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  1. Aproveitei o final de semana de 11 e 12/02, com previsão de tempo bom, para sair de BsAs e visitar o Parque Nacional Quebrada de Condorito, perto de Córdoba. A viagem, de 8 horas, fiz num confortável ônibus cama-suíte, onde a poltrona vira cama, permitindo dormir na horizontal. Com janta e café da manhã, custa 330 pesos argentinos (R$ 132). Não entendo porque o transporte rodoviário é muito melhor na Argentina, em relação ao Brasil. E os ônibus são de fabricação brasileira. Sábado, 11 de fevereiro de 2012. Cheguei 05:30 em Córdoba e comprei a passagem para Mina Clavero (50 pesos arg.) para as 06:30. O onibus saiu as 06:45 subindo para "la ruta de las altas cumbres" e chegou a La Pampilla, entrada do parque, as 08:25. Ao saltar do ônibus senti o vento frio das Sierras de Córdoba. De lá até o centro de visitantes, 2,5 km, fiz em meia hora caminhando. No centro preenchi uma ficha dizendo onde pretendia acampar. A Guardaparque Oli me pediu para mostrar o calentador (fogareiro), condição indispensável para acampar, já que não permitem fogueiras no parque. Não cobram ingresso. No Brasil normalmente cobrariam o ingresso e não checariam se o visitante tem fogareiro. A guardaparque, muito simpática, me passou informações, inclusive horário dos ônibus para a volta no domingo. O pessoal da APN (Administración de Parques Nacionales) trabalha uniformizada, é muito profissional e equipada. Já havia notado isto em el Chaltén y Bariloche. A trilha é muito bem sinalizada até o balcón Norte, ponto de avistagem de condores no canion do rio Condorito. Este canion, conhecido como Quebrada de Condorito, é um berçario natural para os condores, por reunir as condições ideais para os filhotes aprenderem a voar. É o ponto mais oriental da américa onde existem estas aves. Daí o nome Quebrada del Condorito. No caminho, olhando para o Norte avistei os Gigantes de Córdoba, formação rochosa bem característica, mas fora do parque nacional. As duas horas caminhando até o balcón Norte, a partir da sede do parque, são recompensadas pela avistagem dos condores, que passam muito rente ao mirante. Nunca os vi tão de perto. Isto acontece porque ficamos na beira do canion e as aves tem que subir a partir dos seus ninhos no paredão. Aproveitam as correntes de ar ascendentes. Praticamente não batem asas, apenas planam. Fazem a delícia de fotografos e filmadores. Depois de algum tempo desci para o rio Condorito por uma trilha bem feita. Na descida vi o tabaquillo, árvore que tem uma cortiça alaranjada-amarela formada por umas cascas muito finas, parecendo papel pergaminho. Já havia visto elas antes, no Peru, na Quebrada de Santa Cruz ( vide relato e foto). Alcancei o rio após descer 30 minutos, onde há uma bela e moderna ponte pênsil. O rio ruge embaixo. Logo depois cai em cascatas seguindo o canion. O medo de trombas dágua e da correnteza fizeram os guarda-parques proibirem o nado no rio. Uma pena. Na Chapada Diamantina nadaríamos tranquilamente num rio com este caudal. Como fazia muito calor entrei numa cacimba formada por um córrego afluente do rio. Assim tomei um banho sem desrespeitar a regra, pois não estava no rio Condorito. Almocei uns sandubas de salame e segui. Um cartaz avisa que a subida do canion, do outro lado do rio, tem 500 metros de desnível e dura 45 minutos. Consegui fazer em trinta. No caminho um córrego desce a encosta e forma na margem da trilha uma banheira escondida na sombra de tabaquillos. Um pai brincava com o filho nesta banheira. A vista do balcón Sur é melhor que a do balcón Norte. Mais alto e a vista do canion é mais espetacular. De lá avistei de cima a pileta (piscina) dos condores. Um córrego que desce pela parede do canion forma uma pequena poça em uma estreita plataforma, uns 100 metros abaixo do balcón. Em seguida o filete dágua transborda da poça e escorre pelo paredão vertical. Nesta poça os condores fazem fila para banharem-se. Entram na água, se agitam e em seguida saem para secar ao sol, com as asas abertas.As três da tarde contei, com a ajuda de um monóculo, cerca de 30 condores ao redor da piscina. Um casal de namorados, de Cordoba, tirou umas fotos minhas na beira do abismo. A garota reconheceu logo que era brasileiro pois passa os verões em Bombinhas. Para os Cordobeses a distancia entre Cordoba e Mar del Plata ou Bombinhas é a mesma. Adivinha o que eles escolhem? Muitos já tem casa de praia em Santa Catarina. Depois de mais algumas fotos segui para o refúgio Gimenez, a apenas 20 minutos dali. Passaram uma roçadeira na trilha. Parecia um corredor num campo de trigo. O relevo e a vegetação, de campos de altitude (quase 2.000 metros) lembram muito as serras de Minas e do Rio de Contas, na Bahia. Eles chamam estes campos de pampa. Na Bahia chamaríamos de gerais. O refúgio fica numa pequena vereda do pampa, onde cresce um grupo de árvores ao redor de um córrego. Parece que foi uma sede de uma fazenda de ovelhas. Em torno das casas de pedra há vários currais feitos de cercas, também de pedra. Até o século passado milhares de ovelhas eram criadas aqui, antes de implantarem o parque nacional. Encontrei três trekkers, mas logo que cheguei eles sairam. Apenas visitavam o local. Fiquei sozinho naquela zona de acampe. No parque só se acampa nos locais designados pela APN. A Oli me recomendou não dormir dentro do refúgio pois há muitos ratos e cuys, o que atrai cobras. Há um aviso bem grande dizendo "Precaucion. Yarará Ñata" com uma cobra desenhada. A pronúncia é jarará nhata, o que lembra nossa jararaca. Deve ser a mesma espécie ou aparentada. Assim foi fácil decidir por dormir na barraca. Armei a tenda e comecei a preparar a janta. Eram cerca de 5 da tarde. Escurece apenas 08:30. Após, lavei a panela e tomei um banho sem sabão no córrego. Peguei o isolante, coloquei-o sobre uma pedra e comecei a ler "Saqueo" de Nadine Gordimer. Uma solidão e silêncio maravilhosos. Ao lado da laje de pedra, onde lia, havia uma macieira carregada. Pena que as maças ainda estavam meio verdes. Só faltava uma Yarará Ñata aparecer e me oferecer uma maça. E a Eva... Durante a noite fez 13 ºC. Fui obrigado a sair da barraca para urinar, pois não trouxe o penico (uma garrafa de Nalgene de 1 litro e boca grande). Foi ótimo, pois a noite estava bonita, meia lua minguante, mas muito iluminada. Ao longe consegui avistar as luzes de Córdoba bem nítidas. A Villa Carlos Paz estava oculta pela serra. Domingo, 12 de fevereiro. Acordei pouco antes das 8 horas. Verifiquei com muito cuidado minhas botas, que deixei no avanço da tenda, antes de calça-las. Café da manhã preguiçoso. Desarmei a tenda e aprontei a mochila. Mas fiquei até 10:30 na sombra de uma árvore, lendo. Se saisse mais cedo ficaria muito tempo esperando o ônibus (do refúgio Gimenez até a sede do parque são cerca de 3,5 horas). Queria pegar o busão de 17 horas para Córdoba. Cerca de 20 minutos depois estava novamente no balcón Sul. Na verdade fiquei um pouco acima, a direita. Os condores passavam num rasante sobre mim. Se quisessem me bombardear com cáca tenho certeza que teriam me acertado. Eles fazem questão de passar perto para nos observar. São curiosos. Não tirei nenhuma foto decente daqueles condores tão próximos. Minha maquina, uma point and shoot simples e a qualidade técnica do fotografo não permitiram. Ali era um lugar para uma boa camara com grande angular ou lentes de aproximação e tripé para tirar fotos de paisagem ou close ups excelentes. Também observei falcões e outras aves planando no canion. Os condores são aves magníficas. Abutres, tem uma importante função no ecosistema. Os nativos, inclusive os incas, a consideravam uma ave sagrada, que retira as impurezas do mundo. Coincidência ou não, no budismo tibetano mais tradicional são também venerados. Inclusive os mortos não são enterrados. São esquartejados e oferecidos aos abutres. Desci o canion para o rio Condorito e atravessei-o na ponte. Procurei uma sombra na outra margem. Comi sanduíches de salame. Depois de alguns minutos uns passaros me rodearam para comer as migalhas. Um deles tentava comer um pedaço de salame que caiu no chão. Voltei a subir. Decidi ir por um caminho paralelo a trilha que percorri na ida, passando por Pampa Pajosa, outro local de acampe. Neste local um casal acabava de levantar acampamento. Debaixo de uma pedra um cuy muito tranquilo (família dos hamsters). Pude tirar uma foto bem próximo. Se ele soubesse que comi um cuy num restaurante em Huaraz, Peru, talvez não estivesse tão calmo. Ô carne deliciosa!!! Tomei um banho de rio perto do Cento de Visitantes, para subir no ônibus limpo. Passei no Centro para devolver a minha via do registro se entrada (exigência para saber que vc voltou) e toquei para a estrada. Mal cheguei na pista consegui uma carona para Alta Gracia, perto de Córdoba. De lá peguei um ônibus urbano, 9 pesos, e cheguei na rodoviaria pouco antes das 19 hrs. Deixei a mochila num guarda volume e fui para o centro histórico, umas 10 quadras dali. Fazia muito calor, assim resolvi entrar num café com ar condicionado para tomar uma cerveja e comer algo. Sai do café quase 9 hrs e ainda estava fazendo cerca de 30 a 32 ºC. Como faz calor em Córdoba! O centro histórico de Cordoba é lindo e alguns monumentos dos jesuítas são patrimonio da humanidade. Vale um passeio. Peguei o ônibus as 22:15 para chegar em BsAs as 06:30 de segunda. Trekking muito tranquilo e fácil, para iniciantes, e vale muito a pena ver os condores em seu habitat natural, de um ponto privilegiado para admirá-los. Fica a sugestão se resolverem visitar Córdoba, Argentina. As fotos só conseguirei postar quando chegar no Brasil.
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