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Pessoal vcs que já foram ao perito moreno, o que aconselham, fazer o Big Ice onde se caminha por 6 horas no gelo ou apenas o mini trekking de 2 horas??? Não enjoa ficar caminhando 6 horas naquela imensidão gelada não? Obrigada desde já, Larissa
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A pessoa que retorna de uma jornada não é a mesma que partiu. Provérbio Chinês Passo um relato de um trekking no Parque Nacional Los Glaciares, em El Chaltén, Santa Cruz, Argentina. Planejava fazer a travessia dos vulcões, começando nas encostas do Villarica e terminando em Puesco, Chile, mas o tempo que dispunha e a logística complicavam as coisas. Lendo a lista dos destinos Top 5 dos Mochileiros (ver tópico) vi que El Chaltén aparecia duas vezes na seleção. O trekking é considerado fácil a moderado e seriam apenas ~ 4,5 horas de vôo de BsAs, mais 3,5 horas a partir de El Calafate, de ônibus. Espero que a narrativa seja útil e não cansativa. Saí de Salvador 17:30 da sexta, 05/12, chegando em BsAs às 01:00 do dia 06, usando milhagem. Fila da imigração demorada. Troquei dinheiro no Banco de La Nación. Eles sempre têm o câmbio mais favorável. Peguei o ônibus para o Aeroparque, aonde cheguei apenas 3 horas da manhã. Esperei um pouco para abrir o check in da Aerolineas Argentinas, as 04:30. Subi pra o embarque na esperança de dormir um pouco no saguão. Estava ainda fechado.O jeito foi sentar no chão e aguardar.Quando abriu, procurei logo um banco livre perto do meu portão. Mal cochilei porque o saguão estava surpreendentemente cheio para a hora. O embarque do vôo para El Calafate ocorreu no horário, 06:30. A Aerolineas está meio decadente. Aviões velhos e barulhentos. Nunca peguei avião ruim assim no Brasil. Os dois comissários de bordo, um à frente, outro no meio do corredor, começaram a fazer aquela coreografia sincronizada mostrando saídas de emergência, uso das máscaras de oxigênio etc...Só que faltou sincronização e um acabou de frente para o outro apontando para saídas de emergência em direções opostas. Um dos comissários caiu na risada quando percebeu o erro. Não pude deixar de rir, embora aquilo fosse indisciplina. Avião cheio de turistas franceses. Fez uma escala em Trelew, que fica a pouca distância da Península Valdés, famosíssima pela vida marinha, aonde orcas saem da água para pegar filhotes de leão marinho na praia e, volta e meia, se divertem atirando focas para o ar com as caudas, como se elas fossem petecas. A chegada em El Calafate foi as 10 hrs.Tem uma van (airport shuttle) que faz a ligação para El Calafate deixando-o aonde quiser por 35 pesos, bem mais barato que o táxi. Porém esperei a mochila chegar na esteira da bagagem antes de ir ao guichê. Resultado, não tinha mais lugar e a próxima van só dali à uma hora. Sorte que duas venezuelanas ficaram na mesma situação. Falaram e conseguiram outro carro. Acabamos na primeira van porque 3 passageiros, por sorte (nossa) não puderam embarcar. Macete: ao chegar, corra para o guichê das vans, compre o tckt, e pegue sua mala na esteira depois. Pedi para saltar no terminal de ônibus. Antes, a van deu uma bela volta passando por vários hotéis entregando os turistas. Bom, para conhecer um pouco da cidade. Cheguei 11 horas na estação. Comprei ida e volta para El Chaltén, na Chaltén Travel com a volta em aberto (sai mais barato: 130 pesos versus 70+70). Desci um escadaria atrás da rodoviária para a Av. San Martin onde a simpática moça do guichê disse que tinha supermercado e loja de equipamento outdoor. Comprei primeiro o gás (butano+propano) em lata com rosca para meu fogareiro (230 gr) e depois fui no supermercado La Anonima comprar pão, salame, queijo e outras coisinhas mais que não é possível trazer do Brasil. Lá eles têm um salaminho muito bom para comer no pão ou juntar na macarronada. Dizem que as coisas são mais caras em El Chaltén. Aproveitei para comprar um mapa muito bom de El Chaltén, da Aoneker. Escala muito ampla 1:125000, mas que permite ver desde o norte do Lago del Desierto até o Lago Viedma, com parte dos gelos continentais. Os mapas da Zagier & Urruty são péssimos se comparados com os da Aoneker. Voltei à rodoviária onde peguei a mochila para socar as compras. Aproveitei para comer um sanduíche. Deram 13 horas e nada do ônibus aparecer. 13:15 fui impaciente falar com a moça quando descobri que na verdade a província de Santa Cruz não tem horário de verão. Eu estava adiantado uma hora. O ônibus chegou pontualmente. Quando sentei no ônibus logo tirei bota. Usava o calçado direto desde 8 hrs do dia anterior (fui para o trabalho com ela). Estava naquele estado de quase gozo que temos ao tirar as botas quando li um aviso na dianteira do ônibus: “No te quites el calzado. Gracias”. Quando subiu o cheiro do chulé compreendi e, mais que depressa, calcei novamente as botas, sem amarrar o cadarço. Os caras sabiam o que faziam quando escreveram aquele cartaz!!! Havia uma versão em inglês. Dormi pouco depois da partida. Acordei apenas com o barulho quando chegamos num trecho de estrada de rípio, um dos poucos trechos não asfaltados naquela área da lendária rodovia 40. Pouco depois paramos na Estância La Leona, batizada com este nome por ficar diante do rio La Leona. O rio, por sua vez recebeu o nome porque ali perto Perito Moreno foi atacado por uma fêmea de puma (leona). Aquela estância é um monumento histórico. Foi construída por imigrantes dinamarqueses. Teve entre seus hóspedes ilustres Butch Cassidy e Sundance Kid. Estavam fugindo para o Chile, após assaltar um banco na Argentina. Não bastasse isto todas as primeiras expedições de montanhistas fizeram escala ali. Os equipamentos eram transportados por carros de boi até a década de 50! Aproveitei para comer uma empada, tomar um chá de erva mate e, por fim, uma fatia de torta de limão com uma cobertura enorme de algo que eles chamam de merengue. Parecia um vulcão com um enorme cone coberto de neve. Estava com muita fome. Pedi ao atendente para ele cortar a maior fatia possível sem o risco do patrão demiti-lo (li esta fala em algum lugar...). Satisfeito e acordado voltei para o ônibus. Estava um belo e quente dia de verão, uns 24 ºC (é o verão deles). Cinco minutos depois, ao retomar o asfalto, ao subirmos um morro, a primeira vista do conjunto de montanhas a noroeste. Apesar de ainda distante, já impressionava. Quando contornamos o Lago Viedma, uma hora depois, passamos a rumar diretamente para as montanhas e a grandiosidade do conjunto valia umas fotos. A estrada parece rumar direto para o Fitz Roy. A esquerda o lago Viedma e ao fundo o Glaciar de mesmo nome (um dos maiores da Argentina). Vinte minutos depois entramos num vale e chegamos a cidadezinha. Paramos na sede dos guarda parques para uma charla obrigatória para quem chega. A cidade está toda dentro do Parque Nacional Los Glaciares. Os guarda-parques uniformizados fizeram uma preleção rápida, mas interessante, sobre os cuidados no parque, especialmente quanto ao risco de incêndios. Não é possível acender fogueiras lá. Não se cobra entrada neste que é um dos mais belos parques argentinos. Silvia, passageira do ônibus, que trabalhava no posto médico, havia me dito que nesta época só 22:30 a luz some. Decidi então ir direto para o acampamento De Agostini (também conhecido por acampamento Bridwell), na Laguna Torre, ao invés de ir para o acampamento Madsen ou para o camping do outro lado da rua, em frente a sede do parque. Saltamos num albergue chamado Rancho Grande, bem movimentado. Rapidamente arrumei as coisas na mochila, estendi os bastões de trekking e comecei a caminhar. Cheguei no início da trilha para a Laguna Torre às 18 horas. Após uma pequena subida mais empinada a trilha segue ascendendo por um caminho bem batido. Muita gente no sentido inverso, já voltando da Laguna Torre. No caminho encontrei Guadalupe, uma Argentina que ia também para a Laguna, mas parecia desanimada. Acho que pensava que o tempo não dava para ir e voltar. A convenci a seguir adiante, pois pelos meus cálculos deveria estar lá 20 horas ou 20:30, sendo 2 horas suficiente para ela voltar (descendo). Resolveu me acompanhar. Conversamos um pouco. Disse que largou tudo em BsAs para trabalhar em El Chaltén num albergue chamado El Nativo. Estava lá há um ano. Quase tropeço quando ela disse que era a primeira vez que ia para a Laguna Torre! Após uma hora e meia chegamos ao mirante donde era possível ver o Cerro Torre. Depois a trilha descia para um lugar plano margeando um charco do rio Fitz Roy e logo adentra numa belíssima floresta de lengas. Guadalupe disse que no inverno amigos já avistaram um puma relativamente perto de El Chaltén. Com poucas pessoas, os pumas se aventuram mais perto do vilarejo. Contornamos um terceiro morro se aproximando mais das margens do rio Fitz Roy e uma passarela de troncos atravessados sobre um charco já indicava a proximidade do acampamento De Agostini. Chegamos num ponto onde havia um campo pedregoso e subimos um pequeno monte de pedras, que era uma velha morena terminal, e avistamos a Laguna Torre, com o glaciar logo atrás. O cerro Torre dominava a paisagem, majestoso, ao fundo. Tiramos fotos e me despedi da Guadalupe, que deveria voltar logo para não pegar escuridão. Ela me recomendou o albergue em que trabalhava. Disse que só voltaria a El Chaltén possivelmente na sexta. O “campamento” fica num bonito bosque de lengas. Uma bela coleção de tendas já armadas: MH, TNF, Vaude... As mais pebas eram as Doite chilenas. Montei meu barraco e tratei de fazer a comida. O rio Fitz Roy ficava a 10 metros. Tinha que descer um pequeno barranco para pegar água. Água muuuito mineral, ou seja, com uma suspensão cor de cimento, mas potável. Nada demais: iria repor os sais perdidos no suor. Após a janta, uma lavagem da panela e talheres, apenas com a areia do rio (não trouxe sabão para panelas: peso e anti-ecológico). Passeei pelo acampamento. Todos compenetrados, nos seus afazeres. Quase não ouvia vozes. Um silêncio, apesar de haver cerca de 20 barracas no local. Dormi cedo para recuperar parte do sono perdido na noite anterior. Domingo 07/12. Acordei tarde, por volta de 8:30, embora comece a clarear por volta de 5 horas. Durante a noite fez uns 6º C. É perto do alvorecer que a temperatura está mais baixa. Não teve vento nem chuva. Tomei meu mingau sentado num banquinho de madeira estrategicamente posicionado para avistar o Cerro Torre. O dia estava lindo. A visão da montanha entre as copas das árvores, no acampamento, faz este local muito especial. Após o café fui rumo a “letrina”. Todos os acampamentos oficiais têm uma. Só é permitido fazer necessidades nele. É um daqueles cubículos de fibra de vidro que vejo no Carnaval de Salvador ou em festivais de música. Só que não tem vaso sanitário, apenas um buraco e, em alguns, uma marca mostrando onde posicionar os pés ao se agachar (até parece que é necessária esta instrução!). O problema é que embaixo há um buraco onde caem os dejetos e, parece, só é limpo ao final da estação. Acredito que na verdade eles movem a “casinha” para outro lugar e tapam aquele buraco. Então o WC fica um cheiro e um mosqueiro só. Merda de todas as nacionalidades. Daí se vê que o bicho homem é um só. Ainda bem que estava no início da estação. Imaginem ao final do verão, com os acampamentos lotados e fila na porta. Provavelmente alguns vão fugir da “letrina” procurando seus cantos com uma pazinha. Porém a obrigação de usar o sanitário tem sua razão. Pensem como ficaria a área se fosse cada um por si. Possivelmente sofreríamos o embaraço de encontrar alguém agachado atrás de uma árvore quando fossemos buscar a “nossa” árvore! A teoria do mínimo impacto ambiental manda concentrar todas as ações humanas em um único local. Mas poderiam ao menos colocar dois WC. O acampamento De Agostini pode acomodar até 100 barracas. No momento havia no máximo 20. No caminho havia encontrado um alpinista de Madri, chamado Javier. Perguntei-lhe se subiria o Cerro Torre. Disse que não, que não tinha experiência para tal, tentaria picos mais fáceis. Perguntou se eu escalaria. Respondi que não tinha coragem para este esporte. Retrucou que a coragem vem com a experiência. Registrei a resposta, interessante! De fato, a audácia no montanhismo, sem conhecimento e preparo técnico é antes burrice e ignorância e não coragem. Falei-lhe que gostaria de fazer a Haute Route dos Pirineus. Ele passou dicas interessantes. A seção central valeria a pena. Voltei ao acampamento para em seguida partir para o mirante Maestri. Peguei a mochila vazia, soquei os agasalhos, lanche e fui. Basta rumar para a Laguna e, ao chegar, tomar a direita, seguindo a crista da morena lateral direita, com uma vista da Laguna Torre, com águas cor cimento, embaixo à esquerda. Quando tiver percorrido 2/3 da crista a trilha sai da morena lateral e sobe a direita para um bosque bonito de Lengas. Pouco depois encontramos o abrigo Maestri, utilizado pelo polêmico escalador italiano. Mais um pouco, outro abrigo abandonado (este bem rudimentar) e, em seguida, saímos do bosque e avançamos por uma encosta empedrada, onde há uma vista bonita da laguna Torre (para trás, embaixo) e do Cerro Torre, à frente. O cerro Torre é uma agulha com um paredão granítico liso, sem fendas ou diedros ou o que valha para facilitar a escalada, ao menos na face leste. Não é sem motivo que é um dos grandes desafios mundiais do alpinismo. Adicione a isto o clima patagônico, ser pego por uma tempestade escalando aqueles paredões. Diante dele o Cerro Mocho. Parece que ele foi cortado quase rente à base por uma foice gigantesca, daí seu nome. Me perguntei se o Mocho não seria maior que o Torre se não fosse cortado. Se foi, que forças gigantescas fizeram isto? A subida até o mirante dura pouco mais de uma hora. Desci após alguns minutos, pois teria de desmontar a barraca e seguir para o acampamento Poincenot. Na descida observei que os 3 morros que subimos e descemos antes de chegar a laguna, na verdade são morenas recessionais, cada uma correspondendo a uma idade do gelo. A geleira avançando é como se fosse a pá dianteira de um enorme trator levando tudo. Saí do acampamento pelas 13 hrs e voltei pela mesma trilha de ida para a Laguna Torre até chegar a uma placa indicando o atalho para o Poincenot, o caminho pelas Lagunas Madre e Hija (evita que voltemos para El Chaltén). Tomei o caminho da esquerda. Começa num terreno de vegetação baixa, mas ao chegar no pé da colina entra num bosque de grandes Lengas. Uma subida que dura cerca de 30 min. No alto, no plano, ultrapassei um grupo de trekkers franceses, pessoas na faixa dos 60 anos, todos bem equipados e bem dispostos. Com mais 20 min. chega-se na Laguna Hija. Não cheguei a ver a pequena Laguna Nieta. Talvez por ter usado um desvio a esquerda para escapar de um lamaçal. Na laguna entrei numa pequena península para sentar e lanchar. Um casal de patos chegou para fazer companhia. Um local muito aprazível. Do outro lado da lagoa uma área com deslizamento de terra mostrava que algumas encostas de montanhas eram muito instáveis. Na avalanche todo um trecho de bosque foi soterrado ou levado para o lago. Segui adiante. Muito movimento. Como não estamos distantes de El Chaltén, muita gente faz um passeio a pé desde a cidade, apenas com uma pequena mochila de ataque. As trilhas são fáceis e o dia é muito longo, o que facilita os passeios. Mas, às vezes, enche o saco toda hora bater com gente. Não dá nem para dar um pum na trilha sem o risco de ser surpreendido por alguém (no caso, uma testemunha de acusação). À medida que vc segue pela encosta, margeando por cima as Lagunas Hija e Madre, começa a aparecer o imponente Fitz Roy, a Noroeste, ainda meio encoberto pela Loma de Las Pizzaras, na outra margem do lago. Com o Cerro Torre, são as montanhas mais espetaculares da região, junto com algumas agulhas. Se nós temos o Dedo de Deus, em Teresópolis, parece que Ele aqui resolveu botar todos os dedos restantes das mãos (e das duas!). Depois de 3 horas desde a saída da laguna Torre chega-se numa baixada com pequenas pontes de madeira cruzando os meandros do Chorrillo Del Salto. Dali são mais 15-20 minutos até o Poincenot. É um acampamento bem maior que o De Agostini. Havia cerca de 40 barracas lá. Cabem 100 a 120 barracas. Uma só latrina. Pensei como seria no alto verão, janeiro-fevereiro, com o acampamento provavelmente lotado. Montei a barraca para garantir meu espaço. Em seguida segui para a laguna Súcia, pois ainda tinha pelo menos 4 horas de sol. Ao cruzar o rio Blanco vc deve subir uma escada na encosta da margem e dobrar imediatamente à esquerda para pegar uma trilha rala na margem esquerda (verdadeira) do rio Blanco. Não há sinalização. Eu segui a sinalização existente para a Laguna Los Tres e “campamento” rio Blanco achando que encontraria uma bifurcação adiante. Engano. Pelo menos visitei o acampamento exclusivo para alpinistas. Ali 4 ou 5 barracas MSR e dois abrigos de madeira, um deles um abrigo refeitório com uma longa mesa de tábuas, uma pequena mordomia para aqueles que em breve terão apenas privação ao escalar as montanhas. Um garoto me informou que o caminho para a Laguna Sucia era aquele que havia visto aos subir a escada na encosta do rio. Voltei e tomei o caminho certo. Após 5 a 10 minutos a trilha some ao descer para o leito seco do rio. Pircas a intervalos regulares indicam o caminho. Depois de 30 minutos chega-se num ponto aonde uma grande pedra afunila o Rio e não deixa leito seco para seguir. É necessária uma pequena e fácil escalaminhada para subir a pedra e descer em seguida. Logo depois um córrego fácil de atravessar (o vazadouro da laguna Los Tres que está acima), apenas precaução para não molhar a bota. Em seguida uma encosta que é um campo de boulders, exigindo algum cuidado para não pisar numa pedra instável. Pouco depois chega na laguna, que fica bem abaixo do Poincenot e do Saint Exupéry. Um pouco mais à direita o Fitz Roy. Cheguei a tempo para ver o sol se escondendo atrás do Saint Exupéry. Depois de algumas fotos voltei. Não havia ninguém nesta trilha. Apenas na volta vi pessoas na outra margem do rio. Acho que os guarda parques não querem visitas a laguna Sucia, daí não colocarem placas com a indicação. Cheguei a tempo de ver que tinha novos vizinhos, uma barraca ao lado com 4 israelenses barulhentos e no outro lado, duas americanas, cada qual com sua barraca. Ambas já dormiam, uma roncando alto. O chato do Poincenot é que o rio fica distante, se compararmos com o De Agostini. Preparei a janta. Enquanto comia observei que uma tenda na minha frente estava quase embaixo de um galho podre, caído, que estava apenas sustentado na forquilha do galho de outra Lenga. Avisei o ocupante da barraca, um jovem montanhista basco, chamado Gorka, gente boa. Ele respondeu que rezaria para o galho não cair. Realmente o tempo estava bom e desfazer e montar a barraca logo antes de escurecer é um saco. Em todos estes acampamentos, dentro de bosques de Lengas, não devemos só olhar para o chão na hora de escolher o lugar da tenda. Vale olhar também para o alto. Quando passamos por um bosque é impressionante ver a quantidade de árvores grandes derrubadas pelo forte vento patagônico. Não é bom ter a tendinha justo embaixo, nesta hora, de um galho podre. Podemos deixar as coisas na barraca numa boa e ir passear. Nós brasileiros ficamos um pouco receosos, mas é tranqüilo (em todo caso levava a carteira e o passaporte na pochete). E a consciência ecológica ali estava em alta: praticamente sem lixo apesar da área ser pesadamente usada. Sem som, sem algazarra. sem cheiro de Cannabis, (acostumado com a Chapada, eu estranhava!). Dormi cedo (22 hrs!), pois ainda tinha sono acumulado da viagem desde o Brasil e quando escurece o frio rapidamente vem junto. Segunda, 08/12. O dia amanheceu espetacular, novamente. Noite tranqüila. Tomei meu café. Conversei um pouco mais com Gorka e segui para Laguna de Los Tres com a mochila, lanche e agasalhos. Creio que a laguna tem este nome em homenagem aos 3 alpinistas italianos que escalaram o Fitz Roy. Sempre levava a mochila com agasalhos e impermeável (calça e abrigo), além de lanche, para estes side trips, porque o tempo muda muito rápido aqui. Mesmo que estejamos perto do acampamento e a mudança não represente risco, o vento frio pode obrigar-nos a recuar no passeio ou voltar mais cedo, quando poderíamos curtir mais o lugar se estivéssemos bem abrigados. É também uma recomendação dos guarda-parques. O ideal é ter uma pequena mochila para ataque, leve, só para estas coisas. Não era meu caso. Tinha de usar a 70 litros. A subida é cansativa, 1 a 1,5 horas. Trilha principal com sinalização para evitar as secundárias, provocando mais erosão. Os guarda-parques trabalham. Apesar do esforço vale a subida. A pequena laguna é muito bonita, aos pés do Fitz. Os 300 mts de desnível já fazem que esta laguna tenha placas de gelo e neve ao redor. Um espetáculo. À direita, o Cerro Madsen, em homenagem aos primeiros imigrantes dinamarqueses que eram os proprietários do local. Havia uma encosta suave de neve a direita, que acabava no lago com sinais de que alguém praticou ski bunda ou treinou self-arrest na ladeira. Porém se não freasse a tempo iria tomar um banho gelado no lago. Fui de um lado para outro. Aproveitei para matar as saudades de andar na neve. Foram chegando turistas. Alguns, como eu, aproveitaram para lanchar a beira do lago. Segui para o lado esquerdo onde podia ver a Laguna Sucia 300 metros abaixo, que visitei ontem. Mostrava o deságüe da laguna Los Tres descendo para se juntar ao deságüe da Sucia. Enquanto esta tinha uma cor verde-cimento, a Los Tres tinha uma cor azul. Passei uma hora ali por cima. Mais turistas chegaram à laguna. Alguns alpinistas com mochilas grandes Black Diamond com o capacete coroando o topo da mochila. Ao meu ver há uma hierarquia de respeito neste ambiente. Em baixo, os turistas que fazem passeios de um dia e voltam para El Chaltén antes de escurecer. No meio, os trekkers, que percorrem o parque dormindo em tendas. No topo, os escaladores. Um grupo de montanhistas subia em calmo zig-zag uma encosta com neve do Cerro Madsen. Tive a impressão que se tratava de um grupo guiado, com turistas que queriam experimentar a sensação do montanhismo, pois o Cerro não é um troféu cobiçado pelos escaladores veteranos. A Laguna de Los Tres é imperdível nesta viagem. Se não tiver tempo, esqueça a Sucia, mesmo porque vai vê-la de cima. Desci e segui para o Poincenot. Desmontei a barraca, arrumei a mochila e zarpei para Pedra del Fraile, no vale do rio Electrico. Tive de atravessar novamente o Rio Blanco, pois queria descer o rio pela margem esquerda verdadeira. Trilha bem menos batida e mais aventurosa, pois tinha de subir e descer o barranco algumas vezes e na maior parte seguir pelo leito seco do rio. A maioria prefere seguir pela fácil trilha na margem direita. Pela esquerda se ganha algum tempo além de vc poder entrar no vale da laguna Piedras Blancas. Depois de 30 min. subi um morro que na verdade é a morena lateral do Glaciar Piedras Blancas e cheguei na entrada do vale. Mais 30 minutos e estamos na laguna. O último trecho tem boulders grandes, com trepa-pedra, mas não é nada difícil. A visão é muito bonita. O pequeno lago, com alguns icebergs, um paredão atrás e logo acima, pendurada como numa prateleira, a geleira, com os seracs na beira, ameaçando cair. Presenciei uma avalanche de neve. Demorei a pegar a câmera porque sempre fico na dúvida entre olhar ou perder tempo caçando a máquina fotográfica. A verdade é que as avalanches não são tão rápidas. Dá tempo para fotografar. Apesar da demora ainda consegui filmar e fotografar o final. Voltei. Percebi que alguns grandes boulders na entrada do vale são usados para bouldering. Vários grampos fixos na rocha (bolt hanger) davam segurança para os praticantes. Para cruzar o rio que vem da laguna tive algum trabalho para achar o ponto correto da travessia. Não há ponte. Umas pircas indicam o local. Não é preciso pular pedra, apenas cuidado com o balanço na hora de passar de uma pedra para a outra no cruze. Puxe a mochila para junto de suas costas. Mais alguns metros para baixo e reencontramos o Rio Blanco por onde continuará a descer. Este último trecho é mais selvagem. Só vi um casal de trekkers na trilha. O caminho para o Piedras Blancas desde o Poincenot é bem freqüentado, mas não este trecho. Com 40 minutos vc chega numa cerca que indica o fim do parque nacional. Ao passá-la entra em propriedade privada. Segui observando trilhas entrando para a mata à esquerda, pois sabia pelo mapa que não precisaria ir até a estrada de rípio para depois dobrar a esquerda. Entrei numa trilha que depois passou a seguir numa direção oposta (Sul), por um bonito vale lateral. Concluí que estava errado e voltei ao leito do rio. Com mais uma andada achei a trilha certa e foi só seguir. Entrei na maior floresta de lengas até então. Um capim baixo parecia convidar para acampar ali mesmo, em qualquer lugar do bosque. Mais adiante, à direita, o rio Electrico corria caudaloso. É bem uma hora para chegar a Pedra Del Fraile. Apenas quando saí da floresta é que vi a pequena casa verde limão do Refúgio Los Troncos. Um casal simpático me recebeu dentro do restaurante. Mercedes e Juan. Na verdade eles são de Corrientes, província que faz divisa com o Rio Grande do Sul. Mercedes me disse que era o 2º brasileiro ali, na temporada. Levei cerca de 5 horas desde o Poincenot, considerando a entrada para o Glaciar Piedras Blancas. Paguei 25 pesos por pernoite no camping (único lugar para pernoite na região) com direito a banho quente. Era segunda à noite e desde a sexta anterior, pela manhã, não tomava banho (apenas usava baby wipes antes de dormir – atire a primeira pedra quem já tomou banho de panelinha naquela água fria – não podemos entrar direto no rio). Havia apenas uma ducha bem concorrida. Armei minha barraca, coloquei as coisas dentro e esperei vagar o chuveiro. Como demorava e tinha fila na porta decidi jantar, só que desta vez fugi da macarronada e resolvi usar o restaurante. Um bife com purê de batatas: 55 pesos. Não estava bom. O preço e a comida. Mas depois de alguns dias de macarrão, passa por um banquete. O acampamento é bem abrigado. Rodeado por uma cerca de madeira e logo atrás da Pedra Del Fraile, um imenso errático que até duvidamos que uma geleira tenha trazido até ali. O lugar é bonito. Havia cerca de 10 barracas e muitos franceses. Além das duchas, há um pequeno espaço abrigado encostado na rocha da pedra, onde cada ocupante do camping pode montar sua cozinha livre da chuva. Parecem baias de cavalo. Um casal americano já usava um destes. Quem quisesse poderia alugar um abrigo (havia 2 ou 3 bem rústicos). Tomei um bom e demorado banho quente antes de escurecer. Lavei camisa e cueca. Foi bom ser o ultimo, pois senão poderia ter gente batendo na porta pela demora. Mas se fosse um pouco mais tarde iria precisar de lanterna no banheiro, pois não havia luz elétrica no camping (o aquecimento da ducha era a gás). Outro dia lindo. Dormi o sono dos justos. Terça, 09/12. Amanheceu bonito, novamente. Acordei a tempo de ver os franceses desarmando as barracas. Parecia ser uma expedição patrocinada pela North Face pelo nº de barracas enormes do mesmo modelo no local. Depois compreendi: tratava-se de um grupo e as tendas deviam pertencer a uma firma de turismo que as incluía no pacote. Quando vi colocando-as em grandes sacolas com o logotipo TNF percebi que se tratava de um modelo não destinado ao trekking ou a escalada, mas a car camping. A bagagem foi carregada em cavalos por arrieros que aguardavam o grupo. Foi engraçado ver os franceses correndo despudoradamente para os banheiros pela manhã cedo. Parece que a incontinência vem com a idade. O americano da barraca ao lado, cuja namorada era lindíssima, veio curioso perguntar sobre a minha tenda e pediu-me para ver seu interior. Mostrei-lhe minha Ligthwave Trek t0. Ele gostou da barraca. Achou-a ideal para uma pessoa. O dono sempre fica orgulhoso quando seu barraco chama a atenção. Segui para o Cerro Electrico, pois me disseram que valia muito mais uma visita que o Lago Electrico e o Glaciar Marconi, subindo o vale. Os vaqueiros disseram que o dia estava perfeito para tentar a subida. Parece que um bom indicativo é a ausência de nuvens. A trilha começa num portãozinho na cerca do camping e ruma para a montanha. Sobe entre dois córregos (chorrillos) que descem a montanha. Reclamei da subida a laguna Los Três, mas esta é mais puxada. A encosta estava enfeitada por bonitos arbustos cheios de flores vermelhas, chamados notros. No topo passei por um errático que serve de vivac. Descobri que o “topo” na verdade é apenas um pequeno platô e devia subir mais. O lado Norte do Fitz Roy já fica visível. A trilha some num empedrado. Pircas indicam o caminho. Mais subida, com alguns manchões de neve e cheguei no glaciar. Tomei a esquerda subindo uma arista empedrada para ver de cima. A pequena laguna está quase toda coberta de neve. Só percebemos tratar-se de uma laguna porque perto do deságüe tem uma pequena faixa livre de gelo. À direita da laguna, para quem sobe, uma encosta nevada e, acima, o Paso del Quadrado. O nome vem de um grande rochedo quadrado ao lado do passo. Pegadas na neve indicavam que montanhistas haviam subido para o passo, que fica no lado direito do quadrado. De onde estava, via o topo da Aguja Pollone, atrás do passo, outro grande desafio para escaladores. Pensei em subir para o passo, pois a neve estava com uma consistência ótima (nem mole – para raquetas - nem dura – para crampons). Mas a minha bota não tinha solado espesso e não trouxe minhas polainas (deixei ambas em casa). O que mais pesou foi não ter a piqueta para um mínimo de segurança (self belay). Continuei subindo rumo ao cimo do cerro Electrico, através de um campo de boulders. Porém a subida era chata e cansativa. Até ali já havia gastado cerca de 2,5 horas. Resolvi dar meia volta porque ainda iria hoje para o campamento da Laguna Capri. Na descida encontrei um simpático casal jovem de escaladores argentinos que tb estavam acampados na Piedra del Fraile. A argentina muito bonita (só dá mulher sarada neste meio!). Disseram que iam escalar o Guillaumet. Desejei-lhes sorte e que o tempo continuasse boníssimo, ao que responderam “Oxalá”. Desci e botei tudo na mochila. Eu me despedi do pessoal do camping e segui para a estrada. Depois do bosque de lengas o caminho é chato, pois segue por um trecho arenoso, antigo leito de rio (deve encher com chuvas fortes), até chegar numa cancela e logo adiante a ponte sobre o Rio Electrico (a trilha sai ao lado da ponte, na margem direita). E estava quente. Encontrei o casal simpático de canadenses que vinha seguindo o mesmo roteiro nos últimos 3 dias. Estavam esperando o táxi contratado para os levar a El Chaltén. Dobrei a direita e segui pela estrada de rípio no sentido El Chaltén. Pouco depois cruzei uma pequena ponte sobre o Rio Blanco e, logo adiante, entrei para a Hosteria Del pilar, a direita. Adentrei no bonito e simpático hotel para perguntar onde continuava a trilha. O dono prontamente respondeu. Pedi uma Coca e perguntei o preço para uma diária de casal. Das janelinhas dos quartos dava para ver o Fitz Roy. Mas a vista tinha um preço: 400 e tantos pesos (versus 40 por pessoa num albergue em Chaltén). Quase engasgo com a Coca. Segui. A trilha no começo vai num sobe-e-desce chato pela encosta. Depois descobri que peguei uma derivação paralela. O ideal é seguir o máximo a beira do leito do Rio Blanco e só subir a encosta a esquerda quando não houver mais caminho junto ao rio. Trilha fácil e bem batida. Não é a toa que o pessoal prefira vir do Poincenot para Pedra del Fraile por aqui. Ouvi um barulho de trovão. Na verdade era uma avalanche no Glaciar Piedras Blancas, pois o barulho vinha de sudoeste. Naquela hora do dia, cerca de 16 hrs, a neve e o gelo já tinham sofrido bem com a “insolação”, um horário propenso a estas avalanches. Da Hosteria Del Pilar até o mirante do Glaciar Piedras Blancas (vc vê o glaciar de uma elevação do outro lado do rio) não tem quase movimento. Neste caso, acho que devido ao horário mais avançado da tarde. Tirei umas fotos do mirante e segui. Entre ele e o Poincenot muita gente só de mochilinha. Meia hora depois a bifurcação para o campamento Poincenot. Segui a esquerda para El Chaltén. Cerca de uma hora depois uma bifurcação à direita com placa indicando a Laguna Capri. Mais 10-15 minutos e chega-se na laguna, bonito local. Pouquíssimas barracas. Talvez cinco. Armei a barraca não longe da água. Aproveitei para examinar os calos em ambos os mindinhos dos pés. Vacilei no cuidado com os pés. No corre-corre para chegar a tempo nos acampamentos e fazer os side trips, deixei a meia molhada de suor dentro das botas. Num trekking isto é imperdoável. A água para uso é da lagoa, límpida e potável (acho). Uma gringa passou e perguntou onde havia um riacho próximo. Respondi que não havia (possivelmente o córrego que alimentava o lago deveria ser do outro lado). Era acreditar naquela água ou fervê-la. Comi minha janta num mirante a beira do lago, vendo o Fitz Roy ao entardecer. Um casal de patos com dois filhotes estavam bem junto ao acampamento e tirei fotos deles. Este acampamento, apesar de aparentemente ser o menos freqüentado entre aqueles em que fiquei, era o mais sujo. Embora a sujeira fosse pouquíssima, chamava a atenção justo porque a limpeza era regra nos demais. Talvez porque fosse o mais perto de El Chaltén, mais ao alcance dos farofeiros. Um pouco mais acima, na trilha que seguia para El Chaltén, uns barracos maiores onde parece que uma empresa de atividades outdoor guardava equipamentos, possivelmente caiaques. Tinham também um acampamento organizado com algumas barracas Doite grandes. Outro dia lindo passou. Estava começando a pensar que aquela história toda do terrível clima patagônico era um mito. Quarta, 10/12. A noite foi mais quente que nos acampamentos anteriores. Acho que quanto mais afastado dos glaciares, mais quente fica. Após o café, desmontei o acampamento e segui para El Chaltén. Pretendi passar pela cidade, telefonar para o Brasil e re-suprir alguns itens antes de seguir para a laguna Toro, meu destino neste dia. Desci as montanhas e num trecho longo avistamos o bonito vale do Rio de las Vueltas. Caminhei ouvindo MP3 e estava muito alegre. Apesar de ser muito gostoso descer uma trilha fácil ouvido música às vezes atrapalha quem vem atrás e quer ultrapassá-lo. Como ia rápido isto só aconteceu uma vez. Por precaução diminui o volume. Depois da saída do parque a esquerda uma panaderia onde comprei pão integral. Depois entrei num locutório para ouvir vozes queridas e dali eu segui para uma pequena mercearia, para comprar um pouco mais de leite em pó, queijo e café. O café vêm em sachês ! Segui então para o extremo sul da cidade para a sede do guarda parques, ao lado da ponte sobre o Fitz Roy, onde começava a trilha. Passei por um casal de jovens mochileiros comendo debaixo da sombra de uma árvore, junto a calçada. Uma loirinha linda de cachinhos comia compenetrada o seu müsli. É bonito ver que não é a grana pouca que impede as pessoas de conhecer o mundo. Na sede dos guarda parques tive de preencher meu nome e data estimada de volta da laguna Toro, num formulário, já que esta trilha é bem menos freqüentada. Registrei a volta para dali a dois dias (embora planejasse voltar amanhã mesmo). Precaução caso gostasse do local e quisesse ficar mais um dia. Fiquei triste ao saber que para ir até Paso de Los Vientos (vistas espetaculares para o gelo continental) era necessário um arnés (cadeirinha?), para cruzar numa tirolesa um canyon sobre o rio que vinha do glaciar até a laguna Toro. Paciência. Fica para outra vez. A trilha bem marcada sobe e desce uns pequenos vales com córregos, numa área sem mata, parecendo uma estepe. Uma rocha semelhante a um ovo em pé magicamente se equilibrava à direita da trilha. Começa uma subida mais empinada e, perto do topo, uma floresta de lengas. Mais alguma subida e andamos alternadamente entre bonitos campos e bosques de lengas. Os campos repletos de dentes de leão e de flores amarelas, parecendo um pouco com margaridas. Imaginei um vendaval. Deve soprar uma nuvem de dentes de leão. Levantei os bastões para não derrubar as flores ao lado da trilha. Cerca de 2,5 horas encontramos uma tabuleta numa bifurcação que indica as direções da Loma Del Pliegue Tumbado (3 horas) e do Lago Toro. Segui para o lago. Adiante um charco onde a trilha se perde, mas logo uma tabuleta do parque indica a direção. Os campos dão vez a uma floresta de lengas e a subidas. Em alguns trechos a trilha está tomada por água escorrendo e é necessário desviar. Até que finalmente saímos da floresta e chegamos num prado alpino, com pequenos bosques de lengas ali e acolá, o prado parece até um campo de golfe. E só andar um pouco que percebemos que o terreno na verdade está todo encharcado. Por isso não há trilha. Na saída da floresta há uma placa sobre um tronco sustentado por um tripé de troncos indicando que a entrada na floresta é aquele ponto de onde saí (para quem vem em sentido contrário). Segui cuidadosamente por onde parecia ser o rumo natural da trilha, ou seja, subindo um pouco à direita, pois sabia que teria que continuar a contornar a Loma Del Pliegue para entrar no vale do rio Toro, à direita. De fato, após alguns metros, avistei o mesmo tipo de indicação adiante (um tripé de troncos). Ali se vê a linha de uma antiga cerca, a trilha seguindo paralela. Mais terreno encharcado. O bastão é útil para sondar o terreno. Também botei o máximo de peso nos bastões para tirar um pouco de peso dos pés, para a bota afundar menos. À esquerda, uma linda vista do Lago Viedma, a S-SE. Pouco adiante encontrei descansando dois trekkers gringos, que vinham em sentido contrário. Perguntei quanto tempo seria até a laguna Los Toros. Informaram que levaria 2,5 horas e que eu seria o único lá, já que na noite anterior eles foram os únicos. Não pude deixar de dar um sorriso, depois de ver tanta gente nas trilhas do parque. Agradeci e segui. Começa então uma longa descida até o fundo do vale. No começo bosques baixos de lengas (ficam assim devido ao peso da neve acumulada no inverno) alternados por campos de flores. Tirei foto. Mostrando para alguém poderia dizer que eram os Alpes suíços. Ao fundo, para W, via-se o lago Toro e o glaciar. Acima, o Paso de los Vientos. Mais para baixo um cenário triste. O resquício de uma antiga floresta de lengas que queimou num incêndio, em 1910. Incrível como a recuperação é lenta! Por isso não permitem fogueiras no parque. No chão do vale permanecemos no lado esquerdo (verdadeiro) do Rio Toro e cruzamos chorrilhos que vem das montanhas à direita. Com cerca de uma hora chegamos ao acampamento Toro. Logo antes de chegar um grupo de 4 alpinistas vinha seguindo no sentido inverso, para El Chaltén. Eles estavam com os rostos bem queimados, sinal de dias passados na neve. Pelo adiantado da hora chegariam no escuro na cidade, o que não era problema com boas lanternas de cabeça. Não sei porque eles não optaram por descansar esta noite no acampamento Toro para só amanhã voltar. Descobri logo o porque. Ao chegar observei que o acampamento ficava atrás da aresta de uma montanha, muito bem abrigado dos ventos de oeste. É necessário contornar esta aresta pela esquerda para efetivamente se enxergar a laguna Toro. O local era rodeado por uma cerca de troncos, algo que não vi em nenhum dos outros acampamentos do parque. Será que há ventos fortes vindo de E, que exigem esta proteção? Dentro a área para acampar, um refúgio e, claro, a letrina. Não gostei muito do aspecto um pouco tenebroso do local. Provavelmente por ser mais escuro, na sombra da aresta, ao contrário dos outros locais para acampar, que estavam abertos para o sol à oeste, ao final da tarde. Escolhi um ponto e comecei a armar a tenda. Cedo percebi que o lugar é infestado de mosquitos (pernilongos). E não trouxe repelente. No Brasil nunca acampei num lugar tão cheio de mosquitos. Tratei de fazer logo a janta. Não podia ficar parado muito tempo por causa dos malditos insetos. Logo que a janta ficou pronta fui com a panela para as pedras junto ao rio para pegar um pouco de vento, assim não sendo incomodado pelos mosquitos enquanto comia. Água cheia de suspensão no Rio Toro. Estava bem caudaloso o deságüe. Outra coisa que percebi foi que estava com um déficit energético. Cheguei morrendo de vontade de beber alguma coisa açucarada. Procurei desesperado o Tang em pó dentro da mochila. Também, depois de beber muita água, a gente fica com uma vontade louca de beber algo diferente. Provavelmente os escaladores sabiam dos mosquitos. Além disto, depois de dias na montanha quem é que não quer ir direto para a cidade tomar um vinho ou uma cerveja gelada e comer um bom bife? Eu me descuidei no caminho para cá e molhei a bota num charco. Levei-a para a morena para deixá-la pegar os últimos raios de sol da tarde e vento seco. Fui dormir ainda com a luz do dia porque estava cansado e saturado dos mosquitos. Dentro da barraca teria paz. Antes de pegar no sono um grupo de argentinos com cadeirinhas surgiu. Acho que fizeram uma excursão de um dia para o Paso de los Vientos ou estavam escalando em rocha nas proximidades. Perguntaram-me se havia um córrego próximo. Disse-lhes que só no rio, a 200 metros. Examinaram o acampamento e depois seguiram para El Chaltén. Fora da tenda uma revoada de mosquitos. De El Chaltén (sede dos guarda parques) até o lago Toro levei 5:15, incluindo aí 15-20 minutes para lanche. A placa do parque dizia 7 horas. O pessoal de El Chaltén falou em 6 horas. Quinta, 11/12. A noite foi a mais quente até o momento. O acampamento é realmente protegido dos ventos. Não fechei sequer a porta do vestíbulo. Estava sozinho e não precisava de privacidade. Pude dormir de cueca, com o saco semi aberto. Acordei e olhei pela tela da porta. Outro dia ensolarado.Fiquei aborrecido não com o que vi através dela, mas o que estava pousado na tela: um monte mosquitos. Comecei arrumando o máximo que podia dentro da barraca para não fazê-lo do lado de fora. Tive de interromper a tarefa e sair para urinar. Corri para o meio do campo de pedras na morena terminal. Ali, com o vento, os mosquitos incomodam menos. Voltei e entrei na barraca, para terminar a arrumação. Só que neste entra e sai alguns mosquitos conseguiram entrar. Passei a caçá-los e matei-os contra o tecido da tenda.Para meu espanto alguns já estavam papudos com meu sangue e sujaram o tecido da barraca. Tive de usar o baby wipes para limpar. Saí para comer um müsli no meio das pedras, na morena, e pegar minhas meias que havia deixado lá para secar (o vento seco é muito eficiente). Voltei para o acampamento, desfiz a barraca e arrumei a mochila. Deixei-a em pé junto ao refúgio. Peguei a pochete com um lanche e fui para a Laguna Toro tirar fotos e ver se descobria o caminho para a tirolesa. Perto do final da Laguna, de onde vinha o rio do glaciar alimentar o lago, deu uma baita dor de barriga. Subi a encosta uns 80 mts acima do lago para fazer a necessidade ali mesmo. Não estava a fim de usar aquela latrina do acampamento, ainda por cima com os mosquitos fazendo a festa. Cavei um buraco com a bota no descampado. Não tive a menor preocupação em procurar me esconder atrás de uma rocha, pois era em torno de 10:30. Para alguém chegar lá neste horário teria de sair de El Chaltén as 5:30 – 06:00, algo impossível. Arriei as calças e me agachei. No instante em que “obrava” (como diria meu tio português) olhei para o lado oposto do glaciar e vi dois mochileiros vindo em minha direção. Ainda estava um pouco longe, mas o gesto de arriar as calças e se agachar é universalmente compreendido mesmo à distância. Os dois desaparecerem num vale entre duas morenas e mais que depressa terminei o serviço. Enterrei a prova do crime. Na pressa, esqueci o papel higiênico, que o vento tratou de carregar. Tive que caçá-los correndo, espetando-os com o bastão. Enterrei-os também rapidamente. Leave no trace. E temia que os turistas fossem ecochatos e me repreendessem por não ter usado a “letrina” do acampamento. Lavei as mãos com a água do cantil e em seguida eu me recostei numa pedra para fazer o lanche. O ruim é que a trilha passava bem ao lado, assim o encontro com a dupla era inevitável. Os dois se aproximaram e saíram da trilha direto na minha direção. Para meu espanto, reconheci pelos uniformes que eram rangers (guarda-parques). Deviam estar fazendo uma patrulha. - Merda! - Pensei.- Agora vou levar uma multa ou no mínimo um carão por c......r no lugar errado!! O guarda estendeu a mão e me cumprimentou amigavelmente. Perguntou se a mochila no abrigo era minha, respondi positivamente. Ficaram preocupados porque eles viram a mochila sem ninguém por perto. Perguntaram se iria para o Paso de Los Vientos. Disse que não, pois não tinha cadeirinha para usar a tirolesa. Eu comentei que era até possível atravessar o rio através do delta, pois o rio se subdividia em vários canais antes de entrar no lago. Era apenas questão de não ter receio de molhar os pés na água gelada. Disseram que estavam subindo para o Paso. Perguntei-lhes porque não deixavam as mochilas ali, já que teriam de voltar pelo mesmo lugar. Responderam que não, que seguiriam adiante, descendo pra o outro lado. Antes de chegar ao gelo continental, na encosta, virariam a esquerda e contornariam por trás o Cerro Huemul que estava na nossa frente. Belo trajeto.Deu vontade de acompanhá-los, mas seria muita cara-de-pau pedir emprestado a cadeirinha para passar a tirolesa. Despedi-me deles e desejei-lhes sorte. Ufa! Ou não viram ou não acharam nada de mais, ou ainda não queriam perder tempo com um simples ato fisiológico. Achei os guardas simpáticos e responsáveis. Não costumo ver o pessoal do Ibama patrulhando nossos parques. Ficam apenas nas bilheterias cobrando ingresso. Na Argentina eles são bem mais organizados e eficientes. Mas justiça seja feita: na Argentina a única missão deles é zelar pelos parques e pelos visitantes. No Brasil o Ibama tem pouca gente e tem de fazer de tudo: licenciamento ambiental, fiscalização, licença de importação e exportação para alguns produtos, além de administrar os Parques Nacionais. Depois, checando no mapa, vi que realmente havia uma trilha circundando o Huemul. Não sei se era aberta ao público. Era trilha para mais 2 ou 3 dias, pelo menos. Voltei ao acampamento, peguei as coisas e parti. Cruzei novamente, de volta, alguns riachos que em época de muita chuva eventualmente podem deixar alguém aprisionado no vale. Apenas uma mochileira solitária passou por mim, em sentido contrário. Uma hora e dez minutos estava no sopé do morro e iniciei a subida. No topo, na placa que indicava para a Loma del Pliegue Tumbado, fiz um lanche e escondi a mochila. Um bando de íbis passou voando baixo. Subi o morro apenas com minha pochete. Sem trilha. Algumas pircas espaçadas davam orientação, o que não era muito necessário, pois o terreno estava nu (acima da linha de árvores) e a navegação era fácil com um mapa. Achei a trilha da qual, no dia anterior, havia visto a entrada. Mais alguma subida e chegamos a um mirante com vista ampla para a Laguna Torre, o cerro Torre e os seus vizinhos. O Pliegue Tumbado fica 200 mts acima, com uma encosta mais empinada.Logo antes do topo um pequeno paredão obrigava as pessoas a subir diagonalmente para a esquerda, na encosta leste, ainda com neve. O problema é que a diagonal era um pouco exposta, uma queda de 5 a 10 metros. Dois casais estavam subindo. Observei-os. Ao chegar no trecho exposto paravam não sei se para avaliar ou para colocar crampons. E seguiam. O(a) da frente ia em pé, o(a) de trás, de quatro. Com o segundo casal a mesma coisa. Só que a pessoa de quatro congelou, não ia para frente nem para trás, na travessia. Só depois de algum tempo recuperou a coragem e seguiu. Desconhecia esta nova técnica para subir na neve, de quatro. Na descida, um dos casais fez glissading na encosta nevada. Voltei, pois ainda tinha que voltar para o local da mochila. De lá seriam mais duas horas até El Chaltén. Volta tranqüila, já ao final da tarde. Como a sede dos guarda parques estava fechada, coloquei a folha do registro por baixo da porta, para que no dia seguinte soubessem que voltei. No céu, ao entardecer, o espetáculo das nuvens. Cada formação lindíssima. Parece que aqui na patagônia as nuvens (cirrus) capricham nos tipos e formas. Segui para a avenida Lago Del Desierto, onde procurei o albergue Lago Del Desierto, recomendado por Silvia e pelas Dicas de El Chaltén, nos Mochileiros. Não deu errada. Pessoal simpático. O Toni foi muito atencioso. Pedi um quarto para ficar sozinho. Como não estavam cheios, deram-me um quarto com 6 beliches e banheiro.Sabiam que naquele horário não chegaria mais gente. Preferia ficar só para espalhar minhas coisas e ficar mais a vontade depois de 5 noites acampado. Não cobraram a mais por ficar sozinho no quarto. Paguei 40 pesos. Não precisava café da manhã, pois sobrou comida e gás no fogareiro e o quarto tinha uma mesa.Tomei um belo banho demorado. O jardim do albergue estava mais cheio que os quartos. Era também um camping. Creio que pela metade do preço ou menos oferecia chuveiros, banheiro e cozinha comunitária. Havia um grupo de tendas com jovens que pareciam formar uma confraria de escaladores hippies de todas as nacionalidades. Barracas 4 estações com sinais de muito uso. Um dos passatempos deles era comprar um garrafão de vinho e sentar nos bancos conversando e dividindo a bebida. Jantei um cordeiro patagônico delicioso no El Viejo. Acho que para carnes é o melhor que há em El Chaltén. Sexta, 12/12. Mais um amanhecer bonito. Fui para o Rancho Grande para pegar a van de 8:30 que fazia um passeio para o Lago Del Desierto. Decidi ir num esquema turistão porque senão teria de caminhar 36 km por estrada de rípio, coisa muito sem graça, ou tentar pegar carona (hacer autostop), com pouca chance de sucesso. A estrada é pouco movimentada e os poucos carros que passam são táxis e vans de turismo. Preço do passeio: 80 pesos. Parte dos passageiros era de ingleses, que saltaram na Hosteria Del Pilar. É uma opção para começar o circuito a partir de um ponto mais distante e ir voltando para El Chaltén. Todos eles com bastões de trekking, o que é regra aqui, mesmo para passeios de um dia, mostrando que entre estrangeiros o bastão é corriqueiro. Observei que os alpinistas também usam. Eles não carregam peso à toa. Afinal, para levar uma mochila de 80 a 90 litros é bom ter um apoio para manter o balanço. A Estrada que entra no vale do Lago do Desierto é bonita. Curiosidade: ela foi inaugurada por Nestor Kirchner quando era governador da Província de Santa Cruz em 1995. Depois de cerca de 1:30 de viagem, chega-se na extremidade sul do lago. Ele é estreito e comprido, no sentido Norte-Sul. Há um píer de onde parte um barco para o extremo norte. A van fica esperando as duas horas que o passeio de barco leva. Esta excursão lacustre custa 90 pesos. Não fui. Era turistão demais para um só dia. Assisti a um grupo de simpáticas ciclistas neozelandesas, de pernas saradas, embarcar suas bicicletas no barco. As bikes vinham carregadas com alforjes. Uma das bicicletas rebocava um trolley, que deveria ter o equipamento comunitário do grupo. Parece que percorriam a Patagônia daquele modo. Outra opção é um passeio ao Glaciar, cerca de meia hora distante. Deve-se pagar 16 pesos porque fica em propriedade particular. Não queria andar muito porque sentia ainda os calos. Preferi atravessar uma ponte pênsil sobre o Rio de las Vueltas e percorrer o início da trilha que vai para o extremo norte do lago. Até lá são 5 horas de caminhada. Depois de 15 minutos parei ao lado de um córrego que descia em cascata para o lago e fiz meu lanche. Deu para observar que o caminho que segue para o Norte é uma boa trilha e bem batida. Provavelmente alguns deslizamentos de terra podem tornar alguns trechos mais difíceis. Vai ficar para outra ocasião. Pelo mapa, ao Norte do lago inicia uma trilha seguindo para oeste até a Laguna Del Diablo, quase divisa com o Chile. Trilha muito pouco movimentada. O mapa sugeria um guia para fazer o trecho. O lago é bonito. Mas nada que justifique a quase guerra entre Argentina e Chile por sua causa. Depois do lanche e fotos regressei para esperar o barco e a volta para o vilarejo. O rio de las Vueltas margeia a estrada durante a maior parte do trajeto. Imaginei a classe de dificuldade que seria uma descida de caiaque naquele rio. Logo no início, após o deságüe do Lago Del Desierto (origem do rio) algumas quedas d’água e troncos atravessados tornam a descida difícil. Ao chegar à cidade, dei um pulo no Camping Center, loja que conheço de BsAs e que tem filial aqui. Comprei novas palmilhas para botas porque as minhas esqueci em laguna Toro, tal a pressa para fugir daqueles mosquitos pestilentos. Havia tirado-as do calçado para secar mais rápido, e as coloquei em outro local afastado da bota, para o vento não carregar. Comprei ainda um par de meias e um boné para frio muito bom, da Lowe Alpine. Fiquei tentado a comprar uma piqueta italiana, para montanhismo geral, de 350 pesos. Leve, me pareceu muito boa. Mas segurei a vontade. Meu sonho é outra, da Black Diamond. Passei também numa loja de atividades de montanha. Soube lá que o trekking pelos gelos continentais (algo como 5 dias) custa US$2.200!! Consegui ficar outra noite no quarto sozinho. Toni me disse que o movimento neste final de ano estava fraco, talvez devido à crise econômica mundial. Falou que houve uma temporada com muitos brasileiros, como se fosse uma moda. Jantei no Ahonikenk, preço bem justo. Restaurante cheio de nativos sempre é bom sinal. Passei na pousada El Nativo para cumprimentar a Guadalupe. Realmente acertei em ficar no albergue Lago Del Desierto. A Nativa era bem menor e estava mais muvucada. Se quisesse ficar num quarto sozinho teria de me contentar com um cubículo, por 60 pesos e com banheiro no corredor. Sábado, 13/12. Acordei 6 horas com um nascer do sol espetacular de frente para a janela do quarto. Tomei meu desayuno ainda com o que sobrou dos mantimentos. Fui para o Rancho Grande pegar o ônibus de volta à El Calafate e dali o vôo para BsAs. Após iria para o Rio de Janeiro, onde passaria o resto das férias com a família. É maravilhoso o contraste entre a Patagônia e a nossa terra tropical. Deixei para trás El Chaltén feliz por ter conhecido um dos locais mais bonitos das Américas, com o corpo mais leve (uns 2 kg) e a alma renovada.
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Olá Pessoal, Gostaria de compartilhar com vocês, a minha inspiração, que é a Patagônia Argentina, e este livro, que acabo de lançar, sobre uma viagem até essas latitudes. SINOPSE Pouco depois de completar trinta anos e logo após perder o emprego, o jovem jornalista Abel Athayde decide fazer com suas últimas economias, uma viagem à Patagônia Argentina. O livro narra em primeira pessoa suas expedições dentro do Parque Nacional Los Glaciares e aos picos mais conhecidos da região como o Cerro Torre e o Fitz Roy. Ao mesmo tempo, a narrativa é contaminada por longas digressões que expõem os questionamentos do protagonista sobre temas relativos ao sentido da aventura, à espiritualidade, ao sexo feminino, aos encontros e desencontros. O movimento da viagem é usado para a floração de ideias e atitudes na busca do protagonista pela liberdade. Será que ele a encontrou? Para mais informações sobre como adquirir uma versão do livro em papel, acesse: CreateSpace Para uma versão em formato Kindle, acesse: Amazon
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Preparativos Em julho de 2014 decidi que, apesar de adorar o carnaval de Santa Catarina, faria uma coisa totalmente diferente nessa data no ano seguinte. Consegui 2 amigos para ir junto comigo e emiti as passagens nas Aerolíneas Argentinas (10k milhas Smiles POA-FTE, 270 reais FTE-USH, 10k milhas Smiles USH-POA). Como a viagem seria de apenas 9 dias, não cheguei a elaborar um roteiro, apenas um esboço do que fazer, além de reservar as hospedagens e o aluguel de carro. Este último saiu caro, mas dividindo em 3 compensou a comodidade e o melhor aproveitamento do tempo. Às vésperas da viagem consegui uns guias do meu colega de trabalho Fernando, e no 13 de fevereiro de 2015 finalmente peguei meu mochilão (dessa vez não esqueci da câmera) e segui para o aeroporto, com uma carona do meu vizinho Marco e outra carona no vagão refrigerado da Trensurb. Ao chegar a Buenos Aires tive que trocar de aeroporto, do Ezeiza para o Aeroparque. Quem tem conexão pela Aerolíneas pode usar o translado da empresa Manuel Tienda León de graça, mas tem que pegar um comprovante em uma sala da companhia no próprio aeroporto. Importante salientar que os horários que estão no site não são confiáveis. 1° dia No meio de uma madrugada mal dormida no aeroporto, partiu meu voo para El Calafate. Do alto era possível ver o lindo azul contrastando com as estepes patagônicas. Cheguei no começo da manhã, dividi um táxi com uns brasileiros, já que saiu o mesmo preço do único outro transporte disponível, uma van que custava 100 pesos, e um tempo depois cheguei na locadora da Hertz, para retirar o veículo. Subi o morro para uma panorâmica da cidade. De lá fui para a Reserva Laguna Nimez, paraíso das aves na beira do Lago Argentino, que envolve a pequena cidade. Paguei a razoável taxa de entrada e depois do trajeto inicial meio sem graça e uma chuva fraca que insistiu em incomodar, comecei a ver espécie após espécie em uma diversidade de ambientes. Entre as mais de 20 fotografadas em algumas horas, constavam gaviões bastante dóceis, tanto que cheguei a ficar a menos de 3 metros de um deles. Também tive o primeiro contato com a fruta típica da região, o calafate, embora meio murcha e pouco saborosa por já estar no fim da época de frutificação. Era para eu ter encontrado ali a minha amiga Raquele, que já tinha viajado para lá antes, mas por uma falta de sincronismo nos encontramos apenas no meio da tarde no hostel em que ficaríamos, o I Keu Ken. O único ponto negativo desse lugar é para quem está a pé, pois ele fica no alto de um morro. Pegamos a estrada sentido norte até chegar ao hotel La Leona mais de uma hora depois. No caminho havia diversos cicloturistas e os primeiros bandos de guanacos e emas. Depois de um lanche e do atendente dizer que não poderíamos ir sozinhos no lugar em que queríamos, fomos para lá do mesmo jeito. Seguindo orientações vagas encontradas pela internet, chegamos ao vale em meio aos morros Los Hornos, onde segundo o site havia uma “depressão profunda”. Literalmente, entramos em depressão. Caminhando, passamos por diversas ossadas e encontramos o que eu queria, fósseis! A floresta petrificada conta com troncos fósseis de 150 milhões de anos. Só vimos poucos troncos e nenhum dinossauro, mas já foi o suficiente para ter valido a excursão. No caminho de volta o sol apenas começava a baixar, apesar de já ser quase 21 h. À noite, durante toda a semana, estava tendo uma festa com shows e inclusive a presença da presidenta, talvez por isso os preços estivessem tão inflacionados. Tanto que tivemos que jantar sanduíches comprados no supermercado, enquanto ouvíamos o show que nem era tão bom assim. 2° dia Pela manhã chegou meu outro amigo, o Vinícius. Partimos para o Parque Nacional das Torres del Paine, no Chile. Primeiro, uma pausa para foto da paisagem insólita no mirante. Fizemos uma escala na metade do caminho em Esperanza, ainda na Argentina. Depois de mais uma refeição à base de sanduíche, tentamos abastecer o carro no único posto em um raio de 50 km, ou possivelmente o dobro, como nos informou o frentista que, assim como uma fila de carros, aguardava o combustível chegar sabe-se lá dentro de quantas horas. Como não tínhamos todo esse tempo, arriscamos seguir em direção ao parque. Os passageiros babavam no carro enquanto eu dirigia pela monótona estrada, quando passamos pelo vilarejo de Tapi Aike. Milagrosamente havia uma bomba de combustível ali, onde já tinha visto num relato que estava desativada. Como a esperança é a última que morre, decidimos bater na casa para ver se alguma alma nos atendia, apesar de todos os outros carros passarem direto. E não é que deu certo? Embora consideravelmente mais cara, foi nossa salvação. No meio da tarde chegamos às aduanas de fronteira. Como havia poucos carros e nenhum ônibus naquela hora, até que foi rápida a travessia. Não levei alimento algum pensando que teria problema, mas a única coisa confiscada foi os sachês de mel do Vini. Outro detalhe importante é que precisa de uma autorização providenciada pela locadora para cruzar a fronteira, a um custo adicional. O primeiro vilarejo no Chile é Cerro Castillo. Possui uns 4 comércios de mantimentos apenas. O primeiro e mais turístico é caríssimo, só o utilize para fazer o câmbio. Indico esse amarelo da foto, ali o preço cai pela metade e aceita cartão de crédito. Não leve água, pois há disponível e puríssima durante todo o circuito, e cada kg a menos é muito precioso. Depois do estoque feito e mais uns quilômetros à frente, entramos na área do parque, cercada por lagoas de diversas cores, como a Laguna Amarga, com alta salinidade e lar dos belos flamingos. Na portaria de mesmo nome, tivemos a péssima notícia de que havíamos chegado tarde demais para escalar as Torres del Paine. Dessa forma tivemos que acampar no camping da hostería Las Torres e replanejar o roteiro para compensar as cerca de 5 h perdidas que faríamos naquele dia. Os campings do parque custam todos em torno de 8000 pesos chilenos, nada se comparado ao preço dos alimentos, então leve o seu junto, nem que seja daquela lojinha na fronteira. Havia uma quantidade impressionante de gringos espalhados entre o camping, o refúgio e o hotel. Assim como nos demais campings pagos, havia água quente e eletricidade, mas não tive tempo para carregar minha câmera. Inauguramos a barraca de luxo da Raquele, enquanto o Vini ficou com minha toca do Gugu emprestada. E ali começou a aventura de se dormir em um chão pedregoso sem um isolante, ao menos em meu caso. 3° dia Iniciada a caminhada com a subida dos belos morros. Logo percebi que o vento forte traria algum estrago. Dito e feito, ele arrebentou a solda do painel solar que tinha levado para carregar a câmera e o celular. Ali começou o primeiro racionamento, o de energia elétrica (o de energia humana viria posteriormente). Conheci as duas frutinhas vermelhas que cresciam junto ao solo e que fariam parte da minha alimentação durante essa jornada, a chaura e a murtilla, levemente doces e ácidas. Logo percebi que o ritmo de um dos integrantes não seria o mesmo do meu, ainda mais com o peso extra na respectiva mochila. Começou a preocupação com o tempo, já que percorreríamos uma distância bem maior do que a praticada por outros visitantes em um dia. Continuamos subindo, passando pelo acampamento Chileno, onde trombamos com um casal carioca e com a placa oficial de entrada. Comi um cogumelo bege que achei no chão e após passar a entrada do acampamento Torres, segui com os cariocas até a parte mais exposta ao vento, onde fiquei descansando por uns minutos até meus amigos chegarem. Ao completar o trecho mais íngreme, avistamos a incrível paisagem do lago glacial e dos pilares graníticos com neve em suas bases. Não há como expressar em fotos a grandiosidade daquela cena. Ainda tivemos sorte de presenciar outro fenômeno, uma tromba d’água, que pegou todos desprevenidos. Almoçamos por ali enquanto contemplávamos a paisagem e depois descemos pelo mesmo caminho por algumas horas até a bifurcação para ir ao acampamento Los Cuernos. A trilha de todo o circuito é razoavelmente bem sinalizada, embora as placas estejam voltadas para quem faz o trajeto em sentido contrário (a grande maioria). Assim, quando havia uma bifurcação, só sabíamos o caminho certo ao chegar ao seu final. Ainda bem que tínhamos GPS no celular, e que a bateria dele durou todo o tempo necessário. Caminhamos por longas horas durante esse trecho quase plano de 11 km. Quando o dia ameaçava terminar, cruzamos o último morro e vimos o acampamento de um lado e outra tromba d’água no lado oposto. Com o atraso em nosso itinerário, tivemos que acampar novamente em um lugar pago. Assim que terminamos de armar as barracas, a noite chegou. Meus amigos jantaram seus miojos de copo enquanto eu fiquei com as sobras e um sanduíche de queijo e presunto. Depois de um banho quente e uma contemplada num dos céus mais bonitos que já vi na vida, parti para a cama, ou melhor, saco de dormir. Vini não teve tanta sorte, preocupado acompanhando um rato que apareceu atrás de sua barraca. Distância percorrida no dia: 26 km. 4° dia Amanheceu um dia chuvoso e mais frio que o anterior. Nesse momento meus lábios já haviam ressecado o suficiente para rachar, e a situação só foi piorando, já que não tinha nada para botar neles. Em virtude de nosso atraso, decidimos que somente eu percorreria a segunda perna do circuito W, os demais seguiriam ao acampamento Paine Grande a 13 km e nos encontraríamos lá no fim do dia. Com isso, enquanto eles descansavam, tomei um litro de leite e coloquei a roupa impermeável para a caminhada. Pouco depois surgiu o sol, que me obrigou a trocar as vestimentas novamente. Continuei ao longo do belo Lago Nordenskjöld, já mirando o Cerro Paine Grande. Passei o acampamento Italiano, onde começava a subida do Vale do Francês. A difícil ascensão margeava um rio, geleiras e o cume da montanha, de impressionantes 3050 metros, ligeiramente superior à mais alta montanha brasileira. Nessa hora tive que pôr novamente uma roupa mais propícia ao frio e vento que fazia. Parei para comer uma maçã no mirante intermediário, de onde a maioria dos caminhantes e seus bastões não passam, e continuei subindo. Já estava bastante cansado e até um pouco atrasado no horário, quando fui agraciado por uma precipitação diferente. Pela primeira vez na vida presenciei a neve caindo sobre mim! O êxtase me deu forças para o trecho final mais duro, até o Mirador Británico. Infelizmente o clima frio e nublado não ajudou nas fotos e esgotou a bateria da minha câmera novamente, restando o guerreiro celular. Paciência, mas fiquei bem de boa lá no topo enquanto almoçava e admirava a paisagem sem uma viva alma em volta. A possível continuação da trilha estava fechada, então tive que descer. Atravessei a extensa floresta carbonizada, resultado de um incêndio de grande proporção causado por um israelense em 2012, fato que motivou a proibição de fogueiras no parque. Novamente no final da tarde, cheguei ao acampamento. Depois do jantar provamos o excelente licor de calafate que tínhamos comprado na fronteira, recomendo! Como não havia árvores no camping, o vento soprava mais forte, tanto que praticamente destruiu nossa outra barraca. Distância percorrida no dia: 23 km. 5° dia Esgotado das noites mal dormidas e caminhadas sem fim, partimos para o terceiro e esperado último dia de trilhas. Um aviso de amigo, não experimentem brincar com a flor da foto abaixo. Isso me custou um bocado de tempo para conseguir remover os espinhos que grudam individualmente na roupa. Continuando, avistamos belos icebergs na borda do Lago Grey, sinal de que a geleira estava se aproximando. E foi bem isso. Um pouco depois chegamos ao mirador do Glaciar Grey, onde a longuíssima geleira avança sobre o lago de mesmo nome e sobre uma ilha que a contém. Naquele momento, decidimos que não iríamos até o refúgio Grey, pois o horário do barco não era compatível com o nosso. Assim, voltamos até o Paine Grande e descemos até o acampamento Las Carretas, um dos trechos menos frequentados do parque e já fora do circuito W. Apesar das belas paisagens iniciais, a maior parte dos 17 km seguintes seria bastante monótona, uma pradaria sem fim, com poucas aves passando. Ao menos o trajeto era plano. Ao chegar ao camping desprovido de qualquer infraestrutura, a decisão mais difícil: ter outra péssima noite ali ou arriscar seguir caminho e conseguir carona para voltar à outra portaria onde estava o carro, há quase 50 km dali? Escolhemos a segunda opção. Chegamos à sede do parque onde passava a estrada, mas os poucos veículos que passavam em sentido norte naquele fim de dia eram transportes dos hotéis. Com isso, tivemos que pedir clemência ao responsável pela sede, um senhor que nos deixou acampar ao lado do prédio que fica na margem do Lago Toro. O senhor foi tão gentil que até me passou a senha do wifi, e eu pude avisar para minha mãe que ainda estava vivo. Improvisamos um conserto para que a segunda barraca pudesse passar sua última noite conosco antes de ir dessa para melhor. Os únicos ruídos dessa noite foram dos ventos uivantes e dos roncos do Vini. Distância percorrida: 29 km. Total: Cerca de 78 km, com um baita peso nas costas e elevações constantes de 50 a 850 metros! 6° dia Começamos bem o dia. O segundo carro que passou, com um simpático casal de italianos, deu carona para nós e para nossas mochilas até a portaria do parque. Uma hora depois lá estávamos de volta. Juntamos os últimos 8 dólares que tínhamos para pagar o translado até o hotel para eu retirar o carro. No caminho até a fronteira, flagramos um bando de condores andinos. Depois do almoço e e da aduana, voltamos por um atalho de estrada de chão, frequentado mais por animais do que humanos. De volta à cidade no meio da tarde, fomos direto para o Parque Nacional Los Glaciares. O parque, pago, consiste em uma estrada que costeia um rio até a principal atração de El Calafate, o Glaciar Perito Moreno. Plataformas te deixam bem próximo da geleira, a ponto de ver e ouvir com clareza os pedaços de gelo se partindo e desabando na água. As colunas de gelo de 60 m de altura que se estendem por até 5 km e que crescem e se despedaçam constantemente, são mais uma paisagem indescritível, especialmente durante o pôr-do-sol. Quando saímos do parque já anoitecia. A quantidade de lebres que passa pela estrada é surpreendente. Especialmente pela rota 60, que é de chão em meio a fazendas. Cruzamos por dezenas delas, felizmente nenhuma atropelada. Eu e Vini dormimos no mesmo hostel de antes, enquanto que Raquele, que ficaria mais um dia na cidade, foi para outro. 7° dia Cedinho pegamos o voo para Ushuaia, ou “Uçuaia”, como dizem os argentinos. Peguei umas dicas valiosas no centro de informações do aeroporto e, claro, carimbei meu passaporte com o selo do fim do mundo. Como Ushuaia é uma zona franca, as coisas custam consideravelmente mais barato que em El Calafate. Sendo assim, consegui finalmente almoçar de verdade, no restaurante El Turco, que fica na principal avenida do centro, a San Martín. Ushuaia não tem o mesmo charme de El Calafate, mas ainda assim é agradável. Dentro das construções climatizadas, claro, pois os ventos e baixas temperaturas limitavam as caminhadas, sobretudo em dias nublados e à noite. Reservamos o passeio pelo Canal de Beagle, escolhendo o de 750 pesos, que passava pelas ilhas dos passeios padrão e mais a dos pinguins. Estava um pouco receoso pelo alto custo, mas posso dizer que valeu muito a pena. O passeio de quase 7 h começa passando por ilhotas cobertas de colônias de aves, principalmente o cormorão, que à distância parece um pinguim. Além destes, há gaivotas, trinta-réis, albatrozes, entre outras espécies menos frequentes. Pouco à frente fica a Ilha dos Lobos Marinhos, que abriga algumas dezenas desses animais tranquilos. Continuando, se passa pelo Farol Les Eclaireurs e mais outro bando de aves iguais continuando por um bom trecho sem ilhas, com raros povoados no lado argentino do canal e o vilarejo de Puerto Williams, que disputa com Ushuaia o título de cidade mais austral do mundo, e talvez não o seja pelo fato da população ter menos de 3000 habitantes, sendo a maioria militares e pescadores. Em seguida a embarcação passa por uma estrutura geológica formada na glaciação, e após contorná-la, chega ao destino final, a Ilha Martillo, mais conhecida como Pinguinera. Incontáveis pinguins-de-magalhães se reúnem nesse pedaço de terra como parte do seu ciclo de vida, e nos brindam com essa exibição incrível. Junto a eles aparecem algumas aves oportunistas, como escuas e urubus, além de 2 outras espécies de pinguim: o Papua, que é a ave mais veloz na água, e o Rei, que é mais raro e maior que os outros que passam por lá. Quem tem muita sorte, como a Raquele que foi no dia seguinte, consegue ver alguma baleia pelo meio do canal. Para os demais, resta o longo retorno assistindo documentários sobre a Terra do Fogo e os pinguins na cabine climatizada, ou então babando no sofá como meu amigo. À noite, eu e Vini jantamos em um lugar animado da Av. San Martín chamado Chester. Comi eu queria muito comer queijo Roquefort, uma iguaria barata na Argentina, pedi uma pizza de 4 queijos só para mim, já que ele não queria. Enquanto comíamos e tomávamos a ótima cerveja vermelha da marca local Beagle, passava um pot-pourri de clipes de rock das décadas passadas. É um bom lugar para um esquenta. Retornamos em seguida ao bom hostel Yakush para dormir em seus colchões moles. 8° dia Às 10 h pegamos o transporte que sai de hora em hora da estação rodoviária para o Parque Nacional da Terra do Fogo. Duzentos pesos para ida e volta e mais 100 para entrada no parque. Começamos pela trilha que segue pela costa da Baía Lapataia, em meio às 3 espécies de árvore do gênero Nothofagus, as mesmas que havia em Torres del Paine. Não possuía grandes novidades, além de alguns passarinhos, chumaços de algas-pardas, mexilhões e grãos de areia acinzentados. Em meio à trilha estávamos morrendo de calor pela quase ausência de vento, mas quando fomos para as demais o tempo virou. Veio uma brisa do capeta e uma chuva bem chata. Uma das trilhas levava até um observatório de aves, embora nenhuma nova naquele dia. A outra até uma turfeira gigante, causada pela matéria orgânica lentamente sendo decomposta no frio e umidade do lugar. A última trilha nos mostrava o estrago causado pelos castores, resultado de mais uma introdução de espécie exótica desastrosa. A castoreira represa a água em um ponto e alaga uma baita área, onde morrem essas árvores de lento crescimento. Retornando, ainda tivemos sorte de observar uma raposa se alimentando. Nosso transporte de volta sairia às 19 h, como ainda tinha um bom tempo fomos até a cafeteria que ficava um pouco distante. Chegamos às 18:05 h, e para nossa surpresa, já estava fechada! Assim, tivemos que aguardar na sarjeta junto com um chinês maluco que ficava fotografando cavalos em atividade de cópula a nossa frente. No retorno ao hostel conhecemos uma dupla de brasilienses, Edgar e Conceição. Tentamos ir a um pub, mas o lugar não aceitava cartão de crédito, estava cheio e era quente demais. Com isso, eu e Vini jantamos no mesmo lugar da outra noite e depois degustamos um bom vinho que a dupla nos ofereceu no albergue, enquanto o staff reclamava o tempo todo da nossa conversa que beirava uns 50 decibéis. Apesar desse cara chato, a ruiva da manhã é bastante simpática. 9° dia Vini partiu de manhã cedo de volta ao Rio. Depois de um café-da-manhã reforçado, lamentavelmente sem frutas como no albergue anterior, saí para uma caminhada. Infelizmente escolhi o dia errado para as compras, pois no domingo a maioria das lojas, inclusive as de equipamentos de aventura, estava fechada. Consegui apenas comprar souvenires e ir ao supermercado pegar um bocado de alfajores de 4 pesos cada. Na ida para o almoço, encontrei Raquele voltando de um passeio e ela encontrou outra brasileira que tinha conhecido na viagem. Fomos os 3 almoçar no Banana Bar. O lugar também sai bem em conta, mas precisa urgentemente de mais de uma garçonete para atender todo mundo. Provei a outra marca de cerva, a Cape Horn. Boa, mas ainda fico com a Beagle. No retorno, pausa para um chocolate quente. Depois disso fiquei matando o tempo no albergue, pois estava cansado para ainda visitar o Cerro Martial, a outra atração da cidade, e sem dinheiro vivo para os museus. Peguei o táxi e quando fui embarcar descobri que tinha uma maldita taxa de 28 pesos separada da passagem para pagar em dinheiro. USH-AEP, EZE-POA e finalmente de volta direto ao trabalho! Ps: Se você curtiu as dicas, quer economizar ainda mais, conhecer outros destinos e apoiar novas relatos, não deixe de conferir meu blog! http://www.rediscoveringtheworld.com
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Seguindo recomendações de pessoas viajadas nessa região e vendo também alguns relatos e fotos, resolvi dedicar meus escassos dias de férias no final de janeiro/2011 para conhecer essa região da Patagônia argentina: El Calafate, famosa por estar próxima ao imenso glacial "Perito Moreno", e El Chaltén, meu destino principal, também conhecido como a capital do trekking argentino, destino de muitos amantes da natureza das mais variadas idades, de diversos países e de vários estilos de vida diferentes. 24/01 - Maratona São Paulo - El Calafate Aproveitar as passagens aéreas com preços mais em conta requer algum sacrifício a mais. Saí de São Paulo no final da tarde do dia 23 para chegar as 9 da noite no aeroporto de Buenos Aires. De lá peguei um transfer até o aeroporto de Ezeiza onde passei a primeira noite, no meio de pernilongos e muito barulho, para finalmente pegar meu próximo vôo as 7 da manhã com destino a El Calafate (com uma breve escala em Bariloche). Cheguei quebrado no aeroporto em El Calafate, sem dormir, e peguei o transfer para a cidade. Foi quase um dia inteiro de vôos, esperas, transfers... mas enfim, cheguei na cidade e, após largar minhas coisas no pequeno hostel "Huemul", tratei de trocar algum dinheiro e comprar a minha passagem para El Chaltén para a manhã seguinte. Fica aqui uma dica para quem quer ir direto de El Calafate a El Chaltén: Pergunte pela rodoviária da cidade: ela fica estrategicamente escondida dos turistas e lá há várias empresas que oferecem os traslados. Se forem procurar nas empresas de turismo na avenida principal, com certeza tentarão vender algum pacote mais caro... Comprei minhas passagens El Calafate/El Chaltén/El Calafate por 150 pesos. A ida para a as 7 da manhã do dia 25, a volta deixei em aberto... Voltei pro hostel e tive uma surpresa: Havia uns 50 israelenses superlotando o hostel e fazendo aquele barulho todo que só eles sabem fazer... Gritaria, bagunça por todos os lados a noite toda... ainda bem que era só por uma noite... 25/01 El Calafate - El Chaltén - Acampamento De Agostini Apesar de não ter dormido bem na noite anterior, estava muito disposto e animado ônibus das 7 que me levará a El Chaltén, uma viagem de cerca de 220km e aproximadamente 4h30min de duração. No caminho até a rodoviária já senti o vento gelado e fortíssimo já característico dessa região. A medida que nos aproximamos de Chaltén a paisagem se torna cada vez mais bela, maegeando o belo lago Viedna com seu imenso glacial ao fundo, e de repente descortinam-se os belos maciços que fazem de El Chaltén um lugar tão procurado por turistas do mundo inteiro. Não havia uma nuvem sequer no céu então a visão do FItz Roy era perfeita... sempre eo fundo da belíssima estrada. A ansiedade vai aumentando, e perto das 11:30 chegamos na entrada do Parque, onde somos obrigados a descer do ônibus na sede dos guarda-parques para ouvir uma palestra a respeito de informações sobre o Parque, regras a serem seguidas, e principalmente conscientização ecológica, achei muito interessante ver o quanto se preocupam com o meio-ambiente. FInalmente cheguei no pequeno e simpático vilarejo El Chaltén. O clima lá não poderia ser melhor: temperaturas amenas, sem nuvens, sem vento... Tratei de ser rápido para comprar algo para comer e uma garrafa de água no mercado e reservar algumas noites no hostal "Pioneros del Vale" para quando eu voltar dos acampamentos. Em pouco mais de uma hora estava partindo do vilarejo. Mapa em mãos, parti para uma trilha de 3 horas que me levará ao primeiro acampamento em que iria pernoitar: "De Agostini". Já era 1 da tarde mas como a noite chega apenas lá pelas 22h tinha tempo de sobra para fazer a trilha com calma aproveitando a belíssima paisagem só possível de se ver com o céu totalmente limpo. Logo no início a trilha é um pouco íngreme, mas após 1:30 hora chegamos ao primeiro mirante de "las torres" com um ótimo visual, e a partir daí a trilha torna-se mais plana, sempre passando por dentro de florestas e rios onde podemos completar nossas garrafas dágua. Água fresca, gelada e totalmente pura, melhor água que essa não há! Após passar por muitas áreas verdes, ora mais fechadas ora mais abertas, cheguei ao acampamento "De Agostini" que estava bem tranquilo, pouca gente. Montei minha barraca bem próximo ao pequeno barranco com vista para o rio e fui conhecer as redondezas: Laguna Torre. Em menos de 15 minutos de trilha bem demarcada cheguei a "laguna Torre" com o cerro Torres ao fundo. Nessa hora, perto das 18h, o tempo já havia fechado e o vento gelado tomava conta do lugar. Contornei o lago inteiro, subindo cada vez mais em suas encostas, as vezes bem inclinadas, até finalmente depois de 1 hora chegar ao mirante "Maestri" com uma vista privilegiada do lago e do glacial aos pés do "Cerro Torre". Apesar do frio a vista que temos deste mirante é excelente!!! Fiquei algum tempo ainda admirando essa paisagem, tirei algumas fotos e vídeos, e desci novamente rumo ao acampamento. Comida? Hummm desta vez optei por fazer uma viagem mais "leve" com pouca carga... então nem levei meu fogareiro, gás, panela, nada... apenas barras e mais barras... de chocolate, de cereais, de proteínas, multivitamínicos, mais nada... comi uma deliciosa barra de proteínas e lá pelas 21h peguei no sono, ao som do calmo rio que estava a poucos metros da barraca. Uma noite muito tranquila e bem dormida, sem vento nem chuva. Meu primeiro dia em El Chaltén não tinha como ter começado melhor! 26/01 - De Agostini - Poincenot - laguna de Los 3 - Poincenot Apesar de fechado, o dia amanheceu sem vento e sem chuva. Rapidamente recolhi minhas coisas e me despedi do acampamento, rumo ao meu próximo destino, acampamento Poincenot. São cerca de 4h30min de trilhas. Após a bifurcação onde escolhemos voltar para o vilarjo ou seguir a Poincenot, a trilha torna-se bem mais íngreme pelo meio da floresta, até tornar-se plana novamente e aí temos um belo visual dos lagos "Hija" e "Madre". Muito raramente um turista ou outro passava por mim, e apesar da constante garôa neste trecho, fiz o caminho sem correria e curtindo bastante o visual. Quase no final do caminho ainda podemos nos abastecer de água em um agradável rio de águas límpidas. Cheguei ao acampamento Poincenot, estava bem lotado . Achei um canto para montar minha barraca e segui rumo ao famoso mirante onde podemos ver o Fitz Roy. Essa trilha sim é realmente mais empinada. Após passar por uma ponte, a trilha torna-se cada vez mais empinada, deteriorada e escorregadia. Nesse trecho, muitos turistas também querendo chegar ao famoso mirante. Após muito esforço cheguei ao mirante, e que vista linda! O que atrapalhou foram as nuvens encobrindo o Fitz Roy, uma pena! Descansei um pouco na beira do lago. Apesar de esgotado por estar o dia inteiro caminhando, percebi que ainda havia algo mais para ver, mais um lugar para subir. Foram 15 minutos a mais de subida, que me trouxeram como recompensa uma das vistas mais belas que já vi: O mirante de Los 3, de onde podemos ver a Lagura de los 3 com seus tons azulados, a laguna Sucia mais a esquerda beem mais abaixo com seus tons esverdeados, a atrás podemos ver toda a encosta que subimos com uma vista para todo o vale. Uma paisagem inesquecível!!! O vento não estava fácil e o clima também não... resolvi descer para o acampamento. As 20h estava na minha barraca. Lá pelas 22h começou a chover bastante. Para piorar as coisas, havia um grupo de uns 20 alemães fazendo um barulho absurdo, dentro das barracas, uma gritaria sem fim! Esse barulho persistiu até perto das 7 da manhã... TIve ainda mais uma surpresa: a impermeabilidade da minha barraca já era! Com a chuva começou a pingar água por todo o teto... só fui perceber isso quando me mexi e senti um "gelado" no saco de dormir", quando fui ver o que era percebi que a barraca estava inteeeira encharcada por dentro, assim como o saco de dormir... Usei até os bastões de caminhada na tentativa de desviar um pouco as goteiras, ajudou mas não resolveu meu problema. 27/01 - Poincent - glacial Piedras Blancas - Piedra del Fraile A noite não foi nada fácil! Acordei com cara de poucos amigos e, após parar de chover, lá pelas 10h, recolhi todas as minhas coisas, que agora estavam bem mais pesadas por estarem encharcadas! Próximo destino: acampamento Piedra del Fraile, um acampamento pago, fora dos limites do Parque Nacional "Los Glaciares". No caminho, passaria ainda pelo glacial "Piedras Blancas". Por causa da chuva que persistiu pela madrugada inteira, a trilha tornou-se bastante escorregadia e cheia de charcos. TIve uma nova surpresa: minhasbitas também não eram mais impereáveis. Bastou eu enfiar o pé na primeira poça para perceber isso... Peguei um desvio a esquerda e, após algumas boas escalaminhadas nas pedras (bom para testar suas habilidades!), cheguei ao glacial Piedras Blancas. Visual muito belo de um glacial com algumas avalanches, e um lago cheio de gelo. Descansei um pouco e voltei para a trilha original, rumo a Piedra del Fraile. Logo aqui temos que cruzar um rio um pouco mais complicado e trabalhoso, principalmente quando se está sozinho. Mas, deu tudo certo. A partir deste trecho a trilha torna-se monótona, e as nuvens tampavam todas as montanhas ao redor. Aparecem milhares de bifurcações neste trecho, me perdi um pouco em alguns momentos, mas após algumas longas horas encontrie as placas sinalizando o caminho e cheguei ao tal acampamento. O vento era muito forte. Chegando ao acampameto, fui assaltado: 40 pesos para passar uma noite!!! A únca vantagem é que pude tomar um banho quente (depois de 3 dias sem banho, é uma maravilha!!!). Após me informar melhor, vi que meu plano de fazer o "paso del cuadrado" já era, pois há um trecho em que temos de subir e andar em um glacial, como não tenho equipamentos de gelo e estava sozinho, acabei desistindo... Eu faria apenas um trecho intermediário! O tempo estava fechado mas nada de chuva, apenas um vento gelado... ainda bem! Consegui secar algumas coisas... 28/01 - Piedra del Fraile - El Chaltén Consegui dormir bem, sem barulho. Mas tive uma surpresa quando abri a barraca: tempo mais fechado do que nunca, começando a chover. Comi rapidamente uma deliciosa barra de cereal e guardei minhas coisas; não havia muito que fazer aqui com aquele clima. Tomaria o rumo de volta a Poincenot ou voltaria ao vilarejo... No meio da chuva, ao ver as nuvens escuras no caminho que eu faria a Poincenot, achei melhor ir para o outro lado e seguir algum caminho até a estrada para voltar ao vilarejo... O vento estava absurdo, e acabei virando o pé duas vezes no caminho de volta. A idéia de voltar a El Chaltén pela estrada não foi boa, deve ter uns 20 km monótonos e intermináveis em solo em estrada de pedras. Houve u momento em que olhei para trás na estrada e vi aquela poeira toda levantado, de longe achei que fosse algum veículo; eu pediria uma carona com certeza. Ao se aproximar, vi que não havia veículo algum, era uma rejada fortíssima de vento trazendo toda a terra e pedras possíveis... só me encolhi todo e protegi os olhos, para ser bombardeado... Até que demorou para o vento mostrar toda sua força na Patagonia! Só quem já esteve aqui sabe como é... Ao chegar em El Chaltén torci o pé novamente e aí passou a doer demais a cada novo passo... fiquei preocupado, será que eu teria de parar com as trilhas? Consegui um lugar para passar a noite: hostel del Lago. Voltar ao vilarejo foi uma ótima escolha, pois o tempo fechou de vez, chuvas e ventos fortíssimos!!! 29/01 - El Chaltén - Mirante Los Condores e Las Aquilas Logo pela manhã acordei e fui procurar outro lugar para ficar, pois não havia vagas nesse hostel. A dona do hostel me ajudou, e com algumas ligações encontrou um bom lugar para eu passar a noite seguinte: hostel "Lo de Trivy". Após mudar meus pertences para este hostel, aproveitei que o tempo estava péssimo para conhecer melhor o vilarejo e fazer algumas trilhas curtas a partir dele: Mirantes "los Condores" com vista para o vilarejo, e "Las Aquilas" com vista para o lado Viedna. São trilhas curtas, de 40 minutos de ida, e 20 de volta, mas com a força do vento não podemos brincar... Uma pisada em falso e rola morro abaixo! rsss Mas correu tudo bem, as vistas são muito boas, as trilhas tranquilas (fiz elas de papete para descansar os pés), mesmo com o vento nos desequilibrando, e foi um bom teste para o meu pé que eu havia torcido algumas vezes... com cuidado, posso fazer algo mais pesado! Caminho livre para o "Loma del Pliegue tumbado" no dia seguinte!!! Voltei ao albergue e descansei para o dia seguinte. 30/01 - Loma del pliegue tumbado Após nova migração para outro hostel (dessa vez ao Pioneros del Vale, o qual eu já havia reservado logo no início), as 9 da manhã eu já estava a caminho do "loma del pliegue tumbado", trilha bastante puxada com 12 km de ida e mais de 1000 metros de desnível... O vento soprava forte e mesmo com o tempo relativamente aberto as vezes caía uns pingos de chuva não sei de onde... A subida é constante, passando por trechos de floresta mais fechada, campos abertos com granado e vacas pastando, mais floresta, até que a mata dá lugar as intermináveis pedras e a chuva vira flocos de gelo que chegam a machucar por causa da força do vento. Quanto mais subia, mais frio, mais vento e mais difícil tornava-se o caminho. Após chegar a um belo mirante, vi que ainda havia muito mais a subir, um pico que parecia muito alto. Depois de mais 1 hora de muito, mas muuuito esforço subindo em zigue-e-zague uma escorregadia e inclinadíssima ladeira com o vento sempre jogando contra, finalmente cheguei lá em cima. Lá havia apenas uma pessoa sentada, e uma espanhola que eu encontrei muitas vezes pelo caminho. A paisagem infelizmente estava um pouco encoberta, e o vento lá em cima não nos deixava livres para caminhar. O jeito foi descansar um pouco abrigado nas pedras, e descer novamente. Uma ótima trilha! Só faltou mesmo a vista completa dos dois vales (Torres e Fitz Roy), mas de qualquer forma valeu muito a pena. Descer tudo aquilo também foi bastante cansativo... depois de alguma horas terminei a descida e voltei ao albergue.Tomei um ótimo banho, dei umas voltas pelo vilarejo as 9h da noite, e tive uma ótima de sono, apaguei na cama! Muito bom este albergue, excelente estrutura pelo preço de 60 pesos (30 reais) por dia. 31/01 Uma ótima surpresa logo quando acordei... o tempo estava ótimo! Pouquíssimas nuvens, sem vento! Dias assim são raríssimos em El Chaltén... Saí de bermuda e camiseta, sem peso nas costas, e resolvi fazer novamente o percurso de "laguna de los 3" dessa vez através da trilha "Fitz Roy" e passando pela Laguna Capri... Seria meu último dia de trilhas, então resolvi curtir tudo ao máximo, observar tudo, parar mais vezes para ver cada paisagem, aproveitar ao máximo cada momento! Esse foi o melhor dia de todos! Uma parada na bela laguna Capri para algumas fotos, mais algumas paradas pelo caminho, e lá estava eu passando pelo acampamento Poincenot e iniciando a subida até a Laguna de los 3. Essa subida cansa, mas dessa vez eu estava tranquilo, sem pressa, e quando cheguei lá em cima nada de vento, nem de nuvem encobrindo a paisagem, apenas o Sol e uma brisa fresca e suave... Tudo estava perfeito para eu poder contemplar tranquilamente a paisagem mais bela que eu já vi... fiquei mais de uma hora deitado nas pedras contemplando os lagos, o vale, o Fitz Roy... Depois desci ao lago e sua margem dele fiquei também por mais uma hora apenas observando a mudança das nuvens, o imponente maciço FItz Roy, sentindo aquela brisa suave e bebendo água do lago... Um sossego total, estava tudo perfeito, sentiuma energia muito boa. Mas, era hora de levantar e seguir meu rumo... Não era nada fácil descer tudo aquilo até a vila, ainda mais com o desgaste que eu já sentia... Mas nada parecia atrapalhar a vontade de aproveitar cada momento da volta, cada paisagem, cada rio que havia por perto... Nunca vou me esquecer desse dia! Cheguei no albergue e após um banho quente desabei na cama! 01/02 - El Chaltén - El Calafate Dia de voltar a Calafate... Como a volta seria as 18:30, aproveitei o dia para conhecer a cachoeira lá perto e dar mais uma volta pelo vilarejo... e omer alguma coisa decente, afinal estava só nas barras e mais barras desde o início da viagem... Comi um bife de chouriço delicioso e gigante, mais umas empanadas e uma cerveja caseira... Peguei o ônibus para El Calafate e, chegando lá as 21:30, fui procurar um lugar para passar a noite... Dei sorte, hostel "Che Lagarto", minha primeira tentativa... 02/02 - El Calafate - Perito Moreno Após resolver algumas coisas pela manhã, fui conhecer imenso glacial Perito Moreno a tarde... A estrutura é meio "prá turista ver" mas o glacial realmente é muito lindo, enorme, com um branco sem igual! Mas o que me complicou foi confiar no clima... saí de Calafate de bermuda e papete pois estava Sol e sem vento... ao chegar no Perito Moreno, Frio, vento gelado e tempo fechado!!! Como o ônibus só nos buscaria depois de 5 horas, passei frio a tarde inteira pela estrutura do parque esperando por algum desmoronamento do glacial, que não aconteceu. Eu nem sentia mais meus pés de tanto frio... Havia um lugar para comer lá dentro... pedi duas empanadas e fiquei mais de 1 h lá dentro... dei mais umas voltas morrendo de frio, até que o ônibus chegou e fui um dos primeiros a entrar... Ufa! Na volta, belas paisagens moldadas pelo pôr do Sol! 03/02 - Icetrek no glacial Viedna Dia de Icetrek!!! Para quem conhece a região... Sim, esse glacial fica bem ao lado de El Chaltén, mas apesar da distância maior o pacote para esse glacial estava bem mais barato do que o do glacial Perito Moreno... Ida tranquila,passando por alguns mirantes, e chegando a um pequeno portono lago Viedna pegamos uma embarcação muito agradável para chegar ao glacial. Subi na parte descoberta para tirar umas fotos dos enormes pedaços de gelo que se desprendem do glacial, alguns com uma cor azul fortíssima! Descemos da embarcação e, após subir pelas pedras, colocamos os crampons para dar uma volta em cima do glacial... Incrível, parece que estamos em outro planeta, paisagem surreal, mesmo este glacial sendo um pouco sujo por conta das pedras e terra que vem das montanhas próximas... No final do Icetrek, os guias nos fizeram um brinde co Baileys e gelo do próprio glacial, muito legal! Ao voltar, tivemos um problema com nossa embarcação (que conseguiu bater no maciço rochoso e avariar o motor) e tivemos que aguardar mais 40 minutos para pegar uma outra embarcação... Acabou sendo engraçado! Cheguei de volta ao albergue as 21h, e após um pouco de conversa com umas argentinas no quarto, fui dormir... 04/02 Dia tranquilo e chuvoso, fiz o check-out e fiquei enrolando pela cidade e pelo albergue até pegar o transfer e começar a maratona para voltar a São Paulo... Com direito a mais um pernoite no aeroporto de Buenos Aires!!! Foi tudo perfeito, a viagem foi maravilhosa, vai deixar saudades, mas... chegou ao fim! Hora de voltar prá realidade... rs! Ano que vem tem mais! Despesas: Passagem aérea SP-Buenos Aires-El Calafate: Paguei em torno de R$1100 Passagem ônibus El Calafate - El Chaltén - El Calafate: AR$ 150 no total (R$75,00) Acampamentos El Chaltén: De Agostini e Poincenot (de graça), Piedra del Fraile (AR$40) Diárias em albergue El Chaltén: Hostel del Lago (AR$50), hostel Lo de Trivy (AR$60) e Pioneros del Vale (AR$180 para ficar 3 dias) Diárias em El Calafate: Huemul (AR$30), Che Lagarto (AR$58) Visita ao Perito Moreno: AR$200 (100 para entrar no Parque + 100 de transoprte) IceTrek glacial Viedna a partir de El Calafate: cerca de AR$ 400 (não encontrei meu comprovante! Considerações: Recomendo esta viagem para todos os amantes da natureza que tenham disposição para encarar o frio e os ventos gelados da Patagonia e vontade de encarar as trilhas para conhecer paisagens fantásticas ou até mesmo curtir alguns dias de tranquilidade no pacato e simpático vilarejo de El Chaltén aos pés das belísismas montanhas nos dias de tempo ruim. Opções de hospedagem não faltam, para todos os gostos e bolsos, desde acampamentos até hotéis luxuosos. Lugar maravilhoso, que deixa saudades e aquela vontade de voltar mais uma vez para explorar um pouco mais a região.
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[info]Este tópico é um Guia que está sendo construido com informações de viagens realizadas pela equipe do site e também com informações de usuários que foram postadas nos fóruns relacionados ao tema aqui no Mochileiros.com. Este guia é atualizado periodicamente. O Mochileiros.com é uma fonte gratuita de informações para viajantes de língua portuguesa e a contribuição de todos os membros é muito importante. Veja como contribuir : 1- Faça perguntas ou deixe suas dicas no Tópico El Chalén - Perguntas e respostas[/info] [t1]El Chaltén[/t1] Capital do Trekking da Patagônia Argentina El Chaltén, localizado na Provincia de Santa Cruz, é o povoado mais jovem da Argentina. Foi fundado em 12 de outubro de 1985 como posto fronteiço com Chile, em épocas de constantes disputas pela região do Lago del Deserto. Somente em 1987 começou a receber habitantes provenientes de todas as partes da Argentina, atraídos por incentivos dados pelo Governo, interessado em povoar a região.e O nome, "Chaltén", vem da lingua dos antigo povo Tehuelches, habitantes primitivos da região, e significa "Montanha que solta fumaça", facilmente compreendido ao se contemplar a principal atração da região, o Monte Fitzroy, também chamado de Cerro Chaltén. O povoado é o único cujo o território totalmente inserido no Parque Nacional de Los Glaciares, na seção Norte (Lago Viedma). É conhecida como a Capital do Trekking da Patagônia Argentina, atraíndo inúmeros aventureiros atraídos pela beleza e pelo desafio oferecido pelo Monte Fitzroy e por seu vizinho, Cerro Torre, que figuram entre as escaladas mais dificeis do mundo. As duas montanhas são o principal destino dos visitantes de El Chaltén; mas a cidade oferece outras atrações, como lagos e glaciares. O turismo é a principal atividade da cidade - fora de temporada, isto é, durante o inverno, sua população não ultrapassa os 600 habitantes. [linkbox]http://www.elchalten.com/'>http://www.elchalten.com/[/linkbox] este link praticamente consta tudo sobre Chaltén, Hotéis e pousadas, restaurantes, aluguel de equipamentos, transportes e passeios. http://www.elchalten.com Informações sobre caminhadas em Chaltén http://www.elchalten.com/'>http://www.elchalten.com/esp/actividades/caminatas.php Site para verificar o estado das estradas http://www.vialidad.gov.ar/partes/index [t1]Quando ir?[/t1] O melhor período para conhecer não só El Chaltén, mas a Patagônia Austral como um todo, fica entre os meses de Outubro e Maio. Final da Primavera e durante todo o Verão, as temperaturas são mais amenas , tornando principalmente Dezembro, Janeiro e Fevereiro os meses mais cheios. Entre Março e Maio, voltam a predominar temperaturas mais baixas, grande nebulosidade e nevascas. Fora desse período, as nevascas são constantes e as temperaturas extremamente baixas, o que dificulta - ou mesmo impede - qualquer possibilidade de realizar as principais atividades que a cidade tem para oferecer. Além disso, fora de temporada, quase tudo estará fechado e os ônibus ligandos El Chaltén à outras localidades são raros.