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Fala pessoal, Vou deixar aqui um relato de uma viagem que eu fiz para Guatemala e México, com um stopover no Panamá, que aconteceu em fevereiro de 2022. ⚠️ Essa viagem é parte de um livro / ebook que eu escrevi, quem quiser mais detalhes dessa viagem e muitas outras, pode conferir no meu ebook Destino Vulcões, no amazon.com.br (link: https://a.co/d/5x3B7BM). O livro está gratuito para o amazon unlimited, e no menor preço possível no site (5,99R$). Instagram: www.instagram.com/destinovulcoes Youtube: www.youtube.com/@destinovulcoes Guatemala, México, Panamá e os melhores vulcões das Américas do Norte e Central Introdução – Como tudo começou Em meados de 2020, durante a pandemia, preso em casa e com saudades de viajar, encontrei na internet duas comunidades de amantes de vulcões que compartilham fotos e notícias sobre vulcões ao redor do mundo no Facebook, Instagram e sites (Ref. 4 e Ref. 5). Também comprei meu livro de vulcões (Ref. 1). Ficou bem mais fácil conseguir informação sobre as atividades dos vulcões, pesquisar mais sobre os vulcões mais incríveis em atividade do mundo. Foi aí que surgiu um sonho distante: e se um dia, quem sabe, eu escrevesse um livro sobre isso? Mas minha vontade de conhecer a Guatemala começou antes disso, em 2019, quando ouvi falar do Vulcão Fuego. Conversando com um amigo no trabalho sobre minhas férias na África, ele me mostrou o Instagram e Youtube de um casal viajante chamado Viajante honesto (Ref. 19). Eles estavam dando uma volta ao mundo, e um vídeo específico me chamou a atenção: um trekking no vulcão inativo Acatenango, na Guatemala, para ver as erupções do vulcão ativo ao lado, o Fuego. Foi a primeira vez que vi vídeos de um vulcão com erupções estrombolianas parecidas com as de Vanuatu! Sim, havia outro vulcão com atividade parecida ao Monte Yasur, explodindo lava algumas vezes por hora. Sabe-se se lá por quanto tempo esse vulcão ia permanecer em atividade, e eu não poderia perder essa oportunidade. Pesquisando informações atualizadas sobre a atividade dos vulcões nas comunidades, confirmei que o Vulcão Fuego tinha que estar no topo da minha lista pós-pandemia. Descobri também que a Guatemala tem mais dois vulcões bastante ativos e bem próximos ao Fuego: o Pacaya e o Santiaguito, que costumam ter alguma lava aparente! Atualmente, o trekking pelo Acatenango e Fuego é muito famoso na Guatemala, provavelmente disputando com Tikal o título de tour mais famoso de país. Criadores de conteúdos, como o Richard do Vida de Mochila (Ref. 27), e o Vazonde (Ref. 29), já fizeram relatos e vídeos inspiradores de lá. Mais recentemente, o Mundi360 (Ref. 28) fez o tour do Fuego, e acompanhar os stories no Instagram foi como vivenciar o passeio “ao vivo”. Não são poucas as pessoas que saem impressionadas após conhecer o Vulcão Fuego, então, “bora” para Guatemala! Em fevereiro de 2022, consegui apenas 14 dias para fazer essa viagem sozinho. Meu objetivo principal era conhecer os vulcões da Guatemala, Fuego, Pacaya, Santiaguito, e mais algum vulcão “por perto”. Pela logística/tempo/$, acabei escolhendo conhecer o vulcão Popocatepetl, no México. Consegui a volta MEX-GRU por uma quantidade de milhas razoável, um voo barato de ida para Guatemala pela Copa, com stopover no Panamá e outro voo barato da Guatemala pro México. Eu tenho muita vontade de passear por toda a América Central, especialmente Nicarágua, mas vai ficar para uma próxima. Era hora conhecer os vulcões mais ativos da América Central e do Norte, e, já dando spoiler, o vulcão mais incrível de todas as Américas! Resumo do Roteiro Figura VI‑1: Roteiro Guatemala, México e Panamá O roteiro escolhido foi: Dia 1 -> Cidade do Panamá Dia 2 -> Antígua e Vulcão Pacaya Dia 3 -> Acatenango e Fuego Dia 4 -> Acatenango e Fuego Dia 5 -> Lago Atitlan - Panajachel Dia 6 -> Lago Atitlan - Maximon Dia 7 -> Tikal Dia 8 -> Flores -> Lanquin Dia 9 -> Semuc Champey Dia 10 -> Lanquin -> Cidade da Guatemala -> Cidade do México Dia 11 -> Cidade do México Dia 12 -> Teotihuacán e Basílica Dia 13 -> Popocatepetl Dia 14 -> Cidade do México -> São Paulo Relato dia a dia Dia 1 -> Cidade do Panamá A Copa Airlines oferece frequentemente stopover gratuitos de alguns dias no Panamá, uma excelente oportunidade para conhecer o país. Sempre quis conhecer as ilhas de San Blas, mas, devido a minha falta de tempo nessa viagem, só pude conhecer a Cidade do Panamá. Lá eu queria conhecer a Amador Causeway, o centrinho chamado Casco Antiguo e, claro, o Canal do Panamá. Algumas horas seriam suficientes para conhecer tudo, mas os horários das passagens aéreas baratas eram meio ingratos. Saí de casa tarde da noite para o aeroporto de Guarulhos, peguei um voo às 3h e cheguei ao Panamá às 8h da manhã. Só consegui dar aquela “dormidela” de avião antes de sair para conhecer a cidade, bastante cansativo. No aeroporto, há várias ofertas de city tours para quem está em conexão/stopover, saindo e voltando para o aeroporto, por uns 100 $USD. Como eu estava muito cansado para alugar carro e ver transporte público, fui ver se algum taxista faria uma volta pelos meus pontos de interesse por um preço menor. Logo descobri que o centro de visitantes do Canal do Panamá (Eclusa Miraflores) estava fechado às segundas por causa da pandemia. Caramba, meu principal ponto de interesse no Panamá, já era! Pelo menos descobri outra eclusa para visitar, Pedro Miguel, que pode ser vista da beira da estrada, segundo os taxistas. Acabei fechando um passeio de 4h por 80 $USD, para a eclusa, aos outros locais que eu queria conhecer, e mais algumas sugestões do taxista. Após o passeio, ele me levaria para almoçar e me traria de volta para o aeroporto. Então, partiu conhecer o Panamá! Antes de seguirmos para a Eclusa Pedro Miguel, fizemos uma primeira parada rápida para foto na parte moderna da cidade, próximo ao prédio mais icônico, o “The Screw”, com sua arquitetura retorcida e muito interessante. Após passar por esta parte rica da cidade, passamos por uma parte bem mais pobre, com favelas no centro – um lembrete da desigualdade social que, infelizmente, é uma das marcas da América Latina. A Eclusa Pedro Miguel, diferente da Eclusa de Miraflores, não tem um centro turístico. Mas da estrada já era possível ver a eclusa e os barcos passando por lá. Tivemos um pouco de sorte porque, naquele momento, tinha um navio bem grande passando lá. Salvei o vídeo Cap VI‑1 no canal do livro (youtube.com/@destinovulcoes). Depois fomos conhecer um lugar bacana chamado Amador Causeway. Durante a construção do Canal do Panamá, aterrou-se um trecho do mar e criaram a Avenida Amador Causeway, conectando a cidade a algumas ilhas próximas. É um lugar agradável, com ciclovias, marinas, restaurantes e museus, além de uma vista da cidade. De um lado, o Canal do Panamá e a bela Ponte De Las Américas; do outro, o skyline da parte moderna da Cidade do Panamá. Figura VI‑2: Navio gigante na Eclusa Pedro Miguel, parece que não vai passar.... Figura VI‑3: Apertadinhho, mas passou.... Figura VI‑4: Skyline, “The Screw” se destaca Figura VI‑5: Ponte de Las Américas Depois seguimos para o Casco Antiguo, o centrinho da Cidade do Panamá. Para mim, é a parte mais interessante. A primeira parada foi em uma igreja com um bonito interior, Igreja de São José, com o altar todo de ouro. Depois seguimos para a Catedral Basílica Metropolitana de Santa Maria la Antígua do Panamá (nome grande, né!), também conhecida como Catedral Metropolitana do Panamá. O motorista parou na frente da catedral, me disse para eu dar uma voltinha em um quarteirão e voltar lá para depois sairmos para almoçar.... Vi que o cara estava com pressa, mas me fiz de desentendido e dei uma volta bem maior, já que não era esse o combinado, queria conhecer melhor o Casco Antiguo. O motorista me explicou que o governo estava reformando o Casco Antiguo, trocaram todo o calçamento das ruas e calçadas, comprando imóveis antigos para restaurá-los e transformá-los em locais mais turísticos como restaurantes, lojinhas de souvenir e museus. Para falar a verdade, achei o centrinho com uma aparência meio artificial. Tudo estava novo demais para um centro colonial antigo, a pintura das casas, as calçadas, calçamento das ruas.... Parecia mais um estúdio cenográfico, não sei explicar direito. Diferente do pelourinho, em Salvador, que, mesmo após restaurações, manteve o charme autêntico de centro histórico. Talvez, com o tempo, à medida que as ruas e calçadas fiquem mais desgastadas, o Casco Antiguo ganhe uma aparência mais colonial. De qualquer forma, no Casco Antiguo tem construções bonitas, incluindo as principais igrejas, o palácio do governo, algumas ruínas antigas e alguns prédios bonitos. É um lugar bem bacana, ainda que não tenha o brilho de outros centrinhos coloniais. Entre suas muitas praças, destacam-se a Praça de La Independencia, em frente à catedral (coloquei no canal um vídeo de lá, Cap VI‑2), e a Praça Simon Bolivar, com um belo monumento a Bolivar, considerado o libertador de vários países da América Latina, inclusive o Panamá. Esta praça fica próxima de belos prédios, como o Teatro nacional, e a bonita Igreja de São Francisco. Algo que me surpreendeu é que não há praias para nadar na Cidade do Panamá. Segundo o motorista, a praia para banho mais perto do centro fica a uma hora de carro. A orla é repleta de prédios modernos, estilo “Dubai wannabe”, e a Cinta Costeira (avenida à beira-mar) é, de um modo geral, agradável, mas não dá para aproveitar o mar. Com uma ressalva: parte da Cinta Costeira foi construída no meio do mar, circulando o belo Casco Antiguo, teoricamente para desafogar o trânsito. Mas, na minha opinião, essa avenidona no mar circundando o Casco Antiguo ficou horrível... Figura VI‑6: Catedral Metropolitana do Panamá Figura VI‑7: Altar da Igreja de São José Figura VI‑8: Casas coloniais e calçamento “novinhos” no Casco Antiguo Figura VI‑9: Parte horrível da Cinta Costeira ao redor do Casco Antíguo Terminei o passeio, voltei para van e perguntei para o motorista sobre o almoço. Visivelmente apressadinho, ele me pediu para entrar na van enquanto perguntava que tipo de comida eu queria. Respondi que queria algo bom e barato, e depois de alguns minutos, ele disse: “ah, então vou te levar para um lugar que fica do lado de fora do aeroporto, onde os funcionários comem, não os restaurantes turísticos....” Espertinho, querendo terminar logo o passeio. Seria bom ter mais tempo para explorar o Casco Antiguo sem pressa, mas, como iria dar mais ou menos as 4h combinadas, OK. No geral, o passeio foi legal, embora um pouco caro, pois, cansado, acabei pagando mais pela conveniência. A parte ruim é que acabei voltando muito cedo para o aeroporto, umas 13h, e meu último voo saía 19h. Depois de almoçar, fiquei com 5h livres sem nada para fazer no aeroporto. Como eu estava de bobeira mesmo, fiquei procurando wi-fi grátis (o irritante aeroporto só oferecia 30 minutos grátis) e um bebedouro para encher minha garrafinha, já que não queria pagar 4 $USD por uma água! Nesses “rolês”, passei por umas salas vips e lembrei que o meu cartão novo tinha 2 acessos gratuitos por ano. Nunca tinha ido nessas coisas chiques, fui em uma chamada Lounge Key. O local era pequeno e, para comer, só tinha macarrão com molho de tomate e almôndega. A única coisa que parecia bem servida era bebida alcoólica, mas eu estava muito cansado e sem pique para beber. Me perguntei como alguém pagaria 32 $USD para usar aquela porcaria, só fui porque era de graça! Pelo menos o wi-fi era bom e, uma hora antes do voo, mesmo sem fome, comi mais um pratão de macarrão para não ter que jantar depois. Já dizia o Jô Soares, pobre é uma desgraça 🤣🤣🤣 . Finalmente, embarquei rumo à Cidade da Guatemala. A Cidade da Guatemala fica a mais o menos 1h de Antígua, meu destino final. Como meu voo chegou tarde, o jeito foi ir de táxi mesmo. Cheguei em Antígua depois das 22h, horário local (3h de diferença pro horário de Brasília). Foram 27h rodando para chegar até aqui, estava exausto, agora era só tomar um banho e desmaiar. Mas foi um dia bacana, gostei de conhecer a Cidade do Panamá, especialmente Casco Antiguo, pena que o centro de visitantes do canal estava fechado. Cidade do Panamá: #valeapena Dia 2 -> Antígua e Vulcão Pacaya O principal motivo da minha viagem era fazer o tour do vulcão Acatenango, para conhecer o Vulcão Fuego. Os dois vulcões ficam lado a lado: o Acatenango, inativo, e o Fuego, bastante ativo! O tour começa com um trekking puxado até o acampamento no Vulcão Acatenango, com vista privilegiada do Vulcão Fuego. Passamos a noite no acampamento e retornamos no dia seguinte. A maior incerteza desse tour é climática. O Vulcão Fuego tem 3.763 metros de altitude, o Acatenango, 3.973 metros, e os acampamentos ficam entre 3500-3700 metros de altitude. Depois de encarar um longo trekking, o maior medo é chegar no topo e estar tudo coberto por nuvens (ou com muita chuva) e não conseguir enxergar nada. Por isso, o ideal é ir na estação mais seca de lá, entre dezembro e maio. Eu escolhi fevereiro e fiquei acompanhando as previsões de curto prazo no mountain-forecast (Ref. 30) para definir o dia exato do trekking. Por causa dessas incertezas, eu só reservei com antecedência a primeira noite em Antígua, e deixei resto do itinerário na Guatemala livre, caso pegasse mau tempo em algum momento da viagem. A única certeza era o dia da passagem aérea para o México. Chegando perto da viagem, felizmente a previsão estava “boazinha” no início da viagem. Não estava lá essas coisas para esse primeiro dia, mas estava perfeita para a tarde do dia seguinte: segundo o mountain-forecast, o cume estaria sem uma nuvem sequer! Assim, decidi conhecer Antígua primeiro, eventualmente conhecer o Vulcão Pacaya, e deixar o tour do Acatenango para o dia seguinte. Antígua é uma cidade colonial bem bonitinha, seu centro foi declarado patrimônio mundial da UNESCO por causa da sua arquitetura de influência barroca espanhola e igrejas coloniais do século XVI. Fundada em 1542, já foi a capital da Guatemala, fica aos pés do vulcão inativo Água e próxima aos vulcões Acatenango, Fuego e Pacaya, sendo uma região com bastante atividade sísmica. A cidade já enfrentou vários desastres desde sua fundação, houve alguns terremotos grandes, uma enchente devastadora e até um incêndio provocado pela população indígena em 1527. Mas a população nunca abandonou a cidade, que foi se reconstruindo depois de cada desastre natural. Depois do último terremoto gigante, em 1773, a capital do país foi transferida para Cidade da Guatemala, a 45 km de Antígua. Caminhando pelo centro, é possível ver muitas ruínas causadas pelos terremotos, especialmente o de 1773. Depois de tomar o café da manhã, comecei a explorar as ruas de paralelepípedos do centro de Antígua. Logo cheguei à Igreja de São Francisco, uma das poucas que resistiu a todos os terremotos da cidade, ainda que tenha uns sinais de desabamento no lado direito da própria fachada da igreja. Bonita igreja. Aliás, não faltam bonitas igrejas no centro de Antígua. De uma forma geral, os guatemaltecos são bastante religiosos, dizem que as celebrações da Páscoa na Guatemala, especialmente em Antígua, são muito bonitas! Depois fui seguindo por uma praça com uma fonte, chamado Tanque La Union e, no final, outra igreja amarela do apóstolo São Pedro. Figura VI‑10: Igreja de São Francisco Figura VI‑11: Igreja de São Pedro E logo cheguei na Praça Central de Antígua, o coração da cidade. A praça não é tão grande, tem um belo chafariz no centro e é rodeada de lindos edifícios. De um lado, o palácio municipal, prédio bonito com muitos arcos. Do outro, o Palácio Real dos Capitães Gerais, com ainda mais arcos. Do outro lado, a Catedral San José. Ela é talvez o melhor lugar para testemunhar o estrago que o terremoto de 1773 fez na cidade. Uma parte dela foi reconstruída, a parte cuja fachada está de frente para praça central. Ao lado, ficam as ruínas que não foram restauradas depois do terremoto. A entrada para a parte restaurada da catedral é grátis, mas, para conhecer a parte das ruínas, é cobrada entrada. Também voltei para a praça central à noite, para conferir a linda iluminação noturna na cidade. Figura VI‑12: Palácio Real dos Capitães Gerais Figura VI‑13: Palácio Municipal Figura VI‑14: Catedral de San José Figura VI‑15: Ruínas da antiga nave da catedral A poucas quadras da praça central, está o Arco de Santa Catalina, declarado patrimônio da humanidade da Unesco, originalmente pertencendo ao convento Santa Catalina. Ele resistiu ao terremoto de 1773, mas, nesse ano, com a mudança da capital de Antígua para Cidade da Guatemala, a estrutura ficou abandonada. Até que, em 1890, o arco foi reformado pelo governo e construíram a torre do relógio, que acabou se tornando, o monumento mais famoso de Antígua. Depois do arco, conheci mais uma bela igreja de Antígua, Igreja de La Merced. Por fim, andei mais um pouco na parte norte do centrinho. Vi mais algumas igrejas, outras ruínas de igrejas destruídas pelo terremoto... Outro lugar “famosinho” é o Convento das Capuchinas, também destruído pelo terremoto. Mas não quis pagar entrada, “pão durei” e tirei só foto de fora. Figura VI‑16: Arco de Santa Catalina Figura VI‑17: Mais bonito de dia ou de noite? O lugar com a vista mais bonita da cidade é o Cerro de La Cruz, onde eu estava pensando em fechar o meu city-tour por Antígua. O dia amanheceu bonito, mas com nuvens cobrindo a parte mais alta do belo Vulcão Água. E o vulcão encoberto foi a desculpa que eu precisava para me render à preguiça e desistir de subir o Cerro de La Cruz... Melhor guardar energia para a tarde, já que eu decidi fazer o tour do Vulcão Pacaya! Eu adorei conhecer o lindo centrinho de Antígua e um pouco da cultura guatemalteca! Muito artesanato, comidas e roupas típicas. Legal ver um povo que mantém viva muitas das suas tradições, alguns ainda falavam os idiomas maias. Vulcão Pacaya Nas minhas pesquisas, descobri que a Guatemala possuía três vulcões bastante ativos. O Fuego e o Pacaya ficam próximos à Antígua, e o Santiaguito próximo à Xela (apelido da cidade chamada Quetzaltenango). O meu objetivo era visitar todos, mas eu sabia que, comparando com o Fuego, os outros não deveriam ser tão incríveis assim. Quando eu fui, em fevereiro de 2022, infelizmente o Pacaya estava sem nenhum pouquinho de lava visível. Uma pena, pois ele costuma ter ao menos um pouco de lava aparente. Isso quando ele não está bastante ativo, com erupções ou com fissuras grandes, escoando muita lava! Em junho de 2021 (só 8 meses antes da minha visita ) teve uma mega erupção havaiana, eram rios de lava descendo a encosta do vulcão! Imagens incríveis rodaram a internet, mas durou pouco, pena que eu cheguei tarde demais na Guatemala.... As agências de Antígua geralmente oferecem o tour para o Pacaya saindo de manhã, umas 6h, ou à tarde, umas 14h. Mesmo sabendo que dificilmente teria alguma atividade, optei pela tarde, porque, caso houvesse algum resquício de lava, ia ficar mais bonito à noite. O tour do Pacaya é muito mais leve que o Acatenango, são aproximadamente 6 km de caminhada (ida e volta), umas 3h de caminhada. O ganho de altitude não é tão grande, saímos de 2000 metros e fomos até 2500 metros, aproximadamente. Para quem não quiser ou não puder caminhar, tem muitos locais oferecendo cavalos no começo da trilha. No começo e durante a maior parte do trajeto, a trilha não é tão inclinada, mas a areia muito fofa afunda bastante o pé quando pisamos. Cansa um pouquinho mais por isso, mas o hiking é bem tranquilo. O sol não castigou, pois o caminho tem alguma cobertura de vegetação e o céu estava bem nublado. Ainda assim, deu para ver o último fluxo de lava que desceu o vulcão até o fundo do vale na última erupção (aquela de 8 meses atrás), e que por pouco não chegou no vilarejo lá embaixo.... No final da caminhada, quando chegamos na encosta do vulcão, aí, sim, o solo mudou bastante. Passamos a caminhar sobre lava recém-solidificada, com muitas pedras meio pontudas, mas com bastantes cavidades entre elas. O terreno parecia esponja petrificada, bem diferente... Para quem gosta de vulcões e vulcanólogos, é bem interessante, dá para ver a diferença das lavas solidificadas de cada erupção. Os rios de lava mais pretos, à esquerda do vulcão, tinham uma cor mais escura por causa da atividade mais recente. Enquanto outras partes, resultantes de erupções mais antigas, estavam menos escuras. Quanto à atividade vulcânica, até dava para ver algumas fumarolas bem mais para cima, perto do cume do Pacaya, mas nenhum sinal de lava, infelizmente.... No final do tour, caminhamos pela base do vulcão, até alguns buracos quentes entre as rochas, de onde saía calor. Tradicionalmente, os guias usam esses buracos quentes para esquentar marshmellows. Salvei dois vídeos no canal, o Cap VI‑3 com as atividades fumarólica mais no topo do vulcão, e o Cap VI‑4 com uma vista 360 do vulcão e seus arredores. Figura VI‑18: Vulcão Pacaya Figura VI‑19: Lava mais escura (erupção recente) Figura VI‑20: Buraco quente No geral, eu gostei do tour. Uma pena que estava bem nublado entre as montanhas. Com o céu aberto, teria uma vista linda para os 3 vulcões mais próximos de Antígua: Água, Acatenango e Fuego. Só essa vista já deve valer o passeio, no pôr do sol deve ficar ainda mais bonito, mas, infelizmente, esse lado estava encoberto. O céu só estava mais aberto para o lado da Cidade de Guatemala. Mas é um tour imperdível? Com o Pacaya sem lava, só emitindo algumas fumarolas, eu diria que não. Se estiver com rio de lava, com certeza é imperdível! Vale a pena conferir a atividade antes. Na minha opinião, por 150 $QTZ, acho que vale a pena conhecer um terreno vulcânico interessante e, se o tempo estiver bacana, curtir uma linda vista dos vulcões da região. Uma ressalva: algumas pessoas vendem o tour do Pacaya como uma versão light do Acatenango, mas em termos de atividade vulcânica, o principal atrativo do Fuego/Acatenango, não tem comparação! Só não gostei muito da logística/enrolação do tour. Tudo era meio lento, demora para sair, demora para voltar, pegava um monte de gente em cada hotel... Acabei saindo às 14h e só voltei para Antígua por volta das 20h, não precisava demorar tanto. Foi bastante cansativo, o ideal seria fazer o Pacaya em um dia e conhecer Antígua em outro, mas, por falta de tempo, juntei tudo em um dia só. E, como se não bastasse, quando cheguei no hotel ainda saí para tirar aquelas fotos noturnas de Antígua! Antígua: #valeapena Vulcão Pacaya: #valeapena Dia 3 -> Acatenango e Fuego E chegou o tão esperado dia de conhecer o Vulcão Fuego, um estratovulcão com aquele clássico formato cônico e mais de 3700 metros de altura. O Fuego tem uma peculiaridade: ele fica “colado” ao seu “irmão” Acatenango, inativo e mais alto (quase 4000 metros). Depois de anos de repouso, em 1999, o Fuego voltou a ter atividade estromboliana. Sua principal característica são as pequenas erupções estrombolianas, que ocorrem de maneira frequente e contínua. São diversas erupções por hora, geralmente entre 3 e 8, mas esse número pode variar bastante. De vez em quando, surgem fluxos de lava na encosta do vulcão e ocasionalmente ocorrem fluxos piroclásticos, mas erupção maiores são raras. A exceção foi em 2018, quando uma erupção mais violenta fez com que fluxos piroclásticos atingissem rapidamente vilas próximas, causando fatalidades, infelizmente. As cinzas desta erupção forçaram, inclusive, o fechamento do aeroporto da capital. Eu diria que a subida até o campo-base é entre moderada e difícil. O trecho tem uns 6,5 km de distância, mas a variação de altitude é grande: começa em algo entre 2300/2400 metros e sobe até o campo-base, que fica entre 3500 e 3600 metros, dependendo do ponto de acampamento da agência. As agências, normalmente, têm mais de um guia (no nosso caso, eram três) e, apesar do grupo ser grande, o pessoal vai dando um bom ritmo. Eles fazem bastante paradas para descanso, de uns 10 minutos cada, suficiente para dar uma descansada, e não é tão longo a ponto de esfriar o corpo. E tem uma parada maior para o almoço. Além disso, um guia vai com o pessoal que sobe mais rápido, outro vai com o pessoal intermediário, outro com o pessoal que sobe por último. Eu diria que, mesmo quem está com preparo meia-boca, com força de vontade e devagarinho, consegue chegar até o acampamento-base. Vai cansar bastante, mas chega! Lembrando que tem que subir carregando mochilas com comida, água para 2 dias e roupa para passar uma noite acampando a 3600 metros, por volta de 0o C. Ah, atenção na hora escolher a agência, pois algumas já deixam as barracas/abrigos montados lá no acampamento, enquanto, em outras, você terá que carregar também a barraca e o equipamento para dormir. O motorista da agência passou no hotel às 8h. Depois da tradicional enrolação para pegar a galera nos hotéis, juntar com uma galera de outro ônibus, pegar guias, ouvir instruções, esperar não sei mais o que, enfim..., começamos a subida às 11h30. E chegamos no acampamento por volta das 16h, foram 4h30 de subida já contando as paradas. A parte mais inclinada e cansativa é no início. Felizmente, a trilha não fica exposta ao sol, está cheia de árvores. Aliás, me chamou a atenção a quantidade de árvores altas, nem parecia que você está chegando em um dos vulcões mais ativos do mundo! Deixei no canal o vídeo Cap VI‑5, mostrando como é a maior parte da subida até o acampamento. Estava um dia bonito, com bastante sol, mas, quando a gente olhava para o alto, não conseguia ver o topo do Acatenango, que estava encoberto com algumas nuvenzinhas perdidas. Eu pensava: “Só faltava chegar lá em cima e a vista para o Fuego estar toda encoberta...” Conforme íamos subindo, a vegetação foi diminuindo um pouco, mas grande parte do trajeto ainda era bem arborizado. Quando não chove, o solo vulcânico de lá é até bom para caminhar, nem é tão fofo, sem pedras pontiagudas etc. Seguimos caminhando. As nuvens no alto do Acatenango não tinham dispersado e, depois de muito subir, chegamos na camada das nuvens. Nesse trecho, até ameaçou cair umas gotinhas de chuva, tão de leve que nem precisou vestir a jaqueta impermeável. Atravessamos as nuvens e continuamos subindo. No final da subida, a vegetação fica bem menor e já não protege do sol. Felizmente esse último trecho é mais plano. Agora estávamos contornando o Acatenango, rumo ao acampamento-base. À direita fica o cume do Acatenango, que não estava todo encoberto. Mas à nossa esquerda, onde em breve estaria o vulcão Fuego, tinha uma camada de nuvens persistente que não deixava a gente enxergar nada praquele lado. Eu estava ficando cada vez mais preocupado, a previsão dizia que não ia ter uma nuvem sequer, e lá no alto, a gente estava rodeado de nuvens! O vídeo Cap VI‑6 é dessa parte final da subida. Estávamos quase chegando no acampamento, e eu era só preocupação.... Ainda havia uma esperança: vai que, do outro lado do Acatenango, a vista está melhor. E seguimos contornando o vulcão.... “Ni qui” chegamos no acampamento......, esta era a nossa visão: Figura VI‑21: Vista na chegada ao acampamento 🤡 🤡🤡Droga, não dava para ver nada! Muito menos o Fuego, que ficava tão pertinho (estávamos a apenas 3 km da cratera). Depois de 4h30 de caminhada, quase 1.5 km de altimetria, não deu nem para comemorar o final da subida. Depois de anos planejando essa viagem, era só que o que me faltava: chegar aqui tão perto e não conseguir ver o Fuego! O pior é que eu tinha planejado tudo certo, a previsão era a melhor possível, o dia tinha amanhecido bonito com pouquíssimas nuvens, mas, chegando no topo, estava com nuvem para caramba. É muito azar! Será que a previsão do mountain-forecast é tão ruim? Bom, só me restava esperar, já pensando em um plano B. Uma coisa era certa: se eu não conseguisse ver nada nesse tour, eu voltaria outro dia. Afinal, tinha deixado meu itinerário flexível para mudar os planos caso o tour do Acatenango “desse ruim”. Deixaria de ir em outros lugares e faria de novo o tour, ia pedir desconto na agência, tentaria não pagar de novo entrada no parque (até guardei o ticket!), mas não iria voltar para casa sem tentar ver de novo o Fuego. Perguntamos aos guias se era normal esse tempo nublado, mesmo sendo época de seca, e eles disseram que ali, no topo dos vulcões, era tudo muito imprevisível. Às vezes fecha tudo, às vezes abre, pode até chover do nada e depois clarear novamente.... Segundo eles, deveríamos esperar com alguma esperança porque o tempo ainda poderia abrir. Comentaram também que, na época de chuva, é bem mais complicado, muitas vezes o tempo fica fechado nos dois dias do tour. Já nessa época de seca, o tempo pode ficar fechado à tarde e abrir pela manhã do dia seguinte, ou abrir à tarde e fechar no dia seguinte, mas raramente fica fechado o tempo todo. Não sei se eles estavam sendo sinceros, ou era aquele papo otimista só para nos animar e dar um pouco de esperança, já que não tínhamos muito o que fazer, além de torcer para o tempo melhorar! E o tempo foi passando.... Já estávamos há uma hora lá no acampamento, e nada do tempo mudar. E o pior é que não dava para ver nem para ouvir nada do vulcão, nenhuma fumaça, nenhum barulho. Nem parecia que, a uns 3 kms de distância, tinha um vulcão ativo que entra em erupção umas cinco vezes por hora. Apreensivo, eu estava arrumando umas coisas na barraca quando o outro brasileiro da nossa excursão veio correndo me chamar: “Rafael, vem rápido, vem rápido”! “Ni qui” saí da barraca, vi as nuvens começando a se dissipar do nada e, num passe de mágica, eis que ele surge bem na nossa frente, o grande rei do pedaço: bem-vindo Vulcão Fuego!!! E, no primeiro minuto, boooom, a primeira erupção! Ufa, ele estava lá mesmo 🤣🤣🤣 . Figura VI‑22: Vulcão Fuego aparecendo Hora de aproveitar para tirar muitas fotos, afinal, não sabíamos quando tempo mais teríamos de céu aberto. Nessa hora, os guias começaram a falar para a gente se preparar para a caminhada até o Fuego. As agências oferecem (e geralmente cobram à parte) uma caminhada do acampamento-base até essa segunda “corcova” do Fuego (vide foto a seguir). O pessoal fala que esse trecho chega a 300 metros da cratera. Não me pareceu tão perto assim, acho que deveria estar a uns 500-600 metros, mas é beeeem mais perto que o nosso campo-base no Acatenango. A altitude é a mesma do campo base, uns 3600 metros, mas tem uma “descidona” do Acatenango e depois uma subidona do Fuego, deve dar uns 2 km (só a ida), com 500 metros de descida e 500 metros de subida. A trilha ainda tinha um trecho mais perigoso/exposto, é quando tem que passar por um tronco em um penhascozinho. Aproximadamente 1h30 para ir, e o mesmo tempo para voltar, cansativo para caramba, isso porque tínhamos acabado de fazer as 4h30 de subida! Figura VI‑23: Caminhada até a “corcova” do Fuego Teoricamente estava proibido fazer esse trecho da corcova do Fuego porque, na época, um mexicano não se contentou em ir só até onde os guias deixam e resolveu ir por conta e risco até a borda da cratera, postando um monte de vídeo no Youtube.... O turismo lá movimenta bastante a economia, e muitas pessoas dependem dele para viver. Elas ficaram “p da vida” porque, se acontecesse um acidente mais grave, o trekking poderia ser proibido. De fato, após o incidente com esse turista, o governo havia proibido a caminhada até a corcova do Fuego. Mas, naquele dia, os guias estavam liberando, e lá fomos nós! Nos preparamos rapidamente para o trekking extra, o grupo estava muito animado porque o clima tinha aberto. Eu achei melhor deixar a mochila de 40L no campo-base. Só peguei uma garrafa de água, bolacha e celular para levar nos bolsos, e resolvi levar a câmera DSLR pendurada no pescoço e um tripé na mão mesmo. Como iríamos voltar à noite, vesti as roupas de frio e começamos nossa descida lá pelas 17h. Detalhe, depois de uns 15 minutos descendo o Acatenango, lembrei que tinha esquecido de pegar minha lanterna de cabeça. Não ia ser nada divertido voltar no escuro sem a lanterna! Na hora, eu quis voltar para o acampamento para pegá-la, mas o espertinho do guia que estava atrás me enrolou, dizendo que o outro guia tinha uma lanterna reserva... Na boa-fé, eu acreditei. Na parada para descanso, perguntei para o outro guia se ele tinha uma lanterna reserva, e ele disse: “claro que não, só tenho a minha!” E ainda respondeu como se eu estivesse fazendo uma pergunta das mais idiotas... Na verdade, o outro guia só queria me convencer a não voltar para não atrasar o grupo. E conseguiu atingir esse objetivo, eu deveria ter voltado! Enfim, “guia-mala” sendo “guia-mala”, querendo ter o menor trabalho possível e cagando para você.... Pelo menos na volta, entre um “tropicão” e outro, usando só a lanterna do celular e aproveitando da iluminação das lanternas dos outros, eu consegui voltar sem maiores percalços. Mas logo nos primeiros 20 minutos, quando a gente ainda estava descendo a encosta do Acatenango em direção ao Fuego, o tempo foi fechando novamente. As nuvens foram se acumulando cada vez mais no pequeno vale entre os dois vulcões, até que, não tardou muito e começou uma chuvinha. Ainda bem que a terceira camada da minha roupa estava com impermeabilidade em dia e me protegeu bem da chuva. Protegeu, inclusive, a minha câmera que estava no pescoço por baixo da jaqueta. Depois de um rápido descanso, era hora de encarar a subidona até o Fuego, com chuva e tudo! Só nos restava ter fé e torcer para as nuvens se dissiparem (de novo) quando chegássemos lá em cima. Mas, em vez disso, a chuva aumentou para caramba. As partes mais arenosas da trilha estavam se transformando em lama, as partes com mais pedras estavam bastante escorregadias. Estava escurecendo, um frio do cão, não dava para enxergar um palmo na nossa frente. E, para piorar, começou a chover até granizo como se São Pedro tivesse decidido nos apedrejar! Que perrengue! Só nos restava seguir caminhando, e torcer para virada do tempo. E..., quando chegamos na corcova do Fuego...., não dava para enxergar absolutamente nada! O vídeo Cap VI‑7 é do exato momento que chegamos lá. Detalhe: o pouco que vocês conseguem enxergar no vídeo é o por causa do flash ligado do celular, e das lanternas. Ao menos tinha parado de chover granizo quando chegamos na corcova do Fuego; chovia só água mesmo, além da ventania e do frio. De vez em quando, dava para ouvir uma erupção, mas não dava para enxergar nada. O jeito era esperar para ver se o tempo melhorava (de novo). Acho que ficamos entre 30 minutos e uma hora lá em cima, não sei ao certo. Mais para o final, tivemos a sorte de ver pelo menos duas erupções quando as nuvens se abriram um pouquinho, o que nos permitiu ver essas erupções bem de perto. Foi incrível! Pena que não tive como fotografar. Até tentei tirar foto com meu celular, mas ele era muito ruinzinho. Com a chuva, não ia arriscar molhar minha câmera. Às vezes, as nuvens abriam um pouquinho a ponto de ver a lava deslizando pela encosta, como no vídeo Cap VI‑8 que eu fiz com o celular. As coisas estavam melhorando. Mais tarde, o tempo abriu um pouco mais, a chuva quase parou, e eu comecei a montar a câmera no tripé para tentar tirar uma foto. Mas, naquela escuridão, eu mal conseguia encaixar a câmera no tripé. Para “ajudar”, eu estava sem a minha lanterna de cabeça e bem nessa hora os guias resolveram que era hora de ir embora. Droga... Desencanei e comecei a guardar a câmera e o tripé. O pior é que, nessa hora, percebi que perdi a capinha de proteção da lente da câmera. Apesar do guia-mala querendo que eu fosse embora logo, fiquei rodando na corcova do Fuego, procurando a capinha, e nada... Maldição, não consegui nenhuma foto com a câmera, agora só faltava estragar a lente! O jeito era tomar muito cuidado voltando pela trilha escorregadia, na chuva, no escuro, com a câmera no pescoço e sem proteção alguma... Apesar de alguns tombos e escorregões, pelo menos a câmera (e eu) chegamos intactos no acampamento! No caminho da volta, quando estávamos mais ou menos no meio do caminho, finalmente parou de chover. Melhor que isso, parecia que as nuvens estavam sumindo. Estava tudo muito escuro, mas, quando ouvi uma erupção e virei para ver o Fuego, o céu tinha aberto completamente e já era possível ver o show dele explodindo lava vermelha pelos ares! E depois vieram muitas erupções, uma atrás da outra. Pelos gritos dos turistas vibrando, já sabia que era só virar para trás e ver o Fuego iluminando os céus da Guatemala. O céu tinha finalmente aberto, eu não via a hora de chegar no acampamento, arrumar a câmera e o tripé e tirar um monte de foto. Só faltava o tempo virar de novo nesses últimos 45 minutos de caminhada. Mesmo sem lanterna, apressei o passo, era o primeiro da fila e ainda ficava apressando o guia 🤣🤣🤣 . E, quando finalmente chegamos no acampamento, ufa, o tempo permaneceu limpíssimo! Infelizmente, tivemos azar com o tempo horroroso na corcova do Fuego: chuva, lama, frio, até granizo. Ainda perdi a capinha da câmera. Lá em cima, ainda conseguimos ver duas explosões bacanas. Pouco tempo depois, do nada, o tempo melhorou para caramba, teria sido incrível se tivéssemos ficado lá mais uns 30 minutos... Enfim, não era hora de ficar lamentando o tempo ruim, mas sim de aproveitar ao máximo o tempo bom! A maioria do pessoal foi descansar nas barracas, ou se aquecer na fogueira, mas eu não tive dúvidas, posicionei o tripé e fiquei esperando ansiosamente as próximas erupções. E que espetáculo, eram muitas erupções! Só parei de tirar fotos quando a janta ficou pronta, mas logo voltei para câmera. O resto do pessoal jantou, deu uma socializada e foi dormir. Mas eu só queria aproveitar cada minuto daquela noite mágica, não ia ter frio, cansaço, ou sono que ia me tirar de lá! A maioria das erupções era menor. Nessas fotos, com o zoom máximo da minha câmera (7,5x, não tenho lente tele), elas apareciam do tamanho dessa foto a seguir: Figura VI‑24: Vulcão Fuego (erupção menor) Mas, de vez em quando, ocorriam mega erupções, e era lava incandescente escorrendo por todos os lados! Dessa vez, eu já tinha visto uma boa quantidade de fotos e vídeos do Fuego em erupção, mas sabe aquelas coisas que você sabe que existe, sempre ouviu falar, viu fotos e vídeos, no entanto, quando vê ao vivo, a intensidade e a beleza ainda conseguem te surpreender?! Queria ver mais e mais. Eu acho que, naquela noite, peguei umas quatro mega erupções que “iluminavam” todas as encostas do Fuego com lava vermelha incandescente, realmente impressionante! E que espetáculo, era lava por toda parte, um dos espetáculos mais bonitos e grandiosos que a natureza pode oferecer!!! Figura VI‑25: Vulcão Fuego (erupção maior) Figura VI‑26: Lava para todos os lados! Passei horas testando ajustes, focos, tempos de abertura, zooms etc. Estava particularmente difícil acertar tudo. Sem as erupções, não dava para enxergar nada. Como a câmera estava com bastante zoom, precisava esperar uma erupção para conseguir visualizar e enquadrar o vulcão, e então, na próxima erupção, tentar ajustar o foco manual. Foi assim durante toda a noite: acontecia a erupção, mas o enquadramento estava ruim; corrigia o enquadramento... Mas o foco estava ruim; acertava o foco... Afastava o zoom e tentava capturar a lava escorrendo pelas encostas, aí bagunçava o enquadramento de novo... E por aí vai. Mais desafiador ainda era tirar foto comigo aparecendo... Precisava de muito zoom e, como o acampamento era na encosta do Acatenango, eu não tinha como ficar a uma distância razoável da câmera, e a chance de sair eu e o vulcão focados era praticamente zero.... Figura VI‑27: Tentativa de foto minha com erupção doo Fuego Fiz uns vídeos também. O vídeo Cap VI‑9 mostra o tipo de erupção mais “típica” que observei lá. Já no vídeo Cap VI‑10, eu capturei uma bela erupção, daquelas que jorrava lava para todos os lados. Naquela noite, foram umas 3 ou 4 com essa intensidade. Ao menos na minha câmera/lente, o vídeo não captou tanta luz quanto parecia ao vivo, mas já dá para ter uma boa ideia... As fotos, em compensação, com ajustes de abertura e tempo, capturam mais luz e às vezes saíam um pouco mais iluminadas do que a gente enxerga a olho nu. É pequena a diferença, eu diria que, na hora da erupção, a olho nu, fica mais parecido com a foto do que com o vídeo. Mas, na hora que a lava está escorrendo pela encosta, não fica tão iluminado quanto nas fotos, parece mais com o vídeo do que com as fotos. Outra coisa que chamava atenção era o delay era a erupção e o som! Como estávamos a 3 km de distância, a gente primeiro via as erupções e, uns 3 segundos depois, vinham os barulhões das explosões. Talvez nos vídeos que eu salvei no canal não dê para ver tão bem, mas tentem reparar. No começo do vídeo da erupção maior (Cap VI-10), a lava já está descendo a encosta quando o som da explosão chega no acampamento. Passei horas lá no frio assistindo àquele espetáculo; nem pensar em dormir. Eu sempre dizia para mim mesmo: “depois da próxima erupção animal, vou dormir”. Mas, acontecia uma nova erupção, e eu sempre arrumava uma desculpa “mental” para ficar mais um pouco: “ah, deixa eu fazer um vídeo na próxima”... “Vou conseguir mais uma foto boa e depois vou dormir”... “Deixa eu ver se consigo uma foto mais aberta”... “Uma comigo aparecendo”... É hipnotizante, a deusa Pele realmente me enfeitiçou! Só fui dormir quando acabou a bateria da câmera, lá pelas 2h da madrugada. Foi uma noite incrível, foram horas e horas hipnotizado, assistindo de “camarote” àquele espetáculo da natureza, em seu estado mais intenso. A grandiosidade da paisagem, o som das explosões, a lava “pintando” o Fuego inteirinho de vermelho – que experiência! Inesquecíveis aquelas mega erupções!!! Figura VI‑28: Sequência de uma bela erupção Vulcão Fuego: #imperdível Dia 4 -> Acatenango e Fuego No dia seguinte, lá pelas 4h da manhã, os tours fazem a subida até o cume do Acatenango (4000 metros). Não é um trecho tão longo, mas é bastante inclinado, saindo do acampamento até o cume dá quase 500 metros de altimetria. E o pessoal começa ainda no escuro para pegar o nascer do sol lá no topo. Demora mais ou menos umas 2h, dizem que é puxada a subida. Eu não quis nem quis saber do trekking. Acordei, montei o tripé e fiquei tirando mais fotos do Fuego. Uma linda camada de nuvens cobria a parte debaixo das montanhas, mas, felizmente, o topo dos vulcões estava limpinho. Pegamos mais umas duas erupções gigantes! Antes do sol nascer, ainda dava para ver o vermelho da lava, depois já não dava mais... Salvei no canal um vídeo de erupção de manhãzinha, enquanto ainda dava para ver a lava vermelha (Cap VI‑11). Do lado que estava o nosso acampamento, o lado do sol nascente, tinha uma linda vista do nascer do sol atrás do vulcão Água, aquele inativo que fica bem próximo à cidade de Antígua. Figura VI‑29: Vulcão Fuego antes do sol nascer Figura VI‑30: Sol quase nascendo Figura VI‑31: Sol nascendo atrás do Vulcão Água Na nossa excursão, havia um guatemalteco que tinha mais prática com drones. Ainda no escuro, ele pilotou o drone até bem perto do vulcão e o deixou posicionado, aguardando uma erupção enquanto a bateria durasse. Depois de duas baterias descarregadas, na última ele conseguiu pegar uma erupção bem legal com o drone. Como eu sou um piloto de drone bem meia-boca e com bastante medo de perder o aparelho, nem cogitei voá-lo à noite. E mesmo depois que o dia nasceu, o drone começou a reclamar que o vento estava muito forte e que eu tinha excedido a altitude máxima de projeto. Enfim, não tive coragem de mandá-lo para mais perto do vulcão, mas ainda peguei essa erupçãozinha legal (foto a seguir), e salvei um vídeo do nosso acampamento no canal (Cap VI‑12). As erupções de dia são legais também, mas são cinzas, não dá para ver aquela lava vermelha incandescente. Figura VI‑32: Vulcão Fuego de dia Pena que tudo que é bom dura pouco, era hora de arrumar a mochila e me despedir do incrível Vulcão Fuego. Depois do café da manhã, era hora de voltar. Descemos em 2h, muito rápido. Nas “descidonas”, tem que tomar cuidado para não machucar, frear era bem complicado e às vezes era melhor descer no embalo para frear nas partes mais planas. Ainda tinha uns trechos molhados na chuva na noite anterior, mas foi bem tranquilo, umas 11h já estávamos na estrada, esperando a vanzinha de volta para Antígua. Todo mundo cansado, mas com aquele sorrisão de orelha a orelha, valeu a pena cada músculo dolorido. No geral, foi uma noite inesquecível. Muita atividade, lava, e erupções magníficas! Poderia ter sido melhor? Sim, seria ainda mais incrível se o tempo estivesse aberto quando chegamos na corcova do Fuego... Mas tá tudo bem também, eu diria que todo aquele perrengue da corcova virou só mais uma história para contar. E a noite do acampamento foi perfeita: tempo aberto, muitas erupções, algumas incríveis, a uma distância bastante segura, e muita foto. Por fim, algumas dicas sobre o tour do Acatenango. No geral, as agências oferecem três refeições: almoço, janta e café da manhã do dia seguinte. No meu caso, as achei simples, mas boas. E lembrem-se de levar snacks e outras coisas para complementar. Pedem para levar pelo menos 4 litros de água, e recomendam uma mochila de 40 litros, para caber as refeições e roupa, porque de dia faz calor e à noite, lá em cima, a temperatura média é de 0oC. Eles alugam roupa de frio/montanha para quem precisar, e costumam oferecer porter para carregar as mochilas. Algumas agências têm o acampamento em um lado do Acatenango, lado do sol nascente, outras no lado do sol poente (menos agências). A diferença é que o trajeto para o lado do sol poente é um pouco mais longo. Acho que deve ter mais chance de pegar clima bom no nascer do sol, mas ambos devem ser muito bonitos. Na minha opinião, na hora de escolher a agência, o mais importante é você saber se você vai ter que carregar equipamento de camping ou não. Comparação Fuego e Monte Yasur (obs: retirei daqui, esse trecho não faz sentido nesse post/contexto, melhor ver no livro completo...) Antígua -> Panajachel Seguindo a viagem, após a descida do Acatenango, era hora de voltar para Antígua e seguir para Panajachel, à beira do Lago Atitlan. Depois de algumas enrolações, chegamos no centro de Antígua às 12h30. A logística não é o forte das excursões da Guatemala, tudo demora mais que precisava... O transporte coletivo também não é o forte da Guatemala. Entre as cidades principais, os ônibus são bons. Mas, entre as cidades menores, ou você vai pegando os famosos chicken-bus, que são mais baratos, mas tem muitas paradas, ou você vai com os shuttles/transfer que as agências organizam. São micro-ônibus cuja qualidade varia bastante, alguns são bons e outros são bem “zoados”, não são tão caros, mas a organização é bem tosca. Só consultando os hotéis e agências de viagem para saber os horários “regulares” dos transfers e se tem vaga disponível. De Antígua para Panajachel, eu sabia que tinha um transfer ao meio-dia e outro às 17h. Como não sabia o horário que eu estaria de volta do Acatenango, deixei para comprar o transporte quando chegasse. Não cheguei a tempo de pegar o das 12h, só sobrou o horário das 17h, o último do dia, mas eu fui nas agências do centro para tentar encontrar um transfer mais cedo. E, para minha surpresa, além de haver transfer mais cedo, todas as vagas nos transfers das 17h já estavam esgotadas! Minha última esperança era uma agência de turismo que eu achei pela internet. Vi que essa agência ainda tinha vaga e reservei meu transfer 17h. Eu estava aliviado por ter conseguido a reserva, mas também um pouco desconfiado se essa reserva era para valer, já que todas as agências do centro de Antígua não tinham conseguido a vaga. Para confirmar se estava tudo certo mesmo, mandei um WhatsApp para eles lá pelas 15h, mas não recebi resposta. Depois eu pedi para recepcionista do meu hotel ligar para eles, mas ninguém atendia. Então, vi que essa agência ficava a umas 8 quadras do meu hotel e fui lá pessoalmente para ter certeza que meu lugar estava confirmado. Era um lugar que tinha serviço de hospedagem, agências de turismo e transfer também. Falei que tinha feito uma reserva de transfer pelo site e tinha ido lá para confirmar se estava tudo ok. O pessoal achou meio estranho eu ir até lá só para isso, e perguntaram se eu tinha recebido o e-mail automático de confirmação. Eu mostrei que tinha recebido, e eles disseram que então estava tudo certo. Mais tranquilo, voltei para recepção do meu hotel e fiquei esperando o transfer chegar. Mas o tempo passou..., deu 17h, e nada do transfer chegar! Precisamente às 17h08, recebo uma mensagem no WhatsApp, respondendo àquela primeira mensagem pedindo confirmação que eu tinha mandado. Eles estavam perguntando de novo se eu recebi a confirmação por e-mail. Eu disse que sim, mandei print e também disse que eu tinha ido pessoalmente até a agência confirmar a minha vaga. E perguntei se o meu transfer estava chegando. Nessa hora, 17h10 (!), o cara manda mensagem dizendo que tinha falado com todos os transfers da cidade e não tinha conseguido nenhuma vaga para mim! Caramba, isso porque eu tinha ido lá pessoalmente perguntar se estava tudo certo. Então eu disse para ele: “Mas por que você não me avisou antes, quando eu fui até aí perguntar?” O cara disse que tinha pedido para secretária me informar (mas ninguém me avisou!), e que agora só tinha Uber ou Táxi para Panajachel!!! O táxi era uns quase 800 $QTZ (uns 120 $USD), o transfer que eu tinha reservado era 100 $QTZ. Que raiva! Se eu soubesse antes, pegava o chicken-bus até Chimaltenango e depois me virava até Panajachel. Mas agora já estava ficando tarde, correria o risco de não ter mais os chicken-bus até Panajachel. Minha vontade era mandar o cara para “PQP”! Mas enfim, apesar da vontade de mandá-lo para aquele lugar, eu só disse educadamente (em inglês): “ok, só lamento porque vocês não me informaram quando eu fui até aí perguntar se o transfer estava confirmado. Obrigado”. Eram umas 17h20, eu já estava pensando no prejuízo que seria o Uber ou o táxi até Panajachel quando o cara mandou uma nova mensagem de voz, dizendo que conversou com o motorista de um transfer e que teria surgido um lugar bem apertado entre o motorista e o passageiro. Seria um banco reclinável pequeno, até mandou foto no WhatsApp, e disse que caso eu não me importasse com o desconforto, eu poderia ir nesse transfer. Eu disse que não teria problemas, com certeza eu aceitava e, 17h25, o transfer passou para me pegar! Ufa, ainda bem que eu não tinha xingado o cara 🤣🤣🤣 ! Pelo menos ele correu atrás e deu um jeito. E o banquinho nem era tão desconfortável... No final, deu tudo certo. Aliás, isso foi uma coisa que eu percebi das agências, transfers e tours da Guatemala: é tudo mega bagunçado, mas o pessoal é esforçado e gente fina e, no final, acaba dando tudo certo. De Antígua até Panajachel são só 76 km, mas demorou 2h30, estradinha com muitas curvas e montanhas. Acabei saindo do Acatenango 11h da manhã e chegando quebrado em Panajachel umas 20h. Eu estava realmente quebrado, sem banho, tinha dormido menos de 2h no dia anterior, e ainda estava com um olho mega ferrado! A barraca do acampamento do Acatenango, onde faziam a fogueira e que servia de “restaurante”, acumulava muita fumaça e meu olho ficou mega-ultra-irritado. Quando cheguei em Panajachel, não estava conseguindo nem abrir o olho direito. Enfim, só consegui tomar um banho (com água bem fria graças ao chuveiro sem vergonha do hotel...), e desmaiar até o dia seguinte. Dia 5 -> Lago Atitlan - Panajachel Existem várias cidadezinhas simpáticas ao redor do Lago Atitlan, conectadas por barcos. Achei as principais cidades meio parecidas, e acabei escolhendo Panajachel pela logística: ficava mais perto de Antígua e mais ou menos no caminho para Xela, cidade onde eu pretendia ver o terceiro vulcão ativo da Guatemala, o Santiaguito. Meu plano inicial era passar só um dia em Panajachel, curtindo o Lago Atitlan, e depois ir para Xela. Porém, no transfer para Panajachel, eu já tinha decidido que não iria mais dormir em Xela. Estava meio de saco cheio dos transfers da Guatemala, as cidades não ficam longe, mas sempre demora muito para viajar entre elas, por isso resolvi passar duas noites em Panajachel e alugar um carro para fazer um bate e volta até o vulcão Santiaguito. O Santiaguito, o Pacaya e o Fuego são os três vulcões mais ativos da Guatemala. Dependendo da época, um pode ficar mais ativo que o outro. O Santiaguito também é estromboliano, com erupções um pouco menos frequentes que o Fuego, e é bem menos turístico. Assim como os “irmãos” Fuego/Acatenango, ele também fica ao lado de um vulcão bem alto e que não expele fumaça, mas é considerado ativo e perigoso, o Santa Maria, que, em 1902, teve uma violenta erupção, devastando grande área. Desde 1922, o Santiaguito vem crescendo na base da cratera da erupção do Santa Maria de 1902 por pequenas erupções e extrusões de lava, com magma de viscosidade mais alta, tornando-o mais perigoso. Nas minhas pesquisas anteriores, eu só tinha achado duas opções de tours para o Santiaguito. Um tour de meio dia que sobe só até um mirante do Santiaguito, localizado no vulcão Santa Maria, com saída apenas pela manhã. Infelizmente, não faziam no final da tarde, para tentar ver as erupções à noite. Dizem que esse trekking é bem leve, aproximadamente 1h30 de subida. A segunda opção é uma subida bem puxada até o cume do Vulcão Santa Maria, com pernoite lá. Durante a subida, passa-se pelo mesmo mirante do Santiaguito, mas do local do acampamento à noite, aparentemente, não dava para ver o Santiaguito em ação. Para essa viagem, planejei só o tour do mirante do Santiaguito de manhã, mesmo sabendo que não seria tão legal quanto o do Fuego. Mas, quando eu cheguei em Antígua, entrei em contato com algumas agências de Xela e descobri um terceiro tour chamado Santiaguito Crater Overnight. É um tour bem puxado, que sobe o próprio Santiaguito e passa a noite acampado lá no alto, aí sim, com a chance de assistir as erupções à noite. Mas precisava de 2 dias e eu só tinha tempo para fazer um bate-volta, optei pelo mirante do Santiaguito de manhã. Comecei o dia com duas missões “logísticas”: primeiro alugar carro para o bate-volta até o Santiaguito, e depois já deixar garantido o transporte até a cidade de Flores (daqui a dois dias). Depois do trampo que foi conseguir transfer para Panajachel, aprendi a lição. Nas agências de turismo de Panajachel, já consegui comprar de uma vez o transfer até a rodoviária da Cidade da Guatemala, e o ônibus noturno até Flores. Já o aluguel de carro... Descobri que simplesmente não existe aluguel de carro em Panajachel! Droga.... O pessoal até alugava aqueles Quad ou motos para fazer trilhas e passeios ao redor do Lago Atitlan, mas, locadora de carro, simplesmente não existia lá. A cidadezinha, apesar de bem turística, era menor que eu imaginava. Ainda pensei em negociar um transporte privado/táxi para o Santiaguito, mas ficaria muito caro, e o pessoal de Panajachel não fazia a menor ideia de como chegar lá. Infelizmente, fui obrigado a tirar o Vulcão Santiaguito do meu roteiro. Eu não queria deixar de conhecer os outros atrativos da Guatemala para ver mais um vulcão, durante o dia, que seria bem menos impressionante que o Fuego. Quem sabe um dia eu volto. Mas aí seria para tentar ver o Santiaguito à noite! Nessa viagem, preferi ficar dois dias no Lago Atitlan, que também tem bastante coisa para fazer. Panajachel, assim como a maior parte das cidadezinhas simpáticas à beira do Lago Atitlan, tem bastante artesanato, cultura local, restaurantes, além da bela vista do lago rodeado pelos três imensos vulcões (inativos). Além disso, tem bastante atividades esportivas à beira do lago, como caiaque, stand-up paddle, paraglider, bike, e muitos belos trekkings pelos vulcões e montanhas na região. Mas depois do Acatenango/Fuego, eu queria fazer algo mais leve, e a atividade que mais me interessou foi um cliff jumping na vila de San Marcos de La Laguna. Quanto aos passeios mais culturais, o mais tradicional faz paradas em algumas cidades, visitando uma fábrica local de tecidos e outra de tabaco. No entanto, outra atração cultural me pareceu mais legal: a cerimônia Maximon, em Santiago de Atitlan. Comecei a aproveitar o dia passeando em Panajachel. Fui direto para “praia”, curtir a bela vista do Lago Atitlan e seus três famosos vulcões inativos. O dia estava lindo, quase nenhuma nuvem no céu! Bem a nossa frente estava o Vulcão San Pedro, 3020 metros. Mais ao sul, à esquerda da foto, dava para ver o vulcão Toliman, de 3158 metros, com algumas poucas nuvens cobrindo o topo dele. Figura VI‑33: Lago Atitlan Nesse primeiro dia, eu fiquei procurando o terceiro vulcão.... Tinham várias montanhas altas ao lado do lago, mas me pareciam um pouco mais distantes. Só no dia seguinte, que amanheceu com menos nuvens, que eu desvendei esse mistério: o terceiro vulcão, Atitlan, 3535 metros, na verdade, estava logo atrás do Toliman! As poucas nuvens do dia anterior estavam encobrindo o Atitlan, essas fotos a seguir são do dia seguinte: Figura VI‑34: Lago Atitlan, no dia seguinte Figura VI‑35: Vulcão Toliman e Vulcão Atitlan Figura VI‑36: Vulcão San Pedro Salvei no canal um vídeo da vista do Lago Atitlan de Panajachel (Cap VI‑13). É muito agradável passar pelas ruas mais turísticas de Panajachel, cheias de artesanato, restaurantes, comidas de rua e turistas. Mas depois de uns 30 minutos tirando foto lá do centro e do Lago Atitlan, não tinha muito mais o que ver na cidade... As praias em si, pelo menos as perto do centro, não me pareciam muito legais para banho. Era hora de partir para as outras atividades ao redor do Lago Atitlan, começando pelo cliff jumping. Para circular entre as cidades à beira do lago é tranquilo, durante o dia tem barco a cada 30 minutos, que vai parando em todas as cidades. Custava 25 QTZ (~4 USD), preço justo, mas o problema, para variar, é a logística... Na verdade, o barco só sai quando tiver um número mínimo de pessoas. Então, se você der sorte de chegar e tiver um barco quase cheio, ele sai praticamente na hora. Senão, você senta lá e espera o barco encher. O cliff jumping ficava na cidade de San Marcos de la Laguna. De Panajachel até lá demorou uns 30 minutos, o barco parava em umas quatro vilas ao longo do percurso. Foi um passeio bem agradável, o lago estava bem calmo, passando por algumas vilas, hotéis, casas, algumas prainhas mais ajeitadas, algumas pessoas pegando sol, outras andando de caiaque, cenário bem bucólico. Chegando em San Marcos, fui tentar descobrir onde era o cliff jumping. Aliás, eu perguntava onde era o cliff jumping e ninguém entendia. Acho que o termo cliff jumping dá uma aparência bem radical, ou gourmetizado, especialmente depois daqueles campeonatos da Red Bull. Em San Marcos, eles chamavam o lugar de “trampolim” mesmo, bem menos glamoroso 🤣🤣🤣 . O trampolim está localizado no Cerro Tzankujil, um local com algumas trilhas bem tranquilas e estruturadas (dá para ir havaianas tranquilo…) contornando o Lago Atitlan. Em um trecho da trilha, eles construíram um trampolim de 12 metros de altura para quem quiser saltar no lago! Tem umas pedras na beira do lago que formam como se fosse uma escada natural, é bem tranquilo para sair depois. Eles cobram uma pequena taxa de entrada para quem vem de San Marcos, mas a estrutura é bem simples, com apenas um vestiário para trocar de roupa. Não tem onde deixar mochila, câmera etc., então, se estiver sozinho, vai ter que fazer amizade com algum turista lá e pedir para ele olhar suas coisas enquanto salta. Cheguei em San Marcos e segui contornando o lago, procurando o trampolim. Tinha pouca gente, o dia estava lindo e fazia um calor bem agradável por volta do meio-dia. Quando finalmente vi o trampolim..., caramba, que aflição! Nas fotos, não parecia tão alto, mas, na hora que chega naquela plataformazinha e olha para baixo..., são 12 metros, mas pareciam 100 metros 🤣🤣🤣 . No canal, salvei um vídeo só da vista da plataforma (Cap VI‑14). Figura VI‑37: Cliff Jumping no Lago Atitlan Primeiro fui dar uma olhada ao redor, ver o caminho para subir de volta. Fiquei enrolando, tirando umas fotos do lago, enquanto tentava criar coragem e me acostumar com a ideia de saltar.... Quando cheguei lá, não tinha ninguém saltando. Encontrei 2 dinamarqueses e fiquei conversando um pouco com eles. Eles já tinham saltado, falaram que o lago era bem fundo, que não tinha perigo e se ofereceram a tirar umas fotos minhas caso eu quisesse saltar. E...., depois de um bom tempo pensando seriamente em “arregar”..., tomei coragem e resolvi saltar! Foi bem bacana, salvei no canal o vídeo que os dinamarqueses fizeram do meu primeiro salto, Cap VI‑15! Detalhe: eu tinha levado uma GoPro para fazer vídeo saltando, mas, na hora que eu liguei, vi que a bateria estava descarregada. Droga, fiquei sem vídeos do salto com vista em primeira pessoa, ia ser bacana.... Aproveitando a boa vontade dos dinamarqueses, já fui pular de novo e pedi para que eles tirassem sequência de fotos, ficou bacana também: Figura VI‑38: Segundo cliff jumping Ué, e cadê as últimas fotos na hora do mergulho na água? Acertou quem percebeu que a sequência de fotos acabou antes de eu cair na água 🤣🤣🤣 . O salto dá muito medo, muito mais do que parece olhando as fotos, acho que estou ficando velho... Para mim, o segredo é não pensar muito, nem parar na plataforma: vai caminhando, de preferência rápido, e pula direto! Não pode dar tempo de pensar em nada, muito menos de “arregar”... Depois chegaram mais turistas, e eu fiquei só observando o pessoal tentando criar coragem para pular. Um monte de gente foi lá, ficaram um tempão, a maioria desistiu, até que duas pessoas foram. Enquanto eu estava lá, um americano que estava sozinho me pediu para fazer um vídeo dele saltando. O vídeo filmado de cima ficou bem bacana também, e eu resolvi pular mais uma vez. Mesmo depois de ter saltado 2 vezes, eu ainda estava com medo... Salvei o vídeo desse meu terceiro salto (Cap VI‑16), e também mais um vídeo de uma outra turista, que demorou umas 10 minutos, mas acabou saltando também (Cap VI‑17!). Foi muito divertido o cliff jumping, valeu a pena! Depois, fui conhecer o mirantezinho do Cerro Tzankujil, que tem uma bela vista das vilas pequeninhas aos pés do Vulcão San Pedro e das montanhas da parte oeste/norte do Lago Atitlan. Figura VI‑39: Vilas de San Juan e San Pablo Na volta para Panajachel, percebi que, mais para o final da tarde, o vento começava a aumentar e o lago ficava com mais ondas, bem menos confortável para andar de barco. Por isso, decidi deixar para o dia seguinte o aluguel do caiaque e a ida até Santiago conhecer o Maximon. Meu plano para o final da tarde era achar algum mirante perto de Panajachel, mas o tempo foi ficando cada vez mais nublado, até começou a garoar, então acabei desistindo da ideia. A vista mais bonita do lago deve ser do alto das montanhas e vulcões ao seu redor (nos transfers de ida e volta, deu para eu ter um gostinho). No final do dia, voltei para praia de Panajachel na esperança de ver um pôr do sol no lago. No entanto, as nuvens venceram, não teve pôr do sol, e assim acabou o meu dia conhecendo o Lago Atitlan. Eu achei o lago muito bonito, mas tinha visto algumas descrições como “o lago mais bonito do mundo”, etc. Achei um pouco exagerado. Pronto, falei 🤣🤣🤣 . Mas é bonito sim, bem bonito! Lago Atitlan: #valeapena Dia 6 -> Lago Atitlan - Maximon O dia amanheceu ainda mais bonito, então aproveitei para tirar novas fotos dos vulcões do lago, agora sem as nuvens no topo. Em seguida, fui atrás de um caiaque. Como o check-out do hotelzinho às 10h, eu teria que voltar antes disso se quisesse tomar um banho após a remada. Meu transfer para a Cidade da Guatemala saia às 16h30, , e de lá eu pegaria o ônibus noturno para Flores, então ainda ia demorar bastante até conseguir um banho. Próximo ao píer central de Panajachel, aluguei um caiaque e saí para remar. O lago estava bem calmo, mas o tráfego constante de barcos no píer gerava muitas ondas, que atrapalhavam bastante. Tinha que tomar bastante cuidado para “cortar” as ondas. Segui remando na direção sul, rumo à cidadezinha de Santa Catarina de Palopó. Como esperado, o começo próximo ao píer foi a pior parte, com muitos barcos transitando... Depois do píer, tinha uma praia urbana de Panajachel, que estava beeeeem cheia. Coloquei um vídeo no canal mostrando essa movimentação (Cap VI‑18). Não sei se estava acontecendo alguma celebração religiosa, o pessoal estava com umas roupas diferentes, tinha até uns cavalos na praia. Tinha muito movimento lá, e vários barcos também... Figura VI‑40: Caiaque no Lago Atitlan Figura VI‑41: Alguma movimentação na praia Figura VI‑42: Lago Atitlan e seus 3 vulcões icônicos Depois de passar o píer e essas praias mais urbanas de Panajachel, a remada ficou muito mais agradável. Quase não passava barco e encontrei umas praias de pedra bem calmas. Sem muvuca, algumas pessoas curtindo o sol, outras nadando. Muito agradável esse lugar! Salvei um vídeo dessa parte no canal também (Cap VI‑19). Daria para parar o caiaque, curtir a praia, ou até mesmo seguir mais contornando o lago, mas, como eu tinha o horário do hotel, resolvi voltar, para tomar banho e fazer o check-out. Depois de deixar as malas na recepção, fui pegar o barco até a cidade de Santiago de Atitlan para conhecer mais sobre o ritual Maximon. Ri Laj Mam, também chamado de Maximon, é uma divindade sagrada maia, venerada em algumas cidades da Guatemala. O início de sua adoração remonta à época que os espanhóis conquistaram a região dos maias, em 1524, segundo meu guia. Maximon, também conhecido como San Simon, me chamou atenção por alguns motivos. Primeiro porque é um exemplo de sincretismo religioso: uma mistura de tradições espirituais dos maias, com crenças espanholas, africanas e, mais tarde, católicas. Interessante como a cultura religiosa indígena não se perdeu por completo, mesmo com o cristianismo sendo a única religião permitida na Guatemala na época colonial. Em alguns locais da Guatemala, houve uma mescla do catolicismo com muitas crenças maias, resultando na adoração de alguns “santos” bem curiosos, como o Maximon. Outro motivo que me chamou bastante a atenção foi o ritual de adoração do Maximon, um tanto quanto inusitado. Maximon fuma, bebe e é mulherengo (apesar de ser, também, protetor dos casais)! Durante os rituais, o próprio Maximon fuma tabaco e bebe cachaça: o pessoal coloca cigarro e uma bebida alcoólica guatemalteca, “tipo” um licor, na boca do santo! Segundo o guia, o pessoal acredita que a mistura do fumo com incenso é o que faz ele realizar os desejos dos devotos, além de facilitar a comunicação entre o xamã e o Maximon. E a bebida oferecida é para relaxar o Maximon. Alguns dizem que a bebida também é para purificar, mas não entendi se para purificar o Maximon, o xamã, os devotos, ou todos eles 🤣🤣🤣 . Pelo que eu entendi, o xamã também bebe e fuma nos rituais (não tenho certeza se os demais devotos também). Os devotos do Maximon e peregrinos vão aos rituais fazer pedidos “normais”, aqueles que todo peregrino faz para seu “santo”: saúde, dinheiro, amor, proteção, emprego etc. Mas as oferendas que os devotos levam não poderiam ser outras: cigarros, bebidas, dinheiro (também levam velas, incensos e flores....). Segundo a Wikipedia, cada cidade acredita em uma origem diferente do Maximon. Algumas cidades acreditam que ele foi algum sábio ou um guerreiro antigo, mas lá em Santiago de Atitlan, me disseram que Maximon nunca foi um humano, sempre foi uma figura de madeira (efígie) criada pelos xamãs para defender os maias de feiticeiros do mal. Algumas versões dizem que o Maximon, às vezes, aprontava com os próprios moradores da aldeia que ele protegia. Uma vez os pescadores da vila estavam desconfiados de traição e, quando saíam para trabalhar, pediram a Maximon que vigiasse suas esposas. Mas acabou que o Maximon promoveu umas bebedeiras e acabou “pegando geral” as esposas dos pescadores! Os xamãs, então, deram um corretivo nele, quebrando seus braços e pernas, e Maximon então passou a fazer o trabalho corretamente e protegeu as pessoas da cidade do mal 🤣🤣🤣 . Que história! Realmente é um “santo” bem peculiar: mulherengo, mas também protege os casais. Ao contrário dos santos “típicos”, tem um lado bonzinho e um lado mais travesso. Fisicamente, o Maximon é uma efígie (como uma estátua) feita de madeira, que fica em uma confraria onde os devotos e peregrinos fazem suas oferendas e adoração. E quem realiza os rituais e “conversa” com o Maximon é um xamã. Além disso, o tempo todo tem dois guardiões tomando conta do Maximon. Cada ano a efígie do Maximon fica em uma casa diferente. Dizem que essa tradição surgiu na época que os maias tinham que esconder o Maximon dos espanhóis, que não aceitavam a adoração aos deuses/santos não cristãos. Atualmente, essa tradição continua, e todo ano tem uma semana sagrada em que a imagem é venerada nas ruas, antes de ser levada para uma nova casa de algum membro da confraria. As casas são bem simples, “tipo” as comunidades no Brasil. Para chegar lá, tem uns becos e vielas, mas é bem tranquilo e seguro. A efígie permanece exposta o ano todo para receber os peregrinos (e os turistas enxeridos...). Sem mais delongas, seguem as fotos da efígie do Maximon: Figura VI‑43: Maximon Reparem que tinha um maço de cigarro como oferenda, e a efígie estava com um charuto na boca! E tem várias gravatas, me disseram que você pode pegar uma gravata “benzida” se você colocar um dinheiro lá. Olha quanto dinheiro tinha embaixo das gravatas! Aquelas outras duas caixinhas de madeira que estavam vaziam costumam ter bebidas alcoólicas durantes as cerimônias. E reparem como ele, apesar de ter tronco de tamanhos similares aos humanos, tem uma perninha curta e braços cortados, quem mandou aprontar com os pescadores maias antigamente 🤣🤣🤣 ? Também me chamou a atenção que, junto com o Maximon, tinham imagens de santos católicos, cruzes e imagens de Cristo também. Figura VI‑44: Guardiões do Maximon na confraria Figura VI‑45: Devoção a divindades católicas também Antes da minha viagem para Guatemala, nunca tinha ouvido falar da devoção ao Maximon. Quando estava indo para o Acatenango, um guatemalteco e dois alemães comentaram sobre ele, e logo me interessei em conhecer melhor a história desse santo “loucão” em Santiago. Mas é importante destacar que Maximon não é adorado em toda a Guatemala. A maioria absoluta dos guatemaltecos é católica, e a adoração ao Maximon é restrita a algumas cidades habitadas pelo grupo étnico maia da região montanhosa da Guatemala. Mas enfim, voltando ao meu relato.... Quando cheguei de barco em Santiago de Atitlan, não sabia muito bem como conhecer o Maximon. Já no píer, alguns guias vieram oferecer passeios. O primeiro ofereceu um tour de 2h passando em uns quatro pontos turísticos de Santiago por 250 $QTZ (~32 $USD). Mas eu disse que só queria mesmo ir conhecer a confraria Maximon, e ele disse que cobraria 120 $QTZ. Achei caro, era só pegar um tuk-tuk até lá, mas foi bom para saber quais as opções para os turistas conhecerem o Maximon: eu poderia participar de uma cerimônia completa, ou só visitar a confraria e conhecer o Maximon. Para participar de uma cerimônia com um xamã, você tem que levar umas oferendas, como bebida e cigarro, e pagar umas taxas para participar e filmar. Sairia mais ou menos uns 300 $QTZ. Não ficou claro para mim como seria a cerimônia, se seria como uma “missa”, com várias pessoas reunidas em horários regulares, ou se seria apenas o xamã e alguns devotos fazendo suas oferendas e pedidos. Já a visita sem cerimônia poderia acontecer em qualquer horário. Para ver o Maximon, tem que pagar uma entrada de 15 $QTZ, mais 10 $QTZ para tirar foto, e, se quisesse fazer vídeo, 30 $QTZ. Como eu tinha pouco tempo, resolvi fazer só a visita até a confraria mesmo. Imagino que o ritual/cerimônia deve ser bem interessante também, quem sabe eu conheça em uma próxima. Agradeci ao primeiro guia pelas ofertas, mas achei caro... Logo chegou um segundo guia, oferecendo o mesmo “tour” até a confraria por 100 $QTZ, ainda caro. Eu mal disse “não” e já apareceu um terceiro guia, oferecendo a mesma coisa por 75 $QTZ, que também dispensei. Quando o quarto chegou, eu já estava de saco cheio e pensando em ser bem mal-educado para conseguir andar em paz em busca de um tuk-tuk.... Mas antes que eu fizesse isso, ele me disse que, ao contrário dos outros guias, era dono de um tuk-tuk e, por isso, me ofereceria o passeio para confraria mais barato. Ele pediu 60 $QTZ, fechamos por 50 $QTZ, e finalmente partimos para a confraria. A visita à confraria Maximon foi muito interessante. Depois o “guia” me deixou no centrinho de Santiago, que tem uma igreja bonita. Ao lado, tem uma pracinha e algum comércio e artesanato. Figura VI‑46: Tuk-tuk Figura VI‑47: Igreja de Santiago Ao contrário da outras vilas à beira do Lago Atitlan, Santiago já uma cidade meio grande. Dizem que tem mais de 60 mil habitantes, é a maior cidade à beira do Lago Atitlan. Se Panajachel e as outras vilas ao norte têm aquele centrinho charmoso, me lembraram um pouco a Praia da Pipa, ou Jericoacoara, cheio de restaurantes, artesanatos, pousadas; no centrinho de Santiago, tudo já era meio cheio e caótico, estilo 25 de março! Ok, eu exagerei um pouco... Mas andar pelo centrinho de Santiago acaba não sendo tão agradável quanto nas outras vilas. Por outro lado, dá uma visão mais real do dia a dia dos guatemaltecos. Acho que vale a pena ir até Santiago, conhecer o Maximon, mas, para quem for turistar no Lago Atitlan, acho que é mais legal ficar hospedado em Panajachel ou nas outras vilas menores ao norte do lago. De forma geral, as vilas têm belas vistas do lago, boas opções de mirantes e esportes outdoor, restaurantes, muitas lojinhas de rua, especialmente de roupas multicoloridas. Muito agradável passear pelas outras vilas ao redor do Lago Atitlan. Figura VI‑48: Muito comércio de rua Figura VI‑49: Lindas cores da Guatemala Depois de conhecer rapidamente o centrinho de Santiago, fui pegar logo o barco para Panajachel. E ainda bem que eu fui cedo, porque, na volta, demorou para caramba para encher o barco! Fiquei mais de 1h esperando, até que finalmente saímos rumo a Panajachel! Eu já falei que eu “adoro” a logística da Guatemala? De qualquer forma, deu tempo de pegar um almoço reforçado antes de voltar para o hotel e esperar o meu transfer para Cidade da Guatemala. Mas, quando esperava o transfer, apareceu um cara se apresentando como funcionário da agência de turismo, dizendo que eu iria pegar um transfer até Antígua e lá faria uma “conexão” para outro transfer até a Cidade da Guatemala. Achei bem ruim e reclamei, pois ninguém tinha me falado isso na hora da compra. Mas ele disse que não tinha mais vagas diretas para a capital e me garantiu que não teria problema porque eu chegaria em Antígua pelo menos 30 minutos antes do horário de saída da “conexão”. Achei bem zoado, mas fazer o quê, embarquei no transfer para Antígua. Só que, uns 45 minutos depois que o motorista saiu de Panajachel, demos azar e pegamos um mega congestionamento na estrada! Ficamos 1h30 praticamente estacionados. O trecho até Antígua que deveria demorar 2h, ia demorar 3h30... Perguntei ao motorista se ainda assim daria tempo de pegar o segundo transfer de Antígua para a Cidade da Guatemala (aquele que sairia 30 minutos depois na nossa chegada), e ele disse que não sabia dizer. Insisti na pergunta, mas ele desconversava.... Na verdade, eu e ele já sabíamos a resposta, claro que não daria. Já estava vendo a roubada, e comecei a pensar no plano B: ao chegar em Antígua, teria que pagar uns 300 $QTZ de táxi. Eu ia ficar bem pu☠️☠️ com o prejuízo, mas o táxi levaria cerca de 1h e ainda daria tempo de chegar na rodoviária e pegar o ônibus até Flores. O pior é que o pagamento é feito com a agência que contrata os transfers, não dava nem para eu pedir meu dinheiro de volta para o motorista. Eu estava xingando a agência de tudo que é nome, maldita hora que eles inventaram essa conexão em Antígua, quando, de repente, a uns 15 minutos de Antígua, o motorista do transfer me informou que arrumaram um transporte direto de Antígua para rodoviária da Cidade de Guatemala! Provavelmente o motorista estava mandando umas mensagens para o cara da agência, dizendo que não daria tempo de fazer a conexão em Antígua, e eles arrumaram um Uber para me levar até a Cidade da Guatemala. O motorista parou em um posto, encontrei o Uber e cheguei a tempo na rodoviária, ufa! O ônibus noturno para Flores era bem confortável. Marcado para sair às 21h30, acabou saindo umas 21h45, mas depois parou na frente de um shopping, que é “tipo” um ponto de parada dos ônibus ao norte da cidade, e ficou esperando não sei o quê por mais 45 minutos, não entrou um passageiro sequer.... Depois disso, finalmente seguimos viagem e desmaiei até Flores. É, pessoal, a logística da Guatemala é dureza. É outro ritmo, tem que ter paciência. Mas, pelo menos, o povo é muito simpático, e eles sempre dão um jeito de resolver o problema e te ajudar! Maximon: #valeapena Dia 7 -> Tikal O ônibus chegou em Flores lá pelas 6h, após uma jornada interminável de mais de 12h desde Panajachel. Peguei um tuk-tuk até meu hostel, e felizmente a dona me deixou fazer check-in mais cedo grátis, já que o meu quarto estava desocupado. Flores, localizada em uma pequena ilha no Lago Peten, é a melhor base para conhecer as ruínas de Tikal. O Lago Peten também é bonito, mas não é tão grande quanto o Lago Atitlan, nem rodeado por montanhas e vulcões. Infelizmente, eu não peguei um tempo bom em Flores; estava sempre chovendo ou bastante nublado. O lago estava tão cheio devido às chuvas que a água estava invadindo uma parte da rua "beira-mar". Ainda assim, é uma cidade bem bacaninha, tem alguma estrutura para turistas, uma igrejinha bonita, bastante pousadas, restaurantes e lojinhas. É agradável caminhar pela cidade, especialmente na beira do lago. Tikal é o mais famoso sítio arqueológico dos maias na Guatemala, que fica a 65 km de Flores. Eu fechei o tour no hotel mesmo, saindo às 8h. Só deu tempo de tomar um banho, não consegui nem tomar café da manhã, comprei uns pães na padaria e saí. Mas foi aquela logística típica dos tours da Guatemala, até juntar todo mundo, pegar guia, comprar entrada do parque, só começamos o nosso tour em Tikal às 10h. Os maias, ao contrário dos astecas e dos incas, não possuíam uma capital única, mas “cidades-estados” independentes que poderiam ser aliadas ou rivais, dependendo dos seus objetivos. Cada cidade-estado tinha sua própria administração, com crenças, línguas e costumes próprios. Existem ruínas maias espalhadas pelo México, Belize, Guatemala, El Salvador e Honduras. Tikal, uma antiga cidade maia, tornou-se um dos reinos mais poderosos da civilização maia, e ali foram encontradas imponentes estruturas de pedra, como templos, pirâmides, palácios e outras construções. Além das estruturas impressionantes, Tikal é famosa por sua localização em uma densa floresta tropical na Guatemala, conferindo ao local uma atmosfera mística e exótica. Apesar de suas estruturas mais antigas datarem do século IV a.C., Tikal atingiu seu apogeu entre 200 d.C. e 900 d.C. Nesse período, a cidade dominou grande parte da região maia política, econômica e militarmente, enquanto interagia com áreas da Mesoamérica, como a grande metrópole de Teotihuacán, no distante vale do México. Há evidências de que Tikal foi conquistada por Teotihuacán no século IV d.C. Tikal dominava as terras baixas dos maias, mas estava frequentemente em guerra com os vizinhos. Várias inscrições dão conta de muitas alianças e guerras com outros estados maias vizinhos, dentre os quais Uaxactun, El Caracol, Naranjo e Calakmul. Tikal foi um dos maiores centros populacionais e culturais da civilização maia. Já no século IV a.C., iniciava-se a construção de sua arquitetura monumental, mas as principais estruturas visitadas hoje provêm do período entre 200 d.C. e 850 d.C. Depois deste período, nenhum grande monumento foi construído, coincidindo com depósitos que comprovam a ocorrência de um incêndio em alguns palácios usados pela elite da cidade. Desse período em diante, iniciou-se o gradual declínio de sua população até seu abandono completo, por volta do século X d.C. Estudiosos estimam que, no seu auge, a cidade teria uma população entre 100.000 e 200.000 habitantes. O sítio apresenta centenas de construções antigas significativas, das quais apenas uma fração foi cientificamente escavada em décadas de trabalho de arqueologia. Os edifícios sobreviventes mais proeminentes incluem seis grandes pirâmides de plataformas (ou estágios) que apoiam templos nos seus topos. Elas foram numeradas geograficamente pelos primeiros exploradores e construídas no período mais recente, entre o século VII e o início do século IX. O Templo I foi construído ao redor de 695; seguido pelo Templo II, próximo a 700. O Templo III surgiu em 810, enquanto o maior deles, o Templo-Pirâmide IV, com cerca de 72 metros de altura, foi erguido em 721. Já o Templo V data de aproximadamente 750, e Templo VI, de 766. Esta cidade antiga também tem os restos de palácios reais, além de várias pirâmides menores, residências, estelas e monumentos de pedra. Em 2021, descobriu-se que aquilo que durante muito tempo se supôs ser uma área de colinas naturais próxima ao centro de Tikal era, na verdade, um bairro de edifícios em ruínas que foram projetados para se parecerem com os de Teotihuacán. Há até mesmo um edifício que parece ter sido uma prisão, originalmente com barras de madeira nas janelas e portas. E há também vários estádios de jogo de pelota maia. O nome "Tikal" quer dizer "lugar de vozes" ou "lugar de línguas" na língua maia, mas foi um nome dado recentemente, quando as ruínas foram descobertas. Os guias batem palmas em algumas praças para demonstrar que o local parece fazer um eco diferente mesmo, por isso o nome Tikal. Baseado nos hieróglifos, acredita-se que os nomes antigos da cidade poderiam ser Mutal ou Yax Mutal, que significaria "pacote " ou "pacote verde", e talvez, metaforicamente, "primeira profecia". Bom, quando vou visitar esses sítios arqueológicos, eu sempre fico na dúvida se vale a pena ou não pegar um guia. Apesar de eu não gostar muito de andar com grupos, se o guia for bom, vale a pena; se não, é um martírio... O problema é saber se o cara é bom com antecedência. Em Tikal, com o tour durando umas 3h/4h, achei melhor pegar um guia pois o lugar é bem grande, eu estava cansado e não tinha pesquisado nada. E também porque custava só 30 $QTZ... Mas o guia era daqueles que falavam muito..., demais mesmo! O pior é que ele ficava falando muito no começo, quando ainda não tínhamos visto ruína nenhuma e estávamos ansiosos para ver alguma coisa interessante. Mas o guia parava e falava, falava, falava.... O cara falava tanto, sobre um monte de coisa pouco interessante que, quando ele começava a falar algo útil, eu já estava fazendo outras coisas e tirando fotos. Fora o inglês belizenho-caribenho meio complicado para entender. Enfim, não acho que tenha valido muito a pena. No entanto, eu reconheço que o cara tinha muita informação e conhecia bastante do lugar, aqueles que gostam de saber tudo nos mínimos detalhes, vão gostar. E ele passou informações interessantes sobre técnicas de construção maias, que usavam limestone (que, segundo o tradutor, é calcário). Ele falou um pouco da fundação e que eles usavam o mesmo material retirado do solo, tratando o limestone para “cimentar” as pedras, algo assim. Ele também explicou que, depois que contato com Teotihuacán, mudaram a técnica de assentar os tijolos para algo mais consistente. E que eles iam construindo os templos por andar, algo a ver com rei, algo a ver com chegar mais perto dos deuses, não lembro direito. A primeira parte interessante que visitamos é chamada Acrópole Central, onde viviam parte das elites de Tikal. Lá, o guia nos mostrou como seriam os quartos, banheiros, cozinhas e até um suposto trono nas pedras, dando uma boa ideia de como seria a casa dos antigos maias. Figura VI‑50: Acrópole Central Depois de uma curta caminhada, chegamos na Gran Plaza, o local mais importante de Tikal. Os destaques são os dois templos, Templo I, também conhecido como Templo do Jaguar, e Templo II, também conhecido como Templo das Máscaras. O guia explicou algumas coisas sobre a construção das duas pirâmides principais da praça, Templo I e Templo II. Um foi construído apontando para o outro, alinhados em alguma direção que tinha a ver com a astrologia e calendário. As fendas de um templo alinham nos solstícios, a janela do outro templo seria para ver a lua. O Templo I ficou conhecido como Templo do Jaguar já que, dentro dele, foi encontrada uma representação de um rei montado num jaguar e, na tumba do rei Jasaw Chan K’awii, peles do animal. O Templo II foi construído pelo mesmo governante Jasaw Chan K’awiil I, em homenagem a sua esposa. No seu topo (é possível subir nesse templo), tem uma viga esculpida com uma máscara mortuária que acreditam ter sido da esposa de Jasaw Chan K’awiil I, por isso ficou conhecido com o templo das máscaras. A Gran Plaza também tinha várias estelas. Os maias de Tikal cultuavam 14 deuses do bem e, também, uns nove deuses do mal! Segundo o guia, assim como faziam oferendas aos deuses do bem, os maias também faziam oferendas para os deuses do mal, para evitar que eles causassem desgraças, claro. Espertinhos esses maias, hein? 🤣🤣🤣 . Entre os templos I e II, ao norte da Gran Plaza, fica a Acrópole Norte, que era o mausoléu dos nobres de Tikal. Muitas tumbas e oferendas foram encontradas no local, com imagens dos reis nos mausoléus. Uma imagem interessante tinha a figura do rei cheio de plumas, o guia explicou que eles associavam aves a algo divino, alguma simbologia com a figura do rei sempre no topo. Figura VI‑51: Templo I, o Templo dos Jaguares Figura VI‑52: Templo II, o Templo das Máscaras Figura VI‑53: Gran Plaza, vista do alto do Templo II Figura VI‑54: Acrópole Norte Figura VI‑55: Imagem de rei com plumas Salvei um vídeo da Gran Plaza no canal, vista do alto do Templo II (Cap VI‑20). Seguimos caminhando e passamos pelo Templo III, que está quase todo coberto de vegetação, só dá para ver o seu topo. A melhor forma de avistá-lo é do topo do Templo IV. Mesmo com os trabalhos de restauração, os guias dizem que 80% das estruturas foram engolidas pela floresta. Em vários trechos caminhando pelo parque, o guia mostrava o que parece ser uma pequena colina, mas que, na verdade, era uma construção maia que ficou encoberta pela floresta. Logo chegamos no Templo IV. Com seus 72 metros de altura, é o mais alto do mundo maia e famoso por proporcionar um lindo nascer do sol em Tikal. Apesar do Templo IV ser o mais alto, apenas o seu topo é visível, todo o resto do templo também foi tomado pela terra e pela vegetação, meio engolido pela floresta. No entanto, foram construídas escadas permitindo alcançar o seu topo. Lá do alto, tem-se uma linda vista do topo dos outros templos e da exuberante floresta que parece não ter fim. Figura VI‑56: Templo III (à direita), Tempo I e Templo II A Acrópole Sul, também chamada de Mundo Perdido, é a parte mais antiga de Tikal. Enquanto a Gran Plaza foi construída por volta de 600 d.C., essa parte data dos primeiros séculos depois de Cristo. Subimos uma pirâmide que tinha apenas algumas de suas faces restauradas. Também gostei muito da vista lá do alto, que rendeu fotos bonitas, especialmente com o lindo céu azul. Quem vê as fotos com esse céu lindo nem imagina o mega pé d'água que tomamos 10 minutos antes! Alguns guias fazem uma distinção entre os “templos” e as “pirâmides”, apesar de, teoricamente, os templos também ficarem no topo de construções piramidais. Diferente dos templos, as pirâmides de Tikal são mais quadradas, tem a base maior e escadarias nas 4 faces. Teoricamente, os templos eram lugares de cerimônias religiosas, e depois serviam como cemitério para alguns nobres. Já as pirâmides seriam mais para observação astronômica, para controlar o tempo/calendário. Depois da pirâmide, ainda fomos conhecer o Templo V, que achei o mais bonito e o mais bem conservado. No caminho de volta, passamos ainda pelo edifício Teotihuacano, que não é muito imponente, mas chama atenção pelos detalhes com imagens de Tlaloc, deus da chuva e da água, mas vou falar mais dele na minha viagem do México. Figura VI‑57: Pirâmide na Acrópole Sul Figura VI‑58: Templo IV, visto da pirâmide Figura VI‑59: Templo V Figura VI‑60: Edifício Teotihuacano No total, foram 4h conhecendo Tikal. O lugar é muito grande, em 4h, acabamos não conhecendo todas as áreas, como a zona norte e o Templo VI, mas conhecemos o principal... Durante nossa visita, o clima estava doido. Em alguns momentos, fazia um baita calor, mas também choveu forte em dois momentos e tivemos que ficar um tempão esperando a chuva passar. Depois, almocei por lá mesmo, saímos de Tikal por volta das 15h e quando chegamos em Flores, estava nublado e chovendo. Muito cansado, só dei uma voltinha no centro, jantei e finalmente tive uma bela noite de sono para tirar o atraso. Tikal: #imperdível Tikal versus Chichen Itza Figura VI‑61: Chichen Itza, México Uns 10 anos antes, eu tinha ido a Chichen Itza, outro sítio arqueológico dos maias. Localizada na Península de Yucatan, México (próximo a Cancun), Chichen Itza foi eleita uma das 7 maravilhas do mundo moderno. Como minha visita já faz muito tempo, não lembro tantos dos detalhes, mas lembro que a pirâmide de Chichen Itza, chamada Templo de Kukulcán, me pareceu mais bonita do que as de Tikal. Os patamares, os detalhes nas fachadas, no topo, as serpentes, tudo bastante restaurado. Em algumas faces, as pedras estão bem alinhadas e perfeitinhas (às vezes, até demais....), já em outras faces é possível notar alguma erosão. Não sei se Chichen Itza foi melhor/mais restaurada, ou se simplesmente resistiu mais ao tempo, mas, de forma geral, suas construções estão mais bem conservadas que Tikal. Os templos de Tikal são maiores em altura, o Templo V tem 57 metros de altura, enquanto a pirâmide de Chichen Itza tem 30 metros. Os templos de Tikal parecem mais “finos” e esticados, não tem escadaria nas 4 faces, enquanto a pirâmide de Chichen Itza tem a base bem mais larga e escadaria nas 4 faces. Assim como Tikal, Chichen Itza possui características arquitetônicas que simbolizam os conhecimentos avançados dos maias em astrologia e calendários. Muito legal também essa simbologia: a pirâmide foi projetada para criar sombras triangulares durante os equinócios, criando uma impressão de uma serpente descendo a pirâmide ao fim da tarde. O sitio arqueológico de Chichen Itza é menor e tinha muito movimento, muitas excursões, muito ambulante, tudo meio calçado ou com terra ou grama/vegetação baixa. Ou seja, não tinha muita mata e floresta. E tem bem menos construções em quantidade que Tikal. Em compensação, as construções de Chichen Itza costumam ser maiores em tamanho/área, como a pirâmide, o campo do jogo de pelota maia, um local que tinha um mercado, colunas e templos. Também não sei se restauram mais ou se eram maiores mesmo... Chichen Itza foi totalmente limpa na década de 1930, hoje tem tudo catalogado e muito bem explicado. Já Tikal é muito mais amplo em termos de terreno, com atrações mais espalhadas e ainda tem muita coisa não escavada. Tikal desperta muito a curiosidade! Suas ruínas parecem sempre esconder algo, estejam elas envoltas pelas neblinas do amanhecer, ou cobertas por floresta tropical. Em Tikal você pode subir em alguns templos através de algumas plataformas (antes podia subir no templo mesmo), e o ambiente é repleto de vida: animais, aves, macacos, quatis e muitas árvores. Muitas construções ainda não foram restauradas ou estão cobertas de terra e vegetação, florestas crescendo por cima das ruínas, como se a cidade abandonada estivesse sendo lentamente engolida pela natureza. Todo esse ambiente dá um clima mais de contato com natureza, enquanto Chichen Itza tem um jeitão mais de cidade ou de “parque temático” arqueológico... Para sair de cima do muro, acho que eu gostei um pouco mais de Tikal, mas os dois são incríveis, vale a pena conhecer os dois! Dia 8 -> Flores -> Lanquin Como eu já sabia da confusão de transfers da Guatemala, quando eu reservei o hotel em Flores, já garanti uma reserva no transfer de Flores até Lanquin, a cidade-base para conhecer Semuc Champey. É um trajeto muito demorado, a estradinha tem muita curva, e só tinha um horário de transfer por dia, saindo de manhã. Perde-se um dia inteiro só fazendo esse translado, saí às 8h de Flores e cheguei às 17:h20 em Lanquin. Me chamou a atenção que, na hora de sair, o cara do transfer toda hora contava os passageiros e parecia que faltava um atrasadinho. Ficamos uns 30 minutos esperando, o cara fazendo ligação/WhatsApp, mas no final acabou saindo só quem já estava lá, ninguém entendeu nada... Nas estradas da Guatemala, o pessoal vai de carona aonde der, sempre cabe mais um! Vai gente em qualquer canto, e não refiro apenas a ônibus lotado. Nas estradas, via tuk-tuk carregando famílias inteira (famílias com 4 filhos ou mais), moto com 3 pessoas, vi uma turma entrando na caçamba de um caminhão chiqueiro com os porquinhos, vi guatemalteco viajando no teto do Chicken bus... Mas o que mais me chamou a atenção foi que muita gente, inclusive famílias com bebês, viaja na caçamba das picapes. Até na principal rodovia do país, a Rodovia Panamericana, vi famílias inteiras na viajando na caçamba! É o famoso jeitinho guatemalteco “coração de mãe”, sempre cabe mais um...Essa foto foi no caminho para Lanquin. Figura VI‑62: Galera na caçamba Figura VI‑63: Tem um filho no meio do casal na moto.... E, por falar em moto..., uma coisa que eu percebi no interior é que quase ninguém usa capacete. O próximo vídeo salvo no canal, Cap VI‑21. Eu gravei em Panajachel, mais para ver os Chicken bus e os tuk-tuks, mas reparem nas motos que passam depois dele. Para cada 4 motos que passavam, apenas uma tinha gente de capacete! Mas as máscaras de covid, os motoqueiros usavam 🤣🤣🤣 . Nessa viagem para Lanquin, um motoqueiro me chamou a atenção, pena que não tirei foto. Ele estava andando de moto sem usar capacete, mas tinha um capacete amarrado na garupa da moto, não era por falta de capacete que ele andava sem... Justiça seja feita: na capital Cidade de Guatemala, quase todo mundo usava capacete. Enfim, só fui chegar em Lanquin depois das 17h. Lanquin é uma cidade muito pequena mesmo. A cidade em si só tem algumas lojinhas que vendem comida, um único restaurante mais turístico, e por isso os poucos hotéis e hostels acabam tendo uns restaurantes mais turísticos e bares. O pequeno centrinho de Lanquin só tem um pouco de comércio local. Foi bacana para conhecer como é uma cidadezinha mais típica (quase “não turística”) do interior da Guatemala. Salvei 3 vídeos no canal circulando por Lanquin (Cap VI‑22, Cap VI‑23 e Cap VI‑24). E olha a cerveja vendida na Guatemala, não confundir com Brahma, hein 🤣🤣🤣 : Figura VI‑64: Cerveja Brahva Figura VI‑65: Lanquin Mas quando eu cheguei em Lanquin, tive uma péssima notícia. O brasileiro que eu tinha conhecido no Acatenango chegou lá um dia antes e me mandou um zap dizendo que Semuc Champey estava “zoado”! Semuc Champey é um rio pequeno que passa em um vale e forma umas piscinas naturais bem bonitas, com água cristalina e bem clarinha, mas, por causa das chuvas, o rio estava muito cheio e Semuc Champey estava todo marrom e barrento. Quando cheguei no hotel, o cara da recepção me confirmou que Semuc Champey estava “sujo” mesmo! Que raiva, gastei um dia inteiro para vir até aqui, vou gastar outro dia inteiro para sair, chego aqui e descubro que o rio estava zoado. Como diriam uns amigos “das antigas”... “perdeeeeeu”! Para mim, depois dos vulcões ativos, essa seria a principal atração da Guatemala. Deixei de conhecer um monte de coisas, como o Vulcão Santiaguito, vir até aqui. Que derrota! E para piorar, em Lanquin não tinha mais quase nada para fazer. Mas já que eu estava aqui e não tinha mais o que fazer..., tá no inferno, abraça o capeta. No dia seguinte, eu ia ver Semuc Champey “sujo” e barrento mesmo! Dia 9 -> Semuc Champey Conversando com o pessoal da recepção do hotel, me disseram que é super raro Semuc Champey ficar com as águas barrentas. Mesmo na época de chuva, era muito difícil “sujar” o rio. No dia anterior, eles mencionaram que, se não chovesse à noite, Semuc Champey até poderia estar bom no dia seguinte. E naquela noite só deu uma garoa de leve, nada de chuva forte. Não sei se eles falaram isso só da boca para fora, para tentar me animar quando viram a minha cara de velório, ou se eles realmente acreditavam naquilo... Enfim, amanheceu bem nublado, mas pelo menos não estava chovendo. “Bora” ver Semuc Champey marrom! Depois do café da manhã, fui procurar o transporte de Lanquin até Semuc Champey. A chegada até Lanquin atualmente está toda asfaltada, mas, para Semuc Champey, não. E adivinha como era o transporte? Umas picapes para galera ir na caçamba, como aquelas que eu via em todas as estradas da Guatemala 🤣 . Algumas eram mais modernas, outras cobertas com lona, algumas com banquinhos, “tipo” versão miniatura daqueles caminhões jardineiras que tínhamos no Brasil. Mas a maioria só tinha essas estruturas metálicas em volta pelo menos para o pessoal não cair. E lá fui eu para caçamba de uma delas. Obviamente que, como todo guatemalteco, o cara do transfer lotou a caçamba da picape. Quer dizer, para mim, parecia lotado, mas toda hora o cara parava e subia mais um 🤣🤣🤣 . São 9 km de Lanquin até lá, e demorou 45 minutos. Balançava para caramba! Mas, para quem tinha acabado de voltar de uma viagem de carro no Jalapão na época de chuva, essa estrada parecia uma Autobahn alemã... A maioria era estrada de chão, mas já tinham alguns trechos asfaltados ou com calçamento nas subidas. Foi divertido, também salvei dois vídeos no canal do transporte até Semuc Champey (Cap VI‑25 e Cap VI‑26). Figura VI‑66: Transporte para Semuc Champey Figura VI‑67: É “nóis” na caçamba.... Quando chegamos na ponte antes da entrada do parque, vi pela primeira vez o Rio Cahabón, que estava muito cheio e completamente marrom. Figura VI‑68: Rio Cahabon Não dava para dizer que eu não imaginava que o rio estaria todo marrom, mas, no fundinho, a gente sempre tinha uma gotinha de esperança de chegar lá e ser surpreendido... Que pena. Já estava lá mesmo, paguei o ingresso e fui conhecer Semuc Champey. Primeiro o pessoal costuma seguir até um mirante natural, e depois ir até as piscinas naturais. É uma subida não muito difícil, uns 30 minutos com passarelas, escadas, corrimãos ou cordas, bem estruturada. E, “ni qui” eu cheguei lá no mirante...: Figura VI‑69: Semuc Champey Figura VI‑70: Primeiras piscinas Figura VI‑71: Surpreendido (positivamente!) É, galera, “deu bom”!!! Quem diria, Semuc Champey estava lindo! Boa parte das piscinas estava azulzinha. Também salvei um vídeo do mirante, Cap VI‑27. No hotel, o funcionário estava me falando que o problema de “sujar” Semuc Champey ocorria quando “o rio enchia as piscinas”, mas eu não entendia direito o que ele estava falando. Chegando lá eu fui entender. Na verdade, aquele rio que estava marrom é um rio grande, chamado Cahabón. No trecho de Semuc Champey, ele afunda, entrando em um túnel subterrâneo por uns 300 metros, e some completamente! Na superfície desse trecho, onde o rio Cahabón afunda, se formam diversas piscinas azulzinhas, que, na verdade, são alimentadas por outros afluentes do Rio Cahabón. São as águas que descem das montanhas que formam as piscinas naturais de Semuc Champey, e após 300 metros de piscinas, vão se encontrar com o rio Cahabón em uma última queda d’água! Agora entendi o que o funcionário do hotel quis dizer: se o rio Cahabón estiver muitíssimo cheio, ele transborda e parte da sua água entra na região das piscinas, sujando tudo. Era isso que tinha acontecido no dia anterior! E não é que a noite sem chuva fez o rio diminuir um pouco o volume, o suficiente para não transbordar mais e voltar para caverna?! Figura VI‑72: Rio Cahabón “sumindo” Depois do mirante, descemos para ver as piscinas naturais de perto. Tinha muita lama em todo o caminho para subir e depois descer do mirante. Ainda assim, se estiver de tênis, é bem tranquilo. A explicação química da formação dessas piscinas, eu vi nos relatos do Mundo por Terra (Ref. 31😞 as águas de Semuc Champey são ricas em bicarbonato de cálcio e, quando esquentam, produzem carbonato de cálcio, cujos cristais se aderem aos micro-organismos da água e se precipitam. Assim vão consolidando os terraços onde estão as piscinas! Durante o dia todo, o clima ficou nublado. Até ameaçou abrir um solzinho, mas não abriu... Lá tem alguma estruturazinha de vestiário para se trocar e alguns lockers para deixar mochila, a dica é lembrar de levar cadeados para nadar despreocupado. Estava uma temperatura agradável para caminhar, uns 23oC, eu até tinha levado roupa de banho e cadeado..., mas achei meio frio para nadar e refuguei (a lá Baloubet du Rouet nas olimpíadas de Sydney 🤣). Fiquei mesmo só admirando as piscinas, foram muitas e muitas fotos! Figura VI‑73: Primeiras piscinas, mais azuis Figura VI‑74: Piscinas do final, mais verdes Figura VI‑75: Semuc Champey se juntando ao rio Cahabon Salvei 3 vídeos no canal, do rio Cahabon “afundando”, das primeiras e das últimas piscinas de Semuc Champey (Cap VI‑28, Cap VI‑29 e Cap VI‑30) Além do parque nacional com as piscinas, do outro lado do rio Cahabón, tem uma área particular que não tem vista para as piscinas, mas tem alguns outros atrativos. Pelo que eu tinha pesquisado, tem uma cachoeira e um tubing (descendo de boia pela correnteza do rio), mas o passeio principal é uma caminhada pelas cavernas do rio Cahabón, naquela parte que passa por baixo de Semuc Champey. Precisa de calçados adequados, de preferência sapatilhas aquáticas se não quiser andar com seu tênis no rio. Mas, como o volume do rio estava muito grande, não estavam oferecendo nem o tour da caverna, nem o tubing nesse dia. Achei Semuc Champey muito bonito! Seguramente, não foi o dia que as piscinas de Semuc Champey estavam mais cristalinas e bonitas. Algumas estavam mais azuis, outras um pouco mais verdes, outras mais barrentas e menos transparentes. Certamente não estava tão azul-turquesa como nas fotos da internet. Mas, para quem estava achando que ia ver tudo marrom e que tinha dado muito azar, “deu bom”, ficou aquela sensação de copo meio cheio. Semuc Champey: #imperdível Dia 10 -> Lanquin -> Cidade da Guatemala -> Cidade do México Meu voo era às 18h, então acordei muito cedo para poder chegar à Cidade da Guatemala a tempo. Precisava pegar um transporte local de Lanquin até Coban, cidade maiorzinha da região, e de lá um ônibus até a capital. Nos dias anteriores, estava difícil descobrir qual horário mais cedo do transporte de Lanquin para Coban. No meu hotel, me falavam uma coisa, na pracinha central, uns caras do transporte falavam outra, na vendinha em frente ao ponto, mais uma versão.... Eu já falei que a logística na Guatemala é complicada?... Descobri que quem faz esse transporte, na verdade, são moradores locais. Não existe uma empresa de transporte pública ou privada propriamente dita. Eles saem no horário que quiserem e fazem o trajeto que desejarem. Normalmente há uma van saindo às 8h, outra às 9h, algumas mais cedo, mas não tinha horário fixo. O pessoal sabe mais ou menos quando tem demanda, e vai saindo mais ou menos de hora em hora. Por isso que cada pessoa que eu perguntava tinha uma resposta diferente... Esclarecida a confusão, o cara do hotel me recomendou estar na bifurcação na saída de Lanquin às 5h da manhã, pois deveria ter alguma vanzinha passando. Saí às 4h30. Detalhe: como na cidade não tem estrutura turística, os hotéis geralmente tem bar e música, e ficam até altas horas. Naquela noite, teve música alta no meu hotel até 1h da manhã, não dormi nada. Parecia que a caixa de som estava dentro do meu quarto, que inferno... Lá pelas 5h, eu estava indo para o cruzamento da saída de Lanquin quando passou um micro-ônibus recolhendo pessoas, obviamente pegando o máximo de gente possível. Confirmei que ele estava indo para Coban, e finalmente peguei meu primeiro transporte coletivo na Guatemala. Mas fiquei triste quando vi que não era o tradicional Chicken bus... Era uma vanzinha “véia” para umas 23 pessoas (já incluindo aqueles miniassentos dobráveis, bem trevas). Quando eu entrei, tinha umas 10 pessoas, mas em dez minutos circulando lotou. E, na saída de Lanquin, devia ter umas 30! Sim, a lotação era 23 pessoas...., quatro caras e o "cobrador" estavam indo em pé, uma criança no colo, e outra sentada em cima capô do motor ao lado do motorista. Ao longo do caminho entre Lanquin e Coban, algumas pessoas desceram, outras iam subindo, e assim seguia os transportes guatemaltecos “coração de mãe”. Todo vilarejo que passava, eu torcia para não ter ninguém esperando ônibus, mas sempre entrava mais um 🤣🤣🤣 . Em um momento, já quase lotado, o motorista parou e foi conversar com uma família com umas 8 pessoas. E cheios de bagagem... Eles ficaram uns 10 minutos conversando, não sei onde eles iriam colocar aquele pessoal todo, no teto? No fim, acabaram não indo no nosso mini-ônibus. Chegando em Coban, eu precisava achar o terminal da empresa do ônibus até Cidade da Guatemala. Na Guatemala, as cidades não tem rodoviária, cada empresa tem seu terminal, que, nesse caso, ficava perto do “ponto” final do meu mini-ônibus. Tinha ônibus de hora em hora para capital. Um deles saía às 7h, e foi a minha vez de tirar proveito dos atrasos daqui. Cheguei 7h05, e não só consegui a passagem para o busão das 7h, como ainda deu tempo de pegar um café e um pão antes de embarcar. E esse meu segundo transporte rodoviário também não foi de Chicken bus, infelizmente. Chicken bus é o “apelido” dos ônibus de transporte público mais baratos e populares utilizados na Guatemala e alguns países da América Central. Geralmente ônibus escolares aposentados dos Estados Unidos, os Chicken bus costumam ter aparência extravagante e coloria, como esse da foto a seguir. Alguns deles até possuem iluminação especial, olhem que estiloso o Chicken bus no vídeo Cap VI‑31 do canal! Figura VI‑76: Chicken Bus Foi uma longa viagem de Coban até Cidade da Guatemala, mas bem tranquila. Como na maior parte da Guatemala, passamos por muitas e belas montanhas, vulcões e vales cobertos de floresta tropical, além de estradas com muitas curvas e belas paisagens. A quilometragem entre as cidades não é tão grande, mas demora muito para chegar de um lugar para o outro. Também observei que passamos por muitas obras, duplicando e asfaltando estradas. Parece que estão melhorando a infraestrutura, mas ainda tem um longo caminho. É possível chegar a todos os lugares, mas a logística pode ser complicada para quem tem pouco tempo. O pessoal é enrolado, mas é gente fina. Na hora de ir embora, já na área de embarque do aeroporto, fui procurar água de graça, mas todos os bebedouros estavam desligados por causa da pandemia. Entrei em uma loja de souvenir, não ia comprar nada, apenas queria perguntar à moça da loja se ela sabia onde tinha um bebedouro. Ela me disse que não tinha, mas eu poderia pegar a água dela e encher minha garrafinha.... Muito simpático o povo daqui! E, para fechar com chave de ouro, quando me sentei na janela do avião, olha que beleza: aeroporto com vista para vulcão! Vulcões, na verdade, vários deles, e na hora do pôr do sol. Figura VI‑77: Aeroporto com vista para vulcões Depois de acordar 4h30 em Lanquin e fazer múltiplos traslados, finalmente cheguei no meu hotel na Cidade do México, tarde da noite. Só tive energia para tomar um banho e desmaiar! Estava morto, mas feliz porque finalmente eu iria dormir 3 noites seguidas no mesmo hotel! Era o final da minha jornada na Guatemala, obrigado, Guatemala e guatemaltecos, que país incrível! Dia 11 -> Cidade do México O principal objetivo dessa viagem ao México era conhecer o vulcão Popocatépetl. Durante o voo do dia anterior, o céu estava bem limpo e, distraído, olhando pela janela do avião, vi duas lindas montanhas já próximo à Cidade do México. Eram os “vulcões irmãos” Popocatépetl e Iztaccihuatl. Com esses nomes astecas impronunciáveis, são mais conhecidos como “Popo” e “Itza”. Pena que, quando o voo passou, já estava bem escuro, a olho nu dava para ver pouco. Mesmo assim, não tirei os olhos da janela, apreciando a beleza das montanhas e torcendo para assistir da janela do avião a uma erupção estromboliana do Popo. Imagina só, assistir uma erupção de camarote? Infelizmente, não foi nesses 10 minutos que ele mostrou sua fúria. Mas será que nessa viagem eu iria conseguir vê-lo em ação?... Além do vulcão, o México tem muito mais encantos a serem explorados. Na minha opinião, é o país mais parecido com Brasil que existe no mundo. Tem algumas diferenças, claro, mas eu vejo muitas semelhanças. O México é um país enorme, com uma natureza exuberante e variada, capaz de agradar a todos os gostos: lindas (e muitas!) praias, cachoeiras, lagoas, montanhas... Assim como em quase toda a América Latina, o povo é muito amigável e receptivo. É um país repleto de cidades coloniais, com uma rica herança cultural resultante da mistura dos colonizadores espanhóis e europeus com tradições dos povos indígenas e pré-colombianos. Assim como no Brasil, os mexicanos são católicos fervorosos. Eles também adoram novelas, o Chaves, e são fanáticos por futebol! Eles também têm muitas comidas típicas, e celebrações e tradições incríveis, como o Dia dos Muertos. Adoram festas e baladas. O México também tem cidades enormes e não tão organizadas. A Cidade do México é praticamente do mesmo tamanho de São Paulo e, assim como lá, o trânsito é caótico: os motoristas não dão a mínima para faixa de pedestre, os pedestres também não dão a mínima para farol de pedestre e atravessam aonde dá..., enfim, igualzinho as grandes cidades do Brasil 🤣🤣🤣 . E, lamentavelmente, lá também tem muita desigualdade social. Assim como no Brasil, a gente vê muita pobreza e muita riqueza lado a lado. Prédios muito chiques e luxuosos nas áreas nobres, como o Paseo de La Reforma, e casas bem simples nos morros das periferias, que parecem as nossas comunidades (um pouco mais urbanizadas). O centro está lotado de camelôs, barraquinhas e comércio de rua. Se bem que, nessa comparação, tem muito mais barraquinhas na Cidade do México do que nas cidades brasileiras. Lá o crime também é bastante organizado, e infelizmente não é tão seguro como nos países mais ricos ou na Ásia. Até o metrô achei muito parecido com o de São Paulo. Ao contrário de países europeus, lá funciona com catracas e baldeações livres, bilhete com um preço único (não é por zonas, custa a mesma coisa para percorrer 2 ou 50 estações, igualzinho a São Paulo). Apesar do metrô ser três vezes maior, era 4 quatro vezes mais barato (em fev. 2022). Além disso, me chamou a atenção que os trens lá também têm pneus, ao lado das tradicionais rodas de aço, e ainda tem um par de pneus menores, na horizontal, que também seguem um trilho lateral.... Figura VI‑78: Metro com pneus na vertical e horizontal Salvei no canal um vídeo (Cap VI‑32) do metrô, acho que dá para ver melhor... Depois de tanta correria na Guatemala, decidi tirar um dia mais tranquilo para conhecer o centro da Cidade do México, apelidada pelos locais de CDMX. Comecei o dia, por sorte, descobrindo um lugar bem no centro da cidade muito agradável e seguro para caminhar, inclusive à noite. O café da manhã do hotel era caro e bem meia-boca, pedi indicação de padaria e acabei descobrindo a Calle Regina, a apenas duas quadras do meu hotel. É uma rua bem bacana, com algumas quadras fechadas para pedestres, cheia de restaurantes, pedestres, universitários e turistas. Café da manhã tomado, minha primeira parada era na imensa praça principal no coração da Cidade do México, chamada de Zócalo (o nome oficial é Praça da Constituição). Os espanhóis construíram essa praça bem onde era o centro de Tenochtitlán, a capital dos Astecas. A lenda Asteca diz que, depois que foram expulsos de seu lugar de origem, chamado Aztlan, os astecas peregrinaram por 260 anos até encontrarem o lugar indicado por seu deus Huitzilopochtli, o “deus velho”, divindade da guerra e do fogo. Segundo Huitzilopochtli, uma águia com uma serpente no bico e pousada sobre um cacto, marcaria o lugar onde deveria ser erguida a capital dos astecas. Inclusive a águia comendo a serpente sobre um cacto é o símbolo que está hoje na bandeira do México! Os astecas encontraram o local em uma ilha no meio do Lago Texcoco, que ficava onde hoje é o Zócalo. Esta foto aqui que eu tirei por acaso quando eu estava chegando no Zócalo, não conhecia a história, nem tinha dado atenção para esse monumento, mas foi legal saber que essas estátuas retratam a história da origem de Tenochtitlán/Cidade do México: Figura VI‑79: Água com serpente no bico em um cacto O Lago Texcoco e a Cidade do México ficam no Vale do México, um vale que não tem drenagem natural e destino de todas as águas que descem das montanhas ao redor, tornando a cidade bem vulnerável a inundações. A cidade foi crescendo ao redor dessa ilha e o lago foi sendo aterrado com a expansão de Tenochtitlán. Quando os espanhóis derrotaram os astecas e conquistaram Tenochtitlán, resolveram construir seus edifícios coloniais no mesmo lugar e mudaram o nome da cidade para “México”. Eles também continuaram aterrando o Lago Texcoco, que foi praticamente todo drenado. Embora o lago tenha desaparecido, toda a cidade foi construída sobre o seu terreno pantanoso, lamacento e bastante instável. Andando pelo centro, é comum ver muitos prédios antigos afundando e inclinados, uma das marcas das construções históricas da Cidade do México. Voltando a minha visita ao Zócalo, a praça em si é um pouco estranha no sentido de não ter absolutamente nada, nenhum jardim, nenhum banquinho.... Ela é imensa, é toda calçada e tem apenas uma imensa bandeira do México, mas é rodeada por belos prédios coloniais, com destaque para o palácio nacional do México, sede da presidência, na face leste do Zócalo. Ele foi construído onde ficava o palácio de Montezuma, sede dos governantes astecas. Na face oeste, tem alguns prédios comerciais e, na face sul, muitos prédios governamentais, todos bem bonitos. Mas a principal construção é a impressionante Catedral Metropolitana do México, construída em estilo gótico na face norte do Zócalo, sobre os escombros de um templo asteca adjacente ao Templo Mayor, já que os espanhóis fizeram questão de construir uma grande igreja católica em um local de destaque e bem em cima dos templos astecas. A catedral começou a ser construída em 1573 e só foi terminada em 1813. Figura VI‑80: Zócalo (Praça da Constituição) Figura VI‑81: Palácio Nacional do México Figura VI‑82: Catedral e Tabernáculo Metropolitano Salvei no canal um vídeo (Cap VI‑33) com uma vista panorâmica do Zócalo. Esta construção à direita da catedral, que parecia ser uma parte da catedral, na verdade, é um batistério chamado Tabernáculo Metropolitano, com uma fachada linda e com detalhes muito bonitos na entrada. A entrada é livre também, mas o interior é mais simples. O interior da catedral é lindo. Ela tem uma disposição um pouco diferente das igrejas que estamos acostumados, com dois altares separados por um imenso órgão de tubos no meio da igreja. Me chamou a atenção alguns tubos do órgão na horizontal, parecendo canhões. No primeiro altar, menor e logo na entrada da catedral, tem uma imagem de Jesus negro. Antes dessa viagem, eu nunca tinha visto imagem de Jesus negro, mas, na catedral de Antígua, também tinha uma imagem de Jesus negro. Na área principal da igreja, tem um lindo corredor com “estátuas-candelabros” levando até o segundo altar, o principal, muito bonito também. Figura VI‑83: Candelabro com altar principal ao fundo Figura VI‑84: Imagem de Jesus negro no primeiro altar Figura VI‑85: Órgão com alguns tubos na horizontal Ao lado da Catedral e do Tabernáculo, tem o sítio arqueológico chamado Templo Mayor, onde foi encontrado o pouco que resta das ruínas astecas. Uma pena que tenha restado tão pouco, vou explicar por quê. Estimam que a civilização asteca tinha 400 mil habitantes, só na capital Tenochtitlán uns 200 mil, mas surpreendentemente o conquistador espanhol Hernán Cortés conseguiu conquistar a região com uma expedição que inicialmente tinha apenas 500 homens! Três motivos principais explicam esse feito: obviamente, os espanhóis tinham armamento bem superior (destaque para canhões, bestas e cavalos). Cortés também foi astuto ao fazer alianças com povos indígenas que eram rivais dos astecas, como os Tlaxcaltecas e Totonacas, que se juntaram a ele. E, por fim, grande parte da população asteca morreu por epidemia de doenças europeias (varíola e outras). Entretanto, na primeira vez que Cortés e seu exército chegou em Tenochtitlán, ele foi recebido pacificamente e a convite do imperador Montezuma, em 1519. Mas por que ele teria sido recebido pacificamente? O deus Quetzalcóatl, da serpente emplumada, era venerado em todas as culturas pré-colombianas da região. Para as civilizações mais antigas, as representações da serpente emplumada eram totalmente zoomórficas, descrevendo a serpente como uma cobra real. Já para as civilizações dos tempos dos descobrimentos, como os astecas, Quetzalcóatl começou a adquirir características humanas. Segundo alguns historiadores, os astecas acreditavam em uma antiga profecia local que dizia que o deus Quetzalcóatl, que era branco e tinha barba, depois de ensinar muitas coisas aos povos da região (cultivar os campos, construir templos etc.), autoexilou-se do México. Mas ele sofreu nesse período afastado, e um dia voltaria dos mares e poderia se vingar dos povos que viviam na região! Cortés teria ouvido essa profecia da população local e decidiu usá-la a seu favor. O desembarque dele no México teria acontecido justamente no dia de Quetzalcóatl. Ele também era branco e tinha barba. Montezuma (imperador asteca) teria se convencido que Cortés era o enviado de Quetzalcóatl, retornando dos mares para destruir os povos mexicanos, e inicialmente tentou evitar sua aproximação mandando muitos presentes, ouro, joias, mágicos, sacerdotes, embaixadores... Mas a ambição dos espanhóis por ouro era insaciável, e eles seguiram para Tenochtitlán. Montezuma recebeu Cortés com todos os seus homens e 3 mil indígenas aliados no seu palácio imperial, o tratou bem e aceitou seu domínio. Montezuma até mesmo concordou em ser batizado e declarou-se um súdito do rei Carlos I da Espanha! Mas, depois de algum tempo, deu bastante confusão... Velazquez, outro colonizador espanhol que dominava Cuba e era brigado com Cortés, mandou uma tropa para o México para prender Cortés por insubordinação. Cortés, então, foi até a cidade costeira de Vera Cruz e derrotou essa tropa, mas antes deixou Tenochtitlán aos cuidados de seu aliado Pedro de Alvarado. Quando voltou para a capital asteca, ele encontrou uma rebelião na cidade entre os espanhóis que ficaram e os astecas. Pedro de Alvarado ordenou um massacre dos astecas (conhecido como Massacre do Templo Maior) no momento em que faziam uma cerimônia religiosa, achando que era uma cilada armada pelos astecas e prendeu Montezuma. Cortés logo se deu conta que os astecas tinham eleito um novo imperador, Cuitlahuac. Os astecas, então, cercaram o palácio onde estavam os espanhóis e Montezuma. Quando Cortés ordenou que Montezuma falasse ao povo para que deixassem os espanhóis voltarem em paz para o litoral, Montezuma foi atingido por pedras e dardos e acabou morrendo. Não se sabe se em decorrência desses ferimentos ou se nas mãos dos espanhóis. Cortés decidiu fugir da cidade e, no evento conhecido como La Noche Triste, metade do seu exército foi morta. Cortés saiu, mas se recompôs, reuniu reforços espanhóis e milhares de indígenas rivais, voltou e derrotou os astecas em 1521. Quando os espanhóis reconquistaram a região, usaram a estratégia de “terra arrasada”. Conquistava e destruía tudo, para que o inimigo não se recompusesse, especialmente templos e locais sagrados, construindo no mesmo local igrejas e prédios dos colonizadores. O que Cortés não sabia era da técnica dos pré-colombianos mesoamericanos (astecas, maias etc.) de construir pirâmides em etapas/camadas. As pirâmides eram como bonecas russas matrioskas: iam construindo uma camada após a outra, igual à anterior e cada vez maiores. Eles construíam a pirâmide, uns 50 anos depois construíam outra sobreposta, não se sabe ao certo o motivo. As pirâmides e templos acabavam escondendo por dentro várias réplicas de si mesmo, em tamanho menor. Acredita-se que o Templo Mayor foi construído em 7 camadas. Ainda é possível ver as primeiras “camadas” de sua construção, que sobreviveram à destruição de Cortés e ficaram soterradas por séculos. Sua redescoberta aconteceu por acaso na década de 1970, quando trabalhadores da companhia de eletricidade local encontraram partes do antigo templo antigo. Após essa descoberta, alguns prédios coloniais foram demolidos para desenterrar mais vestígios, revelando o pouco que restou da antiga Tenochtitlán, a capital dos astecas. O museu do Templo Mayor deve ter uma visitação legal com informações históricas, mas estava fechado (acredito que por causa da pandemia). Só deu para dar uma volta em algumas passarelas construídas ao redor do sítio arqueológico. Talvez por causa da pandemia, as ruínas estavam bem bagunçadas: uma parte coberta com capas e tapumes, outras em processo de restauração, com plataformas e andaimes espalhados, e em algumas partes, ainda parecia haver escavações em andamento. Enfim, só olhando de fora e com as obras meio largadas, ficava difícil visualizar alguma construção impressionante.... Era possível ver apenas algumas paredes e escadas das diferentes “camadas” da construção por etapas, estilo boneca russa. Tinha uma parte aparentemente mais interessante com umas maquetes, que daria para ter uma ideia melhor de como era a cidade, mas o acesso a esse local também estava fechado. Figura VI‑86: Ruínas do Templo Mayor Saindo do Templo Mayor em direção ao Zócalo, tem um pessoal com roupas de astecas fazendo rituais de purificação e vendendo souvenirs astecas. Seguindo viagem, a minha próxima parada era o belíssimo Palácio de Bellas Artes, a poucas quadras do Zócalo. O centro da Cidade do México é bastante movimentado e, entre os milhões de mexicanos turistas caminhando, é comum ver os músicos de rua vestidos com roupas estilo militar tocando organillos (segundo o Google tradutor, em português seria realejo), um instrumento no formato de uma caixa de madeira que o organillero toca girando uma manivela. Parece sempre a mesma música, me lembrou aquelas caixinhas de música antigas, tamanho família! O instrumento em si parece que veio da Alemanha, não tem nada a ver com os povos pré-colombianos, mas muitos organilleros passaram a ganhar a vida tocando músicas populares, animando as praças da cidade. Não sei quão comum é hoje em dia, mas, nessa parte da cidade, tinha bastante, salvei um vídeo no canal Cap VI‑34 caminhando ao som dos organilleros. Existem muitas igrejas e prédios históricos bacanas no centro da Cidade do México. Porém, depois de visitar as imponentes construções do Zócalo e da catedral, as outras não chamam tanto a atenção. Uma exceção é o Palacio de Bellas Artes, provavelmente a construção mais bonita da Cidade do México. A casa de óperas em estilo art déco com uma cúpula colorida que dá um lindo contraste com as suas paredes de mármore! E, com o céu azulzinho, ficou ainda mais bonita. Aliás, nos quatro dias de CDMX peguei um clima perfeito. Nunca tinha dado essa sorte, céu limpíssimo, só no final da tarde apareciam algumas poucas nuvens, lindo. Lá dentro costuma ter shows e exposições, mas eu “pão-durei” e não quis pagar a entrada.... No prédio em frente é uma loja de departamentos e no alto do sétimo e último andar tem uma cafeteria que tem uma vista incrível do palácio, fica a dica! Figura VI‑87: Palácio Bellas Artes Ao lado do palácio, tem uma praça bem agradável, chamada Alameda Central, com várias fontes, estátuas, banquinhos, muito bacana. Pena que o monumento mais bonito, uma colunata em semicírculo toda em mármore, estava em reforma, coberta com uns tapumes. A algumas quadras, estava outro lindo e enorme monumento, onde fica o Museu Nacional de La Revolução, que também estava coberto com alguns tapumes, provavelmente em reforma. E o “mão de vaca” aqui não quis pagar entrada para conhecer por dentro... Depois de almoçar, o plano era passear pela agradabilíssima Avenida Paseo de la Reforma em direção ao Bosque de Chapultepec. Paseo de la Reforma é uma avenida com uma calçada muito ampla e arborizada, com muitos jardins, e repleta de prédios luxuosos, lojas e restaurantes. A avenida também é marcada por monumentos e, pelo menos nesse trecho, a cada 3 quadras aproximadamente há uma rotatória com lindas esculturas. Passei por uma bela estátua do penúltimo imperador asteca, Cuitlahuac, que, no episódio do La Noche Triste, expulsou Cortés de Tenochtitlán, mas, depois de 80 dias, morreu de varíola. O monumento mais famoso e bonito é o Angel De La Independencia, um ícone da cidade. Figura VI‑88:Museu Nacional de La Revolução Figura VI‑89: Angel de La Independencia Outra coisa que me chamou atenção foi o trânsito maluco nessas rotatórias. Eu já tinha falado que o trânsito aqui era tão caótico quanto o de São Paulo, mas, nas rotatórias, é muito pior! Na verdade, descobri isso quando eu fui atravessar a avenida para ir até o Angel e vinham carros de todos os lados, quase fui atropelado. Depois eu parei para tentar entender como era o trânsito maluco nessas rotatórias, e fiz uns vídeos para vocês entenderem melhor. Nas rotatórias daqui, os carros podem andar nos dois sentidos: no horário e no anti-horário! É curioso porque a avenida Paseo de La Reforma é uma avenida com duas pistas, carros em dois sentidos, e quando um carro queria virar à esquerda, ele não completava a rotatória no sentido anti-horário e depois virava à direita. Ele já embicava para a esquerda, naquilo que para nós seria a “contramão” da rotatória, e esperava parar de passar carros para prosseguir... É um Deus nos acuda, difícil até explicar, melhor ver nos vídeos 🤣🤣🤣 . Na foto abaixo, não tinha ninguém na contramão: Figura VI‑90: Carros nos dois sentidos das rotatórias Salvei 3 vídeos no canal (Cap VI‑35, Cap VI‑36 e Cap VI‑37) para tentar entender melhor essa confusão.... Do Paseo de La Reforma, segui caminhando em direção ao Bosque Chapultepec, um imenso parque urbano, maior que o Ibirapuera e o Central Park. O local abriga vários monumentos e esculturas, algumas muito bonitas, além de áreas para esportes, espaços verdes para piqueniques e um monte de esquilinhos fofinhos... Também há zonas mais movimentadas, com muitas barraquinhas e camelôs, um lago para o pessoal andar de pedalinho e alguns museus. Talvez a construção mais bonita seja o Castelo de Chapultepec. Atualmente, ele abriga um museu e, para conhecer por dentro, tem que pagar uma entrada que o pão-duro aqui refugou. Na verdade, eu já tinha pesquisado um pouco sobre os milhões de museus e galerias da Cidade do México, parece que muitos deles são bastante interessantes. As entradas não eram tão caras, mas, além da “pão-duragem”, eu só teria tempo de conhecer bem um deles. Por isso, escolhi visitar apenas o que mais me interessava: o Museu Nacional de Antropologia. Esse museu, que também fica no Bosque Chapultepec, possui um belo acervo sobre a história dos povos indígenas pré-colombianos que habitavam o México antes da colonização. A fachada do Museu Nacional de Antropologia é meio modernista, não me chamou a atenção.... Ok, achei feio mesmo 🤣🤣🤣 . Mas, assim que você entra no pátio central, dá de cara com a coluna gigante, que sustenta toda a cobertura do pátio central, e funciona como uma fonte, muito bonita! Figura VI‑91: Coluna no pátio do Museu de Antropologia Achei o museu muito bacana e bem-organizado. Muitas placas explicativas, eu não senti falta de guia, por exemplo. Porém, nesse museu, um bom guia seria mais útil para filtrar as atrações principais do museu, eu não imaginava que fosse tão grande. A primeira parte fala um pouco de antropologia, evolução humana desde os primeiros hominídeos, chegada dos primeiros hominídeos nas Américas etc. Achei pouco interessante, talvez porque tinha pouca novidade, e passei bem rápido para ir direto para parte dos povos mexicanos que me interessavam mais. Logo cheguei à parte dedicada aos Teotihuacanos, povo que habitava a cidade de Teotihuacán, a uns 50 km da Cidade do México. No dia seguinte, eu iria conhecer melhor este sítio arqueológico. Nas primeiras vezes que li sobre as enormes pirâmides de Teotihuacán, imaginava que lá fosse uma cidade asteca, mas depois fui descobrir que, na verdade, os teotihuacanos são bem mais antigos que os astecas, estima-se que a cidade foi fundada lá pelos anos 100 a.C. e durou até, aproximadamente, 750 d.C. Já a civilização asteca é de 1300 d.C., quase seis séculos depois! O mais legal dessa parte é essa grande reprodução da fachada do templo de Quetzalcóatl (deus da serpente emplumada), pintado com as prováveis cores dele no auge da civilização teotihuacana, segundo estudos arqueológicos. Figura VI‑92: Fachada do Templo da Serpente Emplumada No dia seguinte, iria conhecer as ruínas desse templo. Além disso, tinha uma coleção bacana de objetos, artefatos, quadros e imagens, além de várias estátuas. Também gostei de maquete da cidade de Teotihuacán, uma estela maia de Tikal (Guatemala), mostrando a influência teotihuacana lá, e uma reprodução dos esqueletos de sacrifícios humanos achados no Templo de Serpente Emplumada. Muito legal o acervo dos teotihuacanos. A próxima sala era dos Toltecas, outra civilização antiga. Esta eu nunca tinha ouvido falar, e passei um pouco rápido, porque eu queria conhecer mais sobre os astecas. E a primeira coisa que eu aprendi no Museu de Antropologia é que, na verdade, os mexicanos chamam os “astecas” de “mexicas”! Segundo a Wikipedia, “mexica” era a real forma que a maioria dos antigos habitantes do México se referia a si mesmo. O termo asteca significa "povo de Aztlan", aquele lugar mítico da origem para vários grupos étnicos na Mesoamérica. O termo “asteca” é encontrado em diversos contos de migração dos mexicas, que descrevem as diferentes tribos que deixaram Aztlan juntas até acharem a águia pousada sobre um cacto com uma serpente no bico, mas não era o termo usado por eles para referir-se a si mesmo. Alguns pesquisadores dizem que os estrangeiros popularizaram o termo “asteca” para se referir a esse povo para evitar confusão do termo “mexica” com os atuais “mexicanos”. Enfim, demorou um pouco para eu perceber que, na Sala dos Mexicas, eu estava conhecendo a história dos astecas. Continuarei usando o termo “asteca” porque é como estamos acostumados a chamá-los no Brasil, mas o correto seria chamá-los de “mexicas”, segundo o idioma deles. Aliás, o idioma deles, Nahuatl, até hoje é falado por cerca de um milhão de pessoas no México! O museu tem um acervo muito bacana com diversos objetos dos astecas/mexicas, além de uma grande variedade de artefatos, esculturas e estátuas. O destaque do acervo é a Pedra do Sol, com seus 3,6 metros de diâmetro e 1 metro de espessura. Erroneamente confundida como calendário asteca, ela seria um grande altar para sacrifício gladiatorial. Provavelmente foi utilizada para a luta de guerreiros na cerimônia para o deus da guerra asteca Tlacaxipehualitzli. Além disso, tem uma bela maquete de como seria Tenochtitlán, a capital do império asteca que ficava onde hoje é a Cidade do México, conquistada pelos espanhóis. Uma pena que as principais construções dos astecas foram destruídas por Cortés, só sobrou a maquete e um mural gigante para tentar imaginar como era a rica cidade na época. E, no mural, olha quem estava ao fundo de Tenochtitlán: o Popo e o Itza! Figura VI‑93: Pedra do Sol Figura VI‑94: Reprodução de Tenochtitlán O museu é muito legal, mas tinha um detalhe: eu não sabia que fechava às 17h (durante a pandemia)! Eu tinha entrado umas 15h30 e, quando eu acabei de ver a sala dos astecas, o museu já estava fechando! Uma pena, só deu tempo mesmo de conhecer os teotihuacanos, os toltecas, e os astecas. Queria ter visto especialmente a parte dos maias. Mas além dos maias, ainda tinha salas para os oaxacas, povos do ocidente, povos da costa do fogo do México, do norte, e mais um monte de pueblos índios mais recentes, não sei direito. Na escola, quando aprendemos um pouco sobre as civilizações pré-colombianas das Américas, sempre falam dos maias, incas e astecas, eu não fazia a menor ideia de que tinham tantas outras civilizações aqui na região. Felizmente as que eu mais queria eu consegui ver, mas recomendo bem mais tempo para visitar o museu. Feliz o povo mexicano que tem um museu tão bem-organizado contando a rica história das civilizações pré-colombianas que resultaram no México contemporâneo, muito legal! E que pode se orgulhar de todas essas maravilhas expostas no museu, expressão do conhecimento e engenhosidade de seu próprio povo e seus ancestrais, valeu a visita! Era hora de voltar para o hotel, tomar um banho e, à noite, procurar alguma comida típica mexicana. Tem bastante restaurante e comida mexicana no Brasil e no mundo afora, mas dizem que essa comida tex-mex (tacos, nachos, burritos, enchiladas, fajitas, quesadillas,etc) que faz sucesso fora do México é uma adaptação mais ao gosto do gringo. Além da pimenta e do guacamole, eu achava que todas essas comidas seriam bem populares no México, mas, pelo visto, popular aqui mesmo são os tacos. Pesquisei no TripAdvisor algumas recomendações de comida mexicana, não muito caras e próximas ao hotel. E uma das primeiras opções era a Taqueria Los Cocuyos, um lugar bem raiz: muito antigo, sem cadeiras, mesas, wi-fi, você come em pé na calçada apertada mesmo, com os tacos servidos em um pratinho de plástico sem-vergonha e naqueles guardanapos mais duros, espessos e toscos, sabem? Talvez para garantir que o monte de óleo do taco não vai atravessar o guardanapo e queimar a sua mão 🤣🤣🤣 . Mas está sempre cheio de gente! Desde que Antonhy Bourdain comeu aqui e o elegeu como um dos melhores tacos do mundo, o lugar fica lotado de turistas. O bom é que, apesar do sucesso, não “gourmetizaram” o lugar, o preço dos tacos varia de 15 a 25 pesos (0,75-1,23 $USD). Lá tem um panelão cheio de carnes, todas de segunda. Coloquei uma foto do cardápio, vejam que não estamos falando de filé mignon, nem picanha... É cabeza, ojo, Lengua, tripa, tronco de oreja.... Quando comecei a traduzir o que eram aqueles pedaços de carne, achei melhor nem saber mais o que era. Olhei o panelão de carnes e escolhi a que me pareceu melhor (suadero). E peguei outro de linguiça (longaniza). Escolhido o sabor, o cara pega a carne e corta bem picadinha na tábua. Depois ele pega a tortilla (que ele tinha dado uma passada no óleo e na gordura da tábua para pegar mais gosto), coloca o recheio picadinho, mistura com cebola e algum outro tempero, pegando tudo com a mão mesmo, e tá pronto o taco! Aqui não pode ter “nojinho” 🤣🤣🤣 . Salvei um vídeo do cara preparando o Taco no canal (Cap VI‑38). Na foto a seguir, esse monte de pote com molhos laranja, vermelho e verde são pimentas, dizem ser uma mais forte que a outra. Para as pimentas, eu “arreguei”... Figura VI‑95: Taqueria Los Cocuyos Figura VI‑96: Taco “raiz” Figura VI‑97: Reparem nas opções de carnes Apesar da aparência nada apetitosa, e do lugar bem raiz, para não dizer tosco, os tacos de lá são realmente muito bons! Gostei muito, Antonhy Bourdain acertou em cheio. Aliás, no dia seguinte, fui jantar em um restaurante mexicano “normal” na Calle Regina. Pedi umas quesadillas que estavam boas, e mais 2 tacos, um de peru e outro de carne. Os tacos até tinham uma aparência muito boa, mas, quando eu comi...., muito ruins, especialmente se comparados com o taco raiz do Los Cocuyos! E ainda era mais caro, uns 30-35 pesos cada. O de peru estava meio duro e ressecado. A carne do outro até parecia boa, mas sem nenhum tempero. Sabe quando você frita um bife sem nada de alho e sal? Acho que todas aquelas gorduras dão um tempero especial para os tacos “raiz”... Enfim, valeu para ver como o taco raiz era muito bom. Figura VI‑98: Tacos “gourmet”, mas bem meia-boca... Cidade do México: #imperdível Dia 12 -> Teotihuacán e Basílica Era o dia de conhecer o sítio arqueológico de Teotihuacán. Um brasileiro tinha visitado Teotihuacán sem guia e me recomendou um aplicativo gratuito chamado SmartGuide, que oferece um guia audiovisual. Depois do guia mega falante em Tikal, resolvi explorar Teotihuacán sozinho mesmo. Fiz o download do aplicativo, que é muito legal mesmo. Claro, não é melhor do que um bom guia, de vez em quando dava umas travadas, tem um ou outro bug, mas, no geral, achei bem bacana. Existem algumas formas de chegar a Teotihuacán: escolher algum tour direto da Cidade do México, alugar um carro, ou ir de metrô e ônibus rodoviário, sendo essa obviamente a opção mais barata. No México, os ônibus rodoviários para cidades próximas funcionam de forma semelhante aos ônibus urbanos (ao menos os que eu peguei). Eles são baratos, fazem várias paradas no caminho e, às vezes ficam tão lotados que acaba indo um monte de gente em pé. Se for de ônibus, recomendo embarcar no ponto inicial, o Terminal Norte. Meu plano era chegar em Teotihuacán às 9h, quando abrem os portões e dizem ter menos turistas, mas atrasei um pouco, e fui entrar em Teotihuacán por volta das 10h30. De qualquer forma, não achei tão cheio, talvez porque o lugar seja muito grande e, também, não era final de semana. O que eu não sabia é que o ônibus me deixaria no portão 2, que fica no meio de Teotihuacán. O ideal seria ou começar do portão 1, que fica no começo, e seguir até o portão 3, que fica no final. Ou vice-versa. Teotihuacán tem 2 pirâmides principais, a Pirâmide do Sol fica bem no meio do sítio arqueológico, em frente ao portão 2, e a Pirâmide da Lua fica em frente ao portão 3. Esse trecho entre as pirâmides é o que tem as ruínas mais legais. Além disso, a parte da Cidadela e do Templo de Quetzalcóatl também é bem interessante e fica em frente ao portão 1. No idioma dos astecas, Teotihuacán significa “lugar onde humanos se tornam deuses”. Os astecas, que chegaram lá seis séculos depois do fim dos teotihuacanos, acreditaram que aquele lugar era o local do nascimento dos deuses. Ou seja, o nome que é usado hoje foi atribuído pelos astecas, não se sabe que nome os teotihuacanos davam para sua cidade. Na verdade, não se sabe muito sobre os teotihuacanos.... Por 500 anos, entre os séculos 3 e 8 d.C. a cidade de Teotihuacán foi a sede de um poderoso império. Cada fonte que eu pesquisei faz uma estimativa do seu tamanho, algumas dizem que chegou a ter 200 mil habitantes, o que faria dela a maior metrópole de sua época em todo o planeta, outras falam em 125 mil habitantes, nesse caso, seria a sexta maior. Depois de ser destruída, a cidade foi abandonada. Naquela época, não havia qualquer outra civilização próxima capaz de reunir um exército que pudesse ameaçar os teotihuacanos. A maioria dos pesquisadores acredita que ela foi destruída por um conflito interno, provavelmente devido a uma grande seca que gerou uma crise na agricultura. A população ficou sem comida e se revoltou contra os governantes, e este seria o motivo que eles destruíram ou queimaram as casas dos governantes, prédios administrativos e templos religiosos, mas não as casas da população. Os toltecas e os astecas descobriram e exploraram as ruínas de Teotihuacán, e incorporaram diversas de suas tradições e crenças às suas culturas. Quetzalcóatl, a Serpente Emplumada, maior divindade de Teotihuacán, também era e cultuada pelos astecas. Este interesse das civilizações que vieram depois, porém, não impediu que a cidade acabasse caindo no esquecimento e fosse totalmente recoberta pela vegetação nativa e plantações. Hoje, apenas 10% de seu perímetro urbano de Teotihuacán estão escavados e trazidos de volta à luz. Quando eu entrei em Teotihuacán pelo portão 2, logo dei de cara com a grande Pirâmide do Sol, o “monumento” mais impressionante do sítio arqueológico. Com 65 m de altura, e 225 m na base, só perde em tamanho para as pirâmides do Egito (a maior delas, Quéops, tem cerca de 140 m de altura e 230 m de base). O nome Pirâmide do Sol foi dado porque, quando os astecas “descobriram” a cidade de Teotihuacán, acreditaram que ela, pela sua posição, foi construída para cultuar o sol, que era considerado um deus. Ela fica na direção que nasce o sol, ao leste da avenida principal, Avenida de Los Muertos. Aliás, essa avenida também recebeu esse nome dos astecas erroneamente, pois imaginaram que as pirâmides ao redor dela eram túmulos. Quanto à Pirâmide do Sol, a interpretação mais aceita atualmente diz que ela foi construída pelos teotihuacanos para cultuar Tlaloc, deus da chuva/água, associado à fertilidade da terra e à abundância das colheitas. Representaria um monte sagrado de onde descem as águas e as riquezas. A principal evidência encontrada que ancora essa interpretação é, entre outras, a existência de um fosso de 3 metros de profundidade que circunda a base da pirâmide, dando um significado de montanha das águas. Além disso, corpos de crianças encontrados nos cantos da pirâmide seriam uma indicação de oferendas a Tlaloc. As cavernas encontradas abaixo da pirâmide também têm dois significados para os povos pré-colombianos: simbolizavam tanto a vida quanto a morte. De um lado, representavam a relação com Tlaloc, aquele que dá vida; de outro, serviam como entradas para o mundo dos mortos. No topo das pirâmides, assim como nas pirâmides maias, ficavam os templos e altares onde eram realizadas as cerimônias religiosas e os rituais com sacrifícios humanos. Em Tikal, dava para ver melhor as ruínas dos templos no topo de algumas pirâmides, mas, em Teotihuacán, restaram apenas as pirâmides “bases”. Historiadores acreditam que os templos foram destruídos no conflito interno que levou ao fim de Teotihuacán. Quando eu cheguei, ela estava bem frente para o sol (como sabiam os astecas!). Contra a luz, as fotos não ficaram lá essas coisas. Figura VI‑99: Pirâmide do Sol Ao lado da pirâmide, tem o museu de Teotihuacán, mas acabei não conhecendo. É praticamente o único lugar com sombra para quem quiser dar uma parada para descansar um pouco... Eu tinha acabado de chegar, voltei para a Avenida de los Muertos e caminhei até a Pirâmide de Lua. Dizem que, antes, a Avenida de los Muertos tinha 5 km, mas hoje restaram 2km no complexo. E é toda cercada de ruínas. A parte entre as pirâmides é a mais legal da avenida, cheia de construções que deveriam ser da elite dos teotihuacanos. Nesse trecho, além das casas, se destaca o mural Puma, um mural colorido que sobreviveu aos 1500 anos de abandono, e o Templo de Agricultura, onde também foram encontrados murais. Logo cheguei a grande Praça da Lua, que os historiadores acreditam ter sido o centro dos rituais políticos e religiosos de Teotihuacán. Muito bonitas as construções ao seu redor. Acreditam que o altar no centro da praça era para rituais de dança. Com 45 m de altura e 140 m x 150 m de base, a Pirâmide da Lua está no final da Avenida dos Mortos e foi construída em “camadas”, como o Templo Mayor (na Cidade do México) e a maioria das grandes construções pré-colombianas. Aliás, a exceção mais notável é a Pirâmide do Sol, construída de uma vez só. Dentro da Pirâmide da Lua, foram encontradas enterradas oferendas aos deuses, incluindo animais e humanos, indicando que aqui ocorriam rituais com sacrifício humano. Alguns decapitados, outros com as mãos amarradas às costas, outros com muitas joias, características similares aos corpos encontrados no Templo de Quetzalcóatl (Serpente Emplumada). Figura VI‑100: Avenida de Los Muertos e Pirâmide da Lua Figura VI‑101: Pirâmide da Lua Dizem que é do alto da escadaria da Pirâmide da Lua que se tem a vista mais impressionante de Teotihuacán, mas, infelizmente, estava proibido subir em todas as pirâmides (aparentemente proibiram durante a pandemia e desde então continuava assim). Até pensei em voar o drone para ter uma visão aérea. Não tinha nenhuma sinalização a respeito, mas perguntei para um guia perdido se poderia usar drone, ele disse que era proibido. Sei lá se era verdade, mas também não tinha nenhum funcionário por perto para perguntar, e como não tinha mais ninguém usando, achei melhor não arriscar... Uma pena, fiquei sem vista aérea. Ao lado da Pirâmide da Lua, em direção ao portão 3, tinha alguns espaços fechados também, desde a pandemia. Os mais famosos são o Palácio dos Jaguares e o Palácio de Quetzalpapalotl, esse último foi restaurado pelo pessoal do Museu de Antropologia e está com cores originais. Também tem um templo das conchas e um museu de murais, mas não pude conhecer de perto nada disso porque estava fechado desde a pandemia. O ideal seria terminar ou começar o passeio por aqui, mas como o busão me deixou no portão 2, agora era hora de atravessar toda Teotihuacán até o portão 1, sob um sol de rachar, já que quase não há sombras em todo o sítio arqueológico. Chegando próximo ao portão 1, depois da bela caminhada, cheguei à Cidadela. Acredita-se que esse local era o centro administrativo de Teotihuacán. Embora hoje esteja situado em uma extremidade do sítio arqueológico, acredita-se que aqui se localizava fisicamente o centro da antiga cidade. A praça tem dimensões imensas, aqui também ficaria o principal mercado da cidade, onde a maior parte do comércio acontecia. No centro da praça, tinha um palco supostamente para celebrações. A construção mais interessante é o Templo de Quetzalcóatl, a Serpente Emplumada, a divindade maior dos teotihuacanos, incorporada por outras comunidades pré-colombianas. Os astecas também chamavam de Quetzalcóatl, e os maias de Kukulcán. A Serpente Emplumada é como um deus universal que criou tudo, o primeiro humano, a primeira mulher, ensinou os homens a plantarem etc. O Templo de Quetzalcóatl fica a leste da Cidadela e atrás de outra pirâmide. Não se sabe ao certo por que construíram essa pirâmide bem em frente a templo, obstruindo sua visão. Se a subida ao topo dessa pirâmide também não tivesse sido proibida desde a pandemia, ela ofereceria uma bela vista para o templo. As pirâmides dessa parte não são tão altas quanto as da lua e do sol, mas o Templo da Serpente emplumada é o que tem a fachada mais adornada. Aquela mesma fachada que tem a reprodução colorida no Museu de Antropologia na CDMX. Chama atenção pelos detalhes, muito legais as imagens das serpentes emplumadas e essa outra forma diferente, quadriculada, com dois olhos e um queixão que eu não sei direito que bicho é, 🤣🤣🤣 . Segundo o texto explicativo, alguns historiadores acreditam que pode ser o Tlaloc, o deus das chuvas, mas existem outros que defendem ser um grande cocar (headdress). Figura VI‑102: Pirâmide e Templo de Quetzalcóatl Figura VI‑103: Templo de Quetzalcóatl Figura VI‑104: Serpente emplumada, e Tlaloc ou um grande colar Foram encontrados mais de 100 esqueletos abaixo e ao redor do Templo de Quetzalcóatl. Pesquisadores acreditam que foram rituais de sacrifícios humanos devido à posição encontrada dos corpos, de joelhos e com mãos amarradas às costas. Muitos foram encontrados com esposa, armas, parte de animais, joias e diversas oferendas. Os teotihuacanos acreditavam que quem passasse por esses rituais de sacrifício teriam a alma enviada direto para a casa do Sol (sagrado) e que logo retornaria a terra como uma ave de linda plumagem. Para os teotihuacanos, e para grande parte das civilizações pré-colombianas, morrer sacrificado era um privilégio! Como acabei não indo nos museus e palácios, e como não podia subir nas pirâmides, acabei passando “só” umas duas horas por lá. Para voltar para a Cidade do México, basta esperar o ônibus que passa de 30 em 30 minutos em uma das rotatórias em frente ao portão, que, aliás, já estava bem cheio e fui em pé com a galera mesmo. Uma boa opção de passeio é combinar Teotihuacán com a Basílica de Guadalupe, que também fica ao norte da Cidade do México. Eu me informei com o motorista e desci em uma estação de metrô antes do ponto final do ônibus, que era bem mais perto e tinha menos baldeações até o metrô da Basílica de Guadalupe. Basílica de Guadalupe O Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe é o segundo santuário católico mais visitado no mundo, perdendo somente para a Basílica de São Pedro (no Vaticano). Foi construída em homenagem à Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina e, na verdade, é um complexo que contém duas basílicas, várias igrejas, capelas e um museu. A basílica antiga começou a ser construída em 1531 e foi concluída em 1709. Lembrando que a Cidade do México foi construída sobre um terreno bem lamacento, após o aterramento do Lago Texcoco, e várias construções antigas estão afundando, mas a basílica antiga talvez seja a construção que o afundamento chama mais atenção, impressionante como as paredes e torres estão inclinadas e tortas! Não pude conhecer o interior da basílica antiga, só abre em alguns horários que tem missa. Já a nova e moderna basílica foi construída na década 1970. Dizem que a sua cobertura foi desenhada com esse formato simbolizando o manto onde foi encontrada a imagem da Guadalupe. Olha que legal a simbologia: quem está ali embaixo está protegido sob o manto da Nossa Senhora de Guadalupe! Figura VI‑105: Basílica nova e basílica antiga Figura VI‑106: Formato da cobertura para simbolizar o manto Figura VI‑107: Basílica antiga muito inclinada Salvei um vídeo da praça em frente às basílicas (Cap VI‑39) no canal. A história da padroeira Nossa Senhora de Guadalupe é bem interessante. De acordo com relatos, a sua primeira aparição foi em 9 de dezembro de 1531, no morro Tepeyac, para um camponês asteca chamado Juan Diego. Falando com o camponês na língua nativa (Nahuatl), a senhora se identificou como sendo a Virgem Maria, “mãe do verdadeiro Deus”, e pediu para que uma igreja fosse construída naquele local. Juan, então, procurou o arcebispo da Cidade do México para lhe contar essa história. O arcebispo não deu muito crédito a ele, mas, quando ele voltou ao morro Tepeyac, a virgem apareceu novamente (segunda aparição) e pediu a ele para continuar insistindo. No dia seguinte, Juan conversou de novo com o arcebispo, que, dessa vez, pediu para Juan Diego retornar com uma prova da existência da virgem. No mesmo dia, a terceira aparição aconteceu quando Juan voltava para o Tepeyac, e ele a informou sobre o pedido do arcebispo. Ela, então, falou para Juan retornar no dia seguinte que ela iria fornecer para ele uma prova! Mas, no dia 11 de dezembro, o tio de Juan Diego ficou doente, e ele teve que cuidar do tio e não pode ir ao encontro da virgem. No dia seguinte, Juan teve que buscar um padre em Tlatelolco às pressas para fazer a unção dos enfermos para o tio doente. O morro Tepeyac ficava no caminho de Juan para Tlatelolco, mas, envergonhado por não ter ido encontrar a virgem no dia anterior, Juan pegou outro caminho. Mesmo assim, a virgem o interceptou no meio do caminho (foi a quarta aparição). Ele explicou o que tinha acontecido, a virgem o repreendeu suavemente por ele não ter ido se encontrar com ela, mas então tranquilizou Juan Diego, garantiu que o seu tio estava curado e lhe disse para subir o morro Tepeyac e colher flores no seu cume. Era uma montanha com solo estéril, especialmente em dezembro (inverno), então encontrar essas flores no cume nessa época iria convencer o arcebispo que houve um milagre. Juan seguiu as instruções e encontrou rosas florescendo lá. Ele pegou as flores e as enrolou em um manto que ele tinha. Quando Juan chegou ao palácio do arcebispo e abriu o manto diante dele, as flores caíram no chão. Mesmo vendo as flores da montanha estéril, o arcebispo ainda não estava 100% convencido, mas, quando eles olharam esse tecido, milagrosamente estava desenhada a imagem de virgem de Guadalupe! Aí, sim, ele se convenceu. E esse é o manto sagrado que hoje pode ser visto na basílica. No dia seguinte, Juan Diego encontrou o tio totalmente recuperado. O tio relatou que também tinha visto a virgem (quinta aparição), e ela havia dito a ele para informar ao arcebispo sobre a sua aparição e cura milagrosa, e teria dito que desejava ser chamada de Guadalupe. Em 26 de dezembro de 1531, foi realizada uma procissão para levar o manto até o morro Tepeyac e construíram uma capelinha onde o manto ficou guardado. Desde então o manto tornou-se o símbolo religioso mais popular do México, e foram construindo igrejas maiores, e maiores, até a basílica de hoje! Voltando a minha visita...., na parte lateral da basílica, tem um acesso onde todos podem ver o manto. Me lembrou um pouco com o acesso da Basílica de Aparecida para ver a imagem da santa. Bem bonita a basílica. Figura VI‑108: Manto com Nossa Senhora de Guadalupe Na saída da basílica, tem uma bonita estátua do Papa João Paulo II. Na frente da praça principal, ainda tem uma torre dos sinos cheia de coisas, com um relógio normal, um relógio solar, e uma réplica da Pedra do Sol asteca. Ao lado da Basílica, fica o morro Tepeyac, onde aconteceram as aparições. Eu quase não fui lá por preguiça de subir as escadas, mas valeu a pena dar uma volta. No complexo do santuário, tem duas estátuas representando Juan entregando o manto para o arcebispo, um parque com fontes decoradas com as serpentes emplumadas, uma capela onde Juan encontrou as flores, igreja da fonte que acreditavam ser milagrosa (pocito) e o local onde construíram a primeira capela. Mas o que eu mais gostei foi a vista do alto do morro, o skyline com os modernos edifícios da Cidade do México contrastando com as cúpulas das basílicas novas e antigas de Guadalupe. Figura VI‑109: Basílicas e o skyline da CDMX Figura VI‑110: Cúpulas e arranha-céus Figura VI‑111: Juan entregando manto para o arcebispo Nessa viagem, eu aprendi bastante sobre sincretismo religioso entre os povos pré-colombianos e colonizadores católicos. E parece que a história da virgem de Guadalupe também tem fortes traços de sincretismo religioso. Muito antes da conquista dos espanhóis, no mesmo morro Tepeyac, havia um templo sagrado para os astecas, o templo da deusa mãe Tonantzin (mãe de todos os deuses). Assim como outros templos religiosos astecas, este templo foi destruído pelos espanhóis que construíram no local uma capela dedicada à Virgem Maria. Os astecas nativos continuavam a vir de longe para venerá-la, chamando-a de Virgem Maria de Tonantzin. Ou seja, muito antes das aparições da virgem para Juan, este local já era sagrado para os astecas. Além disso, a virgem apareceu falando a língua asteca (nahuatl). A própria imagem da virgem tem traços indígenas, e não europeus, está usando joias astecas e um lenço que as indígenas usavam quando grávidas. Dizem que a perna esquerda levemente à frente na imagem da santa seria a forma como os indígenas realizavam seus cultos. Alguns acreditam que, na verdade, o nome da virgem era um nome asteca “captlaxopeuh”, mas que o arcebispo tenha “espanholizado” para Guadalupe. Enfim, parece que houve mais um caso bacana de mistura de crenças e sincretismo religioso. Muito legal a visita para o santuário de Guadalupe. À noite, fui jantar na Calle Regina. Depois da janta, criei coragem e fui até o Zócalo só com o celular mesmo. A Cidade do México, especialmente nos lugares mais movimentados, me pareceu seguro, mesmo no centro. Mas a gente sabe como são as coisas nas grandes cidades brasileiras: à noite, ou em lugares mais vazios, turistando sozinho, é bom não bobear. E da Calle Regina até o Zócalo tinha alguns lugares mais vazios. De qualquer forma, valeu a pena o passeio, os prédios coloniais ao redor do Zócalo tinham uma bela iluminação noturna! A exceção foi a catedral, que não tinha iluminação nenhuma. Reparem no vídeo (Cap VI‑40) que eu salvei no canal, os prédios todos iluminados, e a catedral toda escura. Figura VI‑112: Prédio bonito no Zócalo Teotihuacán: #imperdível Basílica de Guadalupe: #imperdível Dia 13 -> Popocatepetl E finalmente tinha chegado o dia de conhecer o vulcão mais ativo da América do Norte continental, o Popocatépetl, ou Popo, para os mais íntimos... O Popo e o seu “vulcão irmão”, Iztaccihuatl (Itza), ficam no Parque Nacional de Itza-Popo, o segundo mais antigo do México, criado em 1935. A cadeia montanhosa que abriga os pontos mais altos do México é chamada La Sierra Nevada. Iztaccihuatl é a terceira montanha mais alta do México (5225 m), e o Popocatépetl (5452 m), a segunda. A montanha mais alta do México é o Pico de Orizaba, que também fica lá perto, com 5636 m. O Popo e o Itza ficam no Parque Nacional de Itza-Popo, o segundo mais antigo do México, criando em 1935. A entrada principal do parque fica no Paso de Cortés, que recebeu este nome por causa dele mesmo, o conquistador espanhol Hernan Cortés. Guiado por Tlaxcaltecas, ele atravessou por esse passe entre o Itza e o Popo, saindo de Cholula, rumo a Tenochtitlán (CDMX) em 1519. Aliás, na rotatória bem na entrada do parque, tem um monumento no formato de quadro simbolizando Cortés, seu exército e alguns indígenas atravessando o paso. O monumento é bem feinho, mas ele é provavelmente o único momento em todo o México dedicado ao odiado “não tão bem-quisto” Hernan Cortés! Quando perguntei para um guia a origem desses nomes malucos de vulcões, ele me explicou que Popocatépetl, em nahuatl, significa “montanha que fuma”, e Iztaccihuatl “mulher deitada”. Eu achei interessante, mas faltavam detalhes interessantes. Mais tarde, encontrei a história completa em alguns blogs (Ref. 36 e Ref. 37). Durante o reinado dos astecas no Vale do México, foi imposto um sistema de impostos severo e punitivo às civilizações vizinhas. Essa cobrança era uma grande fonte de riqueza e trabalho para a capital Tenochtitlán, mas o descontentamento foi um dos fatores que posteriormente levaram à destruição do Império Asteca por Hernan Cortés, já que os Tlaxcaltecas e outras civilizações vizinhas se aliaram a Hernan Cortés. Muito antes dos espanhóis chegarem, o governante local dos Tlaxcaltecas decidiu ir à guerra contra os astecas. Ele tinha uma linda filha, chamada Iztaccihuatl, que havia se apaixonado pelo guerreiro mais destemido da tribo, chamado Popocatépetl, que também se apaixonou por ela. Para permitir esse casamento, o chefe local impôs uma condição: ele enviou o valente guerreiro para a batalha, e ele deveria retornar com a cabeça do inimigo em mãos para, aí, sim, poder casar-se com sua filha. Destemido, Popocatépetl partiu para sua missão, mas outro guerreiro chamado Citlaltepetl, também apaixonado pela princesa e invejoso de Popocatépetl, resolveu voltar antes que a batalha terminasse, dizendo que o destemido Popocatepetl havia sido morto na luta! A bela princesa não resistiu à dor de perder o seu amado e acabou morrendo de desgosto. Alguns dias depois, chegava da batalha Popocatépetl, alegre e saltitante, com a cabeça do inimigo em mãos, pronto para receber seu prêmio e casar-se com sua amada. Ao descobri-la morta, não se conformou. Levou o corpo sem vida da princesa para uma região no campo, deitou-a no solo e ajoelhou-se ao seu lado, prometendo não mais sair daí para todo o sempre. Comovidos com a história, os deuses interviram. Transformaram os dois amantes em enormes montanhas que ficariam, para sempre, lado a lado! Iztaccihuatl tem a forma de uma mulher deitada, vestida de branco, dormindo pacificamente. Popocatépetl, ou “montanha fumegante”, é o vulcão ao seu lado, nervoso e inquieto, pronto para sempre proteger a sua amada. Dizem que o Popocatepetl entra em erupção ocasionalmente porque a dor dele ainda queima profundamente dentro do coração dele. E o guerreiro invejoso que causou essa tragédia? Não, os deuses não se esqueceram dele! Também foi transformado em uma montanha, a mais alta do México, Pico Orizaba, para que, de longe, pudesse ver os dois amantes juntos, unidos para sempre. O Pico Orizaba tinha que ficar mais longe, pois foi condenado à solidão eterna, mas não tão longe para que ainda pudesse ver os amantes juntos para sempre. Muito legal, né? Quase um Romeu e Julieta das civilizações pré-colombianas! Negaram seu amor enquanto viviam, mas foram destinados a passarem a eternidade juntos. Itza e Popo são um símbolo de amor eterno, transformados nos dois vulcões que formam esse lindo cenário de fundo para a Cidade do México. Impossível não se apaixonar pela história das civilizações pré-colombianos, até as lendas dos vulcões são fantásticas!!! A cidade-base para conhecer o parque nacional Itza Popo é Amecameca, que fica 60 km (~1h) da Cidade do México. O Paso Cortés ligava Amecameca até Cholula, mas apenas o trecho até Amecameca é asfaltado (30 min, 26 km). Do Paso Cortés para Cholula e Puebla, a estrada está ruim e não tem transporte público até lá. O único tour que achei para o Paso Cortés era um bate-volta da Cidade do México. Mas esse tour é mais para fazer o começo trekking para o Itza, começando na base do Itza (La Joya, a 4200m) e subindo até onde o grupo aguentar (máximo 4800 metros). Parecia uma boa opção, mas, para o meu objetivo principal que era ver o Popo, ele tinha dois problemas. Eu não sabia se esse tour parava em um bom lugar para ver o Popo, e, com certeza, eu não poderia vê-lo à noite, que é quando a magia acontece! Eu tinha muita pouca informação sobre a atividade do Popo. Só sabia que tinham erupções estrombolianas e que não eram várias por hora (como o Fuego e Monte Yasur). Não sabia se teria erupções com lava visível à noite, mas, na dúvida, eu queria me programar para ter essa chance. Descobri que até daria para ir ao Parque Nacional Itza-Popo de carro alugado. Mas até La Joya, aparentemente desde a pandemia, precisava de uma autorização. Muito difícil conseguir informações do Parque Nacional, horários, mapas, controles de acesso. Só quando achei agências de turismo local de Amecameca, consegui alguma informação. Um guia de Amecameca (que contactei pelo grupo de guias locais no Facebook) me ofereceu um tour no Parque Nacional, incluindo transporte de Amecameca, trekking de umas duas horas, mais uma hora tirando fotos do Popo por ~45 $USD. Achei o preço justo e, o melhor, eu poderia escolher o horário, manhã ou tarde. Normalmente, de manhã, o céu está mais claro, mas como eu queria ver o Popo à noite, marquei com ele no meio da tarde, apesar do risco maior das nuvens cobrir o vulcão. Foi legal que o guia me forneceu todas as informações de como chegar em Amecameca de busão, horários etc., ficou mais fácil planejar meu passeio. O último ônibus de Amecameca até Cidade do México saía por volta 21h, o que me permitia fazer o passeio à tarde e ainda voltar para Cidade do México no mesmo dia. Eu acordei não muito cedo e fui de metrô ao Terminal Rodoviário do Sul. Umas dez e pouco estava embarcando no micro-ônibus para Amecameca. Mais um dia lindo e, na estrada, finalmente apareceram os tão esperados vulcões, e com um lindo céu azulzinho! Como o meu passeio para o Parque Nacional Itza Popo era às 14h, eu teria algumas horas para conhecer a cidade de Amecameca e procurar algum ponto para tirar uma foto bacana dos vulcões. O único lugar que consegui algumas fotos foi da pracinha principal do centro, mas, ainda assim, meio encoberto por fios e construções. Caminhei por várias quadras tentando encontrar algum ponto mais aberto, mas tinha casas e fios atrapalhando a vista/foto por todo lado. Como eu também não queria ficar pegando táxi ou tuk-tuk para ir até algum local aberto mais afastado do centro, desencanei. O jeito era torcer para conseguir umas boas vistas do parque nacional mesmo. Só que, conforme o esperado, à medida que ia entardecendo, algumas poucas nuvens apareciam, cobrindo justamente o topo das montanhas. Será que ia “dar ruim” e tudo estaria encoberto quando eu chegasse ao parque? Figura VI‑113: Itza e Popo, vista da estrada Figura VI‑114: Popo, visto do centro de Amecameca Apesar do parque nacional nas cercanias, a cidade de Amecameca me pareceu pouco turística, imagino que a maior parte das pessoas que vem visitar o parque faz bate e volta da Cidade do México e não fique por aqui. O mais legal em Amecameca foi conhecer o centrinho típico de uma cidade pequena mexicana, especialmente o comércio. Lá não vi praticamente nenhum turista... O mercado em si já era bem grande e lotado de barraquinhas, mas, em frente ao mercado e à igreja, eles formaram mais umas quatro grandes fileiras adicionais de barraquinhas! E tinha mais barraquinhas contornando quase toda a praça, vendendo tudo que é tranqueira que você possa imaginar, comidas (cruas ou prontas), roupas, panelas, brinquedos, livros. Impressionante a quantidade de barraquinhas. Segundo o meu guia, o último prefeito deu uma organizada, demarcou e enfileirou todas as barraquinhas da praça. Segundo ele, antes era muito mais bagunçado, difícil imaginar como isso seria possível 🤣🤣🤣 ! Salvei no canal dois vídeos (Cap VI‑41 e Cap VI‑42) de eu me perdendo no labirinto das barraquinhas. O guia me indicou um restaurante para almoçar, pareceu bem bacana, mas escolhi um bife à milanesa com batata frita que veio nadando no óleo! Depois vou falar mais a esse respeito, mas agora era hora de encontrar o guia e partir rumo ao Parque Nacional Popo e Itza! O guia era nascido em Amecameca, e conhecia muito sobre o parque e o vulcão. A atividade eruptiva do Popo começou em 1994. Com o aumento da atividade, o governo mexicano fechou o acesso à montanha preventivamente em 2000. O guia já tinha subido o Popo várias vezes antes do acesso ficar proibido. Pelo que ele explicou, existiam duas rotas para atingir o cume. Uma mais fácil, na face virada para a cidade Puebla, por onde a maioria costumava subir, mas era esse o lado que costumava ter mais fragmentos de erupções, gases, pedras e fluxos piroclásticos, e já ocorreram fatalidades de escaladores surpreendidos por um fluxo piroclástico. A via pelo outro lado é mais exposta e inclinada, mas, se tiver alguma atividade vulcânica, deve estar mais protegida... Muitos vulcões têm essa característica, geralmente os pontos com acesso mais fácil para escalar são por onde vão os gases e fluxos piroclásticos. Eu já sabia que atualmente o acesso ao Popo está todo fechado, mas não sabia até quão perto eu poderia ir. Quando chegamos na entrada do Parque Nacional Itza-Popo, no Paso de Cortés, fiquei bastante decepcionado ao saber que aquele era o ponto mais próximo ao Popo com acesso liberado. Fiquei pensando “Ué, só isso”.... Essa entrada do parque ficava a uns 5 km do albergue que antigamente servia de base para a subida do Popo (Albergue Tlamacas) e era o último local que se chegava de carro, ficava longe para caramba. E, para piorar a minha frustração, à tarde tinha aumentado a quantidade de nuvens cobrindo o topo dos vulcões. Figura VI‑115: Popo, visto da entrada do Parque Nacional Além disso, o roteiro acabou ficando meio mal combinado entre eu e o guia. Na minha cabeça, a gente ia tirar umas fotos do Popo, depois faria o trekking subindo um pouco do Itza a partir do La Joya (que fica a uns 7 km da entrada do parque). E depois voltaria para tirar fotos à noite do Popo. Depois da frustração inicial por ficar tão longe do Popo, eu pensei: “ok, agora vamos para La Joya fazer o trekking no Itza, certo?” Só que não.... Ele explicou que, aos sábados, só podia ir até La Joya com reserva, e ele não tinha feito reserva para nós. Acho que ele não fez por mal, foi uma falha na nossa comunicação em “portunhol”. Provavelmente ele não entendeu que eu queria fazer uma caminhada no Itza e achou que eu queria caminhar apenas na entrada do parque. Acabamos fazendo uma caminhada de umas duas horas nas trilhas de lá mesmo, entre 3600 e 3800 metros de altitude, que não foi bem o trekking a 4200 metros no Itza que eu havia imaginado. Figura VI‑116: Caminhada próxima à entrada do parque Mas aí o guia me disse que ele costumava ajudar os guardas do parque nacional com eventuais resgates e que tinha uma amiga policial que era chefe por lá. Ela não estava no parque naquele dia, mas ele ligou para ela e pediu permissão para me levar até o Albergue Tlamacas, antiga base para a subida do Popo, atualmente fechado e com acesso proibido. Ele contou toda uma historinha para delegada, deu uma valorizada, disse que estava com um turista brasileiro que nunca tinha visto um vulcão na vida e tinha vindo para o México só para isso (essa segunda parte era verdade 🤣), e conseguimos a autorização! De volta à entrada do parque, encontramos dois policiais gente fina que nos levaram de viatura pelos ~5km de estradinha de terra até o Albergue Tlamacas. Esse, sim, ficava bem mais perto da base do vulcão, muito bacana! Era proibido usar drone no parque nacional, mas os policiais me deixaram subir o drone. Não arrisquei muito, porque o vento estava forte e o drone avisava o tempo todo que eu não deveria passar de 4.000 metros... Fiquei com medo de perder o drone novo. Ainda assim, deu para fazer umas imagens bacanas. E, para melhorar, mais no final da tarde, aquelas nuvens que cobriam o topo dos vulcões desapareceram completamente. Foi um belíssimo final de tarde. Figura VI‑117: Popo, do Albergue Tlamacas Figura VI‑118: Agora, sim, bem mais perto Figura VI‑119: Itza, vista do Paso Cortés Salvei 3 vídeos do Popo no canal (Cap VI‑43, Cap VI‑44 e Cap VI‑45). Ficamos um tempão com a polícia lá na base do Popo e, quando deu 17h, voltamos. Nesse dia eu acabei entendendo melhor a atividade do Popo. Ele estava emitindo muitas fumarolas que me pareciam vapor d'água, brancas, parecido com as nuvens (reparem nas fotos e no vídeo Cap VI-44). E, segundo o guia, a maior parte era vapor d’água mesmo. Olhando de longe não dava para distinguir direito o que é nuvem e o que é atividade vulcânica. Quando tem erupções estrombolianas, aí, sim, a fumaça é cinza-escuro, bem diferente. Mas as erupções estrombolianas são pouco frequentes no Popo, se comparado a Fuego e Monte Yasur. Acompanhando uma página que costuma noticiar erupções (Ref. 4), depois de um longo tempo sem atividade, dia 17 de fevereiro de 2022. pela manhã (dois dias antes), o Popo teve uma erupção estromboliana e, pelo mesmo site, a próxima erupção noticiada foi 29 de março, um mês e meio depois. Ou seja, eu teria que ter muita sorte para pegar uma erupção bem nas 3h que eu estaria por lá. E mais sorte ainda para ela acontecer de noite, quando daria para ver a lava vermelha incandescente e não apenas a fumaça cinza! Nesse dia, o Popo estava bastante ativo, emitindo bastante vapor, mas nem sinal da lava que à noite ficaria vermelho incandescente. Lembrando que eu tinha escolhido ir à tarde justamente porque queria tentar ver ele à noite, tinha levado tripé, umas roupas de frio extras.... Mas depois que eu percebi que à noite não daria para ver nada de lava, resolvemos ir embora antes de escurecer porque eu ainda tinha um longo caminho até a Cidade do México. Na descida, ainda fizemos uma última parada para registrar um belo pôr do sol, que parecia que ia se pôr atrás de um vulcão, mas encontrou uma nuvem antes.... Figura VI‑120: Pôr do sol no Vale do México No final, o passeio valeu a pena, e acabou dando certo ter ido com o guia, que era bem gente fina. Não tinha lava, é verdade. Mas pegamos um final de tarde lindo, conseguimos ir até a base do vulcão, e pelo menos o Popo estava emitindo bastante fumarola. Seria frustrante, por exemplo, se eu alugasse um carro para ir até o parque e acabar vendo o Popo só lá da entrada.... No parque, também não vi trilhas mapeadas para mirantes ou vistas interessantes. E não tinha muita vista para o Popo. A principal trilha é a da La Joya, para o cume do Itza, bem longe do Popo. Acho que o parque atrai mais o pessoal que gosta de praticar caminhada ou corridas a quase 4.000 metros. Quando eu fui, o parque estava relativamente cheio, e vi muitos mexicanos caminhando e correndo pelas trilhas. Poucos países no mundo você tem parques onde pode-se fazer uma corridinha de final de semana a quase 4000 metros. Popocatépetl: #imperdível Comparação Popo, Villarrica e Cotopaxi (obs: retirei daqui, esse trecho não faz sentido nesse post/contexto, melhor ver no livro completo...) Dia 14 -> Cidade do México -> São Paulo Meu voo de retorno para o Brasil estava marcado para 17h. Teoricamente, pela manhã, daria tempo de fazer o exame obrigatório de covid e ainda fazer mais algum passeio na CDMX. Eu tinha pensado em conhecer um local onde reconstruíram a Vila do Chaves, ou o belo prédio do Museu Soumaya, ou Coyoacan ou ainda Tlatelolco. No entanto, à noite, descobri que (provavelmente) aquele almoço oleoso em Amecameca me deu um baita revertério! Vomitei, fiquei com “piriri” e passei a noite toda no trono.... Achei que iria melhorar quando acordar, mas que nada... Não conseguia comer nada: nem pão, bolacha, café ou leite. Tomei até um remédio que tinha levado para dor de barriga, mas não melhorei nada. Sem comer, sem dormir direito, fiquei zoado o dia inteiro, sobrevivendo à base de Gatorade. Não tinha forças nem para carregar uma mochila e uma malinha de mão de transporte público, inclusive tomei um tombão descendo a escada do metrô! A primeira refeição que eu consegui comer algo foi a jantinha do avião, mas veja pelo lado positivo, ainda bem que esse revertério foi só no último dia, não estragou a viagem. Dois dias depois, eu já estava pronto para a próxima e programando a viagem seguinte em busca do próximo vulcão ativo! O que eu acertei e o que eu faria diferente Acho 14 dias pouquíssimo tempo para conhecer o Panamá, a Guatemala e o México, mas ainda assim consegui ver coisa para caramba. Apesar de cansativa, foi muito legal a viagem. Conheci muitas culturas interessantes, natureza espetacular, e alguns dos vulcões mais incríveis do mundo! Claro que eu adoraria conhecer outros países da América Central, o pior foi não ter tido tempo para ir para San Blas (arquipélago no Panamá) com o stopover gratuito da Copa Airlines. Além das belezas do Mar do Caribe, queria conhecer um pouco mais da cultura dos nativos Kunas. Fica para próxima, nessa viagem tive que me contentar só com um day tour na Cidade do Panamá mesmo, e gostei de conhecer a Cidade do Panamá e, principalmente, o Casco Antiguo. Um dos meus objetivos nessa viagem era conhecer mais de perto a cultura e a “vida real” dos mexicanos. Dez anos atrás, passei uns dez dias em Playa del Carmen (próximo a Cancun), e tirando as ruínas maias, tudo naquela região é muito turístico, acabei não tendo tanto contato com a cultura mexicana. Só com a culinária, vai... Desta vez, foi muito legal conhecer mais de perto a cultura e a vida real dos mexicanos. Para mim, é o povo mais parecido com o brasileiro, muito amigável e receptivo, e que pode se orgulhar da riquíssima história de suas civilizações pré-colombianas. Muitos turistas optam por assistir a um show de Lucha Livre, aquelas lutas de mentirinha com performances artísticas que são muito populares por lá, ou fazem passeios pelos canais de Xochimilco em barquinhos coloridos (trajineras) com mariachis tocando música. Essas atrações não me atraíram tanto... Havia, no entanto, outras que eu gostaria de conhecer, como um outro caso de sincretismo religioso: Santa Muerte. O mais curioso são as imagens da Santa Muerte, geralmente representada como uma caveira vestida de santo. Aparentemente, seus praticantes não são muito bem-vistos no México (quem quiser mais informação, recomendo o vídeo no canal Mundo Sem Fim, Ref. 35). Infelizmente, também não pude conhecer a Vila do Chaves, o belo prédio do Museu Soumaya, Coyoacan e as ruínas de Tlatelolco, além de Puebla e San Miguel Allende, que ficam nas proximidades da capital. E o México ainda tem regiões mais distantes que parecem ser muito legais como Chiapas, Oaxaca, Baja California, a Cachoeira do Tamul e o deserto mexicano.... O país é imenso e ainda tem muita coisa para conhecer. Já a Guatemala, apesar de o país ser menor, algumas atrações ficam bem distantes entre si. Às vezes a distância nem é tão grande, mas é tanta curva na estrada, e é tão complicado o transporte/transfer que você perde muito tempo de deslocamento. E eu ainda tinha que voltar para a Cidade da Guatemala para pegar o voo para o México. Uma alternativa seria seguir de Tikal para Belize, e depois ir até Cancun, mas voltei para a Cidade da Guatemala por “falta de dias” e porque não era época de mergulho com tubarão-baleia. Se fosse a época, eu daria um jeito de encaixar os tubarões-baleia no meu roteiro.... Uma dica importante para quem for para Guatemala: prefira a época de seca entre novembro e abril. Do meu plano inicial da Guatemala, ficou faltando conhecer o Vulcão Santiaguito. Fiquei com vontade de fazer o tour Santiaguito Crater Overnight, dizem que você acampada a 400 metros da cratera. No entanto, não sei o quão seguro seria esse lugar, e se algum dia eu fizer esse tour, vou pesquisar melhor as condições de segurança. A agência me disse que esse é considerado o trekking mais difícil da Guatemala, 8h para ir, umas 6h para voltar, varando mato, sem nenhuma estrutura – precisa levar barraca, comida etc. Enfim, nada turístico, bem raiz! Em Xela (Quetzaltenango) e no Lago Atitlan, também tem muitos trekkings bacanas. Não consegui conhecer o famoso mercado de Chichicastenango, a Laguna Brava próxima a Huehuetenang ou a própria a Cidade da Guatemala. No final, para encaixar tudo que eu queria fazer na Guatemala em 8 dias foi dureza! O meu roteiro maluco ficou muito cansativo, mas foi uma viagem e tanto. A Guatemala é um país com uma natureza única, com vulcões ativos e montanhas com mais de 4000 metros, um rio lindo como Semuc Champey, Lago Atitlan, e atrações culturais sensacionais como Tikal, Antígua e Maximon. A Guatemala tem algo difícil de achar em países turísticos: a vida normal parece que não foi tão afetada pelo turismo. E houve uma mescla muito interessante dos descendentes dos colonizadores espanhóis/europeus com o povo indígena e maia. É um povo que mantém até hoje suas tradições e costumes, e alegram as cidades com seus lindos trajes típicos coloridos e os sorrisos das pessoas. Em vários lugares da Guatemala, o pessoal fala espanhol e, também, a língua maia. E, se a logística não é assim uma Brastemp, qualquer dificuldade é mais do que compensada por um povo extremamente simpático e sempre disposto a ajudar. Que povos bacanas, obrigado, Guatemala e México! Ranking das atrações Segue meu ranking das principais atrações dessa viagem: 1 – Vulcão Fuego 2 – Semuc Champey 3 – Tikal 4 – Cidade do México (conjunto da obra: Zócalo, catedral, Museu Antropologia, Palácio Bellas Artes, basílica) 5 – Popo 6 – Teotihuacán 7 – Antígua 8 – Vulcão Pacaya (peguei pouca atividade e tempo encoberto) 9 – Lago Atitlan (Cliff jumping, Panajachel e vistas) 10 – Maximon (muito legal a história, o atrativo turístico em si nem tanto) 11 – Cidade do Panamá Obs.: o Vulcão Santiaguito, infelizmente, não consegui conhecer, mas tinha potencial para estar na lista.... --------------------------------------- Pessoal, postei quase inteiro o capitulo VI do livro/ebook (só reduzi algumas fotos pra adaptar ao forum). Os capitulos de cada continente ficaram parecidos com esse. Deveria ter colocado criado esse tópico no subtópico "America Central, Caribe e México", já q terminei no mesmo post com Guatemala e México. Acabei criando o tópico no subforum só da Guatemala, agora não sei como mover pra lá, vamos ver se quem quiser consegue achar..... De qualquer forma, o relato completo das viagens pelos outros continentes está no livro Destino Vulcões no amazon.com.br! Sinopse do livro: Nesta obra, compartilho minhas aventuras em busca dos vulcões mais espetaculares do planeta. É um relato pessoal de mais de 90 dias de viagens, ao longo de 10 anos, explorando 15 países em 6 continentes, ilustrado com fotos e vídeos do próprio autor. Expressões absolutas da força da natureza, os vulcões fascinam na mesma medida em que amedrontam. Quem já assistiu a uma erupção com lava pode confirmar que os vulcões oferecem uma das cenas mais impressionantes da natureza. E não é preciso ser um aventureiro radical para explorar esses destinos — basta estar disposto a viver experiências inesquecíveis. Além de paisagens vulcânicas impressionantes, descobri culturas vibrantes e outras belezas naturais que tornaram essa jornada ainda mais enriquecedora. Convido você a me acompanhar nessa aventura, repleta de histórias fascinantes e paisagens deslumbrantes ao redor do mundo. Capa:
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Fala pessoal, Vou deixar aqui o link para um relato de uma viagem que eu fiz para Guatemala e México, com um stopover no Panamá, que aconteceu em fevereiro de 2022. Obs: eu deveria ter colocado criado esse tópico no subtópico "America Central, Caribe e México", mas acabei criando o tópico no subforum só da Guatemala, por isso segue o link para o relato. ⚠️ Essa viagem é um capítulo de um livro / ebook que eu escrevi. Os capítulos de cada continente ficaram parecidos com esse, quem quiser mais detalhes dessa viagem e muitas outras, pode conferir no meu ebook Destino Vulcões, no amazon.com.br (link https://a.co/d/5x3B7BM). O livro está gratuito para o kindle unlimited, e no menor preço possível no site (5,99R$). Instagram: www.instagram.com/destinovulcoes Youtube: www.youtube.com/@destinovulcoes
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Fala pessoal, Vou deixar aqui um relato de uma viagem que eu fiz para Vanuatu, Nova Zelândia e Austrália que aconteceu em 2013. ⚠️ Essa viagem é parte de um livro / ebook que eu escrevi. Quem quiser mais detalhes dessa viagem e muitas outras, pode conferir no meu ebook Destino Vulcões, no amazon.com.br (link: https://a.co/d/agKaeNM). O livro está gratuito para o amazon unlimited, e no menor preço possível no site (5,99R$). Resolvi postar o Capítulo III do livro, focando em Vanuatu, um destino mais incomum. Só pulei a parte da Austrália para o post não ficar longo demais e ninguém conseguir ler até o final.... E também porque o relato completo da Austrália está inteiramente grátis na amostra do e-book na Amazon. A amostra grátis cobre os primeiros 10% do livro (até Vanuatu), incluindo o início os capítulos introdutórios, onde conto como começou meu fascínio por vulcões ativos, falo um pouco sobre os diversos tipos de vulcões e de erupção, e explico as razões pelas quais escolhi os vulcões que visitei. Instagram: www.instagram.com/destinovulcoes Youtube: www.youtube.com/@destinovulcoes Vanuatu, Nova Zelândia, Austrália, e os melhores vulcões da Oceania Introdução – Como tudo começou Em 2012, eu e minha esposa estávamos planejando ter filhos e queríamos fazer uma longa viagem antes desse grande passo. Depois de anos trabalhando, finalmente conseguimos tirar 30 dias de férias consecutivas em março de 2013. Sempre tivemos vontade de conhecer a Austrália. Além disso, tem uma grande amiga da minha esposa que estava morando em Sydney e que tinha acabado de ter uma filha. Era o momento perfeito para conhecer a Austrália, e lá fomos nós! Já que iríamos gastar milhões de horas e $ nos voos São Paulo - Sydney, a ideia era aproveitar essa viagem para conhecer algum outro país praqueles lados do mundo. Nosso primeiro pensamento foi: já que estávamos na Austrália, por que não conhecer o Sudeste Asiático? A ideia inicial era ir para Austrália e depois para Tailândia, ali do lado.... Mas, quando fui pesquisar..., descobri que os voos de Sidney até Bangcoc duravam mais de 9h! Depois de atravessar o mundo até a Austrália, ainda teria que encarar mais 9h de voo. Nem pensar... Então eu fui pesquisar outro destino famoso por ali: Bali. Mas, adivinha? Mais de 6h de voo. Caramba, no War parecia tudo tão pertinho 🤣🤣🤣 . Sydney está no sudeste da Austrália, um país gigantesco, e fica bem longe de todo o Sudeste Asiático. Depois de pesquisar países bacanas com voos não tão longos de Sidney, escolhemos o segundo destino da nossa viagem: Nova Zelândia! O próximo passo foi pesquisar bastante sobre Austrália e Nova Zelândia. A Austrália é um país caro, eu não queria gastar todos os meus dias e $ para conhecer todas as atrações australianas. Preferi escolher o que, na minha visão, seria mais imperdível, focando em Sydney e nas praias de Queensland. Da mesma forma, pesquisei os pontos de interesse na Nova Zelândia, focando nas belezas naturais e aventuras. Uma vez definido nosso roteiro para Austrália e Nova Zelândia, ainda sobraram uns 4 dias e queríamos aproveitá-los para conhecer alguma ilha paradisíaca do Pacífico. As primeiras ilhas que vêm à cabeça são Taiti, Bora Bora, na Polinésia Francesa. E adivinha o tempo de voo de Sydney para o Taiti? Mais de 10 horas! E lá fui eu (de novo...) estudar o mapa. As ilhas mais próximas a Sydney seriam Fiji, Nova Caledônia e Vanuatu. A única que eu já tinha ouvido falar bastante era Fiji, as outras, eu nem desconfiava que existia... Descobri que, assim como Fiji, Nova Caledônia e Vanuatu pareciam ter praias belíssimas. Então qual delas escolher? Tenho um livro de viagens (Ref. 12) que falava sobre Vanuatu, destacando não só as belíssimas praias, mas também o Monte Yasur, um vulcão ativo com erupções constantes! Na época, era muito difícil achar informação sobre Vanuatu e Nova Caledônia, mas, quando li no TripAdvisor os relatos de turistas que foram ao Monte Yasur, eu tive certeza de que era lá que eu queria ir! Além disso, nesse meu livro falava que, em Vanuatu, de abril a junho, tinha um ritual de uma tribo, cujos índios subiam de uma torre de uns 20 a 30 metros de altura e se jogavam lá de cima amarrados apenas em um cipó de uns 20 a 30 metros. Que ideia esquisita, maluquice, sem noção.... Ou seja, do jeito que eu gosto! Não tive dúvidas, Vanuatu estava escolhida. Detalhe: minha esposa havia parado de tomar anticoncepcional em janeiro. Com tudo planejado para a viagem (férias marcadas, passagens compradas, hotéis reservados), em fevereiro, para nossa surpresa, descobrimos que ela estava grávida. Achávamos que demoraria um pouco... Passado o susto inicial, embarcamos em março, com ela grávida de mais ou menos 8 semanas. Resumo do Roteiro Figura III‑1: Roteiro na Austrália, Vanuatu e Nova Zelândia O roteiro escolhido foi: Dia 1 e 2 ->São Paulo –> Sydney Dia 3 -> Sydney Dia 4 -> Sydney Dia 5 -> Townsville Dia 6 -> Townsville -> Airlie Beach Dia 7 -> Whitehaven Beach Dia 8 -> Grande Barreira de Corais Dia 9 -> Australia Zoo Dia 10 -> Rainbow Beach Dia 11 -> Fraser Island Dia 12 -> Noosa Beach Dia 13 -> Gold Coast Dia 14 -> Byron Bay Dia 15 -> Brisbane ->Port Vila Dia 16 -> Mt Yasur Dia 17 -> Efate Dia 18 -> Pentecost Island Dia 19 -> Port Vila -> Auckland Dia 20 -> Auckland Dia 21 -> Waitomo Dia 22 -> White Island e Rotorua Dia 23 -> Waimangu e Wai-o-tapu Dia 24 -> Taupo Dia 25 -> Taupo -> Picton Dia 26 -> Picton -> Fox glacier Dia 27 -> Fox glacier Dia 28 -> Queenstown Dia 29 -> Milford Sounds Dia 30 -> Queenstown Dia 31 -> Queenstown -> Sidney Dia 32 -> Sydney -> SP Relato dia a dia Obs: como eu falei anteriormente, focando em Vanuatu, pulei o relato da parte da Austrália, que está inteiramente grátis na amostra do livro/ ebook do amazon.com.br. Dias 1 e 2 -> São Paulo –> Sydney Dia 3 -> Sydney Dia 4 -> Sydney Dia 5 -> Townsville Dia 6 -> Townsville -> Airlie Beach Dia 7 -> Whitehaven Beach Dia 8 -> Grande Barreira de Corais Dia 9 -> Australia Zoo Dia 10 -> Rainbow Beach Dia 11 -> Fraser Island Dia 12 -> Noosa Beach Dia 13 -> Gold Coast Dia 14 -> Byron Bay Dia 15 -> Brisbane -> PortVila Depois de 14 dias conhecendo a Austrália, era dia de conhecer um novo país. Pela manhã, pegamos um voo de Brisbane para Port Vila, a capital e maior cidade de Vanuatu. Os vanuatenses são majoritariamente de origem melanésia, apesar das ilhas sofrerem influências da polinésia francesa, britânica e chinesa. Pesquisando, descobri que Vanuatu foi uma colônia compartilhada por franceses e britânicos, eu nunca tinha ouvido falar de outro país nessa situação. Nos redutos britânicos, fala-se mais inglês, assim como, nos locais de influência maior francesa, fala-se francês. Fora isso, há dezenas de dialetos locais. Para que toda essa gente se entenda, o idioma comum é o bislama, que é uma hilariante versão rústica do inglês misturada com francês e línguas locais. Em muitos casos, o bislama nada mais é que o inglês escrito como se fala. Tipo: good afternoon = gud aftenun. Thank you very much = Tangkyu tumas. Vanuatu é um arquipélago com 83 ilhas, possui pontos de mergulho incríveis, selvas, cavernas e aldeias cujo modo de vida ainda preserva sua antiga cultura. E, claro, vulcões! No entanto, muitas atrações são em ilhas diferentes, dificultando a logística. Além disso, os voos entre as ilhas não são baratos, e a Air Vanuatu não me pareceu, digamos, uma “referência em excelência aeronáutica”... Port Vila, a principal cidade de Vanuatu, onde chegam os voos internacionais, fica na ilha Efate, que tem a melhor estrutura hoteleira. O interior da ilha é coberto por floresta tropical, com alguns rios e cachoeiras. A ilha onde está o Vulcão Monte Yasur chama-se Tanna, enquanto a ilha Pentecost é conhecida pela cerimônia indígena de Land Diving - mergulho no solo - da tribo N’gol. A maior ilha, chamada Santo, talvez tenha as praias mais bonitas do arquipélago. Em comum, todas as ilhas parecem ter belas praias, aldeias onde é possível conhecer melhor a cultura dos nativos melanésios, recifes repletos de peixes ideais para mergulhos e muitas lagoas azuis, especialmente em Efate e Santo. Por falta de tempo, escolhi conhecer apenas as ilhas de Efate, Tanna e Pentecost. Acabei não visitando a Ilha Ambrym, que abriga outros dois vulcões ativos, às vezes com lago de lava, porque na época não sabia desses vulcões. Chegamos ao aeroporto de Port Vila por volta das 14h. Embora Vanuatu não exigisse visto, a fila da imigração demorou para caramba e passamos um calor infernal no saguão do aeroporto (que era bem menor do que imaginávamos, considerando que é o principal do país). De lá, pegamos um táxi oficial até o centro da cidade, e era um carro “véio pacas”. O aeroporto e o trajeto até o centro geralmente são a primeira impressão que o turista tem de um país, como um verdadeiro cartão de visitas. Geralmente, essas vias de acesso são bem cuidadas, com pistas largas e duas faixas, mesmo nos países mais pobres.... Mas, em Vanuatu, você já sai do aeroporto em uma área urbana com casas em condições bem precárias e, da porta do aeroporto até o centro da cidade, o táxi só pegou ruazinhas de mão dupla, esburacadas e muito malconservadas. A nossa primeira impressão ao chegar em Vanuatu foi um pouco “estranha”, para dizer o mínimo... Com o atraso no aeroporto, chegamos no centro no anoitecer, só deu tempo de fechar com a agência de turismo da Air Vanuatu o tour para a cerimônia N’gol em Pentecost Island. O mais difícil foi convencer minha esposa a ir nesse tour, que ela achava uma péssima ideia... No início da noite, demos uma voltinha rápida pelo centro da cidade e logo voltamos para o hostel para arrumar as malas. No dia seguinte, iríamos até a ilha de Tanna, onde fica o vulcão ativo Monte Yasur! Dia 16 -> Monte Yasur Era dia de conhecer o tão aguardado Monte Yasur. Na língua dos nativos, Yasur significa alguém “maior que os humanos”, como um “deus”. O vulcão tem um significado cultural e espiritual para as comunidades locais, acredita-se que seja a morada dos espíritos ancestrais e é considerado sagrado. Alguns afirmam que o Monte Yasur é o vulcão mais ativo do mundo em termos de frequência de erupções. Embora não se saiba ao certo há tempo ele está em erupção, sabe-se que pelo menos desde que foi visto pela primeira vez por europeus em 1774, pelo Capitão Cook (famoso navegador britânico que explorou as ilhas do Pacífico e Oceania no final dos anos 1700). Nosso voo para a ilha de Tanna partiria logo pela manhã (7h). O terminal regional do aeroporto a “casinha” que servia para embarque e desembarque de voos regionais ficava ao lado do terminal internacional. Se o terminal internacional já era bastante modesto, imagina o regional... Quando estávamos esperando para o embarque, vimos um ratinho passando na esteira das malas no canto onde jogavam as malas dos passageiros antes de levar para o avião... Depois de um tempinho, nos chamaram para embarcar, e olha o “naipe” dos aviões que pegamos circulando pelas ilhas: Figura III‑37: Avião para Tanna Figura III‑38: Avião para Pentecost Figura III‑39: Interior da Kombi aeronave Quando o cara fechava a porta do avião, ficava uns gaps tão grandes entre a porta e fuselagem que dava para botar uma mão inteira para fora do avião 🤣🤣🤣 . Fiquei pensando o que seria mais arriscado/emocionante, visitar um vulcão ativo ou voar naqueles aviões regionais da Air Vanuatu! Enfim, lá fomos nós.... Mas depois que embarcamos, o piloto ficou um tempão para dar partida no motor. Parecia que o motor não ligava, ou não acelerava depois de ligado.... Não lembro ao certo, mas o avião não saia do lugar. O cara tentava dar partida, e nada! E ficamos lá por algum tempo. Detalhe: ou o teco-teco avião não tinha ar-condicionado, ou a ventilação não era suficiente para os passageiros que lotavam aquele aviãozinho.... Estávamos derretendo lá dentro! Até que o piloto, depois de uns 30 minutos tentando dar a partida, desiste e pede para nós desembarcarmos. Fomos aguardar no aeroporto enquanto os mecânicos da Air Vanuatu iriam resolver o problema. O avião já era uma carroça, “pau-véio” do cão, e ainda estava com algum defeito... Que medo! Imagina a minha confiança na Air Vanuatu, salve-se quem puder... E não é que, depois da manutenção, o avião realmente ligou! No final das contas, chegamos sãos e salvos em Tanna, ufa... Apesar do atraso no voo, ainda chegamos pela manhã em Tanna. Os passeios para o vulcão saiam no final da tarde, às 15h30, e retornavam por volta das 20h30. O objetivo é chegar no vulcão mais ou menos no entardecer, e pegar o anoitecer no vulcão, já que é durante a noite que o vulcão fica ainda mais impressionante. Como (1) iríamos passar o dia inteiro na ilha sem muita coisa para fazer, (2) era o lugar mais remoto da viagem e (3) também porque era só uma diária, o “mão de vaca” aqui resolveu tirar o escorpião do bolso e reservei um dos hotéis mais caros da ilha. A praia em frente ao hotel tinha pouca areia, mas era protegida, sem ondas, com alguns corais e com uma água clara bacana para mergulho. E a uns poucos metros, tinha outra praia com areia, também protegida e boa parte um snorkel. Aproveitamos o dia no hotel antes do passeio do vulcão. Figura III‑40: Corais em frente ao hotel Os passeios até o vulcão são oferecidos pelos próprios hotéis ou por agências locais que te buscam e deixam nos hotéis. E lá pelas 15h30, estávamos embarcando rumo ao Monte Yasur. Os carros eram 4x4 e o trajeto dura cerca de uma hora. Começa na região dos hotéis, passa pelo aeroporto e vila principal, uma parte da ilha bastante arborizada, vegetação de mata, e depois segue em direção ao vulcão, subindo e descendo alguns morros em estrada de terra. O nosso guia tinha falado que a estrada era horrível, toda esburacada, mas eu não estava achando tão ruim. Para chegar num sitiozinho da família em Cunha, interior de SP, a estrada de chão era mil vezes pior... Após algum tempo, a paisagem muda. As árvores desaparecem, e o cenário agora é só cinzas. Não demora e, finalmente, chegamos ao local onde avistamos o Monte Yasur pela primeira vez! Apesar de não ser tão grande, são 361 metros de altitude e a borda da cratera no topo tem 400 metros de diâmetro, a primeira visão já é bem impactante. Figura III‑41: Primeira vista do Monte Yasur O acesso ao topo do vulcão, na verdade, está na face do outro lado dessa foto. Seguimos viagem agora nesse terreno/cenário cinzento e inóspito. A estrada seguia tranquila, mas quando chegamos realmente próximos à área do vulcão, virou um off-road de verdade! O cara sofreu para atravessar alguns pontos com o carro. Mas foi só um pequeno trecho no final e, depois de vencidos os últimos quilômetros, o carro chega muito perto do acesso ao topo do vulcão. Veja nessa foto que eu tirei quase no final da subida a distância para os carros. Eu diria que gente sobe uns 500m caminhando e já estamos no topo do vulcão! A “proteção” da subida era toda essa que vocês viram: uma trilhazinha marcada com pedras e algumas estacas de madeira! Figura III‑42: Subida até a borda da cratera O Monte Yasur é um vulcão estromboliano (ver capítulo II do livro), conhecidos por suas erupções pouco violentas, mas contínuas. É muito mais impressionante do que um “simples” vulcão ativo que apenas expele gases e fumaça. Vulcões estrombolianos se caracterizam por expelir frequentemente pequenos fragmentos de rocha quente, além dos gases, cinzas, fumaça e vapores. Depois descobri que o nome técnico destes fragmentos de rocha quente é “bomba vulcânica”. São rochas expelidas ainda em estado líquido, geralmente redondas ou ovais, que se solidificam ao entrar em contato com a terra. Dependendo da erupção, pode ser bem bonito. Tudo isso na teoria, queria ver como seria na prática. Quando chegamos no topo do vulcão e pudemos ver o que estava acontecendo lá dentro.... De repente, vinha um barulhão, e..... Buuuuuuum!!!! Uma baita explosão, foi uma emoção fenomenal, simplesmente indescritível!!! Figura III‑43: Monte Yasur (ainda de dia) Que loucura aventura testemunhar, tão de perto, um vulcão jorrando lava pelos ares! Difícil até explicar com palavras a sensação de estar lá. Acho que todos os turistas estavam extasiados por estarem tão perto de um vulcão como esse! Eu chutaria que estávamos a uns 50 metros dessa borda, onde tem a descida até o núcleo do vulcão... Sei lá a distância exata, parecia muito perto. Essa foto acima é sem zoom algum. Olha essa foto a seguir que eu tirei com essas pessoas na frente, dá para perceber como a gente ficava muito perto da borda dessa cratera principal do vulcão. Figura III‑44: Turistas fascinados pelo Monte Yasur A “proteção” lá em cima? Adivinha?... Só essa meia dúzia de pedrinhas (bombas vulcânicas de todos os tamanhos) indicava o quão perto poderíamos chegar dessa borda. Figura III‑45: Pedrinhas indicando distância “segura” da borda Imagino que eles demarcam de acordo com a atividade do vulcão, para ficar fora do alcance das bombas vulcânicas e prevenir escorregões. No entanto, acho difícil afirmar que seja 100% seguro ficar àquela distância da cratera.... De onde estávamos, não conseguíamos ver o núcleo principal, mas já vi fotos de alguns viajantes que conseguiram visualizá-lo; ele deve estar uns 250 metros abaixo do ponto onde ficamos. Acho que, em dias com atividade vulcânica mais fraca, é possível circular ao redor da cratera e observar o vulcão de outros pontos, chegar mais perto, mas, nesse dia, ele estava bem ativo e não deixaram.... Mesmo se pudesse, ninguém teria coragem de se aproximar! Eu diria que tivemos sorte, o vulcão não estava encoberto por nuvens e estava com muita atividade, espetacular! Ainda sobre os protocolos de segurança do tour: equipamentos de proteção, capacetes, máscaras? Nem pensar. Passamos algumas horas respirando enxofre (o cheiro não era muito forte). Não tinha iluminação alguma, eu só tinha levado uma microlanterninha, e nosso guia emprestou uma lanterna para minha esposa, que estava grávida. Além disso, repararam nas fotos que algumas pessoas estão usando guarda-chuvas? Isso porque “chovia” cinzas vulcânicas o tempo todo, já que, além das bombas vulcânicas, o Monte Yasur estava sempre expelindo cinzas e fumaça. EM TEMPO, atualização de 2023: em 2020, teve um maluco brasileiro que fez slackline nesse vulcão (@rafabridi, Ref. 7)! O vídeo saiu no Fantástico, eu também vi na internet, sensacional! Parece que atualmente os turistas têm que usar equipamentos de proteção completo, máscara, óculos etc. Parece que fizeram até uns corrimãozinhos até a borda do vulcão. As erupções no Monte Yasur ocorriam em intervalos de minutos, muito irregulares, às vezes passava um ou dois minutos e já vinha outra explosão, às vezes esperávamos 15 minutos para a próxima erupção. Era possível perceber ainda que havia, pelo menos, três núcleos de onde partiam as explosões: dois um pouco menores, e outro que parecia o principal. Uma pena que eu ainda não tinha um drone para captar imagens aéreas. O tour chega no vulcão no final da tarde. Passamos horas observando o vulcão, até anoitecer. E é à noite que a magia acontece! A lava incandescente, que já era bacana de dia, vai ficando cada vez mais vistosa! Assustadoramente vistosa!! Quando o céu ficou completamente escuro, cada erupção se transformou em um grandioso espetáculo de som e luz!!! Toda aquela lava explodindo com violência, deixando o céu laranja por instantes, e nós lá, pequeninhos... A sensação de estar diante dessa força da natureza, observando seu fogo e sua fúria de perto, transcende as palavras!!!! É difícil contar para vocês a sensação que senti. Memorável, extraordinário!! Figura III‑46: É a noite que a magia acontece Figura III‑47: Noite mágica No canal do livro (youtube.com/@destinovulcoes, link para o QR Code), compartilhei cinco vídeos da erupções (Cap III‑2, Cap III‑3, Cap III‑4, Cap III‑5, Cap III‑6), de tarde até anoitecer, impressionante. Aumentem o volume! Eu passei horas tentando descobrir o melhor ajuste para tirar uma boa foto. Levei um tripé bem meia-boca, e fiquei testando tempo de exposição, abertura e ISO, testes com foco manual, uso do timer para não tremer, testes com e sem flash. Além da minha falta de proficiência como fotógrafo, ainda tinha que enfrentar chuvas de cinzas na câmera/lente... O mais difícil era acertar uma foto conosco aparecendo em primeiro plano e o vulcão em erupção no fundo. A imprevisibilidade das erupções tornava tudo mais difícil. Às vezes o barulho da explosão vinha depois da lava, às vezes vinha antes, o que ajudava. Era necessário ajustar o timer, correr para a posição e depois ficar imóvel para evitar fotos tremidas. Além disso, ainda tinha que dar um pouco de sorte, já que as explosões normalmente são rápidas e, muitas vezes, a lava/rocha quente já tinha sumido antes de acabar o timer. Mas foi muito divertido para quem gosta de fotografia. Não foi fácil, mas, no final, conseguimos algumas fotos boas! Figura III‑48: Monte Yasur (foto com exposição curta) Figura III‑49: Centésima tentativa de foto com erupção ao fundo Figura III‑50: Milésima tentativa de foto (essa deu bom!) Outro dia, eu estava assistindo a um programa do Canal Off, chamado Além dos Limites com o Fernando Fernandes visitando o Vulcão Kilauea no Havaí (Ref. 8). Foi a primeira vez que eu ouvi falar da deusa Pele, a deusa do fogo na mitologia havaiana. Também conhecida pelo mau temperamento, ela vive no Vulcão Kilauea. Uma das lendas dizia que deusa Pele encantava os nativos, chamando-os para dançar e os atraindo para o vulcão. “Ni qui” (como diria um amigo mineiro contador de histórias...) o nativo ia se aproximando, encantado pela sua beleza... Já era, ele ia parar nas profundezas do Vulcão Kilauea! Antes da viagem, a ideia de visitar um vulcão ativo me despertava muita curiosidade, e um pouco de medo do desconhecido. Chegando lá, a primeira sensação foi “uau”, impactante! Mas também um sentimento de respeito e medo.... Frases mais “clichês” de sentir a força da natureza se encaixam muito bem nesse caso! Mas, depois de um tempo, a gente começava a sentir uma estranha sensação de fascínio. Especialmente à noite! Eu ficava vendo aquelas explosões, mas, em vez de ficar com medo, ia ficando cada vez mais deslumbrado pelo vulcão. O espetáculo é tão bonito que a gente perde a noção do perigo! Me lembrou muito a história da deusa Pele encantando os nativos havaianos... Foi um dia inesquecível! Mas mal sabíamos que a parte mais emocionante tinha ficado para o final... Depois de horas observando as explosões à noite, você fica meio hipnotizado. E, estranhamente, seu cérebro parece se acostumar, quase como se estivesse assistindo fogos de artifício da virada do ano... Até que, de repente, veio uma MASTER – HIPER – BLASTER explosão!!! Foi muito maior do que qualquer outra que havíamos visto, com muito mais lava, rochas quentes e um barulhão bem mais forte! Por sorte, eu estava com a câmera posicionada nesse momento exato: Figura III‑51: Master hiper blaster explosão Ok, só por essa foto nem dá para perceber que essa explosão foi muito maior que as outras.... Precisava de uma foto de um ângulo mais aberto. Mas acreditem em mim, foi uma explosão muuuuuuuito maior! Mas..., a minha alegria pela bela foto durou pouco..., muito pouco! Segundos, na verdade.... A explosão foi tão mais potente que as bombas vulcânicas expelidas estavam muito maiores e voaram muito mais altas que de costume. “Ni qui” eu olho para cima, percebo que uma enorme bomba fervente estava vindo bem na minha direção! Me lembro de olhar para cima e ver aquele pedação de rocha quente de, sei lá, uns 50 cm de diâmetro, subindo bastante e depois descendo bem na minha direção. Pqp, era como um meteoro vindo na minha direção!!! Não era uma rocha redonda perfeita, ela vinha meio líquida, ovalizando enquanto rotacionava, sei lá, parecia uma mega geleia vermelha. Naquele momento, eu não conseguia parar de olhar para cima, observando a trajetória da mega bomba. Dei alguns passos para trás, mas parecia que a danada da bomba ainda estava indo bem na minha direção. Tentei dar uns passos para o lado, para o outro lado, para trás de novo, e a maldita bomba continuava vindo bem na minha direção!!! Parecia aquelas cenas dos clássicos desenhos do Pica-Pau, não importava o lado que eu ia, a bomba sempre “desviava” para minha direção. Tudo isso muito rápido, sei lá, durante uns 20-30 segundos eu tinha certeza de que tinha aquela mega bomba ovalada fervente estava vindo na minha cabeça! Imagina o pavor, não passava nem agulha.... Até que, em algum momento, pareceu que ela não estava vindo tão na minha direção assim e, alguns segundos depois, finalmente ela caiu a uns 30-40 metros de onde eu estava, no local com acesso permitido aos turistas! Me lembro ainda que, logo após a explosão, eu olhei para o lado, e percebi que minha esposa (grávida!) tinha sumido. Só depois do susto, fui encontrá-la. Ela me contou que, no momento da explosão, sua primeira reação foi olhar para o guia. “Ni qui” ela olhou para o guia, viu que ele, mesmo sem enxergar nada naquela escuridão total, saiu correndo para longe! Imagina o desespero dela ao ver o guia, nativo, que está lá todo santo dia vendo o vulcão, sair correndo a milhão depois da explosão. Ela não teve dúvidas, saiu correndo também! Deu umas “trupicadas” naquele terreno cheio de pedras vulcânicas, mas não caiu, ainda bem que ela tinha aquela lanterna emprestada pelos guias. Foi muito tenso, todo mundo se borrou naquela explosão! Tivemos mais sorte que juízo... Depois, um dos turistas foi até a mega bomba acender um cigarro. Hoje até me arrependo de não ter tirado uma foto daquele “meteoro”. Naquele momento, nosso grupo não pensou duas vezes: reunimos nosso guia, respiramos aliviados e voltamos para o hotel. Segundo o guia, a escala de atividade vulcânica naquele dia estava entre os níveis 2 e 3, com algumas explosões nível 2 e outras nível 3. O site de Vanuatu que monitora a atividade vulcânica (Ref. 9) usa uma escala de 0 a 5. Não duvido nada que essa última tenha sido um nível 3+, ou até 4. Quando está acima de nível 3, não é permitido ficar na área que estávamos. Essa foi uma experiência que vamos lembrar pelo resto da vida! Desde então, eu fiquei fascinado por vulcões ativos. Recentemente, assisti um vídeo do grande velejador brasileiro-ucraniano Aleixo Belov (Ref. 46). No contexto de uma travessia de veleiro pela passagem noroeste no Ártico canadense, ele disse: “Eu tenho sempre muito medo, tem gente que é corajoso. Eu sou covarde, sempre tenho muito medo. Mas o medo me atrai! Quanto mais medo eu tenho, mais eu meto a cara nas coisas, e vim parar nesse sufoco aqui, vamos ver se termina bem!”. Me identifiquei... No meu caso com os vulcões, parece que o medo me atrai também. Será que a deusa Pele me enfeitiçou? Desde então, tenho “metido a cara” em busca dos vulcões com lava. Comecei a pesquisar mais e planejar viagens para conhecer vulcões ativos mundo afora, o que mais tarde resultou neste livro. Ainda assim, eu não sei se eu recomendo esse passeio. Chegar tão perto na borda da cratera de um vulcão ativo, especialmente de um vulcão estromboliano, é arriscado. É muito perigoso, eu mesmo passei por um belo susto.... Provavelmente, não existe passeio que chegue tão perto de um vulcão ativo e tenha um nível 100% de segurança, sem risco. Se vale o risco? Fica para cada viajante avaliar.... Se você decidir ir, quero deixar aqui algumas dicas de segurança importante para visitar vulcões estrombolianos: inicialmente, observe de longe e só se aproxime mais quando tiver certeza de que está a uma distância segura das bombas vulcânicas. A experiência de nativos pode ser muito valiosa, mas toda cautela é pouco, às vezes eles também são surpreendidos... Além da lanterna, um capacete seria útil, embora só proteja de bombas menores e com certeza não me protegeria daquela master bomba! No caso de uma explosão repentina mais violenta, a reação natural é correr, como fez minha esposa, mas não é a melhor atitude. Descobri depois que, involuntariamente, eu segui a recomendação dos especialistas: olhar para cima, observar a direção das bombas e procurar se esquivar. Como eu tentei fazer, por mais assustador que tenha sido a sensação. É preciso ter calma para seguir esta estratégia, que pode ser um verdadeiro salva-vidas. Contudo, há situações onde correr pode ser, sim, a melhor solução. Por exemplo, se a erupção lança um número tão grande de bombas que é impraticável esquivar-se. Nesse caso, a melhor solução é correr em busca de abrigo, seja atrás de um grande bloco, um carro, cobrindo a cabeça com mochila ou o que tiver ao alcance. Preferencialmente, planeje uma rota de fuga com antecedência. Monte Yasur: #imperdível Dia 17 -> Efate Logo cedo, pegamos nosso voo das 8h30 de volta a Port Vila. Reservamos o dia para conhecer as principais atrações da ilha Efate, onde fica a capital Port Vila. São 120 km para dar a volta completa na ilha, por uma estrada asfaltada que não estava tão ruim assim, um trajeto de cerca de 2h. Pesquisei as principais atrações da ilha, e escolhemos focar nas “praias azul caribe”. As que pareciam mais bonitas eram a Eton Beach e Crystal Blue Lagoon Beach. Também tentaríamos conhecer a lagoa Blue Lagoon (não confundir com a praia Crystal Blue Lagoon Beach). Esses três pontos ficam a sudoeste de Port Vila, uns 30-45 minutos de carro. E depois iríamos contornar a ilha completa, fazendo algumas paradas para fotos. Embora existam agências que oferecem tours ao redor da ilha, preferimos alugar um carro. Em Efate, a maioria das praias é paga, com entradas que custavam entre 2-5 $AUS por pessoa. O clima estava um pouco instável, com muitas nuvens. Apesar disso, pela manhã, pegamos um clima excelente na praia. Nossa primeira parada foi na praia Crystal Blue Lagoon Beach, aonde fizemos um excelente snorkel. Ainda tinha um restaurante, alguma estrutura de praia (cadeiras, barraca etc.) e um local que os proprietários criavam algumas tartarugas. Vi alguns reviews negativos no TripAdvisor, porque tem gente que vai lá esperando um “santuário” de tartarugas e acaba se decepcionando... A parte do tanquezinho com dúzia de tartarugas não tem nada demais, mas a gente só estava em busca de uma praia bonita e encontramos um mar “azul caribe”, que ainda tinha alguma estrutura de guarda-sol, cadeira, restaurante, mas tudo bem natural. Enfim, nós adoramos a praia Crystal Blue Lagoon! Figura III‑52: Crystal Blue Lagoon beach Figura III‑53: Crystal Blue Lagoon beach Depois do almoço, o tempo ficou um pouco mais nublado, com uma garoa fina. Seguimos viagem, mas não conseguimos encontrar a Blue Lagoon. Passamos pelo local onde deveria estar, mas não vimos nada, nenhuma entrada ou placa, não sei se a entrada estava fechada. Nossa próxima parada seria Eton beach, mas paramos por engano em outra praia que se que se chamava Emaal Lahkeh Nap Beach. A praia era pequeninha, mas bem bonita também. Estava garoando, talvez por isso não tinha ninguém quando chegamos. Figura III‑54: Emaal Lahkeh Nap Beach Quando descobrimos que não estávamos na Eton Beach, seguimos viagem. E, pouco tempo depois, como 1 km seguindo a estrada, achamos a Eton Beach, que é muito bacana: água bem clarinha, bastante areia, tem um riozinho bonito que deságua lá e bons locais de snorkeling. Infelizmente, estava caindo uma chuvinha fina quando chegamos lá. Não chegou a estragar ou nos impedir de curtir a praia, mas as fotos da Eton beach não ficaram tão lindas como ficariam com sol. Eton beach é geralmente apontada como a praia mais bela de Efate, mas, talvez por causa da garoa, achei “menos bonita” que a Crystal Blue Lagoon. E vale lembrar que Eton Beach tinha bem menos estrutura/restaurante que Crystal Blue Lagoon, praticamente não tinha nada quando eu fui. Figura III‑55: Eton beach Figura III‑56: Riozinho na Eton Beach Depois da Eton beach, seguimos contornando toda a ilha. Passamos por belas paisagens e alguns mirantes e, quando retornamos a Port Vila, já estava anoitecendo, não deu tempo de conhecer mais nada. Mas o dia foi sensacional, valeu muito a pena conhecer as praias de Efate, belíssimas! Praias de Efate: #imperdível Dia 18 -> Pentecost Island No nosso último dia “cheio” em Vanuatu, fomos conhecer a cerimônia de “Land Diving”. Não foi nada barato, pagamos cerca de 375 $AUS por pessoa, incluindo o voo até a Ilha Pentecost, saindo às 8h da manhã, entrada na cerimônia, almoço e um tempo na praia antes do retorno, por volta das 16h. Chegamos cedo no aeroporto e pegamos mais um teco-teco da Air Vanuatu. Aliás, o aeroporto da Ilha de Pentecost é ainda menor que o de Tanna e do aeroporto regional de Port Vila... Não dá nem para chamar de “casinha”, eu diria que é uma garagenzinha 🤣🤣🤣 . Surpreendentemente, a pista lá ainda era asfaltada... Chegando em Pentecost Island, fomos recebidos pelos nativos da tribo N´gol, a maioria vestido a caráter (ou seja, muito pouco vestidos 🤣🤣🤣 ). Fantástica a experiência de receber o carinho das crianças logo na chegada do aeroporto, muito animadas e receptivas. Figura III‑57: Aeroporto em Pentecost Island Figura III‑58: Recepção calorosa Figura III‑59: Nativos N’gol Depois de uma caminhada não muito longa em um trecho arborizado (ainda bem, porque estava um calor infernal), chegamos ao local onde é realizada a cerimônia/ritual de “Land Diving” – mergulho no solo. A cerimônia é para comemorar a colheita anual de um alimento chamado yam (em inglês, segundo o tradutor, seria inhame), e só ocorre de abril a junho no fim da época das chuvas. Os nativos N´gol sobem em uma torre, construída a cada ano com galhos de árvores entrelaçados, e se jogam de plataformas de 20 a 30 metros de altura, apenas com os pés amarrados a uma espécie de cipó/vinhas (em inglês, vine)! Figura III‑60: Torre da cerimônia N’gol Este tipo de cipó/vinha é o único “equipamento de segurança” que eles usam, e adquire uma pequena “elasticidade” apenas após a época das chuvas. Mas o impacto / puxão que o cipó dá no sujeito que mergulha é impressionante! No começo, dá até uma sensação meio ruim, uma aflição. Você pensa: “nossa, deve doer para caramba!”. É estranho, meio chocante.... Mas depois, você vê que o pessoal se levanta “de boa”, celebra, que é algo bom para eles. Existem várias lendas urbanas a respeito dessa cerimônia. Segundo os guias, na década de 70, a rainha da Inglaterra visitou Vanuatu e pediram à tribo que fizesse a cerimônia de land diving excepcionalmente fora da época correta (pós-chuva). Parece que o cipó não estava flexível o suficiente, o nativo se espatifou e acabou morrendo. Dizem eles que foi o único caso de morte da cerimônia. A torre tem umas 10 plataformas de salto montadas. No começo da cerimônia, o pessoal começa a cantar, e alguns nativos, só homens, vão subindo de plataforma em plataforma e saltando. Nas fotos, reparem no terreno onde eles se esborracham no chão, parece que dão uma “afofada” na terra. Além disso, ajustam o tamanho do cipó para a altura de cada plataforma, de uma forma que o cara não se espatife direto no chão. O cipó se estica ao máximo a alguns centímetros do solo, antes do cara se arrebentar na terra, dando um belo puxão nos pés do saltador, que acaba caindo um pouco mais devagar em uma terra levemente “afofada”. Lembrando que esse ajuste é feito “nos zóio” mesmo, nada sofisticado. A técnica de mergulho consiste em se jogar de cabeça e para frente, até o momento que o cipó estica, dá o baita puxão, e o mergulhador se esborracha na terra fofa. Diz a Wikipedia que o mergulhador pode chegar a 72 km/h! Depois que ele cai, a tribo se aproxima para acudi-lo, mas os mergulhadores sempre saíram andando sem problemas. Pelo menos nesse dia... Figura III‑61: Sequência de um salto O ritual também é uma espécie de rito de passagem, “crescimento”, quando os meninos se tornam homens N´gol. Os primeiros saltos são feitos por meninos adolescentes (ou até crianças mesmo, de uns dez anos, talvez), que saltam das plataformas mais baixas da torre. Eu filmei o segundo salto. O menino, inexperiente, não pulou seguindo a “técnica” de pular cabeça, pulou meio de pé e, quando o cipó esticou, dez uma pirueta impressionante... Vejam a pirueta no vídeo Cap III‑7 (youtube.com/@destinovulcoes, link para o QR Code). Já nos vídeos Cap III‑8 e Cap III‑9, é possível ver a técnica tradicional de se jogar de cabeça e para a frente. Eles também acreditam que os saltos melhoram a saúde dos mergulhadores, eventualmente curando doenças e aumentando a resistência física deles. Eles acreditam que, se tocarem o solo com os ombros ou com a cabeça, garantem a fertilidade (do solo, não do mergulhador...). Além disso, quanto mais alto ou à frente for o salto, maior será a fertilidade do solo. Durante toda a cerimônia, os homens e as mulheres da comunidade formam um círculo próximo à torre, entoando cânticos para incentivar os saltadores, muito legal. Figura III‑62: Voando! Figura III‑63: Momento que o cipó esticou Vocês podem estar pensando que uma cerimônia para agradecer a colheita de alimento é algo relativamente “comum”. Muitos povos indígenas e civilizações antigas mundo afora têm rituais para isso. Mas de onde surgiu a “brilhante” ideia de agradecer mergulhando de uma torre, com cipós amarrados aos pés, para se esborrachar na terra? Segundo os guias, esta ideia surgiu da história de uma antiga nativa N´gol. Após uma briga com o marido, ela fugiu pela floresta, possivelmente à noite, e se escondeu no alto de uma árvore bem alta típica da região (banyan, nome da árvore em inglês, algum tipo de figueira). Quando o marido a encontrou e subiu atrás dela, a nativa amarrou uns cipós nos pés e se jogou do alto da árvore! Amortecida pelo cipó, ela sobreviveu. Seu marido, que não percebeu a artimanha, saltou logo atrás e morreu.... Dizem que, no início, eram as mulheres da tribo que começaram a fazer essa cerimônia, saltando das árvores com os pés amarrados em cipós em homenagem à essa nativa. Mais tarde, os homens resolveram adotar a tradição, e começaram a saltar de torres construídas para esta finalidade. Diz a lenda que os homens passaram a fazer o “Land Diving” para não serem enganados novamente 🤣🤣🤣 . Uma última curiosidade: vocês perceberam que a cerimônia lembra um pouco o bungee jumping? Seria “tipo” um bungee jumping “raiz”, né? E isso não é mera coincidência! O criador do bungee jumping (o bungee jumping “nutella”), A.J. Hackett, era neozelandês e desenvolveu a corda elástica utilizada nos saltos, inspirando-se nesta cerimônia que ele conheceu em Vanuatu! O último salto é da plataforma mais alta, impressionante. Figura III‑64: Último salto Salvei com no canal o vídeo desse salto, Cap III‑10, feito com a câmera de qualidade pior (youtube.com/@destinovulcoes, link para o QR Code). Na época, não tinha conseguido muita informação a respeito dos Land Divers N´gol. Hoje eu sei que, procurando “Land Diving” na internet, tem mais informação. Segundo a Wikipedia, está no Guiness que a aceleração (força g) sofrida pelos índios no ponto que o cipó estica é a maior força g experimentada por humanos no “mundo não industrial”! Na Wikipedia tem mais informações a respeito (Ref. 10) e em 2023, o pessoal do veleiro Katoosh fez uns vídeos muito bacanas de Vanuatu (Ref. 44). A cerimônia durou uma hora e pouco. Depois, fomos almoçar à beira-mar (almoço simples, mas bem servido), com tempo para trocar de roupa e aproveitar uma praia de Pentecoast Island, e voltarmos para Port Vila por volta das 16h30. O detalhe é que essa ilha era extremamente rústica mas, vejam só, até lá tinha propaganda de celular, em 2013 🤣🤣🤣 : Figura III‑65: Propaganda de celular Claro que esse passeio tem um apelo turístico, mas para mim, foi uma das experiências mais autênticas da vida! Sei que muita gente pode não achar esse tipo de passeio tão interessante, cada viajante tem as suas preferências. Minha esposa, por exemplo, acha uma “ideia de jerico” pagar 375 $AUS para embarcar num teco-teco sem vergonha, passar muito calor e assistir a uns indígenas pulando de uma torre com um cipó amarrado nos pés, se espatifando na terra! Errada, ela não tá 🤣🤣🤣 . Mas, para mim, valeu cada centavo! N’gol Land Diving: #imperdível Dia 19 -> Port Vila -> Auckland De manhã, demos mais uma voltinha pelo centro, conhecemos o mercado central e nos despedimos desse país maravilhoso, rumo à Nova Zelândia. A parte central de Port Vila, mais turística, era mais ajeitada que áreas mais periféricas, mas ainda era bem humilde. Se estivéssemos em um local similar no Brasil, por exemplo, teríamos certo receio quanto à segurança. No entanto, em Vanuatu, nos sentimos seguros o tempo todo, até mesmo passeando nas ruazinhas meio escuras à noite (a iluminação era bem meia-boca). E, mais do que isso, nos sentimos muito bem recebidos! Claro, as coisas têm um ritmo próprio em Vanuatu. Não espere chegar num restaurante e ser atendido a jato, que a comida chegue muito rapidamente ou que as pessoas falem um inglês maravilhoso. Mas a receptividade e a alegria dos vanuatenses chamavam muito a atenção. Era impressionante como, até as pessoas com aparência mais humilde, estavam sempre sorridentes e alegres, fazendo tudo para te agradar e ajudar. Os vanuatenses pareciam verdadeiramente felizes com a nossa presença. Eles podem ter pouco, mas os sorrisos deles são os maiores do mundo. Passeando de carro pela cidade ou pelas vilas mais remotas do interior, quase todas as pessoas que cruzavam nosso caminho nos cumprimentavam e sorriam. Não importa onde você esteja, os vanuatenses se esforçam para te ajudar, te recebem com um sorriso e sempre terminam com um simpático “Tangkyou tumas” (muito obrigado em bislama)! Não é à toa que você provavelmente nunca ouviu falar de Vanuatu. Com apenas 270 mil habitantes espalhados em 83 ilhas no remoto Pacífico Sul, fica longe de tudo, inclusive das dores e prazeres da vida moderna. Lá, a “simplicidade” combina perfeitamente com “felicidade”. Durante a nossa estadia, ninguém nunca pediu nada. Já visitei muitos países pobres, e até alguns países nem tão pobres da América Latina, onde você não consegue andar sem ser assediado. Acho que em Vanuatu as pessoas são felizes com o que têm, mesmo que seja muito pouco. Fiquei sabendo que eles sempre “fazem bonito” em um ranking inglês chamado Happy planet index, que não leva em conta PIB, IDH, mas, sim, a felicidade das pessoas. Os vanuatenses já foram considerados o povo mais feliz do mundo, e faz todo sentido! Vanuatu, definitivamente, conquistou nossos corações pelas belezas naturais e, principalmente, pelo povo incrível! Os poucos viajantes que eu conheço que foram para Vanuatu são unânimes: o povo é realmente fantástico. Vi esse conselho em um artigo (Ref. 11) e concordo 100%: não se fazem mais países como Vanuatu, e é exatamente por isso que você deve correr para lá antes que as coisas mudem! Dia 20 -> Auckland No dia anterior, chegamos meio tarde em Auckland e só tivemos tempo de chegar no hostel e descansar. Já descansados, aproveitamos o vigésimo dia para explorar o centro da cidade, que tem alguns prédios bacanas e é legal conhecer a pé. Uma das atrações que mais gostei foi a torre Sky Tower, que oferece belas vistas da cidade e da ilha vulcânica Rangitoto, localizada em frente a Auckland. Na Sky Tower, você também encontra algumas atividades radicais. O skyjump é uma mistura de bungee jumping com “rapel rápido”: você salta do alto da torre e desce bem rápido, mas vai preso em uma corda que te guia. No momento em que estávamos lá, alguém estava descendo e passou bem na nossa frente. Outra atividade oferecida é o sky walk, onde você caminha amarrado por cabos de segurança na plataforma circular do alto da torre. Figura III‑66: Vista da Sky Tower Figura III‑67: Skyjump A subida na torre custava uns 25 $NZL, e essas outras atividades eram cobrados à parte, muito caro, acabamos não fazendo. “Pão-durei”, mas deve ser bacana. Na própria torre, tinha umas partes com chão de vidro, já dava certo friozinho na barriga, imagina descer a milhão... Depois do almoço, fomos de carro até a ilha de Rangitoto, do outro lado da baía, que tem uma linda vista do centro de Auckland. No final do dia, dirigimos para a cidade de Waitomo, onde iríamos pernoitar para conhecer os famosos Glow-worms e Waitomo Caves. Figura III‑68: Skyline de Auckland, visto de Rangitoto Auckland: #valeapena Dia 21 -> Waitomo Glow-worms são insetos que emitem uma luz brilhante. De longe, podem lembrar vagalumes, mas, ao contrário dos vagalumes, os glow-worms ficam com a “luz acesa” o tempo todo, sem piscar. Além disso, os glow-worms são larvas de insetos que ficam presos nas paredes e nos tetos das cavernas, formando “fios” semelhantes às teias de aranha. Pelo brilho, eles atraem suas presas, principalmente outros insetos que, quando chegam perto, ficam presas nos fios, e está servido o almoço das glow-worms... Os guias neozelandeses diziam que glow-worms só existiriam na Nova Zelândia, mas depois fui descobrir que também existem na Austrália. De qualquer forma, Waitomo é a melhor região para conhece-los, nas cavernas chamadas Waitomo Caves. Tinham pelo menos 3 agências de turismo que ofereciam excursões nas Waitomo Caves, com diferentes opções de passeios. O carro-chefe do local (na época, uns 30 $NZL) incluía uma rápida caminhada e um mini passeio de bote observando os glow-worms em uma caverna já bem estruturada. Outras opções incluíam um boia-cross “tipo rafting” dentro das cavernas, e o passeio Black Abyss que, além do boia-cross, incluía um rapel e uma escalada em uma cachoeira. Estes dois passeios eram em cavernas mais naturais, com menos intervenção humana. O Black Abyss me pareceu muito mais divertido: durava umas 5h e incluía caminhadas por cavernas “naturais” (sem iluminação ou passarelas) cheias de glow-worms, além de rapel e boia-cross. Pelo menos, esta era a minha expectativa quando resolvi gastar 198 $NZL. O passeio começa com um breve treinamento de rapel e a descida para a caverna. O rapel ainda foi legalzinho, com uma descida de uns 35 metros. Em seguida, iniciamos uma rápida caminhada na caverna, com alguns glow-worms. Vimos bem poucos.... Imaginei que era só o começo e que veríamos muito mais glow-worms mais adiante, mas, mal sabia eu que essa foi a parte com mais glow-worms do passeio! Depois, fizemos uma tirolesa curta, que o cara pede para fazer no escuro só com a iluminação da lanterna, que é até legalzinha. E chegamos no local aonde saltamos com a boia de uma pedra até o rio subterrâneo, que deve estar uns quatro ou cinco metros abaixo. Esta foi a parte mais “radical” do passeio, a única que deu um friozinho na barriga! Figura III‑69: Antes de saltar no rio subterrâneo A partir desta etapa, começava o boia-cross no rio. Nesta parte, tem mais um pouquinho de glow-worms, mal sabia que aquela seria a minha despedida deles. Eu esperava que o boia-cross fosse um rafting radical por correntezas subterrâneas, afinal, a empresa chama Black Water Rafting! Na verdade, era só uma flutuação em um rio subterrâneo com correnteza muito leve, se é que dava para chamar aquilo de correnteza. E em um rio hiper gelado.... Após algum tempo, deixamos as boias e seguimos a pé pelo leito do rio, às vezes atravessando uns buracos, alguns eram meio claustrofóbicos. A parte final do passeio envolvia escalar uma pequena cachoeira (menos de 3 metros) para sair da caverna, passando por mais uns buracos. Legalzinho, mas muito menos radical do que imaginava. Como vocês podem perceber, achei o passeio Black Abyss bem overrated, para não dizer um fiasco total... Talvez eu tenha elevado muito a minha expectativa de aventura, baseado em vários reviews positivos, mas o passeio acabou sendo muito menos emocionante do que eu esperava. E o pior: eu esperava uma caverna lotada de glow-worms, mas vi muito poucos! Embora não tenha sido um passeio completamente ruim, não acho que valeu os 198 $NLZ. Minha esposa grávida acabou indo no passeio “carro-chefe” de 30 $NZL, que incluía a caminhada e um passeio curto na caverna, e ela gostou da experiência. Uma parte muito ruim é que não podia tirar fotos, vou colocar uma aqui para ilustrar! Vale notar que as fotos de propaganda das Waitomo Caves que encontramos na internet, Instagram, etc., são belíssimas, muito melhores que a vista “real” que eu e minha esposa tivemos... No final das contas, eu recomendo fazer o passeio dos glow-worms que minha esposa fez, acho que custava uns 30 $NLZ. À tarde, pegamos o carro e fomos até Rotorua. Figura III‑70: Glow-worms Fonte: Манько Марко, via Wikimedia Commons Waitomo Caves: #valeapena Black Abyss: #legalzinho Dia 22 -> White Island e Rotorua Rotorua, situada na região central da Ilha Norte da Nova Zelândia, é a cidade com maior atividade vulcânica do país. Sinais do passado turbulento que moldou a paisagem estão por todos os lados. A região é um paraíso geotérmico, rodeada por grandes lagos em antigas crateras vulcânicas e belos estratovulcões. A terra parece viva, gêiseres expelem jatos de água fervente rica em minerais, vapor paira sobre a paisagem lunar, terraços de sílica exibem uma infinidade de cores, e caldeirões de lama borbulham lentamente, criando ondulações que se expandem em círculos cada vez maiores. Nesse primeiro dia, planejei um passeio day tour que vai até White Island: um vulcão ativo que ficam em uma ilha a 50 km da costa em uma baía chamada Bay of Plenty. Este é o vulcão mais ativo da Nova Zelândia. Peguei o passeio que saía da cidade portuária de Whakatane, que fica a quase uma hora e meia de Rotorua de carro. O passeio era proibido para gestantes, não sei se pelos gases do vulcão ou pelo trecho de mais de uma hora de barco. Ou seja, infelizmente, minha esposa não pôde ir. Quer dizer, “infelizmente” do meu ponto de vista, talvez para ela seja “felizmente”, não sei se alguém “com juízo” ficaria animado para visitar outro vulcão poucos dias após quase levar uma bomba vulcânica na cabeça 🤣🤣🤣 . Mas o passeio em si é bem light, a caminhada não exige esforço. White Island é uma ilha pequena, cerca de 2 km de diâmetro, com um vulcão ativo dentro dela. A ilha emerge como o pico de um vulcão submarino de 16 km de diâmetro, e no seu ponto mais alto acima da superfície, chega a 321 metros. A ilha tem um formato clássico cônico de estratovulcão, mas tem um pequeno pedaço do cone a sudeste que é aberto, aparentemente colapsado após alguma erupção, por onde chega o barco. E de lá caminha-se até a parte mais ativa do vulcão. Não se tem muita informação de lá antes de 1826, mas a atividade vulcânica da ilha fomentou muitos mitos e lendas maoris, os antigos habitantes da Nova Zelândia. Pena que, no tour, não falaram nada a esse respeito, eu vi algumas informações interessantes na internet. Um mito diz que Whakaari, o nome maori de White Island, surgiu como parte da ascensão do Monte Tongariro de um líder espiritual maori (Ngātoro-i-rangi). Com muito frio durante a subida, ele pediu calor aos deuses. Foi para atender esse pedido que os deuses “acenderam” o fogo em White Island/ Whakaari, e então esse fogo foi levado para o líder Ngātoro-i-rangi! Figura III‑71: White Island, ou Whakaari Figura III‑72: Detalhe do vulcão A parte de dentro da ilha basicamente é muito pequena, em cerca de uma hora, você anda por quase toda a parte interna do vulcão. Antigamente existia uma mina para explorar enxofre, e meia dúzia de trabalhadores que moravam lá (imagina a qualidade de vida deles...). Mas hoje é desabitada, e a mina está desativada. Toda a parte interna da ilha está repleta de atividade vulcânica, a gente caminha e observa alguns pontos em que saem bolhas de água fervendo, lama fervendo, fumaça, e tudo geralmente muito fedido pelo enxofre... Aliás, o amarelo do enxofre torna o cenário ainda colorido e mais surreal. Muitas cores, especialmente o amarelo, laranja, e vários tons de cinza, tudo misturado com muita fumaça! Figura III‑73: Fluxo maior de água escoando até o mar Figura III‑74: Muita atividade fumarólica e muitas cores Figura III‑75: Detalhe das formações Até que chegamos no núcleo do vulcão. Este vulcão, ao contrário do Monte Yasur por exemplo, não é um vulcão estromboliano. A parte mais ativa do núcleo de White Island é um lago ácido, parece uma super lagoa de lama, muito quente, fervendo e expelindo muita fumaça e gases fedidos, possivelmente tóxicos. Mas, no núcleo, não tinha lava.... Tem umas partes emitindo tanta fumaça, que eu imagino serem as partes mais fundas do lago. Figura III‑76: Lagos do núcleo de White Island Figura III‑77: Detalhe do núcleo (parte com menos fumaça) O vulcão também me chamou atenção porque, geralmente, quando se vê o núcleo de um vulcão ativo, é de longe, do alto de um cume ou da borda da cratera. Mas o legal de White Island é que a gente caminha na base do estratovulcão, no mesmo nível da atividade vulcânica, bem próximo dele, e não do cume ou na borda da cratera. A sensação é até um pouco angustiante, especialmente à medida que nos aproximamos mais do núcleo, parece que estamos entrando no meio de um caldeirão fervendo! Aliás, mesmo tendo muito menos atividade/erupções vulcânicas que Vanuatu, lá tinha muito equipamento de segurança, máscara de gás, capacete e a gente tem que ficar a uma relativa distância grande daquela parte do lago do núcleo, com maior quantidade de lama/água fervendo. No final das contas, este não é o vulcão mais legal que já visitei, mas, ainda assim, achei bem bacana conhecer e ver os tipos de atividades vulcânicas de lá, e o cenário é surreal! Eu achei que valeu muito a pena! EM TEMPO, atualização de 2021: no dia 9/dez/2019, houve uma erupção surpreendente, que, infelizmente, resultou em fatalidades. Putz, só de imaginar que eu estava lá 6 anos antes, neste mesmo passeio em que ocorreu a erupção que, segundo os vulcanólogos, foi pequena, mas infelizmente resultou em fatalidades. E, no meu relato, eu estava achando excelente estar no mesmo nível da atividade vulcânica, olha só?.... O que ocorreu em White Island, aparentemente, foi uma erupção hidromagmática resultante do contacto entre o calor de um magma e um corpo de água (no caso, o lago da cratera e/ou água do mar), resultando em um fluxo piroclástico em toda aquela área da cratera que eu visitei. Enfim, voltando à minha viagem... Enquanto eu estava em White Island, a minha esposa passeou em Rotorua, que é uma cidade bonitinha, bem turística, apesar de feder enxofre devido às atividades vulcânicas. Rotorua tem um centrinho legal, à beira de um lago. O prédio mais bonito da cidade é o Museu de Rotorua, que foi construído no século XIX como um SPA para curar doenças de pele com as águas termais da cidade. É praticamente o marco-zero da cidade, pois, a partir desse momento, Rotorua passou a receber maiores fluxos de turistas e cresceu. Hoje o prédio abriga um museu sobre a história do país. Figura III‑78: Museu de Rotorua Do alto do Monte Ngongotaha tem uma bela vista de Rotorua e seu lago. Pode-se chegar nessa montanha de teleférico e tem uma vista bonita. Lá no alto, eles oferecem várias atividades. A principal é o luge, espécie de carrinho de rolimã para descer a ladeira. Deixamos para ir no luge em Queenstown, é muito divertido. E próximo ao teleférico, tem a zorb, uma bola inflável que desce o morro rolando, que também parece bacana. Além dessas atividades, em Rotorua tem uma grande oferta de shows maoris, inclusive alguns que parecem “pega turista” (por exemplo, atores encenando algo que não é realmente costume deles). Acabamos não achando nenhum que parecia mais autêntico e não fomos. Rotorua é uma cidade bem agradável para passar uns dias e servir como base para conhecer as áreas geotermais próximas. White Island: #imperdível Rotorua: #valeapena Dia 23 -> Waimangu e Wai-o-tapu Existem muitos parques termais com atividades vulcânicas próximos a Rotorua e Taupo, e, nesse primeiro dia, escolhemos ir nos que pareciam ser os melhores: Waimangu e Wai-o-tapu. Estes dois parques termais são bem diferentes. Primeiro fomos no Waimangu, que é bastante amplo, tem lagoas termais bem grandes e envolve mais caminhada para chegar nos pontos de interesse. No site deles, tem um mapa bem legal. Da entrada, você vai descendo por uma caminhada tranquila, passando por diversos lagos com água vulcânica, alguns mais quentes, outros menos quentes, uns coloridos, outro com cor de “lago normal”, alguns com terraços, o cenário é bem variado! O segundo lago termal, conhecido como Frying Pan, impressiona pelo tamanho, realmente é gigante! No vídeo Cap III‑11 dá para ter uma ideia melhor do tamanha da Frying Pan, salvo no canal youtube.com/@destinovulcoes, link para o QR Code. Figura III‑79: Frying Pan Durante toda a caminhada, vamos passando por vários cenários diferentes e muita atividade geotermal. Cenários encantadores surgem da linda mistura das águas vulcânicas com a vegetação, rochas e as águas já resfriadas, criando paisagens únicas e belas. Algumas partes têm tanta fumaça que não dava nem para enxergar muita coisa. A lagoa que a gente mais gostou foi a lagoa azul, muito bonita, chamada Inferno Crater. Figura III‑80: Waimangu Valley Figura III‑81: Inferno Crater A foto não reproduziu bem a beleza da lagoa, não sei se porque estava muito sol, ou o contraste da lagoa parte no sol, parte na sombra, ou as fumaças brancas saindo da lagoa (era bem quente), ou falta de habilidade do fotógrafo de câmera nova mesmo 🤣 . Enfim, Inferno Crater é muito bonita, não deixem de conhecer essa lagoa, que fica meio escondidinha. O parque termina no Lago Rotomahana. Bem longe, ao fundo, está o vulcão agora dormente Monte Tarawera, que entrou em erupção em 1886 e alterou a geografia de boa parte da região geotermal de Rotorua e Taupo, especialmente os Pink e White Terraces, vou falar deles mais para frente. Hora de ir para o próximo parque geotermal: Wai-o-tapu. Lá tem um parque geotermal, algumas piscinas de lama borbulhante e um gêiser artificial. Sem dúvidas, a parte mais interessante é o parque geotermal. Ele é bem menor que o Waimangu, mas oferece mais coisas para ver, especialmente lagoas vulcânicas. Não que seja pequeno, mas, em Wai-o-tapu, as lagoas são geralmente menores que as de Waimangu, e tem algumas muito fotogênicas. A mais famosa, Champagne Pool, destaca-se pela sua bela cor de champagne. Talvez seja tão quente quanto as lagoas do Waimangu, ao contrário das outras lagoas do Wai-o-tapu, que eram menos quentes. Em Wai-o-tapu, também havia fumarolas, lamas borbulhando, enxofre, e bastante atividade vulcânica. Muita coisa para ver, achei o parque bem legal, as cores e as paisagens muito surreais – e fedidas. Provavelmente, foi o parque geotermal que mais gostei. Figura III‑82: Champagne Pool Figura III‑83: Detalhe da Champagne Pool Figura III‑84: Lagoa de cor verde Depois conhecemos uma área com umas piscinas de lama borbulhante (se não me engano, do lado de fora do parque geotermal sem pagar nada para entrar). Alguns chamam de vulcões de lama, mas achei meio exagerado, ainda mais em um livro com um tanto de vulcão “de verdade” 🤣 . Figura III‑85: Mud pools O vídeo Cap III‑12 das mud pools ficou melhor que a foto. No final do dia, seguimos para Taupo, mais uma bela cidade neozelandesa à beira de um lago, com as montanhas do Tongariro National Park ao fundo. E tem um detalhe: este lago é a caldeira originária da erupção mais cataclísmica dos tempos modernos, em Taupo 186 d.C.! Figura III‑86: Lago de Taupo Waimangu: #imperdível Wai-o-tapu: #imperdível Dia 24 -> Taupo A Nova Zelândia é conhecida como uma “meca” dos esportes radicais: para quedas, voo livre, rafting, jetboat, mountain bike, parasailing, rapel, escalada, trekking, tem muita coisa legal mesmo. E, claro, não poderia faltar bungee jumping, na terra onde ele foi inventado (inspirado nos índios N'gol de Vanuatu). Dava vontade de fazer tudo, mas, pelo preço de uns 150-200 $NZL cada atividade, infelizmente eu tinha que escolher uma ou outra. Taupo tem um bungee jumping de uns 50 metros, menos concorrido pois não é o mais alto da Nova Zelândia (tem um de mais de 100 metros em Queenstown, bem mais caro), mas fica em um cenário muito bonito, na beira de um precipício por onde corre um rio com águas verdinhas! Achei ideal para eu fazer meu primeiro bungee jumping. Figura III‑87: Lindo cenário do bungee jumping Quando eu assistia aos saltos de bungee jumping pela TV, ou mesmo vendo ao vivo, sempre imaginei que seria só um friozinho na barriga (de leve), mas que, no geral, seria tranquilo... Mais ou menos a mesma emoção de uma montanha-russa. Mas eu não poderia estar mais enganado! Depois que você coloca o equipamento e fica na beira do precipício para saltar, é muuuuuuuuuuuuuuito mais aterrorizante do que eu poderia imaginar!!!! É uma sensação/emoção difícil de explicar.... Já fiz bastante coisa considerada “radical” e, até então, meu maior “cagaço” foi em um salto de pêndulo: você sobe amarrado em um cabo de aço a uns 45 metros e é solto lá de cima! Dizem que você chega a quase 90 km/h na descida. Diferente do bungee jumping, o cabo é de aço, que começa meio solto e por isso, no começo, você cai como em queda-livre, mas logo o cabo estica, te puxa, e você fica balançando de um lado para o outro. No pêndulo, você vai amarrado pelo tronco, e não pelos pés. O que eu fui, no longínquo 1996, ficava em Los Angeles, chamado Dive Devil. Antigamente tinha um parecido no Playcenter, e até hoje ainda tem um no Hopi Hari. Figura III‑88: Salto de pêndulo Fonte: De Coasterman1234, via Wikimedia Commons Enfim, eu já fiz muita aventura, mas o bungee jumping foi muito mais assustador do que eu poderia imaginar! Senti um medo absurdo, só fazendo para entender! O pior é a hora de saltar... O instrutor colocou o equipamento em mim e me explicou como seria o salto. Eu só teria que levantar os braços, ele ia contar até três, e então eu tinha que mergulhar (importante saltar com a cabeça para baixo). Na hora, eu até planejei fazer do jeito que ele falou. Levantei pensando: “vai dar medo, mas vou me jogar, tranquilo”. Cheguei na ponta da plataforma, levantei os braços e ele começou a contar: 3,2,1... e.... meu corpo não se jogava de jeito nenhum! Minhas pernas tremiam que nem vara verde, e, instintivamente, as minhas mãos agarraram no teto da plataforma! Deve ser o subconsciente, algum tipo de autodefesa, instinto de sobrevivência, sei lá... Era para eu ter saltado, mas travei. O cara contou de novo, meu cérebro até pensava “eu vou”, mas meu corpo não ia! Imagino meu corpo “falando” para o meu cérebro: “não faz isso, cara, você tá maluco? Não quero morrer”. Depois de algumas tentativas, não sei como, eu acabei pulando.... Quer dizer, na hora, até achei que tinha conseguido saltar sozinho, mas quando fui assistir ao vídeo, descobri como eu “consegui”: o instrutor que tinha me empurrado 🤣🤣🤣 . Salvei o vídeo do salto no canal do Youtube, Cap III‑13. Reparem no pessoal gritando para eu não segurar no teto e no belo empurrão que o instrutor me deu. Na hora, nem senti... Depois que você salta, é tudo muito rápido. Foram uns cinco segundos de muito medo... Mas a adrenalina é tanta que você nem pensa nisso. Quando você começa a entender o que está acontecendo, vem aquele tranco e te puxa para cima.... Que sensação!! Depois, fica bem mais fácil: você volta a cair de novo, mas sem precisar mais enfrentar o terror de se jogar da plataforma. Quando o medo começa a surgir, você já está caindo de novo, nem dá tempo de sentir medo. Acho que depois da segunda ou terceira vez subindo e descendo, eu comecei a raciocinar de novo, respirar e aproveitar! O bungee jumping de Taupo é do tipo que você poderia tocar na água, mas o rio estava baixo e, mesmo com o instrutor colocando o máximo de tamanho de corda, não cheguei nem perto do rio. Figura III‑89: Bungee jumping em Taupo Em termos de aventura, foi a maior emoção que senti na vida, valeu muito a pena! Nunca imaginei que ia ser tão difícil me jogar “voluntariamente” daquela plataformazinha na beira do precipício! Assistindo ao vídeo, contei: foram uns 45 segundos agonizando na ponta daquela plataforma, mas que pareciam uma eternidade 🤣🤣🤣 . “Sorte” da patroa que estava grávida, senão ia encher muito o saco dela para fazer pelo menos uma vez na vida. Se eu puder dar um conselho, não façam como eu, façam bungee jumping antes dos 30 anos, enquanto a gente ainda tem muita coragem... Após me recuperar emocionalmente, era hora de aproveitar o resto do dia. Na Nova Zelândia havia umas piscinas com terraços naturais de sílica no estilo Pamukkale (Turquia) muito bonitas, chamadas Pink and White Terraces. Porém, elas foram destruídas naquela erupção vulcânica do Vulcão Monte Tarawera em 1886, o que restou agora está submerso naquele lago maior (Rotomahana) do Parque Waimangu. Waikarei terraces é uma estância termal que oferece algumas piscinas aquecidas, e tem uma reconstrução artificial de terraços de sílica inspirados nos Pink e White Terraces. As águas são aquecidas com águas termais, mas as piscinas, reconstruindo os terraços de sílica, são artificiais. Achei bem bonito, mas, se fosse natural, eu valorizaria mais, os terraços originais deveriam ser sensacionais. Depois do Waikarei, fomos conhecer uma cachoeira na região chamada Huka Falls. Tinha visto bastante fluxo de água, e era bem fácil o acesso. Estávamos com tempo sobrando, então fomos conhecer. De fato, era bastante caudalosa, água clarinha, com caminhada agradável, era bonitinho, mas não achei nada demais o lugar.... Se estiver de bobeira, vale a pena dar uma passada. Depois, fomos até o último parque termal, chamado Orakei, mas não entramos nele... Vimos a cara do lugar, achei meio parecido com uma parte que tínhamos visto em Waimangu, não nos empolgamos muito, estava meio tarde, só tiramos uma foto e voltamos. Dia encerrado, hora de voltar para Taupo e arrumar as malas rumo à Ilha Sul da Nova Zelândia! Figura III‑90: Waikarei terraces Figura III‑91: Huka Falls Bungee Jumping: #imperdível Waikarei: #legalzinho Huka falls: #legalzinho Dia 25 -> Taupo –> Picton Dia de nos despedir da ilha norte, seguindo viagem para o sul. Logo ao sul de Taupo fica o Tongariro National Park. No parque, tem várias trilhas, a mais famosa (Tongariro Crossing) é uma trilha puxada: 19 km, em média 8h, subindo de 1100 até 1800 metros, e depois descendo até 800 metros. É uma travessia muito bonita que passa por terrenos vulcânicos, crateras e lago muito belos, além das belas montanhas e vulcões. Fazer o trekking no Tongariro National Park estava nos meus planos, mas, infelizmente, desistimos quando soubemos da gravidez da minha esposa. Como prêmio de consolação, passamos pela estrada que fica ao lado do Tongariro National Park e tiramos algumas fotos das montanhas. Com destaque para o Monte Ngauruhoe, um clássico estratovulcão. Ele é considerado ativo, mas sua última erupção foi em 1977 e, desde então, ele tem registrado pouca atividade, nós não vimos nem fumarolas. Aliás, o vulcão foi usado como um dos cenários na trilogia do Senhor dos anéis: era o Monte Doom, em Mordor! Figura III‑92: Monte Ngauruhoe (direto de Mordor…) De lá, seguimos viagem até Wellington para atravessar de balsa para a ilha sul. Chegamos um pouco mais cedo em Wellington, mas, como era um dia muito cansativo de viagem, quase 5h de carro, mais a balsa, só demos uma volta rápida pelo centrinho. Pegamos um ferry que sai de Wellington às 18h, chegando em Picton às 21h30. Dia longo. Desmaiamos, mas, no dia seguinte, ainda teríamos outro longo trecho de viagem. Dia 26 -> Picton -> Fox Glacier Este dia foi o mais cansativo de viagem, com um longo translado de Picton, do norte da ilha sul, até Fox Glacier, que fica na costa oeste mais ao sul da ilha sul. Para não ficar só andando de carro, programamos uma parada em uma atração chamada Pancake Rocks, que fica mais ou menos no meio do caminho. Pancake Rocks é uma atração legalzinha, são rochas “laminadas” que ficaram com formatos curiosos que lembram panquecas, por isso recebeu esse nome. Em alguns trechos, o mar se choca violentamente com os rochedos, algumas vezes formando jatos de água, outras vezes criando grandes buracos que acabam formando piscinas. Tem uma trilha limitando o trajeto, bem curtinha. Se estiver de passagem como eu, vale a pena dar uma passada. Se não for caminho, não vale a pena se esforçar para ir até lá.... Figura III‑93: Pancake Rocks Depois, seguimos viagem até Fox Glacier. No total, foram 7h de carro, com alguns trechos de estrada bem bonitos, especialmente um passe atravessando uma cadeia de belas montanhas para chegar até a costa oeste da ilha sul, mas era até difícil parar na estradinha para tirar fotos. Achei bem cansativos esses dois dias de viagem de Taupo –Picton – Fox Glacier, 1000 km em 2 dias e, no dia seguinte, ainda teriam mais 350 km até Queenstown. Pancake Rocks: #legalzinho Dia 27 -> Fox Glacier Fox Glacier é uma microcidade cujas atrações principais são os glaciares, um chamado Fox, outro Franz Josef. O plano era parar uma noite lá, conhecer um glaciar, avistar o Monte Cook e finalmente chegar em Queenstown. Em pensar que nessa mesma viagem, há uma semana, eu estava torrando no sol nas praias em Vanuatu e na Austrália, e hoje eu ia colocar roupa de neve para caminhar sobre um glaciar! O passeio é basicamente uma caminhada pelo vale até a base do glaciar, para depois caminhar sobre ele utilizando os equipamentos adequados. Eu achei os passeios dos dois glaciares muito parecidos, acabei escolhendo o passeio do Fox Glacier, não me lembro ao certo o porquê. Tinha outros passeios mais caros, por exemplo, um que pousava de helicóptero no topo do glaciar. Mas eu achei muito legal o passeio que fizemos, a caminhada no vale até chegar ao pé do glaciar já é bem bonita, e a caminhada no gelo propriamente dito com os crampons é bem diferente. Entramos em algumas “caverninhas” de gelo também.... Figura III‑94: Chegada no glaciar Figura III‑95: Detalhe dos turistas entrando no glaciar Figura III‑96: Glaciar Fox Figura III‑97: Caverna de gelo Achamos muito legal caminhar naquela imensidão de gelo, conhecendo cenários que não são comuns para quem vive em um país tropical como o Brasil. Foram umas 4h de passeio, incluindo o transporte da cidade. Próximo à cidade, havia um lago bonito chamado Lake Matheson, onde em dias claros o Monte Cook reflete em suas águas. Com 3754m, o Monte Cook é o pico mais alto da Nova Zelândia, e o mirante do Lake Matheson, chamado Jetty Viewpoint, oferece boas vistas. No dia, estava muito nublado, especialmente nas montanhas, mas teve um momento que abriu um buraco bem no meio das nuvens, revelando um belo pico nevado – acho que era o Monte Cook, ou alguma montanha ao lado. Figura III‑98: Monte Cook (?) entre as nuvens Se estiverem em Fox Glacier, vale a pena dar uma passada no Lake Matheson para tentar ver o Monte Cook. Porém, apesar da vista do Lake Matheson ser legalzinha (em dias claros), acredito que a vista mais bonita do Monte Cook é do outro lado (ao leste da ilha sul, muito fora da nossa rota). Vi algumas fotos tiradas do Lake Pukaki que pareciam mais impressionantes.... Do Lake Matheson, seguimos para Queenstown. A estrada passava por algumas paisagens bens bonitas, e um dos destaques foi um lago muito bonito, que imagino ser o Lago Wanaka. Figura III‑99: Lindo lago no caminho (Wanaka?) Fox Glacier: #imperdível Dia 28 -> Queenstown Queenstown, a capital mundial da aventura, foi o destino final da nossa expedição de carro, atravessando a Nova Zelândia de norte a sul. Não sei explicar exatamente o porquê, mas eu simplesmente amei Queenstown! Não sei se foram as cores do outono, o clima vibrante de cidade aventureira, o lindíssimo cenário das montanhas ao redor do lago Wakatipu, o centrinho muito bacana com tudo perto, gente jovem nas ruas, a simpatia do pessoal do hostel e das agências de turismo... Provavelmente um pouco de tudo isso. Só sei que Queenstown foi minha cidade favorita! Ela não é uma cidade tão pequena assim, mas tudo que você precisa está concentrado no centrinho. A vegetação com as cores de outono estava sensacional, me chamou muito a atenção. Não sei porque as folhas e flores no resto da Nova Zelândia não me chamaram tanto a atenção, talvez por Queenstown ser mais ao sul, ou por ser mais florida, sei lá... Nem o friozinho da noite, com mínimas de uns 60C, nos incomodou. No primeiro dia, fomos conhecer o Skyline. Um teleférico que vai até a montanha ao lado da cidade, oferecendo vistas belíssimas da cidade. Figura III‑100: Queenstown Para variar, lá tinha oferta de um monte de atividade, voo livre, um bungee jumping menor (o de mais de 100m fica em outro lugar), mas eu e a patroa optamos em descer de luge, aquela espécie de carrinho de rolimã que também tinha em Rotorua. Não é muito rápido, ou emocionante, tanto que grávida pode ir em problemas, mas é muito divertido. E era barato, algumas descidas já estavam incluídas no preço do teleférico. Muito bacana o passeio no Skyline de Queenstown, lindas vistas, não dá para não ir. Figura III‑101: Luge Figura III‑102: Pista do luge Depois descemos para o centro e fomos passear a beira do lago, curtindo a paisagem. De um lado fica o jardim botânico, que estava muito bonito com lindas flores e especialmente as folhas multicoloridas no outono: verde, amarelo, vermelho, vinho, laranja, um show à parte! Em 1h15, tiramos 98 fotos das folhas do outono... E, no final, ainda pegamos o pôr do sol mais bonito da viagem! Figura III‑103: Lago e Jardim botânico Figura III‑104: Folhas de outono Figura III‑105: Pôr do sol em Queenstown Queenstoown, Skyline e Luge: #imperdível Dia 29 -> Milford Sounds Milford Sounds é um fiorde que fica ao sul de Queenstown, a cerca de 4h de ônibus. Optei por fazer um day tour de Queenstown, mas também é possível ir até a cidade de Te Anau, que fica no meio do caminho, e de lá conhecer os fiordes e outras atrações. O clima na Ilha Sul, especialmente no Leste, já é meio instável em geral, mas Milford Sounds está na região mais chuvosa da Nova Zelândia, com média de 200 dias de chuva por ano! Por isso, deixei para fazer o passeio no dia com melhor previsão do tempo e comprei o tour apenas poucos dias antes. Vi muitas fotos e relatos de viajantes que pegaram tempo ruim, mas nós demos muita sorte e pegamos um céu azulzinho! No final do passeio, apareceram umas nuvens, mas o tempo lá foi excelente. O passeio em si é um pouco cansativo, com muitas horas de ônibus, saindo cedo e voltando tarde, mas achei a melhor opção. O ônibus faz algumas paradas: para comer em Te Anau e em alguns mirantes pelo caminho – uma lagoa, um riacho bonitinho e uma montanha – embora nenhum desses lugares tenha me impressionado muito. Até que, finalmente, embarcamos para um passeio pelo fiorde Milford Sounds, que é realmente muito bonito. O destaque da paisagem é uma montanha quase triangular, o Pico Mitre, que se eleva a 1700m! Logo que chegamos no píer, fomos recebidos por essa vista incrível, com Pico Mitre à esquerda. Figura III‑106: Pico Mitre em Milford Sounds Esse braço do fiorde é cercado por muitas montanhas altas e bastante inclinadas, impressionante. Também chamou a atenção as inúmeras cachoeiras deslumbrantes, que escorrem pelas encostas das montanhas até o mar. De longe, em meio a montanhas tão altas, as cachoeiras até pareciam pequenas. Mas, à medida que o barco de aproximava, começamos a ter noção do tamanho real delas. Nesta primeira foto, dá para ver ao longe a cachoeira entre as montanhas do fiorde. Perto da montanha do fiorde, a cachoeira até parece pequena. Figura III‑107: Cachoeira vista de longe Agora a mesma cachoeira vista de perto. Detalhe: tinha um barco passando na frente. Reparem no tamanhinho do barco em relação a cachoeira, e era um barco bem grande... Figura III‑108: Detalhe da mesma cachoeira da foto anterio Os barcos geralmente chegam perto de uma ou duas cachoeiras durante o passeio. O nosso barco também chegou perto de algumas cachoeiras, a ponto de molhar quem estiver no barco. Além das cachoeiras, tinham alguns animais por lá. Conseguimos ver leões-marinhos. O pessoal disse que alguns dias há pinguim, pena que não vimos…. Valeu muito a pena o passeio! Figura III‑109: Cachoeira com bastante volume d’água Figura III‑110: Milford Sounds em preto e branco Milford Sounds: #imperdível Dia 30 -> Queenstown Este dia tinha reservado para fazer alguma atividade radical em Queenstown. Tinha planejado fazer um jetboat (tem milhares de opções em Queenstown), e talvez o maior bungee jumping da Nova Zelândia, mas ele ficava meio afastado do centro de Queenstown, e acabei desistindo pelo preço do salto e do translado. Já o jetboat era bem mais barato (menos caro....), inédito para mim, era mais perto e não cobravam uma facada de translado... Jetboat é uma espécie de barco superveloz, que vai praticamente “flutuando” sobre a água e faz algumas manobras radicais, “tipo” cavalo de pau, curvas fechadas etc. Escolhi o jetboat chamado Shotover, o mais antigo da Nova Zelândia, que fica em um riozinho muito bonito. O rio é meio raso, com alguns paredões, e o piloto vai a milhão, tirando uma fina das pedras e dando cavalos de pau. Não é tão perigoso quando pode parecer lendo minhas palavras, eu diria que dá menos medo que os buggys “com emoção” do Nordeste…. Mas, ainda assim, como o barco bate bastante na água e faz algumas manobras bruscas, eles não recomendam para gestante. A parte do passeio no barco mesmo é meio rápido, dura uns 15 minutos, mas eu achei bem divertido, valeu a pena. Além do belíssimo cenário do rio e as folhas do outono! Figura III‑111: Shotover Jetboat Figura III‑112: Lindo rio e folhas de outono Figura III‑113: Outono Passamos o resto do dia no centro de Queenstown, apreciando a linda vegetação no outono dos bosques ao redor do lago. Que cidade linda! Figura III‑114: Outono em Queenstown Jetboat: #valeapena Dia 31 e 32 -> Queenstown -> Sidney –> SP Nossa passagem pela Nova Zelândia acabou, infelizmente estava acabando nossa viagem. Acordamos cedo e pegamos o voo para Sidney. Aliás, o avião passou bem perto do centro da cidade, nos brindando com lindas vistas da baía de Sydney. Figura III‑115: Sydney da janela do avião No nosso último dia de Sydney, para fechar a viagem com chave de ouro, aproveitamos para visitar novamente nossa amiga e tirar fotos noturnas da ópera e da ponte. Foram insistentes tentativas e ajustes até conseguir fotos boas, mas valeu a pena! Figura III‑116: Ópera de Sydney Figura III‑117: Sydney Harbour Bridge T No dia seguinte, iríamos sair às 18h30 de Sydney, e depois de 16h de voo, chegaríamos 19h55 do mesmo dia em Buenos Aires! Haja fuso horário, reembarcamos na máquina do tempo: passamos 16h no avião, saindo às 18h30 e chegando às 19h55 no mesmo dia... Para depois finalmente chegar em São Paulo. Ufa, terminou, e que viagem inesquecível! O que eu acertei e o que eu faria diferente: Oceania Tínhamos programado fazer uma grande viagem antes de ter filhos, e o roteiro não poderia ter sido melhor. Tiveram várias atrações naturais incríveis e das mais variadas, desde praias paradisíacas até montanhas nevadas, glaciares, fiordes, animais diferentes e áreas geotermais! Mas também tiveram atrativos mais urbanos e culturais, conheci cidades espetaculares como Sydney e Queenstown, e a autêntica e única cerimônia N’gol de Land Diving. E teve fortes emoções com o bungee jumping e, principalmente, o melhor passeio da vida, o Vulcão Monte Yasur em Vanuatu!!! Eu achei a Austrália bem bacana, é um país fantástico. Sydney deve ser uma das melhores cidades do mundo para morar! Mas em termos de turismo, algumas atrações me pareceram um pouco overrated, e é um país caro. Comparando com o dólar americano, o dólar australiano era um pouco mais caro, enquanto o dólar neozelandês era um pouco mais barato. Na época que eu fui, o dólar americano era aproximadamente R$ 2,00, o dólar australiano ($AUS) era R$ 2,10, e o dólar neozelandês ($NZL) era R$ 1,75. Acabei optando por conhecer bastante o Queensland, pela beleza e pela logística: é relativamente acessível de Sidney (voos curtos e baratos) e tem muita opção desde praias e, claro, a Grande Barreira de Corais! Achei imperdível Sydney, os exóticos animais australianos, a Grande Barreira de Corais e Whitehaven beach. Quanto às outras praias, são bonitas, mas não tão especiais para quem mora em um país como o Brasil.... Curtimos as praias, só não acho que vale a pena gastar muito dinheiro e muitos dias de férias para conhece-las. Se eu fosse refazer o meu roteiro, não incluiria toda aquela parte de Brisbane. Townsville foi um erro para quem procurava um passeio raiz diário até a Grande Barreira de Corais. Era melhor ter ido para Cairns, ou algum ponto ao sul de Airlie beach. Nas minhas pesquisas sobre a Austrália, vi muitos atrativos interessantes, além das que visitei nesta viagem. Para o meu gosto, Ningaloo reef (especialmente na época de mergulho com tubarões-baleia) e Ilhas Christmas parecem muito bacanas, mas ficam muito longe, a logística é muito complicada, passagens caríssimas, tiveram que ficar para uma próxima oportunidade... Também pesquisei sobre Uluru, Perth, Melbourne e os 12 apóstolos, Blue Mountains, vinhedos e Tasmânia, no geral, me pareceram #legalzinhos, mas também decidi não ir por causa da logística/custo. Trekking, especialmente na Tasmânia, parece ser bacana para ver a fauna australiana livre na natureza (cangurus, coala, e, com sorte, até ornitorrinco), mas, na falta de tempo e dinheiro para fazer trilhas atrás deles, vale a pena ir nos zoológicos australianos mais iterativos, muito bacana também. Antes de avaliar o roteiro na Nova Zelândia, permita-me fazer um comentário bem maldoso: a Nova Zelândia não é um país de atrativos “únicos” ou exclusivos. É difícil algo que você só encontre lá, ou que lá seja o melhor do mundo. Tem um belo vulcão ativo, White Island, que é legal, mas não é o vulcão mais legal do mundo. Milford Sounds é um belo fiorde, mas não tão belo quanto os da Noruega. Tem parques geotermais sensacionais, a Lagoa Champagne, mas não tão marcantes quanto Yellowstone. Tem belos glaciares, mas não tão belos quanto o Perito Moreno. A Nova Zelândia tem belas montanhas, lagos, praias, cidades, esqui no inverno, cultura dos maoris, bons vinhos, trekkings para todos os gostos, mas nada disso pode-se dizer que é o mais belo do mundo... Até o bungee jumping, que eles inventaram (inspirados na tribo N’gol), já tem outros maiores e mais radicais mundo afora. Ainda assim, eu adorei a Nova Zelândia! Acho que o destaque é a variedade, talvez nenhum outro país do mundo tenha tanta diversidade de paisagens a uma distância relativamente pequena. Considero que este é o diferencial da Nova Zelândia: tem muita coisa diferente, para agradar todos os gostos, especialmente (mas não apenas) quem gosta de aventuras e ecoturismo em um país muito receptivo e com uma cidade sensacional como Queenstown! Se eu fosse mudar algo no meu roteiro pela Nova Zelândia, seriam poucos detalhes. Hoje, eu acrescentaria uma visita ao Lago Pukaki, aquele que aparentemente tem lindas vistas do Monte Cook do lado leste. E, se não fosse a gravidez, teríamos feito a trilha principal no Tongariro National Park. Quanto à logística, na época eu não encontrei bons voos da região de Taupo para Queenstown, acabamos indo de carro e ficou meio pesado esse trecho. Hoje, eu buscaria um voo de Taupo ou Rotorua até Queenstown ou Christchurch. Ainda há muitos atrativos na Nova Zelândia que eu não conheci. O país oferece trekkings para todos os gostos, passeios para os fãs do filme Senhor dos Anéis e praias bacanas, a mais famosa é a Catedral Cove. Além das belezas naturais, tem algumas cidades bacanas, bonitas, bem-organizadas, mas sem grandes atrativos turísticos. Por fim, vou deixar o link de dois sites muito bons sobre as atrações da Nova Zelândia e Austrália (Ref. 6), e no capítulo I tem mais algumas referências que me ajudaram a montar meu roteiro. Mas sem dúvidas Vanuatu foi o ponto mais alto da viagem! Se eu fosse planejar novamente a viagem, reduziria alguns dias de Austrália e Nova Zelândia e colocaria muito mais tempo em Vanuatu. Acrescentaria uns 3 dias na Ilha de Santo, maior ilha de Vanuatu. Ela tem provavelmente as praias mais bonitas de Vanuatu (Champagne, lonnoc beach, Port Olry), e tem excelentes pontos de mergulho, com naufrágios da Segunda Guerra Mundial (SS President Coolidge e Million Dollar Point). Tem um passeio com uma caverna que tem cachoeira, cânion e morcegos no meio da floresta chamada Millenium cave, além de rios que formam vários blue holes cristalinos. Acrescentaria também uma visita à ilha de Ambrym, onde tem outro vulcão ativo, dois vulcões “gêmeos”, na verdade! Só descobri esses vulcões depois que voltei. Em 2013, ainda havia o lago de lava, que secou após uma erupção em 2018, e eu acabei perdendo essa oportunidade! Além disso, apenas um dia em Tanna foi arriscado, o ideal era ficar mais um dia lá e pelo menos mais um dia explorando a ilha de Efate. Além das atrações naturais e culturais únicas, Vanuatu tem um povo é fantástico, muito receptivo e acolhedor, apesar das condições humildes. Não quero criar muita expectativa, não, mas Vanuatu me conquistou! Quem sabe um dia eu volto lá. A melhor época para visitar esses destinos varia. Na Austrália, especialmente em Queensland, a primavera e o início do verão oferecem clima agradável, com menos chuvas e fora da época das águas-vivas mortais no norte do estado. Fomos em março-abril e, apesar das águas-vivas mortais (que nem atrapalharam muito), foi tranquilo, tivemos dias ensolaradas, algumas nuvens e pouca chuva. Em Vanuatu, se você quiser ir na cerimônia N’gol, tem que ir entre abril e junho. Evite novembro a abril, que é a época mais chuvosa. Nós fomos em abril e, embora tenha chovido um pouquinho em um dia, foi tranquilo. Entre junho a setembro, o clima é mais fresco e sem chuva, possivelmente a melhor época. Na Nova Zelândia, as estações são mais bem definidas, e para as atrações que visitei, o outono foi uma ótima escolha. Valeu Oceania, Austrália, Vanuatu e Nova Zelândia. Agora é hora de contar como foi a busca pelos vulcões mais incríveis na África, e algumas de suas atrações surpreendentes! Ranking das atrações Eu sempre gosto de ressaltar que são julgamentos extremamente pessoais, obviamente o que eu achei imperdível pode ser chato para caramba para outras pessoas.... Enfim, segue meu ranking: 1 – Monte Yasur, Vanuatu 2 – Cerimônia Land Diving N’gol, Vanuatu 3 – Bungee Jumping (Taupo) 4 – Grande barreira de corais 5 – Whitehaven beach 6 – White Island 7 – Praias Efate, Vanuatu 8 – Queenstown 9 – Milford Sounds 10 – Parques termais Rotorua (Waimangu e Wai-o-tapu) 11 – Sydney 12 – Zoo Austrália 13 – Fox Glacier A trilha do Tongariro e talvez as vistas do Monte Cook do Lago Pukaki tinham potencial para estar nesta lista... ----------------------------------------------------------------------------- Pessoal, lembrando que eu postei quase todo o Capitulo III do livro/ebook (só reduzi algumas fotos pra adaptar ao fórum), exceto o relato dia a dia da Austrália. Todos os capítulos, de cada continente, seguem esse formato. O relato completo da Austrália está inteiramente grátis na amostra do e-book na Amazon. Basta pesquisar o livro no amazon.com.br, e selecionar a opção para ver ou baixar a amostra do livro. Para quem quiser conferir, amostra grátis cobre os primeiros 10% do livro, incluindo os capítulos introdutórios, onde conto como começou meu fascínio por vulcões ativos, falo um pouco sobre os diversos tipos de vulcões e de erupção, e explico as razões pelas quais escolhi os vulcões que visitei. Também já postei aqui no mochileiros o capitulo VI quase inteiro, Guatemala, México e Panamá. Quem quiser ver o relato completo das viagens pelos outros continentes está no livro Destino Vulcões no amazon.com.br! Sinopse do livro: Nesta obra, compartilho minhas aventuras em busca dos vulcões mais espetaculares do planeta. É um relato pessoal de mais de 90 dias de viagens, ao longo de 10 anos, explorando 15 países em 6 continentes, ilustrado com fotos e vídeos do próprio autor. Expressões absolutas da força da natureza, os vulcões fascinam na mesma medida em que amedrontam. Quem já assistiu a uma erupção com lava pode confirmar que os vulcões oferecem uma das cenas mais impressionantes da natureza. E não é preciso ser um aventureiro radical para explorar esses destinos — basta estar disposto a viver experiências inesquecíveis. Além de paisagens vulcânicas impressionantes, descobri culturas vibrantes e outras belezas naturais que tornaram essa jornada ainda mais enriquecedora. Convido você a me acompanhar nessa aventura, repleta de histórias fascinantes e paisagens deslumbrantes ao redor do mundo. Capa: