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Tô começando a me planejar para uma possível viagem em outubro desse ano (2024) entre as capitais dos países bálticos (Vilnius na Lituânia, Riga na Letônia e Tallinn na Estônia) com uma passadinha em Helsinque, para aproveitar que vou estar por lá mesmo rs. Minha dúvida é sobre a segurança para mulheres viajando sozinhas nessas cidades - principalmente Riga, que é a maior das três capitais dos bálticos - e sobre a situação para turismo nessa região, devido à Guerra da Ucrânia. Alguém esteve por essas bandas recentemente para relatar?
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Oi gente! Meu nome é Luisa, tenho 19 anos e voltei esses dias da minha primeira viagem sozinha, que foi pra Colômbia. Decidi trazer meu relato da viagem aqui, pois o fórum foi de grande importância pra mim durante o meu planejamento, e espero poder trazer também dicas pra quem esteja querendo ir pra lá. Primeiro de tudo, meu sonho era mochilar, mas atualmente eu trabalho e estudo, então só me restam 15 dias de folga hehe tive que fazer uma trip mais acelerada por causa disso, e foi BEM cansativo. Acho que se desse pra ficar uns dias a mais em cada cidade eu poderia fazer tudo com mais calma, mas aproveitei muito tudo e aprendi bastante com essa experiência. Segundo, por quê a Colômbia? Sei que não é o destino mais indicado pra mulheres jovens e inexperientes com viagem solo, e eu acabei decidindo sem muito conhecimento sobre isso. Era um destino com preços acessíveis, e foi esse o primeiro ponto que me fez escolher lá. Mas, sinceramente, até hoje não sei explicar o motivo da minha escolha, foi meio sem querer... acho que a Colômbia me chamou kkk. E, sinceramente, me senti segura em 99% dos momentos. Brasileiro já tá acostumado a ser cuidadoso com seus pertences nas ruas, então é só continuar vigilante que dá tudo certo. Também não é indicado andar por regiões não muito turísticas, pelo menos sozinho/ a noite. Nesse primeiro tópico vou dar umas dicas gerais e, posteriormente, nos próximos tópicos, vou relatando sobre cada destino. Meu roteiro foi: 3 dias em Bogotá 2 1/2 dias em Santa Marta (1 dia em Minca, 1 1/2 dias no Parque Tayrona) 4 dias em Cartagena 3 dias em Medellín Meu voo foi de Porto Alegre - Lima e Lima - Bogotá. Achei os preços do duty free melhores em Porto Alegre, caso alguém tenha essa curiosidade hehe A passagem eu comprei com milhas, então não tive esse gasto. No fim dos relatos vou fazer uma relação de preços. Como levar dinheiro: Usei apenas o cartão da WISE, mas levei uns dólares físicos de emergência, que nem foi preciso. O cartão funcionou (como débito) em todos os lugares. Não tem como comprar COP (peso colombiano) na Wise, mas tendo dólar ou euro na conta o cartão faz a conversão automática. Porém, o mais indicado é ter dinheiro físico, pois evita que pague a taxa da maquininha de cartão (que é cobrado a parte em alguns lugares) e tem locais que só aceitam papel (é bem comum! sempre tenham efectivo). Pra sacar dinheiro eu usei o cartão da Wise também, mas só consegui utilizar os caixas do banco DAVIVIEDA. Acho que até funciona em algum outro banco, mas ouvi dizer que tem uma taxa alta. Usei todas as vezes esse banco, que é bem comum lá, e funcionou sem problemas. A dica é inserir o cartão antes de clicar em qualquer coisa na máquina, e logo vai aparecer a opção de escolher o idioma. Inclusive usei o cartão da Wise em algumas compras pela internet que eram em COP. Nem todo site aceita, mas vale tentar pra não ter que pagar IOF. Hospedagens: Só fiquei em hostel, vou ir especificando eles nos relatos. Tem bastante hostel na Colômbia, e de qualidades absurdas! Sério, alguns pareciam hotéis, com preço bem mais em conta e localizações excelentes. É o melhor jeito de se hospedar viajando solo, principalmente pra conhecer pessoas. Transporte: Táxi é meio caro, e ouvi dizer que não é muito seguro pegar eles na rua, pois existem vários falsos. O melhor é pegar direto no ponto deles ou pedir pro hostel chamar um. A dica é sempre combinar o valor da viagem antes de entrar no carro, não vi nenhum usando taxímetro. E dá pra dar uma negociada, eu costumava olhar o preço da rota no Uber antes e usar aquilo como base. Sobre outros apps de transporte: apesar de serem ilegais, eles funcionam super bem e todo mundo usa. Além do Uber, também é bem popular o InDrive, usei os dois e recomendo. Geralmente os motoristas vão pedir pra tu sentar na frente, mas é bem tranquilo, e me senti mais segura usando Uber lá do que no Brasil... Cada cidade tem um transporte público diferente. Nos relatos detalho mais. Rotas entre cidades: Recomendo bastante viajar de ônibus, são baratos, seguros (apesar de os motoristas dirigem na bse da emoção kkk) e muito confortáveis (mas levem casaco pois é bem gelado!). As principais companhias que eu me lembro são a Coopertur e Expresso Brasília (muito boa). Deixem pra comprar as passagens direto na rodoviária, é mais barato e (nas minhas vivências) sempre tem vaga. Já se preferir avião (às vezes compensa quando tem promoção, fiquem de olho no Google Voos), as cias low cost lá são a Wingo e Avianca. Existia a Viva mas ela parou de funcionar. Usei ambas e não tive problema, mas, pelo menos na Wingo, foram bem criteriosos em relação a quantidade de bagagem. Se forem levar mais de uma, comprem esse adicional antecipadamente! Seguro viagem, vacina, visto chip, etc: Não fiz seguro viagem pois meu cartão de crédito já tem, só precisei notificar eles. Comprei um e-sim pela Seguros Promo pra já sair do Brasil com internet. Foi caro, confesso, mas não tive problema com internet em nenhum momento e como eu estava viajando sozinha pela primeira vez, foi essencial pra eu me sentir tranquila. Porém tu consegue achar vendedores de chip da Claro em todo e qualquer lugar turístico, estão sempre gritando com um guarda-chuva vermelho haha acho que no aeroporto se acha também, e provavelmente é mais barato. Eu paguei uns 65 dólares pra um chip de 15 dias, ilimitado. O legal é que ele sempre conecta com a rede mais forte no momento. Indico, mas existem alternativas mais viáveis. Em relação a imigração, é preciso apresentar o certificado internacional de vacina amarela. O meu não apareceu no app do ConectSUS, então tive que solicitar por esse site, veio em 3 dias: https://www.gov.br/pt-br/servicos/obter-o-certificado-internacional-de-vacinacao-e-profilaxia Também é preciso preencher, de 72h a 1h antes do voo, um formulário com as informações do voo e motivo da viagem, chamado CHECKMIG, por esse link: https://apps.migracioncolombia.gov.co/pre-registro/en Eles me solicitaram o comprovante da vacina em Porto Alegre ainda, e em Bogotá de novo. No checkmig solicitam o endereço da hospedagem, e na imigração precisei apresentar a reserva do hostel pra confirmarem os dados. É bom ter essa documentação impressa, pois acelera o processo. Mas foi tudo tranquilo e não fizeram muitas perguntas. Bom, acredito que seja isso, nos próximos tópicos vou começar os relatos de cada cidade, dando algumas dicas e apontando o que eu teria feito diferente. Beijão e estou aberta a qualquer pergunta!
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Esse ano resolvi que viajaria sozinha pela primeira vez. Confesso que estava com medo e li em muitos relatos que Bonito era um destino bem seguro e por isso achei adequado fazer isso lá pela primeira vez. A experiência foi incrível, é um lugar com natureza sensacional. Confesso que se tivesse pesquisado mais sobre o destino teria aproveitado mais a viagem, mas escolhi fazer do modo "o que for será". De qualquer forma, vou deixar aqui minhas impressões e dicas que podem ajudar alguém a ter uma experiência ainda mais completa que a minha. IDA: Voei de São Paulo* para Campo Grande, de lá peguei um transfer que fechei direto com o hostel. Não existem muitos horários disponíveis, e por isso tive que ficar algumas horas esperando no aeroporto. Dica: leve um bom lanche e algo para se distrair, como um livro, pois aeroporto lá não tem absolutamente nada. A viagem de ônibus durou cerca de 4 horas, cheguei por volta de 23hrs em Bonito, que estava completamente vazia por conta do toca que recolher que está em vigor e da baixa temporada. *Comprei minha passagem saindo de Congonhas, mas a companhia mudou para Guarulhos. Por isso tive que pagar uma grana de uber, já que a gol não está oferecendo transfer atualmente. Alguém sabe se posso pedir o reembolso deste dinheiro pra eles? VOLTA: Novamente tive problemas com companhia aérea. Havia comprado o voo saindo direto do aeroporto de Bonito para o Rio de Janeiro, para descobrir que o aeroporto está FECHADO. Com isso a Azul ofereceu datas de remarcação muito depois do dia que eu tinha que voltar. Resultado? Tive que comparar outra passam, dessa vez com a Latam, saindo de Campo Grande. Ainda não sei o que fazer quanto a isso. Se eu cancelar a passagem terei que pagar multa? Acho que vou acabar só por perder o dinheiro. Novamente fechei o transfer, mas o hostel me botou num ônibus de rodoviária, que fez uma viagem bem mais lenta, levando quase 6 horas. Paguei 90 reais dessa vez. HOSPEDAGEM: Fiquei hospedada no BONITO HI HOSTEL, que descobri lendo relatos que era o mais em conta e um dos mais famosos da região. A estrutura do local é boa, quartos limpos e confortáveis, um café da manhã bom e honesto. O staff é muito simpático e amigável. Tinha algumas regras de uso da cozinha que tornava a possibilidade de fazer comida ou esquentar coisas lá bem limitadas. Além disso, é um pouco longe da cidade, o que não me incomodou tanto pois eu sempre ia andando e conversando com os outros hóspedes. Paguei 40 por noite, com café da manhã incluído. DESLOCAMENTO EM BONITO: Acredito que aqui esteja a maior dica que eu posso dar. Se estiver em duas pessoas ou mais, ou até mesmo sozinho e se sente seguro, alugue um carro! - O transporte custa 50 reais para passeios de metade do dia e 80 para passeios de dia inteiro; - Como fechei os passeios só quando cheguei na cidade, muitos não consegui ir pois não havia vaga no transporte. Só vai uma van por dia para cada local. A opção alternativa é moto taxi, que cobra ainda mais caro; - As vezes seu grupo termina o passeio mas a van só vai te buscar num horário específico e você tem que ficar esperando; - É muito mais confortável de ir até a cidade e voltar de carro, economizando caminhadas de quase meia hora. PASSEIOS: Como eu disse, deixei para fechar tudo em cima da hora. Foi um erro que não cometo mais, pois muitos não consegui por estarem lotados ou falta de transporte. Não vou deixar preços aqui, pois são todos tabelados e essa tabela da pra achar fácil no google. DIA 1 - INSTÂNCIA MIMOSA: Esse passeio tive que fechar no mesmo dia e era o único que ainda tinha vagas, ainda assim tive que ir de moto táxi por falta de transporte. Sinceramente achei bem meia boca, não sei por qual motivo consideram uma das atrações principais. Não tem nada muito surpreendente quando se compara com tudo que há para ver em Bonito. Pelo menos o almoço é muito bom! DIA 2 - RIO DA PRATA: Esse passeio veio para me reanimar despois da frustração do primeiro dia. Mesmo estando meio nublado consegui ver a beleza de Bonito. Fiz a flutuação e deu para vez muitos peixes! É um passeio bem extenso, com muitos locais para foto e curiosidades. É imperdível e o almoço é semelhante ao da instância mimosa, pois as duas fazendas são do mesmo dono. DIA 3 - BOCA DA ONÇA: Um dos principais passeios de Bonito e é maravilhoso. Esse dura o dia inteiro e para em vários pontos diferentes e muito interessante. Também peguei um pouco de céu encoberto e ainda assim foi maravilhoso. Essa fazenda oferece um café da manhã muito bom, então se o da sua hospedagem não for nada demais, deixe para comer lá. No fim do passeio também tem um almoço muito bom. Não deixem de fazer esse! DIA 4 - PRAIA DA FIGUEIRA: Para esse dia não consegui fechar nada, então fui parar nesse lugar que é basicamente um day use, com toboágua, stand up, tirolesa e outras atividades do tipo. Só vale a pena pra quem está com criança e quer um dia para relaxar sem se preocupar. Fora isso, não vá. DIA 5 - GRUTA SÃO MATEUS E RIO SUCURI: GRUTA SÃO MATEUS: É muito interessante, gostei bastante e é bem diferente do resto dos passeios. No entanto, acho que só vale para quem está de carro. O passeio não dura nem 2hrs e tive que ficar esperando bastante para ir embora. RIO SUCURI: Esse é simplesmente o passeio mais incrível que fiz. Fechei a viagem com chave de outro. Fiz "Barra do Sucuri", existe também o "Nascente do Sucuri" que dizem que é ainda melhor. Nem consigo imaginar pois esse lugar é simplesmente sensacional. Muito mais encantador do que qualquer foto. OUTROS: Infelizmente não consegui fazer alguns passeios que eu queria, por diversos motivos, mas se você se planejar antes não deixe de ver: Rio do Peixe (não consegui vaga) Abismo Anhumas (infelizmente não encaixava no meu orçamento) Boia Cross (não consegui vaga) Gruta do Lago Azul (fechado por questões da política local) ONDE COMER: Nesse quesito, minha intenção de fazer uma viagem low cost caiu por terra. Bonito tem ótimos restaurantes e bares. - Os dois principais restaurantes são Juanita e Casa do João. Gostei de ambos, não saberia dizer meu preferido. Apesar de não ser o que eu chamaria de barato, considero um preço justíssimo para o que oferecem. Em São Paulo pagaria pelo menos o dobro pelo mesmo serviço e qualidade; - Também é famosa a carne de jacaré. Não achei nada demais mas acho interessante experimentar; - Não comi o sorvete assado que é um atrativo da região, infelizmente; - O hostel deu o contato de um lugar que envia quentinha para o almoço por uma média de 20 reais e dá para dois. Servem no almoço. Não sei no jantar. ÚLTIMAS DICAS: A composição da água de bonito ressaca muito pele e cabelo. Eu não fui preparada e senti bastante. Leve cremes potentes para o corpo e o cabelo. Além disso, não pode ser bebida por turistas que não estão acostumados. Beba sempre água mineral. Não deixe para fechar seus passeios de última hora e correr o risco de não conseguir fazer algo que queria muito. (...) Espero ter ajudado com esse relato, que pra mim também é um registro do que vivi. Bonito não é a viagem mais barata do mundo mas com certeza vale a pena e, se você seguir algumas dessas dicas, vai conseguir economizar mais do que eu consegui.
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- bonito
- mato grosso do sul
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💣***Esse texto não é recomendado para menores de 30 anos***💣 Madrugada de uma terça para quarta feira. Na kitnet recém alugada, mobiliada apenas com alguns caixotes e vasos de plantas (entre eles uma samambaia dessas de supermercado comprada conscientemente semi morta, símbolo último de qualquer esperança que ainda possa me habitar) a barraca montada no lugar de onde habitualmente deveria ter uma cama acabara de dar espaço para um tapete de taboa, onde repouso meu isolante térmico da NatureHike com o já de guerra saco de dormir. No velho hábito, apenas a lanterna de cabeça, agora usada como abajur, ilumina o ambiente. Escrevo num caderno desses pequenos de capa mole e espiral (sim, ainda me sinto mais confortável escrevendo à mão, depois digitando palavra por palavra num rascunho de email no celular onde formatarei para postar) apoiado sobre um livro chamado 'Dinheiro Feliz', de subtítulo 'a arte japonesa de fazer as pazes com o seu dinheiro' que acabara de comprar ha poucos dias e penso: "certamente dinheiro feliz é o meu para esse japonês que o escreveu...". Ainda não li uma linha sequer. Páro, como algumas azeitonas com caroço que intercalo com chocolate granulado virado do pacote direto na boca. Enquanto bebo um pouco de água dessas garrafinhas plásticas ecologicamente irritantes por serem moles e barulhentas, meu pé direito balança no ar numa posição de pernas cruzadas meio sentada, meio largada transbordando ansiedade. Mato um pernilongo com uma frieza que não sei identificar e o pensamento já vai pra lembrança daquilo que um dia a faculdade me ensinou de que apenas as fêmeas de pernilongo nos picam. Pela fresta da janela semi aberta, observo uma única estrela brilhar, conseguindo focá-la apenas quando fecho o olho direito. Esse é um texto sobre solidão. Para começar a escrita, lembro que a última vez que andei por aí foi como romeira no último mês de outubro, saindo da ZL de SP até Aparecida do Norte. Ou seja, há 3 meses fiz aquela que disse ser minha última viagem. E, muito embora já tenha repetido essa ladainha algumas várias vezes nesses 7 anos de vida errante (setênios !), dessa vez faço essa afirmação com um emprego registrado, contrato anual de aluguel e internet com todo o kit Starter Pack da Matrix. De novo. Além de algumas rugas e quilos à mais, afinal cada granulado tem um preço a se pagar. Risos. A verdade é que já falei bastante sobre tudo que me motivou a sair por aí, mas nunca falei sobre os motivos que já me fizeram parar. E uma vez que nunca li nada a respeito, peço licença ao fórum para externizar as divagações desse ego e criar um contra ponto de equilíbrio com a Jovem Mística que me habitava e que já escreveu outrora por aqui. 😁 Pois bem, sei que muitas pessoas têm medo da solidão. Eu não sou uma dessas pessoas. E não afirmo isso com orgulho, afirmo apenas como um fato observável. Nunca me incomodei em ficar só, muito pelo contrário. Talvez pelo hábito enfiado goela abaixo desde tenra infância, sempre me senti confortável comigo mesma. Mas existe um perigo muito poderoso nesse prazer da solidão. A ideia aqui não é discorrer entre solidão e solitude. Vá você experienciar cada qual como um sommelier de vida. Mas como uma pessoa que tem grande gosto por estar só, cito algo que li por aí: melancolia é dor com açúcar. É sobre este prazer melancólico em estar só que estou falando. Nunca fiquei mais de 6 meses viajando direto, e nunca passei mais de 6 meses numa mesma comunidade. E o primeiro motivo que sempre me fez parar de viajar era quando não conseguia mais ficar só comigo mesma. A maior parte do tempo, como viajantes, somos o corpo estranho por onde passamos e onde chegamos. É praticamente inevitável que a clássica "curiada" [cu.ri.a.da. - s.f.: termo que aprendi em Goiás pra quando te chamam pra tomar um café e questionam tudo sobre sua vida e suas intenções por aquelas terras; informações estas que muito rápido serão de conhecimento público] vá acontecer. E quanto menor a comunidade, maior a curiada: totalmente compreensível, proporcionalmente invasivo! Estar constantemente sendo observada, estudada, indagada e justificando ou explicando, em algum momento, cansa. Isso também me lembra uma ilusão que tinha no começo das viagens de carona onde pensava que indo embora para qualquer vilarejo longínquo seria a fonte de toda solitude e paz. Errei feio, errei rude. Então, quando cansava de ter tanta gente curiando a minha vida nas pequenas comunidades, recorria à algumas semanas de férias nos grandes centros urbanos. Nada como a avassaladora solidão de estar fagocitada no transporte público de São Paulo às 18h de uma segunda feira. Mas depois que se resiste bravamente a fase das investidas na curiada e compreendem que você não oferece perigo à comunidade, você passa a ser "aceito" no meio. Digo aceito entre aspas por um motivo. Já explico. Esse ponto no qual a sua postura fala por si e você passa a ser aceito no meio sempre foi muito característico para mim pois era o momento em que paravam de se referir à mim como 'a paulista' e começavam a me chamar pelo meu nome, principalmente as pessoas mais velhas. Um momento glorioso. Mas lembre-se que disse que passamos a ser "aceitos" entre aspas. Isso quer dizer que ainda que você passe muito tempo imerso em convivência, você sempre tende a ser visto como ~o que veio de fora. Isso quer dizer que, ainda que você ame tomar chimarrão, se não nasceu no Sul, você não é de lá; ainda que você ame tomar tacacá, se você não nasceu no norte, você não é de lá. E, ainda que tenhamos o majestoso S.U.S. em território nacional, se você já precisou ser hospitalizado em outro estado, sabe do que estou falando. Essa limitada noção de pertencimento, uma hora, também cansa. Agora, no que tange as razões psicoemocionais, as questões físicas na relação com o próprio corpo e o envelhecimento em algum momento batem à nossa porta, mas, honestamente, sinto serem fatores muito mais adaptativos do que limitantes. Já os fatores mentais são mais desafiadores. Explico: quando comecei a viajar e era uma jovem de 20 e poucos anos, impreterivelmente as pessoas me perguntavam, todo dia, "o que sua família acha disso [de viajar por aí]; e você não tem medo?". Agora, com 30 e poucos anos, impreterivelmente as pessoas me perguntavam, todo dia, "você não tem marido? Não tem filhos" seguido de um "tadinhaaaa...!" de crueldade com precisão acupuntúrica. Isso quando o interesse pelo estado civil não está diretamente relacionado com o pré julgamento de possivelmente eu ser garota de programa. A sociedade definitivamente ainda não está preparada para aceitar o corpo livre da mulher exercendo a sua liberdade. E em algum momento, isso cansa. E muito. Ainda sobre o Machismo-Nosso-de-Todo-Dia, posso citar um fato que me deixou bastante pistola. Em março do ano passado fiz aquela que seria minha última viagem de bicicleta. Coisa pequena, coisa pouca. Saí do Sul de MG e fui rumo ao Nordeste de Goiás, pouco mais de 1000km, em 26 dias pedalados bem lenta e desfrutadoramente. Desses 26 dias, 21 foi o total de vezes que homens me abordaram para """me oferecer ajuda""". Veja bem, não é como se eu estivesse parada com minha bicicleta, com as rodas viradas para cima, sinalizando um pedido de ajuda; não é como se eu estivesse empurrando a bicicleta na contra-mão; não. Eu estava pedalando, exercendo meu direito de ir e vir, e em algum momento surgia um homem do nada me fechando no acostamento ou andando pareado ao meu lado de forma bem perigosa e me abordando para me oferecer """"ajuda"""" para me levar! O pior de todos foi um motoqueiro no meio de uma das infindas monoculturas de pinus em MG que quase me infartou me rodeando com a moto dele me mostrando uma corda. Ele disse que me viu passando no dia anterior e a foi buscar pra eu amarrar na bicicleta e ele me rebocar. !!!!!!!! Não cabem em palavras o susto e o ódio proporcionais, mas vou dizer que minha resposta foi: você tem 5 segundos pra sumir daqui de perto de mim que eu não tô com saco pra olhar pra você! Ele arregalou os olhos, e arrancou. Ajuda boa é aquela oferecida quando solicitada; sou da ideia de que ajuda oferecida e que não foi pedida, não é ajuda. É tentativa de colonização. Além disso, unanimidade entre as avós: de boas intenções o inferno está cheio! O machismo não atinge apenas as mulheres que viajam solo por aí, mas ter que ser forte todo dia solo, uma hora, cansa. E, falando em fazer as coisas solo, deixei um dos motivos mais brabos por último: Alexander Supertramp. Sim, ele estava certo. A porra da felicidade só parece ser real quando compartilhada! Comecei afirmando que não tenho medo de estar sozinha e mantenho a afirmação, mas se sentir sozinho ninguém gosta. Tantas foram e são as paisagens indescritíveis, milagres inefáveis e situações milagrosas testemunhadas em um único dia de viagem que até hoje me pergunto se aconteceram mesmo ou se foi alucinação... Tudo porque não tinha um olhar pra eu trocar e saber que tinha outro universo testemunhando também. E ainda que quisesse dar uma de evoluída metida a Siddharta e tocar o chão para a terra ser minha testemunha, acredite, a terra não vai te chamar de mozão no fim do dia, parça. E, ainda que esteja cansado de curiadas, da sensação de não pertencimento e do machismo diário, quando se enfrenta tudo isso solo é muito mais pesado. Esse é o ponto. E dessa kitnet, cheia de ecos e vazia de ambições, tomando diariamente minhas pílulas azuis de coppertop, deixo registrado alguns motivos que, isolados ou somados, ao longo dos anos, contribuíram para eu escolher parar de viajar. Adiciono que essas são razões aplicáveis à modalidade 'viajar sem dinheiro' ou 'roots', na qual para permear o meio as interações e ligações sociais são essenciais e obrigatórias. Viajando com dinheiro, a maior parte do descrito é irrelevante (salvo machismo, onipresente) uma vez que você obtém o que precisa pagando e não necessitando do sucesso das suas interações sociais. Supertramp, você sempre esteve certo... e isso é uma droga!!!
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