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  1. Olá, algum grupo programando fazer o Vale do Pati em abril/maio deste ano? Com preferência para 15 de abril a 15 de maio. Sou de Vila Velha, penso em fazer a rota de 5 dias para aproveitar o entorno (paisagens e atrativos), pegar um voo até Vitoria da Conquista e, locar um carro de lá para Lençois. Alguém? Aceito opniões...
  2. BONETE X NEMA E agora José? Presos há uns 30 metros de altura, Eu e o Thiaguinho tentamos nos manter imóveis, na esperança que o terreno não ceda e nos jogue no vazio. Maldita hora em que resolvemos deixar a segurança do chão e nos enfiamos naquela parede íngreme, no meio de uma garganta intransponível. Escalamos até onde deu, até onde nossas pernas e nossos braços conseguiram nos levar e eu até tentei continuar seguindo, mas um deslizamento interrompeu nosso caminho, talvez desse para arriscar passar, mas se a ação não desse certo, despencar seria quase certo, por isso pedimos para que o Dema tentasse, talvez uma perna um pouco mais comprida, pudesse dar conta da travessia. O Dema nos passou e se posicionou junto ao lance, mas igualmente nós, logo viu que aquilo era suicídio certo e agora éramos 3 homens reféns, sem poder subir e sem corda para descer e a palavra fudidos, se aplicava plenamente àquela situação. (DEMA , THIAGUINHO, DIVANEI ) Quando o Thiaguinho me falou do projeto de subir um pico rochoso e quase selvagem em Ilhabela, tentei puxar pela memória que tal pico seria esse, sendo que as 3 ou 4 vezes que passei pela Praia do Bonete, jamais tinha botado os olhos nele, talvez porque sempre ao passar por lá no verão, os picos se mantinham encobertos, mas quando ele me mandou uma foto, aí meu queixo caiu no chão, realmente por nunca ter visto nem fotos. Eu acabara de voltar de uma viagem de férias com o Dema e como ainda tínhamos uma semana de folga, não relutamos em abraçar o projeto, mesmo sem ter estudado muito os mapas, mesmo assim, não esperávamos lá grande coisa, apenas compramos a ideia e fomos nos divertir. Num sábado à tarde, nos encontramos com o Thiaguinho no terminal rodoviário do Tietê , na capital Paulista e seguimos para Ilhabela, mas antes de lá chegarmos e mesmo antes de sairmos da região metropolitana, se juntou a nós o quarto elemento e foi assim que o Tebas completou o time de exploradores. Foi num piscar de olhos que nos vimos estacionados no centrinho comercial de São Sebastião, bem em frente a ilha, onde por lá estacionamos o carro e nos dirigimos para a balsa, onde pretendíamos atravessar como pedestre, economizando grana e tempo para também nos vermos livres das burocracias, tanto na ida, quanto na volta. A noite já havia dado a sua graça e assim que chegamos à Ilhabela, o ônibus para Sepituba, que é o último ponto onde se pode chegar de transporte público indo em direção ao sul, já estava de saída e cerca de uma hora depois, nos catapultamos para fora e saímos a caminhar na escuridão até que a estradinha termina numa porteira, onde hoje há uma guarita instalada, por sorte, completamente vazia. Ali, no final da estradinha existe um estacionamento onde se pode deixar o carro mediante pagamento, mas não quisemos usar essa opção porque na volta é certo que se passe horas esperando na fila da balsa para voltar à São Sebastião, coisa que não acontece estando como pedestre. Depois da guarita, abrimos a porteira, jogamos as mochilas às costas e ganhamos a trilha, que outrora fora uma estrada onde tentaram ligar o resto da ilha até a Praia do Bonete, mas logo a natureza derrotou as pretensões do governo militar e mostrou quem manda. São exatamente 12 km até a praia do Bonete, onde é necessário andar cerca de 4 ou 5 horas, mas nós não vamos até a praia, nossa caminhada vai até ao Rio Areado. É uma noite linda e quente, muito quente, na verdade, extremamente quente. Já passa das dez da noite e a temperatura parece só aumentar e antes mesmo de chegarmos no primeiro mirante, não tendo passado nem uma hora de pernadas, o Tebas já começa dar sinal de super aquecimento, tanto que tivemos que fazer uma pausa para que ele se recuperasse das náuseas que vinha sentindo. Seguimos, mas agora a passos lentos, andarilhos vagarosos a fim de manter o Tebas no mesmo ritmo que o nosso, até que umas duas horas depois, talvez um pouco menos, atravessamos a ponte sobre o RIBEIRÃO DA LAJE e alguns metros depois, interceptamos uma trilha a direita e descemos do seu lado esquerdo até estacionarmos junto ao escorregador do próprio rio, uma atração imperdível. A noite havia chegado quase a sua metade e o calor estava realmente de matar, então não tivemos duvidas, nos despimos das nossas armaduras e nos entregamos a arte de escorregar na laje lisa e explodir no pocinho mais abaixo, águas cristalinas e intocáveis, de um rio que nasce no coração da ilha e que não vê mãos humanas em nenhum momento do seu curso até ali chegar, já bem próximo da sua foz. Renovados com o banho refrescante, nos pomos a caminhar no trecho final, uma trilha larga e escorregadia, pontilhada por trechos enlameados, até que o terreno começa a descer de vez e nos leva direto para as margens do Rio Areado, onde uma grande ponte pênsil serve de passagem para cruzar o rio, mas hoje ficamos desse lado mesmo, junto a uma clareira do lado direito da trilha, onde vamos montar nossas barracas e ali morrer por umas boas horas. (Tebas ) Parece que uma massa de ar seco se abatera sobre a ilha, coisa que eu nunca tinha presenciado antes. O dia amanheceu lindo e antes das oito já estávamos de pé, prontos para partir, mas antes mesmo de começarmos a desmontar nossas barracas, o TEBAS anunciou sua desistência. Não melhorou do desconforto da noite anterior, amanheceu tão ruim como antes e resolveu jogar a toalha. Até tentamos convencê-lo a seguir com a expedição, mas ele foi firme nas suas convicções e pensando bem, foi a melhor coisa que ele fez, caso contrário teria sucumbido durante a subida. Antes de partirmos, adentramos numa trilhinha e descemos por uns 5 minutos até a foz do Areado, um bonito amontoado de pedras, açoitados pelo mar. Nos despedimos do nosso amigo Tebas, que seguiria para praia do Bonete, atravessamos a Ponte Pênsil e ganhamos o mato, subindo o Rio Areado pela margem direita por uns 15 minutos, num vara-mato chatinho, passando por baixo de imensos matacões até interceptarmos de vez a amplitude desse que é um dos rios mais belos de toda Ilhabela, que logo de cara, nos apresenta a um POÇO lindíssimo, emoldurado por uma CACHOEIRA ,que forma uma moldura natural, que quase beira a perfeição. O RIO AREADO é um velho conhecido meu, já que muitos anos atrás eu estive numa expedição que explorou as suas duas vertentes, já que em um dia de caminhada, subindo o rio, ele se bifurca em “ Y”, sendo a perna da esquerda de onde despenca a CACHOEIRA GRANDE DO AREADO, a maior da Ilha (150 m) e na perna da direita, outra meia dúzia de cachoeiras enormes. Junto ao grande poço, atravessamos o rio para sua margem esquerda e ganhamos a pequena parede para ganharmos altura e saímos em outra CACHOEIRA, com mais um poço sensacional. Ainda é cedo, mas eu já estou molhado faz tempo, então não me furto em me atirar em mais esse espetáculo natural e aproveito para ir ganhando terreno e subir meio que escalando as rochas do lado esquerdo da queda d’água. O Dema e o Thiaguinho vêm junto comigo, hora me seguindo, hora eles mesmos tomando a frente e ditando o ritmo da caminhada. Um pouco mais acima e não tendo passado nem 40 minutos de andanças aquáticas, tropeçamos no GRANDE TOBOGÃ NATURAL, outra laje perfeita, de onde se pode escorregar e se esbaldar com uma queda dentro de um poço profundo, um verdadeiro parque de diversões, que te envia direto para o túnel do tempo, te fazendo voltar a ser criança. A temperatura da água está incrível, Thiaguinho é o primeiro a virar passageiro do rio, desce sem controle e explode para dentro do poço, inaugurando a diversão e logo atrás, vamos nós, homens barbados, crianças adultas a desafiar a lei da gravidade, sem nos preocuparmos com nada, apenas entregues a nossa própria capacidade de transformarmos uma expedição séria, numa verdadeira brincadeira de jardim da infância. E por lá ficamos um bom tempo, entregues ao ócio, nos maravilhando com os pocinhos de águas incrivelmente translúcidas e cristalinas, curtindo cada segundo daquele rio maravilhoso, um rio intocado, num fim de semana de céu azul, onde o sol reina em todo seu esplendor, mas a gente sabe para o que veio , estamos cientes de que o que nos espera não é para brincadeira não , então é hora de voltar para o mundo dos adultos, jogar as mochilas nas costas e partir, abandonar o rio, cair nas florestas e montanhas, definitivamente , porque é chegada a hora da aventura começar. A bem da verdade, era que eu não havia estudado quase nada daquela expedição, tão somente havia olhado o projeto pouco tempo antes de sair de casa e salvo a traklog riscado a mão pelo Thiaguinho. Mas sabia que cerca de uma hora depois que subíssemos o Areado, abandonaríamos o rio e empreenderíamos uma diagonal em direção ao PICO DO BONETE, aliás , é bom deixar claro que nem o nome desse pico rochoso sabíamos direito, então começamos a chama-lo com esse nome , já que nem nas cartas constava nada sobre ele e mesmo os moradores da Praia do Bonete, souberam nos dizer o seu nome, confundindo ele com o Pico do Papagaio, outro pico ali de Ilhabela, mas bem mais distante do que o nosso objetivo. Portanto, abandonamos o Rio Areado e ganhamos uma subida para a direita, nos metendo em meio a um vale seco, atravessando mato e nos esquivando das grandes rochas. Varar mato na Ilhabela não é tarefa muito fácil, tamanha a quantidade de vegetação fechada, composta por plantas espinhudas, cipós e bambuzinhos que nos fecham a passagem, se agarrando à nossas mochilas. Ainda estamos na parte da manhã, mas o calor e o mormaço vai tentando derreter os nosso miolos, sorte que água é coisa que não falta, pelo menos nessas baixas altitude. Falando em altitude, sabemos nós que o que está por vir não será moleza, já que estamos pouco acima da cota 100 de altitude e teremos que vencer mais de 1.000 metros de desnível, tudo isso enfrentando uma floresta quase intransponível, tendo que atravessar vale atrás de vale, num dos lugares onde se encontra cobras uma atrás da outra. A navegação é lenta e somos obrigados a mudar de direção constantemente, porque acabamos virando refém do terreno, que nos joga para onde ele quer. Mais um pequeno vale é cruzado e serão dezenas até conseguirmos ganhar o vale principal e começarmos a subir a rampa definitivamente, mas surpreendentemente, em meio ao mar de florestas e montanhas, numa janela, avistamos o mostro que nos acena quase mil metros acima das nossas cabeças, nos chamando para a mais pura e autentica aventura, nos desafiando a continuar subindo e essa é a primeira vez que eu boto meus olhos sobre ele, hora de fazer uma pausa, comer alguma coisa, tomar um gole de água e nos pormos a contemplação. Não consigo nem contar quantos foram os riachos e afluentes que cruzamos até ganharmos a rampa definitiva, mas quando embicamos nosso nariz para cima, aí o morro não parou mais de subir. A temperatura fez ferver nossos radiadores e a sede bateu de vez. Do nosso lado esquerdo, uma cadeia de montanha nos empurra para a direção correta, a fim de achar uma passagem entre esse espigão e o próprio rochoso do Bonete, mas é um caminhar vagaroso, penoso, estafante e a língua já arrasta no chão, quando finalmente encostamos no vão que nos dará a passagem que almejávamos e ali, escorrendo no fundo de um pequeno vale e brotando embaixo de algumas raízes, conseguimos encontrar nosso preciso liquido, hora de mais uma parada, beber até não aguentar mais e colher uns 2 litros para o acampamento no topo. Nosso caminho vira radicalmente para a esquerda e agora vamos galgar uma parede de mato quase em pé, que nos leva ao rumo do topo. Vamos seguindo e acompanhando o domo de pedra que vez ou outra, surge no meio das árvores. Um olhar mais apurado, encontra um vestígio de trilha, onde marcas de facão são encontrados, mas já podemos notar que há muito tempo ninguém vem ao cume. O caminho vai curvando lentamente a direita até nos depararmos coma rampa final, que já nos mostra estarmos bem nas costas do DEDO DE PEDRA DO BONETE. Nessa hora, o grupo se dispersa, como se cada um tentasse alcançar seu próprio cume. Thiaguinho segue à frente com o Dema fungando no seu cangote e eu virei cu de tropa, fico para trás tentando ver se encontro alguma passagem que possa nos levar ao cume, mas logo meto marcha e colo nos dois. É aquele momento de euforia e excitação, que só expedições como essas podem nos causar, é a esperança de nos encontrar com o surpreendente, o novo, aquilo que nunca se viu ou que foi visto por quase ninguém, é a recompensa do nosso esforço, da nossa dedicação, é o pagamento pela nossa ousadia. E lá está ele, um gigante solitário, um monstro que aponta como um Dedo de Pedra para o céu e entre ele e nós, um abismo profundo. Não estamos no seu cume, muito porque, é uma parede inescalável sem que se grampeie antes. Subimos numa rocha e pulamos para o seu dorso, que mais parece uma carranca voltada para o interior da ilha, como um sentinela a zelar por um tesouro . Estamos há 926 metros de altitude, mas essa é apenas a altitude do DOMO DE PEDRA, o cume da serra ainda não é esse, mas mesmo assim, foi ali que nos cumprimentamos calorosamente, abraços apertados e braços erguidos como a marcar território, que por hora nos pertence. A visão lá de cima é ARREBATADORA, com a vista da Praia do Bonete e todo o azul do oceano, com o contorno da ilha. Pegamos uma janela de tempo perfeita, poucas nuvens no céu, temperatura alta e quase inexistência de ventos. Ficamos lá por um bom tempo, inebriados com a paisagem, mas quando o relógio bateu quase cinco da tarde, nos despedimos do ROCHOSO e saímos a procura do CUME, o ponto mais alto da serra, onde pretendíamos acampar. Continuamos a galgar o espigão a procura do cume e de alguma área para montarmos nossas barracas, mas nem precisou ir muito longe, menos de 10 minutos e o terreno se aplainou e foram surgindo pequenas clareiras, com vistas espetaculares e numa delas, largamos nossas mochilas definitivamente e tomamos posse do lugar onde montaríamos nossas casas, mas antes era hora da conquista final. Essa não é uma montanha qualquer, há um que de especial em sua estrutura. É como um platô, uma espécie de “tepui “, como aquelas formações na divisa do Brasil e da Venezuela que formam montanhas como o Monte Roraima, guardada as suas devidas proporções. E para ser melhora ainda, encima dela, uma pedra reta de um 5 metros de altura, não deixa dúvida que ali é o ponto mais alto e enquanto o Thiaguinho e o Dema investigam a continuação do platô, eu ganho as costas dessa elevação, escalo a rampa traseira me valendo de um arbusto e subo na aderência das minhas botas até me ver completamente no CUME, formado por um tapete de musgos e vegetação rasteira a mais ou menos 982 metros de altitude, o PICO DO BONETE. ( cume do PICO DO BONETE) Logo chamei o Thiaguinho para fazer parte do meu mundo, mas o Dema acabou dando bobeira e nem subiu. Ficamos lá, contemplando aquele cenário de sonhos, nos entregando ao deleite, ao prazer de poder estar numa montanha ainda selvagem, ficamos a ver o mundo lá de cima, a apreciar e a desfrutar de uma paz poucas vezes vista, ouvindo os murmúrios dos Papagaios Moleiros, nos deslumbrando com tantos outros picos ao nosso redor, uma floresta quase que intocada, onde rios de águas selvagens desfilam vales à dentro, algum onde pés humanos pouco tocaram. Nesse dia mágico, o vento resolveu não aparecer, a calmaria reinava por todo canto, o sol indo morrer a oeste, vagarosamente se escondendo atrás do Pico do Papagaio, com aquela preguiça de nos deixar e enquanto nosso fogareiro cozinhava nossas jantas, nos pomos a montar nossas barracas e jogar conversa fora vendo a escuridão chegar e as luzes da Praia do Bonete surgirem diante dos nossos olhos, que às 8 horas, se fecharam para o mundo, numa noite de sono tranquila, pra lá de merecida. Antes mesmo do dia ameaçar nascer, Thiaguinho já estava de pé, urrando lá fora, nos chamando, nos convidando para o espetáculo. Isolados do mundo, sobre uma montanha que era pura magia, o grande astro foi aos poucos nascendo, devagar, preguiçosamente, enchendo a Terra de luzes coloridas, avermelhando nossas vidas, iluminando nossos olhos. Parecia ser um show especial só para nós, um público de três pessoas, que lotavam as arquibancadas do cume e não economizavam aplausos. Enquanto a água para o café fervia, desmontamos tudo e assim que engolimos nosso desjejum, jogamos as mochilas às costas e partimos pelo mesmo caminho que chegamos. Mas o projeto inicial era tentarmos descer varando mato direto para um vale atrás do Pico do Bonete e ao intercepta-lo, descer por ele , que acreditávamos ser um afluente do Rio Nema e caindo no próprio Nema, descer até o mar, mas como havíamos encontrado um vestígio de trilha meia hora antes de atingirmos o cume, mudamos nossos planos e preferimos tentar ver se aquele arremedo de trilha pudesse nos levar de volta à civilização, mas nossa caminhada acabaria por ter uma reviravolta, como conto a seguir. Passamos novamente pelo DEDO ROCHOSO e nos despedimos dele, ganhando a rampa que desce até interceptarmos a tal picada e por ela tomamos o rumo da praia do Bonete. No começo parecia uma trilha até consolidada, mas bastou o terreno aplainar um pouco, para ele começar a sumir, como se estivesse a brincar de esconde-esconde com nossa cara. Era preciso um bom faro de trilheiro para achar os vestígios, que vez ou outra, se perdia em tocas e matacões gigantescos, até que do nada, ela simplesmente desapareceu e nunca mais foi encontrada. Nessa hora, sem ter muito o que fazer, resolvemos estudar o relevo topográfico e tentar mirar nosso nariz para a praia, mas os malditos bambus foram nos jogando cada vez mais para um vale e quando nos demos conta, já estávamos no fundo dele e aí não há bom humor que resista quando se tem que escalar uma parede íngreme cheio de vegetação quase impassível, então resolvemos mandar aquele caminho a merda e decidimos retomar o projeto original, que era o de descer pelos rios, ainda mais que o calor havia transformado aquela floresta úmida na sucursal do inferno. O primeiro objetivo era encontrar água, porque a goela já estava seca e quando vimos o precioso liquido escorrer de dentro da terra, abrindo um pequeno valezinho, nos detemos por um bom tempo para beber até não aguentar mais. Olhando nas cartas topográficas, notamos que aquele vale era um subafluente do Rio Nema, ou seja, se navegássemos por ele , cairíamos direto para um grande afluente do Nema, então nos agarramos nessa possibilidade e não largamos mais dela, mas não era um valezinho qualquer , era um vale profundo e escarpado, que tivemos um enorme trabalho para desescalar suas paredes até nos vermos no seu leito aquático, cheio de pequenos poços e piscininhas naturais , até que uns 40 minutos dentro dele, interceptamos de vez O RIO NEMINHA, que por hora o chamamos por esse nome , por ser um rio desconhecido, sem nomes na carta. Estamos há 550 metros de altitude e apesar de já termos caminhado quase 3 horas desse o cume do Pico do Bonete, ainda são 10 horas da manhã, mas o calor continua forte, mesmo assim, não há previsão de chuvas, o que nos dá uma segurança para nos enfiarmos definitivamente dentro dos grandes cânions que se apresentou a nossa frente. Por meia hora, vamos descendo, aproveitando pequenos poços e cachoeirinhas para nos refrescarmos, vamos perdendo altitude aos poucos até nos vermos diante de um poço deslumbrante, uma água totalmente translúcida com alguns bons metros de profundidade, espremido entre duas paredes, formando o que a gente chamou de POÇO DA RAIA, por se parecer com uma raia olímpica. Ali estacionamos, nos entregamos ao ofício de nadar, aproveitando que o sol já havia esquentado a água e quando cansamos de nadar, descansamos, comemos alguma coisa e nos preparamos para nos enfiarmos garganta abaixo. Mesmo emparedados, a descida continua suave, pontilhada por alguns bons poços e algumas pequenas quedinhas d’água. Vamos perdendo altitude, pouca coisa, mas é uma caminhada gostosa e até um tanto descontraída, tendo à frente o Thiaguinho como homem batedor, mas eu e o Dema nos mantendo no seu raio de visão, quando de repente, o Thiaguinho começa a gritar em meio a uma abertura do rio, onde uma árvore conseguiu nascer dentro do leito, quase como se fosse uma pracinha. Mas a gritaria toda se deu porque ele viu que estava diante de um espetáculo único, onde uma cachoeira lateral, vindo de um afluente, despencava para dentro do rio, formando um cenário sensacional, mas não era só isso, tinha mais e se já não bastasse aquela composição cinematográfica, aquele pequeno rio, fez questão de nos jogar na cara algo ainda mais INACREDITÁVEL. Quando ouvimos os gritos do Thiaguinho, nos apressamos e assim que o rio se abriu para a gente, nos demos conta do achado, mas nossos olhos conseguiram alcançar muito mais do que o Thiaguinho conseguia enxergar, na verdade, ele ficou tão cego com o achado inicial, que esqueceu de olhar mais à frente: Ali, agora diante de nossos olhos, quase incrédulos, uma garganta profunda, com a água do rio se jogando para dentro dela, formando um poço comprido e com profundidade incalculável, fechada por duas paredes rochosas com 2 dezenas de metros, esprimida dentro de uma vale com uma centena de altura, num lugar isolado do mundo. Encima das paredes do cânion , se equilibrando bem na entrada, uma grande rocha forma um PORTAL , que mais parece ser a entrada para outro mundo, uma das coisas mais inacreditáveis que a gente já viu na Serra do Mar Paulista até hoje. Ficamos hipnotizados, olhos parados, procurando adjetivos para aquele monumento natural. Eu me aproximei do buraco e vi que seria impossível descer por dentro, ainda mais porque não tínhamos corda suficiente para ancorar na grande árvore. Do lado esquerdo era uma parede intransponível por conter uns noventa graus de inclinação. A única solução, seria tentar uma escalada do lado direito, subir o barranco e passar por cima da parede da garganta, quase raspando a barriga na pedra suspensa e depois ver se conseguiríamos baixar com a corda até o fundo do cânion e foi com esse plano, que abandonamos a GARGANTA DO PORTAL DA PEDRA SUSPENSA e partimos. Fizemos conforme o planejamento inicial e com a ajuda da corda, conseguimos descer ao fundo do cânion, mas antes ficamos preocupados porque vimos que havíamos nos enfiado numa enrascada, mas esse era um problema para resolver depois, por hora não tinha como não nos determos para aproveitar mais um POÇO com águas translúcidas. Aquela GARGANTA, é daqueles lugares para a gente guardar na memória para sempre, principalmente por saber que ali naquele lugar, dificilmente alguém tenha pisado e se pisou, guardou para si, além do mais, acessar por baixo, vindo do litoral é algo tão penoso, que talvez passe décadas sem que ninguém bote os pés lá. Então o que tínhamos a fazer, era contemplar ao máximo, fazer aquele momento valer a pena. Mais uma vez, caímos para dentro do poço e para incrementar, os meninos resolverão subir pela parede lateral e se jogarem lá de cima, indo conhecer as profundezas do paraíso e vindo à tona cheios de felicidades. Retiramos a corda que havíamos descido. Baixamos mais alguns metros, mas não fomos muito longe, porque fomos barrados por outro despenhadeiro. Agora foi a parede da direita que se elevou num grau totalmente inescalável e a parede da esquerda não estava longe disso, mas continha uma vegetação. Analisamos previamente e resolvemos ariscar subir escalando, para depois tentar uma diagonal e ir perdendo altura, mesmo sem saber o tamanho da encrenca que havíamos nos metido. Eu e o Thiaguinho nos agarramos à rocha e fomos subindo na unha, centímetro à centímetro, ganhando terreno, mas sempre subindo. Chegamos ao limite e vimos que jamais sairíamos por cima, já que tratava-se de algo impossível de escalar, então fomos para a diagonal até que a vegetação foi interrompida por uma língua de pedra lisa, com uns dois metros de extensão. Tentei achar algo que pudesse me sustentar para eu dar o bote e fazer a passagem, alguma ranhura em que eu pudesse apoiar um pé e tentar um impulso, mas se por acaso algo desse errado, seria uma queda suicida. Por fim, a situação quase que ficou fora de controle, porque ficamos eu e o Thiaguinho presos na parede, sem ter como voltar em segurança, não dava para seguir e nem para voltar. Nessa hora chamamos o Dema para se fuder também, já que como ele tinha uma perna um pouco mais longa, talvez pudesse dar conta dessa passagem. O Dema se apresentou, passou a gente e também achou que o risco de cair não compensava a tentativa e o mais sensato, seria fazer uma descida, não menos arriscada, se segurando numa vegetação que, por si só já ameaçava desprender da parede e ganhar um arbusto e lá estudar uma possível descida. Esse arbusto estava a uns 10 metros da gente, desescalamos a parede e quando lá chegamos, contatamos que não havia corda suficiente para descer de volta para o rio, que agora estava esprimido entre duas paredes estreitas. Não havia o que fazer, estávamos presos, voltar não era mais possível. Sacamos uma fita de escalada da mochila, enrolamos nessa arvore, que se sustentava sobre as rochas da parede, o que nos fez ganhar mais um metro, mas sem saber o quanto faltava para chegar ao rio. Mesmo assim o Dema se jogou na corda, para um tudo ou nada e foi deslizando na mão mesmo, até passar dentro de um tronco de árvore na beira do abismo e se soltar até que explodiu dentro da água e gritar que ainda estava vivo, dando o aval para fazermos o mesmo. Me posicionei na corda, que é claro, não tinha um diâmetro favorável, uma grossura que nos desse uma sustentação descente, por ser fina e lisa. Vou sustentando meu peso e minha mochila no braço, ralando a cara na pedra, arrastando tudo que tem pela frente, procurando algo que possa sustentar meus pés, até conseguir alcançar um tronco deitado e me apoiar nele, passar entre ele e a parede, agora totalmente negativa. Os pés já não apoiando em mais nada, mãos carcomidas pelo atrito da cordinha, mas mesmo assim, me mantendo com os dentes cerrados, não tem como cair, não tem porque cair, na verdade, não quero cair, até que a própria corda acaba e só me sobra o nada sobre meus pés e então, me precipito no vazio até encontrar a dureza da água, num poço de não mais de um metro, mas o suficiente para me amparar sem que eu quebre uma perna. O Thiaguinho veio, assim como eu, também não teve moleza, pior ainda, por ser mais baixo, acaba por sofrer ainda mais e quando chegou junto ao negativo, achou melhor se livrar da sua mochila. O salto não água por causa da corda curta, não passava de uns dois metros, mas para quem vem ralando a cara na rocha, sem ver nada, se jogar no vazio às cegas é uma sensação não muito boa e o alivio só termina quando já estamos lá embaixo, estourando na lamina d’água. Juntos e com os pés no chão, no caso, dentro da água, seguimos perdendo mais altura, desescalando o leito do rio para mais uma vez, nos vermos completamente sem saída novamente. Abaixo de nós, mais uma garganta impossível de continuar descendo. Lá embaixo, um grande poço de águas verdes nos chama atenção, nos desperta o desejo de ir conhece-lo, mas antes teremos que sentar, estudar o terreno e descobrir uma maneira de sair dentro dos cânions. Ao nosso lado esquerdo, uma parede gigantesca, onde pedras desmoronam só de olhar para elas parecia ser a única saída de lá e como não nos pareceu que acharíamos outra solução, nos pomos a escalá-la , vagarosamente, lentamente, para não rolarmos pedras em quem vinha atrás de nós e para que nós mesmos, não rolássemos para o abismo. Chegamos onde daria pra chegar e enveredamos para a direita até podermos ganhar a mata definitivamente e nos afastarmos do perigo. Voltar ao leito do rio naquela altura era algo impossível, então traçamos um plano que nos fez afastarmos, para depois encontrarmos uma passagem por um pequeno afluente e varar mato por dentro dele, até desembocarmos numa maravilhada de cachoeira, uma queda d’água que escorria pela parede rochosa e formava mais um grande tobogã, com um poço de águas verdes e transparentes, mais uma joia perdida do submundo da ilha, algo surpreendente, hora de parar, e reverenciar esse espetáculo da natureza. Estamos há pouco mais de 400 metros de altitude e já passamos das 13 horas da tarde e o sol quase a pino, ainda ilumina o poço, transformando suas águas num encantamento só. Subi a cachoeira escalando pela lateral, enquanto isso o Thiago se deleita a escorregar no tobogã e o Dema fica no poço, imerso nas águas quentinhas e cada qual se aproveita daquele momento único, num lugar que a gente vai guardar para sempre. Mas como o tempo passa e o dia não espera, quando cansamos de nadar, jogamos as mochilas às costas e partimos, descendo tantos outros poços e marmitas, fazendo valer cada minuto dentro daquele rio incrível, até que perdendo mais uns 100 metros de desnível, encontramos com o RIO NEMA e aí o rio se alargou definitivamente e mesmo as águas ficando um pouca mais amareladas, o cenário ainda assim, continuou deslumbrante. A descida pelo Rio NEMA , agora em definitivo, vai nos enchendo os olhos, onde pequenas cachoeirinhas despencam para dentro de grandes poços e a gente vai desescalando muitos outro matacões, passando por baixo de pequenas grutas , subindo e descendo uma infinidade de pedras, atravessando piscinas naturais a nado até que na COTA 100 DE ALTITUDE, resolvemos abandoná-lo, em favor de um vestígio de trilha que nos levou para final de uma estradinha e por ela seguimos até que uns 200 metros da praia, resolvemos parar e nos entregarmos a comilança num barzinho que nos serviu um prato feito de peixe frito de lamber os beiços. Alimentados, partimos a procura de algum barco que pudesse nos levar de volta para a Sepituba, onde poderíamos pegar um ônibus de volta para a cidade, já que por estarmos num estado já deplorável, não passava pela nossa cabeça voltar pela trilha. Conversamos com vários moradores ali da PRAIA DO BONETE e nenhum deles soube nos dizer como se chamava aquele pico, que até então estamos chamando de PICO DO BONETE, por desconhecermos seu verdadeiro nome, se é que tem um. Alguns chamaram de Papagaio, mas sabemos que esse nome é dado a outro pico, bem atrás desse rochoso. Assim a gente já consegue chegar à conclusão que já é mais que sabido, que nativo não se interessa por montanha nenhuma, por isso essa montanha incrível, largada ao esquecimento. Enquanto o barco que vai nos levar não está pronto, ficamos ali, naquela praia linda, observando a montanha que acabamos de descer, com todo seu esplendor. Sendo observados por outras pessoas, que não entenderam nada ao verem três indivíduos de colete, perneira e capacete na areia da praia, somos quase extraterrestres naquele lugar, viemos de um lugar desconhecido, atravessamos caminhos inimagináveis, fomos a lugares tão escondidos quanto os confins das galáxias, por certo, somos mesmo só um vulto, que passou, e sem deixar rastros, vamos carregar na memória esses dias de aventuras intensas, vividas com simplicidade , num mundo ainda por ser descoberto. JANEIRO/2017
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