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  1. Bom dia, meu primeiro post em um fórum, acredito não dominar tão bem ainda 😅 Primeiramente estou buscando informações sobre contatos, trajetos, valores, com pessoas que já tenham atravessado a fronteira com o Peru pelo Acre (via Assis Brasil - Anãpari) mais recentemente. Farei uma viagem em maio de 2024 pra Cusco, e irei realizar esse trajeto, mesmo ciente de que há a TransAcreana que já faz essa rota (Brasil-Peru). Estou coletando esses dados para poder ter uma melhor compreensão de todo o trajeto e me preparar para essa viagem, sei que sua ajuda será de grande valia, e prontamente em meu retorno, deixarei um post atualizado com todas as informações sobre. Agradeço novamente pelo seu tempo.
  2. Resumo: Itinerário: La Paz (Bolívia) → Copacabana → Puno (Peru) → Cuzco → Águas Calientes → Lima Período: 03/01/1998 a 11/01/1998 03/01: La Paz (Bolívia) 05: Copacabana (Bolívia) 05: Puno (Peru) 07: Viagem de Trem de Puno a Cuzco 08: Vale Sagrado 09: Machu Picchu 10: Lima (Peru) 11: São Paulo Ida: Voo de São Paulo a La Paz pela Varig (posteriormente incorporada pela Gol), com escala em Santa Cruz de la Sierra. Volta: Voo de Lima a São Paulo pela Varig, com escala em Santa Cruz de la Sierra. Se me recordo, paguei com milhas do Programa Smiles. Considerações Gerais: Não pretendo aqui fazer um relato detalhado, mas apenas descrever a viagem com as informações que considerar mais relevantes para quem pretende fazer um roteiro semelhante, principalmente o trajeto, acomodações, meios de transporte e informações adicionais que eu achar relevantes. Nesta época eu ainda não registrava detalhadamente as informações, então pousadas, hotéis e meios de transporte poderão não ter informações detalhadas, mas procurarei citar as informações de que eu lembrar para tentar dar a melhor ideia possível a quem desejar repetir o trajeto e ter uma base para pesquisar detalhes. Depois de tanto tempo os preços que eu citar serão somente para referência e análise da relação entre eles, pois já devem ter mudado muito. Sobre os locais a visitar, só vou citar os de que mais gostei ou que estiverem fora dos roteiros tradicionais. Os outros pode-se ver facilmente nos roteiros disponíveis na internet. Os meus itens preferidos geralmente relacionam-se à Natureza e à Espiritualidade. Informações Gerais: Foi minha primeira viagem internacional (este é meu último relato retroativo). Devido a isso, com total inexperiência, fiz várias escolhas inadequadas. Tudo era novo para mim. Havia ocorrido cerca de um ano antes o sequestro na embaixada do Japão pelo Grupo Túpac Amaro, que culminou com a invasão pelas forças de segurança, a mando do Presidente Fujimori, terminando com os sequestradores mortos e com um juiz oposicionista morto também. Por isso o clima parecia um pouco tenso. Em toda a viagem só houve sol ☀️. Porém a temperatura esteve baixa em várias ocasiões, chegando a cerca de 6C à noite nos locais mais altos. Além disso a incidência de ultravioleta causou-me queimaduras que se somaram às queimaduras provocadas pelo frio. Isso causou dores, principalmente no rosto. Sofri bastante com a altitude, principalmente em La Paz, que foi o local de chegada, sem nenhum tipo de aclimatação anterior. No primeiro dia cheguei a deitar num banco numa praça, devido ao mal-estar. A população de uma maneira geral foi muito cordial e gentil 👍. Fui muito bem tratado em toda a viagem, com raras exceções. Houve um problema com um guia que me vendeu uma estadia num hotel em uma outra cidade, que aparentemente era fraudulenta. Perdi o dinheiro correspondente. Não tive grandes dificuldades com a língua, mas em alguns locais, principalmente no Peru, nem sempre conseguiram me entender. As paisagens e itens ao longo da viagem agradaram-me muito, com montanhas, lagos, ilhas, campos, floresta, monumentos, museus e outros . Especialmente gostei dos Andes, com suas altas montanhas cobertas de gelo, do Vale Sagrado, em particular de Pisac, do Lago Titicaca e de Machu Picchu. Viajei de ônibus e de trem. Achei as estradas bem razoáveis, porém com algum perigo, dada a altitude. A viagem teve alguns episódios complicados, como um assalto 🗡️ a uma passageira no trem e um atendimento armado um pouco ostensivo dos guardas da estação. Mas não sofri nenhum tipo de violência. Gostei da comida local, mas num dos locais, talvez devido ao tempero, acho que acabei contraindo algo que me deu um desarranjo estomacal, já perto do fim da viagem. Achei os preços na Bolívia e no Peru consideravelmente mais baixos do que no Brasil. Levei um cartão pré-pago do Banco de Boston com US$ 500.00. Se me recordo, ainda sobrou dinheiro. Um rapaz que conheci numa festa de casamento 6 meses antes falou-me de uma viagem semelhante que tinha feito e isso, além de me motivar a fazer a mesma, deu-me uma ideia do roteiro a seguir. Eu planejei esta viagem de apenas 1 semana porque só tinha este período de folga, visto que estava no meio de um projeto. Acho que o ideal teria sido durar pelo menos 2 semanas, para ver o desejado com calma. A Viagem: Fui de SP a La Paz no sábado 03/01/1998. Saí cerca de 9h da manhã e cheguei na hora do almoço, dado o fuso horário de 1h, mesmo com uma escala em Santa Cruz de la Sierra. No voo havia duas moças, creio que com idade próxima a 18 anos, conversando animadamente. Uma delas mudou de lugar e na parada em Santa Cruz ou próximo, uma delas pediu para chamar a outra que dormia no banco na minha frente. Eu chamei várias vezes, toquei no braço e no ombro dela, mas ela não acordou de jeito nenhum, o que surpreendeu a amiga. Foi a primeira vez em que eu vi neve ao vivo. Ver as montanhas cobertas de neve 🗻 janela do avião emocionou-me. Lembrou-me dos filmes e fotos que tinha visto. Para as atrações de La Paz veja https://pt.wikipedia.org/wiki/La_Paz, https://viagemeturismo.abril.com.br/cidades/la-paz/ e https://vidasemparedes.com.br/la-paz-bolivia-o-que-fazer/. Os locais de que mais gostei foram os monumentos, a arquitetura histórica, as montanhas, os parques, as igrejas e o Vale da Lua. Após desembarcar em La Paz, fui muito bem tratado pelos funcionários e militares. Peguei um táxi para o centro. O motorista chamava-me de Mister. Se me recordo, cobrou-me algo como 5 ou 6 bolivianos, que acho que correspondiam a cerca de 1 dólar. Muito menos do que o mesmo trajeto em São Paulo. Era um táxi estilo lotação, então fomos pegando passageiros ao longo do caminho. Pelo preço cobrado dos outros percebi que paguei bem mais do que a média, mas para um trajeto mais longo. Após uns 45 minutos chegamos ao centro, onde pedi para ficar para procurar por hotéis. Fiquei num hotel na região central. Achei o hotel bem razoável. Após deixar a bagagem saí para dar um passeio. Primeiramente fui por áreas um pouco mais altas, não tanto ao centro. Fiquei com vontade de ir ao banheiro e não sabia como se falava em espanhol (era baño). Perguntei a algumas pessoas, mas elas não entendiam a palavra. Numa igreja, já bem apertado, pedi ao atendente, que também não entendeu. Então tentei explicar, “é algo quando se está com necessidade”, mas ele me perguntou de volta “tem necessidade de que?”. Acho que ele pensou que eu estava com algum problema espiritual, emocional ou financeiro 😄😄😄. Não me lembro exatamente onde, mas consegui um banheiro em seguida. Após andar cerca de 2h, o que para mim é muito pouco, comecei a me sentir fraco, com mal-estar. Numa praça, sentindo-me um pouco tonto, deitei no banco, No início não entendi bem o que estava acontecendo, mas depois imaginei que fosse devido á altitude. Eu que sempre fui bastante crítico com a Seleção Brasileira e mesmo com os times brasileiros que não conseguiam jogar bem em La Paz, senti na carne o que era a altitude. Atualmente eu perdoo qualquer derrota em La Paz 😄. Depois de algum tempo, melhorei um pouco. Resolvi não ir visitar mais nada, mesmo porque já estava anoitecendo. Voltei ao hotel, descansei deitado mais um pouco e só saí para jantar. À noite a temperatura caía e a cidade parecia muito bela No domingo 4 de janeiro, desci para tomar o café da manhã e perguntei ao garçom se conhecia algo que pudesse ajudar em relação à altitude, pois achava que estava me fazendo mal. Ele prontamente disse que sim e que iria me trazer um mate de coca 🍵. Tomei o mate. Parecia um chá comum, com gosto de folhas. Mas acho que resolveu tudo 😄. Algum tempo depois, o médico Jessé, da Medicina do Viajante do Hospital Emílio Ribas, esclareceu-me que o chá de coca age apenas nos sintomas e não nas causas. Já bem melhor, saí para dar uma volta na cidade. Achei-a muito bonita. Ao longo dos 2 dias visitei por fora palácios do governo, monumentos históricos relativos á independência da Espanha, museus, igrejas maiores e históricas, centros culturais, a torre de telecomunicações, alguns parques e áreas verdes. E também andei por locais comuns da cidade, para conhecer sua gente real. Não conhecia Brasília (aprender na escola e ouvir ou ver pela TV é bem diferente de estar no local) nem outros locais do mundo. Ao ver a proximidade do parlamento, do palácio presidencial e da sede do governo local, achei que aquilo justificava a enorme quantidade de golpes de estado que a Bolívia sofria ao longo do tempo, pois tomando-se a praça, praticamente dominava-se o país. Mas depois descobri que esta arquitetura é comum em muitos estados e países, incluindo o Brasil, pois imagino que facilita a intercomunicação entre os poderes. No domingo à tarde peguei um ônibus para o Vale da Lua. Achei-o muito belo . Realmente a área montanhosa e seca parecia com as fotos da superfície lunar, só que não era branco, mas marrom claro. Não usei protetor solar, pois não estava quente e o sol não parecia muito forte. Isso foi um grande erro , pois devido á atmosfera leve, os raios ultravioleta penetraram mais. Com isso acabei tendo queimaduras dolorosas no rosto . Numa das noites, se me recordo no domingo, fui a um restaurante típico, comi truta (naquela época eu tinha voltado a comer carne) e tomei vinho (acho que era do Porto). Adorei a comida 😋. Até perguntei se era possível mais um cálice de vinho, que o dono me deu de cortesia. Estava bem, sem nenhum sintoma da altitude. A temperatura estava um pouco baixa (para um paulistano), creio que entre 10C e 15C. Na 2.a feira, 05/01, fui pegar um ônibus em direção ao Peru logo de manhã. Entrei num bar para pedir informações e foi a única vez em que não fui tão bem tratado. Não sei se o bar era algum ponto de negócios restritos. Um dos aparentes clientes perguntou-me de modo um pouco rude o que eu desejava. Mas rapidamente o atendente do bar respondeu minha pergunta e disse ao cliente que eu não era boliviano, o que pareceu acalmá-lo. Encontrei o ponto de saída dos ônibus e embarquei para Copacabana (https://pt.wikipedia.org/wiki/Copacabana_(Bol%C3%ADvia), na fronteira com o Peru. Achei a viagem magnífica, com paisagens espetaculares das montanhas dos Andes . Porém achei as estradas perigosas. O ônibus passava ao lado de precipícios e já era um pouco antigo. Ao ver uma inscrição em um muro ou similar "Paquenle vive (ou um nome semelhante)", perguntei a um passageiro quem era Paquenle e ele me contou que era um líder das camadas populares que havia sido morto. Na travessia de um rio ou lago (acho que era rio) um soldado do exército boliviano pediu para verificar meu passaporte, o que me surpreendeu. Mas não houve problemas. Tratou-me bem. Chegamos a Copacabana (com altitude semelhante à de La Paz), que pelo que me informaram deu origem ao nome da praia brasileira, perto da hora do almoço. Aproveitei para dar um rápido passeio pela cidade. A vista do Lago Titicaca pareceu-me magnífica . A cidade, em si, pareceu-me muito simpática, pequenina. Fiquei algum tempo andando pelas margens do lago, na área central e o admirando. Mas logo partimos para Puno, já do lado peruano. Acho que foi no almoço em Copacabana que conheci um indígena peruano que conhecia bem o Brasil (falou-me do carnaval no Rio de Janeiro, Recife, Ouro Preto – conhecia o Brasil melhor do que eu na época). Eu estava procurando um meio de ir de Cuzco a Lima por via terrestre e ele me disse que não havia, pois teria que cortar as montanhas e a selva amazônica. Fiquei um pouco decepcionado com a informação, mas gostei de conhecê-lo. Pegamos um ônibus operado por peruanos. Havia vários brasileiros no ônibus, de várias partes do Brasil e também estrangeiros de fora da América do Sul. Conversamos um pouco para compartilharmos experiências. Na fronteira com o Peru, fizemos os procedimentos e entrada. Até que não foi demorado e transcorreu sem problemas. Acho que pouco após, uma patrulha nos parou na estrada, para algum tipo de fiscalização. Parece que havia alguma mercadoria irregular (acho que era algum eletrônico, como uma TV por exemplo). Depois de muita conversa (e não sei se com algum ilícito), os envolvidos entraram correndo no ônibus e rindo disseram, vamos embora logo (acho que pensando, antes que mudem de ideia). Numa das paradas, Samuel, que era guia turístico viu meu cartão pré-pago. Chegou a pegá-lo e fez brincadeiras com ele, dizendo que ali o importante era ter a senha. Aí acho que se interessou em me vender serviços. Sentou-se do meu lado parte do caminho seguinte e veio me falando das atrações de Puno, do Peru, das suas experiências como guia, de dias de saída dos trens etc. Foi interessante, mas perdi parte da paisagem por isso. Aliás, a paisagem pareceu-me novamente magnífica, com montanhas, lagos e vegetação . Chegamos a Puno (com altitude semelhante à de La Paz) no fim da tarde. Fiquei hospedado no hotel mais simples que encontrei, por indicação do guia Samuel, o Hotel San Antonio. Alguns estrangeiros despediram-se e foram rumo a Arequipa. Eles falaram também das Linhas de Nazca, que nesta ocasião ouvi pela primeira vez. Para as atrações de Puno veja https://www.peru.travel/pt/destinos/puno, https://wikitravel.org/en/Puno e https://es.wikipedia.org/wiki/Puno. Nesta viagem e nestes dias conheci um paraguaio e um italiano, que também estavam indo para Machu Picchu, alguns outros brasileiros e alguns outros americanos e/ou europeus. O paraguaio inclusive divertiu-se pelo fato de eu não lembrar do nome do hotel em que estava hospedado quando falava com os guias para combinar os passeios 😄. Na 3.a feira 06/01, depois de me certificar que não havia viagens de trem para Cuzco, resolvi fazer uma excursão para as ilhas de totora e para a Ilha Taquile (https://www.civitatis.com/br/puno/excursao-ilhas-uros-taquile/ - não usei esta agência, só a coloquei por ser a mesma excursão). De início houve um pequeno mal-entendido, quando o guia perguntou quem iria “se quedar” na ilha. Eu entendi que significava quem iria descer na ilha, mas ele estava perguntando quem iria dormir na ilha. Mas rapidamente foi desfeito o mal-entendido, após um pouco de riso e certa decepção por parte do guia por eu não ter entendido. O mesmo guia, que também parecia conhecer bem a história local, citou o termo Pacha Mama (Mãe Terra), que pela primeira vez eu ouvia e de cujo conceito passei a gostar muito. Inicialmente fomos até uma ilha flutuante de totora, a Ilha de Uros (https://dicasperu.com.br/peru/ilhas-de-uros-no-peru/). Totora é uma planta parecida com bambu ou junco. As pessoas vivem nela, fazendo suas casas lá, pelo que entendi. Interessante ver como a ilha flutua e se move. Fiquei imaginando como enfrentariam uma tempestade. De qualquer modo, não houve nenhum problema de estabilidade enquanto estávamos lá. Eles pareciam muito bem adaptados a viver daquele modo. E eram bastante gentis com os visitantes. Suas casas, se me recordo, feitas do mesmo material, pareceram simples, mas resistentes. Depois partimos para a Ilha Taquile (https://www.portalsaofrancisco.com.br/turismo/ilha-de-taquile), como estava acostumado, ligada ao solo por rochas e terra. Lá tivemos uma boa subida até chegar ao povoado. Como sempre, eu costumo ir no fim da turma e fui conversando com o barqueiro, que era indígena. Ele me falou um pouco dos costumes do seu povo. Falei que tinha tomado chá de coca e depois tinha melhorado muito o mal-estar com a altitude. E perguntei sobre a espiritualidade para seu povo, dizendo que eu gostava de experiências espirituais. Após um tempo, ele entrou no meio do mato e voltou pouco tempo depois com algumas folhas 🍃, cujo nome exato não me lembro, mas era algo parecido com “munha ou muña”. Disse que eles mascavam. Gostei da ideia e resolvi experimentar, pensando que talvez pudesse usar para alguma experiência de expansão de consciência. Ela teve efeito anestesiante na minha boca, e como se fosse um calmante natural. Não me parecia o sabor de menta nem hortelã. Parecia realmente sabor de folha. Algum efeito psicoativo calmante ela teve sobre mim, incluindo corpo e mente. Após chegarmos, pude contemplar a vista lá de cima, que me agradou muito . As construções típicas também me pareceram muito interessantes e preservadas. A ilha pareceu-me grande, mas o povoado em si nem tanto. Almoçamos no restaurante indicado pelo guia, que disse já ter tido problema com outros. Talvez ele recebesse algum tipo de comissão do restaurante ou tivesse alguma ligação com ele. Durante o almoço conversei bastante com um casal de peruanos que estava junto na excursão e com 2 amigas argentinas. Quando surgiu a questão de Foz do Iguaçu, os peruanos até brincaram e disseram que iriam me consultar sobre o assunto, pois era uma questão também brasileira 😄. Depois do almoço e de apreciar bastante a vista e explorar a simplicidade do povoado, voltamos. Lá embaixo pegamos o barco de volta. Parecia estar sendo formada uma enorme tempestade, mas que acabou não nos atingindo. O peruando falou de como gostava das novelas brasileiras. Comentou comigo de “El Rey del Ganado”, de que ri 😄, por ter ouvido pela primeira vez em espanhol. Falou do Peru e de como sua mulher tinha ficado mal impressionada ao chegar a Puno à noite, desejando partir imediatamente. Comentou também que achava que os europeus pensavam que todos os peruanos eram como aquele índio que era nosso barqueiro. Respondendo a uma pergunta minha, disse que achava que Fujimori tinha feito um bom trabalho, mas que era hora dele sair do poder. Se me recordo foi neste retorno que uma peruana me falou que era de uma cidade no meio do caminho entre Cuzco e Lima (acho que o nome era parecido com Junin) e que existia um caminho de Cuzco a Lima por via terrestre passando por lá, que muito poucos conheciam, mas se precisava passar pela selva amazônica (eu não conhecia a Amazônia ainda) e talvez por território do Grupo Sendero Luminoso. A estimativa de duração era de 13h ou 18h de viagem. Chegamos (o percurso de volta durou cerca de 3 a 4h) e o guia Samuel me esperava. Tudo que ele tinha dito tinha sido verdade e o pagamento do hotel, que eu tinha feito diretamente para ele, foi feito corretamente para o hotel. Pesquisei outros preços e realmente aquele era o mais barato. E para mim as condições de habitação eram bastante aceitáveis. Ele me falou então, que reservaria um hotel para mim em Cuzco. Como estava previsto para eu chegar tarde, eu acabei aceitando, por achar que iria facilitar minha vida. Mas foi um grande erro . Paguei e ele me deu um suposto voucher. Ainda dei uma pequena gratificação a ele, no valor de cerca de metade da diferença de preço entre o hotel em que eu tinha ficado e o 2.o hotel mais barato, como forma de recompensá-lo pela indicação. Ele riu, surpreso, e agradeceu. Nos 2 dias que fiquei em Puno ainda pude dar um passeio pela cidade e ver suas construções históricas, igreja, monumentos e acho que até uma área antiga preservada. Fui a uma agência de turismo perguntar como poderia ser o trajeto de Cuzco a Lima e, depois de algumas frases, que a agente peruana não compreendeu bem e de algumas que eu não entendi, ela me perguntou “Do you speak Engish?”. Fiquei decepcionado 😔. Estava tão feliz porque as pessoas estavam me entendendo em espanhol. Tanto que respondi meio contrariado que sabia falar inglês, mas preferia falar espanhol. Ela nada falou, mas deve ter pensado “Então por que não aprende?” 😄. Na 4.a feira, 07/01, fui dar uma rápida volta em um ponto que não tinha conhecido antes de pegar o trem. Novamente, após me fazerem uma pergunta e eu não entender, ao ouvirem minha resposta de “Perdón?”, argentinos desistiram de falar comigo. Eu que achava que estava indo relativamente bem em espanhol até ali, comecei a mudar de ideia. Peguei o trem para Cuzco, por volta de 8 ou 9h da manhã. Esta foi uma das partes mais complicadas da viagem. Mas simultaneamente teve algumas das paisagens mais espetaculares, cruzando os Andes . Inicialmente o vagão em que fiquei, que era da 2.a classe, estava tranquilo, com alguns lugares vagos. Mas começaram a chegar pessoas com muitas mercadorias. Uma mulher, de uns 60 a 70 anos, disse em voz alta reclamando, que era um vagão de contrabandistas. Realmente era difícil andar nos corredores, pois encheram tudo com mercadorias. Além disso entraram vários vendedores ambulantes. Lembro-me de uma moça que falou quase a viagem inteira “água de manzana, gaseosa, papas, papas fritas”. Num dado momento, já depois de muito tempo nossos olhares cruzaram e ela pareceu me pedir desculpas com o olhar, ao que eu respondi também com o olhar e com um leve sorriso, que não havia problema nenhum, eu entendia que ela estava trabalhando para sobreviver. O casal de peruanos e as argentinas também pegaram o mesmo trem, porém num vagão à frente. Muitas outras pessoas entraram ao longo do percurso inicial e já não era possível se mexer muito no trem. Eu troquei de lugar com uma menina, da mesma família da mulher que havia reclamado anteriormente. Deixei-as ficar na janela, sob a condição que deixasse a persiana aberta, para eu pode admirar a paisagem. Num determinate trecho mostraram-me gêiseres, que eu iria perder, por estar olhando para o outro lado 👍. No meio do caminho, paramos para trocar de locomotiva. Acho que para subir a serra era necessário um motor com mais potência do que o da nossa. Após a outra locomotiva chegar, provavelmente com o trem vindo de Cuzco para Puno, trocamos e prosseguimos. Num dado momento a matriarca da família com quem eu viajava abaixou a persiana, devido ao sol, que parecia incomodar. Aí eu pedi meu lugar de volta e abri uma pequena fresta por onde podia observar a paisagem. Mas o neto/a (eu acho) dela, sorriu e levantou um pouco a persiana, para que eu pudesse ver melhor. Em outro episódio passou um menino tocando um instrumento e pedindo dinheiro. Sugeriram-me para dar não mais do que 1 Sol (a moeda do Peru na época). Após andar algum tempo, vi aparecer um rapaz na porta entre o nosso vagão e o vagão de trás. Ele parecia ter algo no olho, como sangue. Mas acho que eu estava meio anestesiado pela paisagem e pela viagem e não percebi direito o que estava acontecendo. Havia um casal de holandeses na mesma fila de trás, do outro lado do corredor. Acho que ao parar de olhar a paisagem e olhar para ele, chamei a atenção da moça holandesa. Ela virou-se para ele e, quando viu seu olho coberto de sangue, deu um grito bem alto, que alarmou todo o vagão. O rapaz então acho que se assustou e saiu correndo pelo corredor para o vagão da frente. No caminho tropeçou em algo e caiu parcialmente ao lado do moço holandês, deixando uma mancha de sangue em sua jaqueta. Ele passou o corredor inteiro correndo e foi para o vagão da frente, em direção à primeira classe. Logo em seguida apareceu na porta do fundo do vagão, por onde o rapaz tinha entrado, uma mulher baixa, com uma faca de cozinha pequenina na mão, gritando “Filho da p”, A senhora que estava do meu lado levantou e se dirigiu a ela perguntando o que estava ocorrendo. Ela falou muito rapidamente, em espanhol misturado com o dialeto local, eu acho, mas aparentemente tinha sido uma tentativa de assalto ou uma briga. A mulher prosseguiu com a faca na mão atrás do rapaz em direção à primeira classe. Pouco tempo depois passa um homem também correndo atrás da mulher e também vai para a primeira classe. A situação aparentemente acalmou-se. Cerca de uma hora depois o trem parou em uma estação de apoio e vimos um enorme contingente de pessoas sair do vagão da primeira classe. Imagino que o primeiro rapaz havia sido preso. O trem ficou parado por algum tempo enquanto conversavam ou faziam os procedimentos policiais. Como consequência, os donos das mercadorias desceram do trem. Acho que ficaram com medo, após o possível assalto. Voltamos a ter bastante espaço livre. Fui para o vagão da frente e encontrei o peruano, que me disse que o que tinha acontecido fora uma tentativa de roubo. Que o rapaz tentou roubar algo da mulher e esta lhe deu uma facada. Ele parecia assustado com a situação, principalmente por estar com sua mulher. O trem voltou a andar rumo a Cuzco. Já estávamos bem atrasados. As paisagens continuavam agradando-me muito , no meio das montanhas, mas começou a anoitecer e ficou mais difícil apreciá-las. Quando estávamos quase chegando, eis que o trem pára repentinamente, no meio de um local deserto, entre as montanhas. Imediatamente achamos que havia algo muito errado. Fui lá ver o que estava acontecendo. O peruano perguntou se queria ir com ele lá fora e fomos. Chegando lá vimos 2 homens cavando e outro observando. Perguntei a eles qual era a situação e me disseram que havia ocorrido um deslizamento de terra. Não eram funcionários. Eram passageiros, turistas como nós. Ofereceram-me uma pá para cavar, mas eu não quis pegá-la e voltamos ao trem para explicar às outras o que tinha ocorrido. Fomos contar para as argentinas, que estavam dando risada do fato de eu estar com camisa e mangas curtas naquela temperatura (acho que cerca de 10C ou menos). O perunao me disse “Que aventura esta viagem!”, com conotação negativa, pois estava preocupado com sua mulher. Repentinamente chegaram vários veículos, van, táxis, etc e disseram que levariam quem desejasse mediante pagamento. A matriarca da família com quem havia sentado, disse que precisava ser avaliado quantos ficariam no trem, pois se fossem poucos, poderiam sofrer assalto. Decidi então ir, como fez a maioria. Dividimos uma van até a estação de trem de Cuzco. Lembro-me da holandesa falando para combinarmos o preço na saída, de modo que não houvesse problemas na chegada. Outros veículos turísticos estavam procurando especificamente por japoneses que tinham ficado de pegar na estação. Samuel, o guia de Puno, tinha me dito que Genaro Amani (ou um nome semelhante) iria me esperar na estação e que deveria dar o voucher do hotel a ele. Mas agora com todo aquele atraso e aquela confusão, eu achava que tinha perdido o encontro e o dinheiro pago no voucher. Eram cerca de 20h. Se me lembro devíamos ter chegado por volta de 18h. Bati na porta da estação, que estava fechada, para ver se havia alguém lá que pudesse dar informações. Um militar abriu uma pequena janelinha na porta e colocou a ponta de uma metralhadora 🔫 para fora, na minha cara, perguntado em espanhol o que eu queria. Nesta hora, com o susto, falei em português. Ele percebeu que eu era estrangeiro, baixou imediatamente a metralhadora, abriu a porta da estação e me convidou a entrar. Passado o susto, perguntei do Genaro Amani e ninguém conhecia. Depois de um tempo esperando, resolvi ir para procurar um hotel, pois já estava ficando tarde. Perguntei quanto era o preço médio de um táxi. Peguei um táxi e pedi que me levasse a um hotel barato, porém seguro. Mal o táxi tinha saído, vi um grupo de alguns homens conversando. Abri o vidro e perguntei. Vocês conhecem Genaro Amani? Um deles respondeu “Sim, claro”. E olhando para um dos outros chamou “Genaro”. O homem veio e disse “Sou eu”. Eu fiquei muito desconfiado 🤔. Nunca tive sorte em jogo. Se me recordo, Cuzco tinha cerca de 300 mil habitantes naquela época. Eu escolho alguém aleatoriamente e pergunto se conhece o Genaro e ele diz que sim, que está ali ao lado. Tinha algo errado. Perguntei se conheciam Samuel, de Puno, e disseram que conheciam. Disse que eu tinha um voucher que tinha pago a ele. Fizeram uma cara de grande desagrado (como se estivessem pensando – o Samuel deu um golpe neste rapaz) e Genaro resolveu ir comigo para me direcionar ao hotel do voucher. Samuel tinha dito que era um hotel extraordinário, com o qual eu ficaria admirado. Chegamos lá e combinei com Genaro de no dia seguinte programarmos uma excursão. Ao entrar no quarto do hotel, que ficava no primeiro andar (ou em um andar superior ao térreo), acompanhado pelo atendente para receber instruções, o chão afundou no percurso para o banheiro 😄. Dirigi-me assustado ao atendente, mas ele sorriu e disse para eu ir pela beirada que não havia perigo. Já era mais de meia-noite e eu resolvi deixar para lá. Para completar ele me disse que a água quente só funcionava pela manhã. Então eu tomei banho frio antes de dormir, sendo que a temperatura estava perto de 6C . Para as atrações de Cuzco veja https://www.civitatis.com/br/cusco, https://viagemeturismo.abril.com.br/cidades/cusco-2/, https://www.turismocuzco.com/ e https://www.cuscoperu.com/pt/viagens/cusco, Na 5.a feira, 08/01, falando com Genaro comprei uma excursão ao Vale Sagrado. Saímos cedo e fomos conhecer Pisac, Ollantaytambo, Chinchero e alguns outros pontos. Almoçamos em um local que acho que chamava Calca. A comida estava muito boa, mas seu tempero iria me fazer um enorme estrago nos dias subsequentes. Nosso guia, chamado Nico, acho que era descente de quéchuas ou aymaras, as duas etnias preponderantes. Ele parecia conhecer muito bem a História dos incas. Ele usou um termo que eu passei a usar depois. Ele se referiu ao descobrimento da América como invasão, que eu achei ser um termo bem mais adequado do que o que tinha aprendido na escola. Ele contou sobre a origem dos incas, povos formadores, de onde herdaram suas características, organização socioeconômica, hábitos e costumes. Falou de Manco Capac e de outros líderes incas, inclusive da época da chegada dos espanhóis. fazendo a comparação histórica (e o contraponto) com as ações de Montezuma, dos astecas. Na 2.a parte do passeio, mal tínhamos entrado no ônibus, após a explicação inicial dele, dois rapazes brasileiros que estavam no banco da minha frente comentaram que ele em alguns minutos tinha dado mais informação que a guia durante todo o passeio que tinham feito no dia anterior. O ponto do vale de que mais gostei foi o Mirante, com toda a vista do vale a partir do alto. Acho que era o Mirante de Taray, perto de Pisac. Lá do alto via-se as montanhas e parte do curso do Rio Urubamba, lá embaixo, cortando o vale. Achei a vista magnífica . Gostei também das terraças de plantação, dos monumentos e construções, da fortaleza e da igreja, esta última já do período pós chegada dos espanhóis. E gostei muito também de conhecer a história com muitos detalhes, ainda mais contada por um descendente dos incas. No caminho para o mirante havia um homem de um casal comentando “Esses incas são loucos de viver num local destes”. Nada respondi, mas fiquei pensando comigo. O que alguém que tem preferências tão diferentes vem fazer num local destes? Não seria mais adequado ir a um local que mais lhe agradasse? No retorno de um dos passeio, conversando com uma argentina, esta me disse que Nico fazia alguns programas de experiências espirituais baseadas na cultura inca. Não me recordo se havia algum produto típico para beber e favorecer as experiências, como é o caso do Daime, no Brasil. Ela me falou também de Qenqo e Saqsaywaman, que eu ainda não tinha visitado. Falou-me que eram locais onde ocorriam sacrifícios humanos (de crianças e mulheres virgens) 😮. Chegando de volta, comprei com Genaro uma excursão para Machu Picchu a sair no dia seguinte, 6.a feira. À noite, o rapaz do hotel, de origem indígena, não se conformava em porque eu não usava agasalhos. Achei que não precisava. Realmente para o corpo não fez falta, mas minha face novamente ficou queimada, desta vez por causa do frio, o que acarretou dor nos dias seguintes . Após a volta da excursão, se bem me recordo em ambos os dias, fui dar um passeio por Cuzco e conhecer suas atrações principais, como a Praça de Armas, a Catedral, os monumentos e prédios históricos. Achei muito bem preservadas e bem interessantes 👍. Nestes dias em Cuzco reencontrei o paraguaio e o italiano. Quando procurava por informações de excursões, ao me perguntarem em que hotel estava hospedado, para poderem entrar em contato, e eu respondia que não me recordava, pois acho que o hotel não tinha um nome visível na porta, o paraguaio ria e ficava indignado com a minha falta de noção 😄. Acho que foi num destes dias em Cuzco ou talvez em Puno ou Lima que vi uma placa ao lado de um quartel do exército dizendo que era proibido transitar por aquela calçada. E que havia ordem de atirar para quem desrespeitasse 😮. Achei absurdo, mas compreendi o clima tenso devido ao que tinha ocorrido com o sequestro na embaixada. Na 6.a feira 09/01, pegamos o trem para Águas Calientes, cidade que fica na base da subida para Machu Picchu. Achei as paisagens magníficas . A linha férrea ia ladeando o Rio Urubamba , conhecido por suas águas propícias para Canoagem, com sua correnteza forte, as pedras e a vegetação lateral. Além disso havia as montanhas ao fundo e a vegetação robusta de árvores. Se me recordo fui ao lado de um argentino que era professor (acho que em Buenos Aires). Perguntou se eu conhecia a Argentina e, com minha resposta negativa, convidou-me para ir lá, perguntando se eu só me interessava pelo mundo andino e não pelo mundo platino. Eu estava com a camisa do Santos e ouvi um rapaz com sotaque mineiro comentando que tinha sido bom na época de Pelé, mas que agora já não era mais. Ainda não tinham aparecido Diego, Robinho, Elano, Neymar e Ganso. O argentino notou e me disse que havia um rapaz brasileiro no trem. Eu respondi que era mineiro, ele se surpreendeu e me perguntou se eu tinha descoberto pelo sotaque, o que confirmei. Numa parada, o almoço do dia anterior acho que começou a dar mostras do estrago que viria a fazer e precisei procurar um banheiro. Não tinha papel. Pedi emprestado a um rapaz que acho que era funcionário da ferrovia ou similar. Perguntei como chamava e ele me disse, com a pronúncia em espanhol “papel higiênico”. Fiquei rindo 😄. Ao chegarmos lá, pegamos o ônibus para subir até a entrada, o guia comprou os bilhetes e seguimos para os sítios históricos e arqueológicos. Durante a visita, senti um pouco de dor no rosto devido às queimaduras, que achei que eram de sol, mas depois percebi que eram do frio. O argentino percebeu e me ofereceu uma proteção para o rosto, mas eu educadamente recusei. Para informações de Machu Picchu veja https://pt.wikipedia.org/wiki/Machu_Picchu, https://www.machupicchu.gob.pe/ e https://www.machupicchu.org/. Eu gostei muito de tudo lá . Das ruínas, do significado na vida dos seus habitantes, pelo significado religioso para os incas de cada local, das terraças, da vegetação densa, transição entre Amazônia e Andes, das montanhas, da vista a partir do alto etc. O guia explicou detalhadamente os vários ambientes e vários significados. Por exemplo, que Machu Picchu significa pico velho, quais eram os cômodos de rituais e os de trabalho, quais os habitantes supostos, detalhes da descoberta por Hiram Bingham etc. A vista de Wayna Picchu (pico jovem) também me pareceu muito bela. Após terminar o passeio guiado, enquanto outros foram almoçar, fiquei bastante tempo em estado de contemplação, num ponto alto, olhando para as montanhas, a selva e as ruínas. Num dado momento, quando estava distraído na ponta de uma terraça, senti alguém me empurrar. Levei um enorme susto 😮. Pensei que poderia ser alguém desequilibrado mentalmente ou algum terrorista querendo matar um visitante. Mas não era nada disso. Era uma lhama. Eu estava bem na frente de um arbusto que ela queria comer. Eu estava atrapalhando seu almoço. Fiquei um tempo rindo depois de perceber o que tinha acontecido 😄😄😄. Depois que eles acabaram de almoçar, perto da hora de voltar, reencontrei o paraguaio e o italiano. Ainda brinquei com o italiano sobre a final da Copa de 1994, imitando a narração e o chute do pênalti do Roberto Baggio. Eu não sabia, mas futuramente muitos franceses iriam fazer muito pior comigo. Perguntei também ao paraguaio se o Paraguai estava na Copa e ele respondeu rindo, em tom de quase indignação “É claro que sim!”. Pegamos o trem de volta no meio da tarde, após descer de ônibus até a estação de Águas Calientes. Na volta foi um casal com sua filha pequenina na minha frente, de costas para o curso do trem. A menininha adorava por a mão para fora da janela, o que achei bastane temerário, mas não me pronunciei. Quando vi um túnel à frente, disse educadamente para a mãe “Cuidado”. Ela se virou, viu o túnel e puxou a menina para o banco. Quando ficou tudo escuro dentro do túnel, que não era iluminado, o pai aproveitou e fez uma brincadeira com elas. Chegamos no fim da tarde e eu estava muito feliz com o passeio feito. Reecontrei Genaro Amani. Ele me perguntou se tudo tinha corrido bem, levou-me de táxi até o hotel e me perguntou se desejava algum passeio mais. No caminho me disse que tinha tido enormes dificuldades de conseguir minha passagem aérea para Lima e que os voos estavam lotados até o meio da semana. Mas que tinha pedido minha reserva para a agência. Fiquei preocupado. Estava no meio de um projeto de software bancário que precisava ser entregue em breve. Só tinha uma semana de férias. Havia pesadas multas para a empresa, caso não conseguisse entregar no prazo, previstas na licitação. Eu eu tinha dito que estaria de volta ao trabalho na 2.a feira. Quando chegamos eu me despedi dele agradecendo e dizendo que ainda precisávamos conversar depois para acertar o valor do voucher que eu tinha pago a Samuel, caso não fosse válido no hotel e eu precisasse pagar à parte ou caso o valor do hotel fosse maior e ele tivesse pago tudo (eu também pretendia dar a ele uma pequena gratificação, de que não falei). Ele pareceu surpreso, seu semblante mudou, nós nos despedimos e eu desci do carro. Nunca mais o vi. Fiquei meio desorientado , sem saber o que fazer, por não ter voo para Lima. O que aconteceria? Teria que remarcar minha passagem de Lima a São Paulo? Foi emitida com pontos, então será que eu conseguiria? Quanto tempo eu iria atrasar minha chegada em São Paulo? Quais seriam as repercussões para o projeto? Haveria alguma outra alternativa, como havia me dito aquela moça, passando pela selva amazônica? Caso positivo, teria que passar por território dominado por grupos terroristas? Eles me veriam como inimigo ou potencial para obtenção de resgate? Nesta situação, sem pensar direito, entrei numa loja de roupas e perguntei se vendiam passagens aéreas para Lima 😄. A atendente, até que muito educada para uma pergunta como estas, disse-me que não, mas que ali ao lado existia uma agência de turismo. Entrei na loja de turismo e perguntei por passagens para Lima. A atendente e provavelmente dona, disse-me que estavam lotados todos os voos e que só teria para o meio da próxima semana. Expliquei para ela que precisava ir a Lima para pegar o voo para São Paulo, mas ela disse que não havia possibilidade de conseguir um voo. Pediu meu nome para me colocar na lista de espera para o meio da semana. Fui falando pausadamente “Fernando”, “Barreto”, “de Almeida”. Ela abriu um sorriso, abriu os braços e disse “Fernaaando, você foi o último passageiro confirmado do último voo”. Virou para a máquina de fax, puxou o papel e me mostrou, dizendo “Acabou de chegar a sua reserva, o último lugar”. Lembrei na hora de Ritchie Valens, autor de la Bamba, que morreu num acidente aéreo após ter ganho um sorteio para poder estar no voo 🤔. Mas, como não sou supersticioso, fiquei satisfeito. Ela fez todos os procedimentos de emissão da passagem e me disse para estar no aeroporto 2h antes do voo. O voo estava previsto para as 9h10, se me recordo. Naquela época era costume no Brasil pedirem para chegar ao aeroporto 1h antes. Achei 2h um tempo muito grande, mas não falei nada. Eu devia tê-la escutado, com a experiência que ela tinha daquele tipo de situação . Tranquilo com a aparente resolução do problema, fui jantar e dormir. No sábado 10/01 acordei bem cedo e resolvi ir a Qenqo (https://www.cuscoperu.com/pt/viagens/cusco/sitios-arqueologicos/q-enqo) e Saqsaywaman (https://www.cuscoperu.com/pt/viagens/cusco/sitios-arqueologicos/Sacsayhuaman). Peguei um táxi para tal. Achei ambos bem interessantes. Porém em Qenqo senti um certo ar pesado, por saber que ali eram feitos sacrifícios humanos. Depois disso, fui acertar a saída do hotel. Fiquei surpreso ao saber que não estava paga nenhuma diária. Samuel tinha pago o hotel em Puno e pensei que Genaro Amani também tinha pago o hotel em Cuzco. Depois de alguma conversação com o dono ou gerente do hotel, que sustentava que eu deveria acertar com ele, independentemente do que havia pago no voucher, resolvi pagar, pois não poderia me arriscar com o horário do voo. Tentei contato com Genaro Amani, sem sucesso. Fui ao escritório do Genaro, mas ele não estava lá. Encontrei a secretária (não sei se era sua esposa). Ela foi ao hotel, conversou com o dono ou gerente em idioma indígena na minha frente, de modo que eu não entendi nada. Mas estava claro ali que ele dizia a ela que não poderia se responsabilizar por algum negócio incorreto do Genaro e me pareceu que ele achava que Genaro enganava seus clientes. Achei que os cerca de US$ 20 que tinha pago de voucher para o Samuel estavam perdidos. Peguei um táxi e fui para o aeroporto. Cheguei por volta de 7h35, portanto cerca de 1h35 antes do voo. Havia uma fila enorme de pessoas saindo pela porta do aeroporto e ocupando a calçada. Pensei comigo “será que é para meu voo? Se for, vou perdê-lo! Eu deveria ter feito o que a dona da agência de turismo falou” . E realmente a fila era para o voo que eu pretendia pegar. Comecei a pensar nas alternativas que o indígena e a mulher peruana haviam dito, pelo meio da selva amazônica. Eram 9h e havia 2 pessoas na minha frente. Havia umas 30 a 40 atrás de mim na fila. Eram 9h10 e eu era o próximo, quando decolou um avião. Pensei “Que avião é aquele?”. Aproximei-me e perguntei se aquele era o avião em que eu deveria ter embarcado. Disseram que sim e que não comportava mais passageiros, pois senão poderia cair na selva. Não deu tempo de mais nada. Os de trás atropelaram-me e começaram a contestar fortemente os atendentes e até xingá-los 😠. O tumulto foi tanto que os agentes de segurança (não sei se do exército ou da polícia) precisaram intervir e se colocar ao lado do balcão entre os passageiros e os atendentes. Mesmo assim alguns xingamentos e contestações continuaram. Vendo que não daria para conversar daquele jeito eu me afastei um pouco do tumulto e fiquei esperando o que aconteceria. Encontrei a dona da agência que me havia vendido a passagem e ela disse que talvez houvesse um voo extra. Fiquei no aguardo. Após alguns minutos os atendentes disseram que seria colocado um voo extra, se me lembro por volta de 14h 🙏. Fiquei aliviado. A dona da agência sorriu e me disse que eu tinha ganho tempo para procurar pelo Genaro e reaver o dinheiro. Eu peguei uma van ao escritório do Genaro, mas ele não estava lá. Encontrei a secretária. Ela disse que ele não estava e que depois iria me encontrar no aeroporto. Deixei um bilhete escrito em portunhol. Eu pensei melhor e vi que eu não tinha tido tempo de conhecer alguns museus de Cuzco. Em vez de ficar tentando recuperar o dinheiro, achei que seria mais produtivo ir conhecê-los, pois era uma oportunidade única e, depois, se desse tempo, veria a questão do dinheiro. E foi o que fiz. Achei os museus muito interessantes. Ainda bem que tive tempo de conhecê-los 👍. Particularmente chamou-me a atenção o artesanato feito simbolizando a fertilidade. O genital masculino era quase da altura do boneco do homem e no boneco da mulher havia um buraco circular que ia desde a barriga até o joelho 😄. Pareceu-me que eles davam muita importância para a fertilidade, nas suas várias formas, talvez condensada na ideia de Pacha Mama. Os museus com itens dos espanhóis também me pareceram muito interessantes. Depois de ver todos os museus e locais que tinham faltado e que eu tinha achado interessantes, voltei ao aeroporto, pois não podia nem pensar em perder aquele voo. Fiz a emissão do cartão de embarque e então fui tentar reaver o dinheiro com Genaro. Liguei para lá e a secretária me disse que ele viria ao aeroporto. Já não acreditava mais. Fui ao guichê de informações, pedi para anunciar o nome dele e ninguém apareceu. Então me perguntaram se eu gostaria de abrir uma reclamação na delegacia de proteção ao turista. Fiquei em dúvida, pois não queria pegar tão pesado, envolver polícia. Mas acabei abrindo. Liguei uma última vez para a secretária e ela repetiu que ele viria ao aeroporto. Disse então que não precisava mais e tinha aberto uma reclamação na polícia de proteção ao turista. Ela levou um susto e engasgou na linha. Pareceu abalada. Passados 25 anos, eu acho que peguei pesado. Acho que não deveria ter feito a reclamação na polícia. Porque, apesar de tudo, todo o resto que ambos (Samuel e Genaro) combinaram comigo, eles cumpriram. E fiz negócios muito maiores do que US$ 20.00 com cada um deles (acho que ao todo dez vezes isso, cinco vezes com cada). Mas creio que não houve grande repercussão, pois depois de eu voltar ao Brasil, recebi uma carta da polícia de proteção ao turista com a resposta de Genaro, que eles localizaram posteriormente, dizendo que não conhecia Samuel e pedindo meu endereço para se explicar, algo que eles não deram. Talvez ele não quisesse se explicar e tenha ficado com raiva. Disseram que como não conseguiram fazer a conexão com Samuel, provavelmente não conseguiriam ressarcir o dinheiro. Mas se conseguissem, haveria despesas de US$ 12.00 para envio, sobrando US$ 8.00 líquidos. Concordei então em doar para a UNICEF tudo, caso conseguissem reaver o dinheiro, o que não ocorreu, ate onde eu sei. No geral, acho que acabei gastando muito tempo com este episódio. Peguei o voo no horário marcado, sem problemas. Se não me engano, a Companhia foi a Aero Continente. Novamente a aeromoça não entendeu muito bem minha tentativa de falar espanhol. Chegando em Lima, encontrei alguns guias turísticos no aeroporto que me indicaram um hotel em Miraflores por US$ 30.00. Achei o preço razoável, embora bem maior do que o dos hotéis anteriores. Mas como não tinha muito tempo, não fui pesquisar. Eles me levaram até lá de táxi. Uma das guias me falou das atrações de Lima e me falou para não ir passear no centro à noite pois poderia ser perigoso. De qualquer modo, não teria dado tempo. A outra guia também estava com dificuldade de entender minha tentativa de falar espanhol. Após acomodar-me no hotel, fui ao Museu de Ouro do Peru (https://museoroperu.com.pe/), que tinha visto numa reportagem da Folha de São Paulo, que tinha comigo. Peguei o táxi e lhe mostrei a folha do jornal. Não havia GPS comercial para veículos regulares, como existe hoje. Ele não entendeu muito bem o texto em português, pediu para eu traduzir. Eu tentei. Mas acho que no fim ele entendeu de qual museu se tratava e me levou ao local correto. Achei espetacular o museu . Muitas peças em ouro e prata, muitas com significado religioso dos incas. Novamente havia as peças relativas à fertilidade em destaque. Fiquei bastante tempo lá. Após sair do museu voltei para o hotel. Agora já não estava me sentindo muito bem do estômago, o que me gerava mal-estar por todo o corpo 🤢. Se me recordo saí para comer apenas um lanche. Passei uma noite ruim, quase sem dormir. Tinha planejado ir pela manhã à praia, para me banhar no Oceano Pacífico (que eu não conhecia, e em que até o momento desta escrita eu nunca me banhei). Tinham-me dito que a praia era boa para surf, mas não muito bela, e que a água era muito fria, mas eu desejava experimentar, mesmo assim. Mas meu mal-estar estomacal e a noite quase sem dormir geraram um estado de mal-estar que acabei só indo até as pedras. Olhando a vista, mas sem forças para entrar na água. Tomei o café da manhã oferecido pelo hotel com cautela, evitando qualquer alimento que pudesse gerar alguma reação maior. Acho que este estrago ainda pode ter sido consequência daquele almoço de Calca, na 5.a feira, pois foi o único local onde experimentei alimentos completamente diferentes dos com que estou acostumado. Peguei um táxi para o aeroporto. Cheguei cedo, com bastante tempo para os procedimentos de check in. Usei meus últimos pesos para tomar um suco de limão, que era o que dava para comprar com o restinho que sobrou. Durante o voo, estava bastante cansado, devido à noite quase sem dormir. O estômago havia melhorado. Raramente durmo em aviões, mas estava tão cansado que dormi 😴. Perdi a vista dos Andes. Só em alguns momentos em que acordei e olhe pela janela, pude vê-los. Por coincidência, um destes momentos foi quando sobrevoamos La Paz. Na parte final do voo, quando já estava acordado, vim conversando com uma funcionária da embaixada da França, se bem me lembro. Ela falava do desconforto que se criou na embaixada pelo posicionamento do embaixador ou de algum membro do alto escalão do governo francês, em relação ao sequestro ocorrido na embaixada do Japão. Dizia que ele falou, fez papel de bom, foi embora e as pessoas da embaixada ficaram sob ameaças dos grupos terroristas. Cheguei em São Paulo no fim da tarde. Já estava recuperado para voltar a trabalhar no dia seguinte. 🙂
  3. esse foi nosso roteiro, ordem dos passeios: · Cusco · Valle Sagrado (Pisac, Salinas de Maras, Moray, Chinchero, Ollantaytambo) · Valle Sul (Tipon e Pikillaqta, Andahuaylillas) · Macchu Pichu + Wayna Picchu · Banhos Termais de Colcamayo (Santa Teresa) · Laguna Humantay · Cerro Colorado/Montañas de Colores/Rainbow Mountain
  4. Olá wanderlusters! Estarei em Cuzco e arredores entre 8 a 14 de maio/2019. Quem tiver a fim de tomar uma cusqueña e trocar umas ideias pode chamar no 54 98126-6786 (whatsapp). Abraços!
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