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  1. DESMORONADO : Conquista inédita do Cume da Serra dos Itatins-Juréia Foi na madrugada gelada de início de inverno que aquele titã rosnou. Acampados naquele selado úmido e congelante, três homens se espremem em suas redes e são testemunhas do grito do gigante que lhes assombra até a alma. Eles estão a poucas horas de alcançar, não só a maior montanha da Serra dos Itatins-Juréia, mas uma das maiores montanhas de toda a cadeia que compreende a parte litorânea da Serra do Mar Paulista. O vento uivava no cume do DESMORONADO, o barulho fazia estremecer a montanha e era como se o monstro tivesse a nos dizer que não se entregaria facilmente. Foi no início dos anos 2.000 que eu tive o privilégio de botar os olhos naquela cadeia de montanhas. Estava acompanhado de um primo, tentando realizar a travessia pelas praias selvagens da Juréia. Havíamos partidos de Peruíbe com destino a Iguape e já naquela época era preciso enfrentar a fiscalização ferrenha que fecha a passagem pelas praias e foi justamente da Praia do Una que vi meu queixo cair diante daquela cadeia rochosa que cercava todo aquele paraíso, em uma das áreas mais preservadas e fantásticas do planeta. Naquela época não existiam mapas de satélite, não como hoje e eu nunca fiquei sabendo como se chamavam aqueles monstros rochosos que se erguiam no meio da grande floresta paulista. Foi preciso que se passasse 15 anos para que meus olhos se voltassem novamente para aquele lugar, justamente quando sem querer me deparei com um tal Dedo de Deus Paulista e daí para frente me enterrei em estudos de cartas topográficas, imagens áreas e caminhos selvagens. Em 2015, juntamente com outros exploradores, tivemos a honra de reabrir a trilha que levava ao Dedo de Deus e no começo desse ano, outra expedição nossa, inédita, ascendeu ao cume do MORRO DAS TRÊS PONTAS, aonde alcançamos pela primeira vez o topo do Pico Motchaka. Mas uma coisa sempre me intrigou, o Dedo de Deus Paulista era uma montanha lendária, mas seus 1.333 metros estava muito longe de ser realmente o cume da Serra dos Itatins-Juréia, muito porque, as cartas mostravam que a nordeste dele, longe, mas muito longe de qualquer lugar habitado, existiam picos gigantes que poderiam passar de 1.400 metros de altitude. Comecei então a devassar toda a internet a procura de mais informações, mas como internet é uma coisa recente, também procurei me informar com outros exploradores das antigas, conhecedores da região. Debulhei materiais antigos e revistas do gênero, pesquisei em mapas de tudo que é lugar, me enfiei de cabeça em tudo que era artigo relacionado àquela serra e para minha surpresa, foi como se praticamente aqueles cumes nunca existissem. Já há vários meses eu vinha me dedicando àquele ofício, um trabalho paciente de pesquisas e observações de mapas de satélites e foi aí que senti minhas pernas tremerem ao perceber que aquele cume perdido naquela serra esquecida poderia também ser um dos maiores cumes de toda a faixa litorânea de toda a Serra do mar do Estado de são Paulo, já que algumas altitudes no litoral norte, se encaixavam somente no Parque Nacional da Serra da Bocaina. Vi que alguns picos se destacavam pela sua altitude, como o Cuscuzeiro 1280 m, o Corcovado de Ubatuba com 1180 m, a Pedra da Boracéia em Bertioga com 1250 m e o maior de todos eles, o Pico São Sebastião, em Ilha Bela, com impressionantes 1370 metros aproximadamente, mas nenhum deles passavam nem perto dos gigantes das Serra dos Itatins, na Juréia. Diante de toda essa informação, não havia mais nada o que fazer, era hora de montar uma expedição de gente grande e ir lá naquele fim de mundo e tirar a dúvida. Então comecei a me concentrar nas pesquisas específicas. Bom, primeiramente encontrei nas cartas, dois possíveis picos que poderiam se tornar o cume da Serra, sendo que um deles já de cara me dizia que estava acima de 1.400 metros e outro, um pouco mais bicudo e a sudeste deste, estava muito próximo disso. Só que existe um grande porem: naquela região vários picos contam com torres rochosas nos seus cumes e infelizmente a carta topográfica não consegue identificar esses espigões de pedra, inclusive o próprio Dedo de Deus Paulista não passa de 1.100 metros, tanto na carta, quanto no satélite e todo mundo sabe que ele é 200 metros mais alto que isso. Então não havia o que fazer, tínhamos que montar uma estratégia e estarmos preparados para escalarmos os dois picos, caso nos deparássemos com esse tipo de torre no pico mais à sudeste, a uns 2 km do primeiro. Outro fato que é necessário relatar é que esses dois picos em primeiro plano não pareciam oferecer uma coisa muito importante para atrair qualquer montanhista para o seu cume e talvez esse fosse um dos grandes motivos de ter se mantido virgem até aquele momento. Quem em sã consciência se meteria a enfrentar um vara-mato por dias para chegar ao seu cume e não enxergar coisa alguma? Pois é, esse também era o grande problema para atrair mais algum trouxa (opsss, montanhista) que pudesse acreditar naquele projeto. Ai que veio o pulo do gato! Nos estudos encima do mapa de satélite localizei um grande desmoronamento que rasgava a montanha por uns 200 metros bem ao lado do cume, sendo que no mapa, parte deste deslizamento gigante, se precipitava no vazio da parede por quase 100 metros e isso, na minha cabeça, era visual certo de todo a parte sul da serra, justamente a que nos daria vistas para todos os grandes picos e do litoral de toda a Juréia. Escolhido o grupo a dedo, geralmente os mesmos retardados de sempre, que se metem nessas enrascadas, havia agora chegado a hora de chegarmos num consenso de onde partiríamos. Já era nítido e notório que partir lá do litoral era coisa impensável, não só pela logística quase impossível, mas também porque jamais conseguiríamos uma autorização da administração da Juréia para podermos subir, então uma coisa era certa: a expedição deveria partir de Pedro de Toledo, a cidade mais perto do acesso norte da montanha, praticamente longe da reserva e sem as necessidades burocráticas.. Mesmo assim, ainda teríamos que conseguir uma autorização de alguma fazenda, onde seus administradores não são muito afeitos a forasteiros transitando por suas terras e plantações, geralmente de bananas. Por isso mesmo tratei logo de montar pelo menos três planos diferentes, todos perto um do outro, mas saindo de três fazendas diferentes, tudo para garantir uma boa chance de conseguirmos passagem livre. O plano principal era partir de uma fazenda de bananas exatamente a 10 km de Pedro de Toledo, bem às margens da Estrada do Despraiado. Sabíamos que o mais sensato erámos ter ido ao local e conseguir essas autorizações previamente, mas a distância e a falta de tempo nos fizeram abortar essa parte do plano e então decidimos que isso teria que ser resolvido tudo na hora mesmo. Montada a estratégia, escolhemos o feriado de junho onde poderíamos desfrutar de 4 dias para tentarmos lograr êxito, mas quando esse dia chegou, os possíveis integrantes começaram a debandar um a um, alguns por motivos de trabalho, outros por motivos ignorados e alguns talvez não tivessem convictos de que realmente essa expedição pudesse mesmo valer a pena diante do esforço fora do comum a qual ela se apresentava. No fim acabaram sobrando apenas eu e o Natan Sanches, número insuficiente para pôr em pratica tamanha grandeza expedicionária. Foi aí que de última hora arrumamos mais um sem noção para encarar o gigante de frente e foi assim que se juntou a nós, Paulo Potenza e o grupo se completou não com o que tinha de melhor, mas com o que tinha disponível, ( rsrsrsrsr). Parti de ônibus para capital Paulista, onde esperaria no terminal rodoviário do Tietê pelo carro do Natan. O local combinado era nada mais nada menos que a boca do lixo da rodoviária, onde transeuntes, prostitutas, pinguços, travestis, nóias, drogados, mendigos, ladrões e outros vagabundos em geral fazem do local, seus lares e eu, menino vindo do interior, fui apresentado à anti-sala do inferno e foi bom para eu ir me acostumando com o que estava por vir. Logo que o carro chegou, pedi licença ao capeta e me retirei daquele antro em direção à Pedro de Toledo. O Natan sentou a bota no acelerador, sempre contando com seu copiloto preferido, Potenza, que ia passando as marchas no tempo certo e, rapidinho, já nos vimos passando em frente à entrada da cidadezinha do Vale do Ribeira, onde logo à frente, numa pequena rotatória, viramos para a direita, andamos 5 km e viramos à esquerda na pracinha do vilarejo de Três Barras, caindo assim na famosa Estrada do Despraiado. Passamos encima da ponte sobre o Rio do Peixe e 5 km depois do povoado, estacionamos em um recuo da estrada, bem em frente da fazenda que havíamos marcado no mapa, com a ajuda do traklog previamente traçado. Já passa das 2 horas da manhã e é claro que nós não iríamos incomodar os moradores da fazenda àquela hora da noite, na tentativa de obtemos uma autorização para passar e o jeito foi nos acomodar dentro do carro mesmo até que o galo cantasse, nos avisando que mais um dia havia nascido. Estávamos ali, bem em frente da Fazenda Primavera e o que mais nos alegrava era que se tratava de um lugar extremamente simples, até pobre, se comparado a outras entradas que havíamos passado, tanto que nem porteira havia, apenas uma tosca ponte de tronco sobre um pequeno afluente do Rio do Peixe. Quando o sol se levantou, fizemos o mesmo e assim que o ponteiro marcou sete horas, atravessamos a ponte desmontados e fomos tentar mendigar uma autorização para passar. Atravessamos a pontinha de troncos e duzentos metros à frente nos deparamos com um galpão aberto e uma casa simples, onde um cão preguiçoso nos olhava com cara de poucos amigos. Vimos logo que seus moradores ainda dormiam, então nos adiantamos até outro casebre, onde um senhor negro e sem calças se apressou para se recompor diante da nossa inesperada aparição. Fomos recebidos pelo seu Osvaldo, caboclo local que residia naquele lugar a mais de 25 anos. Contamos-lhe nossas intenções, mas o nativo pouco entendeu o que pretendíamos fazer. Ele coçou a cabeça, pensou, pensou, quis perguntar algo, mas deixou quieto, apenas disse que a estrada de 3,5 km que pretendíamos usar para ganhar uns 500 metros de desnível, estava totalmente interditada para carros e hoje não passava de uma trilha um pouco mais aberta. Para nós não importava, claro que se pudéssemos economizar duas ou três horas de caminhada dura, seria muito melhor, mas o grande objetivo, um dos principais para o sucesso daquela expedição era conseguirmos a autorização para seguir e isso acabava de ser dada, primeira etapa do projeto: efetuada com sucesso. Guardamos o veículo junto ao galpão, jogamos as mochilas nas costas e partimos. E já partimos em grande estilo, sempre subindo e alguns minutos depois passamos por uma bica de água e como já estávamos com o cantil abastecidos, passamos batido. A estrada/trilha vai serpenteando montanha acima sempre cruzando no meio de enormes bananais e quanto mais subíamos, mais as vistas se alargavam. Depois de uns 2 km chegamos à uma bifurcação, onde um rancho de lona azul é encontrado. Nesse ponto já estamos a 500 metros de altitude e nessa bifurcação pegamos o caminho da direita que vai se enfiando no meio da floresta, onde a estrada embica para cima de vez e vamos percorre-la por mais 1,5 km até que finalmente tropeçamos num casebre abandonado e ali paramos para um breve descanso antes de darmos início a expedição selvagem. Estamos na cota dos 700 metros de altitude e o Natan e o Potenza, vendo que haviam exagerado com o peso nas mochilas, resolveram refazer suas estratégias, tocar o foda-se e deixar parte da comida e alguns agasalhos no casebre e eu, como não havia nada para tirar, tive que me conformar e amargar um peso de mula andina nas minhas costas. Às dez e meia da manhã abandonamos de vez aquela choupana velha e quando nossos pés tocaram de volta o caminho que nos levaria ao início do grande vara-mato, já tínhamos consciência que havíamos entrado num caminho sem volta. Mais 100 metros à frente outra bifurcação nos faz pegar o caminho da direita, agora nos enfiando no meio do bananal abandonado onde nossas botas já empapam num brejo dos diabos e isso vai durar por uns 10 minutos até chegarmos na entrada da floresta, onde o vale do Rio do Peixe se apresenta para ser cruzado, hora de parar novamente e rever o plano traçado, estudar os mapas, calibrar o GPS, pedir proteção para o Curupira e para que os deuses tenham piedade das nossas almas. Nessas expedições, sempre traçava o caminho me valendo do satélite, mas desta vez, já muito mais experientes nesse tipo de mapeamento, decidi juntar satélite com carta topográfica, traçando o caminho minunciosamente, metro a metro, curva a curva, estudando cada linha, cada desnível, cada possibilidade, cada caída do terreno, tudo isso para que a gente conseguisse nosso objetivo com menor esforço, sem ser jogado contra abismos ou paredões intransponíveis. Foi um trabalho longo e de paciência, mas aquela expedição ia nos mostrar que mapa é uma coisa e comer bambu espinhudo, é outra. ( rsrsrsrsrs) Primeiramente não havia o que fazer, se não despencar até o fundo do Vale do Rio do Peixe, encher os cantis e subir novamente a outra margem para dar de cara com uma rampa inclinada, que nos indicava que ali era o sopé da montanha, num emaranhado de bambu, cipó, taquaras e outras vegetações plantadas pelo cão, para impedir a passagem de bisbilhoteiros. Calibramos a direção a seguir, no caso para cima mesmo e dei início ao vara-mato, pouco antes dos nossos relógios marcarem onze horas da manhã. Já de cara foi preciso colocar o joelho na boca por causa da inclinação, mas não se passou nem dez minutos para eles aparecerem no nosso caminho. Os malditos bambus com espinhos parecidos com anzóis foram os primeiros que tentaram nos barrar e para piorar, eram bambus deitados, que nos faziam rastejar feito vermes. Eu estava à frente e para minha infelicidade, havia esquecido minhas luvas e portava apenas uma camiseta e até o final daquela sessão de tortura, pagaria o preço pela minha ousadia, ou burrice. Quando a gente pensou que poderia estar vencendo os bambus espinhudos, fomos golpeados pelos cipós navalha, aquele que passa no pescoço e você acha que vai cortar até a sua jugular. As taquarinhas agarravam na gente, os cipós enroscavam nas mochilas, as bromélias furavam nossas calças, os espinhos dos bambus enfiavam na pele até o sangue escorrer pela pele, era um passo para frente e dois para trás. A caminhada não avançava, a vegetação ia enervando a gente de uma tal maneira que as vezes parávamos e ficávamos inertes, meio que a contar até dez para não explodir de tanta raiva. Foi nessa hora que nos demos conta do tamanho da enrascada que tínhamos pela frente. Quando conseguimos finalmente passar pela porta do inferno, do outro lado saiu um homem todo retalhado e ensanguentado e foi aí que tive que abrir mão de um agasalho de mangas comprida, na tentativa de minimizar o estrago que já havia sido feito pela vegetação. Deixado o caminho espinhoso para trás, o terreno melhorou, mas a inclinação continuava a mesma e logo quando chegamos a que nos pareceu meio com um bosque, paramos para um descanso providencial e um gole d’água, foi aí que um barulho fez com que a gente tremesse as pernas: Estávamos bem próximos de um enxame de vespas e era nítido e claro o som dos seus zumbidos. O Natan e o Potenza ficaram ainda mais assustados com a presença dos insetos, mas quando um barulho de porco ressoou na floresta, nós três já nos viramos e sem pensar muito, nossos olhos já tentaram localizar uma arvore para subir, porque ali ninguém queria virar presa de queixada ou mesmo de algum javali, mas felizmente, do mesmo jeito que veio, o som sumiu sem deixar rastro. O enxame de vespas abreviou nosso descanso e achamos melhor sair dali o mais rápido possível e então voltamos para o ofício de varar mato no peito. Quando tracei aquele roteiro, procurei evitar de ir até o cume daquela primeira montanha, mesmo porque, teríamos que descê-la novamente até o grande selado que nos serviria de “ponte” para passar entre duas gargantas afim de alcançarmos outra montanha, mas infelizmente ter desviado a rota desse primeiro cume acabou por se tornar um grande erro, porque acabamos ficando nos equilibrando numa curva de nível a uns 1.150 metros bem na encosta da serra. Não que o declive fosse assim tão perigoso de se caminhas, bem longe disso, mas a vegetação que se apresentou à frente nesse trecho nos fez mais uma vez comer bambu e todo tipo de vegetação espinhuda novamente. A gente não avançava nada e toda hora a vegetação acabava nos afastando do trajeto planejado, nos fazendo ziguezaguear hora para cima, hora para baixo. O dia foi passando e a gente enroscado naquele terreno e nossa água foi acabando e sem perspectiva de molhar a garganta com abundância. Foi aí que começou a surgir nas nossas cabeças as dúvidas sobre que rumo aquela expedição poderia tomar se não encontrássemos água no tal selado que havíamos vislumbrados a possibilidade de encontrar o tal liquido. Se não houvesse água ali, estávamos perdidos. A cada pequeno vale que descíamos e víamos que estava seco, fazia com que nossa decepção aumentasse. Ficamos envolvidos naquele vara-mato sobre a mesma curva de nível por quase duas horas e quando o terreno começou a nos jogar para baixo, sem nem percebermos que havíamos nos afastados da rota do GPS, foi aí que nos deparamos com um primeiro filete de água e mais abaixo ela jorrou aos montes e as caras carrancudas até então, se abriram num sorriso de alegria e felicidade. Mas aquela pequena nascente não era somente mais uma das milhares de nascentes que se encaminham para os vales para formar os rios da serra, era simplesmente a principal nascente que forma o GRANDE RIO DESPRAIADO. Era ali, exatamente naquele lugar que ele nascia e nós erámos provavelmente as primeiras pessoas que se tem notícias a botar os olhos na sua nascente, mas isso pouco importava naquele momento. Diante naquele achado, estávamos de volta ao plano principal, que era o de botar os pés no cume da Serra dos Itatins-Juréia. Bebemos o tanto de água que aguentamos e cada um colheu uns três litros. Ainda era umas três da tarde, mas a luz da floresta já começava a sumir. A gente ainda estava tentando chegar ao tal selado, muito porque à nossa frente se apresentou um grande abismo sem fundo, por onde o Rio Despraiado daria seus primeiros passos e para a gente não havia outra alternativa senão a de encontrar esse caminho, que nos levaria para o outro lado, servindo de passagem natural. Logo notamos que estávamos bem abaixo do selado, já envoltos na garganta e então calibramos nossa rota e começamos a ganhar altura para valer, mas era impressionante como não avançávamos de jeito nenhum. A gente subiu, subiu, depois começou a descer até que encostamos em outra grande subida à nossa frente e como era o Natan que fazia o ofício de navegador, pensei que havíamos chegado ao selado e ele havia tocado em frente, já que eu ainda tinha uma leve esperança de chegarmos o mais perto possível do Pico Desmoronado. Mas quando vi que ele fez um desvio da parede e começou a descer de novo, fui obrigado a interpela-lo o porquê da mudança de rota. Para minha surpresa e do Potenza, ele logo nos disse que ainda nem tínhamos chegado ao selado e que também não aguentava mais aquela vegetação. Foi preciso mais quase meia hora para que finalmente desembocássemos no Grande Selado, a 1.200 metros de altitude, uma área linda, plana e com grandes árvores espaçadas. Nossos relógios já estavam prestes a marcar quatro horas da tarde e eu queria me apressar e conseguir uma área para acampar e para isso só nos restaria umas duas horas antes que a noite chegasse de vez, mas o Natan e o Potenza me encostaram à parede: Diante daquele belo selado, eles não queriam mais arredar os pés dali, indo adiante num caminho incerto, subindo a nova encosta da montanha sem nenhuma perspectiva de encontrar uma área descente para acampar. De certo modo eles tinham razão, mas me intrigava ter que deixar de aproveitar mais duas horas, que poderiam talvez comprometer o seguimento da expedição, além do mais, tinha a questão da água. Se acampássemos ali, gastaríamos parte da água para preparar a janta, mas se subíssemos por mais duas horas, poderíamos saber se teríamos mais água perto do cume e se não houvesse água alguma, ainda teríamos a chance de economizarmos o máximo possível, revendo nossas logística, o que nos daria uma chance maior de sucesso. Não houve conversa com os dois e os argumentos deles eram imbatíveis: Estávamos sem dormir, cansados, famintos, todos estropiados pelos espinhos e pela caminhada dura até ali. Diante disso, não houve o que fazer, joguei logo minha mochila ao chão e demos por encerrado aquele dia de caminhada, hora de montar acampamento, cozinhar a janta e descansar os esqueletos. Em cinco minutos minha rede estava montada e decidimos que enquanto eles montavam os toldos para proteger nossas camas de mato, eu sairia à procura de outra fonte de água, porque com água disponível também ali no selado, poderíamos usufruir de um conforto muito maior. Na carta estava claro que em cada lado do grande selado nascia um rio, que iam tomar direções opostas. Primeiro tomei a direção leste, me dirigindo para o vale da esquerda de quem almeja ir ao cume da serra. Desci por uns duzentos ou trezentos metros, mas nada encontrei. Voltei para o acampamento e tomei a direção oeste, meio que me dirigindo para outra possível nascente do rio Despraiado(Espraiado na carta). Também desci por quase uns duzentos metros e quando já estava por desistir, avistei o reflexo da luz numa pequena poça no fundo do vale. Bingo! Voltei e dei a notícia para a galera, que logo se alegraram com a possibilidade de termos uma janta descente. Eles ainda estavam no ofício de montagem de redes e tenda e como não precisavam da minha ajuda, aproveitei para esticar as costas na minha rede e acabei apagando, vindo a acordar somente uma hora depois para me deparar com os mesmos caras, tentando montar as mesmas tendas e as mesmas redes, isso que dá não ter lido o manual antes de sair de casa. ( rsrsrsrsr) Fazia um frio de rachar, e a noite prometia esfriar mais ainda. Estávamos todos exaustos e após prepararmos a janta, cada um pulou para sua rede e foi tentar se aquecer como deu. Mas foi de madrugada que ele começou. Uma rajada de vento varreu toda a montanha e era ensurdecedor o barulho do vendaval que açoitava o cume do Desmoronado. No vale onde estávamos, parecia que as árvores tombariam encima da gente. Os urros do vento no alto da serra eram assustadores, como um dos meninos disseram: “Parecia que a própria montanha sairia caminhando e arrastando tudo que havia pela frente”. O Urro do titã perdurou por algum tempo ainda e a temperatura despencou de vez, mas quando o dia nasceu, tudo se acalmou e a gente pulou cedo da cama, vestimos nossas armaduras e nos fizemos prontos para enfrentar o desafio final, havia chegado a hora da conquista e para isso tínhamos que pôr a faca nos dentes e como D. Quixote, encarar o gigante de frente. Desmontamos tudo, tomamos café, colhemos água e partimos. Logo de cara temos uma parede íngreme para subir, mas no início até que a vegetação ajudou, mas não demora muito já estávamos lá nós de novo a comer bambu e a brigar com cipós, taquaras e bromélias espinhudas. Logo na primeira hora de caminhada, o caminho nos leva direto para um grande deslizamento, aonde uma grande parede de rocha nua, nos presenteia com a primeira visão de todo o vale e as montanhas que se entendem em direção de Itariri. Até então a gente havia tomado a direção sudeste e a partir do selado, nosso caminho fez uma curva bruscamente para o sul, ande teríamos que galgar quase todo o cume arredondado da próxima montanhas para aí sim, nos virarmos de vez para o leste, até tentarmos atingir o cume da serra. A pernada então continua para o alto, avançando lentamente, um pé à frente do outro, eu sempre na dianteira, revezando com o Potenza a dura tarefa de abrir mato no peto e o Natan fazia a parte mais importante, que era a de fazer com que a gente nos mantivéssemos o mais próximo possível no caminho previamente traçado no mapa. É uma navegação praticamente às cegas, sempre tendo que confiar no GPS do celular, mas como a vegetação não estava nem aí para tecnologia, insistia em nos mandar para onde ela queria e logo nos víamos longe da linha traçada, tendo que recalcular nosso rumo e procurar um terreno e uma vegetação mais favorável para podermos passar. Finalmente umas três horas depois de partirmos da área de acampamento, interceptamos outro grande desmoronamento que havíamos traçado no mapa. Era uma rampa inclinada, uma parede de barro de uns 100 metros ou mais, um rasgo na montanha. A chegada à RAMPA DA SERPENTE nos anima muito porque realmente é duro ficar arrastando uma floresta no peito sem um pouco de sossego e isso tende a nos deixar com os nervos à flor da pele. Aproveitamos o caminho desimpedido para ganhar altura e distância, mesmo tendo que escalaminhar o barranco. Ao chegarmos ao seu topo foi preciso passar com cuidado porque uma jararaca velha e gigante nos olha com cara de reprovação e põe a língua de fora, como a zombar da nossa cara por estarmos ali naquele fim de mundo, naquela terra onde somente os bichos rastejantes se atrevem a ir. Saímos pelo lado direito da rampa da serpente, subindo o barranco e nos enfiando por baixo de mais bambus. A nossa rota indicada pela linha do navegador, nos dizia que deveríamos seguir em frente, mas para escapar de mais uma vegetação fechada, resolvemos subir um pouco para a esquerda, haja vista que logo interceptaríamos o caminho que teria que fazer a sua grande curva para a esquerda. Esse trajeto nos deu a oportunidade de, através de uma janela na mata, podermos botar nossos olhos na montanha que almejávamos, mas o pico nos pareceu tão alto que chegamos a duvidar que seria mesmo o pico que buscávamos. A gente já tinha quase certeza que o pico a Sudeste do Desmoronado era muito mais baixo, mas visto de um ângulo diferente, ele era meio bicudo, então isso nos fez crer que poderíamos estar olhando para ele, mas nos enganamos bonito. Voltamos a ganhar altitude e o terreno melhorou bastante e quando estávamos quase no topo de mais um morrote, atravessamos uma floresta de bromélias e passamos o mais rápido possível, já que são conhecidas como camas de jararaca. Daí para frente foi uma descida alucinante até o fundo do vale, tendo que fazer uma descida controlada para não nos tornarmos vítima da força da gravidade e irmos parar com a fuça no leito de um riacho que aliás, nos fez mais uma vez sorrir de felicidades pela água encontrada. Nosso caminho bordejou o rio por algum tempo até que do nada e sem percebermos, um grande descampado surgiu à nossa frente, mas até então não sabíamos do que se tratava, estávamos confusos. Era como se uma grande enchente tivesse passado por ali e arrastado todas as árvores. Nosso GPS dizia que o tal desmoronamento que buscávamos estava perto, mas não conseguíamos ver coisa alguma. Onde estava a borda da serra? Porque ainda não conseguíamos ver o litoral? Será que o GPS havia parado e nos deixado na mão justamente ali? Atravessamos o grande brejo que à nossa frente se apresentou, mesmo sem saber se aquele era mesmo o caminho. Pulamos grandes troncos até que surpreendentemente demos de cara com uma prainha de rio que se estendia para o leste, numa fenda em forma de vale, gigantesca e inesperada. Paramos ali para respirar um pouco, descansar e comer algo, mas não por muito tempo. Logo nos levantamos e ainda totalmente desorientados, saímos a navegar meio sem rumo e quando o nosso navegador percebeu, já estávamos quase a cair nos abismos profundos das encostas daquelas paredes. Havíamos saído completamente da rota e tínhamos andado perpendicularmente ao caminho traçado, foi aí que caiu a nossa ficha: Aquele grande vale era nada mais nada menos que os grandes desmoronamentos que havíamos encontrado no mapa de satélite e que , por incrível que pareça, não se estendia pela parede que deveria cair no abismo colossal da serra e não passava de uma vale formado por um riacho, com os tais desmoronamentos convergindo para o centro do vale, o GOOGLE EARTH , acabava de nos dar um tombo gigantesco, com um erro grotesco no mapa de satélite, uma distorção impensável. Percebendo o erro no mapa, agora sabíamos que nosso caminho deveria seguir por dentro do grande vale, subindo o riacho até a sua nascente por uns 200 metros. Até tentamos fazer isso, mas como em um primeiro momento o terreno se mostrou quase impassável, resolvemos bordejar pela direita, varando mato e quando vimos que o riacho começou a correr livre dos troncos e capim alto, pulamos para o seu leito e fomos subindo até que ele acabou na sua nascente principal, encravada entre dois desmoronamentos monstros, um a esquerda e outra à direita, justamente a última rampa que nos levaria para a conquista final. Aquela era sem dúvida a nascente mais alta de toda a Serra dos Itatins, um veio d’água a quase 1.400 metros de altitude. Nós paramos ali para tomar um último gole e enquanto a gente se fartava, ficamos meio em silêncio e aí me veio à cabeça que poderíamos ter enfrentado um dos piores terrenos de todo o Estado e chegando ao cume, não conseguir ver coisa alguma, só mato e mais mato. Valeria pela conquista inédita, claro, mas a gente sabe muito bem o que todo montanhista busca no cume de uma montanha. O dia já ia lá pelas três horas da tarde quando a gente acertou o azimute do nosso roteiro para ir em direção ao cume e o nosso caminho passaria mesmo por escalar a grande parede do desmoronamento, uns 100 metros de escalaminhada em um terreno solto, onde as pedras rolavam só de olhar para elas. A subida foi lenta, devagar, cada qual no seu ritmo, como se cada um fosse alcançar seu próprio Everest e quando todos chegaram no alto, já novamente na borda da floresta, nos juntamos para novamente varar mato e tentar encontrar, com a ajuda do gps e da elevação do terreno, onde seria o cume daquela serra. Subimos o barranco e para variar, como não poderia deixar de ser, enfrentamos um pouco mais de bambus e cipós. Tudo ao nosso redor era mato e era até difícil encontrar onde estaria o ponto mais alto, mas quando chegamos ao local indicado pelos nossos equipamentos de localização por satélite, ficou claro que uma grande árvore, que nasceu justamente em uma pequena elevação marcava o CUME DO DESMORONADO. Não, nessa hora não houve qualquer comemoração, na verdade, da minha parte houve foi um pouco de frustação por até então não conseguir as grandes vistas do qual fui buscar. Mas a gente havia se dado conta de que acabávamos de realizar um grande feito, naquele dia 16 junho de 2017, finalmente alguém havia jogado luz num enigma que perdurava por muito tempo, o ponto mais alto da SERRA DOS ITATINS-JURÉIA acabara de ser conquistado, agora o cume daquela serra esquecida já poderia constar nos mapas geográficos do Estado de São Paulo e o nome acho que não poderia ser mesmo outro, fazia menção ao acidente geográfico que marcava sua localização. Ainda teríamos que auferir sua altitude, pelo menos uma altitude aproximada e bem próxima do real, mas antes era hora de ir atrás do bônus da conquista. O cume da serra incrivelmente fica bem nas bordas de uma parede de quase mil metros de desnível, sendo uns 500 ou 600 metros de uma parede de noventa graus de inclinação, em um dos maiores abismos colossais da Serra do Mar Paulista. E tudo isso a não mais que míseros dez metros do cume. Hora bolas, se conseguíssemos nos aproximar dessa parede vertical seria claro que poderíamos ter as vistas que buscávamos, então no enfiamos em direção as bordas do vazio, seguindo para o sul e quando chegamos lá, ninguém acreditou no que estava diante dos nossos olhos. Entre cotoveladas e empurra e empurra, por pouco um de nós não foi conhecer as profundezas do abismo pela primeira vez na história. Cada qual lutava com as armas que tinha para poder se maravilhar com aquele espetáculo que se descortinou diante dos nossos olhos. Ainda era uma pequena janela miserável entre a paisagem, mas já foi o suficiente para cada um de nós se encantar diante de tamanha beleza. Aquilo nem parecia real e mesmo com o tempo apresentando uma bruma que cobria parte do horizonte, assim mesmo, a gente pode se dar conta que estávamos diante de um dos maiores espetáculos de montanhas do Brasil. Ali estava ela, toda a Reserva Ecológica da Jureia diante dos nos pés, com toda as suas matas, seus bichos, seus rios e suas praias selvagens, um dos maiores patrimônios da Humanidade. A sudoeste, ainda meio escondido entra as nuvens o gigante Dedo de Deus Paulista e toda a sua cadeia de montanha com espigões de pedras espetados acima da floresta. Do nosso lado esquerdo, quase já fora da nossa visão, o PICO SUDESTE 1.389 m, justamente aquele que poderia ser o cume da serra se por acaso viesse a ter alguma torre rochosa em seu cume, do qual a carta não podia nos mostrar, era visivelmente bem mais baixo, com seu topo coberto de floresta, quase sem nenhuma elevação proeminente e essa visão completa desse outro pico mudava todo o rumo daquela expedição. Nós três estávamos em êxtase, mas sabíamos que ainda faltava uma janela maior, que nos desse a condição de fazermos umas fotos e uns registros melhores e ainda sabíamos que as condições meteorológicas pela manhã são muito melhores que na parte da tarde, então decidimos que iríamos acampar no cume, no dia seguinte poderíamos procurar outras janelas, amassar os bambuzinhos, abaixar alguns galhos e brotos que nos fechava ainda parte da visão. O dia já ia findando, mas a gente ainda não havia localizado nenhuma área propícia para acamparmos. Pensamos em descer e tentar algo mais abaixo, mas depois decidimos que seria muito mais cômodo ficarmos no cume, onde pretendíamos, no dia seguinte, fazer a medição com os 3 equipamentos de gps e também abrir uma janela maior que nos desse uma tomada de 180 graus de toda a Juréia. Como estávamos com redes, a única coisa que precisávamos fazer era amassarmos os bambuzinhos e limpar os cipós para liberarmos uma área entre três árvores. Fizemos um ótimo trabalho e em mais cinco minutos pendurei a minha rede, enquanto os meninos, mais uma vez, ficaram umas duas horas brincando de montar tendinha (rsrsrrs). Nos reunimos para fazer a janta e para discutirmos o rumo da expedição. Estava bem claro que o tal Pico Sudeste não passava de uma colina perto do Pico Desmoronado, além de visivelmente muito mais baixo, não havia nada nele que justificasse mais pelo menos um dia de caminhada e vara-mato num inferno de bambus e cipós. Poderíamos apenas, no outro dia, nos dedicar as contemplações e a abrir uma nova e boa janela que nos desce o máximo de visão possível de toda aquela serra espetacular. Depois de uma janta de gala, todos nos recolhemos antes das nove da noite e quando o sol nasceu, trazendo um novo dia, o Potenza e o Natan se encarregaram de fazer uma foto legal e depois disso, eles mesmos voltaram para a ”cama” novamente e só acordamos muito tempo depois, quando o galo já estava roco de tanto cantar. Foi uma noite tranquila, muito diferente da noite anterior, passada no selado. Nosso primeiro passo logo pela manhã foi de instalar uma capsula que iria conter nosso Livro de Cume, onde se um dia alguém também ascender a esse cume novamente, poderá ler os registros da conquista e também deixar seu recado para as gerações futuras. Aproveitamos para fazer a medição da altitude, claro, é uma medição prévia, talvez um pouco mais, talvez um pouco menos, mas chegamos a um consenso de que por hora aquela seria uma medição bem próxima da realidade. Juntos, os nosso três GPS, nos deram em média uma altitude de 1.425 metros e aí estava a prova de que realmente tudo havia batido, tanto as cartas, quanto as medições por mapas de satélite e os nossos equipamentos só vieram para confirmar definitivamente, estava estabelecido o novo cume da SERRA DOS ITATINS-JURÉIA, o Pico DESMORONADO (1.425 metros) agora era oficialmente o topo de toda a serra e estava entre um dos pontos mais altos de toda a Serra do Mar Paulista. Enquanto o Natan e o Potenza seguiam para a direita do cume, tomei o caminho contrário, tentando achar uma nova janela, mas vi logo que a crista que desce para outro selado entre o Desmoronado e o Pico Sudeste, também não daria passagem nem para um mamute assustado por causa da vegetação entrelaçada e quando desisti de tentar essa rota e voltei para onde estavam os dois companheiros, já os encontrei com os serviços adiantados. Já haviam amassado toda uma grande moita de capim elefante, como também já tinham retirado todo os cipós e bambuzinhos que pudesse impedir a nossa vista. E dali para frente, a visão daquela serra com o tempo totalmente aberto, nos arrebatou a alma. Toda a comemoração que faltara no dia anterior, aconteceu ali, naquele espaço minúsculo e apertado. Os gritos de felicidade ecoaram e se espalharam por toda aquela serra, vazia de homens e cheia de encantos. Mais uma vez cada um queria lutar pelo seu espaço, cada um querendo tirar uma foto mais espetacular que o outro e os ângulos eram tantos e tão diversos que ninguém queria mais arredar os pés dali. O Dedo de Deus Paulista agora reinava soberano no horizonte e essa era a primeira vez que ele seria fotografado a partir do cume da serra. Também a sudoeste todo o espigão do Boa Vista com sua antena característica. A nossa frente os grandes abismos e os picos pontudos e rochosos transformavam aquela serra numa espécie de Serra dos Órgãos Paulista. A nossa esquerda e a nossa frente se estendiam uma floresta intocada com destaque para os Rios Una e Verde, bem como toda a extensão do Maciço da Jureia. Antecedendo a grande ponta da Juréia, as Praias do Una e logo após ela a Praia da Grajaúna, divididas pela ponta do mesmo nome e para finalizar a descrição dos principais atrativos bem ali aos nossos pés, o Pico Pogoçã, também conhecido como Nariz de Palhaço. Nós ficamos ali, até o meio dia, inebriados pelo cenário. Era muito provável que a linha que delimita toda a Reserva Ecológica Juréia – Itatins, passasse bem encima daquela cumeada toda, então sabíamos que aquela grande parede serviria de barreira natural para proteger uma das reservas ambientais mais importantes do mundo, tudo aquilo que estava à nossa frente, era área intangível, totalmente proibida para pés humanos e ficamos felizes de pelo menos podermos olhar tudo aquilo de cima, um privilégio até agora de três exploradores. Como eu disse, o dia já ia pela metade, então nos apressamos, desmontamos tudo rapidamente e partimos, deixando aquele pico selvagem novamente largado a sua solidão eterna. Ao chegarmos novamente ao fundo do vale, colhemos um pouco de água e usamos o próprio rio para ganharmos distancia, passamos pela prainha de areia, viramos à direita e fomos pulando de tronco em tronco para não empapar nossas botas no brejo. Sem desgrudar o olho do GPS, mais uma vez nossa vida se resumiu a varar mato sem fim, mas dessa vez, com as mochilas bem mais leve, imprimimos uma velocidade duas vezes maior que a da ida. Subimos a primeira montanha, descemos pela rampa da serpente e novamente nos enfiamos em direção ao selado, mas novamente sem percebermos a vegetação foi nos empurrando para fora da rota e quando vimos, já estávamos perdidos em um vale qualquer. O Natan corrigiu a rota, mas aí já havíamos perdido um tempo precioso e logo percebemos que havíamos saído bem do outro lado do deslizamento de rocha, então fomos obrigados a usar a descida da rocha como caminho, onde por uma bobeira, o Natan perdeu o equilíbrio e foi conhecer a dureza da rocha com sua fuça. Por sorte foi só um susto! Paramos imediatamente para um descanso, mas eu, na minha ingenuidade, ainda sonhava em conseguir pelo menos voltar até a noite para o rancho abandonado e fazer dele nosso lar por um dia, mas os meninos não estavam de acordo com essa correria toda não, já vieram com aquela conversinha de que seria melhor acampar novamente no selado e então fui facilmente persuadido por eles e a decisão foi essa. Já que estávamos bem perto do tal selado, ao invés de voltar a varar mato, decidimos desescalar aquela parede rochosa até atingirmos o fundo do vale e através dele subir até a área de acampamento. Feito isso, em meia hora estávamos de volta onde tínhamos passado a primeira noite, foi como retornar para casa novamente. Ainda era cedo, mas decidimos começar logo a nos dedicar às montagens das redes e do abrigo e a colher água para o jantar. Ali no selado a noite cai rápido e quando a escuridão chegou, nossos fogareiros já ronronavam fazia tempo. Arroz, atum, bacon, frango desidratado, queijo ralado e suco de laranja, foram nosso cardápio e uma boa comida quente tem sempre potencial para elevar o moral da equipe, mas diferentemente da primeira noite que passamos ali, agora estava uma temperatura agradável e nem se ouvia o barulho do vento. Como estávamos bem descansados, depois do jantar, iluminados pelas luzes das nossas lanternas, ficamos até tarde da noite nos dedicando a contar causos de aventuras passadas, de experiências vividas do mundo das montanhas e das trilhas, enfim, jogar conversa fora até que o sono viesse a nos carregar para dentro das nossas redes. Quando o dia nasceu, nos levantamos, desmontamos tudo e partirmos. Mas dessa vez iríamos mudar nossa rota e apontamos nossa bussola para o cume da montanha, queríamos evitar assim passar pelo mesmo lugar que enfrentamos na vinda, onde ficamos travados na vegetação encima da curva de nível lateral. Nos agarrando como deu, subimos o paredão que se apresentou à nossa frente. Duzentos metros de parede nos levaram direto para umas moitas monstro de bambus e taquaras, onde rastejar era o que tinha para aquele momento. Logo percebemos que infelizmente estávamos novamente caminhando por outra linha lateral, ziguezagueando novamente a uns 200 metros do cume e o pior é que a vegetação não nos deixava passar e nem ganhar altitude. O tempo vai passando e os nervos vão ficando a flor da pele novamente e chegou uma hora que apontamos o nariz para o topo da serra e fomos arregaçando tudo que tinha pela frente, nos grudando no barranco e escalando a parede de mato até atingirmos nosso objetivo e pararmos para um gole de água em meio a uma vegetação um pouco melhor. Na nossa carta topográfica, víamos claramente que o topo se estendia por uns 300 metros antes que a montanha começasse a despencar de vez em direção ao vale. A nossa progressão foi rápida e perdíamos altitude numa velocidade incrível, mas a gente sabia que teríamos que enfrentar novamente o inferno de vegetação espinhenta novamente, então decidimos fazer um desvio na nossa rota e começar a tocar rumo ao vale do rio que corria à nossa direita e não demorou muito, lá estávamos nós de volta ao leito das nascentes do Rio do Peixe, onde os mais corajosos, não eu, se pincharam para debaixo de uma cachoeirinha de águas congelantes. A princípio nos pareceu uma ótima ideia descermos um pouco pelo leito do rio, mas logo uma pequena garganta nos barrou o caminho e fomos obrigados a desviar pela esquerda, subindo à margem. Mas aí descobrimos que tínhamos no enfiado numa roubada dos infernos, dando de cara com moitas gigantes de bambus quase que intransponível. Não houve o que fazer, não conseguíamos progredir, então abandonamos aquela ideia estúpida e ganhamos altitude novamente para podermos passar longe da margem do rio e fora da linha dos bambus. A caminhada se tornou um pesadelo, mas avançávamos, e quando percebemos que as gargantas do rio tinham acabado, descemos novamente para o seu leito e fomos caminhando por dentro dele, pulando de pedra em pedra e fazendo pequenos desvios. Numa dessas subidas de barranco bobeei e quando percebi, lá estava eu agarrado na beira de um barraco com as mãos pregadas numa espécie de samambaia açu com espinhos negros. Não pude fazer nada, se soltasse cairia de cabeça nas pedras pontudas do rio, só fiz ficar gritando e amaldiçoando a minha má sorte até que o Potenza me auxiliou e me ajudou a voltar o corpo para trás. Aquilo tinha sido a gota d’ água. O nosso gps dizia que estávamos a não mais de 100 metros do encontro com a trilha, mas eu não queria mais saber daquele mato e ao avistar o primeiro pé de banana no barranco da direita, piquei a mula na direção dele e ganhamos a trilha mais à frente e por falar em banana, fiz questão de dar uma bem grande para aquela serra, prometendo nunca mais colocar os meus pés novamente lá, mas logo a raiva passou e meus pensamentos já se voltavam para aquele cume espetacular com uma visão arrebatadora da Juréia. Antes da uma da tarde, desembocamos novamente no casebre abandonado e ficamos lá o tempo suficiente para reavermos as coisas que havíamos deixado, comemos alguma coisa e descemos à passos largos pela estradinha que nos levaria de novo até a humilde sede da Fazenda Primavera, para reencontrar seu Osvaldo e vê-lo ficar perplexo ao assistir um pequeno vídeo mostrado pelo Natan, de onde se podia avistar o mar. Acho que aquele caboclo perdeu até o rumo pois nunca tinha ouvido falar que um caminho passando pela sua propriedade, poderia levar alguém as bordas do paraíso. Sem mais nada para fazer ali, nos despedimos do seu Osvaldo e fomos tomar banho sob a pontinha de troncos, onde um afluente do Rio do Peixe desfila com águas cristalinas e em seguida tocamos para Pedro de Toledo, e nos acabamos de tanto comer num restaurante, onde comemoramos o sucesso da expedição. O ano de 1953 já ia pela metade quando uma expedição militar, capitaneada pelo então Coronel Petená logrou êxito ao escalar pela primeira vez o Dedo de Deus Paulista. Terminava assim uma corrida insana para ver quem seria o primeiro a fincar os pés no então “cume de toda a Serra dos Itatins”. Mas aí é que estava o grande erro geográfico e o Coronel acabou morrendo sem se dar conta de que o Dedo (1.333), passava muito longe de ser o cume da grande cadeia de montanhas ou se soube, nunca se interessou em explorar, muito provavelmente pelos motivos já descrito no começo deste relato. O mais incrível ainda é que outros montanhistas experientes, até hoje repetem os mesmos erros geográficos aos 4 ventos, mas agora finalmente, quase 65 anos depois essa EXPEDIÇÃO totalmente independente, sem ajuda de ninguém e muito menos munidos de previas informações, teve a honra de colocar as coisas no seu devido lugar. A partir de agora o PICO DESMORONADO (1.425 m) passa a reinar soberano como o CUME de toda a Serra dos Itatins-Juréia. A conquista INÉDITA nasceu simplesmente da inquietação de alguns velhos montanhistas que nunca se conformaram em ver fatos narrados, dados como verdades absolutas e sem contestação. Pagaram para ver e voltaram depois de 4 dias, esfarrapados e triturados pela vegetação, comeram tanto bambu que quase se transformaram em pandas, mas com a certeza do dever cumprido de terem consertado um erro geográfico histórico, com a satisfação de poderem ter tido o privilégio de mais uma vez, desnudar mais uma parte do LADO ESCURO DA SERRA DO MAR PAULISTA. Divanei Goes de Paula – junho/2017
  2. PICO MOTCHAKA : JURÉIA – ITATINS : Cume do MORRO DAS TRÊS PONTAS A noite já se avizinha quando sete homens se espremem num minúsculo espaço entre moitas de capim elefante, em um inferno de um terreno irregular e encharcado e se preparam para sobreviver ao tempo inclemente que a mãe natureza destinou à eles. O vento sopra de sudeste e a massa de ar fria toma conta de tudo, a chuva fina não cessa um minuto e quase todos já se encontram em estado de semi-hipotermia e fazer qualquer atividade, mesmo que simples, já se torna um grande sacrifício. Todos estão molhados e é visível o sofrimento estampando no rosto de cada um, mas eles sabem que nesse momento não poderão contar com ninguém, pois estão isolados da civilização, perdidos numa montanha até então desconhecida, no meio de um mar de florestas no centro da Serra do Mar Paulista. Alguns não querem nem conversa, estão inebriados pelo momento e pelo sofrimento, pés destruídos, mão e pele dilaceradas pela vegetação selvagem e nesse momento não há comemoração e são apenas sete homens resignados que buscam apenas amanhecer vivos ao dia seguinte, porque a conquista ainda não se completou e nem é hora de se pensar nisso e sim de curar as feridas e tentar elevar novamente o moral da equipe. Toda vez que eu olhava aquela montanha isolada no mapa de satélite e na carta topográfica, onde constava uma informação como sendo parte da cadeia de montanhas conhecida como MORRO DAS TRÊS PONTAS, sempre me perguntava se haveria como subi-la, ainda mais porque esse era um dos pouquíssimos picos com cume exposto de toda aquela cadeia de montanhas da Serra da Juréia- Itatins. O grande problema era achar uma rota que partisse do Norte, algum caminho que a gente pudesse seguir sem ser barrado nas fazendas de bananas que por lá existem. As pesquisas não evoluíam, muito porque, ainda me faltava um tempo para dar umas voltas lá pelos lados de Itariri, a cidade mais próxima, para poder investigar, antes mesmo de tentar uma expedição para o pico. Conforme o tempo foi passando, fui atualizando os mapas, traçando um plano de ataque, mas infelizmente sem contar com nada da internet, nem uma menção, nada que pudesse me ajudar a angariar algo que me dissesse se seria ou não possível ascender ao cume sem escalada técnica. A montanha era um gigante perdido na selva, um monstro de rocha, isolado do mundo e com paredes inclinadas, onde parecia mesmo que teríamos que usar corda se quiséssemos conquista-la, coisa que estava fora das nossas pretensões, já que não seria viável enfrentar um vara-mato daqueles, carregando equipamentos pesados. Mas depois de uma análise mais precisa, chegamos juntos a conclusão de que uma linha de árvores na face leste da montanha poderia sim nos dar uma chance de chegarmos o mais alto possível e de lá partir numa escalaminhada meio suicida até o cume. O tempo passou, mas foi no feriado do dia do trabalho que a oportunidade chegou. O Alexandre Alves, mancomunado com seu primo Gersinho, vieram com aquela conversa fiada, me perguntando se eu não teria um pico inédito para indicar para eles subirem e que pudesse ser feito em no máximo dois dias. Claro que os safados sabiam que eu sempre tenho algum projeto engavetado e que eu não ia entregar o ouro para os bandidos, sem que eu mesmo pudesse estar nessas furadas que só a gente inventa. Para completar o grupo, ainda escolheram outros trouxas a dedo para enfiar nesse perrengue dos diabos e foi assim que os nossos amigos Dema, Natan e Vinícius vieram se juntar ao grupo e o Gersinho, não satisfeito em querer lascar com a vida dos amigos distantes, resolveu enfiar seu jovem sogro de 55 anos de idade no meio da confusão e o grupo fechou sua cota de gente sem noção com seu Betão, o cara da panturrilha de aço. Partimos de Sumaré, no interior do Estado, no carro do Vinícius e depois de uma breve passada em Embu das Artes, nos juntarmos aos expedicionários paulistanos e nos mandamos para Itariri, uma cidadezinha minúscula e pacata no sul de São Paulo, mas antes mesmo de entrarmos na cidade, viramos à direita no trevinho e nos enfiamos na estradinha de terra que vai para o nordeste e 4,5 km depois, atravessa o Rio Azeite e quebra pra esquerda na bifurcação, junto a um ponto de ônibus, começa a cruzar com um grande bananal e 2 km depois chegamos à entrada da fazenda que havíamos identificado no mapa e viramos a direita, mas não andamos nem 100 metros , já paramos o carro diante de uma matilha de cães raivosos que vieram em nossa direção , naquela madruga fria e escura de outono. O que a gente temia aconteceu! Logo no início do caminho havia uma casa e agora seria necessário negociar a passagem, já que o caseiro levantou-se para ver que arruaça era aquela em seus domínios. Da porta da casa, em meio a um grande bananal, somos recebidos por um jovem de cueca, que mesmo assim, já botou medo na gente. Por sorte era um nativo manso e nem fez menção em nos barrar a passagem, apenas pediu para que deixássemos os dois carros estacionados no início da estradinha e seguíssemos a pé, já que o restante da estrada estava destruída e seria impossível seguir motorizado. Botamos as mochilas nas costas e partimos, agora certos de que estávamos por conta e risco e que aquela expedição só dependia da nossa competência. Subimos pela estradinha por 600 m e logo chegamos a uma bifurcação, onde fomos obrigados a parar para analisar o mapa. Minha marcação dizia que deveríamos seguir em frente, uma saída levemente para esquerda, já no GPS do Vinícius, marcava para a gente fazer a curva para direita na estrada principal. A discussão para saber para onde seguir se perdurou por alguns minutos, mas o Alexandre já cansado da viagem chutou o balde e sugeriu que a gente montasse logo a barraca à beira do caminho, num lugar qualquer da estrada. Eu estava convicto de que teríamos que encontrar um tal barraco abandonado que o caseiro da fazenda havia nos dito, por isso tentei logo persuadi-lo a continuar andando, já que logo vimos que o traklog do meu celular havia reencontrado a rota certa. Pegamos então a estradinha destruída e com mato alto e enquanto o Vinícius reclamava do trambolho de uma bolsa cheia de material de camping que o Alexandre o fez carregar, fomos avançando metro a metro na escuridão da noite até que uns 500 metros mais acima nos deparamos com uma área plana junto ao bambuzal, onde novamente o Alexandre implora para acamparmos. O local onde estávamos não era um lugar ruim para passarmos a noite, mas estava longe do que eu estava pensando. Então chamei o Dema para seguirmos sem mochila e tentarmos interceptar o tal casebre abandonado e se não fosse muito longe, poderíamos ainda convencer o grupo a ir acampar nele. Fomos subindo por dentro da estradinha erodida até que começamos a ver mais uma plantação de bananas, mas agora totalmente abandonada, onde grandes cachos da fruta madura tombavam à beira do caminho. Não demora nem 15 minutos e já avisto o telhado da choupana do nosso lado direito. Era um barraco caindo aos pedaços, isso não posso negar, mas comparado àquele terreno onde os meninos queriam acampar, parecia mais um palácio, mesmo que parte do teto já não se encontrasse mais em condições de abrigar coisa alguma. Descemos correndo de volta pela estradinha e logo demos a notícia para os meninos, que não perderam tempo e já se puseram a caminhar rumo ao nosso hotel de selva e em mais vinte minutos estávamos todos arrumando a nossa nova morada pelo resto daquela madrugada. No barraco cada qual se virou como pode, uns montaram sua barraquinha e outros dormiram no chão mesmo, apenas estendendo seus isolantes e se enfiando nos sacos de dormir até que um novo dia veio nos dizer que a grande jornada estava na hora de começar. Estamos terminando nosso desjejum quando eles chegaram. A cena era sul real, foi como ver o bando do cangaceiro Lampião chegar sem aviso prévio. Seis ou sete homens armados até os dentes nos encurralaram na porta do casebre e quando vi aquilo, demorou para que a ficha caísse. Meu cérebro ficou tentando processar a informação enquanto eu me mantinha estático, sem me mexer. Os outros caras ficaram mais assustados que gato correndo de macaco e assim como chegaram, os bandoleiros partiram para o mato atrás do que procuravam, no caso, dar uns tiros em algum animal indefeso. Os caçadores se foram quase sem dizer nada, mal balbuciaram meia dúzia de palavras, na verdade acho que estavam mais com medo da gente do que a gente deles e aproveitando a deixa, tratamos também de pegar nossas tralhas e no metermos mato à dentro porque não tínhamos mais tempo a perder e era preciso nos adiantar porque traçamos um objetivo de tentar chegar ao cume daquela montanha ainda hoje. Quando abandonamos aquele velho barraco perdido naquele mar de bananeiras, não tínhamos a mínima ideia do que encontraríamos pela frente. Nem fechamos a porta, muito porque, porta não havia e nos lançamos de vez num mundo desconhecido, onde o objetivo era alcançar uma montanha distante, perdida no meio da selva e sem o conhecimento de que alguém já teria botado os pés no seu cume. A jornada começou lá pelas oito da manha e sem perder tempo já caímos de volta para a estradinha tomada de mato, mas não demora muito, esse caminho se torna impossível de passar, então nos mandamos por dentro do labirinto de bananeiras até que 15 minutos depois a moleza acaba e nos deparamos com o pé da montanha e a quase intransponível Mata Atlântica, hora de parar e montar a estratégia. Para aquela expedição eu havia traçado um roteiro subindo por dentro de um grande vale, não exatamente por dentro do rio , mas sim margeando ele, procurando usá-lo sempre como referência. Montei um pré-roteiro sobre o mapa de satélite e o jogamos para os GPS do Vinícius e do Natan e esses dois seriam os nossos navegadores dali em diante, caberia a eles a incumbência de nos manter bem próximos do projeto pré-estabelecido. Pra começar, não havia o que fazer e já nos enfiamos mato à dentro levando a vegetação no peito e de cara tomando um banho do orvalho da manhã. Do nosso lado direito era possível ouvir o rio que descia do alto da montanha, mas optamos por já ganharmos altura e tentarmos interceptar o vale mais acima. No início fomos nos desviando de alguns matacões que sem percebermos começou a nos direcionar para muito longe do caminho traçado, então tratamos logo de tentarmos corrigir a rota e retomarmos o nosso rumo. Fomos ganhando altitude muito lentamente porque o terreno não ajudava por causa da inclinação e como não conseguíamos nos aproximar da rota desejada, logo percebemos que o vale que estávamos subindo era apenas um afluente do rio principal e aí tomamos a decisão de cruzá-lo para sua margem esquerda e assim descemos uma ribanceira, escorregando até o leito do riacho e cruzando-o, já escalamos a grande parede onde pedras rolavam e cada um tinha que se virar como podia para não ter sua cabeça achatada por uma rocha. Tocamos para cima de vez porque não queríamos nos enfiar na cava do outro rio e sim apenas bordejá-lo e ganhar altitude. Numa floresta como essa, achar um corredor que lhe de uma passagem livre é quase impossível, então é preciso muita energia para ir se livrando dos infernais bambuzinhos e outras vegetações que vão agarrando na gente e tornam o progresso um tormento. Na subida dos barrancos é um passo pra frente e dois para trás e quem perde a concentração pode acabar virando passageiro no tobogã natural e ir parar de novo no fundo do vale. Já fazia quase três horas que vínhamos lutando com aquela subida e teve uma hora que a gente se viu preso no meio de uma cachoeira lisa, onde não conseguíamos ver o seu fim e foi aí que mais uma vez nos demos conta de que ainda não havíamos atingidos o vale que procurávamos, estávamos em outro rio e pior, num beco sem saída. Não, a gente não ia voltar a descer e perder um tempo precioso, resolvemos nos valer da nossa estupidez de sempre e encarar uma parede coberta por bromélias à beira de um abismo. Um a um fomos escalando pela vegetação que ao pisarmos, balançava e ameaçava se desprender da rocha e nos jogar no vale profundo. Ninguém queria ficar fazendo onda naquele lugar, então todos tiraram forças de onde não tinham e se apressaram para sair daquele incomodo caminho, até que eu consegui dar a volta em mais um matacão e atingir a parte superior da cachoeira lisa, onde vislumbrei a possibilidade de cruzar o rio para o outro lado e para comemorar mais aquela conquista, paramos para um breve gole de água e um lanchinho rápido. Retomamos o caminho, mas desta vez tentando tocar tudo para a direita pensando na possibilidade de ir nos encostando na rota programada, mas como querer não é poder, a gente acabou sendo levado instintivamente para longe do nosso caminho e isso começou a mexer com os nervos do grupo porque alguns queriam continuar subindo e ganhando altura , enquanto outros queriam tentar traçar uma diagonal para a linha marcada previamente no GPS, mesmo que isso custasse perder um rim de tanto escalar barranco. Fiquei no meio da futrica, tentando me direcionar para o meio termo e tentando agradar aos dois grupos distintos. O dia já ia quase pela metade e a gente ainda tava preso na subida da primeira montanha, num labirinto de árvores e morros, mas já havíamos vencido quase 800 metros de desnível rasgando a floresta no peito, o que não é pouca coisa não, mas estávamos cientes de que aquela era só a primeira parte da empreitada e ainda não havíamos nem botado os olhos na montanha que seria o nosso objetivo. As coisas não se resolviam e a partir dali não desgrudamos mais os olhos do GPS, era hora de nos decidirmos de uma vez. Pegamos uma reta para a cumeada da serra e fomos explorando as curvas de nível, traçando uma rota para o ponto mais alto no intuito de podermos ver logo que raios de montanha era aquela que vínhamos buscando ,porque por hora só a conhecíamos por imagem de satélite e por uma tosca foto aérea. Não demora muito e nos vimos subindo uma rampa natural e não nos desgrudamos dela até que finalmente as 13h00min atingimos o topo da serra, onde um esqueleto de um animal de grande porte nos deu as boas vindas. De onde estávamos mal podíamos ver muita coisa, mas por um breve momento ele deu o ar da graça: Lá estava ele , o GIGANTE DE PEDRA , mais gigante do que pensávamos e muito mais inclinado do que imaginávamos. Era quase um vulcão perdido no meio da floresta e foi nessa breve visão que comecei a desconfiar da nossa capacidade de atingir o cume ainda naquele dia e por um breve momento de pessimismo, cheguei a pensar que não seria possível acender ao cume sem cordas. Estávamos cansados, molhados e com frio, mas ainda assim não passava pela nossa cabeça voltar dali, era preciso levantar a cabeça e avançar, continuar navegando, continuar acreditando que era sim possível. Estávamos longe da rota traçada, do caminho desejado e agora era hora de largar tudo e tentar voltar para a rota pretendida ou poderíamos ter o mesmo fim do esqueleto que jaz ali, frio num canto perdido daquela floresta úmida e sombria. Acertamos o azimute e descemos a montanha me direção ao vale que nos separava do MOTCHAKA . Tentamos ir perdendo altura aos poucos, bordejando em zigue-zague, mas logo parte do grupo” mordeu a chumbada” e queria por que queria descer de vez em direção a grande montanha e pra não ficar enrolando , já me pinchei na parede íngreme e fui escorregando como deu até atingirmos mais outro riacho, cruzá-lo e começar a subir por outro morrote, onde outra rampa natural nos leva para cima e aí tivemos que enfrentar outra leva de bambuzinho infernal. Passamos por um selado onde o Alexandre, que já vinha capengando, pediu para pararmos de vez. Em um primeiro momento o estado do Alexandre nos preocupou, tanto que eu e o Dema já havíamos notado que ele não estava nada bem e agora ele havia quase desabado, inclusive ele mesmo já havia elogiado algumas clareiras dizendo que era um bom lugar para acamparmos, mesmo sendo ainda muito cedo para isso. Na minha cabeça não passava nem de longe a possibilidade de acampar naquela altura do dia e eu tinha certeza que se isso viesse a acontecer, aquela expedição estava fadada ao fracasso. O Vinícius e o Natan vinham conduzindo muito bem a navegação e apesar de jamais nos aproximarmos do caminho pré-definido, ainda nos mantínhamos muito perto dele, o que nos dava a garantia de não estarmos perdidos no vale. O seu Betão pouco falava e se mantinha firme, sem reclamar de nada e o Gersinho era o cara que sempre sacava alguma guloseima da sua mochila para alimentar o grupo, que junto com os torresmos do Dema, nos mantinha com o moral elevado. A montanha que buscávamos nunca chegava e toda vez que ela aparecia numa janela do tempo, sempre me parecia mais longe ainda e quando o Alexandre resolveu tomar a dianteira, minha alma se alegrou e comecei a levar fé que se alcançássemos o pé da grande pedra, nada nos deteria a caminho do cume, porque uma vez pendurado na rocha , era caminho sem volta. Quando os estudos sobre essa montanha começaram, foram surgindo várias teorias de como subi-la, sempre baseadas nas fotos de satélite, alguns fizeram rotas frontais, onde poderíamos subir apenas com a aderência das nossas botas, mesmo que no limite do possível. Outros traçaram rotas em zigue-zague, entendendo que poderiam usar platôs para chegar ao cume e eu até que levei fé em todas, não descartando nenhuma possibilidade, mas agora vendo o tamanho da encrenca em que estávamos prestes a nos meter, todas as teorias caíram por terra e a única que sobreviveu foi mesmo a de tentar aproveitar a linha de árvores na face leste da montanha e foi pra lá que, sem titubear, tocamos com todas as nossas forças, que já não eram tão grandes assim. Estávamos varando mato por quase um dia inteiro e como não há sofrimento e desgraça que dure para sempre, finalmente a gente chegou à parede rochosa. Agora éramos sete homens contra uma montanha, sete exploradores buscando aquilo que até então nem sabiam ser possível, iam tentar algo do qual ninguém nunca haviam lhes contado nada, iam para o desafio final, a aventura estava prestes a começar. Num primeiro momento, ainda nos mantivemos subindo pela floresta, ganhando altura bem lentamente e tendo toda a parede da montanha do nosso lado direito, mas chegou uma hora que minha paciência acabou de vez, pois não aguentava mais ficar abrindo mato molhado no peito, arrastando cipó e todo o inferno de vegetação grudenta, parei e falei para o Dema para a gente tentar logo subir pela rocha, estava na hora de ver um pouco de luz, brincar de ser calango. O Dema, que também já estava de saco cheio de mato, saiu logo no aberto e foi nesse momento que a gente se deparou com a parede inclinada e tivemos que mudar o rumo pensado. O Dema tomou a dianteira e começou a escalar a rocha, não em direção para onde poderia nos levar direto ao cume, mas numa diagonal para esquerda, meio que para acompanhar a linha de árvores, mas sempre seguindo pela pedra. O tempo havia se mantido fechado por quase todo o dia e uma chuvinha fina sempre nos acompanhando, portanto, a rocha estava lisa feito um bagre ensaboado. A subida se deu sempre bordejando algumas touceiras de capim, mas logo à frente nos deparamos com uma passagem exposta onde foi preciso usar toda a habilidade de escalada para se manter grudado na pedra sem escorregar no vazio. O Alexandre ao tomar ciência do local onde pretendíamos passar, já deu uma dura em mim e no Dema, achando que estávamos nos expondo a um perigo desnecessário, mas não adiantou que ele fizesse “ beicinho” não, foi por ali mesmo que a gente seguiu e não restou mais nada além dos que vinham atrás, auxiliar o Betão nessa passagem, que depois veio a confessar que passou ali com o fiofó na mão. Às vezes o tempo abria e era possível enxergarmos muito longe, além de revermos todo o mar de florestas e montanhas que havíamos atravessado para chegarmos até ali. O cansaço já era grande, mas agora não havia como voltar atrás, era hora de tirar energia de algum lugar e continuar avançando, não adiantava chorar, reclamar, essa era a parte que nos separava da conquista e havia chegado a hora de mostrarmos para que viemos, retroceder não estava mais em discussão. Então grudamos à rocha e fomos nos elevando, metro à metro, centímetro à centímetro. O Dema tomou a dianteira de vez e eu colei nele para auxiliá-lo nas escaladas mais problemáticas. Tratava-se de uma parede rochosa, com moitas de capim elefante grudadas a ela, onde era preciso agarrar o tal capim com as mãos, segurar firme e se puxar para cima, sempre tomando cuidado para que o corpo não voltasse para trás e fizesse com que o indivíduo fosse conhecer o pé da pedra, rolando com mochila e tudo lá para baixo. Às vezes dava vontade de desistir, as mãos já começavam a sangrar, a mochila já pesava uma tonelada, cada vez mais as forças nos braços iam diminuindo de tal maneira que eu pensava em deitar naquele capim e ficar por lá mesmo, ainda mais porque a subida era lenta e o corpo todo molhado, esfriava rápido. “Onde estaria minha mãe naquela hora que não vinha me socorrer, porque me abandonou naquele inferno de pedra e capim, com um monte de caras estranhos e fedorentos? Por que eu fui deixar minha cama quentinha para me enfiar naquela furada, quem foi o desgraçado que me convenceu a estar ali”? Quando me lembro de que eu era o único responsável por ter ido, me resigno e volto novamente a puxar o capim e subir mais um lance de pedra, diante dos milhares que ainda restavam pela frente. Não havia muita coisa a fazer, a noite logo chegaria e nós estávamos presos àquela parede composta de rocha e capim. A nossa vida naquele momento se resumia a escalar, escalar e escalar. Resumia-se a subir degraus de pedra, num tormento que parecia nunca acabar. O mato era molhado, o tempo sempre fechado e a temperatura caindo vertiginosamente. Quando era preciso mudar a direção por causa de alguma parede íngreme e intransponível, mudávamos! Sempre tínhamos em mente que era necessário seguirmos o rumo de alguma linha de arbusto porque seria a eles que nos agarraríamos no caso de sermos barrados sem poder voltar, mas chegou uma hora que o Dema deu a notícia que ninguém queria ouvir:” Pessoal fim de linha, daqui para frente ninguém sobe mais” Todo mundo já gritou atrás dele que não havia essa possibilidade e que voltar não estava nos nossos planos. O Dema tinha feito a parte dele, tinha se acabado abrindo caminho, agora assumi a dianteira, mesmo sem vontade e fui tocando como deu, fizemos um desvio providencial para a direita afim de nos livrarmos da parte intransponível e logo saímos novamente na rocha crua, lisa e escorregadia. Ali passamos com cuidado já que duzentos metros de abismos nos espreitavam montanha abaixo. Cansados de ziguezaguear montanha acima, resolvemos pegar uma linha reta em direção ao platô principal da montanha, onde as paredes íngremes terminariam e finalmente, quase três horas depois de emergirmos da floresta e encostarmos-nos à montanha, desembocamos no que nos pareceu ser o cume ou a parte que nos conduziria para o topo. Agora no platô, perto do cume, onde o capim elefante parecia tomar conta de tudo, fomos agraciados com o ultimo suspiro do sol, que nos presenteou com um arco-íris espetacular, mas as vistas só eram da parte norte da paisagem porque o resto estava tudo fechado. O show não demorou mais que 10 minutos e do mesmo jeito que veio, o sol se retirou para não voltar mais naquele dia e uma nuvem espessa varreu todo o cume e a nossa vida voltou a desgraça de sempre e fomos jogado num mundo molhado, frio e sombrio. Apressamos-nos tentando ver se alcançávamos o grande cume da montanha, mas logo percebemos que o cume não passaria de um amontoado de arbustos baixos e de árvores tortas e imprestáveis para acampar com nossas redes. Rodamos por um tempo, mas não encontrávamos coisa alguma e cada vez mais eu sentia que havíamos nos enfiado numa furada. A temperatura despencou de vez e a chuva fina chegou sem dó e não havia um palmo de chão para que pudéssemos montar um abrigo. A gente estava no CUME ou ao menos bem pertinho dele, mas por incrível que pareça, não ouve nenhuma comemoração, mesmo porque, ainda não tínhamos nos dado conta do feito que acabávamos de realisar, porque é impossível comemorar algo quando se está sofrendo. Naquele momento apenas éramos um grupo de sete homens resignados e envolvido nas suas próprias amarguras pessoais. Enquanto parte do grupo tentava amassar umas moitas de capim elefante para ver se era possível abrir uma clareira, eu e o Alexandre largamos as mochilas ao chão e fomos tentar encontrar algo melhor , seguindo na direção onde estaria o suposto topo da montanha, mas logo nos deparamos com mais arbustos fechados e molhados, então voltamos correndo de volta para onde estavam os outros. Quando retornamos nos deparamos com uma briga feia. O Dema e o seu Beto, querendo se livrar de uma moita gigante de capim elefante, chamaram o dito cujo para briga. Os dois agarraram no pescoço da moita e a jogaram no chão, mas o capim não ia se entregar tão fácil e não demorou muito para os dois caírem exaustos. Acontece que por um grande azar, havíamos perdido nosso facão no início da expedição e os dois resolveram desafiar aquela touceira com uma faquinha de merda. O Betão acostumado a quebrar osso com suas mãos de massagista de MMA não cavou nada de bom, então chamou o Dema para brigar na pernada. Os dois se juntaram e começaram a dar pontapés na moita, que dessa vez começou a dar sinal de que começaria a se mover e foi nessa hora que o Dema, professor de matemática, descobriu que era hora de cortar na raiz quadra, coisa que deu certo porque não demorou muito e o capim elefante tombou de vez, agora morto e fora de combate, jogado para fora da nossa área de acampamento. Enquanto os caras lutavam bravamente com o capim elefante, o Vinícius e o Natan cortavam o capim para forrar o chão e o Alexandre e o Gersinho cuidava de montar a tenda que nos abrigaria naquela noite. E eu? Bom, eu nem me mexia. Sentia muito frio, fiquei paralisado, inerte, sofrendo com as baixas temperaturas e fui definhando cada vez mais. A previsão do tempo era de zero milímetro de chuva durante todo o feriado e como a intenção não era adentrar a rio nenhum, nem me preocupei em escolher um agasalho impermeável ou coisa parecida e havia pagado o preço. Do jeito que estava não dava para ficar e quando os caras acabaram de montar o toldo, aproveitei a deixa para tirar a roupa molhada e colocar roupa seca, antes que eu sucumbisse de hipotermia. Por fim os caras fizeram um excelente trabalho, mas o lugar era medíocre, uma rampa inclinada onde era difícil até equilibrar um mísero fogareiro. Forraram uma lona no chão sobre o capim e encima dela faríamos nossa casa, bivacando por uma noite. A chuva fria não parava um só minuto, mas mesmo assim aqueles caras estavam contentes e alegres por estarem secos e abrigados e aí a gente pode ver como certas simplicidades na vida pode nos trazer felicidade. Sinceramente eu não estava nada feliz, mesmo estando seco e quentinho. Havíamos montado uma grande estratégia para conquistar uma nova montanha e até aquele momento éramos sete homens confinados num espaço cretino, perdidos num fim de mundo suspenso, como se estivéssemos presos num livro de aventuras de Conan Doyle ( mundo Perdido). Eu sonhava dormir num cume rochoso, com céu aberto e vistas para todo o litoral e agora estava ali, deitado quase em pé, correndo o risco de acordar com a bota de um cara na minha boca. Enquanto os caras se deleitavam com a cachaça levada pelo Betão e pelo Gersinho e se perdiam na mandioca e na coxa de frango, resolvi que para compensar a minha falta de ajuda na montagem do acampamento, faria a janta para todos, coisa que não foi assim tão fácil, diante daquele terreno inclinado e quando todos jantaram, se enfiaram nos seus respectivos sacos de dormir e morreram por uma noite, menos o coitado do Betão que ficou quase a noite inteira zumbizando, porque acabou ficando sem espaço nem para esticar as pernas. (esse se fudeu bonito,rsrsrsrssr) O dia que nasce é o mesmo dia frio e cinzento do dia anterior. O sol até tentou romper a camada de névoa espessa, mas sua tentativa não durou nem 10 minutos e ele já foi se esconder novamente. O despertar foi lento e demorado, pois ninguém parecia querer largar a quentura dos seus sacos de dormir e a gente ficou por ali, tomando nosso café e jogando conversa fora enquanto arrumávamos as coisas a passos de tartaruga paraplégica. Eu ainda estava muito amuado porque não me conformava em ter chegado até ali e nem ter conseguido saber para onde ficava o CUME e se já estaríamos nele ou não. Tudo continuava fechado e eu até perguntei se a gente iria no enfiar no capim molhado em direção ao sul para tentarmos chegar às bordas daquela montanha, na expectativa de enxergarmos o litoral, mas ninguém nem me respondeu, parecia mesmo que a intenção do grupo era sair vazado daquele topo o mais rápido possível Quando eles deram a notícia de que iam continuar mais um pouco, mesmo tendo que se enfiar no meio do mato molhado, para tentar localizar o cume, meu humor mudou rapidamente. Largamos nossas mochilas na área do acampamento e nos enfiamos no meio dos arbustos e fomos seguindo para oeste, que era onde o terreno se elevava um pouco mais. Abrindo mato no peito e ainda sem enxergar muita coisa, uma visão nos assombrou a alma quando o vento bateu e nos revelou outra montanha acima da nossa cabeça. Paramos imediatamente porque não estávamos entendendo coisa alguma. Aquela montanha seria um dos outros dois picos que formam o conjunto de montanhas? Quando veio outra rajada de vento foi que nos demos conta do que estava acontecendo: Não era nenhuma outra montanha, era sim outro morro encima da própria montanha em que estávamos, era onde estaria o CUME PRINCIPAL e para nossa surpresa, era totalmente livre dos arbustos, era um cume todo forrado de capim elefante e que muito provavelmente poderia nos dar a tão sonhada vistas para o litoral que havíamos sonhado . Depois disso, aquela que era uma caminhada meio modorrenta, se tornou numa corrida maluca pra ver quem chegava mais rápido e primeiro ao cume. Pra começar já nos jogamos em direção ao vale que separava o lugar onde estávamos daquele morrote acima da gente, passamos pelo selado e iniciamos a subida final até o topo, rasgando capim molhado no peito. Não me recordo quem chegou primeiro, mas me lembro muito bem da festa que houve no cume daquela montanha até então desconhecida do mundo. E a gritaria de felicidade não foi nem de longe por termos atingindo os 1.240 metros de altitude do PICO MOTCHAKA, mas sim pelo que vimos de cima dele: Aquela era sem duvida nenhuma a mais bela visão de montanha de toda a Serra do Mar Paulista . Quando o vento deslocou as nuvens, foi que nos demos conta do que estava acontecendo naquela manhã do dia 01 de Maio de 2017: Estávamos diante de toda a Reserva Ecológica da Juréia – Itatins, bem ali aos nossos pés a não mais que 12 km das águas da PRAIA DO UNA e na metade disso, o próprio Rio Una serpenteando na planície litorânea, num mar de florestas e mangues. Ainda, mas um pouco mais distante, a Ponta da Grajaúna e sua praia, que junto com a praia do Una somam mais de 20 km de areia e restinga. Fechando a visão ao sul, a imponente Ponta da Juréia complementa a visão de uns dos lugares mais preservados e fascinantes do mundo. Para oeste ,por um breve momento , as paisagens que são a própria cumeda de toda aquelas serras, inclusive com o imponente e impressionante DEDO DE DEUS PAULISTA, que já foi alvo de expedições passada realizado por nós. O tempo abrira por poucos minutos, mas já foi o suficiente para decretarmos definitivamente que aquela Expedição havia sido um grande sucesso e não havia um só par de olhos que não demonstrasse uma felicidade e uma satisfação de estar ali e de ter feito parte de um momento único na vida de montanhista de cada integrante que ali estivesse e o que até então não passava de um ponto perdido numa carta topográfica e num mapa de satélite, agora tinha sido conquistado e ganhado um nome. Se dependesse de mim, ficaria ali pelo resto da manhã, mas os meus companheiros, preocupados com o caminho de volta, botaram pilha para a gente partir. Meu único arrependimento foi o de não ter conseguido acampar no cume e ter tido mais tempo para poder curtir o visual, ainda mais porque aquele lugar não tinha mesmo nenhum sinal que pudesse nos indicar que algum dia alguém teria botado os pés ali , nem ali ,nem em nenhum outro cume dos 3 picos do MORRO DAS TRÊS PONTAS, que de morro nunca teve nada, porque era uns monstro rochoso a dominar a paisagem. Abandonamos de vez aquele cume a sua própria solidão e partimos de volta para o nosso acampamento e chegando lá jogamos nossas mochilas nas costas e retomamos nossa jornada. No começo houve um princípio de discussão porque parte do grupo queria voltar por outro caminho, ou seja, tentar seguir o roteiro que havíamos traçados previamente antes daquela expedição começar, caminho esse que pegava uma linha reta em direção a um vale que despencava numa falha da montanha que se apresentava em forma de um GRANDE “V” e outros achavam que não deveríamos inventar nada e que o certo era voltar pelo mesmo caminho que havíamos feito, mesmo que tivesse sido um caminho penoso, mas nos dava a garantia de voltarmos com um mínimo de segurança. Eu não tinha certeza nenhuma que o novo caminho direto para o Vale “V” daria certo, mas o simples fato de voltar pelo mesmo roteiro já me aborrece, então fui um dos defensores ferrenho para que escolhêssemos um novo caminho e por sorte, aos poucos fui ganhando o apoio de outros e no fim todo mundo já tava mesmo era a fim de tocar o foda-se e ver para onde aquele novo rumo poderia nos levar. Bom, seja qual caminho usássemos para voltar, primeiro teríamos que despencar daquela montanha em direção à floresta mais abaixo e já passava das dez da manhã quando a gente chegou novamente nas bordas do gigante e nos metemos novamente no capim elefante para ir perdendo altura lentamente ou nem tão lentamente assim, já que sabíamos onde poderíamos nos jogar e escorregar sem corrermos riscos desnecessários. No fim até que acabou sendo mesmo divertido deixar o corpo cair de patamar em patamar somente escorregando naquele grande tobogã natural e isso nos ajudou a ganhar um tempo precioso porque gastamos apenas uns 40 minutos para voltarmos novamente ao pé da grande pedra, já na entrada da grande floresta. Ali foi o ultimo passo para tomarmos a decisão de voltar por outro caminho. Decidimos que de agora em diante seguiríamos o traklog que eu havia traçado em casa e não desgrudaríamos mais dele até o vale “V”. E começamos por adentrar na floresta naquela direção e quando perdemos altura até o fundo de um pequeno vale, resolvemos nos enfiar nele e ir descendo já que a linha do GPS corria por dentro. Quinze minutos à frente ele tomou outro rumo e foi hora de o abandonarmos e vararmos um pouco de mato até que interceptamos mais um córrego, esse maior que o anterior e como a direção nos favorecia , foi por ele que avançamos já quase na certeza que aquela torrente de água poderia fazer parte de um afluente do grande vale que buscaríamos para começarmos a despencar em direção à civilização. A gente foi perdendo altura, mas não muito, mesmo assim era preciso desescalar algumas cachoeirinhas para continuar e meia hora depois esse afluente chegou ao rio principal, que naquela altura ainda era tímido, mas no decorrer do caminho iria ganhar novos afluentes e crescer muito de volume. Avançávamos muito rápido e tínhamos certeza que havíamos tomado a decisão certa, mas ao chegarmos no vale onde o terreno começa a despencar a quase 1000 metros de altitude, a coisa começou a ficar feia. O Rio se transformou de vez num cânon e a descida começou a ficar perigosa e cada vez mais as cachoeiras ficavam maiores e não demorou muito nos vimos travados nas margens do rio, num beco sem saída. O Dema e o Natan estavam à frente e o resto do grupo se encontrava mais acima, esperando para ver se ia ser possível seguir pelo rio, pelo menos até que a gente cruzasse pela fenda na cadeia de montanhas para começarmos a nos encaminhar para a grande descida. O Natan já gritou lá de baixo que teríamos que cruzar o rio à nado para cruzarmos para a sua margem direita, onde a curva de nível parecia nos dar um caminho melhor. Bom, nadar não era problema, mas ninguém ali estava preparado para passar com as mochilas e na hora já rechacei essa possibilidade e fui me encaminhado pelas bordas da parede, na tentativa de encontrar uma alternativa, mas fui logo travado por um deslizamento onde a parede a minha frente se tornou impassável, voltei imediatamente. Enquanto os dois batedores ainda discutiam se devíamos ou não ariscar passar a nado, já me enfiei numa canaleta de água à esquerda e ganhei altura para procurar uma solução mais acima. Vendo que nadar não seria a solução, todo o grupo tomou o rumo da parede e eu e o Natan nos embrenhamos no mato e fomos tentando achar um caminho que pudesse novamente nos devolver ao rio, mas agora distante da pequena garganta. Decidimos tentar descer seguindo uma linha de árvores, o que nos daria certa segurança. Tentei avançar barranco abaixo, mas acabei ficando travado na descida de um tronco gigante, onde fiquei pendurado parecendo siri no pau. O Natan acabou tendo mais sorte porque escolheu o caminho por baixo, mas ao chegar à beira do paredão já deu o alarme dizendo que era impossível descer por ali, ainda porque estávamos numa garganta e então seria preciso retornar e tentar outro caminho. De volta ao topo da parede, onde o terreno era bem plano, decidimos que seguiríamos pela margem esquerda mesmo, pelo menos até conseguirmos uma passagem que nos levasse em segurança para outra margem, onde possivelmente encontraríamos um terreno mais favorável para iniciarmos a descida. E realmente foi uma decisão acertada já que avançamos bem, sempre perdendo altitude aos poucos até que novamente descermos de volta ao rio, que dali para frente ia se jogar numa sequência de cânions e gargantas. Nesse ponto, o rio se estreitou e foi possível passar para a margem direita com certa segurança e vendo que as curvas de nível do terreno começavam a se alargar, nos enfiamos novamente no mato e fomos perdendo altitude rapidamente, sempre de olho no traklog pré-estabelecido e também tendo como referência o próprio traklog que fizemos na ida. Finalmente a caminhada parecia começar a ficar confortável, ainda mais quando logo à frente nos deparamos com uma trilha larga de palmiteiro e caçador, que aliás, deitam e rolam nessa parte da serra, onde a fiscalização não existe. Todo mundo ficou contente com esse que parecia ser um grande achado, mas não demorou nem 15 minutos para a trilha desaparecer na quiçaça e nos deixar novamente na mão. Como não havia o que fazer, resolvemos descer de novo rasgando mato no peito em direção a outro vale, num afluente do rio principal que havíamos abandonado e descemos por dentro dele até que de supetão ele desembocou novamente no rio, onde uma grande cachoeira despencava e aí foi hora de estacionarmos para um descanso providencial. Demos o nome para aquela queda d’água de CACHOEIRA DA USINA VELHA, já que ainda era possível ver as ruínas de uma antiga e pequena usina hidrelétrica, construída por alguma fazenda em um passado muito distante. Quando chegamos ali, parte do grupo jogou as mochilas ao chão e se enfiou debaixo da grande queda, mas eu e o Dema não quisemos saber de água fria, já bastava o perrengue passado no dia anterior. Enquanto os meninos de esbaldavam na água gelada, fui dar uma pesquisada para ver se localizava algum final de estrada ou alguma trilha, mas nada encontrei e logo concluímos que aquela construção era mesmo muito antiga e se essa tal estrada existisse, já teria sido engolida pela floresta há décadas. Quando o grupo que tomava banho na cachoeira resolveu seguir, voltamos para a nossa jornada e subimos o barranco na margem direita do rio onde um vestígio de trilha foi encontrado, mas logo à frente mais uma vez se perdeu no mato e a gente vendo no GPS que o caminho feito na subida estava próximo, nos miramos a ele até encontrarmos mais um afluente, atravessá-lo e descer sem dó em direção ao grande bananal, onde a estrada abandonada novamente apareceu e em mais 20 minutos , fora as paradas para mais uma rodada de bananas maduras, desembocamos no casebre abandonado, de onde havíamos partidos a quase dois dias atrás , estávamos finalmente de volta a civilização, MISSÃO MAIS DO QUE CUMPRIDA . Essa foi uma grande EXPEDIÇÃO, uma incrível jornada selvagem que nos deu a honra de, até que se prove o contrário, sermos os primeiros a botar os pés no cume dessa que é hoje a montanha escalada mais isolada da SERRA DO MAR PAULISTA. Por hora essas são as únicas informações existentes no mundo do Montanhismo Paulista sobre essa montanha e como eu disse: É um mundo perdido numa selva isolada e que vendeu muito caro a sua conquista. Seu nome estranho surgiu simplesmente de uma palavra que não tinha significado nenhum e que foi grafada errada e ao vermos que tudo que imaginávamos sobre aquela montanha que, não era totalmente rochosa, não era nem de longe fácil de subir, não se situava na serra da Juréia e sim na Serra dos Itatins, achamos que o nome viria bem a calhar. O MOTCHAKA foi conquistado, o cume do MORRO DAS TRÊS PONTAS será por muito tempo um lugar abandonado a sua própria sorte e solidão, como sempre foi, mas a partir do dia 01 de maio de 2017 não poderá mais se gabar de sua invencibilidade e para aqueles que acham que tudo já foi explorado e conquistado, será preciso repensar, porque o MONTANHISMO EXPLORATÓRIO está mais vivo do que nunca. DIVANEI GOES DE PAULA – MAIO/2017
  3. Trilha feita em 09/08/2013. Album com todas as fotos estão em: https://picasaweb.google.com/110430413978813571480/CachoeirasDoSaltoEEscorregaEmItariri?authuser=0&feat=directlink Ainda estava escuro qdo lá estava eu, saindo de SP em uma madrugada fria de inverno para desbravar mais uma trilha mapeada, cujo destino dessa vez seria as entranhas da Serra da Juréia em Itariri que faz parte da reserva ecológica Juréia-Itatins. Serra essa que já estive alguns meses atrás, qdo desbravei o Morro do Peruíbe, mais conhecido erroneamente como Pico do Itatins. Assim como sua imponente vizinha serra do mar, possue diversas cachus, picos e mirantes prontos para serem descobertos e explorados. As 5:40h, ganho a imigrantes e logo a descida da serra, para então acessar a Padre Manoel da Nobrega a direita. O Céu estava livre de qualquer vestígio de nuvem e o dia prometia ser ensolarado. Depois de 2 horas e meia de viagem, com uma parada em Itanhaém para abastecer e tomar um café da manhã reforçado, es que finalmente as 8:25h, chego a pacata cidadezinha de Itariri, que recém despertara para seu último dia útil de trabalho da semana. Após algumas infos aqui, ali, acolá, es que finalmente mergulho na estrada do azeite e sigo por cerca de 4,5km até uma ponte a direita, onde viro e vou seguindo por um trecho de paralelepipetos em concreto até que caio em outro grande rio dessa vez pelo lado direito do vale da Serra da Juréia. Nesse vale, descem 2 grandes rios do alto da serra, que se juntam em um só qdo chegam ao trecho de planície. Casas e sitios compõem o cenário no meio do vale dessa serra com picos que lembram muito a da serra dos orgãos no RJ, com direito até a um "Dedo de Deus", visto do Pico do morro do Peruíbe (mais conhecido como Pico do Itatins). Meu objetivo era chegar as cachus do Escorrega e do Salto. Fui seguindo numa estradinha de terra com o rio do seu lado direito. Há várias trilhas na região, mas as que levam para as cachoeiras, são um pouco distantes, portanto se for a pé, prepare-se para andar vários quilometros, pois as ditas cachus ficam distantes do centro de Itariri. Melhor mesmo é seguir de carro/moto, afim de otimizar o percurso. Estrada de terra que leva até o inicio da trilha Segui pela estrada mais larga que acompanhava o rio a direita, ignorando as demais bifurcações. Logo após passar por uma ponte pencil (tb do lado direito) e pelas últimas casas da região, a mesma mergulha na floresta e começa a subir. Ela passa por mais uns 2 sítios e termina em um descampado, onde deixei a motoca. Logo a frente, inicia-se a trilha para a cachoeiras do escorrega e do salto. Piscina natural do rio que fica ao lado da estrada de terra.... Ponte pênsil Após 10 minutos pela trilha, passei por uma bifurcação a esquerda que parecia que iria dar numa plantação de bananal. Na hora fiquei na dúvida, então tive que escolher qual das 2 iria ir, já que estava explorando e nas infos coletadas com moradores, nada me foi dito sobre essa bifurcação. Segui reto, ignorando a bifurcação a esquerda em favor da direita, erro esse que só iria descobrir qdo chegasse ao final da trilha. Ponto de referência. Se chegar aqui, é porque está no caminho certo e basta apenas seguir em frente, sempre com o rio a sua direita, ignorando as bifurcações a esquerda. Rio das Pedras (vista do alto da ponte pênsil) Na trilha Após alguns minutos de caminhada, a trilha passa por uma ponte sobre um grande rio de pedras (que na hora imaginei ter cachoeiras lá para cima) e segui reto. Não tardou, e a trilha ficou mais íngreme, o sol e o calor estavam castigando e eu não via a hora de chegar em alguma das cachus para um tchibum. Após 15 minutos de subida, a trilha dá uma curta nivelada, mas logo volta a subir, dessa vez ainda mais íngreme, o que exigiu bastante das pernas. As 10:20h, em meio aos ziguezagues da picada, fiz um breve pit stop afim de recuperar o folego e molhar a goela com um bom isotônico geladão! Se chegou nesse ponto, onde a trilha sobe forte em zigzag e com trecho erodito.... ....Ou nesse, pode voltar, porque você errou o caminho.....Mas calma, nem tudo está perdido Retomei a caminhada 10 minutos depois, após a subida tediosa e meio cansativa, cheguei a um trecho de bananal, onde a mesma mergulha no meio delas. Até dei uma olhada para ver se não havia alguma banana madura nos pés, mas em vão.... Continuei seguindo e a partir desse ponto, a trilha chega ao topo e nivela, para alivio das pernas.....Ao lado direito, se ouvia uma grande queda que parecia ser uma cachu próxima, mas nada de trilha até ela. Fui seguindo em frente, onde a mesma passou a descer levemente até um pequeno vale, onde havia uma casa e 2 cães passaram a latir a minha presença. Infelizmente não vi ninguém na casa para pedir informações. Então, segui em frente. Após a exaustiva subida (mais por conta do forte calor), chega-se nesse ponto. Com sorte, pode-se conseguir uma banana num desses pés....... 15 minutos depois, agora em nível, cruzo com um riachinho (onde aproveito para abastecer meu cantil), e mais 10 minutos, com outro. As 11:30, chego ao que parece o final da trilha, em um sitio no meio do nada, no alto da serra, onde encontrei um senhor que me informou que o final da trilha era ali e que para frente não havia mais nada. Perguntei das cachoeiras e ele me disse que ali não tem cachoeira alguma, que eram lá para baixo, o que me gerou uma certa frustração, afinal, havia subido tudo aquilo e andado 1 hora desde a bifurcação que ignorei lá embaixo até ali. Bem, bora retornar tudo..... Já era quase meio dia e eu ainda não havia chegado sequer na primeira cachoeira das 3 mapeadas, mas como não sou de voltar para casa sem ver nada, coloquei na cabeça que encontraria tais cachoeiras. E assim, após um breve pit stop para beber algo e descançar, retomei a pernada de volta até aquela bifurcação, afim de ver se é era a trilha que leva as cachoeiras. Afinal, ainda na estrada de terra, a info que me deram, é que as mesmas estavam perto, a cerca de 20 minutos de trilha. Valeu pelo mirante que me proporcionou uma vista bonita do vale do Rio do Azeite. Em uma casa a direita (esquerda se estiver subindo), com uma rede, sai uma discreta bifurcação que desce até essa pequena cachu sem nome..... Seguindo para direita da cachu e cruzando um trecho estreito desse rio alguns metros abaixo, se chega a outra cachu de outro rio descendo de outro canto da serra. Água não é problema tanto nessa trilha, qto na outra, pois ambas cruzam vários riachinhos e afluentes....Em um trecho de subida erodita e qdo a trilha faz um zig zag da encosta da serra, uma discreta bifurcação a esquerda ao lado de uma casa sugere que pode ser ali o caminho para alguma cachu. Segui por ela e logo cai no rio, onde havia 2 pequenas cachoeiras. Pausa para cliques e apreciação, claro. Não eram as cachus do Salto e Escorrega, mas pelo menos fez valer a pena o tempo de caminhada na trilha. Retomei o caminho de volta e logo me vi cruzando o enorme rio por uma discreta ponte feita com 2 troncos, onde reencontrei a bifurcação que havia desprezado as 13:28. Depois que adentrei nela, notei que seguia na direção desejada. Logo no começo, a picada passa ao lado de uma pequena area de reflorestamento com um grande morro de pés de banana a esquerda. Assim que passa por esse trecho, a picada mergulha na floresta logo a frente. Assim que adentra na floresta, em poucos minutos cheguei a cachu do Salto as 13:35 para um merecido descanço e cliques. Voltei a trilha e vi que a mesma continuava rio acima, então, após mais 5 minutos de subida leve, cheguei a cachu do escorrega, que é uma bela cachoeira formada por um tobogan e uma poção natural. Cachoeira do Salto Piscina natural do rio Cachu do Escorrega Não havia ninguém em nenhuma das 2 cachus, então, dono absoluto do lugar, estacionei ali e mandei ver uns sandubas e um belo sucão gelado afim de forrar o estomago, molhar a goela e comemorar o objetivo alcançado: mais 2 cachus que estavam mapeadas, desbravadas. As 2 cachus ficam a cerca de 20 minutos de caminhada do final da estrada de terra. Permaneci na cachu por cerca de 1 hora e iniciei o retorno para Sampa às 14:40, chegando na selva de pedra por volta das 17:00h. Piscina natural da cachu do escorrega No final, o tiozinho que me deu a info estava certo. Ah, se ele tivesse me dito sobre a tal bifurcação. Mas valeu pela passeio de bosque, o pequeno mirante e as 2 cachus. Itariri de fato tem várias atrações naturais que valem muito a pena a visita. Além das cachoeiras, enormes e profundas piscinas naturais e poções são um convidativo para tchibuns nos dias quentes de verão. A Serra do mar e seus braços, como a da Juréia, reserva muitas surpresas, com trocentas cachus selvagens escondidas em suas entranhas, mtas vezes facilmente acessíveis sem precisar passar pela chatisse da burocracia de parques e nem ter que agendar autorização por semanas nesses pseudos parques estaduais e nacionais. Afinal, só fica refém disso, quem quer. ----------------- Como chegar a Itariri: De Carro: Partindo de São Paulo deve-se pegar a rodovia Regis Bittencourt (BR-116) ou a Imigrantes (SP-160). Depois siga pela Rodovia Padre Manuel da Nóbrega (SP-55) até o quilômetro 367, onde fica Itariri. Distância da Capital (São Paulo): 154 Km De ônibus: Intersul Transporte e Turismo Ltda. Saídas da capital do Terminal Rodoviário da Barra Funda. Mais informações sobre as cachoeiras e outros atrativos de Itariri http://www.itariri.sp.gov.br/index/?page_id=12 -> Antes mesmo de entrar na cidade (vindo de Peruíbe), virar a segunda estradinha de terra a esquerda, perguntar por "Estrada do Azeite". Seguindo nela por 4km, vire na primeira ponte a direita e siga por um trecho calçado tb a direita, que irá passar por baixo de um pequeno rio e logo voltará a ser de terra...continue seguindo em frente e logo chegará a outro afluente do rio. Ao visualizar o rio e outra estradinha de terra vindo da direita, vire a esquerda e siga em direção da serra. -> Com o rio a sua direita, vc começará a subir e logo a estradinha de terra terminará num sitio, onde se inicia as 2 trilhas. As trilha que vai para as cachoeiras é a da esquerda, antes do trecho que cruza um rio em uma ponte feita com troncos de madeira. Não tem erro, na dúvida, pergunte para os moradores do sitios próximos ao fim da estradinha sobre as cachoeiras. -> O ponto de referência dessa trilha a esquerda é uma pequena area de reflorestamento e um morro onde olhando para cima, se visualiza uma plantação de bananas. Basta apenas seguir reto pela trilha até que ela mergulha na mata e passa a seguir o rio acima. Em poucos minutios, se chegará as 2 cachus. Sugiro que imprima a página onde está as fotos e os nomes das cachoeiras afim de ajudar na orientação.
  4. O BOA VISTA DA JURÉIA Situado no miolo da Reserva da Juréia, o Pico da Boa Vista destaca-se não apenas por ser um dos ptos culminantes emergindo do escarpado e imponente maciço da Serra do Itatins. Com vista privilegiada de td reserva, Iguape, Barra do Ribeira e até parte do Superagui, o alto dos 1100m do seu pto culminante se caracteriza tb por ser coroado por uma torre da Cotesp (antiga Telesp) desativada na década de 70. O q poucos sabem é q este topo é ainda acessível por íngreme vereda q palmilha o q restou da outrora (precária) estrada de manutenção da velha torre, hj tomada pelo mato. Uma caminhada árdua e pouco freqüentada - exceto por extrativistas ilegais - q resgata uma antiga e respeitável montanha da Juréia a muito esquecida. Nas duas ocasiões em q rodamos pela Estrada do Despraiado (Juréia), o Pico Boa Vista despertara nossa atenção montanhisticamente falando, e o simples fato de ser coroado por uma decrépita antena de retransmissão já sugeria a existência dalguma espécie de acesso razoável, independente das condições do mesmo. Entretanto, informações desencontradas com os locais naquelas duas empreitadas, por sua vez, deixavam patente q a subida a montanha (cujo desnível se assemelha ao Corcovado de Ubatuba!) não seria nada facil e qq aventura nesse sentido fatalmente demandaria árduo vara-mato, nem q fosse ao menos pra interceptar a velha estrada de manutenção q outrora subia ao alto, atraves dalgum espigão derivante do maciço principal da Serra do Itatins. O pico então ficou na vontade e o tempo passou. Ate agora, qdo o Nando retomou seus estudos da região e, sobrepondo a carta topográfica mais precisa da região (obtida da Nasa) com imagens aéreas, semana passada me ligou avisando: “Jorge, prepara a mochila q agora a gente sobe o Boa Vista! Descobri onde nasce a antiga estrada q subia o pico!”. Apesar da previsão meteorológica favorável, o dia amanhecera envolto numa nebulosidade opaca desde q havíamos deixado a capital paulistana. Agora, naquela altura rodando pela Rod. Regis Bittencourt (BR-116), eu Nando e Ronaldo torcíamos pro panorama melhorar assim q começássemos a pernada propriamente dita. Saimos cedo da capital com a ciência de q se td corresse bem a empreitada demandaria apenas o árduo bate-volta de um dia. Mas, claro, fomos devidamente calçados prum pernoite caso a pernada fosse mais pauleira q o previsto, mesmo nossa aventura sendo norteada por uma antiga via asfaltada q nos servia como referencia. A nebulosidade nos acompanhou desde inicio da jornada ate Pedro de Toledo, onde até insinuou melhorar com algumas frestas de céu azul no alto. Após a simpatica Três Barras o asfalto deu lugar a uma sinuosa e poeirenta estrada de terra batida, q após cortar o Rio do Peixe serpenteou pra sudoeste pro fundo do Vale do Despraiado atraves da precária estrada do mesmo nome. A cumieira daquela morraria tomada por bananeiras tava devidamente ocultada por brumas alvas e espessas, e desta vez qq tentativa de vislumbrar o Morro Boa Vista se mostrava sem sucesso desde o inicio. Chegamos finalmente na “Xiboquinha do Cumpadi” as 10:30hrs, nome local q é dado ao simplório boteco q bordeja a estrada logo antes da mesma cruzar pro outro lado do Despraiado. Lá, a exatos 100m de altitude, reencontramos o Reginaldo e seus pais, com os quais tomamos um delicioso desjejum regado a café fresco. Contamos nossas intenções a ele q simplesmente exclamou: “Ah, deve ser aquela estrada véia tomada pelo mato perto das ruinas da escola onde estudei!”. Felizmente nossas informações coincidiam com as q o velho senhor resgatava de sua precária memória, e la fomos nós. Arrumamos então nossas coisas, enqto nos estapeávamos a td momento. Apesar de estar nublado, o vale estava abafado o bastante pra ter as habituais nuvens de borrachudos. Deixamos o carro na sombra do frondoso abacateiro q orna a frente do “Bar do Cumpadi”, colocamos a mochila nas costas e retrocedemos pela estrada calmamente, dando inicio a jornada pouco antes das 11hrs. Não deu nem pouco mais de 1km comendo poeira q o pto plotado pelo Nando conferiu com a info proferida pelo Reginaldo. Como referencia de q pto abandonar a estrada tenha as manilhas de concreto á margem da mesma, a direita. Por ali, buscamos um modo de descer o íngreme barranco onde, uma vez no leito de pedras, vislumbramos resquícios duma antiga pinguela. Bastou tocar por ela q mergulhamos numa picada (com algum mato alto) q desembocou nas margens do Rio Despraiado, q por sua vez é cruzado atraves duma decrépita ponte pênsil. Cuidado com esta ponte, pois o chão ta bem podre e o Nando quase foi pro rio ao pisar num toco podre q estourou na primeira pisada. Claro q era aqui q comecava o trecho adrenalina da trip, e a travessia do raivoso rio foi feita nos segurando firmemente nos cabos q sustentam o pontilhão. Na outra margem do rio, batemos de cara com o q outrora já foi uma escola bem ativa, hj engolida em gde parte pelo mato. Apesar disso, o interior ainda exibia resquícios de material escolar e algumas carteiras deterioradas. Acredito q se o poder público quisesse poderia mto bem restaurar este lugar e dar-lhe alguma finalidade. Pois bem, contornando a escola pela direita subimos o barranco sgte (em meio a alguma mata espinhenta) e em questão de poucos minutos caímos, finalmente, no inicio daquela q foi a estrada de manutenção da torre da Cotesp. Realmente, a via estava de fato td tomada pelo mato e o q ainda lhe conferia aspecto de estrada era o onipresente corte vertical na encosta, além dalguns vestígios da antiga pavimentação no chão. Apesar do mato presente, relativamente alto, era perfeitamente visível um rastro (e não trilha) percorrendo a via por td sua extensão. E foi esse rastro q acompanhamos sem perder de vista até o topo. O Ronaldo se prontificou a ir na dianteira, abrindo caminho com facão (imprescindível!) enqto eu e o Nando apenas baixávamos o restante de mato, deixando o caminho aberto e “abaixado” pra volta. E assim começou nossa ascenção propriamente dita, onde a estrada subia suavemente a encosta aos ziguezagues sentido sul, enqto nossos ouvidos se enchiam tanto dos ruídos da mata qto dalgum rio percorrendo algum fundo vale, a nossa esquerda. Apesar da subida suave, o calor logo se encarregou de encher nossos rostos de suor, q escorria farto pela pta do nariz, aumentando consideravelmente nosso consumo de água. Em tempo: cada um levou 2L de agua no lombo; havia infos de presença de agua no cume, mas fomos calçados pro caso deste pequeno detalhe não ter mais procedência. A subida então prosseguiu inipterrrupta e no mesmo compasso, sempre acompanhando o rastro e algumas velhas marcas de facão q a mata apresentava, datadas provavelmente de uma semana. As vezes desviávamos de alguns gdes obstáculos, geralmente gigantes da floresta tombados no caminho ou enormes deslizamentos de encosta; outras vezes simplesmente encarávamos de frente, no geral, touceiras e emaranhados de finos bambuzinhos ou criciúmas (aquele “capim-velcro”) formando túneis de farta vegetação q não raramente nos obrigavam a engatinhar no chão e de onde emergiamos ralados. E assim sucessivamente. Mas de uma forma geral a pernada mantinha-se com ritmo e sem maiores percalços de dificuldade. Sem muita pressa, por volta do meio-dia fizemos um breve pit-stop na cota dos 450m, num trecho onde o terreno aparentou nivelar. E após descansar e beliscar alguma coisa demos continuidade a subida, q voltou no mesmo compasso, ou seja, suave e inipterrupta. O caminho, por sua vez, exibia seus encantos a td momento, fosse nas orelhas-de-pau q ornavam o arvoredo em volta, conchinhas espalhadas pelo chão, belos exemplares de palmito faconados (revelando o atual freqüentador da vereda) e pequenos detalhes remanescentes do antigo uso daquela via, como fiação elétrica, postes tombados, tubulações, etc. Na cota dos 500m é possivel ouvir agua farta correndo lagum lugar das dobras serranas, próxima, e acredito ser possivel coleta-la em caso de emergência nesse sentido. Mas após desviar de uma arvore tombada q trouxe meia floresta abaixo, pela esquerda na cota dos 700m, nos deparamos com montes de fezes de anta bem no meio do caminho. É, seria ingenuidade imaginar q a bicharada tb não se vale das trilhas deixadas pelo homem. Sendo assim, não tardou pra sentirmos pelo corpo a coceiinha tradicional e típica de carrapatos. Paciência.. Por volta das 13:45hrs, desta vez na cota dos 800m, fizemos nossa segunda e ultima parada de descanso, agora tendo como trilha sonora a algazarra promovida pela macacada nalgum contraforte abrupto da serra. A proximidade com o cume fez com q esta parada fosse breve e então demos continuidade a pernada, agora mais apressados q o normal. E tome subida, desvia de mata, engatinha ali e agacha aqui. Compasso q não mudou ate o final, tanto q nos finalmentes há uma presença maior de vegetação ao largo da vereda. Vestigios da antiga pavimentação ficam mais evidentes na cota dos 930m ate sumirem de vez. E após desviar de novo gde deslizamentode encosta, surge uma fresta na vegetação q exibe a proximidade do cume, infelizmente envolto em opaca nebulosidade. Nos idos dos 1100m, as 15hrs, percebemos q o terreno nivelou de vez e não há mais o q subir. Estavamos no cume finalmente, na verdade, o falso cume q serve de base pra antiga torre de telefonia da Cotesp (Cia Telefônica de SP, atual Telesp), desativada com o advento da comunicação via satélite em 1977. O lugar é plano, amplo e dominado por pequenos bambuzinhos, denunciando q aquilo td já foi descampado e um belo mirante. Alem da enorme torre de metal de quase 30m de altura, o falso cume divide o espaço restante com postes tombados, um “iglu metálico” q deve ter sido a casa dos geradores, e ruínas dos casebres de madeira com algumas pixações dos freqüentadores ocasionais (tds da regiao de Miracatu, Iguape e adjascencias). Lixo? Quase nenhum. Pois bem, mal chegamos fomos conferir nossa maior preocupação: água. Perscrutando os arredores dos bambuzinhos, descemos um pouco pela encosta e encontramos realmentee uma caixa dágua q captava o precioso liquido duma nascente, conforme nos havia sido informado. Contudo, o longo período de estiagem q assolara a regiao deixou a caixa com pouca agua, sem sinais de nada correndo na ocasião. Ufa! Menos mal q havíamos levado água nas mochilas, pois a q havia ali estava parada e servia (pelo menos) pra ser fervida e utilizada pra preparação da janta. Enqto o Nando e Ronaldo descasavam, resolvi ir pro cume propriamente dito. Chamei eles pra vir junto mas nem quiseram de saber ir pro topo derradeiro do Boa Vista. Avançando pelos bambuzinhos em meio a um visível rastro ladeando os casebres, atravessei um túnel de vegetação engatinhando e escalaminhei a mata tombada da encosta sgte. Um nível acima avistei a continuidade do rastro, subindo suavemente, ate dar na base dum enorme rochedo verticalizado onde reencontrei vestígios de ser outro sanitário de antas. “Caraca! Estes bichos são antas ou cabritos montanheses?”, pensei comigo mesmo, tendo em vista da alta declividade do terreno. Da base do rochedo é preciso escalaminhar um trecho bem íngreme, onde foi improvisado um fio plástico como “corda”, mas q eu não senti mta firmeza e venci na raça mesmo, me firmando nas rochas e vegetação em volta. No alto, bastou contornar o rochedo sgte em meio a vegetação baixa ate q finalmente não havia mais onde subir. Estava finalmente nos 1140m do cume do Pico Boa Vista, mas infelizmente a paisagem a minha frente se resumia a brumas alvas e espessas, q permitiam unicamente vislumbre parcial da torre e dos casebres, logo abaixo. Paciência. Satisfeito, retornei ate onde estavam meus companheiros e armamos nosso acampamento. Nando pousou sua rede dentro do “iglu metálico”, Ronaldo montou sua barraca ao lado dele e eu armei minha tenda na base concretada da torre, afastado deles, onde não havia muito o q roçar pra abrir espaço. Com a proximidade do final da tarde e bem cansados, após a janta nos recolhemos a nossos respectivos cafofos, onde não demorou pra cairmos no sono. De noite esfriou e ventou bastante, dispersando td a nebulosidade q pairou durante o dia. Foi aí q a luminosidade duma lua quase cheia inundou o topo do Boa Vista, dispensando qq necessidade de headlamp naquele ermo e remoto lugar. Durante a noite tb q ouvi passos dalguma coisa andando ao redor da barraca e qq vontade de regar a moita diluiu-se imediatamente. Torci pra q fosse algum roedor ou mamífero de médio porte, mas meu “cagaço” em espiar pela porta da barraca me fez ficar na duvida eterna do q seria. Os rapazes não ouviram nada (a não ser uma coruja) mas o Reginaldo depois comentou duma suçuarana avistada pela mata. Só sei q após os passos na mata cessarem por completo, pude voltar a dormir com mais tranqüilidade, abraçado pelas zilhoes de estrelas q o firmamento pousou sobre a Serra do Itatins. A manha sgte irrompeu maravilhosamente aberta e sem vestígio algum de brumado. Não pelo menos a nossa volta pois o nosso acampamento literalmente flutuava sobre um tapete alvo de nuvens, q foi se dispersando conforme o Sol surgia atraves do recorte silhuetado das serras, a leste. Imediatamente eu e o Ronaldo subimos a escadinha metálica (bem conservada) da torre e fomos ate quase seu topo afim de apreciar melhor o panorama. No alto tivemos uma vista deslumbrante q, da direita pra esquerda, descortina os abruptos contrafortes da Serra do Itatins, a Estrada do Despraiado serpenteando o sopé da verdejante Serra do Bananal e Serra de Miracatu, logo atrás! Com esforço é possivel avistar tb a Ilha Comprida, Ilha do Cardoso, Barra do Ribeira, Serra da Juréia e até Iguape. E claro, o azul profundo do mar delimitando o horizonte! Qdo a sombra piramidal do Boa Vista começou a se espichar pela verdejante serra abaixo da gente, tomamos rapidamente nosso desjejum e desarmamos acampamento, pois queríamos ainda aproveitar o resto do dia. Zarpamos então do topo do Boa Vista por volta das 8:30hrs e , pra variar, a descida foi mto mais rápida q a subida. As 9:40hrs palmilhávamos a cota dos 400m e uma hora exata depois nos refrescávamos nas águas do Rio Despraiado, ao lado da ponte pênsil e sob um sol escaldante de rachar. Não bastasse, na sequencia ainda mandamos ver um tchibum na Cachu Despraiado, e depois estacionamos na “Xiboca do Cumpadi”, onde alem de bebemorar a empreitada, comemos alguma coisa (pra surpresa do “Cumpadi”, q se encantou com nosso fogareiro!) e trocamos impressões com outros locais do Despraiado. Foi ai q conhecemos o Josué, um palmiteiro q tava bem manguaçado e do qual extrai o q pode ser considerado um retrato do homem sofrido da região: recém saido da prisão após cumprir 6 anos (por atropelar e matar um casal, embriagado ao volante) e ter perdido td, havia virado palmiteiro no Despraiado como única opção de sobrevivência, e forma viável p/ manter seu vicio em drogas. “É, ainda tenho q pagar minha divida do crack q peguei anteontem senão os caras vão me matar..”, dizia ele com a naturalidade de quem tem apenas mais um “probleminha”. Fora isso, Josué dizia conhecer aquelas matas como ninguém e saber de outros acessos ao Boa Vista. Na sequencia e com bucho cheio, pegamos o carro e zarpamos dali por volta das 14hrs, cientes e satisfeitos do dever cumprido. Finalizando, é possivel subir ao alto do Boa Vista num único dia, em esquema de bate-volta, mas é preciso começar a andar bem cedo, claro. Além de levar facão (fundamental) fique atento pra cobras, abundantes naquele mato. Tomamos tb conhecimento de outros picos intocados na região, q serão oportunamente visitados noutras ocasiões em promissoras aventuras futuras. E assim, em tempos da mesmice de roteiros montanheiros tradicionalmente batidos, a Serra do Itatins resulta numa boa pedida de perrengue alternativo e selvagem a ser redescoberto. Não é a toa q qdo alguma trip desdenha rotas conhecidas em prol de pernadas incomuns q a aventura em questão ganha o peso de legitima exploração. E neste ecossistema atípico e privilegiado do Despraiado da Juréia, onde seus poucos habitantes vivem praticamente isolados de td, é ainda possivel resgatar velhas montanhas esquecidas. E tb de desbravar as q sequer foram pisadas pelo homem.
  5. http://jorgebeer.multiply.com/photos/album/309/Estrada-do-Despraiado A ESTRADA DO DESPRAIADO Situada a 130km de Sampa e bastante conhecida pela galera jipeira e biker, a “Estrada do Despraiado” é uma precária via q – tal qual a “Estrada da Petrobrás” – interliga o planalto de Pedro de Toledo com o pé-da-serra, na altura de Miracatu e Iguape, sul de SP. Acompanhando o trajeto do Rio Despraiado e rasgando parte da Reserva Ecológica da Juréia em sinuosos 50kms, esta instável via está repleta de plácidos remansos e diversas quedas, ideais prum banho refrescante num dia de sol e calor. Aproveitando então um dia semanal nestas condições, percorremos esta difícil estrada de chão passando pelo isolado “bairro” do mesmo nome, afim de ir atrás de atrativos diferenciados delas bandas situadas ao norte do Vale do Ribeira. Como bônus: um tchibum da cachu do Faú, em Miracatu. Sem mta pressa, tomamos a Rod. Régis Bittencourt (BR-116) bem depois das 8hrs daquela manhã de quarta-feira q se insinuava de tempo ótemo, embora transpirando sol e calor. Eu, Nando, Renata e Emilia, satisfeitos do breve desjejum numa padoca as margens do ctro de Taboão da Serra, até então mal sabíamos q a viagem até nosso destino se prolongaria além da conta em pleno dia da semana. Sim, lá pela metade do trajeto – mais precisamente na descida da Serra do Cafezal - o trânsito empacou de tal forma por conta de vários caminhões quebrados (ou tombados) q não nos restou opção de aguardar pacientemente td voltar á normalidade. Dificil mesmo é acreditar q essa mesma BR-116, sem pista duplicada e repleta de problemas, continue sendo ainda nessas condições a principal via de ligação dos países do Mercosul e da região Sul com o sudeste brasileiro. Abstraindo este detalhe q por pouco nos deixou em duvidas qto a realização da trip, qdo o transito voltou á normalidade o Nando pisou fundo e num piscar de olhos nos vimos na Rod Pde Manuel da Nobrega, pra finalmente dar em Pedro de Toledo por volta das 10hrs, onde paramos rapidamente numa vendinha no inicio da pequena cidade. “Você é uma moça?”, uma menininha perguntou candidamente pra Renata, refletindo o clima ingênuo do interior paulista, já q por lá não deve ser mto comum ver a mulherada de cabelo preso, calça e possantes botas de caminhada. Voltando a estrada e acompanhando a sinalização até nosso destino logo nos vimos em Três Barras, um pacato bairro rural ainda menor q Pedro de Toledo, onde tocamos pela Estrada do Rio do Peixe., sentido o Bairro Despraiado Não preciso nem dizer q aqui o asfalto foi embora, dando lugar a uma até estrada de chão em boas condições. Até aí estava tudo perfeito, embalado na paisagem pitoresca q revelava a morraria ao redor totalmente forrada de bananeiras - onde haviam cachos pra dar e vender - nivelado numa estrada em perfeitas condições, e relevo com desnivel bem suave. Além disso, vacas bem magras e mal cuidadas na beira da estrada, assim como uma ou outra chácara, aparentemente abandonadas. Mas foi qdo passamos pela placa anunciando estarmos nos domínios da Estação Ecologica Jureia-Itatins q a coisa engrossou de vez, sinal q já estavamos rodando pela maledita “Estrada do Despraiado”. Descendo lentamente pelas encostas do vale, a estrada ficou péssima e precária de tal forma q nalguns momentos tivemos realmente dúvidas se o simplório Peugeot daria conta do recado. Qdo não era tomada por um tapete de enormes pedras cascalhadas, eram as enormes crateras q havia q desviar pra não entalar de vez. Tanto q durante td trajeto não vimos mais ninguém cruzar conosco, a não ser dois veículos (tracionados) do pessoal da Reserva. Ainda assim td habilidade do Nando não impediu q rochas mais salientes arranhassem o fundo da lataria – onde tive a nítida impressão de ter o fiofó “deflorado” - e a placa da frente quase removida por valas mais fundas. Com a estrada apenas piorando numa velocidade não ultrapassando os 20km/h, o deleite era apreciar a paisagem emoldurada pela janela e q revelava os contornos graciosos e verdejantes das montanhas ao redor. Mas eis q finalmente surgiu a nossa esquerda, no alto, os recortes escarpados da maravilhosa Serra do Itatins, onde destoava de forma imponente o maciço rochoso do Morro Dedo de Deus, espetando o firmamento azulado e isento de td e qq nebulosidade. Ao lado deste, o majestuoso Morro Boa Vista fazia par ao primeiro (guardando uma improvável torre num dos seus ombros serranos), formando a dupla de maiores sentinelas da região. Foi somente nas proximidades do Bairro do Despraiado q a estrada suavizou e tornou-se mais “normal” , levantando nuvens de poeira durante nosso avanço. E assim, por volta das 11hrs, estacionamos próximo duma gde ponte (“Jackson Peixe Amarantes”), as margens do cristalino e borbulhante Rio Despraiado, em frente a um simplório boteco q tínhamos como referência, situado na regiao mais “aberta” da estrada. Na verdade é uma “xiboquinha” (como eles chama lá) q atende pelo nome do “Bar do Cumpadre”, onde o simpático (e contido) Reginaldo nos recebeu e contou da região. Ali é possivel bebericar alguma coisa ou comprar algum suprimento. Comida ou lanche pronto? Sem chance. Ali soubemos q o “bairro” era aquilo mesmo: uma ou outra casa ao largo da estrada, não havia telefone nem sinal de celular, mas incrivelmente havia internet (!?) na escola local. Entretanto, Reginaldo regozijava-se com nossa presença pois turistas motorizados ali não são mto comuns (a exceção de bikers itinerantes), por conta da precariedade da estrada q afasta qq alma de bom senso. “Essa ponte ali na frente fomos nós mesmos q tivemos q completar! A prefeitura nos esqueceu aqui!”, reclamava ele, q tb fazia “bicos” de monitor da Reserva da Juréia. Devido a isso seus negócios iam de mal a pior, mas ficou feliz da vida ao ver nosso consumo de 5 cervejas, 1 dose de pinga de cambuci, 2 guaranás e 2 pacotes de amendoim. Era a nossa contribuição á econommia local. Vale tb mencionar algo de fundamental importância pra quem por ventura vier aqui. Bastou descer do veiculo q nuvens de borrachudos famintos caíram matando sobre a gente, quiçá sentindo sangue fresco no pedaço, o q tornou a permanência parados um verdadeiro inferno. A Emilia q o diga, já q não parava de se estapear aqui e ali por conta dos maleditos sanguessugas. Mas por sorte o Reginaldo nos emprestou uma citronela de fabricação própria (com base num óleo artesanal, etcetera e tal), q aparentemente afugentou em caráter provisorio os infames insetos. Vale mencionar tb q na vendinha do Reginaldo havia um beija-flor q devia ser chegado em paparazzis, visto q o bichinho sequer se mexia, e qdo o fazia era pra fazer pose pra gente! Pois bem, naquele calor abafado infernal perguntamos pro Reginaldo dalguma cachu bacana pra nos refrescar e ele, bastante solicito, nos passou as coordenadas do maior atrativo local, a Cachu Despraiado, embora a maioria dos viajantes se limite a nadar nos remansos e poços logo abaixo da ponte, ali bem do lado. Retrocedemos então pela estrada algo de 500m e, bem na frente duma casa abandonada e duma enorme pedra a margem da estrada, havia uma picada bem batida adentrando na mata (pela direita), onde já era possivel ouvir o rugido duma generosa queda. Dito e feito, após uma picada q não deu nem 30m caímos as margens pedregosas do Rio Despraiado onde uma enorme e bela queda (duas, na verdade, separadas por um largo paredão de pedra) represava as águas do ribeirão num enorme e largo poção, de tonalidades translucidas q iam do esmeralda ao azul turqueza. Claro q td mundo deu tchibum naquele lugar paradisíaco, inteiramente nosso. Eu q conheço muitas cachoeiras fiquei surpreso com a limpeza do lugar, se levarmos em consideração q a queda esta bem ao lado da estrada e seu acesso é facil demais, sem demandar esforço nenhum. Após um banho revigorante e mastigar um lanche sobre as pedras q beiram o plácido ribeirão, nos lembramos novamente da presença dos borrachudos, q resolveram almoçar junto conosco e se fartar da gente. Não bastasse, trouxeram pro banquete mutucas e alguns pernilongos, o q apressou nossa saída. Apesar disso, o banho havia vindo em boa hora naquele comecinho de tarde escaldante e abafada. Em tempo, bem q cogitamos subir ao Pico do Itatins (cuja trilha de acesso é perto dali) naquela mesma tarde, mas o horário bem avançado, o despreparo, falta de equipo apropriado e, principalmente, o calor sufocante nos dissuadiram a deixar essa empreitada proutra ocasião. De qq forma, ela já esta devidametne agendada. O pico q nos aguarde. E nem preciso mencionar dos olhares irradiando alegria das meninas ao tomarmos esta decisão de não subir o pico naquela tarde calorenta. Após nova rodada de cevada gelada e de incrementar ainda mais a renda da economia local, nos despedimos do Reginaldo e tomamos estrada novamente, ouvindo as recomendações e alertas do velho “xiboqueiro” do Despraiado. “Mais adiante tem uma travessia de rio q é pela água! Cuidado com o carro!”, disse ele. Tds se entreolharam num silencio só. Bem, q seja assim então, ne? Se não der pra atravessar teríamos simplesmente q voltar td ate Pedro de Toledo, nada mais. Vamo tentar a travessia. E la fomos nos, dando continuidade a trip motorizada por aquela precária e pitoresca estrada q basicamente acompanha td o Rio Despraiado em seu sinuoso percurso serra abaixo. A boa noticia era q o trecho pior havia deixado pra trás, e o terreno agora (suavemetne inclinado) vez ou outra forçava alguma manobra “radical”, mas no geral o avanço foi bem mais ligeiro q antes. Isso td tendo ao redor a mais verdejante mata e vários picos majestuosos nos observando. Assim como nossa passagem revelava elétricos (e enormes) calangos, os teiús, tomando sol na estrada e se pirulitavam mata adentro feito enormes jacarés! Em mais duma ocasião igualmente dava a impressão das voçorocas de lírios-do-brejo e damas-da-noite estarem prontas pra invadir a estrada e dispostas a “engolir” o veiculo. Interessante era tb reparar q ao largo de td ribeirão havia varias pontes-pênseis, provavelmente feitas pelos moradores de modo a facilitar seu transito as residências existentes naquela margem. Muitos deles, provavelmente a maioria, trabalham nas plantações de bananeiras e mandioca, bem comuns na região. Mas foi depois de uma curva q a estrada deu lugar a um cristalino e pedregoso rio passando bem na nossa frente q obrigou o Nando a parar e avaliar a situação. Ali e agora eram a hora da verdade no quesito continuar ou não pela estrada. A gente ficou em profundo silêncio esperando o dono do veiculo tomar uma decisão. Mas este, sem dizer muito, apenas pisou no acelerador e mandou ver, e não tardou pro carro chacoealhar de um lado por outro, enqto uma “onda” pareceu avançar sobre o capô, molhando parcialmente o parabrisa. Na verdade não tinha muito o q pensar, era isso ou não passávamos: a água tava quase na altura abaixo do joelho e o veiculo tinha q cruzar rápido td largura do rio o mais rápido possivel, de modo a evitar a entrada de água pelo escapamento! De qq forma, o carro dançou um pouco pelas pedras, mas somente qdo emergimos do outro lado do rio q pudemos finalmente respirar aliviados. Isso pq somente ai lembramos q se desse qq avaria no carro não havia sinal de celular, nem mto menos telefone próximo. “Tenho alma de jipeiro! Só não tenho um..”, Nando filosofava, enqto acendia mais um cigarro antes de prosseguir trip. Em tempo: cruzar este rio no verão (chuvas!) realmente deve ser algo impossível. No trajeto foi possivel tb avistar uma enorme ponte de concreto, parcialmente construída, e abandonada em meio a mata, tal qual aquelas vistas na “Estrada da Petrobrás”. Pelas infos do Reginaldo suas obras foram abandonadas antes da Juréia virar parque, mas ainda assim não tem como não se indignar com aquele visível desperdício de dinheiro publico sendo engolido lentamente pela mata. Mas eis q não tardou a vir a segunda travessia de rio, na verdade o mesmo Despraiado costurado mais uma vez. So q em comparação a primeira travessia essa ai era fichinha pois o rio era mais estreito, onde apenas o carro embicou num buraco do qual emergiu sem gdes dificuldades, incólume. Ou quase, já q a placa dianteira saiu td detonada e teve se der remendada no carro mediante algumas gambearras emergenciais. O negocio foi q a partir dali a estrada aparentou nivelar de vez, sem perder mais altitude alguma. O Rio Despraiado foi cada vez ficando mais longe, ate sumir de vez. No entanto, nossa rota beirava o sopé da enorme Serra do Bananal, bem a nossa direita. Mas tb não demorou pra deixar de sermos emparedados por montanhas e logo nos vimos numa larga e extensa planície, rodando sempre sentido sudoeste. Olhando pelo retrovisor víamos o recorte da enorme Serra do Itatins se destacando de td paisagem, emergindo por td horizonte, a nordeste. O numero de casas começou a aumentar, um pequeno bairro é transposto e pronto, final de estrada. Eram 16:30hrs e terminamos desembocando no asfalto da Rod. Prefeito Casemiro Teixeira (SP-222), q interliga Miracatu e Iguape. Tocamos então sentido Miracatu, bem mais próximo, pois ainda havia tempo e luz de sobra, sinal q dava pra curtir mais uma cachu. Em Miracatu apenas nos guiamos pelo emplacamento duma tal Cachu do Faú, situada no bairro do mesmo nome, ao norte, distante uns 20km do centro. A pequena cidade é ate q bem simpática e seu nome deriva do tupi, q significa “terra de gente boa”. Rodamos novamente por longas e extensas estradas de terra, perguntando aqui e ali a direção da cachu, ate q finalmente chegamos na dita cuja. Por sinal, tb se situa do lado da estrada, mas a sequencia de gdes quedas (6m a maior) e corredeiras realmente impressiona pelo volume considerável de agua, oriundas do Rio do Faú, q por sua vez deságuam mais adiante no Rio São Lourenço. Como o dia já estava nos finalmentes, demos apenas um tchibum rápido no enorme poço ao sopé da ultima pequena queda e nos mandamos dali, de alma e corpo lavados. Na sequencia mandamos ver um lanche no centro da simpática Miracatu e depois pegamos a estrada de volta pra Sampa, q por sinal estava com fluxo de veículos bem melhor q durante a ida. E assim transcorreu sem gdes percalços ou intercedências nossa breve incursão pela “Estrada do Despraiado”, roteiro q deve ser melhor apreciado realmente por praticantes de off-road ou cicloturistas mais radicais pelas caracteristicas intrínsecas da própria vereda em questão. No entanto, além de programa exigente (pro veiculo) e diferenciado (antropologicamente falando) a visita as quedas refrescantes do Rio Despraiado são mais q recomendadas pra qq um, seja trekker, biker ou “driver”, não apenas por se tratar dum programa fora do perímetro paulistano e sim pq qq boa cachu é mais q bem-vinda prum dia quente de verão. Ainda mais as pertencentes a esta charmosa e pitoresca região situada no setor norte do Vale do Ribeira, q carregam um valor cultural agregado adicional.
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