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  1. Olá, pessoal. Quero fazer a rota das grutas em Minas Gerais (Cordisburgo, Sete Lagoas e Lagoa Santa) de ônibus em 2 ou 3 dias. Mas estou com dificuldade em encontrar informações sobre ônibus entre as cidades, para saber qual a melhor logística. Alguém já fez? Uber funcionaria bem naquela região? São cerca de 60 km entre Cordisburgo e Sete Lagoas e entre Sete Lagoas e Lagoa Santa. Pensei em pernoitar em Sete Lagoas, de lá visitar Cordisburgo por meio período, voltar para visitar a Gruta Rei do Mato ( não sei se dá tempo) e no dia seguinte passar em Lagoa Santa para ver a gruta da Lapinha. Como de lá seguirei para Belo Horizonte, estarei com bagagem. Alguém sabe se tem locker na rodoviária ou na visitação da gruta? Obrigada Adri
  2. A 120 km de Belo Horizonte fica Cordisburgo, a cidade natal do escritor Guimarães Rosa. A antiga casa do autor é hoje um museu. Além disso, a cidade abriga a Gruta do Maquiné, aberta à visitação. Faz tempo que a cidade estava nos meus planos de viagem e quando estive em BH, resolvi que era a hora de conhecê-la. Imaginei que não teria maiores dificuldades para ir de manhã e voltar ao final do dia, já que a distância era pequena. Mas não foi bem assim… Só na própria rodoviária de BH consegui informações sobre o horário dos ônibus. A viagem levou 4 horas, com as diversas paradas pelo caminho. As grutas são lindas e o restaurante que fica em frente te obriga a comer muito mais que o necessário 😬. Na recepção da Gruta, perguntei como eu poderia chegar até o centro da cidade. Uma dúvida simples, mas nem tanto. O guia disse que não tinha ônibus dali, mas que ia ligar para um taxista conhecido para perguntar se ele poderia vir me buscar. “Mas não se preocupe, que a gente dá um jeito. Qualquer coisa, te levo no meu carro.” Se tem uma coisa que aprendi nas cidadezinhas pelo Brasil é que o que falta em estrutura, sempre se contorna com solidariedade e boa vontade. O taxista – o único da cidade, pelo que entendi – não atendia o telefone e o guia saiu falando com todos os visitantes perguntando quem poderia me ajudar. Consegui carona com uma família muito animada que veio comemorar o aniversário de seu avô em Cordisburgo. Para trazer todo mundo, alugaram uma van. “Tem espaço para ela aí, não? Para deixar ela no centro?”, perguntou o guia. “Claro, porque você não falou logo?! E se não tivesse a gente dava um jeito também!” Cordisburgo é uma cidade pequena, de menos de 10 mil habitantes, e a rua principal – ou a que me pareceu a principal – fica em frente a uma antiga estação. Não sei pelo vagão de trem enferrujado na linha, se o mato crescendo, mas chega a dar saudade do tempo que não vivi. A casa-museu Guimarães Rosa fica quase em frente essa estação de trem. A fachada é simples, igual a muitas outras casas ali do centro, mas achei uma graça. O escritor viveu nessa casa com a família até os 9 anos e vários cômodos recriam a decoração de uma casa de interior no início do século 20. Tem o quarto da família com os terços na parede, o oratório cheio de santos na beira da cama, a colcha bordada e o tapete de remendos de tecido no chão (como não se lembrar um pouco da sua própria avó?). Tem a cozinha com o fogão a lenha, as panelas de ferro, o pilão e a cristaleira com paninhos bordados em cada uma das prateleiras. Nos fundos da casa tem o poço, um carro de boi de madeira… O pai de Guimarães Rosa tinha uma venda e conta-se que o primeiro contato do autor com as falas e as histórias sertanejas vem do que ele ouvia ali enquanto seu pai trabalhava. A venda também está lá, com os produtos que serviam à vida daqueles tempos: os artigos de couro e de palha, os vasos de barro, o berrante, ­os brinquedinhos da época, os chapéus e as violas, as espingardas, as selas, os esteios, entre outras coisas que hoje mal sabemos o nome. Apesar dos transportes atrapalhados, valeu muito a pena! Quem se interessar, conto sobre esse passeio com mais detalhes neste post. Para ler mais histórias sobre o interior do Brasil siga o blog Noticias de Toda Sorte ou o Instagram.
  3. Cordisburgo é um município mineiro localizado a 86 km de Belo Horizonte (aproximadamente), com uma população com cerca de 8.981habitantes (2014), a pequena cidade é palco de importantes fatos científicos e literários do país. A importância científica da cidade é devido ao fato de Cordisburgo fazer da “Rota das Grutas Peter Lund”, a qual começa em Belo Horizonte no Museu da PUC e se estende por várias cidades de Minas. A rota recebe esse nome em homenagem ao importante naturalista dinamarquês, Peter Lund, que fez grandes descobertas em Minas no século XIX. “Desde ali, o ocre da estrada, como de costume, é um S, que começa grande frase. E iam, serra-acima, cinco homens, pelo espigão divisor. Dia a muito menos de meio dia, solene sol, as sombras deles davam para o lado esquerdo.” (O recado do morro, Guimarães Rosa) Em Cordisburgo a maioria das descobertas foi feita na Gruta do Maquiné, onde Lund encontrou muitos fósseis de animais do período Quaternário. “E nas grutas se achavam ossadas, passadas de velhice, de bichos sem estatura de regra, assombração deles – o megatério, o tigre-dente-de-sabre, a protopantera, a monstra hiena espélea, o páleo-cão, o lobo espéleo, o urso-das-cavernas-, e homenzarros, duns que não há mais. Era só cavacar o duro chão, de laje branca e terra vermelha e sal. Monte de ossos, de bichos [...]” (O recado do morro, Guimarães Rosa) A Gruta do Maquiné muito me impressionou pelo tamanho e pela beleza, mas antes de entrar vale muito a pena ir ao museu que tem onde se compra o ingresso para a gruta, é um museu interativo e tem exemplares de animais que vivem e viveram naquela região. “Pelas abas das serras, quantidade de cavernas – do teto de umas poreja, solta do tempo, a aguinha estilando salobra, minando sem-fim num gotejo, que vira pedra no ar, se endurece e dependura, por toda a vida, que nem renda de torrõezinhos de amêndoa [...]; enquanto do chão sobem outras, como crescidos dentes, como que aquelas sejam goelas da terra, com boca para morder. Criptas onde o ar tem corpo de idade e a água forma pele muito fria, e a escuridão se pega como uma coisa.” (O recado do morro, Guimarães Rosa) A cidade é berço de João Guimarães Rosa, escritor consagrado da literatura nacional, e esse feito faz da cidade um verdadeiro atrativo literário regional e nacional. Por quase toda a cidade é possível encontrar algo fazendo referência ao escritor. Aqui irei colocar os lugares que estive: Capela Patriarca São José Como chegar: Seguir até o final da Rua São José, saída para a rodovia LMG 754, o destino fica na Praça Miguilim. Portal Grande Sertão Como chegar: Seguir até o final da Rua São José, saída para a rodovia LMG 754. Fica na Praça Miguilim. Zoológico de Pedra “Peter Lund” Como chegar: Siga na Rua São José, vire a direita na rua Governador Valadares, o destino se encontra na Praça Octacílio Negrão de Lima. Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa e Grupo Estrelas do Sertão Como chegar: Siga em frente na Rua São José, vire a direita na Rua Governador Valadares, vire a esquerda na Avenida Padre João. Museu Guimarães Rosa Como Chegar: Avenida Padre João, 744 (Centro) Casa Elefante Como Chegar: Avenida São José, 1552 Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus Como chegar: Rua Frei Estevam Ps.: Vale a pena visitar a estação ferroviária e também na rua do Museu Casa Guimarães Rosa tem uma "lojinha" que na verdade não é uma loja, mas uma coleção de diversos tipos de objetos e cada tem uma história é outro lugar com uma delicadeza incrível. Lugares para comer (super recomendo): Restaurante Sarapalha: comida maravilhosa, ambiente limpo e agradável. (cheio de ações poéticas) Restaurante um conto e cem: Pizza muito boa, bom atendimento e local agradável. Enfim, Cordisburgo me encantou, espero que desperte um pouco do interesse em vocês também, pois a cidade merece ser visitada. “Ele sabia – para isso qualquer um tinha alcance – que Cordisburgo era o lugar mais formoso, devido ao ar e ao céu, e pelo arranjo que Deus caprichara em seus morros e suas vargens; por isso mesmo, lá, de primeiro, se chamara Vista-Alegre. E, mais do que tudo, a Gruta do Maquiné – tão inesperada de grande, com seus sete salões encobertos, diversos, seus enfeites de tantas cores e tantos formatos de sonho, rebrilhando risos na luz – ali dentro a gente se esquecia numa admiração esquisita, mais forte que o juízo de cada um, com mais gloria resplandecente do que uma festa, do que uma igreja. Não, bronco ele não era, como o Ivo, que nem tinha querido entrar, esperara cá fora: disse que já estava cansado de conhecer a Lapa. Mas, aquilo, daquela, ninguém não podia se cansar. Ah, e as estrelas de Cordisburgo, também – o seo Olquiste falou – eram as que brilhavam, talvez no mundo todo, com mais agarre de alegria.” (O recado do morro, Guimarães Rosa)
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