca ao lado, que estava também fechada naquele momento, em pleno horário de almoço. Parece que ali, o movimento era maior a noite, foi o que percebemos no dia que voltamos, antes da nossa volta para São Paulo. Voltamos para a pousada, antes passamos no banco e em algumas lojas de Petrolina, no mercado, onde abasteci meu porta-malas de pães, frutas e outras coisas que pretendia cozinhar na cozinha comunitária lá da pousada que tinha reservado no Sitio do Moco. Saímos cedo da pousada em direção a São Raimundo Nonato, com direito a parada no posto para completar quase nada o tanque que já veio cheio, para conferir o óleo, água e pneus, afinal, estava com um carro que não conhecia, prestes a pegar umas 5 horas de estrada, por um caminho que desconhecido, esperava não ter nenhuma surpresa no caminho, o que me deixou muito feliz em descobrir não ter mesmo. Cautela é sempre muito bem-vinda. O início da estrada que peguei por volta de 9 horas da manhã em direção a São Raimundo estava com alguns buracos, acredito que a manutenção da estrada que vi mais tarde em outros trechos ainda não tinha chegado ali. Nada muito complicado, mas exigiu só um pouco de atenção. Passando esse trecho inicial, de no máximo uma hora, o restante da estrada estava muito bom, sem grandes problemas, fora a questão de ser uma estrada não duplicada, e essa mão dupla exige sempre bastante atenção, principalmente em momentos de ultrapassagem. O melhor foi que essa é uma estrada de pouco movimento, eu não encontrei um fluxo tão grande de carros em ambos os sentidos, então, não tinha tantos momentos em que precisei fazer ultrapassagem, mas de qualquer forma, eu não indico pegar essa estrada a noite, muito menos na madrugada, logo após a chegada no aeroporto, no voo em horário que cheguei. Ali naquele momento, percebi que minha decisão de dormir e pegar a estrada no dia seguinte foi a mais adequada e segura. Encontrei poucas opções de parada na estrada, não tinha mesmo planos de parar, então nem prestei atenção, mas tinha uns poucos locais pequenos. Resolvi parar em um trecho da estrada que inclusive era sem acostamento pois estava precisando ir ao matinho. O matinho era baixo, nenhum na verdade, pois ali comecei a me dar conta, estava em plena vegetação da Caatinga, até machuquei o dedo na tentativa de mexer na folha de uma arvore que tentei fotografar de mais perto. Vivia ali um momento muito feliz, enfim, estava indo ao parque que sonhei tanto conhecer, e sabia que tinha mais para ver do que pinturas rupestres, descobri nessa viagem que tinha mesmo, muito mais a conhecer e sentir. Essa parada, marcada pelo google maps na foto que tirei era próximo a cidade João Soares na Bahia, coisa que descobrimos ao longo da estrada, que saímos de Petrolina (PE), passamos pela Bahia e chegamos ao Piauí em um intervalo de umas 5 horas, fora as paradas. Essa parada foi por volta de 11 horas e as 12:30h já estávamos no Restaurante Velho Chico, que fica em Remanso, ao lado do Rio São Francisco, um local bom para almoçar e descansar um pouco, com uma vista tranquila. O restaurante fica próximo de um outro também bem conhecido na cidade que se chama Cais do Remanso. Eu havia recebido a indicação de almoçar nesse restaurante, havia parado em um posto de gasolina quando estava na estrada para perguntar onde ficava esse restaurante Cais do Remanso, me indicaram sem muitos detalhes que ficava virando a esquerda, quando chegasse na rotatória, tive algumas dúvidas mas acabei conseguindo encontrar, saindo um pouco do caminho que segue para São Raimundo Nonato, virando a esquerda na rotatória onde tinham três grandes piranhas ( peixes), seguindo em direção a margem do Rio São Francisco. Escolhemos um prato com peixe, entre as várias opções que deram. Almoço muito bom, não muito barato, mas compensou o descanso, a vista tranquila naquele canto onde esse restaurante fica, tiramos algumas fotos nossas e do local, e logo seguimos viagem. Chegamos em São Raimundo Nonato as 15h e já segui em direção ao Museu do Homem Americano, que fica há uns 5 minutos do centro. Resolvi aproveitar esse dia em que não tinha nenhum outro passeio previsto para fazer. Essa foi uma ótima ideia, a de conhecer o museu antes de ir aos sítios nos dias seguintes. Lá, eu pude ver algumas urnas funerárias, fragmentos de lanças e objetos vários retirados dos sítios arqueológicos que iria conhecer depois. Ouvir as histórias a respeito desses materiais depois de ter visto cada um deles no museu teve muito mais significado para mim. Chegamos no Bairro Sitio do Moco, na Pousada Sitio da Capivara umas 17:30h. Esse é um vilarejo que fica a 25 Km de São Raimundo. Eu havia reservado a nossa estadia inicialmente entre os dias 11 e 19 através do Airbnb.com, fiz uma alteração da diária no dia 10 quando resolvi ficar lá em Petrolina e não precisei pagar a diária do dia 10 que não usei, isso foi bom, pois essa reserva era do tipo sem reembolso. Antes, eu tinha reservado uma outra estadia em São Raimundo, pois achava que seria a melhor opção, apesar de ter recebido a indicação da Pousada Sitio da Capivara do Guia que havia contatado antes, mas não quis aceitar a princípio. Ficar em São Raimundo para mim não se mostrou realmente uma boa opção, pois eu gostei bastante do local onde fiquei, por ficar mais próximo da entrada do parque onde fui quatro dias dos cinco dias que visitei o parque. No quinto dia, realmente, passei por São Raimundo e segui ainda mais alguns kms adiante. Então, ficar no Sitio do Moco foi melhor opção nesse caso. Lá é um vilarejo bem pequeno e tranquilo, com poucas opções de locais para comer, mas suficientes para mim. Não tem mercado grande, apenas mercadinho, que nem precisei usar. Posto de Saúde, mercado grande, posto de gasolina, bares ou lojas apenas em São Raimundo mesmo, para quem achar que precisa disso nos dias de viagem que estiver por lá. Quando chegamos, já fomos recebidas pela nossa anfitriã, a Tininha (Cristina ) que já se mostrou extremamente receptiva e disponível desde o início, nos ofereceu muitas informações uteis nos dias seguintes. A pousada na verdade é um espaço que oferece opção de Camping e quartos para até 4 pessoas, ficamos em um dos quartos, com uma cama de casal e uma de solteiro, percebi que outros quartos tinham a beliche no lugar da cama de solteiro. Quando chegamos já vimos outros hospedes que estavam acampando há dias. Um casal, ela venezuelana, ele suíço, estavam viajando por alguns países, nesse momento estavam ali para conhecer o Parque, já tinham ido em alguns roteiros, nos dias seguintes tivemos muitas trocas legais e que me foram muito uteis. Mais um outro casal com quem conversei pouco, que me pareciam não ter muita noção sobre o que realmente era o Parque da Serra da Capivara. Infelizmente, por considerar o valor dos museus um pouco caros, resolveram não conhecer o segundo, já tinham ido em um. Outro casal de São Paulo, que estava viajando no carro próprio, saiu de São Paulo uns dias antes, passando por algumas cidades, estavam fazendo alguns dos roteiros do parque naqueles dias e ainda iriam voltar pra São Paulo fazendo um roteiro diferente, passando por outras cidades. O mais legal de conhecer esse casal foi a pequena Sofia, filha deles, uma garotinha de 6 anos, que todos os dias acordava feliz e saltitante, para vir dar bom dia para a Vida, a cachorra da nossa anfitriã Tininha. A alegria da Sofia me encantou. Ela me parecia ser alguém que todos os dias acordava mesmo para dar bom dia pra vida, a que a gente vive, não a cachorra somente, pois estava muito feliz acampando com os pais, vivendo aqueles dias de aventura na barraca. O local oferece uma cozinha coletiva, ela era um pouco pequena, mas suficiente, oferecendo o que um local assim precisa, uma geladeira meio velhinha, uma pia, um fogão que permitem que o hospede prepare a própria comida caso deseje. Na manhã seguinte, chegou meu querido (mas nem tanto) guia, com quem eu acabei por reservar quatro dias de passeios. Eu havia buscado no site Mochileiros.com dicas de guias nos roteiros que eu li, encontrei lá dois roteiros com boas informações e constando a lista oficial de guias do Parque Nacional da Serra da Capivara que foi divulgada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) por quem o Parque é subordinado. Achei no relato da Erika, a indicação do guia Bruno Freitas, que ela disse ser muito bom, e a informação a respeito de outros guias que ela não indicava. Uma informação citada por ela, que eu reforço aqui, de que a escolha do guia é crucial e de grande importância, afinal, ele é quem vai montar os roteiros que se vai fazer nos dias de passeio. Eu contatei o Bruno meses antes da minha viagem, mas me enrolei um pouco e acabei não fazendo o pagamento do sinal referente a reserva a tempo, afinal, ele, que é um guia bastante procurado, não iria mesmo estar livre tão próximo do dia da viagem. Enfim, o Bruno me indicou o Wayne, que me atendeu de forma bastante razoável, mas que não oferecia a oportunidade de estender os passeios para a parte da tarde, resumindo o roteiro em poucas horas, apenas na parte da manhã, sem grande aprofundamento nas informações sobre os sítios ou estudos dos locais que visitamos e ainda pior, oferendo algumas informações que mais tarde descobri serem falsas, pois já que eu perguntava tanto e queria saber histórias sobre o local que ele não tinha como contar, ele então inventou algumas. Perdi totalmente a confiança em quase tudo que ouvi dele depois, quando soube disso. Eu consegui entrar em contato com uma outra hospede ainda antes da viagem, A Cibele, que iria estar com o Marido e filho nos mesmos dias que eu no parque. Combinamos de dividir a diária do guia. Como eu fechei com o Wayne, ela conversou com ele e de certa forma acabou por assumir a reserva. Ele, o Wayne acabou por atender o perfil da família da Cibele, não gostei de perder de conhecer mais do parque porque o meu guia só trabalhava até as 12h e com isso, nos 3 dias que estive sendo guiada por ele foi assim. No quarto dia, ele mandou para a Cibele o aviso de que “teria um imprevisto” e que mandaria outro guia no lugar. O Lucas chegou cedo na pousada, quando perguntei se ele também só “trabalhava até as 12h”, ele me disse que teria que seguir o que havíamos fechado com o Wayne, enfim, parte da tarde o que me sobrou sempre foi preencher o dia com outros passeios onde eu poderia ir sem o guia, ou ficar na pousada mesmo. Voltando ao que fizemos de roteiro no primeiro dia, como minha filha Sophia não havia passado muito bem a noite, havia tido algum mal-estar que mais tarde conclui ter sido uma insolação/desidratação, devido a isso, demoramos um pouco para sair. Nesse dia seriamos apenas eu e Sophia, pois a Cibele e família ainda não tinha chegado na pousada. Começando a conhecer o Parque Wayne nos levou até a portaria do Parque onde assinei um termo que indica as normas do parque e número de visitantes. Atualmente não existe mais a cobrança para entrada no parque como antes havia, mudança feita por Melina Rangel, que foi diretora do parque anos atrás, antes da atual diretora Marian Rodrigues. Fomos conhecer o roteiro do Sitio do Meio e o Baixão das Mulheres, esse roteiro deveria passar pelo Sitio do Meio, Caldeirão do Vilmar, Pedro Rodrigues, ponta da serra e terminar no baixão das mulheres. No sítio do meio entre as primeiras pinturas rupestres que vi pessoalmente na minha vida estavam cervídeos (veados) e figuras humanas dispostos em diversos planos. Além da concentração de pinturas rupestres, nesse local, através das escavações, foram encontrados restos de ocre, pigmento vermelho considerados ser um dos tipos de pigmentos usados nas diversas pinturas encontrados nos muitos sítios arqueológicos do parque. Entre os objetos encontrados ali, estão as contas de um colar de grãos perfurados, fragmentos de cerâmica, uma machadinha de pedra polida, objetos que havia conhecido no dia anterior na minha visita ao Museu do Homem Americano. Nesse sitio, podem ser vistos produtos da atividade humana desde o Pleistoceno final ( entre 20 mil e 12 mil anos atrás), pinturas feitas utilizando de diferentes técnicas, nas cores vermelha e brancas nesse caso, assim como testemunho da vida dos agricultores atuais, um forno de torrar farinha de mandioca, atividade desenvolvida pelos sertanejos que começaram a habitar na região por volta de 200 anos atras, buscando realizar seu sustento através da mandioca e também da maniçoba, uma raiz usada para extrair um látex que servia de matéria prima para um tipo de borracha natural. O forno de farinha me surpreendeu, uma construção redonda, melhor descrita na foto que anexo nesse roteiro, que foi usado pela família por alguns anos em que a mandioca era uma das poucas fontes de sustento desse povo sofrido, que viveu nessa região, em condições bastante precárias e que mesmo assim, soube que deveria respeitar, não prejudicando (dentro do possível) os desenhos nas paredes que eles acreditavam ser de algum povo indígena que viveu na região poucas centenas de anos atrás, que eles lá chamam de “ Caboclo bravo”, não imaginando que seriam assim tão antigas como as pesquisas realizadas vieram determinar depois. As famílias que tinham suas propriedades dentro das áreas do parque foram desapropriadas durante sua criação, tendo levado muitos anos, mais de 10 em alguns casos, para serem ressarcidas pelo seu terreno. Sendo que, ainda muitas outras, que não possuem os documentos de posse não puderem nem mesmo comprovar sua propriedade nem serem ressarcidas. Essa questão sobre a vida do sertanejo nessa região do Piauí foi e ainda é uma questão bastante delicada. Muitas histórias eu comecei a ouvir nessa minha viagem, outras tantas imagino que existem e gostaria de poder ter tido tempo de ouvir e refletir. Quero mostrar através desse meu bem extenso texto, que o Parque Nacional da Serra da Capivara tem muito a ensinar, sobre a vida do homem pré-histórico sim, e sobre o que o homem moderno vem fazendo da sua vida, vem fazendo da vida dos outros homens modernos que vivem em situação mais sensível e com menos recursos. Nesse dia infelizmente minha filha não estava muito bem, voltamos para deixá-la na pousada por sugestão do guia, que me fez acreditar que sem ela, ele me levaria em vários outros locais, mas não. Ele me levou para conhecer o baixão das mulheres, me contou umas poucas histórias, que mais tarde complementei com outras fontes. Me mostrou nessa região do Baixão das mulheres I, II, e III uns locais muito bonitos, e muitas outras pinturas. Nas informações que retirei do livro que adquiri no parque naqueles dias, consta que ali as pinturas são notáveis pelas características de perspectiva e pela técnica de desenho. Que a vegetação local quando a região foi descoberta pelo homem pré-histórico era constituída por grandes arvores, supõe-se que a mata era densa pois o vale é estreito e úmido e as arvores foram utilizadas por esses homens para a realização das pinturas situadas no alto. Nesse local, uma torrente violenta passa pelo solo durante as chuvas atuais, essa deve ter perturbado seriamente as camadas arqueológicas. Isso pode também ter acontecido em vários outros sítios por onde passamos, que apresentavam figuras feitas no alto. As pesquisas feitas descrevem que o homem pré-histórico costumava pintar de pé, portanto, talvez também a altura do solo de muitos desses sítios pode ter sido modificado. Muito já foi descoberto, muito ainda há por descobrir com as pesquisas futuras que ainda podem trazer maiores informações sobre os hábitos de vida desse homem pré-histórico. Nesse dia passamos ainda pela toca dos coqueiros. O tempo todo eu percebia muitas placas indicando outros sítios, que cruzavam o roteiro que estávamos fazendo, mostrando o quanto são enormes as opções de roteiros que o guia pode montar ao visitante, cabendo apenas a ele a decisão de o que vai mostrar (ou estar a fim) entre as muitas opções de caminho. Uma coisa que percebi, é que o baixão das mulheres é possível ser acessado a partir do roteiro que está próximo ao boqueirão da Pedra furada, e ao sítio do meio. Não consegui entender se tem ou não uma escada para acessar o baixão das mulheres por lá. Nesse dia, como fomos deixar minha filha de volta na pousada lá no sítio do moco, entramos para fazer o roteiro do baixão das mulheres ali pela rua ao lado da pousada Serra da Capivara, no final da praça principal do Sitio do Moco. Tem uma portaria trancada, que foi aberta pelo guia, e por lá entramos e saímos para fazer o roteiro do baixão das mulheres. Enfim, muitos caminhos possíveis, que são muito bem conhecidos pelos guias locais e que na minha opinião tem mesmo que ser assim, bem conhecido mais por eles, para que se garanta com segurança que os roteiros sejam feitos apenas com acompanhamento dos guias locais, que conhecem as normas de visitação e fazem questão de deixar claro que é pra cumprir, nada se leva de local algum, nada se deixa, não se sai da trilha principal, afinal, existem ainda muitos outros locais ainda não estudados, e qualquer local pode um dia desses ser demarcado como um novo sitio arqueológico. Após o roteiro que acabou por volta de 13h, incluindo o tempo em que voltei para deixar minha filha, apesar de o Wayne não me dar muitos detalhes de como chegar, eu consegui achar de qualquer forma o Instituto Olho D´água que fica na Cidade Coronel Dias, uns 8 Km para frente do Sitio do Mocó. Esse é um Centro de Memórias dos Povos da Serra da Capivara, que abriga uma exposição sobre os filhos das Serras, moradores antigos que habitaram a região, uma biblioteca e espaço externo de vivencias que atende diariamente 30 crianças de 6 a 12 anos no contraturno escolar. Esse museu cria alicerces para a preservação e valorização do patrimônio cultural, valorizando os conhecimentos tradicionais dos povos do Território da Serra da Capivara. Conheci ali como funciona uma Roda, que serve para beneficiar a mandioca. “Sabe como fazia antes? Era uma banca de bulinete (ou molinete?). A farinha vem da mandioca lá da roça; vem para cá e as raspadeiras descascam elas; depois vai ser rodada nas bancas do bulinete, rodava lá fora, rodava dois homens no braço, um de um lado e do outro, só rodando aquela roda... Daí é que vinha para a prensa, daí enxugava a massa”, essa foram palavras ditas por Adão Maroto, escritas no cartaz que fotografei na visita, mostrando um pouco do que foi visitar esse lugar, que tem a iniciativa de unir conhecimentos dos mais velhos com os dos mais novos, que frequentam o local. Eu amei a visita, acredito ser imperdível para quem dispor de tempo para ficar um pouco mais na região, e quiser ver além das muitas e lindas pinturas rupestres que o parque oferece. Vi também lá no Instituto Olho d´Água, a mala do seu José Camilo da Silva, que mais tarde descobri ser avó do guia Lucas. Ele anotava tudo e guardava na mala. Nascimentos de filhos, netos, bisnetos. Morte de parentes, coisas sobre a dinâmica da comunidade, sobre o inverno, milímetros de chuva, safra do milho, feijão. Tudo relacionado a quantificar. Nessa noite conhecemos a Cibele, seu Marido Homer e seu filho Dante de 13 anos. Pessoas muito simpáticas, que tinham planos de conhecer o parque de forma mais superficial e que dispunham de menos tempo do que eu e Sophia. No dia seguinte, nosso guia Wayne chegou, saímos pontualmente às 8 h para fazer o roteiro Desfiladeiro da Capivara, passando com certeza pelas Toca do Barro e pela Trilha e Toca do Baixão da Vaca. No roteiro que o guia Wayne havia mandado para a Cibele, única turista que ele atendia, afinal eu fiz a leitura que para mim, era apenas um favor de me deixar ir junto, mesmo que eu também estivesse pagando. Enfim, no roteiro que o Wayne enviou constava as tocas do Pajaú ( I e II), se realmente fomos lá não tenho certeza, pois essa placa eu não fotografei no roteiro. As grutas e pinturas são muitas, realmente em um momento tudo parece ser muito repetitivo, para quem não está fazendo precisas anotações do que já viu e do que falta ver. Eu só queria poder ter visto e fotografado o máximo de coisas que havia disponível, curtir os momentos pra guardar boas lembranças, mas infelizmente uma das lembranças que guardei nesses primeiros dias foi de o tempo todo estar pra traz, querendo poder ver alguma coisa um pouco mais, com mais detalhe e olhar pra frente e ver as pessoas (incluso minha filha) paradas, esperando eu resolver me juntar a eles. Era aparente para eles um incomodo eu estar demorando tanto, se bem que nem demorava muito, apenas queria olhar o que eles nem mesmo tinham percebido algumas das vezes. A toca do barro, onde com certeza estive, é um abrigo cujo nome vem do fato de que o barro do seu solo foi utilizado pela população local para a coleta da seiva de maniçoba. Cavava-se um buraco junto ao pé de maniçobeira, forrava-se o buraco com barro argiloso e impermeável, e, em seguida, sangrava-se a arvore, deixando cair a seiva no receptáculo assim impermeabilizado. A borracha da maniçoba foi uma das riquezas da região, sendo que o auge desse tipo de extração foi no início das décadas de 1900 e 1940. Essa borracha era utilizada em produtos especiais como a goma de mascar, tendo sido substituída pela borracha sintética e até mesmo pela borracha extraída das seringueiras. Nessa gruta, a maior parte das pinturas foi desenhada sobre os seixos dos conglomerados. As figuras humanas representam cenas. Hoje, infelizmente restam raras figuras, pois a maioria dos seixos pintados foi arrancada por visitantes que destruíram para sempre esse monumento pré-histórico de valor universal. Nosso guia nos contou que conhecia um morador que disse ter um desses seixos em casa. A Toca do Pajaú (I ou II) possui um processo de desagregação crescente devido ao agravamento das condições de aridez, nessa, a maior parte das pinturas já se perdeu, havendo diferenças entre os painéis observados pelos pesquisadores em 1970 quando foi descoberta e os atualmente vistos. Algumas pinturas que estão descritas no livro que consultei, têm cerca de 12 mil anos e representam cenas da vida cotidiana e da vida cerimonial. Algumas, como o conjunto dos dançarinos, é interessante de poder se ver e ficar ali imaginando o significado real para as pessoas que as desenharam. Tem também os veados com as cabeças viradas que são bem típicos, segundo o livro, isso vale como documento antropológico, mostra uma das técnicas de caça usadas na época quando dois homens seguram uma rede, os veados assustados fogem sempre pelo mesmo caminho e ficam presos na rede pelos chifres. Na coletânea de mais de 2000 fotos que tirei não encontrei essas cenas, acredito que não as vi. Mas lembro de ter visto em algum lugar que passei esses veados com cabeças viradas. Nesse roteiro que Wayne nos levou, ele resolveu incluir a gruta do Paraguaio, que ele não havia previsto nos levar não sei por que, pois esse é o primeiro sítio mostrado à Dra. Niede Guidon em 1970, na sua primeira visita à região. Ele compreende o Setor Baixo com muitas pinturas, e o setor alto, onde foram descobertas duas sepulturas, uma datada de 8.670 anos e a outra de 7 mil anos, que também havíamos visto no Museu do Homem Americano. Vimos também entre as outras pinturas, uma figura que inicialmente eram duas emas que foram transformadas em um grande veado, pelo preenchimento do corpo e posterior desenho da cabeça. Legal ficar pensando nas pessoas que interagiram com esse desenho, os momentos em que isso aconteceu. Eu sou dessas, que ficava viajando enquanto olhava as figuras, as paisagens, olhando a vegetação atual e imaginando a vegetação desses tempos remotos, os desafios tantos que esse povo pré-histórico precisou viver. Olha eu viajando aqui também. Quando passamos no local onde deixamos o carro estacionado, antes de ir para a gruta do paraguaio, passamos por várias placas no caminho que indicavam outras grutas por ali onde não fomos, são elas : Baixão da vaca, toca dos veados, tocas do fundo do baixão da vaca, Toca das Eminhas Azuis, Veadinhos Azuis e Tocas da gameleira, que ficam no sentido contrário a Toca do Paraguaio. Mostrando que existem muitos roteiros possíveis por ali, as distancias entre cada um deles eu não consegui determinar, por isso, sempre ficamos na dependência de o guia nos levar onde ele achava que devia ou queria levar. Roteiro desse dia encerrado, fomos almoçar na Pousada e Albergue Serra da Capivara. Antes, ainda no caminho, passamos por uma placa que dizia ser uma Homenagem à funcionária Ivani de Jesus Sousa Ramos, morta defendendo o Parque Nacional da Serra da Capivara. Nas minhas pesquisas, descobri que Ivani foi assassinada pelo próprio irmão, que tentava caçar na área do parque. Vi que Dra Niede entre todos os projetos que encabeçou, teve a iniciativa de contratar mulheres preferencialmente para trabalharem nas guaritas, pois essas, segundo Dra. Niede, ao receber seus salários, voltam para casa pra buscar melhorias nas condições de vida de sua família, no lugar do homem, que normalmente leva seu salário para gastar no bar. Confirmei que atualmente, essa rotina continua a existir, apenas mulheres trabalham nas guaritas. O restaurante da pousada Serra da Capivara é aberto a todos os públicos, é um self service que oferece muitas opções de comida, desde carneiro, frango, sobremesas cobradas a parte, etc. A fábrica de cerâmica e a loja de cerâmicas ficam no mesmo lugar, eu já havia feito a visita da fábrica na minha passagem no dia anterior, mas aproveitei nesse dia pra fazer mais uma vez a visita da fábrica com a Sophia. A visita é imperdível, um dos funcionários junta um grupo e vai passando pelos setores em que as várias peças são fabricadas, em especial em frente aos dois fornos de queima da cerâmica, que chegam a temperaturas de mais de 1000° C. Na parte dos desenhos nas peças, vi um funcionário fazendo um desenho a mão livre da pintura rupestre determinada para aquela peça. Eles apenas memorizam os desenhos impressos que ficam no portfólio com uma coleção enorme de desenhos das pinturas rupestres da região. A fábrica conta com uns 40 funcionários, nesse caso, homens, que foram incentivados a voltar para sua região de origem, após o êxodo rural que precisou acontecer anos antes. A demarcação do parque obrigou que muitas das famílias que há anos viviam nos sítios das regiões que hoje abrigam o parque, precisassem ser retirados de lá, alguns, recebendo indenizações que não lhes permitia realmente recomeçar a vida, tendo em muitos casos migrado para outras regiões, até mesmo São Paulo. A iniciativa da criação da fábrica de cerâmica ofereceu oportunidades de trabalhos para alguns homens que passaram a ter oportunidade de trabalho na região. Somando a fábrica e a loja de cerâmicas, mais a loja de camisetas que fica no mesmo local, totalizam uns 60 funcionários. Nessa noite, quando voltei para a pousada, conversei um pouco mais com uns ciclistas hospedados na mesma pousada e estavam fazendo as trilhas da região de bicicleta, ele, a irmã e uma amiga, tinham tido algum problema com as bikes e tentavam resolver. Conversamos muito sobre trilhas em outras regiões como a Chapada Diamantina que ainda pretendo conhecer, sobre questões da Educação no Brasil, já que uma delas é professora, como eu. Conversa agradável que deixou gostinho de querer mais, porém, quando os procurei novamente na pousada no dia seguinte já tinham ido embora, frustrados por não terem conseguido resolver os problemas nas bicicletas. Esqueci de comentar que nesse dia, após o almoço, visita na fábrica e na loja, as 15h já estávamos de volta na pousada, para encarar uma longa tarde de calor. Aproveitei um pouco a pequena piscina da pousada. Depois eu soube que lá no sítio do Moco tem pelo menos mais duas opções de pousada com piscina, e bem maiores pelo que vi. Mas apesar da pequenina piscina da pousada, ainda sinto até agora que minha escolha por lá foi boa, o ambiente era de um astral que me encantou. No terceiro dia de passeio, Wayne chegou e mais uma vez saímos pontualmente as 8h, não exatamente por minha causa, mais devido a Cibele que era quase um general na organização da nossa agenda, garantindo que todos estivessem prontos para sair no horário. Nesse dia, nosso roteiro foi o Boqueirão da Pedra Furada, incluindo a Toca do fundo do Baixão da Pedra Furada, Vista Panorâmica do Vale do Caldeirão do Rodrigues, Vista Panorâmica das Mangueiras, Caldeirão da Cachoeira, Toca da Fumaça e Toca do Cajueiro, fechando com a própria Pedra furada. BPF descobri lá que é o Boqueirão da Pedra Furada, considerado o Sitio Arqueológico mais importante das Américas porque uma década de pesquisas escavando e analisando vestígios arqueológicos permitiu detectar a presença humana mais antiga das três Américas. Esse museu-sítio é um monumento da pré-história, as marcas deixadas pelo homem pré-histórico sobreviveram a violentas alterações climáticas e hoje encantam tantos outros visitantes além de mim e minha filha. Cabe a nós ao menos preservá-las. Nesse roteiro, deveríamos ter passado pela Escada Vertical do Baixão dos Rodrigues, mas o nosso guia resolveu que não iria passar por lá, e informou apenas a Cibele sobre isso, pois segundo ele, as normas do parque estabelecem que apenas maiores de 15 anos podem passar por lá, e estávamos com dois adolescentes de 13 e 14 anos. Discutir e determinar opções com o grupo todo, não foi possível. A vista dos mirantes é simplesmente indescritível, só vendo mesmo. Nem mesmo as fotos panorâmicas que tentei tirar mostram o quanto é tudo tão bonito. Alguns diriam, mas é só pedra, verdade, é mesmo só pedra, em local bastante alto inclusive, o sinal de internet foi muito bom, me permitindo ligar para minha mãe de lá, para contar um pouco da alegria que estava vivendo em conhecer cada pedaço daquele lugar, com tanta história, tanto para ver e recordar. Passamos ainda pela pedra furada, mais especificamente chamado de Arco do triunfo da Pedra Furada uma pedra com furo grande e circular, um tanto irregular. Bem bonito. Uma imagem bastante divulgada quando se fala sobre o parque. As fotos ali talvez fiquem diferentes no final de tarde, quando o Sol está em posição contrária daquele horário que passamos, pois naquele momento o sol estava bem em cima do círculo na pedra, deixando a foto um tanto ofuscada. Mas deu. Procurando um canto onde as arvores ajudem, a foto fica boa. Não que o Wayne tenha me ajudado a achar esse lugar, isso também não era o perfil dele. Conheci pessoalmente naquele momento o guia Bruno Freitas, com quem eu iniciei contato meses antes. Bateu enorme empatia da minha parte naquele momento por ele. Queria tanto estar no grupo dele naquela hora, mas devido à falta de organização minha, eu estava em outro grupo, com outro guia, com outros parceiros. Toda experiencia é válida na vida, nem que seja para relatar a outros depois, que é o que faço agora. Desse circuito, chega-se ao Alto da Pedra Furada com passagem para o Vale do Baixão das Mulheres, que eu conheci sozinha com o Wayne no primeiro dia, porém entrando por outra portaria, me fazendo achar que só se acessava por lá, vi depois que não. Mais uma opção de ligação de roteiros. Existe ali também ligação com o Circuito da Chapada, passando pelo Alto dos Canoas e pelo Caldeirão do Rodrigues que não fiz. Chegamos no final do Circuito BPF, passando por uma plataforma onde ficam várias pinturas rupestres, Naquele momento, estava enfim chegando o local pelo qual eu tinha esperado a minha viagem inteira e tinha já por diversas vezes perguntado ao guia Wayne: É agora que eu vou ver o BEIJO?, ele por diversas vezes me respondeu que não, que não era ainda, mas enfim naquele momento, o beijo, a pintura rupestre da qual eu ouvi falar há muitos anos atras, e que tinha sido a minha referência de pintura rupestre até antes de eu conhecer o parque, iria enfim estar na minha frente. Outra pintura, o símbolo do parque, duas capivaras, uma maior, com linhas vazadas e outra embaixo menor, totalmente preenchida, possivelmente pintada em época diferente da primeira, fica bem ao lado da pintura O BEIJO. Em meio a muitas outras. O grupo apressado passou rápido em frente da pequenina pintura intitulada O BEIJO, Wayne não tinha mesmo tido a sensibilidade de entender o que eu tanto queria ver, tão pequena, tão mais sem graça que tantas outras maiores, mais detalhadas. Vai entender né. Eu vi sozinha, não tinha nem minha filha e nem o guia que me acompanhava para tirar uma foto minha em frente da pintura. Pedi para outra guia tirar para mim. Consegui ainda uma foto engraçada beijando a Sophia em frente DO BEIJO. Ideia da Cibele, que ficou com dó de ver a minha empolgação e resolveu retornar, enfim. Tenho a foto, e a memória. Eu estive lá um dia. Na noite desse terceiro dia, o Wayne passou para mim as 10 fotos que ele gentilmente tirou de mim e da Sophia no celular dele e não me disse mais nada. Para a Cibele ele avisou que teria um imprevisto no dia seguinte, que era um domingo, e que mandaria outro guia no lugar dele. No dia seguinte, nosso quarto dia de passeio, recebemos o guia Lucas e um estagiário chamado Thiago, que estava cumprindo o final do estágio de guia, ele veio para nos acompanhar no circuito que faltava ente os que foram previstos pelo Wayne. Fomos fazer o circuito Jurubeba e a Trilha Humbu. Esse tinha sido colocado como primeiro no roteiro feito pelo Wayne, acabou ficando nesse quarto dia. Considerei uma sorte, pois foi um roteiro que eu apreciei muito, por conter sim muitas pinturas, mas muita história também, pois é uma coisa que me agrada. Ouvir as histórias locais. Esse roteiro contou com vista panorâmica, visita a toca da Ema do Braz, Casa do Alexandre, Trilha Humbu, Pedra Caída, Toca do Sapo, Toca da Invenção e caldeirão D´água natural. Encontrei no livro diversas informações interessantes sobre esse roteiro, que por já estar extenso, cito apenas que se pode ter acesso a ele por diversos pontos, um deles, a pé pelo sítio do Mocó. Demonstrando existir opção até mesmo para quem quiser estar na região sem carro e sem contratar carro ou moto do guia. Ao menos esse dá, nesse caso, por outros sítios ou grutas, diferentes dos que fizemos, entrando por outro ponto que acessamos de carro. Nesse dia fomos até a portaria BPF apenas para assinar o termo de visitante, e voltamos para entrar por essa outra portaria, também guardada por funcionários, como todas as outras que passamos. A Toca da Roça do Sitio do Brás, foi utilizada como moradia pelos maniçobeiros, como outras também foram, nessa, sua parede foi usada como ponto de apoio para a construção de uma habitação de pau a pique que nós visitamos, estava ainda totalmente íntegra. Entre as pinturas rupestres, uma série de figuras humanas de tamanho reduzido e dispostas em fila. Essa história de estarem em fila gerou assunto no grupo, seriam os filhos contados para não perder a conta de quantos eram? seriam outros objetos anotados? Algum ritual? O guia desse dia se mostrou mais interessado em conjecturar com o grupo, foi mais divertido e leve ser guiada por ele e pelo Thiago, que pouco falava. Eu, que gosto de um assunto, tirei dele que estava cursando Fisioterapia em Teresina, que mesmo o pai querendo ter um filho “doutor”, como ele disse, tinha planos de obter a licença de guia, para poder guiar grupos nem que fosse como lazer, já que era nascido e criado na região. Na Toca da Invenção nós vimos pinturas feitas com pigmento branco, diferente do vermelho e algumas vezes cinza que tínhamos visto até aquele momento. Pareciam ser quatro veados, dois veados galheiros, já extintos na região hoje em dia, mais dois veados que não identifiquei o tipo. Estavam desenhados sobrepostos sobre outras figuras de emas e demais, mostrando esse evento que aprendi lá ter acontecido em outros sítios arqueológicos. O interessante é que essa sobreposição de figuras aconteceu até um certo ponto da pré-história. Porém, os indígenas mais recentes aprenderam que não se devia mexer nem “bulir” nessas pinturas, pois segundo as palavras deles, eram feitas por “caboclos bravos”, era por acreditarem nisso que essas figuras puderam ficar ali para nos contar a história de sua existência. Ali na toca da Invenção pudemos também ver uma escavação ainda em andamento, pois uma parte do solo estava coberta com um plástico, e alguns saquinhos cheios de terra estavam encima. Fiquei imaginando os trabalhos dos profissionais relacionados à arqueologia ali. Seria legal vê-los trabalhando. Quando fizemos a Trilha histórica da Jurubeba, essa fornece informações sobre o meio ambiente e a cultura do homem do Sertão nordestino, passamos pela Casa do Alexandre, utilizada em meados do século XX, durante uns 30 anos como moradia pelo maniçobeiro Alexandre e sua família, que utilizou o obrigo rochoso como teto natural completado por paredes de taipa. Passamos ainda pela Casa velha da Jurubeba e depois pela Casa da Jurubeba, pelas ruínas da Casa do João Coelho e pelo Museu do Neco Coelho. Paramos, conversamos, ouvimos histórias do Neco Coelho, da filha dele. Aproveitei para comentar com o guia Lucas sobre a minha visita ao Instituto Olho d´Água, e ele, coincidentemente era parente do senhor que tinha doado uma mala que vi lá no instituto, que continha fotografias, anotações várias sobre os nascimentos e falecimentos dos moradores locais. Existem muitas histórias para se contar e para se ouvir a respeito dos povos da Serra da Capivara. A manhã foi bem proveitosa, vimos muita coisa, difícil até memorizar tudo. Por volta de 12:30 h já estávamos de volta na pousada. Almoçamos no restaurante da Paula, que fica uns 200 metros da pousada do Sitio da Capivara. Almoço farto, eu pedi para 2, o que trouxeram uns 4 comeriam. Eu até pedi umas embalagens para levar para jantar, afinal, comigo não tem desperdício. Após o almoço e um tempo de descanso, fomos conhecer o Museu da Natureza, que fica 4 km após o Sitio do Moco, e próximo da Fábrica de Cerâmica. Esse também é um passeio imperdível, na impossibilidade de a pessoa ter tempo de ir em um dos dois museus, não consigo escolher de qual dos dois eu abriria mão, são diferentes, ambos complementam o que se pode ver no parque. Esse foi inaugurado em 2018, mostra como era a natureza no início dos tempos e as muitas transformações até os dias atuais. Imperdível. Nessa noite, fomos convidadas pela Cibele e família para irmos fazer a visitação noturna do Boqueirão da Pedra Furada. O local pode ser visitado a noite mediante a reserva prévia e pagamento de uma taxa de $ 70 reais para um grupo de até 10 pessoas. Além dessa taxa, Cibele ainda pagou $ 50 ao guia Lucas para nos levar lá. Outras pessoas me contaram que as vezes as pessoas vão até a portaria por volta de 17:30h e ficam esperando chegarem mais pessoas para formar um grupo e assim ratear o valor da visitação noturna. Passando de 10 pessoas, cada uma paga $ 20 a mais. Nesse dia, voltamos do Museu da Natureza e fomos direto para a portaria do BPF. Achamos muito bonito a vista das pinturas rupestres que tínhamos visto no dia anterior, porém dessa vez, iluminadas de forma que muitas das pinturas que não estavam muito nítidas com a luz do dia, a noite elas ficaram mais visíveis. A vista é outra. Mas no dia seguinte descobri que existe um aplicativo chamado aDStretch que faz um trabalho semelhante ao que essa iluminação noturna faz, sendo que é possível colocar as fotos das muitas outras figuras que vimos em outros sítios. Ele é pago ($ 70), mas é uma opção. Achei um pouco frustrante essa visita só poder passar no roteiro BPF, não é permitido andar por nenhum outro local dentro do período que era de 40 minutos. Sobrou tempo, em uns 20 minutos já estávamos voltando para nossos carros. Nenhum outro grupo procurou agendar, fomos apenas nós. Era domingo, talvez em um sábado em período de férias, quem sabe a procura é maior. O último dia de roteiro no Parque Agora chega à parte que gosto muito de poder contar. Eu não havia desistido tão fácil assim de ser guiada pelo menos por um dia pelo guia Bruno Freitas. Na tarde que cheguei, mandei mensagem para ele, perguntando se tinha jeito de ele me juntar em um grupo. Ele não confirmou, então aguardei. Eu havia encontrado com ele umas três vezes naqueles dias, ele ficou de me confirmar se conseguiria me juntar com o grupo já agendado. Nessa noite ele me respondeu que sim, que o casal havia aceitado que eu fosse com eles. Eu havia planejado deixar minha filha na pousada de qualquer forma, pois tinha planos de ir para o Parque Serra das Confusões, que fica em Caracol (PI), mas acabei desistindo de ir para lá, apesar de ser muito interessante o que tem pra ver por lá, não achei companhia, então não deu. Deixei Sophia na pousada de boa, pois ela não fez mesmo questão de ir naquele dia, Tininha ficou de olhar se ela ficaria bem. Chegaram uns hospedes novos no camping aquele dia, eu não perdi a oportunidade de conversar com eles um pouco naquela manhã, passar algumas informações uteis a respeito dos roteiros e sobre contratação de guias, me agradeceram muito. Eu então sai tranquila por saber que os rapazes eram gente boa, não teria que me preocupar com ela sozinha por lá em meio a estranhos, apesar de em se tratando de filhos, todo cuidado é pouco. Dei recomendações necessárias a ela e parti bem cedo. Às 8 horas já estava na praça de São Raimundo Nonato, no local marcado pelo Bruno, com o carro abastecido. Um detalhe é que no posto que passei não havia álcool, apenas gasolina, que custava uns $7,70 o litro. Encontrei com o Bruno tão empolgada, que ele até me pediu para acalmar um pouco. O casal Roberto e Marta era uma simpatia total. Já foram me permitindo viajar no carro deles, afinal, éramos apenas quatro pessoas, para que dois carros? Saímos em direção a Serra Branca e Depois na Serra Vermelha para ver o voo das Andorinhas. O tempo todo do trajeto foi preenchido com tanta conversa agradável que nem sentimos o tempo passar na ida nem na volta. A guarita de Serra Branca fica a 33 km de São Raimundo Nonato. Ali na guarita vi uns pássaros que tentei filmar e fotografar, sem muito sucesso. Havia visto um Picapau de topete vermelho no roteiro da Pedra Furada, esse, porém, tinha um canto bem diferente. Procurando um pouco na internet depois, vi que era diferente do canto da Araponga. Achei até o aplicativo Picture Bird que serve para identificar canto de pássaros, mas deixei para lá. Essa bióloga curiosa precisava virar a página, deixar para outra oportunidade. Anotei para quem sabe outra hora usar. Comprei uns panos de pratos feitos pelas funcionárias que trabalham na portaria do parque. Os panos têm bordados das pinturas rupestres mais características. Achei uma iniciativa tão legal, que resolvi comprar alguns. Nas outras portarias também encontrei algumas bijuterias e acessórios com temas do parque. Legal existir essa oportunidade de renda para as funcionárias lá. Passamos por algumas das várias tocas, as que fotografei as placas eram: Toca do Mulungu, do Vento, do João Sabino e Da Extrema. Em meio aos conhecimentos que o Bruno ia nos contando nos intervalos entre as Tocas, ele nos contou o significado do termo “Vestido na Cuia”, relacionado ao estado de extrema pobreza que o sertanejo vivia no século passado, quando retirava a roupa que possuía, muitas vezes a única, para trabalhar na roça e ao encontrar com alguém passando, cobria a genitália com a Cuia. Daí o termo. Eu tive o sentimento de estar tendo uma aula de geografia/geologia/antropologia durante muitas partes do roteiro que passamos. O Bruno, guia formado em Geografia, Turismo e cursando atualmente Gastronomia, é um rapaz muito culto, mas também fã de rock, reggae e descendente de indígenas. Nascido e criado na região e filho de outro guia do parque, o seu Toninho, ainda na ativa também. Me chamaram atenção algumas das suas tatuagens, inclusive, uma delas no braço, que nos mostrou com uma pintura rupestre. Muitas trocas interessantes durante esse dia, aprendi muito, observei muito. Deixei um agradecimento enorme ao Roberto e Marta, ambos professores, com quem também tive trocas muito boas, sobre viagens várias que eles já fizeram, inclusive várias dicas úteis que um dia usarei quando for ao Egito. Quando passamos na Toca do João Sabino, vimos a casa de pau a pique onde Morava João Sabino e Ana Rosa da Conceição, responsáveis pelo evento mais esperado do ano, as festividades de São João, tradição herdada pela família, que segundo a placa que fotografei na toca, é continuada até hoje. Entre a toca do João Sabino e da Extrema, visitamos um mirante. Depois na Toca do veado, que é um abrigo de cerca de 20 m de altura, vimos a pintura rupestre de um veado de 1,90 m de comprimento, outro com 1 m e um terceiro com 1,60 m. Ao lado desses grandes animais, aparecem pequenas figuras humanas. Esse painel, único na região, foi protegido da ação da chuva e dos ventos com uma cobertura com placas de fibra. Uma passarela de madeira permite melhor visão dele. Antes, em uma das grutas que passamos, eu fotografei um painel com várias pinturas. Em uma foto, que foi apontada pelo Bruno, que também gravei, estão muitas figuras humanas, tem cena de luta, tem cena de caça, que mostra a caça de onça, com um homem segurando a cauda da onça e outro com a arma atingindo na cabeça. Tem também a representação de várias pessoas enfileiradas. Essas figuras foram mais uma vez motivo de divagações nossas, o que estariam representando? Número de filhos, eu sugeri que podiam ser as crianças que vinham para a escola? vai saber. Imaginar a cultura desses povos é margem para soltar a imaginação para mim. Bruno ali, aproveitando de sua experiencia como guia para nos ajudar chamando atenção do que ele conhecia, nos permitindo apreciar enquanto olhávamos as muitas pinturas. Penso agora que as pinturas rupestres podiam ser mais bem divulgadas de forma individual, as diversas cenas, quem sabe o visitante poderia ter a oportunidade de escolher o que gostaria de ver entre tantas opções. Hoje em dia, em tempo de viralização de tudo que cai na internet, poderia ser sim um tiro no escuro, mas se fosse para servir que toda essa riqueza pudesse ser mais divulgada e passasse a ser um roteiro desejado por muitos turistas que procuram um lugar novo para conhecer, isso me deixaria muito feliz. Almoçamos em um restaurante de beira de estrada que era bem conhecido pelo Bruno, pois havíamos passado lá antes para reservar o almoço para quatro pessoas. Almoçamos frango e carne, comida simples, boa e bem servida. A Marta estava com desejo de comer carne de bode, mas não tinha aquele dia. Bruno prometeu a ela que nos próximos dias ele iria providenciar um local onde ela poderia comer a tal da carne de bode. Após o almoço, seguimos para uma outra guarita, conhecemos mais algumas pinturas e mais um mirante, que me fez entender por que segundo o Bruno, ali era chamado de Capadócia Brasileira. Seguimos para o local identificado como Baixão das Andorinhas, sentamo-nos, Bruno já bem à vontade com o local já se deitou na pedra para esperar a hora de as andorinhas aparecerem. Demorei um pouco mais para deitar na pedra também, mas depois entendi que a visão fica melhor quando observamos deitados. Seguimos com mais um bate papo agradável, passando por cursos que nosso guia estava fazendo, outras histórias, uma delas a do Chupa-cú. Eu nunca tinha ouvido falar desse, mas relacionei com as histórias do chupa cabra, que esteve em noticiários uns anos atrás. Se é mesmo um mito esse bicho eu não sei, só vendo o tal pessoalmente pra saber. O Roberto observava com um binóculo, a Marta virava a cabeça pra cima pra ver, em algum momento o Bruno disse que as andorinhas estavam começando a descer. Fiquei tentando achar, era uma nuvem que se movia no céu, e foram baixando aos poucos, até que começam a descer uma por vez, fazendo um rasante na nossa frente e entrando em direção aos rochedos onde vão se abrigar para passar a noite. É bonito de ver, eu gostei. Nosso retorno para São Raimundo foi tranquilo, rápido e com mais bate papo no carro. Nos despedimos, peguei meu carro que tinha estacionado em uma pousada com a ajuda do Bruno, e segui para o Sitio do Moco, para encontrar Sophia e ver como tinha sido o dia dela na pousada. No dia seguinte, últimos momentos meus ali na pousada, eu já com saudade, ainda pude assistir o início de uma oficina de circo que um grupo de voluntários veio fazer com a criançada do Bairro. Teve brincadeiras e bate papo. Antes de sair, ainda conheci mais uma dupla de mãe e filho, que tinham chegado naquela madrugada, vindos do Sul do país se não me engano. Combinamos de ir juntos na fábrica de cerâmica, pois eu ainda queria passar lá para fazer umas compras de lembrancinhas pra levar para casa, eles para conhecer. Acabaram não ficando muito na loja, pois pretendiam conhecer o Instituto Olho D´água que eu aconselhei não deixarem de ver, e como disponham de poucos dias ali, não queriam perder tempo. Indiquei o Bruno, que estava com agenda cheia, mas que indicou a eles outro guia, torço para que tenham feito um roteiro bom. Saímos por volta de 12 horas de São Raimundo, depois de comprar na loja de calçados duas redes de Caroá e uma sandália. A sandália de couro comprei na loja mesmo. As redes, a vendedora entrou em contato com um conhecido, que veio traze-las ali na loja. Comprei logo duas, pois ficar deitada nessas redes lá na pousada da Tininha me convenceu que seria uma boa lembrança a trazer dessa minha viagem. O caroá é uma bromélia típica daquela região, é endêmica da caatinga, cuja fibra já há muito tempo vem sendo usada para fazer tecidos resistentes. A rede dura uns 20 anos ou mais, é resistente e fresca. Uma experiencia gostosa essa de descansar em uma rede feita de Caroá. Levamos umas 3 horas após sair de São Raimundo Nonato para chegar na Cidade Casa Nova (BA) onde saímos. Pegando uma via a direita em direção as Dunas do Velho Chico. O guia Bruno naquele nosso primeiro encontro em frente a Pedra Furada tinha me dado essa dica, pois comentei que não sabia o que faria no meu último dia, já que estava pensando em desistir de ir até a Serra das Confusões. A estrada para as Dunas do Velho Chico estava em reforma, alguns trechos tive dúvidas se iria conseguir passar com aquele carro baixo, tinha alguns caminhões trabalhando na pista, que ainda não estava totalmente asfaltada, então deu um certo receio de passar, mas passei e cheguei após uns 30 minutos na praia que existe na beira do Rio São Francisco. O local é uma praia, com areia fina, com barracas, carros que ficam estacionados, igualzinho a entrada de qualquer praia do litoral de São Paulo que conheço bem. Tem até quadriciclo para alugar, não vi onde ficava o local que aluga, mas vi pessoas passando de quadriciclos nas dunas, que parece ter uma extensão que faz valer a pena, para quem tiver tempo. Ficamos só uns 30 minutos ali, pois não sabia como estaria o final da estrada para chegar em Petrolina, e não queria pegar estrada a noite. Foi uma pena poder ficar tão pouco tempo ali, que vale a pena um dia inteiro, só para ficar na areia, ou sentada nas cadeiras de praia alugadas pelos quiosques. O rio é tranquilo, raso e sem ondas nesse local. Quando devolvi o carro em Petrolina, os funcionários me falaram que ali fica bem mais cheio no final de semana. Naquele dia, uma terça feira, estava pouco movimentado, poucas pessoas na água e na areia, não vi guarda vidas, apesar de toda a estrutura do local. Voltamos para a estrada, chegando em Petrolina no início da noite. Passeamos ainda em Juazeiro, atravessamos de carro dessa vez, passando pela ponte que liga as duas cidades. Procuramos um Shopping para jantar, achamos um bem pequeno, que em nada se parece com os shoppings de São Paulo, e que já estava com as lojas e praças de alimentação fechadas naquele horário, umas 19 horas. Acabamos resolvendo voltar para a orla de Juazeiro, para comer em alguns dos restaurantes próximos ao Rio. Passamos pela Barraca de Acarajé da Ana e percebemos que ao lado tinha mais duas barracas que também vendiam acarajé. Uma delas estava mais cheia, resolvi comprar ali. Tem algumas opções de prato contendo acarajé, com peixe, com camarão, com tomate verde. Tem até a barca, opção quando o grupo é maior. Muito bom. Voltamos para Petrolina, mais um passeio na orla, pausa para a última foto da viagem e fomos para o Aeroporto devolver o carro e ficar mais umas horas sentadas nas cadeiras dos restaurantes até as 3 horas da manhã, horário do nosso voo de volta para São Paulo. Contando mais sobre a Fauna e Flora da Região Sobre a vegetação e fauna da região, não podia deixar de escrever um pouco a respeito dessas riquezas que são tão características desse Bioma, que é o único realmente típico no Brasil, afinal seu patrimônio biológico não é encontrado em nenhuma outra região do mundo. Na região do Parque Nacional Serra da Capivara, provavelmente são encontradas mais de mil espécies vegetais, sendo que um pouco mais de seiscentas foram catalogadas, mas muita coisa ainda deve ser catalogada em áreas e épocas diferentes, porque certas plantas têm uma vida muito curta. No começo da estação chuvosa aparece melhor a diversidade de espécies que compõem a caatinga. São encontradas as maniçobas, marmeleiros, juremas e jatobás, carobas e paus-d´arco. Nenhum desses nomes eu, nascida e criada aqui no Sudeste já tinha ouvido falar, além do jatobá. Estão presentes na região também as plantas chamadas de Cactáceas, como o Mandacaru, o facheiro, o rabo de raposa, o quipá, a palma e a coroa de frade. Entre as bromeliáceas encontradas, a mais importante é o caroá, que cresce frequentemente nos interstícios das rochas, cuja fibra, como já citei acima, é usada até hoje para produzir tecidos resistentes, como o da rede que comprei. As diferentes espécies acima, com exceção da palma cultivada, são endêmicas da caatinga, ou seja, encontradas somente no Nordeste semiárido ou árido. Ao longo da minha viagem, aquela música do Luíz Gonzaga, xote das meninas ficava o tempo todo na minha cabeça: “ Mandacaru quando fulora lá na seca, é o sinal que a chuva chega no sertão, toda menina que enjoa da boneca é sinal de que o amor já chegou no coração...”. Pois o que vi muito foi mandacaru nessa viagem, eu perguntei ao guia Wayne qual era a diferença entre o mandacaru e as demais espécies de cactos, para eu tentar diferenciar, ele até explicou, mas não memorizei. Para quem conhece bem, não é tão difícil assim ver a diferença entre eles. O mais impressionante mesmo é ver as arvores de grande porte que se formam a partir das plantas de mandacaru, são os chamados mandacarus gigantes, com caule marrom, como de arvores de grande porte, e não verde, da cor das folhas de plantas em geral. Fiquei tentando fotografar os grandes que via, tentando guardar a foto do maior mandacaru que eu vi, foram muitos, alguns não conseguia parar para fotografar durante os roteiros das grutas ou na estrada enquanto dirigia de um local para o outro. Em uma ocasião, eu no carro sempre mais para trás, pois a vezes parava pra tirar alguma foto, e a Cibele, no outro carro a frente era obrigada a diminuir a velocidade pra eu poder alcançar, então, em um momento, ela parou o carro e o marido dela, Homer, apontou para o lado direito, eu achando que estavam mostrando um mandacaru, olhei, achei aquele bem pequeno perto dos demais que já tinha visto, mas não era a planta que estavam querendo mostrar e sim um veado, que estava por ali. Perdi esse veado que já tinha fugido quando passei. Os mandacarus podem chegar até seis metros de altura, formam uma copa que se assemelha a um candelabro. Em uma conversa com Cibele na pousada, falávamos sobre a datação da idade da planta através dos anéis internos, do quanto isso é realmente uma estimativa aproximada, nunca exata, até mesmo em arvores da Amazônia ou Mata Atlântica, que tem períodos chuvosos mais bem estabelecidos. Nas arvores da caatinga, essa previsão da idade através dos anéis não deve ser nada precisa, devido ainda a outros fatores. Eu queria descobrir quantos anos deviam ter aqueles mandacarus gigantes que eu via, tentei prever que os que vi no roteiro da trilha do Humbu tinham mais de sessenta anos, devido a algumas das histórias que o guia Lucas contou. Meu palpite é que devo ter passado por algum que tinha mais de 100 anos, mas não saberei por enquanto. Passamos muitas vezes por facheiros, um dos dias, o guia nos fez parar em um para descobrirmos que eles fazem o barulho semelhante a chuva caindo no telhado, uma experiencia muito legal de se viver. Amamos. A vegetação é pouco variada, muito repetitiva quanto a variedade, mas eu gosto de refletir sobre o significado que essas plantas tão resistentes têm. Encontrei na internet o significado espiritual do cacto, que se traduz em resiliência, força. Coisa que aprendo cada vez mais que esse povo do sertão tem, uma resiliência aprendida através das adversidades da vida. Nós vimos aquele cacto que é chamado de cora de frade muitas vezes, é muito engraçado, pois parece mesmo o topo da cabeça de uma pessoa calva, ou aquele chapeuzinho que os frades usam na cabeça. Sobre a fauna, o que mais vimos foi o mocó, um mamífero roedor, único endêmico da caatinga, que se diferencia dos demais roedores como os ratos encontrados em casas, pois produz poucos filhotes a cada cria (dois ou três), que nascem com pelos e olhos abertos. Sendo capazes de acompanhar a mãe desde muito cedo. A caatinga abriga um número considerável de animais endêmicos, encontrados apenas nesse ecossistema, esse é um dos motivos pelo qual o Parque é tão importante. Existem morcegos, aves (20 espécies), dessas, eu identifiquei o pica-pau de cabeça vermelha e a gralha Can-can, entre tantas outras que ouvi. Existem lagartos, vi um que ficou posando esperando a foto, serpentes, jias, sapos. O maior predador da toda a região é a onça pintada que ultrapassa os 50 kg. Graças a Deus não vi nenhuma, mas ouvi do Bruno a história de um morador, o pai da Paula, que tem o restaurante e pousada no Sitio do Mocó. Bruno nos contou que o pai da Paula teve um entreveiro com uma onça em uma ocasião, e que saiu vivo e bem machucado. Enfim, acontece as vezes. Segundo o livro que usei como guia, o controle de caça e as medidas de proteção contra incêndios fez crescer o número de herbívoros dentro do Parque. Hoje, é possível ver correndo pelas estradas belos exemplares de veados. No nosso primeiro dia de roteiro no parque encontramos um veado bem ali na guarita BPF, era pequeno e andava tranquilamente por ali. O Clima predominante é o semiárido, caracterizado por uma grande instabilidade, com a seca que pode variar de 2 a 5 anos. As vezes a chuva concentrada é tão forte que causa alagamentos. A temperatura média anual é 28° C, variando uns 5° C, podendo alcançar mínimas de 10 ° C nos meses de junho no alto da Serra da Capivara. Os meses de chuva, chamados de “inverno”, vão de novembro até maio, porém a chuva é limitada e depois o sol predomina de 10 a 15 dias. O Verão começa em junho e se prolonga até as primeiras chuvas geralmente em novembro. O céu é de um azul tão límpido, muito mais do que em São Paulo sem dúvida, e as noites são iluminadas pelas estrelas. Em resumo, no sertão, não é a temperatura que define as estações do ano, e sim, a chuva. Termino esse meu extenso texto concluindo que é só mesmo vendo pra sentir tudo o que pude vivi nessa viagem. Intenção que carreguei enquanto estive ali, a de poder voltar e escrever um relato dessa viagem que incentivasse alguma curiosidade de saber o que mais tem pra ver na Serra da Capivara, além das famosas pinturas rupestres. Eu ainda quero voltar, para ir à Serra das Confusões, pra conhecer outros roteiros e ver de perto os avanços que hão de chegar nesse lugar distante e tão precioso. Um resumo do que fizemos: Dia 1 – Conhecendo Petrolina e Juazeiro Dia 2 - Viagem até Sitio do Mocó - passando em São Raimundo para conhecer o Museu do Homem Americano Dia 3 – Primeiro dia de roteiro no parque - Sitio do Meio e Baixão das mulheres I, II, III + visita ao Instituto Olha D´água Dia 4 – Segundo dia de roteiro no parque - Desfiladeiro (parte apenas) + Toca do paraguaio Dia 5 – Terceiro dia de roteiro no parque - Boqueirão da pedra furada Dia 6 – Quarto dia de Roteiro no parque - Trilha Humbu + Circuito Jurubeba + Museu da Natureza + Visitação noturna do Boqueira da Pedra Furada Dia 7 – Quinto dia de Roteiro no parque - Serra Branca + Baixão das Andorinhas na Serra Vermelha Dia 8 – Retorno para Petrolina, passando pelas Dunas do Velho Chico em Casa Nova (BA) Algumas informações uteis 1- Transporte pela Empresa de Ônibus Gontijo de Petrolina para São Raimundo (Domingo, Segunda e Quinta as 13:15h) - De São Raimundo para Petrolina (Segunda, Terça e Sexta 9:30h) 2- Van do Seu Francisco Saídas Quarta e sábado de Petrolina para São Raimundo às 11:30h - Quinta e Domingo de São Raimundo para Petrolina às 9:30h 3- Spin do Neto Segunda, quarta e sexta - De Petrolina para São Raimundo as 14h - De São Raimundo para Petrolina às 4h 4- De São Raimundo para o Sítio do Mocó somente táxi ou mototáxi, várias opções em São Raimundo, uma delas Seu Deto – 55 89 8115-2495 5- Existem opções de aluguel de carros em São Raimundo, mas não é locadora oficial ainda, os guias têm como indicar o telefone 6- Camping e Pousada Sítio da Capivara – 55 89 1319563 – No Airbnb.com tem apenas a opção de Pousada, para Camping direto com a Tininha nesse telefone. 7- Telefone do Guia Bruno Freitas – 55 89 81111007 (Meu perfil de guia com certeza) 8- Telefone do Guia e Comerciante Wayne – 55 89 8107-3049 (Não é meu perfil de guia) 9- Atualmente existem voos direto para o Aeroporto de São Raimundo Nonato que custam uns $ 3000 reais, inviável, mas existe também a previsão de começar a ter voo direto no futuro. Essa será uma ótima opção quando as passagens ficarem mais acessíveis. 10- Guia Lucas não peguei o número, nem encontrei na lista completa disponibilizada pelo ICMbio onde constam também os cursos e experiencias de cada guia. Mas pelo que sei ele é credenciado. 11- Outros guias de quem ouvi falar bem – Maria da Conceição ( Ceiça) (89) 98103-3218 e Waltercio (89) 81315923 12- Lista de guias credenciados pelo ICMbio - São uns 200 guias, todo tipo de conhecimento e especialização https://omochileiro.blog.br/wp-content/uploads/2019/04/condutores_guias_serradacapivara.pdf ( atualizado em 2018) https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/biodiversidade/unidade-de-conservacao/unidades-de-biomas/caatinga/lista-de-ucs/parna-da-serra-da-capivara/informacoes-sobre-visitacao-2013-parna-da-serra-da-capivara/Lista_Condutores_Credenciados_PNSC_DEZEMBRO_20212.docx ( atualizado em 2021) Custos aproximados da Viagem · 2 Passagens aéreas ida e volta, compradas com 2 meses de antecedência - $ 1890 parcelado em 10 vezes · Aluguel de carro por 8 diárias ( Movida), fechado junto com a passagem aérea - $ 1160 em 10x · Estadia de um dia em Petrolina - Pousada Urbanus - $ 150 · Estadia de 6 diárias na Pousada Sítio da Capivara fechada 2 meses antes da viagem - $ 1264 · Estadia de 5 diárias em um quarto com 1 cama de casal na casa de um anfitrião em São Raimundo $ 740, reembolso totalmente devolvido após desistência dessa estadia. (Essa reserva era totalmente reembolsável) · Quiosque em frente a orla do Rio São Francisco em Juazeiro - Prato feito de Carne de Sol $ 20 + $ 12 de porção de macaxeira. · Bermuda na loja de roupas em Juazeiro $ 20 · Travessia da Balsa entre Petrolina e Juazeiro $2,50 por pessoa ida e volta · Almoço no Restaurante Velho Chico na cidade Remanso $ 60 · Entrada no Museu do homem americano $ 30 por pessoa (ambas pagamos meia-entrada $ 15) · Entrada no Museu da Natureza $ 40 por pessoa (pagamos meia também) · Almoço no Restaurante do Albergue Serra da Capivara $ 39 por pessoa · Peças na loja da Fábrica de cerâmica de $ 16 até muitos reais, muitos tipos de peça decorativa ou para uso doméstico, comprei copinhos de cachaça, canecas, prato, manteigueira etc. – Todo dia colocam peças com pequenos defeitos com desconto. · Camisetas na loja de Camisetas da Albergue Serra da Capivara/ Fábrica de Cerâmica - + - $ 40 · Almoço no restaurante e Pousada da Paula $ 35 por pessoa, - Marmitex desse mesmo local $ 20 · Diárias dos guias $ 250, algumas delas divididas com os casais com quem andei · Garrafão de água de 20 litros encomendado pela Tininha $ 7,00 ( usado para repor as garrafas de agua de 2 litros colocadas no freezer a cada dia - beber muita água ali é importante)