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DEDO DE DEUS-RJ :Montanhismo, escalada e aventura na mais clássica montanha do país. Quando o último homem se despediu, cortou literalmente a única raiz que nos unia e ao fazer a curva à beira do precipício, foi aí que me dei conta que realmente me encontrava só, encravado numa fenda gigantesca, pendurado a algumas centenas de metros na escuridão daquela noite fria. De onde eu estava, podia avistar as luzes dos carros subindo a estrada em direção a Teresópolis-RJ, serpenteando numa lombriga de asfalto, milhares de metros a baixo de mim. Aquilo que estava prestes a fazer era a mais insana das loucuras e o meu medo já havia transpassado todos os limites razoáveis. O vento soprava forte e já não havia mais como me comunicar com ninguém, se algo desse errado, se eu não conseguisse me sustentar na corda, despencaria no vazio e para piorar ainda mais, a corda reserva estaria comigo, amarrada à minha cintura, tirando qualquer possibilidade de eu ser resgatado sem que fosse preciso um esforço sobre humano dos meus companheiros de aventura. Minha cabeça ainda girava, eu ainda não havia compreendido muito bem como a gente conseguiu deixar que a nossa situação chegasse àquele nível, verdade mesmo que eu ainda não estava conformado com o que tinha acontecido, mas como as coisas estavam fora do meu controle, eu tinha mesmo era que tentar me manter calmo, manter a concentração nos procedimentos mínimos de segurança e tentar sair vivo daquela enrascada. Me amarei à corda instalando o freio, pedi proteção a “Nossa Senhora do Abismo” e fui.............................................. Foi numa quarta-feira que eu soube da notícia ao abrir as mensagens num grupo de WhatsApp. Sem mais nem menos o Alexandre Alves havia resolvido que no sábado à noite partiria para Teresópolis-RJ no intuito de escalar o lendário DEDO DE DEUS. Ao ler a mensagem tomei um susto, na verdade, foi mais uma indignação mesmo. Já era sabido por eles a muito tempo que, mesmo eu não sendo nenhum escalador que prestasse, cultivava um sonho antigo de escalar aquela montanha há mais de 20 anos. Inclusive tínhamos combinado que se um dia a galera resolvesse escalar aquele pico, eu iria me dedicar uns 2 ou 3 meses antes, pegando firme nos treinamentos, mas numa decisão meio atabalhoada, resolveram que havia chegado a hora. Aquilo era uma coisa insana, um bate e volta de 1200 km, saindo sábado à noite, escalando o pico e voltando para casa no domingo. Estava na cara que era uma organização feito nas coxas, que a chance de algo dar errado era muito grande, porque o nível daquela escalada estava muito acima da competência da maioria do grupo, a possibilidade de dar merda naquela empreitada era enorme e diante de tudo que me haviam exposto, a minha resposta ao convite não poderia ser outra: “- Foda-se, tô dentro! Vinte anos atrás eu havia subido a encosta que leva ao Dedo de Deus juntamente com dois amigos. Na ocasião não entendíamos nada de escalada e mesmo assim, numa atitude estúpida, quase que laçando pedra na via Teixeira, amarando corda de sisal nos velhos pinos, ficamos a não mais que uns 50 metros do cume. Foi naquela vez que juramos que um dia escalaríamos aquele pico. O tempo passou e eu ainda voltei lá na Serra dos Órgãos para realizar a Travessia Petrópolis x Teresópolis por duas vezes, mas o Dedo mesmo, foi ficando para trás, muito porque só se chega ao cume com escalada complexa, mediante ao uso de equipamentos caros. Nos dois últimos anos eu tinha aprendido os rudimentos do esporte, mas se eu falar que me dediquei a isso, estaria contando uma grande mentira. Cheguei até a subir algumas paredes de escalada clássica, mas nada que pudesse me dar alguma experiência para poder subir uma montanha com a envergadura do Dedo de Deus. Mesmo assim eu não estava a fim de perder aquela oportunidade e o meu pensamento era compartilhado por grande parte da equipe. O Vinícius se propôs a nos levar no carro dele, pegou o Alexandre, passou na minha casa em Sumaré-SP e partimos para Teresópolis, mas antes de chegarmos lá, se juntaram a nós na Via Dutra, nossos amigos paulistanos Natan e Gersinho, estava fechado o grupo insano que desafiou a montanha mais lendária do Brasil, berço do montanhismo no país. A viagem, apesar de demorar uma eternidade, acabou por ser muito prazerosa devido aos causos, histórias e outras lorotas de aventuras passadas e quando menos percebemos, já estávamos subindo a serrinha que leva à Teresópolis, aonde estacionamos atrás do restaurante PARAÍSO DAS ÁGUAS, do lado direito da rodovia, cerca de pouco mais de 1 km da entrada da trilha para o Dedo de Deus. Já era alta madruga e havíamos combinado de dormir umas 3 horas de sono e acordar antes da cinco da manhã. Como a noite estava limpa, deitamos no concreto do estacionamento improvisado, mas antes de pegarmos no sono, um maldito carro estacionado na frente do restaurante nos deu as boas-vindas tocando um fank pornográfico. Bem-vindos ao Rio de Janeiro! Conforme o combinado, cinco da manhã estávamos de pé. Tomamos café, jogamos os equipamentos na mochilinha de ataque e partimos. Descemos a rodovia, passamos por um estacionamento onde uma Santinha protege uma pequena cachoeira e logo depois de passarmos por dois bueiros, interceptamos a trilha do lado direito, que iria nos levar para cima da montanha. Portanto, na placa do parque, viramos para a esquerda e começamos a subir a íngreme trilha no meio da mata fechada. Uma coisa logo de cara assustou todo o grupo, começou a chover, mas logo notamos que era apenas uma precipitação de uma nuvem mais baixa e que logo quando o sol nascesse, aquela nuvem se dissiparia e foi o que aconteceu. Numa caminhada alucinante, uma hora depois estávamos de frente para o grande paredão da Toca da Cuíca que dá início à subida da encosta rochosa da montanha, mas essa ainda não é a via de escalada, inclusive era ali que começava os famosos cabos de aço. Engraçado que havia se passado 20 anos desde o dia que eu havia estado ali e não me lembrava que o paredão era tão íngreme daquele jeito, inclusive me lembro que a gente subiu uma parte dele apenas com a aderência das nossas botas de caminhada. Nessa parede, onde citei que começam os cabos de aço há de se fazer uma ressalva: Os cabos de aço foram instalados apenas depois de uns 10 metros e no início não existe a possibilidade de subir se não for colocando uma corda e ganhar essa altura toda escalando, se valendo das chapeletas instaladas. Claramente pode se notar que isso foi feito de propósito, com o intuito mesquinho de barrar qualquer tentativa de subida de quem não é do ramo da escalada, uma atitude medíocre dos que se acham donos das montanhas, inclusive com o possível aval do Parque nacional. Bom, o caso é que por estar molhado, foi impossível repetir o feito de 1997 e eu não consegui subir esse trecho e como não queríamos perder tempo sacando corda e equipamentos, nos ariscamos a subir pelo lado direito, onde uma trilha mais que escorregadia nos leva até um pouco acima e com a ajuda dos companheiros consegui escalar a rocha e aos poucos alcancei uma língua de mato mais acima, onde consegui acesso ao cabo de aço. Os cabos de aço estão bem preservados e dão muita segurança para se subir essa parede gigante, mas para não corrermos riscos desnecessários, fomos clipando nossas solteiras nos cabos. O esforço é grande, mas não leva nem 10 minutos e esse paredão já é deixado para trás. O caminho que se segue vai alternar outros cabos de aço, escalaminhada pesada onde cordas, algumas de segurança duvidosa, terão que ser vencidas. Às vezes o caminho se torna uma simples trilha no meio da mata com grande inclinação. A gente estava rápido, mas também sabíamos que tínhamos que ficar espertos com uma possível bifurcação para a direita, que seria o caminho que teríamos que pegar para acessarmos a via de escalada. Quando nos demos conta, estávamos no grande selado que separa um dos dedinhos do grande Dedo de Deus, uma das visões mais impressionantes do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. De cima era possível avistar além da própria extensão do Dedo, quase todas as fabulosas montanhas e formações rochosas que dão nome aquele parque. Ali estavam o Escalavrado, o Garrafão, Cabeça de Peixe, a Pedra do Sino, Nossa Senhora e uma infinidade de outros picos que fazem desse parque, um dos mais bonitos do mundo. Ficamos por ali por uns quinze minutos, inebriados pela aquela paisagem dos sonhos, mas logo nos demos conta de que nosso objetivo naquele Parque era outro e tratamos de seguir nosso caminho, sempre nos atentando pela localização da tal trilha à direita que nos levaria para a face leste da montanha. Galgamos mais um pequeno ombro e demos de cara com um grande paredão, onde paramos imediatamente. Aquele caminho não me era estranho, vi logo que era a parede que nos levaria para a Via Teixeira, a via da primeira conquista do Dedo em 1912. Ao lado dessa parede íngreme parecia que para a direita seguia uma trilha, coisa que eu até investiguei, mas que somente me levou para um abismo monstro. Diante disso, resolvemos subir também essa parede e ver se a tal trilha não estaria mais acima. Tivemos que instalar a corda e alcançar a parte mais acima escalando, coisa que em 1997 nós fizemos na raça. Alguns subiram com seus equipamentos clipados à corda, já eu e o Gersinho nos agarramos e subimos no braço, ganhando precioso tempo. Ao chegar ao cume, nenhuma trilha encontramos e ainda tivemos que subir outra parede, mas agora nos valendo de um cabo de aço, porcamente instalado. Enquanto eu procurava novamente pela trilha, o Gersinho e o Alexandre continuaram subindo até que tropeçaram na gruta onde uma placa homenageia um antigo pioneiro, era definitivamente o começo da via Teixeira, fim da linha para a gente. Mas onde diabos era essa tal trilha para a VIA LESTE DO DEDO DE DEUS? A gente se recusava a acreditar que a uma das vias de escalada mais clássica do país não era sinalizada dentro de um Parque Nacional, onde clubes e federações de montanhismo desfilam seus egos. Nenhuma placa, nenhuma fita, nada de nada. O Gersinho já de saco cheio de procurar a trilha queria escalar logo a Via Teixeira, coisa que a gente refutou logo de cara. Viajamos de tão longe para escalar a Via Leste e não era possível que por não encontrar uma mísera trilha de acesso, iríamos perder a viagem. Descemos novamente para o selado entre o estirão final e o Dedinho, bem no pé da parede onde tentei seguir uma trilha, mas só havia me levado a um abismo. Para ter certeza de que aquela não era mesmo a trilha dei outra investiga, só para constatar que não era por ali mesmo. Só poderia ser descendo, não tinha outra explicação. Então eu e o Alexandre começamos a descer novamente a trilha enquanto os outros enrolavam as cordas. Fomos descendo, mas nada encontramos, até que deixei o Alexandre esperando o resto da galera e continuei perdendo altura no meio da mata, atentando agora para o lado esquerdo, até que ao investigar um lugar que parecia com uma canaleta de água, percebi que se tratava da tal trilha. Pronto, estávamos de volta ao caminho, mas agora com mais de 2 horas perdidas. Quando toda a galera se juntou, nos enfiamos naquela trilha, que vai beirando uma grande parede e vai subindo sem dó e muitas cordas são puxadas, algumas imprestáveis e velhas, onde todo cuidado é pouco. Uns quinze minutos depois já estamos no colo que separa a via Teixeira do Polegar do dedo de Deus e para o nosso azar, encontramos já ali instalados, um grupo de 3 paulistas, guiados por um carioca, prontos para começar a escalar. Quando resolvemos sair de madrugada foi justamente para que pudéssemos escalar com mais tranquilidade, já que éramos um grupo com a maioria de inexperientes e por perdermos a trilha e nos atrasados por mais de 2 horas, agora tínhamos que nos contentar em aguardar os procedimentos do grupo à nossa frente. E foi mais um tremendo azar porque o guia deles demorou uma eternidade somente para escalar a primeira enfiada, o primeiro lance de corda e aí foi mais uma hora perdida e isso iria fazer toda a diferença no final do dia. Bom, o certo é que estávamos diante do nosso grande desafio. O Alexandre havia ficado encarregado de pegar todos os betas (dicas) sobre a via de escalada e também seria o cara encarregado de guiar a via, mas como esse primeiro lance era o mais fácil, deixou que o Vinícius tivesse a honra de inaugurar os trabalhos. A configuração do grupo montada pelo Alexandre seria o seguinte: Ele guiando, depois o Vinícius e no meio das duas cordas o Gersinho que seria precedido pelo Natan e eu fecharia na ponta da segunda corda, ou seja, me deixou como cú de tropa, o último. Narrar uma escalada não é fácil, principalmente para mim que não passo de um novato e que ainda não domino bem os termos técnicos direito, ainda mais tendo ficado como o último escalador e quase não pude presenciar o que acontecia mais acima nas subidas das paredes, então contarei o que se sucedeu mediante a minha percepção das coisas, até um pouco individualista, mas antes é preciso dizer que a subida em si, só foi possível por causa da união de todo mundo e mesmo no grande perrengue sucedido, não faltou empenho de ninguém para que essa escalada pudesse terminar bem e sem nenhum acidente. Quando todos estavam preparados e equipados, o Vinícius deu o start. Como falei, essa primeira enfiada (lance) é o mais fácil de todos, mas o início é um movimento chato, onde quem tem perna curta vai sofrer um pouco. É necessário jogar o pé esquerdo na parede e com o pé direito alcançar a outra parede e se puxar para cima, mas mão que é bom não tem onde segurar por ser uma pedra meio abaulada. Nessa hora uma força de quem está embaixo ajuda muito para que se consiga passar sem muito esforço. E assim foi, um ajudando o outro até que todos subiram, menos eu, é claro. Achei que estar com uma luva sem os dedos poderia ajudar a proteger as mãos, então me apoiei na rocha, cravei o pé esquerdo na pequena fenda e com o pé direito tentei alcançar a rocha, mas não achei lugar para colocar a mão direita e quando vi ,já não mais me sustentei e despenquei feito uma jaca madura. A escalada nem havia começado e eu já cai logo no primeiro lance, nessa hora me deu um medo de não dar conta da empreitada do qual eu havia me apresentado. Tirei as luvas, me posicionei melhor. Minha perna tremeu feito vara verde, pensei que cairia novamente, mas antes de escorregar, joguei minha mão direita o mais longe possível e finquei meus dedos numa saliência mais acima. Ufa, passei! O restante deste primeiro lance vai se alternando entre escalaminhada e escalada tranquila, as vezes nos valendo de arbustos e raízes para se ganhar terreno e logo me junto ao Natan e ao Gersinho, junto a uma parada de 2 “P”, onde um arbusto também serve para dar uma segurança. O Vinícius e o Alexandre haviam partidos para a segunda enfiada. A próxima enfiada (segunda) vai nos levar mais acima nos valendo de uma rachadura na rocha, onde é preciso tentar se enfiar por dentro dela e logo galgar a rocha do lado direito. Parece ser um lance fácil para quem olha, mas a falta de onde pôr as mãos causa um incomodo inicial, mas logo depois que se consegue se estabilizar, a subida vai fluindo até com certa facilidade e na metade já se transforma em mais uma subida fácil, onde mais arbustos são usados para ganhar altura e se elevar até a próxima parada dentro de uma toca. A subida final até essa pequena caverninha é uma boa oportunidade para tirar uma das fotos mais clássicas da subida, com uma visão privilegiada do polegar mais abaixo. Passado esse trecho cênico, todos nós nos juntamos na gruta, é hora de montar a estratégia para o lance mais temido da escalado do Dedo de Deus, chegou a hora de nos encontrarmos face a face com a lendária MARIA CEBOLA. Dentro da gruta, todo mundo está ancorado numa grande árvore que resiste em sobreviver naquele mundo hostil. Nesse ponto temos duas opções: Pegar uma chaminé escura que leva o nome de BLACKUOT ou enfrentar a enfiada mais aterrorizante, que vai fazer uma curva na face da montanha, onde o escalador vai ficar pendurado a mais de 500 metros em queda livre. Bom, como a gente tinha pouco experiência, mas nenhum juízo na cabeça, escolhemos a Maria Cebola, porque desgraça pouca é bobagem. Então nessa terceira enfiada já de cara é preciso se equilibrar encima da árvore e tentar alcançar um pino “P” logo acima da cabeça, coisa que parece fácil para quem é grande, mas mesmo o Alexandre que tem uma certa estatura, não conseguiu esticar o braço e alcança-lo e, tentar encontrar um pé ali não é fácil porque um passo errado nesse primeiro lance, é pedir para cair numa fenda potencialmente perigosa. Ainda bem que, espertamente, o Alexandre pediu para que o último membro da equipe que estava a nossa frente, colocasse a costura para a gente. Poderíamos ter feito isso tranquilamente, mas já que tínhamos essa opção, porque não a usar a nosso favor? O Alexandre se apoiou na rocha e se lançou de cima da árvore. Sua perna tremeu, mas conseguiu encontrar um agarra minúscula para poder se equilibrar. Os próximos 15 ou 20 minutos foi a gente assistindo ao Alexandre suar em bicas e se virar para conseguir fazer a curva do abismo, se ralando todo para conseguir passar por debaixo de uma rocha, onde a mochila vai moendo nas costas do escalador e o escalador vai moendo feito uma cana caiana entre as duas pedras ásperas. Passado a pedra que insiste em jogar o cara nas bordas do precipício, é hora de ganha um DIEDRO, que nada mais é que uma grande fenda entre as duas rochas. Daí para frente não tenho mais como narrar o que se sucedeu com o Alexandre porque, de onde estávamos, não víamos mais nada e mal ouvíamos o grito dele pedindo para retesar ou afrouxar a corda. Não sei como e nem de que maneira, mas o nosso “guia “ chegou ao fim daquele lance e agora era chegado a nossa vez. O tempo ia passando rapidamente e nós nem nos preocupamos em olhar no relógio. O próximo a subir para encarar o diedro da Maria cebola foi o Vinícius, que já de cara se apoiou na corda e se puxou para cima da parede e por lá ficou, escorregando para todos os lados até encontrar um apoio para aos pés. Ficou de pé, mas não progrediu, não rendeu, empacou feito uma mula teimosa. Tentou de tudo para ganhar terreno, mas não ia, nem puxando na corda de segurança. Foi aí que numa atitude desesperada, tentou usar de alguns artifícios ninja, tentando fazer algo que nem a gente conseguiu compreender o que seria, mas parecia algo como se fosse para jumar, uma técnica de subir em cordas ou sei lá que diabo era aquilo, o certo, é que não deu certo (rsrsrsr) e ele se agarrou como deu em cada lasquinha de pedra, fez a curva e desapareceu na subida do diedro e foi se juntar ao Alexandre. O Gersinho foi o outro a agarrar no rabo da corda e pular da árvore para parede, mas antes que ele desse mais um passo, já me ouviu pedir para instalar uma fita maior junto a primeira costura porque eu e o Natan, com pernas curtas, nem a costura iríamos alcançar. O Gersinho por incrível que pareça, encontrou os pés rapidinho e rapidamente se entalou na fenda, virou na curva e sumiu e sem demora deu o aval para que o Natan subisse. Auxiliei o Natan, meio que fazendo algumas leituras imaginárias lá de baixo. O Natan agarrou a fita com gosto e como o Robin, porque Batman é muito para ele, se pendurou e foi se segurando em tudo que pode, mas foi outro que conseguiu encontrar os regletes na rocha (pequenas ranhuras) e avançou rapidamente, mas só ele mesmo é quem poderia nos contar o tamanho do medo que passou na esquina do abismo e o que aconteceu no rastejo pelo diedro, a única coisa que eu sei, é que foi mais um a chegar vivo na parada mais acima. Quando o Natan gritou: ” - Pode vim Divanei “ , já me caguei todo de medo. Ficar por último é um teste de resiliência, você sabe que não vai poder contar com ninguém se algo der errado, pior ainda era ali onde eu estava, que mal conseguia me comunicar com os companheiros. Trepei naquela árvore, agarrei na ponta daquela fita colorida e me alcei com tanta força que fui parar muito mais acima do que deveria e tive que acabar descendo. Apoiei o pé numa verruga de pedra e com a mão direita retirei a fita e a costura. Cravei a unha numa pequena fissura e avancei de uma tacada só até a outra proteção, onde retirei mais outra costura. Pensei: “Meu, estou indo muito bem! ”. Passei com uma facilidade que nem eu acreditava e logo ganhei a maldita curva, por onde fui obrigado a montar na “quina da rocha arredondada” e quando olhei para o vazio, bambeie as pernas. Mais de 500 metros de abismo me espreitava de onde eu estava e se o olhar fosse mais adiante, essa altitude dobrava fácil, fácil. Claro que quando você escala de segundo a proteção é muito maior do que estar guiando, mas uma queda ali naquela curva significa levar uma vaca monstro, porque a corda vai fazer um pendulo no abismo e você vai ralar até os órgãos internos. Eu só pensava em não cair. Minhas mãos pareciam que tinham ventosas e eu sonhei ser uma lagartixa ou um calango. Enfiei minha mão embaixo da grande rocha e fui rastejando, me apoiando na fenda do diedro. Eu era quase um verme a me esgueirar pela pedra nua e gelada e nem me importava se meu nariz ia raspar naquela rocha áspera e muito menos me preocupava com a minha dignidade, essa eu já tinha perdido faz tempo. Quando consegui avançar um pouco mais sobre o diedro, percebi que ele foi se alargando e nessa hora minha vontade não era só de entalar as mãos, era de entalar minha cabeça. Como o Alexandre já havia retirado os camalot (equipamento móvel que se coloca nas fendas para dar uma maior segurança), só me preocupei em ir arrastando minha mão e retirando as costuras e quando vi, já estava de joelhos bem aos pés do Natan, que rapidinho me jogou para dentro da fenda, onde me encontrei em segurança e mesmo sem saber rezar agradeci por ter passado por aquele lance sem ter caído e fiquei aliviado por não ter que voltar mais por ali. (Só que não) Ali onde estávamos era a entranha da montanha, uma fenda gigantesca. O Natan enrolou a corda e desmontou o equipamento, aliás, fiquei impressionado de nossas vidas depender apenas de uma única ancoragem em um pino e isso me deixou muito espantado já que sempre ouvi dos mais experientes de que nunca se deve confiar em um só ponto e sempre é preciso ter pelo menos um outro como backup, mas depois descobri que deveríamos ter nos ancorado no arbusto mais alguns metros acima, mas acho que o Alexandre não quis nem saber, ao ver a grande fenda tratou logo de se jogar para dentro dela e acabar rapidamente com aquele sofrimento. Eu e o Natan fomos entrando para dentro da fenda que forma um corredor estreito e vai nos levar até o lance da grande chaminé. Por lá já estavam os outros três escaladores e surpreendentemente desta vez, o Alexandre se recusou a guiar e essa tarefa acabou sobrando para o Gersinho. Quando os três subiram, o Vinícius ficou com a incumbência de içar nossas mochilas e isso também nos fez perder outro bocado de tempo. Novamente fiquei por último e auxiliado pelo Natan, que era quem me dava a segurança, me apoiei nas duas paredes. Primeiro usei os pés para ganhar os primeiros metros e logo em seguida me entalei entre uma parede e outra. Eu jamais havia treinado subir uma chaminé com àquela altura e envergadura toda, mas fiquei pensando na infância quando a gente subia em batentes de porta e no corredor da casa da minha avó e aquilo não poderia ser diferente e com aquele pensamento, dei início a quarta enfiada. Mesmo com a corda de segurança vindo de cima, cair ali não seria nada bom, então me concentrei o máximo que pude e fui me elevando centímetro a centímetro, entalando todo o corpo entre as duas grandes paredes, alternado as pernas e quando parecia que eu poderia despencar, já apoiava os joelhos e travava tudo até pegar folego novamente. Mais uma vez, subi com muita facilidade nesse trecho de quase 20 metros, até finalmente poder ganhar uma rocha entalada no meio do vão e me posicionar em pé encima dela, aonde rapidamente retirei a costura que me dava segurança. O próximo passo é continuar subindo pela chaminé, mas agora como se fossemos sair fora da fenda e realmente é isso que vai acontecer. Logo de cara é preciso se elevar, subir um pouco e tentar alcançar um facão na parede esquerda, galgar esse facão numa diagonal e a partir de aí grudar as mãos no lado direito e os pés no lado esquerdo até sair da chaminé para descobrir que você está de volta ao grande abismo colossal novamente e saber que você não é ninguém diante da magnitude daquela montanha. A gente estava perdido naquele mundo de pedra, enfiados a milhares de metros do chão num pico lendário, na mais importante montanha do Brasil e aquilo era magico de mais. Perdemos a noção do tempo, praticamente quase não nos alimentamos, eu mesmo quase nem água bebi. A escalada estava correndo como imaginávamos até então, na verdade, tirando os medos de iniciantes, tudo corria numa normalidade que até me impressionava. Eu e o Natan recolhemos a corda e desmontamos os equipamentos e já nos enfiamos no próximo lance que nada mais é que mais uma fenda soberba, com mais uma chaminé de noventa graus, essa um pouco menor que a outra. Rapidamente o Vinícius pediu para que a gente se clipasse à corda e subíssemos. O Natan já encarou a chaminé com bravura e se juntou ao Vinícius. Sem perder tempo, dei logo início a mais essa enfiada, no caso a quinta. Aquela chaminé era das minhas, aquilo sim não diferenciava em nada dos batentes de portas da minha infância e eu poderia ter subido até de ponta cabeça, ainda mais por ser um lance curto de não mais que uns quatro ou cinco metros. Quando cheguei ao alto, já encontrei o Alexandre e o Gersinho procurando desesperadamente pela próxima linha de escalada. Fazia um frio do cão lá encima e estávamos sobre um amontoado de grandes pedras, com uma fenda gigante separando estas pedras das paredes principais que se estendiam em direção ao cume do Dedo de Deus. Já passava das cinco da tarde e o dia já ia se esvaindo por completo. O Alexandre e o Gersinho pareciam camundongos encima das pedras, correndo para lá e para cá à procura de saber para onde seguia o nosso caminho. Não foi uma cena bonita de se ver, não para mim que logo comecei a perceber que o Alexandre, ou não havia pego os betas desse lance, ou não estava conseguindo se lembrar das informações. Fiquei parado, imóvel, tentando processar o que estava acontecendo. Os caras tentaram ler o croqui da via, mas aquele era sem dúvida o croqui mais cretino que eu já tinha visto e pouco ajudava e quando o Alexandre gritou: “- Gente, vamos fazer o rapel, agora! ” Sem que a ficha caísse por completo, fiquei olhando para onde seria esse tal rapel, porque para mim só havia um caminho, que era em algum lugar tocando para cima. Nesse momento a conversa ficou quase “inaudível” e incompreensível para mim, principalmente quando o Vinícius já se posicionou para adiantar os procedimentos. Eu havia esperado por 20 anos para ter a chance de alcançar o cume daquela montanha lendária e na hora e dia que eu havia chegado a não mais que uns 20 ou 30 míseros metros do cume, os caras resolvem abandonar tudo e voltar. Quando compreendi o que estava acontecendo, minha voz mal conseguiu escapar da minha boca. Paralisado diante daquela decisão, quase que monocrática, não tive forças nem para responder quando o Alexandre pediu para eu ir procurar a continuação da via. Claro, ele notou a minha decepção porque estava mais que estampada na minha cara. Havíamos sentido praticamente o cheiro da escadinha de metal que nos levaria ao cume e der repente viraríamos as costas para a conquista e abraçaríamos o fracasso. O Natan e o Gersinho também pouco falaram e enquanto o Vinícius e o Alexandre papagaiavam palavras de consolo, seguimos atrás como a participar de um cortejo fúnebre. A minha decepção era tamanha que me deu vontade de descer aquela primeira chaminé sem cordas. Dei uma última olhada para cima e me senti como se tivesse chegado a poucos metros do cume do Everest e fosse obrigado a desistir. Desci a chaminé menor sem nem saber como, e logo me vi à beira do abismo, me amarrando à corda para fazer o rapel da chaminé maior. A noite já havia caído e agora nossos olhos eram auxiliados pelas nossas lanternas de cabeça, um ponto luminoso num mundo escuro e sombrio, encravados num dedo de rocha que por pouco não tocava o céu. A descida dessa chaminé foi aos trancos e barrancos, com mochila nas costas que foi enroscando em tudo que é pedra. Como estamos com duas cordas, o Alexandre e o Vinícius sempre iam à frente para adiantar o próximo rapel, mas tudo era lento e moroso, principalmente quando alguma das cordas enroscava em alguma fenda de rocha e aí era preciso um trabalho penoso para tentar liberá-las no escuro e depois enrolar. O vento e o frio haviam aumentado consideravelmente e a fome, o cansaço e o sono já faziam com que a nossa concentração fosse se desmilinguido aos poucos, por isso era preciso que cada procedimento antes da descida, fossem checados por todos os envolvidos na hora do rapel. Quando acabei de descer a chaminé, fiquei com a incumbência de enrolar a corda e leva-la comigo, mas eu já estava cambaleando de sono e aquele trabalho acabou se tornando um tormento, tanto que embolei tudo e dei um laço qualquer e sai puxando até atravessar o grande corredor que nos levou novamente na parada para o rapel da temida Maria Cebola. Ali estávamos nós novamente, bem no lugar aonde havia jurado horas antes nunca mais passar e para piorar as coisas, seria preciso enfrentar no escuro. Há uma recomendação pela maioria dos escaladores experientes de que uma vez escalado o lance da Maria Cebola, não tem mais volta, tem que subir e ir até o cume e agora seríamos obrigados a desconsiderar essa regra e mesmo com a maioria de principiantes, seria preciso encarar aquele mito de frente. Quando cheguei à borda do abismo, o Alexandre e o Vinícius já não mais estavam. O próximo a descer foi o Gersinho, mas infelizmente para piorar as coisas, que já andavam tensas faz tempo, a corda enroscou em alguma fenda na rocha e travou o coitado no meio da rampa. Como o vento soprava forte, a comunicação ficava quase impossível e por mais que se gritasse, nada se ouvia. Como o Natan era o cara que auxiliava ele na descida e eu ainda estava meio que socado no meio da fenda, coube a ele a incumbência de desenroscar a corda, seguindo os procedimentos que ele mesmo achou necessário. O Gersinho se foi. Agora sozinhos ali naquela parede sinistra, se encontravam dois arremedos de escaladores. Eu e o Natan nos vimos órfãos de ajuda e naquela escuridão de uma noite gelada de inverno, confabulamos algo, antes do próprio Natan se amarrar à corda e me abandonar à minha própria solidão. Na minha cabeça, o Natan levou uma eternidade para descer e me liberar a corda. Sentei-me na borda do desfiladeiro e fiquei olhando ao longe, vendo lá embaixo, milhares de metros aos meus pés, as luzinhas dos carros subindo e descendo pela rodovia. A solidão daquele lugar escuro me atormentava a alma, como nunca havia acontecido em nenhum outro lugar e olha que já passei dias e dias sozinho em outras travessias memoráveis. Eu tremia de frio, eu tremia de medo, de medo de não dar conta daquela descida, de medo de algo dar errado e não mais poder contar com ninguém. Estava extremamente cansado, tanto física como psicologicamente e quando senti que a corda havia afrouxado, percebi que havia chegado a hora de me desgrudar do meu porto seguro, que nem era tão seguro assim, porque nossa corda estava ancorada em apenas um único “P”, instalada do lado de fora da fenda, em um lugar à beira do abismo que dificulta até se ancorar nela. Me levantei de onde estava e alcancei a corda, tomando cuidado para não me desequilibrar. Me clipei, puxei a outra corda que eu havia enrolado porcamente e grudei-a com um mosquetão em uma das tiras da perna da minha cadeirinha, quis ficar com a cintura livre para melhor manusear a descida do rapel. Pronto, agora minha vida estava a se segurar por um único ponto e era somente eu e a pedra. Nunca fui nenhum escalador que prestasse, mas rapel nunca me preocupou, porque na década de 90 nos tornamos experts em descer cachoeira, pontes, paredes e abismos, mesmo que fosse com equipamentos toscos e com segurança sofrível. Mas ali era diferente, era uma espécie de rapel em curva, mais do que isso, era mais desescalada noturna, onde você tem que descer deitado na rocha, rastejando. E foi assim, como um verme, que eu iniciei a descida. Deitado de costas, mão esquerda na corda e mão direita cravada dentro do diedro. Me agarrei naquela rachadura e fui rastejando, minha mochila e minha calça quase que foram puindo na aspereza da rocha. Eu só pensava em não escorregar para o lado do abismo, eu só pensava eu jamais deixar minha mão direita se desgrudar daquela fenda e torcia para que as proteções deixadas pelos meninos pudessem fazer com que a corda não fizesse um pendulo no vazio. Quando cheguei à curvatura da montanha e levantei meus olhos em direção ao grande despenhadeiro, foi que me dei conta de que o pior já havia acontecido. Acabou-se a fenda e havia chegado a hora de me posicionar em pé nas bordas do vazio e foi aí que gritei o mais alto que eu pude: “- Segura essa porra dessa corda aí caralho, vou cair nessa merda! “ Nem liguei para as risadas que vieram lá de baixo, joguei-me na rocha e tentei grudar todo o meu corpo e se preciso fosse, teria me segurado com os dentes naquela curva maldita. Auxiliado pelo Alexandre, desescalei os metros finais porque nem rapel era possível fazer direito e quando apoiei os pés na grande árvore respirei aliviado. Se as desgraças eram vencidas em partes, uma desgraça a menos para nós vencermos. Faltavam ainda dois lances de rapel, dois longos lances entediantes e demoradas para descer, mas condicionei a minha mente para ir vencendo cada situação de cada vez e quando os rapéis acabaram no selado do Polegar, onde a trilha começa, tomei a frente e sem nem tomar fôlego, desembestei, descendo cabos e cordas como um chimpanzé de circo e 20 minutos depois reencontramos a trilha principal, pegamos para a esquerda e tocamos o pau para baixo. O Gersinho tomou à frente e eu fui no encalço dele, despencando pelos cabos de aço e desescalando onde era preciso até chegarmos novamente no grande paredão final, nos grandes cabos de aço, os últimos antes da trilha derradeira. Sem demora, eu e o Gersinho nos agarramos aos cabos e quase que deslizamos parede à baixo e foi muito melhor descer do que subir, mas o resto do grupo, capitaneados pelo Alexandre, inventaram de montar rapel para ir descendo pelos cabos, coisa que eu e o Gersinho não conseguimos entender qual era o propósito, porque a descida sem as cordas era tão rápida e tão fácil que acabamos achando excesso de preciosismo e desnecessária aquela manobra toda, mas, como cada um sabe das necessidades de sua segurança, nem nos pronunciamos, vai que os caras estavam tão cansados a ponto de realmente necessitarem desse procedimento. O certo é que eu e o Gersinho descemos toda a parede em menos de 15 minutos e como na parte final faltam uns 10 metros de cabos, que deixaram de instalar de propósito para que somente quem escala tem acesso à montanha, tivemos que nos prendermos no cabo e esperarmos os meninos, já que as duas cordas estavam com eles. Esperamos uma eternidade, esperamos tanto que nós dois chegamos a dormir por um momento e quando acordei, minha penha esquerda havia dormido de vez por estar presa a cadeirinha, dificultando a circulação do sangue. Somente uma hora e meia depois é que eles conseguiram se juntar a nós e todos juntos descemos de volta à Toca da Cuíca, finalmente no início da trilha que nos levaria de volta ao asfalto. Reunidos na toca, aproveitamos para um gole de água e para morder alguma coisa. Sentados ali, estavam 5 homens destruídos de sono e de cansaço, mas como a desgraça não tem hora para acabar, o Alexandre puxou a fila da trilha e cada qual foi seguindo em silêncio, na sua labuta e no seu martírio individual e vez ou outra se ouvia um grito e um gemido de indignação contra aquele maldito caminho que nunca chegava ao fim. Uma hora depois tropeçamos no alambrado e na placa que marcava o início da trilha e finalmente ganhamos o asfalto, estávamos de volta à civilização quase que pontualmente a meia noite, dezenove horas depois de termos iniciado aquela aventura, 19 horas de caminhada, escalada, perrengue, sono, frio, fome, cansaço e deslumbramentos. A comemoração foi tímida, eu mesmo ainda estava chateado por ter desistido tão perto do cume, mas a maioria estava mais para zumbi e poucas forças nos havia restado para abraços calorosos e comemorações exacerbadas. Cambaleando de sono, fomos subindo pelo asfalto a fim de vencermos esse km final até onde havíamos deixado o carro, mas uma coisa nos chama a atenção naquela noite gelada. Ao olhar para trás e ver a imponência do grande DEDO DE DEUS (1692 m), com sua torre atingindo o céu, não nos restou dúvidas de que aquele monstro rochoso é de longe a montanha mais fantástica e bonita do Brasil e foi muito justo ter ganhado o título de berço do montanhismo nacional. Meia hora de caminhada no asfalto nos levou de volta ao carro e depois de um breve cochilo, 2 da manhã nos enfiamos no veículo e fomos cumprir a parte final desta aventura maluca, que foi a de dirigir por mais 8 horas até São Paulo, onde chegamos às 10 horas da manhã da segunda-feira, prontos para enfrentar outra batalha cruel, voltar a rotina e ao trabalho. Quando estava praticamente com os pés no cume e recebi a notícia de que voltaríamos, pensei comigo: Lá se foi a minha única oportunidade de ascender ao topo daquela lendária montanha, talvez eu já estivesse velho demais para retornar, talvez eu nunca mais conseguisse me juntar a outra “expedição” como essa, com gente disposta a ter paciência com escaladores novatos e por isso mesmo, senti uma decepção maior que a imponência daquele dedo divino. Minha decepção foi tamanha que naquele momento pensei em nunca mais me aventurar na escalada, mas não se passou nem 2 dias para que meus pensamentos se voltassem novamente para aquela serra e com a cabeça fria, o corpo descasado e a mente em paz consegui enxergar o quão importante foi aquela aventura, o quão importante foi aquele aprendizado. O Alexandre foi um monstro tão grande quando aquela pedra por ter guiado aquilo tudo, sem nunca ter estado lá. Todos os outros companheiros de aventura se esforçaram bravamente para que a gente conseguisse subir e descer com segurança e só não chegamos ao cume por um pequeno detalhe. Hoje sabemos que o tal Passo do Gigante estava ali na nossa cara, mas o tempo nos barrou a conquista. Mais uma vez o Dedo de Deus não permitiu que eu o conquistasse por completo, mas não está longe o dia em que nós iremos desafiá-lo novamente e desta vez vamos pegá-lo desprevenido e quando ele menos perceber, já estaremos com os pés na sua goela. Divanei Goes de Paula –