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  1. Nossa aventura começou na madrugada do dia 21/03/18, depois de muito se discutir decidimos fazer um bate volta. Iriamos ao parque fazer o Agulhas e retornar no mesmo dia. Antes de ir pesquisei com amigos que já fizeram a respeito da trilha, além de ver diversos vídeos no youtube e relatos aqui no blog mesmo. Apesar de ser um pouco orgulhoso e já ter alguma experiência em trilhas já quero ressaltar no começo do relato a importância de um guia para subir o agulhas. Explicarei mais durante o relato. Saímos de São Paulo as 3 da madrugada, a ideia era algo em torno de 4 horas de viagem podendo mudar um pouco de acordo com o tempo e as paradas. Para quem também tiver pensando em fazer um bate volta, trabalhe sempre com uma margem, mesmo que vá de madrugada, pois pegamos um engarrafamento na estrada que sai da Dutra em direção ao parque com vários caminhões em marcha lenta que nos atrasou pelo menos 40 minutos. O caminho não tem segredos, você seguirá pela Dutra, e assim que entrar no Rio pegará uma saída a direita, se não me engano é a saída 317 em direção a Itatiaia. Você fará uma espécie de balão por cima da Dutra, como se fosse voltar para São Paulo, mas assim que pegar esse retorno entrará a direita em direção ao Parque Nacional. Você seguirá em torno de 26 quilômetros por essa estrada até a garganta do registro, nesse ponto todos os celulares pararam de funcionar, porém será difícil de errar, marque no hodômetro do carro, e em 25/26 km você verá muito bem sinalizado a "Garganta do Registro" e a indicação de entrar a direita para a parte alta do parque. Dai mais 14 km e você chega no parque. A estrada não é nenhuma Brastemp rsrs, mas se você pegar um tempo razoavelmente bom não tem motivo para se preocupar, diferente do Pico dos Marins kkk. Obs: Durante o caminho já é possível ver toda a beleza dessa região ! Você chegará então no Posto Marcão, lá você fará o registro de entrada no parque, encontrará seu guia provavelmente, e também irá parar o carro. ( Para quem pretende ficar hospedado no abrigo rebouças, possivelmente poderá ir mais 3km de carro até o abrigo, eu esqueci de perguntar, mas um amigo ja chegou a ir de carro até o abrigo, para quem não for se hospedar lá, o carro fica no Posto Marcão ). No posto tem bons banheiros, hora de trocar de roupa se for o caso, passar o protetor, apertar a mochila e começar a aventura. A primeira caminhada é de 3 km até o abrigo Rebouças, a estrada é larga e a caminhada sem muita alteração de nível ou qualquer dificuldade. Durante essa caminhada você pode ver outras atrações do parque como as prateleiras, o início da trilha dos cinco lagos, etc... Depois que você passar do abrigo Rebouças, mais uma pequena caminhada e inicia a subida de 800 metros para o Pico, durante o trajeto você poderá ver algumas plaquinhas no chão que marcam de 100 em 100 metros até o a plaquinha 8. A subida para o agulhas até a parte de pedra é bem tranquila, quando você chega na parte de pedra já existe um ponto onde será necessário a corda. Os mais corajosos podem tentar subir sem corda, como os guias fazem, porém, existe uma séria chance de um braço quebrado, ou algo do tipo, mesmo os guias tem uma certa dificuldade nessa parte. Admito que nessa parte quis tentar subir sem o auxílio de equipamento, porém travei na metade, e precisei me apoiar pela corda para subir o resto. Óbvio que a galera não perdoou e tive que ouvir bastante zuação nessa hora, hahahaha. O resto da subida é relativamente tranquila, se você já está acostumado, ou já subiu alguma montanha com certa exposição, e subida em pedra, não irá ter grandes surpresas, alguns trechos com bastante exposição, aqueles pedaços que você precisa subir meio que engatinhando para conseguir se fixar bem na rocha, ou usando fendas para fixar bem o pé. Alguns outros pontos de corda em que o uso é relativo. Mas tem o ponto para fazer a segurança. A subida para o Agulhas não é tão demorada, em torno de 2 horas e meia a 3 horas. Se seu grupo é pequeno, e você não quiser fazer muitas fotos, é possível iniciar bem cedo e quem sabe ainda curtir algum outro atrativo do parque. Porém se estiver com um grupo grande ou quiser aproveitar o passeio ao máximo, reserve um dia inteiro para fazer essa caminhada, até porque você provavelmente estará bem cansado no final. OBS: Fomos durante a semana, era uma terça feira, e éramos os únicos privilegiados no parque, durante todo o tempo que ficamos lá, ninguém entrou e nem havia ninguém de saída, se você for final de semana chegue cedo, pois com certeza encontrará muitos grupos e o parque tem um controle de números de pessoas que eles liberam para fazer a subida ao pico. Então vá cedo para garantir um passeio bem agradável. Enfim... O CUME Todo o esforço, arranhões, medo, obstáculos e toda a subida compensa automaticamente assim que você chega ao cume, a vista é realmente sensacional sem contar a satisfação por ter completado essa jornada, você ficará realmente orgulhoso por ter enfrentado tudo isso e ter tido a força para chegar até o final... OU QUASE... O cume ainda não é o cume !! Como assim ? Haha, é isso mesmo, ao chegar ao pico, é possível ainda atravessar um desfiladeiro para um segundo cume, onde se encontra o famoso Livro. Existe um livro lá, para que você deixe sua assinatura, mensagem ou registro dessa passagem por aquele lugar maravilhoso. É importante dizer mais uma vez, até aqui, é muito indicado o guia, porém pessoas bem experientes (bem experientes mesmo) em subida em pedra podem tentar se aventurar. Porém, para fazer a passagem para o livro, é fundamental o uso de equipamentos e conhecimento de técnicas além do conhecimento de como lidar com os equipamentos. Isso não é brincadeira, e o risco nesse ponto é extremamente alto. Sei que estou sendo chato, porém antes de ir eu cogitei várias vezes ir sem o guia, e fazer eu mesmo a passagem por esses trechos, com alguns equipamentos que um amigo me emprestaria, por fim achamos por bem contratar o guia. Já tive o prazer de fazer algumas travessias como Petro x Tere, Marins x itagaré, subir o pico dos marins, pedra da gávea. Em todas essas ocasiões fizemos por nossa conta, e isso me levou a ter uma falsa ilusão de que eu tinha o conhecimento necessário, por isso estou falando bastante desse ponto, subir montanhas é realmente algo incrível e que te embarca em sentimentos maravilhosos de superação, auto conhecimento, alegria. Porém devemos estar ciente que nosso esporte é radical e de risco. Então temos de conhecer nossos limites também ! Voltando ao foco, a passagem para esse outro pico onde tem o livro é feita com os equipamentos, a descida deve ter em torno de uns 7, 8 metros para depois subir também com a cadeirinha para o livro. Aproveite o momento, registre sua passagem da melhor maneira e comece a segunda parte de subir a montanha que é DESCER. A hora que estávamos assinando o livro o tempo mudou repentinamente, e começou a chover e ventar bastante, mesmo que você pegue um dia de sol, leve algum tipo de agasalho e se possível um poncho ou capa de chuva. Assim que voltamos para o cume principal o sol saiu, hehe, assim é o tempo na montanha. Tiramos uns minutos para fazer uma boquinha e iniciamos a descida. A via para voltar é mesma para subir e você pode aproveitar a volta para ter outros ângulos e fazer mais fotos. Com todas as paradas, fotos e tudo mais levamos em torno de 7 horas no passeio. E confesso que a caminhada do abrigo Rebouças até o Posto Marcão acaba se tornando infinita rsrsrs. Voltamos para São Paulo satisfeitos e com sensação de quero mais. O parque de Itatiaia é simplesmente sensacional, e tem as mais diversas opções de passeio, desde cachoeiras, travessias na parte baixa como a Ruy Braga, Couto-Prateleiras entre outras. Espero que todos tenham a oportunidade de ir lá um dia que seja ! CONSIDERAÇÕES FINAIS 1 - Quantos aos valores, o guia nos cobrou R$ 80,00 por pessoa e mais R$ 15,00 por pessoa a entrada no parque. Nosso grupo era de cinco pessoas e o total saiu menos de R$ 250 por pessoa, mesmo considerando os gastos com comida. Então ressalto que mesmo que as coisas estejam apertadas, existem belas possibilidades de passeio que valem muito pena, sendo que as vezes gastamos esse valor num final de semana que não nos trará tantas lembranças positivas ! Nosso Guia foi o IVAN, pessoa muito gente fina, profissional e ótimo guia, vou deixar aqui o contato dele: (35) 9927 - 1676 2 – Antes de entrar no Rio, já no final da Dutra SP, tem um graal que é uma boa opção para comer antes de entrar em Itatiaia. 3 – Eu tentei ser bastante didático no texto pensando em pessoas que nunca fizeram nenhuma trilha parecida que possam ler. Foi mal se fui repetitivo hehe. 4 – Quem ainda não conhece use o app WIKIROTA ( Esse faz todos os cálculos de combustível e pedágio para o seu destino), outro app muito bom é o WIKILOC que serve para gravar e seguir trilhas. Aqui está a minha gravação dessa trilha: https://pt.wikiloc.com/wikiloc/spatialArtifacts.do?event=setCurrentSpatialArtifact&id=23392290 5 - https://www.instagram.com/joaopaulosarja/?hl=af Valeu até a próxima !
  2. Esse é o relato da viagem em que os planos deram errado, mas mesmo assim foi maravilhosa! Planejamento inicial era: - chegar dia 21/4 pela manhã no Parque Nacional de Itatiaia e fazer alguma trilha curta - dia 22/4 fazer o circuito Couto- Prateleiras (talvez subir ao topo das Prateleiras) - dia 23/4 fazer alguma trilha pela manhã, almoçar em Penedo e voltar para São Paulo. O realizado foi: 21/4/17: viajei 5h de São Paulo até o Hostel Picus, em Itamonte. Fui sozinha, meus amigos saíram de Campinas e chegaram mais tarde, perto de 12h. Para ir ao parque àquela hora não seria possível ver nada além do que já iríamos ver no dia seguinte, não compensava ver duas vezes....então andamos pelo bairro do hostel. Almoçamos no restaurante Pinhão Assado, chegamos a uma fonte ferruginosa (disseram que princesa Isabel já tomou daquela água para ter boa saúde...nenhum de nós teve coragem). Passamos por uma cachoeira simples, mas que já dava a graça de estar no mato. Pelo caminho, era possível avistar a Pedra do Picú. O dia estava lindo! Na volta ao hostel conhecemos seu dono que também era o guia que iria conosco na trilha planejada: Felipe. Teríamos que estar às 7h na entrada do Parque (Portaria do Marcão). Preparamos o lanche para o dia seguinte e o jantar: risotto de funghi com queijo. Não tinha estrelas no céu, mau sinal. 22/4/17: Durante a noite acordei com barulho de chuva, choveu praticamente a noite toda. Mesmo assim levantamos e saímos para encontrar o Felipe conforme combinado. O hostel fica na beira da estrada que leva à Garganta do Registro, 5km de distância. Chegando na Garganta do Registro precisa pegar uma estrada de terra à esquerda e após cerca de 15 km chegamos na portaria do parque. Demora cerca de 50 min. A chuva não parou. Com aquele tempo não compensava fazer a trilha e havia risco de acidentes. Voltamos para o hostel para dormir! Às 11:30 a chuva havia parado e esboçavam raios de sol. Decidimos voltar ao parque e fazer qualquer caminhada possível. A Tatá, esposa do Felipe, indicou ir à Cachoeira das Flores ou ir ao Morro do Couto onde era possível chegar sem guia (até antena). Decidimos fazer Morro do Couto, já que não sabíamos se o tempo estaria bom no dia seguinte para qualquer caminhada. Foram 2h40 min ida e volta. Tempo nublado, lama no chão, mas com paisagens bonitas mesmo assim! Era possível avistar Agulhas Negras, Asa de Hermes lá longe... Na volta compramos pinhão, queijo, vinho e licor de Prestígio nas lojinhas que ficam na estrada (Garganta do Registro). Jantamos no hostel, tomamos vinho e essa noite já dava mais esperança: céu estrelado! Combinamos com Felipe que se pela manhã não estivesse chovendo queríamos ir a Prateleiras! 23/4/17: às 5:30 não chovia e o chão estava seco. Fomos para o parque e encontramos o Felipe e Tatá para finalmente conhecermos as Prateleiras. Chegamos na portaria umas 7:40, entramos com o carro até o abrigo Rebouças (estrada ruim para carro pequeno) assim ganhamos tempo e passamos na frente de um grupo de 30 pessoas que ia fazer o mesmo caminho que o nosso, mas estava caminhando da portaria até o abrigo. Saindo do Abrigo Rebouças, caminhamos por uma estradinha e avistamos a Cachoeira das Flores, passamos por um ponto onde se fazem fotos clássicas das Prateleiras, mas com as nuvens não ficaram muito boas. Passamos por um ponto para pegar água e depois de cerca de 1h 30 chegamos na Base das Prateleiras (2460m). Nesse local eu já estava muito feliz: paisagem maravilhosa!!! Olhei para cima e fiquei pensando: o topo deve ser muito legal, mas tenho medo e aqui está muito bom! Um dos meus amigos não ia subir, dois iriam e eu estava indecisa. A Tatá disse que da base ao topo pode levar de 20 min a 3 h, dependendo do grupo. Pelo que nós havíamos caminhado ela achava que levaríamos 40 min. Decidi subir! A parte boa é que a mochila podia deixar na base, com F. que não subiu. Só coloquei uma bolacha e garrafinha de água na mochila do T. E a câmera no bolso. Esse trajeto foi uma escalaminhada que dá medo pela altura, mas as pedras não são escorregadias e a Tatá foi me dando superdicas e demonstrando como se encaixar na pedra. Eu comecei com luvas (de musculação), pra não machucar a mão, mas elas atrapalham, melhor segurar direto nas pedras (e não me machuquei). O guia e os meninos iam em pé em vários trechos em que fui sentada. Eu só queria chegar! Houve um trecho em que usamos cadeirinha, corda e o Felipe fez a segurança para descer uma pedra e depois seguramos na corda para subir até o topo (altitude 2539) e assinar o livro de visitas que fica lá para os corajosos que alcançam. Na subida ficava pensando que na volta também teria que passar por ali...e como disse Felipe: "pensa na volta quando estiver voltando". Descer foi mais fácil que eu pensei! Levamos 1 hora. Tempo total (subida, tempo de descanso e descida) igual 3h. Depois da base fizemos um pequeno desvio para tirar fotos na Pedra da Tartaruga e Pedra da Maçã. Valeu muito a pena! A caminhada durou total de 6 h ida e volta, conforme orientam na entrada do parque. Voltamos para o hostel, tomei banho e às 16:30 estava pegando estrada para voltar a São Paulo. Como era volta de feriado foram 6 horas até São Paulo. Mas não sentia cansaço, pelo contrário, caminhada nas montanhas aumentou minha disposição pra semana!!! Quero voltar!!!! Dicas: Hostel picus: (35) 991142525; (35) 99119-9153 http://www.picus.com.br http://www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia
  3. A GRANDE TRAVESSIA DE ITATIAIA No vale em que me encontro agora, vejo sobre minha cabeça um paredão de quase 600 metros. Estou a quase 1800 metros de altitude, meus pés estão destruídos, também pudera, já faz pelo menos uns seis meses que não caminho em lugar nenhum, o trabalho e outros afazeres tomaram quase todo o meu tempo este ano. Aqui é o vale do Rio Aiuruoca e para chegar até aqui tive que caminhar quase 10 horas, mas valeu muito a pena. Este lugar é belíssimo, a cor da água é impressionante, poucas vezes vi algo igual. Enquanto minha janta cozinha, aproveito para montar minha barraca, tirar minhas botas e colocar meus pés na gélida água deste rio. Apesar de sozinho, me sinto imensamente feliz de estar aqui, já não agüentava mais a pressão do trabalho, da casa, e de tudo mais que aos pouco vai minando a energia da gente. E não se trata de recarregar as baterias, é exatamente o contrário, estou aqui para me livrar delas. Sem celular, computador e qualquer outro aparelho que possa dar “pau”. Carrego comigo apenas minha máquina fotográfica digital e mais nada. Estando aqui consigo sentir como a vida simples é maravilhosa. Ouço apenas o barulho do rio, dos pássaros e dos pequenos animais que rondam minha barraca. Ao meu lado tem uma cabana de madeira, uma verdadeira tapera, abandonada sabe se lá quando. Este local hoje pertence ao Parque Nacional de Itatiaia, mas outrora era habitado por caboclos corajosos que não se importavam em levar uma vida extremamente simples e sem se contaminar com a mediocridade da nossa civilização .Apesar de estarmos no horário de verão a noite cai rápido por estas bandas devido a quantidade de montanhas.Por isso mesmo antes das 7 da noite já me recolho, afinal de contas foi um dia intenso, e amanhã logo de cara tenho 600 metros de desnível para conquistar até chegar a portaria superior do Itatiaia,já no planalto desta fantástica cadeia de montanhas . Mas é claro, minha história não começa aqui, vamos voltar no tempo um pouco, mais precisamente na tarde de ontem, que foi quando eu sai de casa para chegar até aqui. É muito engraçado ver a cara dos meus vizinhos ao me ver com minha enorme mochila nas costas e trajando roupas largas, que eles julgam ser de vagabundo. Eles sempre me vêem com cara meio de mauricinho, bom pai, bom filho, bom vizinho, mas acham estranho alguém largar sua casa, jogar uma mochilona nas costas e ir sozinho para o mato e para as montanhas. Mas não os culpo, minha própria família às vezes acha que as minhas faculdades mentais estão comprometidas. Dou muita risada disso tudo. Já me acostumei a dar uma banana para o pensamento hipócrita da sociedade que me cerca. Quase todos me condenam, mas sei que a maioria deles vive suas vidinha infelizes, se apegando a coisas que aos pouco os destrói e rouba sua liberdade e sei que a maioria nunca terá coragem de se livrar de velhos pré-conceitos e viverão presos para sempre num mundinho de aparências , tentando manter seus estátus sociais, mas respeito o modo de pensar de cada um, apenas tenho um pouco de pena. Subo no ônibus e logo enfrento o olhar dos passageiros. Encontro um ex- amigo de escola que havia passado uma temporada hospedado em uma penitenciaria. Ele estava trajando um terno preto e em suas mãos levava uma bíblia. Quando digo a ele o que pretendo fazer, ele me diz que sou louco e que tenho muita coragem. Coragem tem ele, vender drogas e praticar assalto a mão armada não é pra qualquer um.Desembarco na rodoviária de Campinas e logo em seguida pego o ônibus para S. José dos Campos . Em duas horas e meia chego ao meu destino, de onde embarco quase imediatamente para a cidade de Resende, já no estado do Rio de Janeiro. Durmo durante toda a viagem e quase sem perceber ao abrir os olhos já estou no lugar pretendido. São duas da manhã e o ônibus que deveria me levar para o vilarejo de Visconde de Mauá só sairá às cinco e meia. Aproveito para tentar dormir um pouco ali mesmo na rodoviária, mas é claro, os seguranças não permitem. As quinze para as seis encosta o coletivo. Ele não vai só até Mauá e sim até Maromba, outro vilarejo 10 km a frente, justamente meu destino. O ônibus toma o caminho no sentido oeste e por 50 km serpenteia este braço da Serra da Mantiqueira. São tantas curvas que chego quase a vomitar, mas o caminho é lindo e o sol nascendo por trás das montanhas dá um brilho todo especial a viagem. Passamos por Visconde de Mauá. Apenas uma rua de terra e mais nada. Ao lado corre um riacho de águas cristalinas que dá ao lugar um charme todo especial. Depois vem Maringá e logo em seguida a estrada acaba no bucólico vilarejo de Maromba. Lugarejo muito interessante, meio fim de mundo, simplesmente adorável. Vou até uma padaria para tomar café e me informar sobre a travessia conhecida com Serra Negra. A padaria é bem estilizada, têm fotos do Che Guevara por todos os lados, símbolos de sindicatos e de órgãos de defesa humanitária. Pergunto ao dono sobre a trilha e ele me diz que ali é um parque nacional e que ninguém pode passar sem autorização e aquelas balelas todas. Vejo logo que se trata de um hipócrita, mando logo este porco a merda e vou me informar em outro lugar.Encontro um “bicho grilo’ muito gente boa que me da logo todas as informações que preciso. O cara tem um pensamento revolucionário sobre a civilização, um pouco maluco admito, mas consegui aprender muita coisa com ele. A minha intenção é partir de Maromba, cruzar por dentro do Parque Nacional de Itatiaia por uma montanha conhecida por Serra Negra, descer até o vale do Rio Aiuruoca e depois subir até a parte alta do parque, onde fica o Pico das Agulhas Negras e de lá descer até a sede, já na cidade de Itatiaia. Este trajeto terá que ser feito em três dias, que é o tempo que eu tenho de folga do trabalho. Atravesso o rio Maromba e entro de cara logo no Estado de Minas Gerais. Aliás, lindo rio, se não fosse tão cedo e a água não estivesse tão fria eu arriscaria tomar logo um banho. Tomo logo a estradinha depois da ponte e em 5 minutos pulo a porteira de um sítio. Procuro pela trilha depois de uma ponte de madeira, mas nada encontro. Não demora muito percebo logo o erro,entrei no lado errado da estrada.Volto, pego a estradinha a direita, mas não consigo perceber trilha alguma.Estou seguindo um mapa muito antigo desta trilha e as coisas mudaram muito por aqui.Cercas foram colocadas, porteiras mudaram de lugar. Fiquei por quase uma hora rodando atrás da trilha e finalmente a encontrei subindo a encosta quase no rumo contrário ao que eu havia chegado até aqui. É uma subida enorme que passa por dentro de algumas samambaias e curvando-se para a direita, passa por uma bica onde aproveito para encher o meu cantil e logo ela desemboca no alto da serra dando visão para toda a extensão da Mantiqueira. Consegue se contar dezenas de cachoeiras despencando do alto das montanhas, uma visão realmente de encher os olhos. Sigo meu caminho a passos largos, parando de vez enquanto para tomar fôlego e arrefecer a temperatura interna com um gole de água. Esta trilha é bem larga e muito usada pelo povo da região. Na verdade pode se dizer que é uma trilha histórica, usado pelos agricultores para abastecer com alimentos os vilarejos que acabei de passar. Eles usam as mulas para fazer este transporte. É de se admirar que em pleno século 21 este tipo de comércio ainda sobreviva, ainda mais por estarmos em um local que fica entre as duas maiores cidades do Brasil, Rio e São Paulo. Eu esperava encontrar com os tropeiros, mas infelizmente não vi viva alma por onde passei nesta serra. O caminho é penoso, só subida. Conforme vamos subindo a serra vai ficando mais espetacular. Não é possível avistar daqui as Agulhas Negras, escondida e que só será vista no segundo dia de caminhada. A trilha em alguns momentos vai se perdendo nos vastos campos de altitude e é preciso tomar cuidado com a direção a tomar, ou então se corre o risco de perder-se nos vales abaixo. Por várias vezes tive que me sentar ,tomar fôlego e estudar o caminho a seguir.Depois de umas cinco horas de caminhada montanha acima,finalmente chego ao topo desta serra.São 2400 metros de altitude ou até menos,não muito alto se compararmos com as montanhas que nos cercam , mas não dá para negar que o desnível vencido até aqui não é para qualquer um.Em mais uma hora chego a borda do grande vale do Aiuruoca .Será uma descida vertiginosa até o rio.Este é o local que eles chamam de subida da misericórdia.Bom,isso para quem faz a trilha no sentido contrário, mas para min é descida,a minha misericórdia já ficou para trás.A descida é terrível,acaba com os joelhos e o tornozelo da gente.A mochila já está pesando uma tonelada.Desço de pressa,mas sempre parando para fotografar a paisagem ,as plantas e flores e é claro, as fantásticas montanhas ao meu redor.Passo por florestas e dezenas de riachos até que a trilha desemboca em um pequeno amontoado de casas.Não sei ao certo ,mas parece que este é o lugar que eles chamam de Fragária.Estou muito cansado e com muita fome, mas como ainda tenho umas duas hora de sol, decido seguir em frente. Pergunto em um lugar que parece ser uma pousada meio abandonada e logo me informam o caminho a seguir. Pego uma pequena estrada de terra e em 5 minutos quebro a esquerda em um caminho que morre em uma casa. Pergunto pela trilha que pode me levar até o Hotel Alsene, que fica na estrada que da acesso a portaria do parque, uma mulher me dá a dica.Fiquei sabendo no outro dia que esta mulher é a mãe de um dos guarda- parque,Pulo o riozinho logo abaixo da casa e encontro a trilha que procuro,e em meia hora ou menos chego em um riacho que penso ser o Aiuruoca.Paro para descansar um pouco e beliscar alguma coisa, aproveito para tirar a bota e descansar um pouco os pés.Tento tomar um banho,mas a água está extremamente fria e congela até os ossos. Tomo de novo a trilha montanha acima. Na serra começam a surgir várias cachoeiras de dezenas de metros, fico fascinado com tanta beleza. Fico também preocupado com o rumo que esta trilha começa a tomar. Estou entrando em uma zona de completo abandono, pouca gente passa por aqui. A trilha atravessa florestas e mais florestas, cruza por vários rios e vales. Ando, Ando muito e não chego a lugar algum. Será que estou perdido? Penso eu. Em uma curva da trilha tropeço no maior cupinzeiro que já vi na vida. Tinha mais de 3 metros de altura por uns 2 metros de largura, de tão grande chegou a tombar na trilha. Passo por mais cachoeiras gigantes e também por alguns ranchos abandonados e é exatamente em um destes abrigos rústicos que acabo perdendo a trilha. Procurei, procurei e nada encontrei. Agora sim eu estava perdido!! Desci quase todo o vale a direita, mas nada .Subi em uma árvore e consegui localizar o hotel encravado em um selado a uns 700 metros de desnível acima de mim,acertei o meu rumo,voltei até o rancho e localizei a trilha novamente e quando menos espero, chego ao verdadeiro Rio Aiuruoca. Fiquei decepcionado no começo, pois esperava chegar à estrada do parque hoje ainda e vi que estava muito longe. Mas depois que botei meus olhos neste fabuloso rio, não tive a menor dúvida, joguei minha mochila no chão e dei por encerrado meu primeiro dia de caminhada. Tanta beleza merecia ser explorada com calma, eu iria acampar ali mesmo, iria passar a noite reverenciando este espetáculo da natureza. Acordo às seis da manhã. O céu está perfeito, nenhuma nuvem. Dormi muito bem, como poucas vezes dormira em minha vida. Meus pés ainda doem um pouco, mas a vontade de seguir viagem compensa qualquer sofrimento. Enquanto o fogareiro ferve a água do café,aproveito para desmontar a barraca e arrumar minha mochila.Vou até o rio escovar os dentes e lavar o rosto,aproveito também para localizar a continuação da trilha do outro lado,desço um pouco pelo rio para visitar as cachoeiras e os poços .Tomo café,jogo novamente a mochila nas costa e tomo meu rumo.Atravesso o rio com a água quase pela cintura.A água é tão fria que mal consigo chegar do outro lado.O rio Aiuruoca nasce a 2500 metros de altitude,por isso as suas águas são tão geladas.A trilha continua subindo sem piedade.O paredão sobre minha cabeça vai ficando cada vez mais perto.Atrás de mim vão surgindo vales e gargantas profundas e consigo ver outras serras da qual já tive o prazer de caminhar. Duas horas se passam e finalmente alcanço a estradinha de terra que me levará até a portaria do Parque Nacional de Itatiaia. Ao lado do lugar onde acabei saindo está o famoso Hotel Alsene. Na verdade uma rústica construção de montanha que anda meio jogado as traças. Completamente vazio. Ouvi dizer que o prédio foi vendido para a Associação de Atletismo para treinamento dos nossos atletas olímpicos. A estradinha onde estou na verdade é uma BR a mais alta do Brasil. Estamos a 2400 metros de altitude. Conta a história que ela teria sido construída a mando do então Presidente Getulio Vargas.Se alguma coisa desse errado na revolução constitucionalista de 1932,Getulio poderia vir para cá com sua comitiva. Sigo caminhando e paro apenas para apreciar a visão espetacular da Serra Fina, uma gigantesca cadeia de montanhas que abriga o topo da serra, a Pedra da Mina com seus 2798 metros de altitude. Sinto-me orgulhoso de também já ter explorado todas estas montanhas. Consigo localizar também o Pico dos 3 Estados , o Cupim de Boi, O Marins e o Itaguaré. Em quarenta minutos finalmente chego à portaria superior do Itatiaia. Estamos na entrada do famoso planalto de Itatiaia. Esta parte abriga uns dos recantos de montanha mais belos de todo o país. Aqui está o Pico das Agulhas Negras, um fantástico gigante de pedra com seu cume a 2791 metros de altitude. Para a segunda parte da minha travessia tive que conseguir uma autorização especial da administração do parque. A trilha que pretendo seguir está interditada ao público a vários anos.Tive que assinar um monte de documentos me responsabilizando por minha segurança.Claro que inventaram um monte de empecilho para que eu não seguisse na trilha sem guia,mas me mantive firme na minha convicção de seguir enfrente sem ter que me pendurar a pessoas que talvez tivessem muito menos experiência que eu, e não teve jeito,tiveram que me liberar.Paguei as devidas taxas e segui em frente,com passos firmes e decididos rumo ao meu objetivo. Já estive aqui a uns 10 anos atrás, onde consegui escalar o Agulhas Negras e visitar a nascente do rio Aiuruoca.Sigo caminhando e me encantando com estas montanhas com vários afloramentos rochosos. Vejo do meu lado direito surgir o Pico do Couto com mais de 2600 metros de altitude. A estradinha continua em nível e em menos de meia hora de caminhada aparece no horizonte,ainda meio escondido o Agulhas Negras.Paro para descansar um pouco,beber uma água e apreciar a vegetação de altitude. Que lugar lindo!!!Espero em breve poder voltar aqui trazendo minha filha. A vontade que tenho é de ficar aqui por muito tempo apreciando esta paisagem, mas o tempo passa e tenho que alcançar o abrigo Macieiras antes do anoitecer. Quarenta minutos é o tempo que levo para chegar até o abrigo Rebouças,uma construção de pedra aos pés do Agulhas Negras.Me desvio do meu caminho,subo uma montanha 100 meros acima da estradinha. Aqui posso apreciar em todo o seu esplendor o Agulhas. Que montanha fascinante!!! Hipnotiza a gente. Faz nos sentir pequenos diante de tanta beleza. Tiro várias fotos e volto para estradinha. Não demora muito e a estradinha vira trilha, que vai descendo acompanhando o Rio Campo Belo. Passo pela cachoeira das Flores e sigo descendo até a bifurcação para o Pico das Prateleiras. Gostaria muito de ir as Prateleiras, mas o tempo é curto e decido seguir enfrente. Daqui para frente entro em um caminho proibido para os turistas.Por um dia e meio estarei sozinho,entregue a minha própria sorte e a minha própria competência.Se algo me acontecer será problema meu, não poderei contar com ninguém.Aqui não pega celular, o terreno é hostil e perigoso,não sei porque mas isso me fascina muito,aqui me sinto dono do meu próprio destino,me sinto livre como nunca me senti antes,me sinto selvagem,parece que estou de volta aos tempos em que o homem só podia contar consigo mesmo e com o poder da natureza. No início a trilha é confusa. Corre por dentro das canaletas de pedra, fico sem saber se é trilha ou rio. Tenho que usar toda a minha experiência de trilheiro para localizar o caminho. Sigo descendo até o vale entre estas duas gigantescas montanhas, quando derrepente o caminho acaba em uma pedra. No mapa topográfico que peguei na portaria do parque aparece um pedaço desta trilha e ele indicava uma curva a direita. Foi o que fiz, mas não encontrei trilha alguma. Caminhei em um charco com água e lama na altura da cintura e nada encontrei. Rodei perdido pelo brejo durante quase hora e meia e nada de encontrar a tal trilha. Voltei de novo ao local onde a trilha sumiu. Sentei-me em uma grande pedra, tomei fôlego, comi algo e voltei a procurar. O caminho que deveria ser o obviou era apenas um pequeno rio. Coloquei de novo minha mochila nas costas e encarei a água gelada e depois de 20 metros com a água pela cintura, localizei de novo minha trilha.Ufa !!!! Que sufoco!!! Meu próximo objetivo é encontrar o antigo abrigo Massena. Desço até um vale onde sou obrigado de novo a enfiar o pé na lama. Avisto do outro lado a continuação desta trilha. Aperto o passo até chegar a uma bifurcação. Para onde ir? Desconfio que a trilha que vem da direita seja uma trilha que á muitos anos atrás tentei alcançar, partindo de Engenheiro Passos, mas tive que desistir por causa do mau tempo. Decido tomar a esquerda e depois de atravessar por uma floresta de arbustos dou de cara com o Abrigo Massena. Fico espantado com o tamanho desta construção. Toda feita de pedra, dizem que foi construída a uns 40 anos atrás para ser uma pousada.Aqui existia uma estrada,mas a floresta tomou de volta.A construção está em ruínas,o teto está quase todo no chão. Só sobrou praticamente a sala da lareira, onde outrora montanhistas usavam o local para esticar seus sacos de dormir. Minha vontade é de fazer o mesmo. Mas resolvo tentar alcançar o Abrigo Macieiras antes do anoitecer. Procuro feito louco a continuação da trilha, mas não encontro. Daqui sai trilhas para todos os lados, mas nenhuma parece levar a lugar algum. Distancio-me uns 200 metros do abrigo e faço um circulo até interceptar o caminho que seguia na direção norte, totalmente do lado oposto de onde pensei que a encontraria, praticamente voltando. O dia praticamente já está no fim, por isso resolvo apertar o passo e praticamente corro na trilha. Ela fez uma curva para direita e seguiu firme no rumo leste, sempre descendo. Por algumas vezes fazia alguns desvios em locais onde gigantescos desmoronamentos a engolia. O local é realmente perigoso e por um triz não caio em um grande buraco. Estou realmente exausto, preciso chegar logo para poder comer alguma coisa quente e descansar. Cruzo vários capões de mata e muitos riachos. Do meu lado esquerdo vejo um vale gigantesco, que provavelmente o acompanharei até o final da viagem. Finalmente às 05 da tarde avisto o telhado do Abrigo Macieiras. Fico muito feliz e eufórico. Ando os últimos metros até tropeçar na porta do meu “hotel” de selva. Largo minha mochila e desabo de cansado. O abrigo Macieiras, a exemplo do abrigo Massena, não passa de uma tapera. Parte do assoalho afundou. Existem infiltrações por todos os lados,não há mais água nas torneiras,por isso sou obrigado a procura-la trinta metros a baixo junto a um riacho . O lugar é realmente macabro, lembra as casas de filmes de terror. Poderia servir muito bem de morada para espíritos malíguinos,demônios,assombrações,exus alados,seres extra-terrestre e aventureiros céticos ,como eu . Por ser minha última noite na travessia, resolvo fazer um banquete. Enquanto meu fogareiro faz sua parte, aproveito para dar uma organizada na casa. Encontro um velho cobertor pendurado na parede e uso-o para forrar minha cama. Estendo meu saco de dormir e acendo uma vela. Fico sentado na varanda olhando para floresta escura e pensando nas coisas de ruim que poderia ter me acontecido. Poderia ter quebrado uma perna,ser picado por uma cobra,ser arrastado pelo rio,atingido por um raio,cair no abismo,atacado por um enxame de vespas,sofrido um ataque cardíaco,ter sido estraçalhado por uma onça,me engasgado com a comida,ser atingido pela queda de uma árvore, escorregado e batido a cabeça no chão,ter morrido de hipotermia, etc..A relação de perigos imaginários ou reais são bastante grandes. Estar sozinho requer muito cuidado e uma boa dose de experiência no que se está fazendo. Sei que ainda tenho muito a aprender , mas depois de quase vinte anos perambulando por quase todo tipo de lugar, consegui adquirir um conhecimento que me faz caminhar por lugares ermos como se estivesse no quintal de casa. Janto a luz de velas e vou dormir. De madrugada ouço um barulho de alguma coisa andando no assoalho da casa. Coberto dos pés a cabeça por causa do frio, percebo que o invasor começa a se aproximar do meu quarto,tento me levantar para ver do que se trata mas como está muito escuro,não consegui nem chegar até a porta.A coisa ou seja lá o que for, voltou para a floresta.Poderia ter sido uma onça atraída pelo cheiro da minha comida,mas prefiro acreditar que tenha sido mesmo um pequeno cervo ou porco do mato,mas infelizmente nunca saberei o que realmente veio me visitar. O dia amanhece lindo. Como alguma coisa e volto para a trilha. O orvalho da manhã me deixa todo molhado. Como é prazeroso caminhar por esta floresta preservada. São centenas de flôres diferentes, algumas só existem nesta região. Insetos são de incontáveis números. No meio da trilha encontro um lagarto tomando seu banho de sol matinal. O caminho segue sempre para baixo e vai ficando cada vez mais fechado. Sou obrigado a abrir o mato no peito. Já faz muito tempo que ninguém passa por aqui, sou um privilegiado de poder reabrir esta trilha e dar passagem para outros aventureiros que terão , como eu, o prazer de conhecer este paraíso. Em alguns momentos a trilha simplesmente desaparece. A floresta tomou de volta o espaço que sempre lhe pertenceu. Árvores, bambus, cipós, tombarão sobre a trilha. Em alguns lugares sou obrigado a me rastejar e me livrar de incontáveis espinhos. Depois de quase quatro horas finalmente consegui emergir desta floresta e alcanço a estradinha de terra que me levará a sede do Parque Nacional. Quarenta minutos é o tempo que gasto para chegar ao primeiro posto de controle, que fica junto do poço do maromba. Ao se aproximar de mim o guarda parque pediu para ver minha autorização. Ele me perguntou quem era o meu guia e se ele ainda estava para trás. Foi muito engraçado ver a cara que ele fez quando disse que não havia guia algum e que eu estava sozinho, alias esta cara se repetiu várias vezes em todos os postos de fiscalização em que passei. Sai da trilha todo sujo, com a roupa rasgada, todo arranhado. resolvo descer a trilha até o poço do maromba. É inacreditável a beleza deste lugar. A cachoeira não é muito alta, mas na sua base forma-se um poço extremamente verde e profundo, um prêmio para coroar esta linda travessia. A água estava gelada, mas seria um pecado ir embora sem dar um mergulho. Tiro a roupa e nem penso muito, subo em uma grande pedra e me atiro de ponta. È um prazer que não da para descrever, lavei a alma e tudo mais que estivesse sujo. Saio da água renovado e pronto para seguir enfrente, já que ainda tenho umas três ou quatro horas de caminhada até o final. Atravesso a ponte sobre o rio e vou conhecer a cachoeira véu de noivas, a mais alta da parte baixa do parque,uma bela queda de uns cinqüenta metros. Volto para estrada e em duas horas passo pela sede do Parque Nacional de Itatiaia que hoje por ser segunda-feira,está fechado. Na portaria depois do centro de visitantes consigo uma carona até a rodoviária de Itatiaia, esta pequena cidade as margens da Via Dutra . Compro a passagem de volta par casa e como o ônibus vai demorar mais de duas horas, resolvo comer alguma coisa do outro lado da rodovia Dutra. Subo na passarela e é de lá que consigo avistar toda extensão da serra e do parque por onde caminhei durante todos estes dias. Avisto o cume do Pico das Agulhas Negras. Sinto-me muito cansado, mas imensamente feliz de poder ter tido a oportunidade de trilhar estes caminhos e estas trilhas que a muito tempo parece não receber a presença de outros aventureiros. Durante três dias estive praticamente sozinho, mas nunca me senti só. Maravilhei-me com a beleza deste lugar, cruzei por montanhas imensas e florestas espetaculares, atravessei rios de águas cristalinas e acampei em lugares mágicos. Perigos, sei que corri muitos, mas viver já um perigo . Alias como diz a letra da música que projetou o grupo de rock inglês Queem para o mundo, keep yoursel aline , que em bom português quer dizer: mantenha-se vivo. E foi o que tentei fazer durante todos estes dias, manter me vivo. Sentir o cheiro da natureza, ouvir o barulho das águas correndo sobre as pedras, ver o por do sol, redescobrir para que foram feitas as pernas, tocar a terra, deitar na grama,nadar no rio,subir nas árvores,comer frutas silvestres, atolar o pé na lama, cheirar as flores do campo, me pendurar nas pedras, contemplar o céu estrelado, beber a mais pura das águas, me encantar com os pássaros e os animais da floresta, escalar montanha. Despeço-me deste lugar com a promessa de voltar um dia, mas desta vez arrastando atrás de mim minha filha .Eu que sempre detestei andar com guia, pretendo guia-la, na esperança que ela também aprenda a MANTER-SE VIVA. DIVANEI / dezembro - 2008
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