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  1. Resumo: Itinerário: De Águas da Prata a Aparecida Distância Aproximada Entre Origem e Destino pelo Mapa do Caminho da Fé: 309 km Distância Aproximada Percorrida Incluindo Passeios e Adicionais: 340 km Período: 22/03/2022 a 02/04/2022 (12 dias) Gasto Total: R$ 796,90 (só o meu gasto, sem contar os gastos dos meus primos-sobrinhos nos 2 primeiros dias) Gasto sem Transporte de Ida e Volta: R$ 765,90 - Média Diária: R$ 69,63 Ida: Viagem com meu primo Marcelo e seus filhos Carolina e Luís. Volta: Viagem pelo BlaBlaCar de Aparecida a São Paulo por R$ 31,00, com Winderson. Paradas: 22/03: Águas da Prata 23-24/03: Andradas – Percorremos o Caminho das 8h às 17h, cerca de 31 Km de progresso 25/03: Crisólia (município de Ouro Fino)- Percorri o Caminho das 8h30 às 16h30, cerca de 35 Km de progresso 26/03: Borda da Mata - Percorri o Caminho das 8h30 às 16h30, cerca de 37 Km de progresso 27/03: Estiva - Percorri o Caminho das 8h30 às 16h30, cerca de 39 Km de progresso 28/03: Paraisópolis: - Percorri o Caminho das 8h às 17h, cerca de 40 Km de progresso 29/03: Luminosa (município de Brazópolis) - Percorri o Caminho das 9h às 14h, cerca de 25 Km de progresso 30/03: Campos do Jordão - Percorri o Caminho das 8h30 às 17h, cerca de 40 Km de progresso 31/03: Gomeral (município de Guaratinguetá) - Percorri o Caminho das 8h30 às 16h, cerca de 32 Km de progresso 01/04: Aparecida - Percorri o Caminho das 8h30 às 15h, cerca de 30 Km de progresso 02/04: São Paulo Considerações Gerais Não pretendo aqui fazer um relato detalhado, mas apenas descrever a viagem com as informações que considerar mais relevantes para quem pretende fazer um roteiro semelhante, principalmente o trajeto, preços, acomodações, atrações no caminho e informações adicionais que eu achar importantes. Sobre os locais a visitar, só vou citar os de que mais gostei ou que estiverem fora dos roteiros tradicionais ou ao longo do caminho. Os outros pode-se ver facilmente nos roteiros disponíveis na internet. Os meus itens preferidos geralmente relacionam-se à Natureza e à Espiritualidade. Informações Gerais: Pode-se encontrar informações detalhadas sobre o Caminho da Fé em https://caminhodafe.com.br, incluindo mapas, hospedagens conveniadas, ramais, cidades e muitas outras. Em boa parte da viagem houve bastante sol. Houve algumas pancadas de chuva, geralmente no fim do dia. Dia com chuva mais prolongada foi só um e assim mesmo leve com picos rápidos de moderada. Houve poucos raios. A chuva, quando me pegou nas estradas, geralmente foi leve e breve. Chuva forte aconteceu por 2 vezes, mas quando eu já tinha chegado ao destino e estava abrigado. As temperaturas estiveram bem razoáveis (para um paulistano), variando de 14 C a 28 C. A sensação térmica às vezes era mais baixa por causa da chuva. A sinalização do Caminho pareceu-me muito boa. Não me perdi nenhuma vez, o que para mim é um recorde 😄. Nas áreas urbanas era bem detalhada. Nas áreas rurais era mais escassa, mas nos pontos relevantes estava presente. Viajei sem máscara o tempo todo. Só a usei quando entrei em estabelecimentos fechados. Espantou-me que em alguns locais, principalmente de Minas Gerais, muitas pessoas usavam máscara, mesmo na rua, ao contrário do que havia visto no interior de São Paulo em fevereiro, onde quase ninguém usava nem em locais fechados, exceto os funcionários. A vegetação, as paisagens rurais, os mirantes, as montanhas, as cachoeiras, os lagos, os rios, as construções históricas e típicas, as igrejas, os monumentos religiosos e tradicionais e os pequenos altares ou santuários agradaram-me muito . Vi alguns animais silvestres no caminho, sendo muitos pássaros (tucanos, corujas, saracuras, amarelos, verdes, pretos, azuis, marrons etc) e uma cobra. Acostumado a fazer caminhas em praias, resolvi tentar fazer o Caminho de chinelo 🩴, inclusive para tirar a dúvida se as bolhas ocorridas na primeira parte tinham sido pelo fato de eu ter andado descalço em parte do trajeto. E realmente acho que foram, pois desta vez não tive bolhas. Só precisei tomar muito cuidado nos trechos de serra em que havia pedras grandes soltas, para não me machucar com elas. Em relação aos dias chuvosos e às cachoeiras, o chinelo foi muito mais cômodo. Havia trechos com plantações, que foi variando de tipo ao longo do caminho, com eucalipto, amendoim, milho, banana etc. Houve também muitos trechos com pastos, a maior parte para criação de gado, mas vi cabras também. Houve vários trechos com mata. Quase todo o percurso foi em área montanhosa 🌄. A população de uma maneira geral foi cordial e gentil . Foi impressionante a generosidade dos donos de algumas acomodações e comerciantes, sendo que vários me tratavam como se fosse da família . Procurei ser o mais educado possível e não abusar da hospitalidade. A caminhada no geral foi tranquila. Não houve problemas com cachorros nem outros animais. Não tive nenhum problema de segurança (nenhuma abordagem indesejada) no caminho nem nas cidades. Só houve um ponto em que eu achei que poderia haver algum tipo de risco, que foi ao passar por um bairro na periferia de Potim, bem perto da chegada. Quase todos aceitaram cartão de crédito, mas preferi pagar as acomodações familiares em dinheiro, para não gerar taxas para elas. Pousadas, hotéis, supermercados e padarias procurei pagar com cartão de crédito. Meus gastos foram R$ 142,15 com alimentação, R$ 623,75 com hospedagem, R$ 31,00 com a passagem de volta pelo Blablacar (https://www.blablacar.com.br). Mas considere que eu sou bem econômico. A Viagem: Minha viagem foi de SP (da minha casa no Cambuci) a Águas da Prata na 3.a feira 22/03/2022 no carro do meu primo Marcelo, junto com seus filhos Luís e Carolina. Saímos cerca de 12h30. O trânsito em São Paulo estava bom. Fomos pela Rodovia dos Bandeirantes e depois seguimos o indicado pelo GPS, Paramos para almoçar em um restaurante na estrada. Após o almoço, fui oferecer o restante da marmita que a Carolina não comeu (cerca de 70%) a um mendigo que havia pedido. Mas, depois de perguntar se a marmita já havia sido mexida, ele não quis. A viagem foi tranquila e chegamos perto de 16h30. Conversamos bastante durante o trajeto, sobre passado, família, futuro, planos, Brasil, mundo e a viagem. Eu não conhecia Luís e Carolina pessoalmente, ou, se conhecia, foi quando eram muito pequenos. Ele estava com cerca de 28 e ela com cerca de 26 anos. E fazia pelo menos 6 anos que não encontrava com Marcelo pessoalmente. Iriam também uma amiga minha e um amigo da Carolina. Mas minha amiga acabou não podendo ir e eles optaram pelo amigo da Carolina não ir. Fomos inicialmente à Associação dos Amigos do Caminho da Fé (https://www.facebook.com/caminhodafeassociacao) para emitir as credenciais deles e para obter informações sobre o trecho. A minha credencial eu já havia comprado na primeira parte do Caminho. Cada credencial custou R$ 20,00 e Luís ainda comprou um cajado para eles. Depois fomos achar a casa que Carolina havia alugado pelo AirBnB (https://www.airbnb.com.br/). Custou R$ 175,00 para as quatro pessoas. Pareceu-nos uma boa casa, mas o dono, que aparentemente nos viu chegando, perguntou se desejaríamos mudar para uma maior, sem custo adicional. Aceitamos e mudamos. Lá havia um quarto para cada um e ainda sobravam quartos. Havia também piscina e churrasqueira. Precisamos tirar umas telhas da garagem para caber o carro. Nesta operação quebrou uma telha ao meio e eu fiz um arranhão na perna, onde a telha pegou. O anfitrião nos presenteou com um queijo inteiro, água e cervejas. Vimos por informações existentes na casa que, aparentemente, ele era um político local. Os portões e portas ficavam abertos, mostrando que não tinham receio de roubo ou algo semelhante. Depois de acomodados, pedi para ver o peso das mochilas de Luís e Carolina e as achei muito pesadas, principalmente a da Carolina. Ela retirou alguns itens, mas mesmo assim, achei-a ainda pesada. Mostrei-lhes a minha e a acharam muito leve. Devia estar pesando, sem água nem alimentos, cerca de 4 kg. Então Carolina resolveu retirar alguns itens da sua mochila para que seu pai levasse de volta. Após todos acomodados, saímos para jantar. Fomos a uma festa gastronômica que havia uma 3.a feira por mês numa área central da cidade. Havia bastante gente no local. Encontramos uma mesa, depois mudamos para outra mais central e fizemos nossos pedidos. Eu comi um sanduíche vegano enorme num pão integral multigrãos. Ainda sobrou para levar para o dia seguinte. Cada um comeu seu prato de preferência. Se me lembro pediram também baião de dois e a Carolina pediu um pequeno sanduíche semelhante ao meu para o dia seguinte no percurso, pois era um trecho sem locais intermediários para alimentação. Marcelo ainda comprou alguns itens, como linguiça e carnes, que já havia pesquisado quando tínhamos ido pegar as credenciais. O céu noturno estava limpo de nuvens e me pareceu lindo e estrelado. A temperatura caiu um pouco e Carolina pareceu sentir um pouco de frio. Sugeri a ela então que levasse os agasalhos que havia trazido, mesmo que representasse um pouco mais de peso, pois estava previsto passarmos por Campos do Jordão ao longo do Caminho. Não houve mosquitos à noite no meu quarto. Na 4.a feira 23/03 inicialmente contemplei um pouco a paisagem da cidade e do entorno no amanhecer e nadei um pouco na pequena piscina 🏊‍♂️ (não era aquecida, mas achei a água boa) que havia na casa. Logo chegou Luís, já pronto para a caminhada do dia. Arrumei-me e fomos tomar café na padaria. Marcelo tomou café, eu apenas comprei pães para o dia. Despedimo-nos de Marcelo, que pretendia ir a uma cidade ali perto comprar queijo e depois voltar para casa, e fomos pegar água mineral na fonte da engarrafadora Águas da Prata. Descobrimos que a fonte só abria às 9h para o público, mas o vigia da fábrica gentilmente deixou-nos pegar água do filtro, que era a mesma da fonte. Após encher as garrafas, partimos. Inicialmente aproveitei para tirar uma foto do mural existente no muro traseiro da engarrafadora, que pelo que me disseram foi feito por um artista local. O percurso do dia foi montanhoso, com muitas subidas e descidas. Pegamos a estradinha e começamos a seguir as setas. Encontramos Marcelo, que havia voltado à casa e encontrado os que a haviam alugado para nós, dando informações para eles sobre nossa estadia. Ele se despediu dos filhos (parecia um pouco emocionado) e de mim e seguiu de carro. Nós seguimos na estrada, que logo se transformou em estrada de terra. Começamos a ver a vegetação do campo e de montanha e inúmeros pássaros. Após cerca de uma hora, Carolina disse que seu dedinho estava doendo e achou melhor trocar sua bota pelo tênis. Vimos gaviões, corujas, canários e outros pássaros, posto que estávamos no caminho do Pico do Gavião. Vimos também muitas árvores diferentes, algumas floridas, eucaliptos e muitas flores. Luís gostou especialmente das enormes e inúmeras teias de aranhas em sequência nas árvores, com várias aranhas de diferentes tipos, como as desta foto que ele tirou. Paramos num bambuzal e Luís pegou uma vara de bambu para servir de cajado para ele. Carolina já estava com a que tinham comprado. Eu não quis pegar uma para mim, preferindo andar sem. Num dado momento, Carolina disse “Olha uma cobra!”. Nesta foto não fica muito claro, mas ele era verde brilhante. Carolina disse que primeiramente achou que era uma minhoca, que estava na frente do seu caminho. Após a observarmos bastante e comentarmos que ela parecia pequena, acho que a cobra percebeu nossa presença e se incomodou. Elevou sua cabeça e até armou um bote. Resolvemos então continuar e deixá-la em paz. Fomos conversando ainda sobre a vida, a natureza, o Brasil, a Alemanha, onde Luís tinha morado, e muitos outros assuntos. Paramos pouco antes de meio dia numa cachoeira. Luís aproveitou para almoçar a marmita que tinha levado. Carolina tomou um banho no remanso. Eu entrei embaixo dos três pontos em que havia queda d’água, funcionando como uma espécie de hidromassagem. Achei delicioso. Acho que Carolina comeu seu sanduíche. Eu comi o meu. Descartamos parte da comida que tínhamos comprado na estrada no dia anterior e que o mendigo não havia aceito, pois já estava bastante tempo fora da geladeira e com cheiro suspeito. Luís disse que após a parada estava se sentindo muito bem. Algum tempo depois, perguntei para eles se estavam se sentindo bem. Luís disse que sim, muito bem. Mas Carolina disse que sentia um incômodo na perna. Pedi para ela estimar a intensidade da dor, de 1 a 10. Ela estimou em 6. Fiquei preocupado. Achamos que era por causa da mochila pesada. Então Luís disse que iria levar a mochila dela e nós passamos a andar mais devagar e monitorar continuamente a situação. Na subida ela dizia que o incômodo era maior e no plano e na descida quase nem sentia. Resolvemos andar em “modo caminhão” então, lento na subida e acelerando na descida. Vimos vários outros pássaros, zonas de mata e pastagens ao longo do Caminho, todo por estradas de terra. Havia trechos em que passavam vários carros e caminhões. Em outros quase não havia nenhum movimento. Passamos pela entrada da estrada que ia até o Pico do Gavião. Cruzamos a fronteira entre São Paulo e Minas Gerais e entramos em Andradas. Pouco mais para a frente, vimos uma pessoa descendo de asa delta, fazendo manobras circulares perto da estrada em que estávamos. Após algum tempo, peguei a mochila da Carolina para revezar com o Luís, pois achei que poderia sobrecarregá-lo. Após me repassar a mochila, ele disse que percebeu que estava sentindo suas pernas cansadas e dor nos ombros. Depois de carregar a mochila dela junto com a minha por algum tempo, eu fiquei com uma espécie de bursite no músculo do pescoço com o ombro. Paramos algumas vezes para beber água e descansar. Carolina quis trocar o tênis por chinelo, conversamos e ponderamos que poderia não ser uma ideia interessante, pois poderia machucar o pé numa topada. Eu já estava acostumado, ela não, além do que o chinelo dela era muito mais frágil e fino do que o meu. Mesmo assim, ela andou um pouco com chinelo. Perto de 15h estávamos passando pela Pousada do Gavião. Perguntamos a Carolina sobre a intensidade da dor e ela disse que estava em 5. Perguntei se eles desejavam parar ali então ou continuar. Eles resolveram ligar para a mãe, que é médica. Após conversar com a mãe, decidiram que seria melhor parar ali. Entrei na pousada e fui procurar pela atendente. Havia falado com eles antes e tinham dito que não estavam atendendo continuamente e que para ficar lá precisaria avisar com antecedência. Para nossa sorte estavam lá, mas nos disseram que não teriam condições de nos hospedar. Porém Adílson, o dono da pousada, disse que poderiam nos dar carona até Andradas. Achamos que seria melhor. Eu perguntei aos dois se não se importariam de ir de carona e eu ir a pé e os encontrar na pousada da cidade. Disseram que não. Ao perguntar para Adílson, coincidentemente ele disse que só conseguiria dar carona para duas pessoas, posto que levaria também a atendente e o carro só tinha quatro cintos de segurança. Assim sendo, foram os dois de carro e eu fui a pé. No caminho achei muito belas as vistas da paisagem e da cidade a partir do alto. Tirei esta foto da paisagem. E esta da cidade, vista perto da chegada. Cheguei na Pousada Dora Moia (https://www.facebook.com/Pousada-DORA-MOIA-186499428912832), onde havíamos combinado que eles ficariam, por volta de 17h. Custou R$ 50,00 por pessoa num quarto com banheiro para nós três, incluindo café da manhã. Eles estavam deitados, descansando. Luís disse que estava se sentindo muito cansado e que se não tivesse vindo de carro no trecho final, achava que não teria conseguido. Eles tinham colocado as roupas para lavar (custava R$ 10,00 o uso da máquina). No quarto ao lado havia o tio e sua sobrinha (eu acho) que também tinham feito o primeiro dia do Caminho. Ela estava com bolhas nos pés e estava descansando deitada. Ele comentou sobre seu plano de fazer o Caminho de Santiago em maio. Após eu me acomodar, conversamos sobre como proceder e, após eles conversarem com a mãe e obterem orientações, decidimos ir até a farmácia para Carolina tomar um remédio (citoneurin). Eu estava achando melhor pararmos por um dia e verificarmos se dava para continuar ou não, de modo a não nos arriscarmos a gerar uma lesão mais grave nela. Eu a acompanhei até a farmácia enquanto Luís ficou resolvendo questões pelo celular. Na farmácia, o atendente disse que melhor do que o remédio, seria uma injeção mais potente, dexa-citoneurin, que eliminaria a dor e daria condições para ela prosseguir. Ela conversou com a mãe, que a autorizou a tomar a injeção, mas disse que era uma medida excepcional, que não deveria ser repetida. Ela tomou. O farmacêutico ainda nos recomendou alguns locais para jantar com comida típica. Ao voltarmos, Luís entrou em contato com algumas possíveis pousadas para ficarmos no dia seguinte ou em dois dias, caso passássemos um dia descansando e avaliando a recuperação dela. Depois fomos eu e ele ao Bar e Restaurante União (https://www.facebook.com/restauranteuniaoandradas), que o atendente da farmácia tinha recomendado como o de comida mais típica e saborosa, para trazer um tutu à mineira para o jantar. O dono concordou em substituir um dos ovos por um omelete, posto que sou vegetariano. O conteúdo do prato era enorme e jantamos nós três, sendo que eu comi muito para não sobrar nada. Incluía, bisteca, calabresa, torresmo, arroz, tutu de feijão, couve e salada, além do ovo e do omelete. Ainda demos parte do torresmo que eles não comeram para a Dora. Eu adorei a comida e acho que eles também gostaram. Na 5.a feira 24/03, após uma boa noite de sono, considerando que o incômodo continuava na perna da Carolina, resolvemos passar um dia a mais em Andradas, para ver se ela se recuperava ou se era melhor interromper o Caminho. Aproveitamos para descansar. Inicialmente tomamos o bom café da manhã oferecido pela Dora, com pães, queijo, margarina, bolo, biscoito de polvilho, café, leite e goiabada. Durante a manhã, posto que o incômodo continuava, analisamos várias possibilidades, inclusive de continuarmos o Caminho e Carolina acompanhar indo de carro de uma cidade para outra, algo que ela não achou interessante. Ao fim, chegamos a um acordo que era melhor interromper, para evitar qualquer risco. Eu perguntei se eles se importariam se eu continuasse e eles disseram que não, até ficariam contentes. Eles decidiram retornar no dia seguinte. Começamos a procurar alternativas, pelo Blablacar, Uber, táxi ou ônibus. Não conseguimos alternativas de rotas viáveis pelo Blablacar nem de preço viável por Uber ou táxi e o mais viável mostrou-se ser o ônibus mesmo 🚌. Decidido isso, deixamos Carolina descansando e fomos comprar ingredientes para fazer uma guacamole para o almoço, prato que eu não conhecia. Compramos abacate, tomate, cebola, cenoura para o guacamole e adicionamos berinjela, pepino, pimentão, manga e banana por minha sugestão. Eles prepararam, mas acharam que o abacate estava muito verde. Eu achei que estava bom. Durante o almoço, preocupados com o horário em que eu começaria a caminhada no dia seguinte, resolveram ir no próprio dia. Eu, que não gosto muito de viajar á noite como eles iriam, disse que para mim não haveria problema em começar mais tarde no dia seguinte, mas eles decidiram que iriam no fim da tarde mesmo. Após o almoço, acompanhei Luís até a rodoviária para comprar as passagens. Ele comprou para perto de 18h. Anotamos alguns números de taxistas para levá-los da pousada até a rodoviária com as bagagens. Quando voltamos, Carolina estava tomando café com Dora e sua família. Depois Luís foi comprar alguns doces para levar de presente e pães de queijo e batata para comer. Enquanto isso fiquei conversando com Carolina sobre a situação familiar e seus planos para o futuro. No fim da tarde acompanhei-os de táxi até a rodoviária. Havia alguns cachorros lá que achamos que poderiam ser atropelados, mas que depois de bastante tempo acabaram conseguindo atravessar a rua, quando o trânsito do horário de pico diminuiu. Pesamos as mochilas enquanto esperávamos o ônibus. Até que não estavam tão pesadas. A da Carolina deu por volta de 5 kg e a do Luís por volta de 7 a 8kg, mas já com os doces que haviam comprado e itens tirados da mochila da Carolina, porém sem a água e os alimentos que haviam levado durante a caminhada. O ônibus chegou alguns minutos atrasado, eles subiram e partiram. Luís tirou esta foto antes de partirem. Eu voltei para a pousada, passando antes pela Igreja Matriz, na qual entrei para visitar. Jantei o que tinha sobrado da guacamole com mais alguns pães que comprei. Ofereci a guacamole para a Dora (não tínhamos oferecido antes porque eles acharam que não tinha ficado boa e iria decepcioná-la) e ela disse que estava boa, porém que faltava sal. Descobri que antes de sair eles tinham pago a estadia deles e a minha do último dia. Acabaram ficando no prejuízo financeiro 😞. Avisei uma outra amiga que tinha dito que talvez fizesse o trecho a partir de Estiva conosco, sobre a previsão de chegada em Estiva. Mas ela havia se comprometido a fazer companhia para a mãe naquele período e acabou não vindo. Na 6.a feira 25/03 tomei o bom café da manhã, com pães amanhecidos (que Dora me ofereceu antes de chegarem os novos, após eu dizer que gostava deles), pães novos, queijo, margarina, bolo, biscoito de polvilho, banana, leite de vaca criada por parentes dela e goiabada. Depois de me arrumar, despedi-me de sua filha Janaína e da sua sobrinha. Assinei o livro de visitantes e Dora pediu para tirar uma foto na frente da pousada. Despedi-me de Dora e parti rumo a Crisólia. Passei novamente pela Igreja Matriz, desta vez de manhã, e aproveitei para visitar a praça. O caminho novamente foi montanhoso, com belas vistas do alto, belas paisagens e áreas de mata. Vi também vários pássaros (preto e amarelo, preto com azul brilhante, canários, periquitos, pretos etc). Neste momento havia ainda bastante poeira no Caminho levantada pelos veículos, pois não havia chovido ainda. Um caminhão reduziu sua velocidade antes de passar por mim num trecho assim. Achei que foi para me poupar do poeirão, mas talvez estivesse enganado. Houve pequenos trechos em estrada de asfalto, um na saída de Andradas e um outro maior perto da chegada em Crisólia. Na caminhada deste dia encontrei um casal de mais de 60 anos vindo de Santa Catarina, que estava fazendo o Caminho a pé. Eles tinham parado numa lanchonete. A mulher me disse que pretendiam ir até Crisólia. Esta foi a foto de uma das paisagens. E esta de outra. Havia também pequenas grutas e santuários como este. No meio do dia passei pela Serra dos Limas, fui visitar a igreja por fora e no caminho para ela peguei três mexericas que encontrei no chão. Uma mãe zelosa esperava pela perua escolar que traria a filha da escola. Comentou comigo que era importante esperar, pois por ali passava muita gente e poderia ocorrer algum problema. Pouco adiante passei pela Pousada da Dona Natalina, com quem Luís havia conversado para nos hospedar, caso tivéssemos continuado em grupo e fôssemos fazer trechos mais curtos. Ele a achou muito simpática e gentil pelo telefone. Conheci-a e seu marido Bento, que achei que faziam um lindo casal, de certo modo simbolizando a diversidade, simpatia e boa índole da população do interior. Pouco depois, vi um homem saindo de uma cachoeira. Parecia ser um peregrino. Resolvi aproveitar a cachoeira e acabei não conseguindo falar com ele. Achei deliciosa a queda de água, inclusive sendo possível entrar em baixo do jato. Ao longo do dia, um homem pediu-me orientações sobre como chegar a Andradas, se bem me lembro, eu disse que vinha de lá e mostrei o caminho pelo qual tinha vindo. Foi a primeira vez em toda a peregrinação, incluindo a primeira parte, que dei informações para alguém que me pediu. Passaram por mim peregrinos de bicicleta. Passaram também grupos de motos e quadriciclos, que acho que estavam indo para Aparecida. Ao longo do trajeto achei as igrejas das pequenas localidades muito bonitas. Achei o campo de futebol de Barra muito bonito também. Já no meio da tarde reencontrei o homem que tinha visto saindo da cachoeira, que era Israel, policial de trânsito aposentado, que fazia uma caminhada de Tambaú até ali perto, de onde pretendia voltar para sua cidade no interior de Minas. Conversamos um pouco no acostamento, enquanto andávamos e depois eu prossegui mais rapidamente para tentar não pegar chuva. Ele comentou comigo da existência da Estrada dos Santos Negros, que eu encontraria num trecho após Ouro Fino. Ele disse que pretendia pegar um ônibus, pois não gostava muito de caminhar em rodovias, onde estávamos naquele momento. Durante a tarde, uma caminhonete emparelhou comigo e me ofereceu água, mas como eu tinha, educadamente recusei. Em Crisólia fiquei na Pousada São Sebastião, da Dona Maria, https://www.instagram.com/pousadasaosebastiao4, recentemente falecida, conduzida atualmente por seus filhos, especialmente por Marta. Custou R$ 50,00 num bom quarto com banheiro externo, incluindo café da manhã. Paguei em dinheiro. Quando cheguei, seu sobrinho que lá estava fazendo um serviço, deixou-me entrar para escapar da chuva que vinha. Assim que entrei começou uma chuva leve que se transformou numa pancada moderada. Fiquei esperando pela Marta numa área coberta. Cerca de 15 minutos depois ela chegou junto com Israel, que também resolveu hospedar-se lá. Saí para comprar pães e vegetais (laranja, banana, chuchu etc) para o jantar e conhecer a igreja e a praça. Uma moça indicou-me outra que poderia abrir a igreja, ela foi buscar a chave em casa e abriu para eu poder conhecê-la. A dona da padaria em que comprei pães contou-me que teve uma doença rara, que a deixava paralisada e o marido fez uma promessa para ela se curar. Ela melhorou muito, tanto que estava trabalhando, e o marido fez o Caminho da Fé, com ela dando apoio de carro. Israel, que jantou na minha frente, ficou admirado de me ver comer as cascas das bananas e laranjas em meus sanduíches veganos. Alguns trabalhadores jantaram junto conosco, pois a pousada oferecia refeições também. Percebi que parte da planta dos meus pés estava começando a ficar vermelha e fiquei achando que poderiam surgir bolhas. À noite não houve mosquitos e o sono foi tranquilo. No sábado 26/03 após levantar e ir ao banheiro vi que Israel já havia tomado seu café da manhã e já estava partindo. Eu então fui tomar o bom café da manhã oferecido (leite de vaca criada, pães, broa, queijo, margarina, banana, bolo). Marta falou-me que uma peregrina tinha desistido no dia anterior devido às bolhas no pé, embora ela tivesse ajudado a tratar, mas que o homem que a acompanhava tinha continuado. Acho que foi o tio e a sobrinha que tínhamos encontrado em Andradas. Marta pediu para seu filho tirar uma foto nossa. Acho que a moça à minha direita era sua irmã e a outra era ela, de blusa escura. Depois parti rumo a Borda da Mata. Achei o trajeto belo, com muitas montanhas e trechos de mata. Pouco depois de sair vi um casal de moto tentando pegar alguma ave. Achei que estavam tentando pegar uma galinha para abate. Mas na realidade estavam tentando salvar um filhote de saracura 🐦, que estava perdido da mãe e tinha ido para a estrada. Estavam tentando fazê-lo ir para o outro lado da cerca, onde havia campo. Depois de muito tentarem, o filhote conseguiu achar um local em que pulou a cerca e saiu correndo em disparada rumo ao campo. Eu os parabenizei pela atitude solidária com os animais. Passei pela cidade de Ouro Fino, que me pareceu muito bonita. Na entrada do núcleo urbano central existia uma escultura do Menino da Porteira e uma homenagem ao compositor e ao cantor da famosa música. Minha mão encaixou perfeitamente no molde que existia ao lado do monumento. Já perto do centro da cidade, existia este outro monumento. Passei pela igreja central também, que achei bela, e segui meu caminho. Na saída da cidade, encontrei a Estrada dos Santos Negros (https://leandromd.blogspot.com/2013/07/coisas-de-minas-estrada-dos-santos.html) de que Israel havia falado. Era uma estrada com esculturas e pequenos altares para negros considerados santos cristãos ou do sincretismo, com um breve relato. Achei muito interessante. Depois da estrada rumei para Inconfidentes. Pouco antes da chegada havia esta capela de São Judas Tadeu. Na lanchonete ao lado havia dois peregrinos, se bem me recordo de Fortaleza, que estavam fazendo o Caminho. Cumprimentei-os e conversamos rapidamente. Disseram que para eles aquele clima era frio. Despedi-me e prossegui. Gostei da cidade, com sua praça central, onde ficava a igreja, que achei bela. Mais à frente, já num trecho de estrada, havia uma espécie de centro de compras de crochê, mas como eu passei pelo outro lado e como estava ameaçando chuva, resolvi não voltar para conhecer. Já numa estrada de terra na saída da cidade, começou uma chuva leve e depois veio uma pancada moderada de chuva 🌧️ e eu parei por alguns minutos sob a cobertura de um ponto de ônibus. Mas passou logo e eu pude continuar. O chão já não tinha o poeirão dos primeiros dias, pois a chuva, ainda que em pouca quantidade, havia umedecido a terra. Ao longo do trajeto vi vários pássaros, tucanos, cinza-azulados etc. Acho que foi neste trecho que vi alguns tucanos. Até tentei fotografá-los, mas o melhor que consegui foi esta foto. Se eu fosse fotógrafo morreria de fome 😄. Passei também pela Capela Nhá Chica, que achei uma pérola, muito bela e integrada ao ambiente natural ao seu redor. Havia um ponto de apoio aos peregrinos associado a ela. Num outro momento tomei um banho num córrego que havia na beira da estrada. Não era uma cachoeira, mas gostei. Cheguei em Borda da Mata já perto do fim da tarde. Fiquei hospedado no Hotel Virgínia (https://www.tripadvisor.com.br/Hotel_Review-g4085659-d10456708-Reviews-Hotel_Virginia-Borda_da_Mata_State_of_Minas_Gerais.html) na região central, pagando R$ 60,00 com cartão de crédito por um quarto com banheiro interno e café da manhã incluído. Cláudia atendeu-me e sua filha, entrando na adolescência, operou o computador para me registrar. Cláudia também tinha um menino bebê de colo. Após instalar-me, encontrei Gustavo, marido e pai, assistindo a semifinal do campeonato paulista entre Palmeiras e Bragantino. Ele era palmeirense. Depois de acomodado, fui dar uma volta na cidade, conhecer o chafariz (iluminado à noite), a praça e a igreja, que achei belas, e pensei em ir a um cruzeiro que existia no alto de um morro, mas como já estava tarde, desisti. No caminho um rapaz ofereceu-me algo entorpecente para fumar lá 🚬, pois disse que senão não teria graça. Eu ri, recusei educadamente e prossegui. Na volta, ao perceber que eu não havia ido, ele riu e disse que iria chamar a polícia para mim. Passei no supermercado e comprei banana, laranja, chuchu, cebola, limão e pão para o jantar. O sono foi tranquilo, sem mosquitos. No domingo 27/03 inicialmente tomei o bom café da manhã oferecido, com pão francês, pão de torresmo, polvilho, margarina, manteiga, muçarela, banana, mamão, melão, caqui e bolo. Gustavo, vendo que os caquis existentes na mesa não estavam muito maduros, foi buscar outro para mim no quintal do vizinho. Conheci um hóspede que tinha parentes nas redondezas e trabalhava como guarda municipal em Santo André. Disse que pretendia mudar para a região após aposentado, pois em Santo André, no local em que morava, até para colocar o lixo na rua precisava sair armado. Após me despedir de todos, ainda passei pela praça central e pela igreja e parti rumo a Estiva. Achei o trajeto belo e montanhoso com lindas vistas do alto, trechos de mata e vários córregos. Novamente vi vários pássaros diferentes dos que estou acostumado a ver, como alguns verdes, com as asas encobrindo a cor azul. Vi várias cobras esmagadas na estrada. Acho que um grupo de peregrinos ciclistas 🚵‍♂️ passou por mim, além de motociclistas. Logo no princípio houve uma subida íngreme para a Porteira do Céu. Um rapaz acompanhou-me boa parte da subida, pois disse que estava fazendo seu exercício matinal de domingo. Interessantemente ele também estava de chinelos e disse que subir aquele trecho de calçados traria bolhas nos pés. Lá no cume da estrada havia uma capela e uma lanchonete, com vista ampla da paisagem, que achei muito bela. Esta era a vista. E esta era a capela. Conversei com um homem de um casal que estava fazendo um passeio por ali de jipe. Pouco depois de prosseguir caminho, passou por mim um grupo enorme de jipeiros. Vi e visitei várias capelas no caminho, incluindo uma patrocinada pelo Tonho Prado da Rede Vida, cujo dono da propriedade em que ficava recebeu-me muito bem e abriu a porta para que eu pudesse conhecer. Uma das capelas foi esta. No meio do trajeto passei pela cidade de Tocos de Moji, que me pareceu muito bonita. Tinha ficado sabendo que ela tinha sofrido com as chuvas do início do ano, mas parecia bem recuperada, porém com várias obras. Achei sua igreja, praça central e toda a área central muito belas. Estava havendo um espetáculo com muita gente, música alta e vários tipos de alimentação. Seguindo o Caminho para Estiva, passei por um grupo de quatro peregrinos mineiros, acho que era um casal e dois irmãos ou então dois casais. Eram todos da mesma família. Mais à frente encontrei um automóvel Gol prata de apoio que os acompanhava, com o avô e a netinha. Um amigo deles dirigia. Seguindo, fui até o Cantinho do Peregrino, onde talvez pretendesse ficar. Mas achei que era muito cedo, perto de 13h30. Conversei com uma atendente e pedi para avisar que eu havia mudado de ideia e iria prosseguir. Ela me tratou muito bem até indicou um outro local para me hospedar, que achou que poderia ser mais barato do que as opções existentes em Estiva. Houve chuva leve no fim do dia. Uma das paisagens vistas neste trecho foi esta. Ao chegar em Estiva, perguntei para uma moça se havia alguma outra pousada além da Poka e ela me disse que havia uma em cima da Lotérica Mendes e me ensinou como chegar lá. Fui até lá e não havia ninguém. Depois de tocar a campainha e bater palmas, o vizinho apareceu e me disse que a pousada funcionava, mas a dona tinha saído e voltaria mais tarde. Por precaução, decidi então verificar se havia vaga na Pousada Poka, que me parecia ter um preço acima do praticado nos outros locais. Descobri que havia bastante vagas e que existia uma opção mais barata, com banheiro fora, que não era mencionada nas informações da pousada que constavam no documento do Caminho. Lá conheci alguns peregrinos que faziam o Caminho de bicicleta (um homem e duas mulheres). Aproveitei enquanto esperava pela dona da pousada e fui dar uma volta na praça e conhecer a igreja central. Achei ambas belas. Voltei à porta da pousada, onde pouco depois apareceu uma moça que me viu esperando e disse que tinha o telefone da dona, que era sua conhecida e que ela não costumava sair. Ela ligou no telefone fixo, pois a dona não tinha celular. Ouvimos o telefone tocar, mas ninguém atendeu. Enquanto conversávamos, chegou a dona. Era Ademilde, apelidada de Duda. Ela disse que estava funcionando e aceitaria me receber. Paguei R$ 40,00 em dinheiro por um quarto com banheiro dentro e sem café da manhã nem wi-fi. Ela encheu cerca de 80% da minha garrafa de água. Disse que antes era conveniada ao Caminho, mas depois de alguns fazerem reservas e não comparecerem, tinha desistido. Ela me disse que pela manhã era para eu deixar as chaves na porta antes de partir, posto que ela tomava remédio para dormir e só costumava acordar depois das 8h. Ela parecia ter alguma oscilação cognitiva ou emocional, mas me tratou muito bem durante todo o período. Como era domingo e os supermercados e quitandas já estavam fechados, resolvi comprar o jantar na padaria. Comprei pães e um bolo de coco, que juntei com duas bananas que ainda tinha. Ainda precisei sair da pousada à noite e ir mais perto da área central, pois o sinal da Claro não pegava no quarto. Quando perguntei a um rapaz, ele me disse que não havia risco de segurança em se usar celular na rua à noite ali. Na 2.a feira 28/03 após comer como café da manhã os três pães e o pedaço de bolo que sobraram, arrumei tudo, fechei a pousada como Duda havia pedido e parti. Não pude pegar água, pois a porta da casa dela ainda não estava aberta e eu não quis incomodá-la. Contei com a possibilidade de achar alguma fonte nas primeiras horas de caminhada. Logo após sair, encontrei a Chácara São Bento (https://www.facebook.com/pages/Capelinha%20De%20S%C3%A3o%20Bento/102602185213604), onde tocava cântico gregoriano vindo de um alto-falante. Vi que estava escrito que havia apoio aos peregrinos e água potável. Comecei a procurar, mas não encontrei. Passando o portão, ao lado da capela, vi uma torneira. Achei que era lá. Antes de pegar, surgiu Luiz Carlos Marques Júnior e disse que era voluntário naquele ponto. Disse que ficava ali entre 5h30 e 8h dando apoio e ânimo aos peregrinos e que já tinha entrado, mas resolveu voltar porque viu pela câmera que eu parecia estar procurando algo. Falei que estava procurando por água e ele me mostrou a torneira, dizendo que era água potável segura, que eles mesmo tomavam. Quando eu disse que iria colocar cloro, ele disse que não precisava, mas se eu estava acostumado, não havia problema. Como ele disse que eles bebiam aquela água diretamente, resolvi não colocar cloro, tomá-la e encher pouco mais da metade da minha garrafa. Conversamos bastante sobre seu trabalho voluntário de apoio aos peregrinos, colocação de mensagens motivacionais, educacionais e informativas ao longo do Caminho, o cântico gregoriano, cujo CD tinha ganho de monges de Ponta Grossa que por ali passaram, plantio de árvores etc. Ele me falou que tinha construído a capela durante a pandemia e que o local planejado originalmente era um pouco ao lado, mas que como havia um ninho de rolinha na árvore onde seria, ele decidiu alterá-lo para onde era naquele momento. Disse-me também que era cuidador de um monge idoso e que trabalhava comercialmente como contador, remotamente em casa. Ele perguntou se eu era católico e, mesmo eu dizendo que não era cristão, deu-me uma medalha de São Bento, que disse que poderia usar como quisesse. Perguntei se poderia doar para alguém ao longo do Caminho e ele disse que sim, inclusive mencionando que eu passaria por dois bairros carentes na sequência. Ao fim parabenizei-o, ele carimbou minha credencial, tirou uma foto, despedimo-nos e prossegui. Ele disse que eu teria uma longa caminhada até Paraisópolis, meu destino pretendido daquele dia. Gostei das paisagens ao longo do Caminho, novamente montanhosas, com belas vistas das montanhas e a partir das montanhas, áreas de mata, gado, pássaros (tucanos, pássaro de ponta cabeça etc). Visitei igrejas e muitas capelas. Não choveu ao longo do dia. Passei pelos bairros que Júnior havia dito, não os achei tão carentes, talvez por tê-los achado parecidos com outros de cidades anteriores. Uma vista da paisagem foi esta. Encontrei um grupo de peregrinos almoçando em Consolação e fui cumprimentá-los. Aproveitei e cumprimentei um motociclista que estava em uma mesa à frente deles, não fazia o Caminho da Fé, mas não deixava de ser um peregrino 😄. Já na saída de Consolação, vendo uma mãe saindo com a filha para pegar a perua para a escola, perguntei se a mãe era católica. Ela disse que não, que era evangélica. Então eu disse que tinha a medalhinha para doar, mas imaginava que ela não se interessaria, pois geralmente evangélicos não gostam de imagens. Ela não contestou. Mais à frente, vi uma outra mulher, de mais idade, que talvez fosse a sogra da mulher anterior, pelo que entendi, e perguntei se era católica. Ela disse que sim. Ofereci a medalhinha. Acho que ela não entendeu bem, mas desceu a rampa para conversar. Quando ela chegou mais perto eu expliquei e ela disse que gostava de imagens e, se era de graça, aceitava. Dei para ela. Pouco à frente, já na área rural, encontrei a Gruta da Sagrada Família, que tinha uma fonte de água disponível para os peregrinos. Eu já tinha me arrependido de não ter tomado mais água na Chácara São Bento nem ter enchido completamente a minha garrafa, pois o dia estava quente. Mas esta fonte resolveu o problema e fez com que eu não passasse nenhuma privação de água. Pouco à frente encontrei uma moça e seu tio (acho) peregrinando a pé. Eles eram de Bauru. Disseram que era seu primeiro dia de peregrinação. Perguntaram a que distância estava a pousada mais próxima. Eu disse que havia uma perto, cerca de 10 km antes de Paraisópolis. Depois de conversarmos um pouco, eu acelerei um pouco e os deixei para trás na subida. Mais à frente, pela segunda vez na viagem, um motorista pediu-me informações e eu indiquei como chegar a Consolação, que o ajudaria a ir para a cidade que desejava. Depois parei para conversar com a dona desta casa, que me chamou atenção pelo jardim florido. Aproveitei e perguntei para ela sobre a Pousada Boa Esperança, com a dona da qual tinha conversado sobre talvez ficar. Ela me falou que a dona tinha ido fazer pré-natal e poderia demorar a voltar. A dona havia me dito no dia anterior que teria consulta médica à tarde e por isso não poderia garantir que estaria lá para me receber no meio da tarde. Ficamos combinados sem compromisso. Os dois peregrinos de Bauru alcançaram-me. Como era cedo, perto de 15h, deixei avisado para os vizinhos da pousada que prosseguiria e não ficaria lá. Os dois peregrinos aproveitaram e pararam no bar e mercearia ao lado para comprar mantimentos (água etc), perguntaram-me quanto tempo estimava até a cidade, eu disse que umas 2 horas e meia chegando ainda com sol. Acho que com esta informação eles se encorajaram a prosseguir, pois pela minha previsão teriam 1h de folga até o escurecer, caso atrasassem. E eles pareciam andar com certa rapidez. Uma vista da paisagem deste trecho foi esta. Outra, já mais perto da chegada, foi esta. Já perto da chegada reencontrei em uma lanchonete a família mineira de peregrinos, com os dois homens, as duas mulheres, o avô, a netinha e o amigo dirigindo. Em princípio não os reconheci. Mas quando fui olhar a vista das montanhas atrás da lanchonete eu os reconheci. Perguntei como tinha sido a caminhada. Disseram que tinham passado muita sede, pois não tinham encontrado fontes. Saíram antes das 5h, então não viram a fonte da Chácara São Bento no escuro e o Júnior ainda não estava lá fazendo seu trabalho voluntário. Só foram achar a fonte da Gruta da Sagrada Família muito mais pra a frente, mais de 20 km depois de terem saído. Tirei duas fotos do mirante da lanchonete em que os encontrei. A primeira foi esta. A segunda foi esta. Ao chegar em Paraisópolis visitei uma igreja existente dentro de uma casa de repouso, com a autorização da encarregada. Fiquei na Pousada Peregrinos da Mantiqueira (https://www.facebook.com/peregrinosdamantiqueira). José Afonso e sua mulher receberam-me muito bem. Quando cheguei, ele conversava com um prestador de serviços e estava com seu neto em casa, que depois o pai veio buscar. Paguei R$ 60,00 em dinheiro por quarto com banheiro externo, incluindo café da manhã. Havia um mapa do Caminho da Fé no muro da pousada. A vista daquele entardecer a partir da rua em que ficava a pousada foi esta. Saí para comprar pães e vegetais (banana, laranja, chuchu e abobrinha), juntei com um maracujá que achei no chão no caminho e um pedaço de bolo (se bem me lembro José Afonso me deu) e jantei tudo. Quando saí, aproveitei e visitei um obelisco existente na região central. O sono foi tranquilo e sem mosquitos. Na 3.a feira 29/03 tomei o muito bom café da manhã (creme de queijo, margarina, muçarela, queijo branco, pães, iogurte, suco de laranja natural, bolo de fubá) oferecido por José Afonso. Conversamos durante o café sobre seus planos para o futuro, como era ter a pousada, a viagem etc. Ele me orientou onde encontrar uma agência do Bradesco para fazer saque e parti. Saquei um pouco de dinheiro no Bradesco, aproveitei para visitar a igreja e a praça central. Depois rumei para Luminosa. O percurso previsto do dia era mais curto do que os outros porque depois da Luminosa existia a subida da serra para Campos do Jordão, onde havia um longo trecho sem pousadas ou com valores muito mais altos. Achei a paisagem muito bela, com vistas a partir do alto e vista das montanhas a partir de baixo. Um exemplo foi este. O trajeto seguiu sendo montanhoso, mas creio que houve mais áreas de mata neste trecho do que nos anteriores e achei as subidas mais suaves. Percebi a existência de trechos com muitas borboletas, dos mais diferentes tipos, como estas à direita da foto. Visitei igrejas e capelas ao longo do caminho. Pareceram-me muito bem cuidadas e simples. Encontrei e conversei com dois irmãos e seu casal de pais já por volta dos 60 ou 70 anos peregrinando a pé. Pelo que entendi era o primeiro dia de peregrinação deles. Eles eram de Sete Lagoas pelo que entendi (ou talvez fossem de Três Lagoas, posto que falaram algo sobre Mato Grosso). Pareciam animados. Os pais nada carregavam. Os irmãos carregavam para eles. Um cachorro seguiu-me parte do trecho, amistosamente. Apesar de gostar muito de cachorros, procurei não dar muita atenção a ele para que não me seguisse e depois se perdesse e não conseguisse voltar ou pudesse ser atropelado em alguma via movimentada. Após alguns minutos ele desistiu. Conversei com alguns trabalhadores rurais sobre o Caminho, sobre o trabalho deles e a vida. Informaram-me que as cachoeiras lindas que eu via da estrada eram poluídas. Por isso nem tentei entrar nelas. Esta foi a que achei mais bonita. Ao passar por Cantagalo, distrito de São Bento do Sapucaí, conversei com um homem que andava a cavalo. Ele tinha trabalhado por décadas em São José dos Campos e depois de aposentado tinha voltado a morar ali. Comentou sobre a tranquilidade do local, mas falou da falta de saneamento, das águas poluídas e da falta de asfalto, que na época de chuvas tornava algumas estradas e ruas praticamente intransitáveis para veículos. Disse que a SABESP e outras empresas não se interessavam por serem muito poucas famílias no local e pelos custos serem altos, mas que disseram que havia previsão de instalação de equipamentos contra poluição brevemente. Passou pelo portão da sua casa e subiu uma rampa de terra onde sua mulher (acho) o esperava para descer do cavalo. Despedi-me e continuei. Cheguei em Luminosa perto de 14h. Pareceu-me um local bem pequeno, acolhedor. Esta foi a vista da cidade pouco antes de chegar. Fiquei hospedado na Casa de Família da Luciana e do Vanildo, que moravam numa casa na parte de cima com seus dois filhos (um casal). Achei uma linda família. Trataram-me muito bem. Luciana deixou como cortesia frutas (3 bananas e 1 maça) e 3 barrinhas de doce de banana feitos pela sogra e me ofereceu o jantar sem cobrar por ele. Mas como foi um banquete, para os meus padrões, eu achei que seria absurdo não pagar o preço integral. Assim sendo paguei R$ 80,00 pela estadia, com café da manhã e jantar, tendo ficado numa casa completa, com quarto, sala, cozinha, banheiro e sacada (R$ 65,00 da estadia com café + R$ 15,00 do jantar). Inclusive aproveitei para lavar minhas roupas, posto que Luciana disse que não pagavam água. A casa era bem sustentável, pois eles tinham placa de energia solar. Eis uma foto dela, na sala da casa do andar de baixo em que fiquei, com os brindes que ela me deixou em cima da mesa. Após me acomodar, fui dar uma volta na cidade. Havia perguntado a Luciana sobre montanhas com vista panorâmica nos arredores e ela me disse que havia uma muito boa, mas cuja entrada era no meio do caminho que eu tinha percorrido. Estimou que levaria cerca de 2h para eu chegar lá. Achei melhor então não ir e optei por pegar a estrada para Brazópolis. Num dado momento vi uma montanha próxima, mas era necessário cruzar uma porteira e pegar uma estrada. Perguntei a trabalhadores que estavam numa propriedade ao lado se poderia ir até a montanha com vista do alto, mas eles disseram que havia bois bravos no caminho. Perguntei então se aquela estrada era em propriedade privada e disseram que sim. Aí desisti. Mais á frente achei um local elevado ao lado da estrada, com uma espécie de pequena plataforma onde se podia sentar. Tinha ampla vista da paisagem. Parei ali e comecei a meditar. Creio que fiquei ali por cerca de 1h30 a 2h. Após cerca de 1h a 1h30 que lá estava, um carro parou ao lado, com um casal de mais de 60 ou 70 anos. Talvez até perto de 80. Vendo isso, fui até eles, para tirar qualquer impressão que pudessem ter que eu poderia fazer algo ilícito ali. Após cumprimentá-los, perguntei se eram os donos da propriedade para a qual eu estava olhando em vazio e disseram que sim. Eu disse que não faria nada errado e o homem respondeu rindo que eu não faria mesmo, pois senão a polícia prenderia 😄. Expliquei para eles que estava meditando e tentei dar uma ideia do que é meditação. Acho que com isso eles relaxaram mais e me disseram que estavam indo para a cidade comprar remédios, antes que escurecesse. Disseram-me que poderia ficar ali quanto quisesse, a mulher pediu para eu rezar por eles, despediram-se e foram. Fiquei mais uma meia hora ou 45 minutos. Após acabar a meditação, estava esperando que eles voltassem para ir embora, mas eles demoraram muito e eu resolvi voltar. Muito bonito o pôr do sol visto dali. Pouco mais tarde, esta foi a vista a partir da sacada da casa em que eu estava hospedado. Luciana preparou um enorme jantar para mim, com arroz, feijão, salada de tomate e alface, limão, cenoura e abobrinha cozidas, macarrão e suco de abacaxi). Eu agradeci muito. Ela foi levá-lo pontualmente às 19h com seu marido e sua filha, que conheci então. Perguntei qual a matéria de que sua filha gostava mais na escola. O marido Vanildo trabalhava numa propriedade rural próxima. O filho já estava dormindo para ir estudar no dia seguinte de manhã. Depois do jantar lavei minha camisa e minha calça, que embora não estivessem muito sujas, tinham um pouco de poeira (calça) e suor (camisa). Apesar de não ir até a rua, achei linda a vista do céu noturno estrelado e foi possível admirar um pouco a enorme quantidade de estrelas, dada a baixa iluminação urbana. Na 4.a feira 30/03 tomei o muito bom café da manhã, com pão, creme de queijo, muçarela, ovo caipira com queijo, biscoitos, bolo, café, leite de vaca criada e banana. Conversei com ela sobre a experiência de receber peregrinos, a vida por ali e como era linda a família dela. Despedi-me de Luciana, depois de agradecer muito e parti. O trecho foi bem montanhoso. Houve muitos trechos de mata, araucárias, árvores floridas e vegetação exuberante. Achei muito belas as vistas das montanhas a partir de baixo e da paisagem a partir do alto. Foi a maior subida da peregrinação. Mas até que não achei tão cansativo nem pesado. Achei as subidas longas, mas suaves. Visitei algumas capelas no trajeto. Inicialmente passei por esta linda cachoeira, em que entrei e de que muito gostei. Houve outras cachoeiras ao longo do trajeto, mas como o acesso não era tão fácil, acabei só entrando nesta. Esta foi uma das vistas da paisagem na subida. Havia gado, mesmo nas montanhas. Neste trecho achei uma árvore com frutinhas doces vermelhas, que aproveitei para experimentar (primeiro) e depois comer bastante, posto que adorei. Encontrei também um homem com um fusca amarelo, parecido com o que meus pais tiveram quando eu era criança e adolescente. Brinquei com ele, perguntando se tinha assistido “Se Meu Fusca Falasse” e ele respondeu que não, mas que já tinha ouvido falar. Esta foi uma outra paisagem, um pouco mais para frente, ainda na subida. Depois entrei numa área que parecia ter mata densa. Fiquei até com receio de onças, mas não apareceu nenhuma nem ouvi nenhum esturro. Achei a mata muito bela, com vegetação de montanha. Perto do fim encontrei um grupo de cavaleiros, que aparentemente faziam algum tipo de excursão. Estavam almoçando num ônibus antigo, típico da CMTC de São Paulo na década de 1970. Convidaram-me, mas eu recusei devido ao horário. Mais para frente eles me passariam e cumprimentariam na estrada com seus cavalos e logo após viria o ônibus. Esta foi uma vista já após a subida maior, talvez no alto da serra, a partir de uma região relativamente plana. Encontrei novamente os dois peregrinos de Bauru. Como me aproximei por trás caminhando na estrada asfaltada, sem fazer muito barulho, creio que se assustaram um pouco quando eu os cumprimentei. A moça até perguntou rindo “Você não é uma miragem?” 😄. Perguntei se tinham conseguido chegar antes do anoitecer na cidade dois dias antes e eles disseram que sim. Pareciam estar gostando da experiência, agora já no terceiro dia, mas disseram que estavam um pouco cansados da subida naquele dia. Eles tinham saído bem antes de mim e pretendiam parar bem antes, então me despedi e disse que iria um pouco mais rápido para chegar antes de escurecer. Esta foi outra foto da região, porém com árvores floridas. Mais para frente no Caminho peguei novamente um vasto trecho de mata, que novamente achei muito belo. Peguei um pedaço de pau no trecho que achei mais arriscado, mas não houve nenhum problema. Perguntei a um trabalhador local que lá estava se havia onças por ali e ele disse que sim, mas que ele nunca tinha visto. Houve uma garoa fraca neste trecho. Pouco adiante um menino com a camisa do Palmeiras, andando de bicicleta, passou por mim. Começamos a conversar e ele falou de algumas opções de pousadas, que ele achava serem baratas. Falou da sua vida e de uma peregrinação que tinham feito em grupo, que durou quase um dia todo, saindo à noite, caminhando durante a madrugada, e chegando em Aparecida no começo ou fim da tarde do dia seguinte. Achei muito puxada e perigoso caminhar à noite daquele jeito. Nós nos despedimos, desejei boa sorte ao Palmeiras na final do Campeonato Paulista e creio que ele foi para casa guardar seu material de trabalho ou escola. Mas pouco mais tarde, reencontrou-me no Caminho, já bem mais perto de Campos do Jordão, só com a bicicleta. Desta vez conversamos menos e ele prosseguiu. Vi várias casas típicas de montanhas da cidade. Passei pela Pousada Refúgio dos Peregrinos, com cuja dona havia conversado, mas achei muito longe da área central, além do que pretendia procurar outra mais barata, que não estivesse mencionada no material do Caminho. Como não tínhamos compromisso, só havia comentado da possibilidade, nem parei para avisar nada. Parei em uma pousada conveniada e em um hotel não conveniado, mas os preços me pareceram bem mais altos do que o de outras localidades. Fui até a rodoviária, que por experiência de vários outros locais, costuma ter no entorno hospedagens mais baratas para viajantes. Lá um taxista indicou-me que o Luís Miranda alugava quartos na esquina. Fui até lá, conversei com ele e ele disse que só tinha um quarto, com várias camas, e que um rapaz estava lá, mas pretendia sair ainda naquele dia. Ele falou com o rapaz, confirmou a saída, eu esperei e fiquei hospedado lá. O rapaz era engraxate e tinha vindo engraxar os sapatos dos prefeitos de cidades do Estado de São Paulo reunidos num evento num hotel. Paguei R$ 70,00 em dinheiro pelo quarto com banheiro, sem direito a café da manhã. Logo após eu chegar e me acomodar, caiu uma tempestade ⛈️. Ainda bem que eu já estava abrigado. Após a chuva, saí para comprar alimentos para o jantar. Comprei pão e vegetais (limão, chuchu, beterraba e cebola) e os jantei. Ainda assisti a primeira partida da final do Campeonato Paulista entre São Paulo e Palmeiras ⚽. Na 5.a feira 31/03 após acordar fui até um mini mercado na esquina para comprar mantimentos para o café da manhã. Comprei pães e bananas e comi junto com cebola e chuchu que sobraram do dia anterior. Arrumei-me e parti, após me despedir de Luís Miranda, de sua família e de brincar com seu filho ou genro, que estava com a camisa do São Paulo, que havia ganho a primeira partida da final no dia anterior. Inicialmente fui visitar a Igreja Nossa Senhora da Saúde, que achei muito bonita, e de lá segui as setas e andei um longo trecho urbano em Campos do Jordão, em direção ao horto. Passei por muitas casas típicas da cidade e por trechos de mata. Decidi ir pelo Gomeral, distrito de Guaratinguetá, por ser mais curto o trajeto até Aparecida e por mencionarem que era mais bela a paisagem. Após o trecho urbano, novamente o Caminho foi por um trecho montanhoso, com bastante mata, em alguns pontos quase sem vestígio de ocupação humana, e com belas paisagens. A estrada a partir deste trecho não tinha mais quase ninguém. Estava ameaçando chuva e o céu estava nublado. Eu ouvia raios ao longe 🌩️, o que me preocupou um pouco, ainda mais por estar subindo, mas eles nunca se aproximaram. Peguei chuva leve em alguns trechos e moderada em outros poucos. Acabei usando minha capa e a capa da mochila, que na realidade eram dois sacos plásticos 😄. A estrada acabou ficando bem enlameada em alguns pontos, com várias poças. Parte do trajeto, na saída do município de Campos de Jordão, foi no Parque Estadual Campos do Jordão (https://www.parquecamposdojordao.com.br). Na entrada havia um lago e várias casas 🛖, que não sei se eram de uma comunidade local que lá habitava ou eram para aluguel de interessados em conhecer o parque. Acho mais provável que algumas poucas fossem de guarda parques e as outras fossem para aluguel de visitantes. Não vi ninguém nelas e só veículos em uma ou duas. Uma paisagem vista da subida foi esta. Passei pelo ponto mais alto do Caminho, marcado com uma placa de 1.950 metros. Um ciclista estava ali pouco antes, talvez por isso tenha chamado minha atenção e eu vi a placa. Haviam dito em Sertãozinho que poderia haver problema de roubos de bicicletas nas Pedrinhas, por isso quando passei por lá fiquei atento, mas nada aconteceu. Passei por algumas capelas ou altares como este. Pouco depois passei pela pousada mais alta do estado de São Paulo, a Pousada Santa Maria da Serra. Entrei e visitei sua área externa, conversando rapidamente com a atendente. Passei também por esta capela, erigida por peregrinos do Oeste do Paraná. Dois jipes passaram por mim. Neste trecho havia muitas pedras médias 🪨 e até relativamente grandes para uma estrada. Tive que tomar cuidado para não dar topadas e nem escorregar nos trechos enlameados. Achei as vistas do alto muito belas. Dava para ver parte do Vale do Paraíba e a cidade de Aparecida, segundo me informou depois Ilza. O céu estava começando a ficar bem escuro. Achei que levaria uma enorme chuva. Até já estava preparando as capas novamente. Mas consegui chegar na Pousada Parada da Serra perto de 16h. Ilza, com quem tinha conversado no dia anterior, estava perto da entrada colhendo pinhões. Ela me recebeu muito bem e foi me mostrar onde eu ficaria. Depois de me acomodar no chalé 🛖 que ficava abaixo, subi para conversarmos um pouco. Então caiu uma enorme tempestade ⛈️, que durou cerca de uma hora. Escapei por pouco, cerca de 15 minutos. Ela mesma disse-me que estava chovendo intermitentemente naqueles dias, mas que chuva forte daquele jeito fazia tempo que não ocorria. Conversamos sobre muitos assuntos. Ela me falou da sua vida com o marido ali, da sua família, da sua infância, de quando cursou faculdade em Taubaté (acho), do reumatismo que teve etc. Ela me mostrou a cidade de Aparecida, lá ao longe, a mesma que havia visto da estrada. Enquanto conversávamos, vi um tucano ou similar passar e ela me mostrou uma saracura nas árvores. Depois de passada a chuva, fui ajudá-la a colocar a vaca 🐄 para dentro da cerca. Ela tinha saído com a tempestade, que deve ter aberto a porteira. A sua amiga e dona da vaca ajudou. Ela estava ali perto, na Igreja de São Lázaro, que havia na propriedade e tinha sido construída pelo avô da Ilza para pagar uma promessa. Esta igreja parecia ser bem famosa, pois vi placas com seu nome na estrada. Depois voltamos, pegamos algumas folhas de azedinha, como ela chamava, de couve e subimos. Eu ainda fiquei um tempo no quarto organizando minhas coisas e esperando uma pancada de chuva passar. Apareceu uma abelha no quarto e depois de várias tentativas eu consegui colocá-la para fora. Passada a chuva, subi para jantar. Com o clima do modo como estava, decidi não ir ao mercado. Pedi para ela um prato de vegetais, em que ela juntou o que plantava nas suas terras e mais cenoura que tinha comprado, sob meus protestos, devido ao preço da cenoura. Achei que ficou muito bom. Continha mandioca, abóbora, couve, azedinha, pepino e cenoura, ao que acrescentei chuchu e cascas de banana que haviam sobrado do café da manhã. Paulo, seu marido, chegou do trabalho. Conversei um pouco com ele também sobre seu trabalho e a vida em geral. Ele estava molhado e ela o chamou para secar. Eu me despedi e desci para dormir. À noite não consegui ver muito o céu, que deveria ser maravilhoso, mas estava encoberto. Houve muitos pernilongos 🦟 e eu não quis usar o repelente que ela deixou para mim. Assim sendo, o sono foi um pouco turbulento. Na 6.a feira 01/04 subi para tomar café de manhã. Paulo já havia saído para trabalhar. Achei o café da manhã muito bom, com pão amanhecido, ovo caipira, enorme e deliciosa rosca caseira, manteiga, geleia de jabuticaba, queijo branco, mamão, leite, café e suco de laranja. Conversei mais um pouco com Ilza durante o café. Ela ainda me deu cerca de meio quilo de pinhão para eu trazer. Quis pagar para ela pelo jantar, mas ela não aceitou de jeito nenhum, nem R$ 10,00. Nem pelo pinhão ela aceitou nada. Paguei R$ 70,00 em dinheiro pela estadia, incluindo café da manhã. Ela disse que era o preço justo, mas eu achei que acabei pagando menos do que o adequado 😞. Depois me aprontei e parti. Ainda deu tempo de ver Ilza ajudando Paulo, que estava a cavalo, a colocar uma vaca para dentro de uma cerca. Eu até tentei ajudar um pouco 😄. Cerca de meia hora depois de começar a caminhar encontrei a Cachoeira do Gomeral ao lado da estrada. Entrei debaixo do jato de água, que achei delicioso, embora o dia ainda não estivesse quente. Prossegui descendo a serra, que achei que tinha paisagens muito belas. Ainda havia bastante áreas de mata, um córrego ou rio, mas à medida que se ia descendo e chegando perto dos trechos urbanos, começavam a aparecer mais fazendas, propriedades comerciais e similares. Depois de certo ponto a estrada ficou asfaltada e intercambiou com trechos de terra. Havia algumas poças de água e alguns trechos com barro. Não peguei chuva ao longo do dia. Já bem mais para frente, num bairro de Potim, senti, pela única vez no Caminho, que poderia haver algum problema de segurança. Achei que um rapaz ficou me observando e depois entrou numa viela. Pouco tempo depois passou um ciclista por mim num trecho ermo, entre um núcleo populacional e outro. Após algumas dezenas de metros que me passou, ele parou na estrada. Achei muito estranho e parei também, como quem iria fazer xixi. Por coincidência, uma viatura da polícia, que havia passado há algum tempo atrás para escoltar um veículo da penitenciária, estava voltando. Acho que isso assustou o ciclista, que ao vê-la, resolveu seguir viagem. Eu também aproveitei para apertar o passo e passar por aquele trecho rapidamente, usando parte do tempo em que a viatura policial transitava. De concreto nada aconteceu, nenhuma abordagem. Ao chegar mais perto do centro de Potim praticamente estava numa cidade média, bastante urbanizada. Ela era contígua com Aparecida, então é como se já estivesse lá. Na entrada de Aparecida, vi este monumento aos pescadores que pegaram a imagem. Cruzei a linha do trem, conforme me indicaram e cheguei até o Santuário Nacional, onde acabava o Caminho da Fé. Perguntei para o porteiro se acabava ali e ele disse que acabava lá dentro e eu poderia pegar um certificado. Mas eu não quis o certificado. Fui visitar o Santuário e a imagem original retirada do rio (ou sua réplica). Após visitar a parte central do Santuário, fui procurar uma pousada para ficar. Fui em direção a uma que havia nas informações do Caminho, na Avenida Itaguaçu, em direção ao porto. Mas no caminho, ao ver outras, resolvi perguntar o preço de uma. Era o mesmo da conveniada, mas o dono me disse que acharia outras um pouco mais baratas. Resolvi seguir, passei pela conveniada sem parar e encontrei a Pousada Guadalupe (https://www.facebook.com/pousa.guadalupe), em que resolvi ficar, por R$ 50,00 no cartão de crédito por um quarto com banheiro e com café da manhã incluído. Depois de instalado, fui dar um passeio pela cidade. Fui ao porto, que era bem perto, visitei os pontos de interesse existentes lá e depois voltei para o Santuário pelo Caminho do Rosário, apreciando as esculturas com passagens bíblicas, majoritariamente ligadas á vida de Jesus. Neste caminho encontrei uma excursão de baianos, com quem conversei um pouco, dizendo que meus avós eram baianos. Ao chegar perto do Santuário, fui ao Morro do Presépio ou Presépio Permanente, também com esculturas de passagens bíblicas, majoritariamente ligadas ao nascimento de Jesus. Ainda tentei ir ao Museu de Cera, mas já estava fechado. Havia duas estátuas na porta, uma do Ronaldo, fenômeno, e outra do Marcos Pontes, astronauta. Pelo que entendi Ronaldo fez promessa para poder jogar a Copa de 2002 e Marcos Pontes levou uma imagem de Nossa Senhora ao espaço, dentro da diminuta cota de bagagem a que tinha direito. Havia um cachorro deitado e à primeira vista até pensei que fosse de cera 😄, mas depois, olhando melhor, vi que estava dormindo e era de carne e osso. Comprei pães e legumes (limão, cebola e chuchu) no supermercado e jantei. Durante o jantar conversei com Júnior, o dono da pousada, e duas amigas ou familiares suas, além da filha de uma delas. O sono foi tranquilo, sem mosquitos. No sábado 02/04 tomei o simples e razoável café da manhã, com pães, rosca, muçarela, margarina, banana e bolo. Conversei com Júnior durante o café. Foi numa das conversas que tivemos que ele me explicou sobre o carro batido que havia no estacionamento da pousada, fruto de um acidente de um rapaz jovem que tinha perdido o pai há algum tempo e parecia estar um pouco desorientado. Ele tirou esta foto quando eu fui partir. Despedi-me e fui visitar o Santuário novamente. Passeei por algumas alas de que tinha gostado, como a Capela com Jesus e Maria, o velário e outras e fui ao subsolo ver algumas exposições, enquanto esperava pela viagem do Blablacar, cujo motorista já havia me informado que tinha tido atraso devido às chuvas no Rio de Janeiro, visto que ele saía de Nova Iguaçu. Embarquei ao lado da rodoviária, onde havíamos combinado. Ele estava testando se o Blablacar poderia ser viável para ele trabalhar fazendo viagens entre Rio e São Paulo. Dirigia seguindo o padrão carioca ou fluminense, bem menos rígido em relação às leis de trânsito do que o paulista, mas não houve nenhum incidente relevante durante a viagem. Deixou-me ao lado da Rodoviária do Tietê por volta de 14h.
  2. ATENÇÃO: o MRCA( Ministério dos Relatos e Contos de Aventura) adverte: Esse relato contém palavrões e palavras chulas que afrontam a dignidade da nova família tradicional Brasileira. VIA SOLARIS .....................O tempo fechou, trovões e relâmpagos espocavam na serra a nossa frente, a chuva que estava prometida, realmente começou a dar as caras e aquilo que parecia estar ruim, se transformou num pesadelo impensável. Mal ouvia mais a voz do meu companheiro de escalada. Minha alma saiu do corpo e voo para bem longe daquela parede, acho que ela se recusava a ver a desgraça que poderia acontecer. Meu cérebro e minha perna já pareciam não querer mais se comunicar e não, eu não estava com o cu na mão, simplesmente meu cu já havia caído da bunda. Minha cabeça deu uma rodada, as pernas mal se sustentavam naquele minúsculo buraco. Eu já via a cena de um helicóptero tentando me salvar, vergonha, vexame, mas ainda era melhor que umas dezenas de ossos fraturados, mas mesmo assim eu nem sabia se tinha sinal de celular para pelo menos avisar algum escalador ali das redondezas que pudesse me ajudar, muito porque, o próprio Alexandre estava preso na parada mais abaixo, sem corda pra descer................. Já escalei montanhas épicas nesse país, entre elas, o Dedo de Deus, Agulha do Diabo, Baú, Ana Chata dentre outras, mas nunca me considerei um escalador de verdade, sempre fui o carregador de cordas, o cara que completa o grupo, porque pra mim , escalador de verdade mesmo é o cara que guia as vias, ou seja, o cara que vai à frente, que se arisca até o ultimo limite para levar a corda da escalada. Engraçado que quando começei , era o cara que se ariscava a guiar as esportivas, mas com o tempo fui deixando de me dedicar e vi os amigos que começaram comigo deslanchar e virarem escaladores profissionais. Confesso que escalada esportiva depois de um tempo acabou por se tornar algo enfadonho para mim, mesmo sabendo que é ali nas paredes, pedreiras que se cresce e que se ganha experiência para enfrentar grandes escaladas clássicas, mas mesmo assim, pouco frequentava as tais esportivas nos últimos anos, mas quando alguém soprava um convite para uma escalada tradicional, não conseguia resistir, mas também já sabiam que eu era sempre o cara que seria um mero “segui”, ou seja, o cara que vai sempre na cola dos mais experientes e isso nunca me aborreceu, porque ia mesmo pela paisagem , pelos velhos amigos e por tudo que envolve essas escaladas clássicas . Já sabendo disso, Alexandre Alves, que sempre gostou de guiar mesmo, nos convidou para uma Clássica em Andradas-MG e passou na minha casa na boca da noite e a viagem foi rápida até tropeçarmos no Abrigo Bramido do Elefante, onde fomos recebidos pelo Tadeu que nos entregou as chaves, já que éramos os únicos escaladores naquele fim de semana. No outro dia estávamos em pé as sete da manhã, organizamos tudo e nos pomos a caminhar na estradinha no rumo leste, meio que paralelo a cadeia de montanhas que hospeda entre outras , a Pedra do elefante, mas nosso objetivo era a Pedra do Boi, um monólito pouco frequentado pela comunidade de escaladores. Um quilometro depois, adentramos a direita numa porteira meio troncha, exatamente a porteira logo depois da casa do próprio Tadeu, que exibe uma minúscula plaquinha anunciando a venda de mel. Adentrando a porteira, que pulamos, vamos caminhar por mais uns 500 m na estradinha, talvez um pouco menos, até interceptar uma trilha de pasto que vai descer até um riacho com aguas paradas, varamos mais uns 100 m de pasto até pularmos uma cerca de um cafezal novinho. Não há caminho, tivemos que atravessar o cafezal pór dentro dele, tomando cuidado para não derrubar as flores da plantação. Depois pulamos mais uma cerca e vamos adentrar em outro cafezal mais velho e ao chegarmos à cerca do outro lado, vamos nos manter do seu lado direito. O caminho é meio confuso, mas a Pedra do Boi está ali na nossa cara e é preciso ir meio que pelo rumo, seguindo as trilhas que se dirigem para aquela direção, que agora é sentido sul. Chega uma hora que a trilha acaba na mata e vira uma picada, as vezes sinalizada com uma tinta vermelha, outras vezes com uma argola de pvc. Tem que ir tendo faro de trilha mesmo e 2,7 km depois do abrigo batemos de frente com a pedra do Boi e aí é hora de caçar a via de escalada. Temos sempre que agradecer esses bravos escaladores que se dedicam a abrir essas vias, gastam tempo e dinheiro e não recebem nada em troca, mas sempre achei que falta uma identificação dessas vias, porque não é fácil localizar uma linha de escalada, ainda mais sendo em móvel. Bom, o certo é que achamos a VIA SOLARIS e nos pés dela um totem de pedra ajuda um pouco a saber que estamos no lugar certo. De novo, mais uma vez, tenho que dizer que por não ser um escalador de verdade, não tenho a intenção de ficar narrando procedimentos técnicos, vou me ater as dificuldades da pessoa humana, as emoções envolvidas nessa escalada, mas erros, acertos e uma série de outros fatores não serão descritos aqui, isso é mais um relato descontraído do que um guia para escalar essa via. A via SOLARIS tem 225 metros de extensão, é graduada como lV /V Sup (E 3), uma incógnita para quem não é do esporte, mas mesmo eu conhecendo um pouco dessas siglas todas, nem me preocupei em olhar esse croqui, muito porque, eu estava despreocupado e confortável, já que eu não ia guiar nada mesmo. Achando a sequência da via, o Alexandre deu início aos trabalhos, escalando essa primeira enfiada (lance) todo com equipamentos móveis, ou seja, aqueles equipamentos que você enfia nas fendas para passar a corda. O Alexandre é mesmo um rato de escalada, fez malabarismo, passou a fenda, virou à direita, entrou na chaminé e já estacionou na parada, 45 metros depois. Me clipei à corda e ganhei a parede inicial, ainda frio, dei uma titubeada, mas logo também entrei na fenda, mas na hora da transição da esquerda para direita, não achei mão para me agarrar e dei uma travada, mas como estava de segundo, tive calma e tranquilidade para tentar um salto mais arrojado e agarrar um patacão mais acima e ganhei o lance mais difícil e sem saber a sequência da via tentei escalar uma parede íngreme, mas logo o Alexandre me alertou que tinha que seguir fazendo a travessia para a direita até ganhar a chaminé, mas eu já estava todo lascado , pendurado na parede e tive que escorregar de volta para a sequência da via , mas ganhando também essa chaminé de meio corpo, o resto até me juntar ao Alexandre foi como mamar na teta da vaca. O segundo lance é graduado em V sup e tem 30 metros de extensão e também foi subido sem nenhum problema, passando por outra canaleta, com bons pontos de aderência, tudo conforme manda o figurino. Ao chegarmos na parada, resolvemos nos deter por um tempo para tomarmos um suco e descansarmos um pouco. O Alexandre partiu para o terceiro lance, e logo é possível ver uma chapeleta bem acima das nossas cabeças, não muito longe, mas é necessário sair um pouco para a direita para ganha uma altura. O Alexandre tentou mandar, fez de tudo, mas desescalou novamente. Fiquei ali observando os movimentos, dando o segue atentamente, tudo nos conformes. Mais uma tentativa e o Alexandre voltou a falhar. Não era nada de mais, só que uma queda faria um pendulo potencialmente perigoso, por isso o cuidado com esse lance. Pela terceira vez o Alexandre tentou , mas as pernas grandes pareciam tocar a paredinha e não o deixava progredir, então com a perna bombada e os pés sendo carcomidos pela sapatilha, ele voltou até a parada e pediu para que eu tentasse. - Divanei, vai, tenta lá, você é menor e mais leve, talvez passe fácil. - Alexandre meu velho, melhor não, não tenho condições psicológicas para guiar. - Vai lá mano, sem compromisso, dá uma tentada lá, até que eu descanso. Meio contrariado, mas também não querendo deixar o companheiro na mão, me clipei a corda e ganhei altitude. Analisei bem o lance: Havia uma nervura que se entendia na diagonal até mais acima e se eu conseguisse galgar essa nervura, logo acima dela, um cristal bem grande poderia me dar sustentação para alcançar a chapeleta. Na pratica eu havia ganhado o lance com os olhos, havia montado um mapa de ação na minha cabeça, mas a realidade era bem outra. Dei o primeiro bote, ganhei a nervura para a esquerda, mas cadê a coragem para prosseguir. Desescalei enquanto ainda podia. -Alexandre, não vou não, está muito exposto para mim. -Divanei, que isso cara, tenta aí, vai, você consegue sim, já está aí mesmo, ganha logo o lance meu. Mais uma vez joguei minha mão encima da ranhura e não tive coragem de prosseguir. Maldito medo dos infernos e o pior é que o lance era mesmo fácil para mim. -Alexandre, infelizmente meu amigo, minha condição psicológica não vai dar. -Bobagem Diva, toca aí mano! Confesso, fiquei pressionado e com vergonha e com medo do Alexandre simplesmente encerrar a escalada e descer. Não que isso fosse um problema, se fosse preciso, desceríamos sem neura nenhuma, mas também me sentiria responsável por não pelo menos, me expor a esse lance. Botei a faca nos dentes, esperei a adrenalina chegar e subi gritando, feito um maluco descontrolado, tentando espantar o medo. Ganhei a ranhura e progredi rapidamente, cravando as unhas nas aderências, nem me lembro se usei os pés, estava adrenado e quando cheguei perto do grande cristal acima das nervuras, dei um salto e o agarrei como quem agarra um prato de comida. Me pus de pé e ganhei a chapeleta, passei a costura, cerrei os punhos e comemorei como um gol, minha parte naquela escalada estava feita, agora era com o Alexandre. -Porra Divanei, caraca aí, mandou muito bem! -Mano, agora me desse de vagarinho, o resto é com você, para mim já foi o bastante. -Não Diva, toca o resto, você foi bem pra caralho. -Bom Alexandre, o lance seguinte não parece ser difícil não, mas eu estou com a adrenalina um pouco alta, não estou confiante, mas posso tentar pelo menos até a próxima chapa. O Alexandre me liberou a corda e colei o corpo na rocha, sapatilha agarrada em qualquer pedrinha e as unhas cravadas em ranhuras minúsculas. Sempre disse que me sentia bem em escalada de aderência, sempre tive certa facilidade e ali realmente era uma subida de boa tecnicamente, mas psicologicamente eu começava a definhar cada vez mais e já não sabia onde aquela loucura iria parar. Quando ganhei mais essa chapeleta, já estava com o moral em frangalhos e o pior, agora eu não tinha mais o apoio psicológico do Alexandre que havia sumido do meu raio de ação e as conversas eram aos gritos. -Cheguei Alexandre! -Bom mano! E aí como é o próximo lance? -Cara, eu estou extremamente nervoso, esses esticões estão me deixando pirado já, se eu puder descer seria bom. -Diva toca o pau, você tá indo muito bem, não tem cabimento descer agora, vamos nos encontrar na parada. Olhava para cima e as distancias entre as chapeletas estavam cada vez maior, tanto que eu nem consegui enxergar a próxima. Não sei, foi um impulso, coisa sem pensar, mas maldita hora quando abandonei aquela proteção onde eu havia me ancorado momentaneamente para descansar. A sequência da escalada continuava sendo fácil pra mim, tão fácil que acelerei muito e sem pensar, já me ví um quilometro da chapeleta que havia passado. O único problema era que não conseguia ver a próxima chapeleta e foi nessa hora que me dei conta da encrenca em que havia me metido. -Alexandre, pelo amor de Deus cara, conversa comigo, vê pra mim onde estaria a próxima chapeleta ou parada dessa via? -Divanei, é para ter mais uma chapeleta antes da parada, procura direito cara! -Meu amigo, você não está entendendo a situação, eu estou parado no meio do caminho, sem poder me segurar em nada, com um pé apoiado em um buraco abaulado com 20 cm e na iminência de despencar. Eu preciso ter certeza que ainda não passei da parada, porque se isso aconteceu eu vou me fuder todo e não vai sobrar um osso inteiro do meu corpo para contar história nessa porra. O tempo fechou, trovões e relâmpagos espocavam na serra a nossa frente, a chuva que estava prometida, realmente começou a dar as caras e aquilo que parecia estar ruim, se transformou num pesadelo impensável. Mal ouvia mais a voz do meu companheiro de escalada. Minha alma saiu do corpo e voo para bem longe daquela parede, acho que ela se recusava a ver a desgraça que poderia acontecer. Meu cérebro e minha perna já pareciam não querer mais se comunicar e não, eu não estava com o cu na mão, simplesmente meu cu já havia caído da bunda. Minha cabeça deu uma rodada, as pernas mal se sustentavam naquele minúsculo buraco. Eu já via a cena de um helicóptero tentando me salvar, vergonha, vexame, mas ainda era melhor que umas dezenas de ossos fraturados, mas mesmo assim eu nem sabia se tinha sinal de celular para pelo menos avisar algum escalador ali das redondezas que pudesse me ajudar, muito porque, o próprio Alexandre estava preso na parada mais abaixo, sem corda pra descer. -Fala comigo Alexandre! -Divanei, você tem que escalar, a chuva tá chegando. -Alexandre, estou vendo algo que parece ser uma chapeleta, mas também pode não ser e se não for, é o meu fim. É um estirão do demônio, a escalada parece fácil, mas psicologicamente já tô morto. -Cara, olha bem, deve ser a tal chapeleta, só pode ser, só se você já passou. Eu estava com uma espécie de lombada na vertical, que corria por uns 3 ou 4 metros. Aparentemente não haveria problemas em fazer esse lance, mas onde diabos estaria essa tal chapeleta? E onde seria essa tal parada com duas chapeletas paralelas? Foi quando de repente achei que teria avistado essa parada bem acima da tal chapeleta que eu pensava existir. -Alexandre meu velho, parece que avistei uma parada uns 2 m a direita da linha da via, uns 15 m de altura, seria essa? -Não Divanei, aqui no croqui essa parada é bem para a esquerda. -Puta que o pariu Alexandre, aí então fudeu cara, vê direito meu, eu tô cai mas não cai aqui e já estou no limite do que um ser humano pode aguentar no quesito medo. - Certeza absoluta, no croqui a parada está totalmente a esquerda, numa curva, procura aí meu amigo, não é possível que vc tenha passado por ela sem ver. Não, não havia nenhuma parada a esquerda e agora eu tinha que me apegar na possibilidade de que a chapeleta estava na minha mira mesmo, muito porque, meu corpo já estava inundado por um caminhão pipa de adrenalina. Bateu a cegueira, vou cair. Lancei minha mão acima e agarrei uma rachadura, não havia mais o que esperar, o que fazer e o desespero é que move o homem na sua luta, é o estágio final antes que ele se dê por vencido. Tremendo feito vara verde, colei a cara na rocha, minhas mãos viraram ventosas e minhas unhas eram agarras de falcão e eu agora já não era mais um homem, era quase um calango, uma lagartixa a se esgueirar parede acima, me segurando na vontade de não cair, só pensava nisso, não cair. – Não cai Divanei, não cai ! Repetia insistentemente, enquanto torcia para que acima da minha cabeça aparecesse logo essa chapeleta e quando minha mão tocou aquela minúscula tabua de salvação, feita de aço ou sei lá de mais o que, clipei o mosquetão da costura, passei a corda e gritei bem alto: - Caralho Alexandre, estou salvo, cheguei, mas essa foi por pouco. - Aí, boa Divanei! Meu estômago já havia sido corroído pelo suco gástrico do nervosismo. Eu estava a salvo, ali eu não caia mais e dali também não iria para lugar nenhum, ali era o fim da linha, só pensava em descer, sair dali o mais rápido possível. -Alexandre, vou desescalar devagarinho, sei que não é o certo, mas nas condições em que me encontro, não consigo mais prosseguir cheguei ao fim, não tenho condições psicológicas para mais nada, cheguei onde poderia chegar. -Não Divanei, não tem como você descer mais não cara, tem que ir até a parada e me puxar. -Meu irmão, eu não achei essa parada que está à esquerda, só estou vendo um par de duas chapeletas a minha direita e até lá é um estirão de uns 10 metros. -Caralho Diva, só deve ter uns 7 ou 8 metros de corda, aí fudeu, mas fudeu de verdade. - Alexandre, mesmo que eu esteja fazendo a conta errado e realmente a corda dê, pode ser que esse lance esteja acima da minha capacidade de escalar e se eu chegar lá encima e não conseguir passar, vou cair de uma altura desgraçada, não cara, estou fora, me desce por favor. -Puta que o pariu, você não está entendendo, não existe mais corda para você descer, você já usou mais de 50 m, descer não é mais possível, mesmo que contrariássemos todas as regras da escalada. Mas eu estava maluco mesmo, claro que o Alexandre estava certo, meu cérebro estava impossibilitado de pensar direito, tinha me esquecido desse detalhe, já havia subido tanto que a corda já tinha quase chegado ao fim e não havia outra escolha. Pedi para o Alexandre me dar um tempo, sentei-me um pouco perto da parada, tomei um pouco de água, minha cabeça estava confusa pela situação: E se a corda não desse até a parada? E se eu ficasse preso no fim do lance e não conseguisse mais escalar? Um turbilhão de coisas me passou, mas quando o céu começou a ficar preto encima da gente, aí tive que sair da inércia em que me encontrava. -Divanei você precisa escalar meu amigo, tem que ir, tem que ir logo, a chuva, a chuva. -Não vou, não vou e não vou, não vou porra nenhuma! Fiquei amuado, sentado lá, cabeça baixa, as vezes com o olhar perdido no horizonte, sem nem ligar para os gritos do Alexandre que vinham lá de baixo. Eu era o fracasso em pessoa, porque fui aceitar o desafio sabendo que estava acima da minha capacidade? Era um homem atormentado pela situação, um escalador de merda vencido pela minha própria incompetência, não técnica, mas psicológica. -Vamos Divanei, tem que escalar, tem que ir. -Divanei do céu, e aí vai ou não vai? - Libera corda Alexandre! -Você vai fazer o que? - Caralho, libera essa corda agora! Cerrei os dentes, como uma fera raivosa! Olhar fixo, fiz parar a respiração e os batimentos cardíacos para não abalar os movimentos. O mundo já não mais existia, agora era só eu contra aquela parede rochosa. Subi meu pé direito um meio metro, ganhei uma lasca de pedra e com a mão direita me puxei para cima e descolei do meu porto seguro. Um cristalzinho agarrado de cada vez, uma pisada certeira num grão de areia colado na rocha. Pensava em não cair nunca, enquanto abria uma perna feito uma bailarina arrombada. Quando não tinham agarras, eu colava meus pés e minhas mãos na rocha e ia me elevando centímetro à centímetro. Fui-me então! A concentração deixando qualquer Budista no chinelo. A corda já pesada, fazia um arrasto monstro e tentava a todo momento me derrubar da parede. Substancias inundavam meu corpo, como poucas vezes havia acontecido. Três dias se passaram antes que eu batesse a mão nas duas chapeletas da parada, ganhei o lance em definitivo, coloquei a costura, passei a corda, gritei um palavrão dos mais cabeludos que existem. Eu era um homem aliviado, renascido das cinzas e quando o coração voltou a bater, fiz o Alexandre Saber da conquista. -Cheguei Caralho! Cheguei nessa porra, Alexandre! - Puta merda, boa Divanei, você sabe como monta os freios para me subir né? -Aprendi no You Tube, seu filho da puta! -Não ouvi, você falou o que? - Nada Alexandre, nada, vou montar o ATC para te puxar, rsrsrsrsrsrs. Montei a parada com o que tinha disponível, instalei o freio e fiz subir o Alexandre. Apesar de todo o perrengue passado, a gente fez piadinhas para descontrair. Dei segue para o Alexandre fazer a próxima enfiada e quando ele me puxou, me ofereceu o próximo lance para que eu guiasse até o cume. Para quem já tinha abraçado o capeta, visto a vó na curva, guiar esse finalzinho fácil até o cume, foi mamão com açúcar. Guiei com os pés nas costas e ancorei a parada numa árvore, já bem distante da beirada da parede e imediatamente subi o Alexandre e aí foi aquela comemoração, muito porque para nossa sorte, terminamos a escalada sem que a chuva desabasse na nossa cabeça no meio da parede, mas pra lavar a alma, assim que enrolamos a corda, ela desabou em cântaros e para nos proteger, nos enfiamos numa pequena gruta e ali ficamos, extasiados com a aventura vivida. A chuva caiu por uma meia hora e levantamos a possibilidade de voltar por trilha, mas assim que o sol surgiu novamente, interceptamos a linha de rapel, que não é descendo pela via Solaris e sim bem a esquerda dela, uns 30 metros ou mais, já quase fora da parede de escalada, mas não tem erro, está abaixo de um arvoredo, duas chapeletas bem expostas. Mas é mesmo um rapel enfadonho para quem trouxe apenas uma corda e serão precisos uns 5 lances para se chegar ao chão e quando lá chegamos, não perdemos tempo, guardamos nossos equipamentos e nos enfiamos na matinha até sairmos de novo nos sítios mais abaixo da Pedra do Boi e uma hora de caminhada depois estávamos de volta ao Abrigo. E qual a lição que tiramos dessa aventura? Primeiro que nunca devemos confiar cegamente em croquis de escalada: Poderia parecer só uma bobagem, mas realmente não é, uma informação errada para quem não está tarimbado ainda, pode levar a um acidente grave. Outra coisa que eu aprendi na pratica e que nunca tinha dado valor, é a leitura e a interpretação da linha de escalada, mesmo que eu não tenha intenção de guiar. Aprendi na pratica o que seria um (E 3), no meu caso foi aquele ditado: “ Não sabia que era uma exposição do caralho, o trouxa foi lá e fez” (rsrsrsrsrs). E3 – Proteção “regular” com trechos expostos que oferecem perigos, onde em certas partes a distância entre as proteções exigem alto grau técnico e concentração do escalador. No caso de uma queda pode haver contusões sérias e até fraturas em casos extremos. Por certo passei um perrengue nessa escalada, mas pude constatar que tecnicamente tenho condições de me sair bem dessas enrascadas, basta treinar a parte psicológica e para isso não há o que fazer, é treinamento, muito treinamento. Agradeço ao Alexandre por ter confiado em mim e ao me dar a honra de se fuder nessa enfiada do demônio, fez com que eu crescesse um degrau no esporte e mesmo que eu continue a não levar muito a sério, com certeza a experiência vai me servir para os outros ESPORTES DE AVENTURA. Divanei- outubro/2019
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