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  1. Nevados Yerupajá e Yerupajá Chico Para informações sobre a viagem do Brasil a Huaraz e sobre o período de aclimatação que fiz, leia o meu relato em lagunas-69-churup-willcacocha-e-aguak-quatro-trekkings-de-aclimatacao-para-huayhuash-t117670.html. Depois de testar a minha adaptação à altitude em três caminhadas de uma dia acima de 4400m, e ter por sorte uma excelente aclimatação, era hora de encarar o meu grande objetivo nessa viagem ao Peru: o Circuito Huayhuash em 8 dias. Nas agências de Huaraz esse trekking é proposto para 8 dias (ou mais, se o cliente quiser e puder bancar), mas na realidade caminha-se 6 dias e meio, com o primeiro dia todo tomado pelo deslocamento até o primeiro acampamento, bem distante de Huaraz (quase 4h de viagem), e o último dia resumido a 4h30 de caminhada apenas, com o deslocamento de volta no restante do dia. O trajeto é todo ao redor da Cordilheira Huayhuash, ao sul da Cordilheira Blanca, nas imediações da cidade de Chiquian. O sentido mais comum é o horário, com início no acampamento Cuartelwain e o final variando entre as localidades de Pocpa e Llamac. Encontramos porém grupos fazendo no sentido anti-horário. Eu paguei 700 soles (US$ 222) por esse trekking pela agência Monttrek, de Huaraz. Os integrantes do meu grupo pagaram preços entre 450 e 650 soles através de outras agências ou pelo hostel onde estavam hospedados. No fim o serviço foi todo prestado pela agência Enjoy Huayhuash. Estava incluído no preço o guia, o assistente e o arrieiro (condutor da tropa de animais). Todos eles cozinhavam e havia cinco refeições/lanches por dia. Também as barracas, isolantes, sacos de dormir, a tenda-cozinha e a tenda-refeitório, tudo carregado por uma tropa de cinco burros e duas mulas, além de um cavalo de emergência. O deslocamento de/para Huaraz também estava incluído. Laguna Gangrajanca com nevados Jirishanca e Jirishanca Chico SOBRE O FRIO E AS ROUPAS Nos oito dias de trekking tivemos dias bastante ensolarados. O sol é muito forte, um protetor solar é indispensável, porém o ar é sempre frio, o que se percebe quando sopra o vento ou quando caminhamos na sombra. Durante o dia portanto eu caminhava sempre com calça de tactel e segunda-pele de manga longa de lã de merino lightweight, no mínimo. Às vezes vestia um fleece fino ainda. Alguns colegas suportavam melhor o ar frio e caminhavam de manga curta. No começo do dia muitas vezes caminhávamos um longo tempo pela sombra, dentro de um vale, e o frio da manhã era intenso. Nessas condições eu saía do acampamento com as duas blusas de fleece que tinha usado para dormir, uma mais fina e outra mais grossa (Polartec), além da segunda-pele de manga longa de lã de merino. Ainda gorro e luvas de fleece. No fim do dia, quando o sol sumia atrás das montanhas, a temperatura despencava muito rapidamente. Eu vestia sobre a segunda-pele as duas blusas de fleece e mais uma jaqueta impermeável/respirável para reter o calor. Para as pernas levei uma calça segunda-pele de lã de merino midweight para colocar sob a calça de tactel, mas não foi suficiente, sempre sentia muito frio nas pernas. Tentava reter o calor com uma calça impermeável/respirável. Além disso gorro e luvas de fleece. Durante a madrugada, a temperatura sempre caía abaixo de zero, o que podia ser conferido na quantidade maior ou menor de cristais de gelo na parte externa da barraca todas as manhãs. Eu levei um saco de dormir Marmot Alpha, de pluma de ganso, de especificação: conforto 2,6ºC, limite -2,8ºC e extremo -19ºC. Em algumas noites ele não foi suficiente, principalmente nas pernas, e tive de usar além dele um Deuter Orbit +5 de especificação: conforto 9ºC, limite 5ºC e extremo -9ºC. Aí sim dormia bem aquecido. Acampamento Cuartelwain. À esquerda: Jirishanca, Ninashanca, Rondoy e Rasac 30/07/15 - 1º DIA: DE HUARAZ AO ACAMPAMENTO CUARTELWAIN As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash1DiaPeruJul15. Às 8h15 a van passou no hostel para me apanhar. Fui o primeiro a entrar, mas logo comecei a conhecer meus companheiros de (longa) caminhada: Annie (americana de 55 anos), Joel (suíço de 37 anos), Antônio (Tony, espanhol de 56 anos), Robert (inglês de 27 anos), Ofri (israelense de 25 anos), Or (israelense de 26 anos) e Yoav (israelense de 28 anos). Saindo de Huaraz no sentido sul a primeira parada foi no povoado de Catac para comprar guloseimas de última hora e usar os baños (banheiros). Em seguida uma longa viagem passando pela cidade de Chiquian, onde trocamos o asfalto pelas poeirentas e pedregosas estradas de terra, depois Llamac e uma parada em Pocpa. Ali conhecemos o nosso guia Teo e seu assistente Henry, e seguimos de van até o acampamento Cuartelwain. Em Llamac e Pocpa pagamos as primeiras taxas de "protección", num total de 30 soles. Na verdade, é um pedágio que as comunidades cobram ao longo de todo o percurso do circuito, o que totaliza 195 soles. Nosso guia Teo recolheria na manhã seguinte o valor restante de 165 soles de cada um para tornar mais ágil o pagamento durante a caminhada. Lembrando que toda essa área pertence a particulares, não faz parte de nenhum parque nacional. Em Cuartelwain, às 14h10, as barracas e tendas foram rapidamente montadas. Altitude de 4172m. Tivemos nosso primeiro contato visual com as montanhas nevadas de Huayhuash, porém ainda bem discretas diante do que estava por vir. Quando o sol desapareceu atrás das montanhas, tivemos nossa primeira amostra do que seria o frio dentro dos vales. E muito mais depois, durante a noite e madrugada. O jantar sempre tinha sopa como entrada, todos os dias uma sopa diferente. O prato principal nessa primeira noite foi peixe frito, supostamente truta. Eu, evitando comer carne durante o trekking, fiquei no ovo frito mesmo. Depois chá bem quente e dormir para se preparar para o início da caminhada. As refeições foram todas fartas e com possibilidade de repetir quando quisesse. A enorme porção de arroz que vinha no prato era um tormento para os colegas europeus, não acostumados a isso, mas para mim, brasileiro, era uma quantidade que podia dar conta. Só sentia falta de um pouco de feijão para acompanhar tamanha quantidade de arroz. Uma novidade para mim nesse trekking (muito diferente do Monte Roraima) foi a existência de banheiros em todos os acampamentos, uns muito bons (e até limpos) e outros sem condições de uso. Em Cuartelwain havia uma casinha com quatro portas, mas apenas duas estavam abertas. Lá dentro vaso sanitário com caixa de descarga acoplada. Um luxo! Nevados Siulá e Yerupajá ACLIMATAÇÃO: COMO MEU ORGANISMO REAGIU À ALTITUDE Planejei essa viagem reservando quatro dias de aclimatação à altitude antes de iniciar o Circuito Huayhuash. Seriam quatro trekkings de um dia com altitudes de até 4600m retornando a Huaraz para dormir. O relato dessas caminhadas está em lagunas-69-churup-willcacocha-e-aguak-quatro-trekkings-de-aclimatacao-para-huayhuash-t117670.html. Como seria minha primeira experiência de caminhada acima dos 3000m estava preparado para tudo, inclusive a possibilidade de meu organismo reagir de forma muito negativa nesses quatro dias e eu nem tentar fazer o circuito. Logo na primeira noite em Huaraz comecei a minha dieta de mate de coca para ajudar na aclimatação. Não sei se foi bom, tem gente que diz que é placebo, mas sei que felizmente tive uma excelente aclimatação durante os quatro dias, sentindo apenas um pouco de dor de cabeça no primeiro dia, na Laguna 69. Por recomendação médica, não utilizei os medicamentos Diamox e Decadron, que supostamente ajudam na aclimatação. Durante a caminhada, continuei tomando o mate de coca duas vezes por dia, feito da infusão da própria folha, que eu mastigava depois. O problema que eu tive durante o circuito, que começou leve nos primeiros dias e depois foi piorando, foi com relação ao sono. Dormia das 20h até por volta de 0h30 ou 1h da madrugada e acordava com o nariz tampado. Dali em diante não dormia direito ou não conseguia dormir mais, mesmo assoando o nariz várias vezes para desobstrui-lo. Ao deitar o nariz entupia de novo e não conseguia pegar no sono. A noite maldormida tinha consequências no dia seguinte já que não estava suficientemente descansado para enfrentar o dia puxado de caminhada. Carnicero, Siulá, Yerupajá e Yerupajá Chico 31/07/15 - 2º DIA: DE CUARTELWAIN À LAGUNA CARHUACOCHA As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash2DiaPeruJul15. Nossa rotina pela manhã seria igual todos os dias: às 6h30 todos tinham que estar na tenda-refeitório tomando o desayuno, com as respectivas barracas vazias e as mochilas cargueiras entregues ao arrieiro. Às 7h todos com as mochilas de ataque nas costas para iniciar a caminhada, faça o frio que fizer. E como fazia! Às vezes arrumava a mochila sem sentir os dedos das mãos. Um pacotinho com o lanche de trilha do dia era entregue a cada um antes de iniciar a caminhada. Nesse dia nosso guia Teo não foi tão rígido e começamos a andar às 7h17. Adentramos o vale gelado no sentido nordeste por 22 minutos e começamos a subida da encosta à nossa direita em direção ao primeiro passo do dia, o Cacananpunta. A subida foi longa e cansativa, quase toda feita na sombra e no frio. Eu mantive o meu passo devagar-e-sempre: devagar para não sentir falta de ar e chegar a uma respiração estável, e sempre pois não fazia paradas para não ter de iniciar o trabalho de respiração de novo. Alguns colegas consideraram esse passo um dos mais difíceis, alguns já ficaram bem para trás. Vencido o desnível de 508m, cheguei ao Passo Cacananpunta às 9h. Altitude de 4680m. Parada para se aquecer ao sol e contemplar o imenso vale à nossa frente, o qual iríamos contornar pela direita. Às 9h36 começamos a descida do passo, toda em ziguezagues também. Cruzamos com um ou mais grupos que estavam fazendo a caminhada no sentido anti-horário. Às 9h52 a longa descida teve fim próximo a uma cruz fincada em homenagem ao alpinista polonês Radoslaw Koscinski, que morreu explorando as nascentes do Rio Amazonas-Maranhão na Cordilheira Huayhuash em 1998. Por incrível que pareça estamos na bacia do Rio Amazonas! Seguimos pela encosta direita do grande vale avistado do passo até alcançar uma placa de boas vindas ao "melhor trekking do mundo". Nesse ponto a trilha quebra de leste para sul e temos a primeira empolgante visão dos nevados da Cordilheira Huayhuash: Jirishanca Chico, Yerupajá, Jirishanca, Rondoy e Ninashanca. Parada para fotos, claro, já que o dia estava espetacular! Às 11h alcançamos o posto de "protección" de Janca (pronuncia-se ranca). Há inclusive um portão de ferro para intimidar quem porventura não queira pagar o pedágio. Nosso guia Teo já havia recolhido o valor total dos pedágios de cada um e o pagamento então ocorreu sob sua responsabilidade. Assim, todos aproveitamos para descansar um pouco e mastigar algum lanche. Jirishanca Chico, Yerupajá, Jirishanca, Rondoy e Ninashanca Liberada a nossa passagem, cruzamos o Rio Janca e começamos a longa e suave subida para o Passo Carhuac ao sul. Infelizmente não estava no nosso percurso a Laguna Mitucocha. No meio da subida paramos para o almoço, às 11h44. Tony, nosso amigo espanhol, já dava sinais de cansaço e reclamava de uma dor no joelho. Findo o almoço, às 12h35 continuamos a lenta subida ao Passo Carhuac, aonde cheguei às 13h30. Altitude de 4628m. No passo e na descida que se seguiu, à nossa direita vão surgindo mais próximos os altos e majestosos picos nevados da cordilheira, até que às 14h50 temos de um mirante à direita da trilha a estonteante visão da Laguna Carhuacocha aos pés dos principais picos da cordilheira. Entre eles o Yerupajá Grande, 6634m de altitude, segunda montanha mais alta do Peru (só perde para o Huascarán, 6768m). Após alguns minutos de admiração da magnífica paisagem, bastou descer pela face norte da laguna até o acampamento, aonde cheguei às 15h20. Altitude de 4196m. Nosso acampamento estava montado na parte alta da face norte, próximo a uma fonte de água e dos banheiros. Tínhamos apenas um grupo vizinho. Porém nas margens da lagoa, bem abaixo de nós, havia diversos outros grupos acampados. A visão dali para a cordilheira era ainda mais ampla e pudemos identificar, além do Yerupajá Grande, o Siulá (6344m), o Yerupajá Chico (6121m), o Jirishanca (6094m) e o Jirishanca Chico (5445m). Todos os acampamentos do trekking foram em lugares de grande beleza, sempre com visão dos nevados da Cordilheira Huayhuash, mas na minha opinião os mais bonitos foram este de Carhuacocha e o Incahuayin, junto às lagunas Jahuacocha e Solteracocha, no sétimo dia de caminhada. O jantar foi arroz com frango ensopado, mas para mim batatas. Depois sempre tinha um chá bem quente para espantar o frio, ou pelo menos tentar. O banheiro ali era um buraco no chão com os lugares certos para colocar os pés, e ao lado um reservatório de água com uma vasilha para dar a "descarga". Casinha com duas portas. Nesse dia caminhamos 16,8km. A ÁGUA DURANTE O TREKKING A questão da água para beber nesse trekking foi mais complicada do que eu imaginava. Em alguns dias havia água abundante, já em outros havia pouca água corrente ao longo do trajeto. Mas o problema é que sempre havia vacas, ovelhas, cavalos, além das pessoas que estavam passando ou que eram fixas. Com isso, tratar ou ferver a água era algo imprescindível. Eu não levei produtos para purificar a água pois não uso isso durante as travessias no Brasil. E não me agradava a idéia de usá-los durante oito dias seguidos. A solução foi aproveitar a água fervida (ou apenas esquentada, não sei) todos os dias para o chá e encher as minhas duas garrafinhas de 500ml para consumir ao longo do dia. Alguns colegas usavam Micropur Classic para tratar a água, disseram que é ótimo, porém deve-se esperar duas horas antes de bebê-la. Yerupajá e Yerupajá Chico 01/08/15 - 3º DIA: DA LAGUNA CARHUACOCHA AO ACAMPAMENTO HUAYHUASH As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash3DiaPeruAgo15. O frio desta noite foi intenso e pela manhã uma camada mais grossa de cristais de gelo cobria as barracas e todo o gramado. Mas a fonte de água não chegou a congelar. Felizmente estávamos no alto e logo o sol começou a nos aquecer. Nesse dia começamos a caminhar às 7h16. Descemos até a extremidade leste da laguna, passamos pelos outros acampamentos, Teo pagou a nossa "protección" e contornamos a Laguna Carhuacocha por toda a face sul até entrar para um vale à esquerda (sul). Pouco antes de atingir a Laguna Siulá fizemos uma pausa às 9h11 para quem quisesse subir ao mirante da Laguna Gangrajanca, alguns metros acima à direita. Quase todos subiram pois a vista vale todo o esforço. Essas duas lagunas fazem parte de um conjunto de três (com a Quesillococha, mais acima) que são um dos cartões postais de Huayhuash, de tão belas e fotografadas que são. De volta à trilha principal, cruzamos às 10h04 o riacho que brota da Laguna Siulá e prosseguimos pela sua esquerda. Ali conhecemos um casal francês que estava fazendo um caminho alternativo e sem guia ou mulas, carregando todo o peso da comida e equipamentos nas costas. Estavam muito bem aclimatados e em ótima condição física! Em determinado ponto às margens da Laguna Siulá a trilha quebra para a esquerda e se dirige para o Passo Siulá, 526m acima. Começamos a subida de verdade às 10h34. Essa foi bem cansativa também, na base do devagar-e-sempre, e por sorte o mirante das três lagunas está no meio dela para quebrar a ascensão em duas fases, com um bom descanso no mirante às 11h06 fotografando as belíssimas lagunas com os nevados ao fundo: Siulá, Yerupajá, Yerupajá Chico, Jirishanca e Jirishanca Chico. Ali conheci o meu xará Rafael, de Porto Alegre, que estava fazendo um percurso um pouco diferente do nosso, com um guia particular. Conversamos pouco ali pois o meu grupo já estava de saída. Mirante das 3 lagunas: Quesillococha, Siulá e Gangrajanca. Ao fundo nevados Jirishanca e Jirishanca Chico Retomamos a subida às 11h38, cruzamos um vale mais plano e em seguida a subida final com muitas pedras soltas. Cheguei ao Passo Siulá às 12h23. Altitude de 4823m com a primeira visão dos nevados Carnicero (5960m) e Sarapo (6127m). Joel, nosso colega superativo, já estava voltando de um mirante acima do passo, e disse que valia a pena dar uma espiada. Continuei então pela crista à esquerda e fui até 4869m, num mirante que valeu mesmo o esforço extra. Além de uma outra laguna verde escondida entre as montanhas, tive a primeira visão dos nevados Trapecio (5644m) e Jurau (5650m). De volta ao passo descemos menos de 200m para fazer o almoço pois no alto ventava muito. Às 13h38 retomamos a caminhada descendo o restante do passo. À nossa direita os impressionantes nevados Trapecio, Jurau, Carnicero, Siulá e Yerupajá. O grupo todo disparou na frente, ansiosos (não sei por quê) em chegar ao acampamento. Ficamos eu e o Tony para trás, junto com o Henry (assistente do guia), tentando identificar pelos mapas os nevados que podíamos avistar ao nosso lado. Sem nenhuma pressa, ainda paramos uns 20 minutos para descanso e fotos na Laguna Carnicero, às 14h47. Cerca de 1km depois da laguna (às 15h32) uma outra trilha entroncou à esquerda, é a trilha pela qual vêm os burros e mulas já que a subida do Passo Siulá é mais arriscada para eles, podem cair e se machucar nas pedras. E também causar excesso de erosão na trilha íngreme. Cinco minutos depois já avistávamos do alto o acampamento Huayhuash. Foram mais 15 minutos de descida até ele. Cheguei às 16h. Altitude de 4357m. No fundo do vale (sul) tínhamos o Nevado Puscanturpa e a oeste o Jurau e Carnicero. Nosso acampamento estava montado bem ao lado de um riacho de águas limpas e geladas. Nosso guia Teo pagou "protección" aqui também. Uma placa dá as boas vindas à comunidade de Tupac Amaru, porém ela fica a 5km dali por estrada. Mais tarde reencontrei o Rafael de Porto Alegre e pudemos conversar mais. Soube que havia um grupo de quatro brasileiros também, mas não estavam ali no acampamento. O jantar nesse dia foi arroz com lomo saltado. Para mim só o saltado, sem o lomo... risos. Tony, nosso amigo espanhol, perguntava a todos se estavam conseguindo dormir bem já que ele estava tendo bastante dificuldade. O banheiro desse acampamento é requintado, tem vaso sanitário com caixa de descarga acoplada e ainda lavatório. Casinha com duas portas. Nesse dia caminhamos 14,3km. Trapecio 02/08/15 - 4º DIA: DO ACAMPAMENTO HUAYHUASH A ÁGUAS CALIENTES As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash4DiaPeruAgo15. Esse foi o dia mais tranquilo do trekking, ou melhor seria dizer que foi o único dia tranquilo... Deixamos o acampamento às 7h09 na direção sul subindo suavemente pela encosta esquerda de um grande vale. O sol já iluminava e aquecia quase todo o vale, porém boa parte da trilha ainda estava na sombra, então mantive as roupas mais quentes. Em trechos mais úmidos havia água congelada no chão, ou seja, a temperatura foi negativa novamente durante a madrugada. Subíamos tendo os nevados Jurau e Carnicero como sentinelas à nossa direita, um pouco distantes. Mais próximo estavam o belo Nevado Trapecio, que aqui tem forma piramidal, e o Nevado Puscanturpa. Às 8h10 o Oliver (nosso arrieiro) nos ultrapassou com a tropa. Às 8h40 a trilha atravessa uma área de desmoronamento, com o caminho aberto entre grandes blocos de pedra, e às 9h05 chegamos ao Passo Portachuelo. Altitude de 4776m, com 419m de desnível desde o acampamento feito em duas horas, ou seja, um passo bem tranquilo comparado aos outros. Enquanto esperávamos os colegas para reagrupar, Robert e Annie subiram um morro próximo para ter uma visão mais panorâmica. Às 9h33 continuamos escoltados pelo Puscanturpa à direita (oeste), porém a sudeste surge um outro conjunto de nevados apartado de Huayhuash, é a bela Cordilheira Raura, que ficará sob nosso olhar ainda até o dia seguinte. A descida do passo foi bem suave também, com a trilha apontando diretamente para o Nevado Millpo, bem distante. Às 10h20 avistamos a grande Laguna Viconga, represa construída para gerar energia, segundo Teo. Em 20 minutos cheguei próximo às suas margens, porém a trilha passa bem acima da água. Pudemos caminhar pela trilha mais baixa, mas quando o nível da represa está mais alto é preciso tomar a direita numa bifurcação e caminhar pela trilha mais acima. A visão da laguna com o grande Nevado Leon Huacanan (da Cordilheira Raura) ao fundo é espetacular. De uma forma ou de outra tivemos que subir e passar por um portão onde havia dois homens cobrando a "protección". Como eu estava sozinho, eles perguntaram o nome do meu guia e liberaram a passagem. Aproveitei para perguntar o nome dos nevados avistados: Cuyoc (5550m) e Puscanturpa (5442m) a noroeste e Pumarinri (5450m) a oeste (no dia seguinte passaríamos entre eles, no Passo Cuyoc). Acampamento Águas Calientes Após o portão a descida é inclinada e em ziguezagues em direção ao grande vale por onde corre o rio que extravasa da represa e desce furiosamente a íngreme encosta. Ao final da descida uma grande e caudalosa cachoeira. Depois o rio serpenteia vale abaixo um pouco mais manso e passa bem ao lado do acampamento Águas Calientes, aonde chegamos ao meio-dia em ponto. Altitude de 4369m, o acampamento mais alto do trekking segundo o meu gps. O dia realmente hoje foi fácil demais, uma forma de descansar para o que viria pela frente. Nesse dia deu até tempo de os cozinheiros prepararem um almoço quente, arroz com hambúrguer (ovo para mim). O grande atrativo aqui, além das montanhas e do bonito rio, como o próprio nome já diz, são as piscinas de água quente. São três, a menor sendo usada para o banho completo, com sabonete e xampu, porém não havia vazão de água nela e o aspecto não era muito bom. A maioria foi direto para a piscina do meio, de temperatura bem agradável. A outra piscina grande estava com a água quente demais e ninguém conseguiu ficar. Aproveitei um tanque ao lado para lavar as minhas roupas, as quais secaram num instante por causa do vento e do ar seco. Nesse acampamento havia vários grupos também, inclusive um pessoal da Bélgica que estava num esquema de muita mordomia. A equipe deles montou um banheiro privativo para eles não terem que usar o do acampamento, que foi o pior de todos: duas cabines de madeira sem porta e com um buraco fétido no chão. Passamos o resto do dia descansando e curtindo aquele bonito lugar, primeiro nas piscinas, depois conversando na beira do rio. Robert, o inglês, sacou o seu pequeno violão para algumas bonitas canções intimistas. Joel, o suíço desinquieto, subiu uma montanha ao sul do acampamento só para não enferrujar os músculos ficando parado. Tony aproveitou para descansar e dormir um pouco, já que não estava conseguindo dormir à noite. No jantar estava até mais falante. Encontrei o grupo de quatro brasileiros, todos de São Paulo (se não estou enganado), e conversamos rapidamente. Eles estavam com um guia brasileiro e um arrieiro para levar a maior parte do peso. À noite o jantar foi espaguete com (poucos) legumes. Chá quente e cama! Nesse dia caminhamos 11,5km. Nevados Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero vistos do Mirador San Antonio 03/08/15 - 5º DIA: DE ÁGUAS CALIENTES A GUANACPATAY COM SUBIDA DO MIRADOR SAN ANTONIO As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash5DiaPeruAgo15. O acampamento Águas Calientes foi o ponto extremo sul do nosso percurso. Para completar a volta ao redor da Cordilheira Huayhuash iniciamos gradualmente o retorno para o norte. Começamos a caminhada do dia às 7h14 retornando pelo mesmo caminho do dia anterior até a ponte sobre o rio que vem da represa. Ali mudamos o rumo e tomamos a trilha que sobe a encosta na direção norte. Apesar de o sol já iluminar e aquecer todo o vale, essa subida foi toda na sombra, com muito frio. Uma dica que deixo aqui é a seguinte: ao fazer esse trekking com o tempo firme e estável como pegamos, o melhor é sair do acampamento com o mínimo de roupa grossa possível, mesmo aguentando um pouco de frio no começo da caminhada. Se possível apenas uma segunda-pele e um fleece mais fino. Depois que se atinge o sol, todas as roupas quentes vão para a mochila de ataque, fazendo peso e volume para se carregar pelo resto do dia, um pequeno incômodo na minha opinião. Mas o impermeável precisa ficar na mochila de ataque sempre, pois nunca se sabe quando o tempo vai mudar, e ficar molhado num lugar frio como esse é um pulo para uma hipotermia. Nessa subida para o Passo Cuyoc nosso amigo Tony ficou muito para trás (na verdade não o vi mais, como contarei mais à frente). Após um primeiro e longo aclive, vem um trecho plano emoldurado pelos lindos nevados Cuyoc e Puscanturpa. Ali ultrapassamos os quatro brasileiros e foi a última vez que os vi também. No segundo aclive, pouco inclinado, vai se formando atrás de nós uma linda visão panorâmica da Cordilheira Raura, aquela que conhecemos no dia anterior no Passo Portachuelo. À direita, é surpreendente a grossura das camadas de neve sobre o Nevado Cuyoc, parece que a montanha está coberta por um espesso chantilly. Por ali, às 9h30, o Oliver nos ultrapassou com os burros e mulas. Às 9h43 cheguei ao impressionante e árido Passo Cuyoc, o ponto mais alto do trekking, com 5034m no meu gps. Desnível de 665m desde o acampamento, porém sem muita dificuldade. A visão para todos os lados é de cair o queixo, tudo maravilhosamente iluminado por um dia de sol e céu azul sem uma nuvem sequer. Uma recompensa por todo o esforço para se chegar até ali. A paisagem era tão inspiradora que nosso amigo Robert sentou-se para desenhar as montanhas em seu caderno de viagens. Para trás (sudeste) tínhamos uma visão ainda mais ampla da Cordilheira Raura, à direita (nordeste) a montanha de chantilly sobre o Nevado Cuyoc, ao sul o cume duplo do Pumarinri e à nossa frente (noroeste) a vista grandiosa de um imenso vale com os nevados da Cordilheira Huayhuash à direita: Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero. Ali o nosso guia Teo nos apontou onde ficava o Mirador/Passo San Antonio, e já deu para ter uma idéia da dificuldade que seria subi-lo. O San Antonio não estava no nosso trajeto e sua subida era opcional. A pior parte do Passo Cuyoc estava por vir: a sua descida. Uma pirambeira de pedras soltas num ziguezague que parecia não ter fim. Desci com cuidado para não torcer o pé nas pedras e levei 36 minutos para chegar ao vale. Apesar da dificuldade, alguns dispararam na frente. No vale voltamos a ter visão do Nevado Trapecio, agora num outro ângulo. Às 11h03 paramos numa bifurcação. Quem fosse subir o San Antonio deveria descer a um outro vale à direita, quem não fosse subir seguiria em frente para o acampamento com Teo. Só Annie optou por não subir. Tony estava muito para trás, nem o vimos no passo, e Henry o acompanhava com o cavalo à disposição, se necessário. Seguimos portanto nós seis para o San Antonio sem guia. Passo Cuyoc. À esquerda: Ancocancha (Rosario), Caramarca e Tsacra Chico. À direita: Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero Eu parei um pouco na bifurcação para comer algo e me distanciei do pessoal. Atravessei o vale meio encharcado (que na época das chuvas deve virar uma lagoa) e alcancei o Or (um dos israelenses) no sopé da montanha onde se encontra o mirador, às 11h31. O sol já estava forte. Comecei a subir pela ladeira de pedras e meu coração disparou, sentindo uma ligeira falta de ar. Quase desisti ali mesmo, pensando se valia mesmo a pena subir até os 5000m de novo (estava a 4524m). Mas insisti e pensei em subir até o primeiro platô, um pasto com vacas, para ter uma visão melhor do caminho e avaliar. Ao chegar lá os outros estavam me esperando (menos Joel, que quis bater o recorde de um israelense que subiu em 34 minutos). Isso me animou a continuar, mesmo sem ver como seria o caminho até o topo. Desse platô subimos pela encosta esquerda do vale, primeiro por trilha depois por um leito pedregoso cujo córrego ainda tinha placas de gelo, mas sem ter que molhar a bota. Só no alto é que pudemos ver como ainda seria difícil a chegada ao mirador, com a trilha bastante inclinada. Continuamos pelo caminho bem marcado entre pedras até alcançar a subida final, que foi se tornando mais e mais íngreme até virar uma trilha em ziguezague, que era a forma de evitar escorregar para trás ao dar o passo. Cheguei enfim ao Mirador San Antonio às 12h49, altitude de 5008m, ligeiramente mais baixo que o Passo Cuyoc pelo meu gps, porém isso varia por ser um altímetro barométrico, baseado na pressão atmosférica. E posso dizer que valeu a pena o esforço. É uma paisagem grandiosa, quase inacreditável, de tantos picos nevados e lagunas perdidas pelos vales abaixo deles. À direita temos o Rasac, Yerupajá, Sarapo, Siulá e Carnicero. À esquerda, Jullutahuarco, Caramarca e Tsacra Chico. Lagunas Jurau, Santa Rosa e Sarapococha nos vales. Para trás o Passo Cuyoc e ali no alto só o nosso grupo, depois chegaram alguns israelenses. Iniciamos a descida às 13h47 pelo mesmo caminho. Ao chegarmos ao primeiro platô (onde eles me esperaram) o Henry nos aguardava com o almoço. Depois terminamos de descer ao vale por um outro caminho, já na direção do acampamento (oeste). O grupo dos belgas acampou nesse vale, segundo o Henry eles iam subir o San Antonio e descer para o outro lado. Continuamos descendo na direção oeste, passamos por casas construídas de pura pedra, e chegamos ao acampamento Guanacpatay às 16h13. Altitude de 4316m. Esse acampamento fica bastante isolado dentro do vale, apenas com essas casas de pedra a uma certa distância. Mal cheguei e já soube que o guia Teo havia descido para a vila de Huayllapa levando o Tony, que se sentia extremamente cansado e com dores de cabeça mais fortes. Ele infelizmente estava saindo do trekking. Desde o começo ele dizia que tinha problemas à noite, não conseguia dormir, ao pegar no sono dava um pulo e acordava. Isso o deixava cansado, ficando sempre bem para trás do grupo. Nas subidas tinha bastante dificuldade, desde o primeiro passo no primeiro dia. Aquela noite ele dormiria em Huayllapa, depois em Cajatambo e só chegaria de volta a Huaraz dois dias depois. As rotas de fuga desse trekking são bastante complicadas. Teo ainda retornou naquela mesma noite ao acampamento. O jantar foi arroz, purê de batata e ovo frito (veg para todos nesse dia). O banheiro tinha vaso sanitário com caixa acoplada, ainda com assento e tampa. Luxo total. Era uma casinha com duas portas. Se não me engano havia um lavatório ao lado. Nesse dia caminhamos 17,8km. Diablo Mudo 04/08/15 - 6º DIA: DE GUANACPATAY A HUATIAC COM PARADA NA VILA DE HUAYLLAPA As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash6DiaPeruAgo15. Deixamos o acampamento Guanacpatay às 7h04 e caminhamos bastante tempo por dentro do vale, sempre na sombra, com muito frio. Às 7h53, ao final desse vale, tivemos finalmente o calor do sol e uma bonita vista de outros vales bem mais abaixo, porém era o início de uma descida quase vertical onde foi preciso ir devagar e com cuidado. Logo vimos que estávamos descendo a encosta ao lado de uma grande cachoeira! E o fim da descida vertiginosa foi às margens do riacho que vinha dela, o Rio Guanacpatay. Pausa para curtir o sol. Numa outra encosta para dentro do vale do Rio Calinca uma nuvem de poeira sinalizava que nossa tropa vinha por um outro caminho, já que aquele nosso seria muito arriscado para os animais. Às 8h43 continuamos descendo pelo vale do Rio Huayllapa (resultado da junção dos rios Calinca e Guanacpatay) tendo-o à nossa direita a princípio, depois à nossa esquerda ao cruzar uma ponte onde a nossa tropa de burros e mulas nos ultrapassou. Paramos todos num portão onde Teo fez o pagamento da "protección" para a comunidade de Huayllapa. Dali já avistávamos a pequena vila mais abaixo e logo chegamos a uma bifurcação: subindo à direita o caminho para o acampamento Huatiac, descendo em frente a vila. O guia perguntou quem queria descer à vila e todos aceitaram. A princípio eu e outros não gostamos da idéia pois queríamos nos manter "longe da civilização" pelo máximo de tempo possível, imaginando que iríamos encontrar ali carros buzinando e outras neuroses do tipo (trauma de Huaraz), porém na vila só andamos por vielas em que nem cabem carros, e o lugar é tão primitivo que valeu a pena conhecer. Paramos às 10h09 na Bodega Sol de Yerupajá para tomar algo gelado enquanto alguns colegas aproveitavam para recarregar as baterias de algum aparelho eletrônico. No salão dos fundos há dois interessantes mapas topográficos bem grandes na parede. Saímos às 10h46 e subimos de volta à bifurcação para Huatiac, tomando a trilha que sobe à esquerda. E como sobe! E que sol forte estava! Dos 3509m de altitude da vila subimos direto até os 4012m, onde paramos para o almoço às 12h05. Robert já estava passando mal com a subida constante sob o sol tão quente. Rio Huayllapa Toda essa subida foi feita ao longo do vale do Rio Milo, que desce das montanhas. No princípio tínhamos o rio bem próximo, até o cruzamos em determinado ponto, e vimos bonitos poços de água cristalina e pequenas quedas. A direção geral da caminhada, que era oeste (grosso modo) desde a descida do Mirador San Antonio, passou a ser norte, o que se manteria até o meio do dia seguinte. Após a pausa do almoço, retomamos a subida às 12h54. Mais acima cruzei pelas pedras um afluente do rio principal do vale e curiosamente encontrei uma senhora com roupas típicas, muito coloridas, andando pela trilha num local em que parecia não haver casa ou morador nenhum. Sua casa devia estar bem mais acima, mas numa outra direção. Será que eu já estava tendo alucinações? Culpa do mate de coca... kkkkk Subi ainda mais um pouco e quando já pensava em parar para descansar a trilha nivelou e já pude avistar o acampamento Huatiac para dentro de um grande vale, a Quebrada Huancho. Cheguei a ele às 13h51, cruzando o Rio Huancho pelas pedras. O Henry se desequilibrou nessas pedras e caiu na água. Teve de trocar rapidamente as roupas molhadas. Altitude de 4309m, exatamente 800m de desnível desde a vila de Huayllapa. No fundo desse vale o famoso Diablo Mudo (5223m), que algumas pessoas escalam durante o trekking, desde que contratado previamente com a agência pois é preciso levar equipamento para neve. A leste o Nevado Jullutahuarco. Depois do habitual chá com pipoca da tarde, colocamos as cadeiras fora da tenda-refeitório para conversar aquecidos pelo sol. Porém à medida que o sol ia se escondendo atrás da montanha íamos mudando o círculo de conversa para mais longe do acampamento em busca do calor do sol e fugindo do frio da sombra. Até que desistimos pois todo o vale ficou na sombra. O jantar foi espaguete com molho de tomate, em grande quantidade. Annie reclamou da carência de proteína na nossa alimentação e eles fritaram um ovo para ela. Tivemos apenas um grupo como vizinhos esta noite, e foi um pessoal que chegou bem mais tarde pois fizeram um caminho diferente, pelas montanhas. O banheiro desse acampamento é uma casinha com duas portas com vaso sanitário e descarga acoplada, porém só um deles estava em condições de uso, o outro estava entupido com papéis. Nesse dia caminhamos 13,9km. Diablo Mudo e Laguna Susucocha 05/08/15 - 7º DIA: DE HUATIAC AO ACAMPAMENTO INCAHUAYIN/JAHUACOCHA As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash7DiaPeruAgo15. Como ninguém do grupo ia escalar o Diablo Mudo, saímos todos juntos às 7h11. Esse dia para mim foi bastante desgastante, em parte pelo cansaço acumulado dos últimos dois dias e em parte por ter tido uma noite muito ruim, sem conseguir dormir depois da 1h da madrugada. E por falta de sorte foi um dia pesado, principalmente por causa do Passo Yaucha. A subida para o Passo Tapush não foi difícil, mas me cansei bastante mesmo assim. Grande parte dela foi feita pela sombra, com muito frio. Cheguei ao passo às 8h51. Altitude de 4770m, desnível de 461m desde Huatiac. Joel, o agitado, já estava no topo de uma montanha bem alta próxima, para espanto até do guia. Iniciamos a descida às 9h24 e logo fomos ultrapassados pela nossa poeirenta tropa. A bela Laguna Susucocha, à nossa direita, rendeu boas fotos. Após a laguna, a descida se torna bem mais inclinada e com muitas pedras soltas, até alcançarmos no vale o acampamento Gashpapampa, sem nenhuma barraca, apenas uma placa dando as boas vindas e uma cabine metálica que deve ser o banheiro. Às 10h11 nos deparamos com um imenso vale bem à frente. Nessa hora a direção da caminhada muda de norte para leste para adentrarmos o vale em direção às cabeceiras. É a Quebrada Angocancha. A boa surpresa são os bonitos bosques de queñuales, árvores que desprendem a casca como um papel. A má notícia é a visão do Passo Yaucha, muito acima de nós, fechando a cabeceira do vale. Da encosta sul (à direita) em que estávamos passamos para a encosta norte do vale atravessando o Rio Angocancha pelas pedras, onde Teo pagou mais uma "protección". O grupo estava por ali descansando e se preparando para a difícil subida do passo. Eu, como vinha por último, mal cheguei e todos já partiram, não descansei. Aliás nesse dia eu substituí o Tony como companhia para o Henry na rabeira do grupo. Aproveitei para exercitar meu portunhol conversando com ele, fazer o quê? E lá vamos nós para o Passo Yaucha! Segui no meu passo devagar-e-sempre mas tive que parar uma vez e sentar numa pedra para descansar um pouco. O Henry me oferecia o cavalo o tempo todo mas quem subiu montado nele foi mesmo o Or. Ninashanca, Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico e Yerupajá vistos do Passo Yaucha Cheguei ao Passo Yaucha às 11h45, altitude de 4838m, e não sabia se sentava ou se continuava andando por inércia. Não foi fácil! Permaneci alguns minutos no topo e logo descemos um pouco para o almoço num gramado logo abaixo. A visão da Cordilheira Huayuash era espetacular, com a face oeste das montanhas que vimos nos primeiros dias: Ninashanca, Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac e Siulá. Retomamos a caminhada às 12h38, agora descendo tudo o que subimos. Oh, vida besta! Risos. Voltamos à direção geral norte. Durante toda a descida a vista para os nevados da cordilheira era espetacular, com muitas paradas para fotos, o que me distanciou completamente do restante do grupo, sempre afoito para chegar ao acampamento (e passar o resto do dia fazendo nada). Lá atrás éramos eu, o Henry e o Pajarito (o cavalo de emergência). Às 14h uma das mais lindas paisagens de todo o trekking, como já disse anteriormente: a vista do acampamento Incahuayin com as duas lagunas, Jahuacocha e Solteracocha, e os nevados Ninashanca, Rondoy e Jirishanca ao fundo. Momento sublime! A descida foi por uma superpoeirenta trilha em ziguezague até o vale e depois uma breve caminhada por ele até o acampamento Incahuayin/Inka Wain (também chamado de Jahuacocha, pelo nome da laguna), aonde cheguei às 14h30. Altitude de 4082m, o acampamento mais baixo do trekking. Pela primeira vez tive de me deitar ao chegar para tentar dormir um pouco. Quase não fui à sessão de chá com pipoca da tarde. Mas fiz um esforço e fui tomar o chá com Joel, que já estava de volta de um passeio pelas duas lagunas e a tentativa de subir ainda a outra que ficava aos pés dos nevados. Haja energia! Este acampamento estava relativamente cheio, com diversos grupos terminando ou iniciando o circuito. Algumas pessoas pescavam trutas no límpido e gelado rio. Reencontrei o Rafael gaúcho e contamos nossas aventuras e dificuldades durante o trekking, cujos trajetos foram bem diferentes. Nosso último jantar foi sopa de entrada (como sempre) e um pratão de arroz, tomate, beterraba, batata frita e croquetes. De novo veg para todo mundo (e desespero da Annie, pela falta de proteína). Esse acampamento tinha dois banheiros. O do nosso lado do rio era bem ruim: duas cabines de metal sem porta e com um buraco fétido no chão. Do outro lado do rio duas cabines de madeira com uma bancadinha para se sentar, uma delas com assento plástico. Bem melhor! Nesse dia caminhamos 15,9km. Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac, Tsacra Chico e Tsacra Grande 06/08/15 - 8º DIA: DE INCAHUAYIN/JAHUACOCHA A POCPA As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/CircuitoHuayhuash8DiaPeruAgo15. Saímos do acampamento para o nosso último dia de caminhada um pouco mais cedo, às 6h51. Nossa direção era oposta às lagunas, como que saindo do vale. Cruzamos então a ponte do Rio Achin (que brota das lagunas) e fomos na direção oeste até o pé da encosta à direita, lado oposto ao que descemos no dia anterior. Tomamos a direita numa bifurcação logo após um portão e em seguida começamos a subir a íngreme encosta. Se tivéssemos ido para a esquerda, pela trilha mais larga, sairíamos em Llamac. Nesse dia me sentia bem melhor, resultado da soneca da tarde anterior e da noite mais bem dormida. Durante a madrugada fez menos frio também. Na subida da encosta uma nota muito triste. Paramos um pouco junto às pedras que foram colocadas no exato local onde um rapaz israelense de 24 anos havia morrido duas semanas antes em seu último dia de trekking. E o guia era o próprio Teo, que nos contou que o rapaz parecia não estar bem desde o primeiro dia, pedindo sempre o cavalo. Talvez tivesse algum problema de pulmão, uma bronquite ou algo assim. Era uma suposição. Continuamos a subida e só alcançamos o sol às 8h25, todo esse tempo caminhamos pela sombra gelada. Olhando para trás temos a última visão espetacular nesse trekking recheado de tantas paisagens belíssimas. O sol inundando o vale e iluminando a grande cordilheira com as montanhas que foram os protagonistas desses nossos oito dias de aventura: Rondoy, Jirishanca, Yerupajá Chico, Yerupajá, Rasac, Tsacra Chico e Tsacra Grande. Chegamos ao Passo Shulca, o último passo do trekking, às 8h55. Altitude de 4559m, desnível de 477m desde o acampamento. De lá do alto já era possível ver a pequena Pocpa, muito abaixo de nós, no fundo do vale do Rio Llamac. Iniciamos a descida às 9h13 e parecia não ter fim nunca mais aquele ziguezague montanha abaixo. Não paramos nenhuma vez, os ligeirinhos como sempre sumiram na frente. Eu fiquei na retaguarda com Henry, logo atrás de Teo e Annie. As partes mais bonitas dessa descida são os densos bosques de queñuales. Às 11h22 finalmente alcançamos a vila de Pocpa, onde no início do trekking fizemos uma parada para carregar a van e conhecemos nossos guias. Altitude de 3498m, simplesmente 1061m de descida! Ali um almoço nos esperava. Depois fotos do grupo todo, infelizmente sem o nosso amigo Tony, e zarpar para Huaraz. Annie ficou por lá pois ia continuar sua cicloviagem pelo Peru. A entrega da gorjeta para a nossa equipe ficou a cargo de cada um, de acordo com o valor que achasse justo. Partimos logo depois do meio-dia, passamos novamente por Llamac, Chiquian, Catac e outros vilarejos até chegar a Huaraz às 15h48. A van deixou cada um em seu hostel e eu fiquei nas imediações da Plaza de Armas para procurar um hostel melhor e mais central do que o Santa Cruz Trek Hostel. Nesse dia caminhamos 10,7km. Total do Circuito Huayhuash: 100,9km. Eu, Or, Yoav, Joel, Ofri, Robert, Oliver (arrieiro), Henry (guia). À frente: Annie e Teo (guia) Informações adicionais: Mapas em escala 1:70.000 do Ministério da Educação: . de Cuartelwain ao Passo Cacananpunta: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367926/ugel_bolognesi_2018.pdf . do Passo Cacananpunta ao Passo Portachuelo: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367933/ugel_lauricocha_2018.pdf . do Passo Portachuelo ao Passo Tapush: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367939/ugel_11_cajatambo_2018.pdf . do Passo Tapush a Pocpa: http://escale.minedu.gob.pe/documents/10156/1367926/ugel_bolognesi_2018.pdf Alguns sites de agências de Huaraz que fazem o trekking Huayhuash: . http://www.monttrek.com.pe . http://www.andeanskyexpedition.com . http://www.galaxia-expeditions.com . http://www.schelerhuayhuashtrek.com . http://www.andesexplorerperu.com . http://www.enjoyhuayhuash.com . http://www.miradortourshuaraz.com . http://www.k2-peru.com . http://www.activeperu.com Não vou indicar nenhuma agência pois penso que cada um deve procurar os serviços que estiverem dentro das suas expectativas e do seu orçamento. O nosso trekking foi perfeito, serviço muito bom, mas tem gente que prefere mais privacidade, caminhando num grupo bem reduzido ou mesmo somente com o guia e arrieiro. Outros preferem fazer em 9, 10 ou até 12 dias, com menos caminhada por dia e mais tempo para curtir os lugares. Vale a pena fazer contato com as agências acima e escolher o trekking que melhor se encaixar no que você procura Sem querer assustar ou desanimar ninguém, acho bastante recomendável consultar um cardiologista ou clínico geral para exames básicos, principalmente de coração e pulmão, antes de partir para um trekking como esse. As condições lá são muito diferentes do que temos aqui no Brasil. A altitude, a baixa temperatura e o ar extremamente seco podem causar sérios problemas de saúde a quem esteja vulnerável ou agravar algum problema que já se tenha. Não custa nada se precaver. Em caso de uma emergência durante o trekking as condições de resgate são precárias e demoradas demais, e mesmo as rotas de fuga são bastante complicadas. Quem leu o relato até o final sabe por que estou falando isso. Pense seriamente nisso! Rafael Santiago agosto/2015 http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br Percurso na imagem do Google Earth Percurso do 2º dia na imagem do Google Earth Percurso do 3º dia na imagem do Google Earth Percurso do 4º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) Percurso do 5º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) Percurso do 6º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) Percurso do 7º dia na imagem do Google Earth (em amarelo) Percurso do 8º dia na imagem do Google Earth (em amarelo)
  2. A Zona Reservada Cordillera de Huayhuash fica a 400 km ao norte de Lima, capital do Peru. Fomos em setembro de 2014 e uma característica marcante deste circuito é que em toda nossa travessia ficamos em uma altitude média de 4100 metros, chegando ao máximo de 5041 metros. Quanto mais alto, menos oxigênio tem o ar e acima de 3 mil metros uma pessoa pode passar mal, caso não tenha se acostumado com o novo ambiente. Para evitar os males da altitude, é necessário se submeter a um processo conhecido como aclimatação. Nós nos aclimatamos fazendo alguns trekkings perto da cidade de Huaraz em altitudes de até 5000 metros e voltávamos para dormir na cidade a 3000 metros. Fizemos no total 3 trilhas e em uma delas eu passei muito mal. Mas isso faz com que seu corpo se acostume mais rápido a esse novo ambiente. Me recuperei e fiz Huayhuash sem nenhum problema. Infelizmente Ramon e nosso amigo Wagner não puderam dizer o mesmo... No Peru também se encontra a La Rinconada, que é considerada a cidade mais alta do mundo a 5.100 metros de altitude. O topo mais alto do mundo é o Everest com 8.848 metros de altitude, em uma região onde os tibetanos vivem em altitudes médias de 4.500 metros. Estudos mostram que os tibetanos tem artérias e capilares mais largos para levar o oxigênio aos órgãos e músculos, e assim, evitar os males de altitudes. Como chegamos De Lima pegamos um ônibus até Huaraz, e em Huaraz contratamos mulas e cavalos para carregar nossa babagem e um operador de mulas, chamado de arrieiro. A maioria dos turistas, além do arrieiro e mulas, também contratam guia, barracas, cozinha com cozinheiro, comida e ajudantes. Tipo all inclusive. Nós optamos ir com nosso GPS e levar nossas barracas, quer dizer, colocar nossas barracas em cima das mulas para elas levarem. Por segurança contratamos um cavalo, caso fosse necessário, por alguma emergência, sairmos da Cordilheira com agilidade. Fomos eu, Ramon e mais dois amigos: Wagner e Ricardo. Compramos comida para nós quatro e para o arrieiro; e levamos 3 barracas: 1 para eu e Ramon, 1 para Wagner e Ricardo e 1 para o arrieiro dormir junto com a comida. Dia 1: Huaraz - Matacancha Chegamos no final do dia e acampamos no meio da 'multidão' em Matacancha. Haviam vários grupos acampando para iniciar a travessia no dia seguinte. Combinamos de encontrar o operador de mulas (arrieiro), que nunca vimos antes, naquele lugar lotado de turistas. De algum modo ele nos encontrou. Provavelmente éramos as únicas barracas sem a supervisão de um guia. Dia 2: Matacancha - paso Cacananpunta - laguna Mitucocha O primeiro dia foi bem chuvoso e tivemos que começar a andar embaixo de chuva. Foram cerca de 5 horas de caminhada por onde passamos pelo paso Cacananpunta (4693 metros de altitude) até chegarmos na laguna Mitucocha. A trilha em si não é uma caminhada difícil, mas devido à altitude e falta de oxigênio no ar, tudo fica mais lento. Aliás, apesar das altas altitudes, nós não fizemos nenhum cume de montanha, os lugares mais altos deste circuito são chamados de 'pasos', que nada mais são que passagens no meio da trilha. Esse foi um dia nublado e chuvoso. E mais um dia dentro da barraca esperando a chuva passar. Dia 3: laguna Mitucocha - passo Carhuac - laguna Carhuacocha Acordamos com o céu limpo e felizmente deu para tirar uma foto da bela paisagem do acampamento, com vista para as montanhas Jirishanca, Yerupaja e Yerupaja Chico. Neste dia passamos pelo paso Carhuac (4631 de altitude), também conhecido como Yanapunta. Se o tempo estiver bom, é possível ver as montanhas Yerupaja e Siula. Dormimos ao lado da laguna Carhuacocha, onde o arrieiro pescou um peixe para comermos. Não sei se tem algo haver, mas o Ramon e Wagner começaram a passar mal nos dias seguintes. Eu comi pouco peixe e fiquei bem. Dia 4: laguna Carhauacocha - 3 lagunas - paso Siula - acampamento Huayhuash Esse foi um dia bem cansativo, andamos cerca de 15 km em 9 horas. Mas sempre nos esforçávamos para tirar uma foto quando víamos uma bela paisagem, como a magnífica paisagem das 3 lagunas: Gangrajanca, Siulacocha e Quesillococha. Nesse dia passamos no paso Siula (4843 metros de altitude), e foi onde chegamos mais perto da montanha Siula Grande, onde Joe Simpson e Simon Yates foram protagonistas de quase uma tragédia fatal narrada no excelente filme Touching the voide. Depois de conquistarem o cume, Joe Simpson quebrou sua perna no Siula Grande, e Simon tentou ajudá-lo na descida. Mas durante uma tempestade, Joe acabou caindo de um penhasco. Seu companheiro de escalada não o encontrou e achou que ele tinha morrido, então continuou tristemente sua descida sozinho. Mas o mais inacreditável aconteceu, Joe com a perna quebrada sobreviveu à queda e conseguiu descer o Siula Grande por 2 dias, sem água e comida, se rastejando no solo irregular e em um lugar inóspito a baixa temperatura. E em uma mistura de sorte e azar, Simpson conseguiu chegar no acampamento, onde seu colega Simon ainda estava. Simon quase foi embora no dia anterior, mas ele decidiu ficar mais um dia. Vimos o Siula de longe, imaginando alguém dado como morto, sozinho com a perna quebrada nessa montanha coberta de neve e gelo... Dia 5: acampamento Huayhuash - Portachuelo pass - termas Atuscancha Acordamos embaixo de neve, e para nós brasileiros é só festa. Teve até boneco de neve. As trilhas da cordilhera de Huayhuash são as trilhas mais cagadas que já pisei. Tem vários animais fazendo o trabalho: cachorro, mulas, cavalos, coelhos, vicunas, vacas, pássaros... Se souber reconhecer as fezes de uma mula, você jamais irá se perder nesse circuito... Como a gente andava mais devagar e sempre tinha alguém na nossa frente, a neve facilitou reconhecermos a trilha toda pisada. E seguimos para o paso Portachuelo (4790 metros de altitude) e depois para as águas termais. Nesse dia chegamos em um dos melhores lugares dessa trilha. Onde foi possível tomar banho! Haviam 3 banheiras coletivas. A primeira era tipo um ofurô, redondo e com a água mais quente. Fomos os últimos a chegar, então a água deste ofurô estava, digamos, pouco translúcida. Todo mundo passa na primeira banheira, se ensaboa e como já tinha passado muita gente, o sabão ficou por lá. Mas depois de 5 dias sem tomar banho, foi uma delícia!!! A água é quase pelando, por volta de 40ºC, e no lado de fora estava por volta de 5ºC. Depois da primeira banheira, vamos para uma segunda banheira, que já é bem maior, e é quase uma piscina, com a temperatura um pouco mais amena, onde tiramos o sabão. E depois vamos para terceira piscina com uma temperatura perfeita. E lá todos ficamos curtindo, e tomando um refrigerante. O Ramon estava bem mal nesse dia, chegou na barraca com calafrios. Mas quando viu as piscinas no lado de fora saindo fumacinha... criou coragem, saiu da barraca e foi dar um ti-bum. Essa noite foi a última noite que nossos amigos Wagner e Ricardo ficaram conosco. O Wagner também não estava bem devido à altitude e o Ricardo estava com o pé um pouco machucado, então eles decidiram pegar uma rota de fuga. Levaram o cavalo, que acabou sendo útil, e algumas mulas com eles e partiram rumo à civilização. Dia 6: termas Atuscancha - paso Cuyoc - vale Huanacpatay Subimos na maior altitude da caminhada: 5041 metros, no Paso Cuyoc. Este passo fica entre as montanhas Kuyuq e Pumarinri. Depois do paso descemos no vale Huanacpatay e chegamos em um acampamento, que foi todo nosso nessa noite. Dia 7: vale Huanacpatay - paso Santo Antonio Hoje foi um dia tranquilo. Ficamos acampados no mesmo lugar e fomos até o Paso Santo Antonio (5017 metros de altitude) e voltamos. No paso é possível ver as montanhas Carnicero, Jurao, Siula Grande e Yerupaja. Foi o dia com a segunda maior altitude alcançada: 5017 metros. Dia 8: vale Huanacpatay - vila Huayllapa - Huatiac Nesse dia descemos o vale e passamos perto no vilarejo Huayllapa. Seria possível descer até o povoado Huayllapa, mas decidimos dormir no meio do caminho no acampamento Huatiac, entre Huayllapa e o paso Tapush. Foi um dia bem cansativo, pois percorremos o equivalente a quase uma meia maratona. Dia 9: Huatiac, paso Tapush punta, acampamento Gashcapampa, Angocancha Todos os dias o arrieiro desmontava nossas barracas, ia na frente com as mulas carregando nossas coisas e quando chegávamos no acampamento, as barracas já estavam montadas. Apesar de parecer um luxo, fomos no modo econômico, a maioria dos turistas contratam uma agência com arrieiro, mulas, cavalos, cozinheiro, comida e barracas. Chegavam no acampamento, descansavam na barraca enquanto aguardavam o cozinheiro preparar a refeição. Nós tivemos que cozinhar para nós e para o arrieiro. Seguimos até Tapush Punta (4788 metros de altitude), onde pode-se observar uma parte da Cordilheira Blanca. Passamos pelo acampamento Gashcapampa e seguimos até Angocancha para acamparmos. Dia 22: Angocancha, paso Yaucha, Llaucha, Laguna Jahuacocha Nesse dia passamos pelo paso Yaucha (4848 metros de altitude) e seguimos para a laguna Jahuacocha para acamparmos, onde a silhueta de Yerupajá domina a paisagem. O dia de caminhada foi o mais rápido de todos, andamos por 3,5 horas. Dia 11: laguna Jahuacocha - pampa Llámac - povoado Llámac - Huaraz Esse foi o último dia e teríamos que pegar um ônibus em LLámac. Como andamos muito devagar, o arrieiro nos orientou para iniciarmos a trilha antes do nascer do Sol, com lanternas na cabeça, assim não corríamos risco de perder o ônibus. Foi uma longa descida com leve desnível na maior parte do tempo e se intensificando no final. Conhecendo nosso ritmo e com medo de perder o ônibus, não perdemos o foco e fizemos 15 km em 5 horas, chegando ao ponto de ônibus com certa folga. Resumo circuito Huayhuash Cidades próximas: Huaraz (138 km) e Lima (3756km) Início: Matacancha Fim: Llámac Distância total: 109 km Duração: 10 dias Pontos de água: nos acampamentos e durante o percurso Elevação acumulada: subimos 6.433 metros e descemos 7.345 metros Altitude máxima: 5.041 metros Dificuldade: com o acúmulo de 10 dias caminhando em altas altitudes, consideramos o circuito pesado. Mas para quem não sentir o efeito da altitude, a trilha fica bem mais fácil. Quer mais? Para ver mapa, distâncias, tempo e altitudes de cada dia, assim como fotos, acesse os detalhes em: http://https://mochilaosabatico.com/2017/07/23/huayhuash/
  3. Uai uai uai huash!! As pessoas dizem brincando que a Cordilheira Huayhuash é tão difícil que merecia esta denominação alternativa. Segundo a National Geographic é o 2° trekking mais bonito do mundo. Mas é pesado pela sucessão de passos de montanha e acampamentos acima dos 4.000 m. Eu e Renato chegamos em Huaraz no dia 29/8 pela tarde. O Wilder, da Mirador Tours estava nos esperando. Ficamos no Hostel La Casa de Zarela, um lugar legal. Nos dias seguintes fomos para a laguna Churup e para a Laguna 69, a aclimatação clássica para Huayhuash. No domingo 1º/9 descansamos e fizemos os últimos preparativos para a viagem. Llanganuco Laguna 69 1° dia - 2/9/2013 Wllder veio nos buscar no hostel. Fomos para um local de onde partem as vans para Huayhuash. Parece que é um grande pool. As agencias fecham e trazem clientes para formar um grupo. O nosso tinha 12 pessoas: 5 israelenses, 2 americanos, 1 australiana, 1 irlandesa , 1 alemão e 2 brasileiros (nós dois). Havia também outro grupo de mais 12 trekkers, todos israelenses. Ao longo do caminho estes dois grupos caminharam juntos embora cada um tivesse seu próprio staff. Seguimos para Chiquian, cidade em um vale a Sudeste de Huaraz (cerca de 110 km) e de lá pegamos estrada de terra por dentro de um canion, passando por LLamac e Popca. Pagamos a taxa de proteção, que os moradores locais cobram dos turistas. É na realidade um pedágio. No total do circuito pagamos 200 soles de proteção. O primeiro camping foi perto de Matacocha, em Cuartelwain, 4.180 m. A tarde foi livre para descanso. Na tenda refeitório, tomando chá de coca e comendo pipoca, cada um teve a oportunidade de se apresentar aos demais. De noite ouvimos passos do lado de fora da tenda. Quando olhamos, cadê os bastões de trekking? Saímos correndo da tenda para ver se ainda pegávamos o gatuno. Nada. No dia seguinte soubemos que os arrieiros guardaram os bastões na tenda refeitório. Nada deve ficar do lado de fora das tendas. 2º dia- 3/9/2013 Acordamos cedo, as 6 horas (em todos os demais dias o mesmo horário) - frio e escuro. Colocamos as coisas na mochila que iria com o burro. Na nossa mochila pequena de ataque apenas os agasalhos e lanche. Café as 06:30 e saída antes de 07:30. Pouco depois do acampamento começamos a subir, enfrentando o passe Qaqananpunta (4.890 m) para cruzarmos os Cerros Paria. Era difícil pela sua altura e por ser o primeiro, com pouca aclimatação. Subida de 2:30 horas. Lá em cima uma vista bonita para o vale seguinte, Quebrada Caliente, que tem este nome devido às águas termais. Descida tranquila. Com pouco mais de uma hora entramos num vale a direita, a Quebrada do Rio Janca e o espetáculo começou: diante de nos, na direção SO - Sul uma vista incrível dos nevados Jirishanca, Rondoy e Yerupajá. Começamos a subir outra vez, agora de modo mais gradual, para Carhuac Yanapunta. Mas algumas pessoas já estavam montadas nos cavalos. Antes do passo, paramos para almoçar uns sanduíches de pasta de atum, de abacate e queijo. Depois da refeição eu e Renato sempre tentávamos cochilar um pouco ao sol. Prosseguimos até chegarmos na Laguna Carhuacocha, com uma visão incrível do Yerupajá Chico e do Yerupajá. O acampamento ficava em um platô acima do lago. Um dos locais mais bonitos do circuito. Banheiros aceitáveis e pias com água encanada completavam o luxo do lugar. Renato desceu com o Juan, pai do nosso guia, o Elvis, para vê-lo pescar trutas. Soubemos que na semana anterior havia nevado dois dias neste acampamento. 3° dia - 4/9/2013 Acordamos cedo. Não havia água nas torneiras. Ela estava congelada dentro dos canos. Consegui umas fotos das montanhas rosadas pelo nascer do sol. Inclusive do Siula Grande, famosa devido ao "Touching the void". Ao sairmos, passamos por uma pequena ponte pênsil sobre o rio que extravasava a laguna Carhuacocha. Quando não havia vento era possível fotografar a laguna espelhando as montanhas em volta. Contornamos a laguna pela margem sul e entramos numa quebrada onde ficavam as 3 lagunas, Gangrajanca, Siula e Quesillococha. Descansamos e lanchamos na última. Em seguida veio o Passo Siula, 4.834 m, bem íngreme, o mais cansativo de todo o circuito. De cima de um mirante tiramos as fotos clássicas das 3 lagunas. Linda paisagem. No topo do passo uma campesina indígena vendia refrigerantes. Renato comprou uma Coca-Cola a 6 soles, para beber a Coca mais alta do mundo. Ele me ofereceu um trago. Bebi, mas quase arrotei tudo fora. A diferença de pressão do gás carbônico dentro da garrafa e naquela altitude faz o gás sair do líquido muito rapidamente. Logo depois do passo almoçamos. Durante o almoço um solitário trekker veio subindo no sentido oposto, carregando uma pesada mochila. O cara estava muito bem aclimatado. Descemos por entre pastos de ovelhas até o acampamento Huayhuash, a 4.345 m. Lá os israelenses do grupo nos convidaram para uma cerimônia de Rosh Hashaná, o Ano Novo Judaico. Comemos maçãs com mel, figos, pão e bebemos um pouco de vinho. Bonita celebração. Comemoravam a chegada do ano 5.774 no calendário hebraico. No jantar tivemos as trutas pescadas no dia anterior. Eu e Renato oferecemos um chocolate suiço e uma bananada brasileira na sobremesa, como retribuição. Noite estreladíssima e fria. Renato sentiu bastante o frio numa rápida caminhada fora das tendas. 4° dia - 5/9/2013 De manhã um mal sinal. Papel higiênico espalhado pelo acampamento perto das barracas. O pessoal teve uma diarréia fortíssima pela noite e não deu ou não queria correr até os banheiros que estavam distantes. No dia anterior já tinha notado uma mudança na consistência do número 2. Passei a tomar Ciprofloxacina. Isto impediu que a desinteria se desenvolvesse. Pedi ao Renato que trouxesse este antibiótico com a receita médica de um médico amigo porque ele é o medicamento de eleição para infecção bacteriana (a mais provável). Havia lido relatos que diziam ser este um problema grave no Peru (e pior ainda na Bolívia): a falta de higiene no preparo das refeições. Os companheiros de jornada, especialmente os israelenses, sentiram muito o efeito da desinteria. Alguns até vomitaram. Eu e Renato, que estávamos na rabeira da fila, agora estávamos com ritmo mais rápido que os doentes. Os cavalos não eram suficientes para todos. Houve revezamento dos animais. Os arrieros deixavam alguns num ponto alto e voltavam com os cavalos para apanhar os demais doentes. A desinteria é grave nas alturas porque pode levar a um quadro de desidratação, que torna as pessoas mais propensas ao MAM (Mal de Altura de Montanha). Renato havia preparado um super kit de primeiros socorros.Como farmacêutico ele sabia aplicar injeções. O dia seria fácil, com apenas 6 horas de caminhada, sem grandes subidas. Mas com a desinteria o grupo se movia lentamente. Atingimos o Portachuelo Huayhuash. Ventava e o dia estava nublado. Dali uma excelente vista da bela Cordilheira Raura, vizinha de Huayhuash. Não ficamos muito tempo devido ao vento. Passamos pela represa Viconga, usada apenas para irrigação. Aquela represa era uma feia intervenção humana na região. Ali perto havia uma antiga base do Sendero Luminoso. Caminhamos também pelos restos de uma antiga trilha inca. Chegamos em Atuscancha, mais conhecida como Águas Calientes. Depois do almoço fomos para as piscinas termais. A primeira e menor era para se ensaboar, para o asseio. Água quentíssima, doía ao entrar, parecia um ofurô japonês. A segunda, utilizada depois do asseio, tinha temperatura menor, era a piscina de relax. Eu, Renato e os arrieros ficamos conversando na piscina. Aproveitei para lavar algumas roupas (na verdade para molhar as roupas, pois não usei sabão). Pouco depois chegaram os demais. Fotos e muita conversa. Engraçado que saindo da água quente não sentíamos o frio ambiente de imediato. Demorava para sentir o frio. Renato estava apático e cansado. De noite apenas jantou sopa. 5° dia - 6/9/2013 Renato decidiu abortar a viagem. Acordou e viu que a urina estava com uma cor estranha (durante a noite urinamos em frascos, para evitar sair da barraca). Supusemos que se tratava de provável infecção urinária. O médico israelense, embora não fosse a especialidade dele, pensou o mesmo. Renato me disse que bebeu pouca água nos primeiros dias. Isto predispõe uma pessoa à infecção urinária. Este problema é caso de evacuação. Ele passou também a tomar a Ciprofloxacina e Juan arranjou um cavalo para levá-lo para Cajatambo, a 6 horas de distância, onde havia ônibus para Huaraz (fazendo escala em outra cidade) ou direto para Lima. Como ele estava medicado e estava sem sintomas graves de infecção (sem febre e sem dores nos rins) ele foi apenas com Juan para a cidade, dispensando minha companhia no trajeto. Partimos tristes devido a saída de Renato, pois o seu bom humor trazia alegria para o acampamento. Quando ele entrava na tenda cozinha para conversar com os peruanos, só ouvia da minha barraca as risadas, com as piadas do Renato. Enfrentamos neste dia a Punta Cuyoc, o passo mais alto, com 5.000 m. Mas a subida não era íngreme. Estava bem aclimatizado e apesar dos 50 aninhos deixei alguns jovens de 20 anos para trás. Mas a desinteria obviamente os retardou. Muitas fotos no passo. O Cerro Cuyoc com seu manto de neve, dava uma luminosidade especial no local. Após cerca de 2 horas de descida paramos para almoçar. Após a refeição o grupo se dividiu em dois. Aqueles que subiriam o Passo San Antonio para curtir o visual e tirar fotos e aqueles que seguiriam direto para o acampamento em Huanacpatay. Fiquei no segundo grupo. Não estava a fim de um segundo passo de 5.000 m no mesmo dia. E muito íngreme! Dos cerca de 23 trekkers (dois grupos) apenas 5 toparam a empreitada. Pena que não estava com este pique. A vista do passo é lindíssima, um dos cartões postais do circuito, com a laguna Jurau lá no fundo. Fui o primeiro a chegar no acampamento. Logo que cheguei, deitei um pouco na barraca. Depois lavei a cabeça no córrego e banho com baby wipes. 6° dia - 7/9/2013 Feriado no Brasil. E mais um dia de esforço aqui em Huayhuash Saímos cedo. Descendo o vale passamos por pequenas fazendas típicas, bonitas. Cercas e casas com muros de pedra e tetos de palha. Ovelhas pastavam. Como Renato observou: parecem fazendas típicas da Idade Média. A descida foi fácil até que encontramos o vale do rio Calinca, vindo da direita. Este é o vale em que sairíamos se cruzássemos o Passo San Antonio. Era um canion estreito. Descemos até o fundo do vale e prosseguimos até o vilarejo de Huayllapa. Uma porteira no caminho foi imediatamente fechada quando nos viram, para cobrança da proteção. Fui o único que desci para o povoado, com o arriero Willy, para carregar minha câmera num bar-mercearia. Tomamos uma Inca Cola e uma cerveja enquanto carregava. O restante do grupo subiu a Quebrada Milo. Encontrei-os 50 minutos depois na parada para almoço. Na entrada de Huayllapa encontrei o arriero Juan, que regressava de Cajatambo. Boas novas. Disse-me que deixou Renato lá na cidade e que ele estava bem. Que não precisou guiar o cavalo porque Renato era um bom cavaleiro, assumiu as rédeas (a maioria do pessoal a cavalo era conduzido pelo arriero). Disse-lhe que Renato era fazendeiro em Goiás, assim tinha prática de cavalgada. Depois do almoço, com mais duas horas chegamos em Huatiaq, nosso acampamento a 4.253 m. No fundo do vale o Raju Collota, o Diablo Mudo (5.350 m) montanha que muitos escalam para ter uma aventura na neve. Na hora do té de coca, uma surpresa: ao invés de pipoca, pastéis de queijo. Caí matando. 7° dia - 8/9/2013 Perdi a hora de acordar, levantei apenas 06:15. Partimos para a Punta Tapush, cerca de 4.800 m. No topo, descanso e lanche. Ao descer passamos pela laguna Susucocha. Olhando para a face Noroeste do Diablo Mudo pude observar a trilha na neve deixada pelos andinistas perto do cume. Continuamos a descida até chegarmos na Quebrada Angocancha à direita. Passamos a subir por esta. Era a primeira vez que via um bosque nesta cordilheira. Eram Quenuales, árvores de casca parecendo um pergaminho. Na Quebrada Santa Cruz tinha visto elas, 4 anos atrás. A subida para o Passo Yaucha (4.847 m) foi puxado, aliviado por uma parada para almoço. Porém meu rendimento estava bem melhor. Era a aclimatação surtindo efeito. Ficamos pouco tempo no Passo. Um vento frio indicava a aproximação de uma tempestade. O Rasac e o Yerupajá estavam envoltos em névoa. Foto com o Mathias (alemão). A descida pela Quebrada Huacrish foi deliciosa. Rajadas de granizo volta e meia nos atingiam. A chegada ao mirante da Laguna Jahuacocha foi o momento mais especial do trekking. O Rondoy envolto em nuvens de tempestade, o granizo caindo, a laguna e o acampamento Incahuain lá embaixo. Uma beleza selvagem, única. Apesar do granizo, não queria sair dali. Enfim, tinha de descer. O acampamento é um dos mais bonitos do circuito. O rio de desague das lagunas Jahuacocha e Solteracocha era cristalino e tinha algas no fundo. O pessoal pescava trutas vendo os peixes na água. O jantar obviamente foi com trutas. Discutimos a questão da gorjeta. Combinamos 10% do valor pago. Ou seja, 50 Soles (um pouco menos que US$ 20). Fui o encarregado da coleta. Amanhã acordaríamos as 3:30 porque pegaríamos o ônibus meio-dia em Popca. 8° dia - 9/9/2013 Acordei bem cedo porque ainda precisava ir para o banheiro. Neste acampamento as casinhas ficam do outro lado do rio, um verdadeiro trekking, que inclui travessia por sobre as pedras, no rio. Partimos na escuridão. Estava tão frio que continuei usando meu casaco de duvet. Uma lenta fila indiana descia o vale, todos com as headlamps acessas. Após meia hora, o dia já clareando, começamos a subir para cruzar a Punta Mancan. Um mesmo ritmo lento, pois subíamos todos juntos. A vista do Yerupajá ao alvorecer era muito bonita. Pequeno descanso no Passo. O vale do rio LLamac abaixo de nós. No lado oposto do vale terraços plantados. Poderíamos dizer que era no Nepal e os terraços eram de arroz. Porém estávamos no Peru e eles serviam para plantar batatas e milho, em suas dezenas de variedades. A descida foi demorada, pois o sendero fazia longas curvas até chegarmos a Popca. Lá almoçamos num restaurante simples, comida insossa e pouca. Fotos do grupo, um breve discurso para homenagear nosso staff, entrega das gorjetas. Embarcamos no ônibus de linha que lotou e mesmo assim ainda recebeu outros passageiros. Entre LLamac e Chiquian o ônibus furou um pneu. Descemos todos e esperamos por cerca de 40 minutos o conserto. Em Chiquian trocamos o ônibus por um maior. O vendedor de helados fez a festa, pois todos compramos sorvetes (larica de trilha!). Depois de hora e meia chegamos em Huaraz. Despedidas e trocas de e-mail. Grupo excelente. Fiz minha última caminhada com as duas mochilas até a Casa de Zarela. Um bom banho me aguardava. Em resumo, um circuito puxado, por um lugar lindo e incrível, que não pode faltar na wish list de quem ama trekking. Exige preparo físico e aclimatação, porém vale muito a pena. Outra coisa que me chamou a atenção: apenas 500 Soles por 8 dias com tudo incluído, exceto a "proteção" de 200 Soles e a gorjeta. Poucos lugares do mundo oferecem algo assim por este preço. Uma boa farmácia é essencial para quem parte para um trekking nos Andes Centrais. Não só para prevenir e combater a MAM, o EPGA e o ECGA como também para desinteria e outros males. Boa proteção térmica também, pois faz muito frio pela noite e de madrugada. A mineração está mudando Huayhuash. Estradas estão sendo construídas. No 1º acampamento, Cuartelwain, ouvimos a noite toda o barulho dos caminhões pesados passando. A promessa feita em 2002 quando criaram a reserva natural Huayhuash de que não haveria exploração de minérios não está sendo cumprida. Quem quiser conhecer esta cordilheira em seu estado mais selvagem vá logo.
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