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  1. Este é o meu primeiro relato para o mochileiros.com. É uma maneira de agradecer esse fórum, sem o qual eu dificilmente teria animado para fazer essa trip, também foi aqui que encontrei conhecimentos que me foram muito úteis depois. Sem contar que é o nascimento do meu lado aventureiro, que estava em gestação fazia algum tempo, só olhando os posts aqui do fórum. A ‘Pedra aguda’ é uma montanha localizada em Itajubá-MG, na serra da Mantiqueira. Quem já passou pela cidade com certeza já notou o maciço de pedra visível de qualquer lugar da cidade, a face norte da montanha. A 1570m de altitude é um passeio relativamente fácil e com uma recompensa incrível, uma visão de quase toda a região, com a vista de muitos outros picos da serra até o limite do horizonte. -Vista da lateral por onde é feita subida ->Localização do pico para o google -22.477387,-45.448944 Para ser sincero esse passeio começou alguns anos antes, quando eu era moleque de uns 17 anos e uma turma de amigos se juntou para subir o pico, que é um passeio comum para quem é aqui da cidade. Na época a minha forma física deixava bem a desejar e logo na primeira subida mais pesada minha pressão caiu e tive de voltar com uma sutil dose de humilhação. Como a pedra é visível de cada canto da cidade foi algo que não deu para esquecer, e virou algo pessoal vencer aquela subida algum dia. Planejando algumas trips (que eu conto mais para o final) pensei que subir a pedra seria o ideal para começar a me preparar, também vi a chance de resolver esse assunto há muito tempo pendente. O plano inicial era acampar com uns amigos, mas os mesmos não se sentiam preparados. Eu já estava com tudo pronto havia algumas semanas, tinha investido em mochila, barraca, saco de dormir, etc., um gasto inicial que todo mochileiro tem que fazer, e é preciso estar certo do que se quer para não parecer que está queimando dinheiro, por que não são tão baratos assim (principalmente quando se é um universitário duro só com bolsa de estágio). Meus amigos acho que se intimidaram um pouco com os planos e decidiram que não estavam prontos para acampar. Como eu já havia decidido, investido e sonhado com esse acampamento, resolvi que ficaria lá durante a noite independentemente se alguém estivesse junto. Partimos 7:00 do bairro Medicina, o último bairro urbano antes do rural Anhumas, onde se localiza a serra que subiríamos. Foram 7km de caminhada antes da porteira da estrada que leva até a trilha, um passeio bem calmo e bonito, com direito a vários ipês em flor, igrejinhas do tamanho de um cômodo, sítios, passarinhos cantando e tudo que há de bom nesses cantos de minas. Iriamos pegar uma entrada que eu havia me informado com uma senhora do bairro, mas por sorte encontramos alguns ciclistas fazendo uma excursão pela estrada. Eles estranharam que estivéssemos subindo por ali, e informou que a entrada que todos usavam era um pouco mais para trás. Conforme pude confirmar durante a volta, aquele era mesmo o melhor caminho. -Não poderia faltar o ipê em flor Na porteira havia um pessoal de carro, conversamos um pouco, eles também iam subir, mas com um horário diferente do nosso. Nos deram algumas instruções de onde ficava a entrada da trilha e sobre o abrigo da montanha, que fica em um sítio da Triboo Montanhismo, onde poderíamos pegar água e fazer um descanso. Subimos pelo que chuto ser 2km. Minha primeira experiência com uma cargueira me fez refletir como vale um equipamento ideal, apesar de estar com uns 15 quilos nas costas não sentia eles incomodarem de maneira alguma, creio que meus amigos com mochilas comuns, sem barrigueira nem nada, estavam sofrendo bem mais de desconforto com cargas bem menores. Um rebanho de vacas não pareceu gostar muito da gente, nos acompanhou de perto um trecho, o que fez os menos tranquilos se cagarem de medo. Também caímos na armadilha de um pé de laranja carregadíssimo: a mordida no gomo de ponkan foi a mais decepcionante que já tivemos. Na verdade aquilo era um limão. -Bifes revoltados -e sooobe... Chegando perto do pé da montanha não tínhamos notado nenhum sinal do abrigo, um amigo meu olhou além da cerca que ia do lado e não viu nada. Havíamos passado ele com certeza e achamos melhor seguir do que voltar. Paramos em um bambuzal que já haviam comentado ser bem na entrada da trilha (até esse ponto é possível chegar de carro). Ainda que tivessem comentado que a entrada ficasse mais para a ‘esquerda’, achamos que essa entrada era mais à frente, e seguimos pelo descampado à direita. Isso nos custou uma busca de meia hora pela entrada no lugar errado e mais um descanso longo para compensar o desânimo. Andando um pouco encontrei a entrada rente a uma cerca. Era uma entrada bem aberta e certamente era ali. Encontrei um casal descendo, eles confirmaram que esse era o caminho. Estávamos prontos para subir. -Entrada da trilha A trilha é boa. Bem aberta, e para facilitar a subida boa parte do trecho tem degraus formados pelas raízes. Em alguns pontos a inclinação é grande e os degraus bem altos, mas ainda que a malhação das pernas seja garantida, algumas paradas pelo caminho e um pouco de paciência tornam a subida possível para qualquer um (qualquer um mesmo! Conforme vocês podem ver um pouco mais abaixo). E pela primeira vez na viajem senti o peso da carga, principalmente pelo equilíbrio, onde meu centro de gravidade estava mais para trás enquanto eu fazia aquela subida íngreme e precisava me jogar um pouco à frente para me garantir estabilidade. Usar as mãos é imprescindível em algumas partes da subida. -A subida O casal de amigos que estava junto foi o que mais cansou, paramos algumas vezes para que eles pudessem nos alcançar. A chegada ao pico foi fenomenal, de repente o mato se abre em um mirante com uns 250 graus de vista para a região. Pode-se ver muito longe, o observatório nacional de astrofísica (LNA), o Pedrão, a Serra dos Toledos, e outras montanhas a se perder de vista (Dizem que os Marins são visíveis, mas não conheci lá para poder identificar ao certo sua silhueta). Logo notei que o montanhista dormente em mim tinha despertado, mesmo sem nunca ter praticado montanhismo tive certeza que o que eu fazia naquela hora todos os outros montanhistas faziam por instinto: identificar na paisagem outros picos para serem enfrentados. É uma daquelas paisagens que não cabem em foto, vídeo ou imagem panorâmica. Simplesmente fantástico. Há o mirante e um pouco acima, no ponto mais alto da montanha, uma pequena clareira perfeita para acampamento, suportando 2 ou 3 barracas sem problemas. A única coisa ruim nessa chegada foi o sol das 13:30 que estava estalando de forte. Um pouco mais tarde chegou um casal, ficou 15 minutos e foi embora com um ânimo bem mais fraco que o nosso. Almoçamos e começamos a montar a barraca. Logo meus amigos precisaram descer para poderem chegar antes da noite na cidade. Fiquei sozinho e tirei um descanso deitado em uma das poucas sombras da clareira. Achei que longe em distancia, altitude e acesso não encontraria muitas pessoas, mas foi o contrário, depois disso ainda chegaram a passar cerca de 15 pessoas pelo pico, entre elas (Espantem!) um moleque de 3 anos!!! Mesmo que os irmão ou primos que estavam juntos o tivessem ajudado a subir os degraus mais altos, aquilo era assustador. Um garoto bem vivo, com cara de arteiro, nariz escorrendo, esse tinha a marca daquelas crianças que corriam pela roça, brincavam na terra e tem a resistência que os pobres garotos que foram criados no carpete (o que foi meu caso) não tem. -A carga Há um outro acesso ao topo pelo outro lado da montanha, uma travessia bem maior em que se passa por outros lugares adjacentes como o ‘pico do galo’ e a ‘pirâmide’, mas isso fica para outra vez. O por do sol foi ótimo e no começo da noite o tempo limpou bem e pude ver o céu super estrelado. Não esfriou tanto quanto achava que iria e passei confortável a noite. Sozinho em um lugar desses você não se acostuma de cara, mas logo está colhendo os benefícios da solidão junto com a beleza do lugar. A vista da cidade iluminada, o tamanho da área que eu podia ver, tudo isso me levou a tantas reflexões que seria preciso outro relato para detalhar. Uma feijoada em lata com pão de torresmo terminou de me derrubar junto com o cansaço e as 20:30 já estava dormindo. Despertei no meio da madrugada, já descansado, e esperei o sol nascer, o que não pude ver diretamente devido à direção da montanha e do mirante, mas ainda assim foi memorável. Infelizmente a água que eu levei não foi a medida certa e me preparei para a descida com os últimos goles de água. -Indo embora Desmontei o acampamento e comecei a descer por volta das 08:30. A descida foi bem mais tranquila e fui ajudado por um bastão de caminhada perfeito que encontrei pelo caminho, que me ajudou principalmente contra o chão escorregadio cheio de folhas. Fiz a descida em menos de uma hora e lá em baixo encontrei um outro casal que queria subir (Por que será que tantos casais procuram lugares isolados no meio do mato??? rs). Passei algumas informações (eles também nunca tinham subido antes) e também passei o cajado que havia me ajudado tanto e comecei a descer. Resolvi ignorar o abrigo, o qual acabei não visitando e fui pegar água em uma bica mais para a frente. Na volta a boiada (ou manada de animais assassinos) não pareceu muito amigável de novo, tanto que me fecharam a passagem e um boi parecia animado para avançar. Nunca tive medo desses animais, mas meu instinto não me recomendou seguir por ali (a história da música ‘menino da porteira’ serviria de lição? rs). Cortei caminho por outros pastos, e após alguns contratempos, como arbustos cheios de espinhos e terreno íngreme, cheguei à estrada do Anhumas. A caminhada foi broxante, meus dedos dos pés tinham bolhas pequenas e a bota se mostrou mais justa do que deveria, não que fosse apertada, mas não seguia a recomendação de ser bem folgada na parte da frente para não machucar nas descidas. Um pouco de mal-humor começou. Resolvi pedir carona ao primeiro que passasse, a lei de murph falou mais alto e em 3km cerca de 20 carros haviam passado por mim e nenhum na direção certa. Um que veio na direção correta quase parou para mim, mas logo acelerou e seguiu. Na metade do caminho depois de passar por alguns bares fechados vi ao longe um aberto, do lado do campo de futebol , e só consegui pensar em uma garrafa gelada e suada de cerveja. Chegando perto do bar, uma reviravolta: uma caminhonete parou do meu lado e me ofereceu carona. Pulei na caçamba sem demora e aproveitei com conforto o resto da volta. -A carona milagrosa Como iniciante aprendi algumas lições, como melhorias na arrumação da mochila, recursos a levar e coisas a trocar - como por exemplo a bota que poderia ser um numero maior para ficar mais folgada, ou a necessidade de ter uma lanterna de cabeça no lugar de só uma de mão. Essa é a primeira de muitas histórias, pretendo explorar mais do que a serra da Mantiqueira tem para oferecer, ganhar experiência e no final do ano, durante as férias, fazer o que estou planejando por um tempo: conhecer as inúmeras travessias do litoral do sul do Rio e São Paulo, em uma maratona, uma após a outra. Se alguém aí que já conheça essas paradas quiser conversar, aceito dicas! E (por enquanto) é só isso.
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