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  1. Fala meu amigo!! Se vc está falando do Vale do Bracinho, apenas mais um grupo nosso desceu lá e infelizmente um dos integrantes quebrou o tornozelo e foi resgatado de helicóptero . Agora se vc está perguntando sobre outras expedições na Serra do Mar, aí foram dezenas de outras expedições , para montanhas selvagens, rios inexplorados , vales desconhecidos , alguns vc vai encontrar os relatos aqui , mas outros relatos estão ainda no meu computador e não foram postados.
  2. Bom, já estamos nos falando em outras redes sociais e para mim será sempre um prazer ajudar quem quer que seja, como já acontece a 30 anos . Abraços pra vc meu amigo....
  3. TRAVESSIA: VALE DO CUBATÃO DO NORTE( 2022): Serra do Mar Paulista Se há algo de isolado nas serras do Brasil, esse lugar certamente é a Serra do Mar Paulista. Claro que não podemos compará-la com os confins da nossa Amazônia, mas quando nos limitamos a falar sobre lugares de acesso difícil e complicado para a pratica de montanhismo ou qualquer outro esporte ligado ao mundo da aventura, a nossa querida serra não vai ficar devendo a nenhuma outra no pais. Com uma geografia complicada, mesmo estando no Estado mais populoso do Brasil, as escarpas da Serra do Mar, vêm desafiando muita gente, muito por causa da navegação difícil e que só recentemente vem sendo facilitada por causa do surgimento de ótimos mapas topográficos e de satélites, e dos maravilhosos gps e seus aplicativos instalados em celulares, com acesso para todo mundo, além de prático e barato. Tanto que muitos lugares só saíram do anonimato na última década, rios, montanhas e vales isolados que esportivamente falando, jamais tinham visto pés humanos. Anos atrás, melhor dizendo, quase uma década atrás, numa madrugada vazia, pesquisando montanhas selvagens na Serra do Mar, me deparei com um gigante de mais de 1300 metros de altitude, que geograficamente marcava o cume de São Sebastião, bem na divisa com Salesópolis. Além dessa montanha isolada, que já era um marco importante na serra, perto do seu cume descobri a nascente de um grande rio, que ao nascer ali a 1200 metros, ia ganhando corpo e escorrendo pelas escarpas da serra até se juntar ao Rio Cristina, já perto da planície litorânea, indo desaguar lá pelas bandas da Barra do Una. Pois bem, o tempo passou e numa expedição meio conturbada, conseguimos subir o PICO PARDO (1.318 m) e ter a grata surpresa de não encontrarmos qualquer vestígio de que alguém tem conquistado seu cume, antes de nós, pelo menos não como montanhistas, talvez algum caçador nativo correndo atras de alguma anta nos arredores do cume. Mas eu ainda sonhava um dia voltar lá e aproveitando o caminho estabelecido, tentar descer o RIO CUBATÃO DO NORTE desde a sua nascente, aliás, o nome do rio encontramos na carta topográfica do exército. Do grupo que conquistou o Pico Pardo, a grande maioria simplesmente abdicou de tentar explorar o rio pela sua nascente e decidiram subir parte do rio partindo lá do litoral. Claro, fui convidado, mas não me interessei pelo projeto, não que cenicamente eu achasse que não valeria a pena, mas ainda queria fazer o projeto que havíamos estabelecido há muito tempo, então agradeci e declinei. E realmente os meninos foram lá, por baixo, pelo litoral e subiram até quase 600 metros até a grande cachoeira que havíamos localizado no mapa. Entre os que estiveram nessa primeira incursão, estava o ARY, que foi outro a comprar o projeto de fazer desde a nascente. Tentamos montar um grupo, aliciar alguém que topasse se enfiar novamente naquele fim de mundo, partindo do alto da serra, na divisa Salesópolis com São Sebastião, mas todos negaram, acharam que era muito trampo e se fuder uma vez para chegar ao Pico Pardo, já era o bastante, não queriam voltar lá uma segunda vez. Então, diante da escassez de homens, resolvemos tocar o foda-se e como se juntou a nós o Caio, decidimos que tocaríamos o projeto em 3 exploradores mesmo. ( Foto VGN VAGNER, na expedição a cachoeira) Como o Ary é morador de Biritiba, ficou a cargo dele descolar um transporte que nos levasse até o km 20 da Estrada da Petrobrás, de onde partiríamos a pé, cortando caminho pelos oleodutos, já que agora havia uma Portaria de Parque que fechava a passagem e era certo que não nos deixariam passar. Então, nos encontramos na casa do Ary às nove da noite e já rumamos para Salesópolis e assim que nosso veículo ganhou a Estrada da Petrobrás, que liga a cidade ao litoral, já demos de cara com um carro da polícia ambiental escoltando um carro da funerária – Agora lascou-se !!! Deixamos que os 2 veículos se perdesse da gente e como não os vimos mais, pensamos que poderiam ter entrado em alguma estradinha perpendicular à principal, talvez estivessem indo pegar algum corpo em algum sítio localizado ali perto da estrada. Percorremos uns 10 km e a Estrada da Petrobras vira um breu só, um caminho no meio do nada, já que quase todas as habitações ficaram para trás e numa curva do caminho, já perto do km 20, onde começaríamos nossa caminhada, demos de cara com as luzes de veículos que atravancavam o caminho. Lá estavam o jeep da polícia ambiental, o rabecão e outros veículos oficiais e particulares, que não identificamos. Ouvia-se choradeira e murmúrios vindo do meio das luzes, talvez provenientes dos parentes de algum morto. Paramos imediatamente. Nossa, era muito azar o nosso! jamais conseguiríamos passar, já que seríamos interpelados com as mochilas nas costas. Então o nosso motorista desceu e dando um “migué”, fingiu estar perdido e foi colher informações com o cara da funerária. Voltou nos contando que se tratava de um assassinato e que estavam terminando a perícia para recolher o corpo. Ficamos vendidos, sem saber que rumo tomar, não poderíamos ficar parados ali e também não podíamos passar, então, tentando salvar a vaca que já estava no brejo, demos meia volta e nos distanciamos do entrevero uns 500 m, pulamos na escuridão da noite, nos despedimos do motorista e caímos no meio do mato, era preciso traçar um plano. Na beira da estrada, achamos um caminho aberto e entramos nele, andando por cerca de 1 ou 2 minutos, e nos sentamos no meio da mata. Pensamos: Se o rabecão já estava ali, era sinal de que rapidamente o corpo seria removido e aí não haveria mais razão para que a estrada permanecesse fechada, então na nossa cabeça, a única coisa a fazer era esperar, muito porque, ainda não eram nem 10 da noite e tínhamos tempo de sobra. Mas o tempo foi passando e nada. Por sorte, a chuva prevista acabou não vindo e fazia um calor dos infernos e os mosquitos iam nos devorando. Uma hora depois, cansados de esperar, saímos sorrateiramente para ver se não haviam tomado outro rumo, talvez ao invés de subir a estrada, poderiam descer com o corpo para o litoral. Mas quando fizemos a curva, lá estavam eles, parados no mesmo lugar. Voltamos para o mato novamente, só nos restava esperar. Sentados, com sono e sem muitas esperanças, mal conversávamos nessa hora. De repente, ouvimos um tropel no meio do mato. Estava claro que algum animal muito grande estava perseguindo outro menor. Do nada, saindo da escuridão, adentrou no nosso caminho um animal que, desesperado, tentava salvar sua vida , saiu quebrando tudo, tropeçou no Caio e fez com que ele levantasse e se jogasse para fora do raio de ação do animal, foi como uma bola de boliche derrubando 3 pinos, no caso nós. Foi um tremendo susto, mas eu consegui identificar um baita de um coelho, mas o que o perseguia, jamais ficamos sabendo. O tempo passou, chegamos à meia noite e decidimos que não iríamos mais esperar. Só tínhamos uma ação a fazer: montar uma estratégia para vararmos mato para bem longe dali, talvez tentar interceptar o oleoduto e apesar de parecer uma ideia totalmente estúpida, não havia outra carta na manga. Pior ainda, teria que ser feito no escuro absoluto, já que com lanternas, poderíamos até sermos confundidos com os assassinos fugindo da polícia, vai saber o que aconteceu ali. E para piorar, teríamos que escalar um morrote que se elevava do outro lado da estrada de onde estávamos, um barranco infestado de bambus espinhudos. Na calada da noite, no escuro absoluto, nos penduramos no barranco e nos arrastamos para dentro da mata, vencendo a parede de barro metro por metro e vez ou outra, nos abaixávamos para conferir a nossa localização no gps do celular e tentar corrigir nossa rota. Confesso, é uma situação miserável aquela nossa, correndo o perigo de cair em algum buraco ou mesmo ser picado por uma cobra, já que tínhamos que rastejar por baixo da bambuzeira, praticamente com a cara no chão. Vamos cruzando todo tipo de vegetação, atolando em áreas pantanosas, nos agarrando em qualquer direção que vá de encontro com o caminho do oleoduto. Duas horas depois demos de cara com uma valeta quase que intransponível e para descer, usamos uma cordinha que levávamos para uma emergência e exatamente as 2 da manhã, interceptamos o maldito oleoduto, só para descobrir que esse também era uma quiçaça dos infernos. Agora caminhando e abrindo caminho por onde estavam enterrados os canos que trazem petróleo do litoral para o planalto e já cabeceando de sono, vamos avançando por mais uns 40 minutos até nos vermos exatamente onde deveríamos ter entrado, se tivéssemos vindo pela estrada, ou seja, havíamos perdido quase 3 horas varando mato simplesmente para podermos cortar volta do tumulto do homem morto. Agora tínhamos caminho livre pelo oleoduto, que recebe manutenção constante, onde o mato é cortado, mas poderíamos avançar muito mais livres e desimpedidos se pudéssemos andar pela própria Estrada da Petrobras, que corre paralela ao oleoduto, mas infelizmente a passagem pela estrada não é mais permitida e não queríamos correr o risco de sermos pegos por algum guardinha, que fatalmente faria a gente voltar. Nos restou enfrentar aquilo que fez com que NINGUÉM mais quisesse voltar a refazer aquele caminho, como foi na exploração do Pico Pardo. Andar pelo oleoduto é das coisas mais cretinas que se pode fazer na Serra do Mar e eu havia jurado nunca mais passar por lá, mas olha eu ali de novo, mais uma vez naquele sobe e desse interminável, tendo que cruzar por cima de imensos tubos que afloravam nas baixadas, com uma mochila nas costas. A noite foi nos escorregando pelas mãos e já havíamos caminhado mais de 3 horas naquele oleoduto maldito, quando vimos o sol despontar. Cambaleávamos, cansados e com sono, mal conversávamos e pouco depois das seis da manhã, despinguelamos na baixada final até atingirmos o RIO PARDO, uns 20 minutos abaixo da GRANDE CACHOEIRA. Subimos o rio até o poço das borboletas, atravessamos para o outro lado e interceptamos a trilha que nos levou definitivamente aos pés da referida cachoeira e lá caímos desmaiados, passamos a noite inteira caminhando. Apesar de um mês chuvoso, a CACHOEIRA DO PARDO não estava tão cheia como esperávamos, mas continuava linda, despencando numa laje de pelo menos uns 150 metros. O sol veio com força e naquele dia, a previsão de tempo chuvoso acabou não se confirmando. O Rio Pardo nasce umas 5 horas de caminhada acima da cachoeira, bem atrás do Pico Pardo e vai percorrer dezenas de quilômetros até dar vida ao grande Rio Juqueriquerê, rio que já havíamos explorado quase uma década atrás, que vai desaguar bem na divisa de Caraguatatuba com São Sebastião. Nós estávamos um bagaço e assim que tomamos um café, resolvemos dormir um pouco sobre as lajes expostas da cachoeira e só lá pelas nove ou dez da manhã é que nos animamos a seguir com a expedição, mas antes fomos despertar com um bom banho, onde nos jogávamos na pedra lisa, deixando que a força da gravidade fizesse de nós, passageiros do rio. As 10 da manhã, partimos e como já conhecíamos a melhor maneira de subir ao topo da cachoeira, já que foi isso que fizemos na primeira expedição, nos apegamos ao seu lado esquerdo e fomos subindo na aderência até onde deu e quando a parede inclinou, entramos no mato e reencontramos um caminho paralelo ao rio que nos levou direto para o topo. Da outra vez ficamos encantados com as marmitas que lá encontramos, mas dessa vez elas estavam deslumbrantes, verdadeiras piscinas naturais em forma de jacuzzi , com a agua mais transparente ainda. A caminhada segue por um rio deslumbrante, vez por outra, pontilhado por prainhas de areia. É um caminhar gostoso e desimpedido, e não nos furtamos em nos jogarmos em pocinhos um pouco mais profundos e depois de uns 500 metros, o Rio Pardo simplesmente curva-se para o norte e se fecha com uma grande rocha, formando uma espécie de gruta. Claro, essa direção que o rio tomará agora, não serve para a gente, pois nossa direção e a direção do pico é para sudoeste. Por coincidência, poucos metros antes dessa espécie de gruta, um afluente a esquerda vai subir bem na direção que desejamos e é por ele que seguimos agora. Nos primeiros metros é preciso subir um pequeno desnível, mas logo em seguida o riacho simplesmente quase que se nivela e começa a ganhar altitude suavemente e vamos subir por grandes lajes, onde o sol do meio dia batendo no leito raso, acaba por transformar tudo numa cor dourada, um espetáculo bonito de se ver. Não demora muito para sermos barrados por uma cachoeira e por causa da sua formação, vamos chama-la de CACHOEIRA DAS DUAS FENDAS para marcar território. Escalamos a parede do lado direito, nos segurando onde desse até atingirmos seu alto e ganharmos uma outra bonita laje. Tendo andado pouco mais de 700 metros nesse segundo afluente, vamos abandoná-lo em favor de outro, também pela esquerda que vai se dirigir agora para o leste. O pulo do gato desse roteiro é que não existem praticamente outros afluentes e ganhando mais esse, agora vamos subir em definitivo até logo acima tropeçarmos numa cachoeira mais alta, impossível de escalar. Dá primeira vez que conquistamos o pico, abandonamos o rio bem nessa cachoeira e empreendemos uma linha reta até ele, varando mato num mar de bromélias malditas, mas dessa vez a gente iria tomar um rumo diferente, iríamos subir o rio até onde ele praticamente nasce e de lá sairíamos para a direita e conquistaríamos novamente o pico. Parecia ser um plano quase perfeito, mas o tempo se encarregaria de nos mostrar o contrário. Portanto, ao nos depararmos novamente com essa cachoeira, varamos mato pela sua direita, escalaminhando o barranco e nos segurando em tudo que era vegetação até atingirmos a sua parte alta e ganharmos novamente o seu leito plano. O Riozinho se afunila bastante e começa a correr por debaixo de grandes matacões, por vezes some e só o reencontramos mais acima. As passagens vão se afinando e vamos transpondo pequenas gargantinhas e nos enroscando nas arvores que vão tombando sobre o leito do rio, dificultando nossa passagem. A nossa estratégia de conquistar o pico subindo até a nascente do rio foi se mostrando uma grande merda. E só tomamos essa decisão porque a gente havia voltado da primeira justamente pelo rio, mas descer é uma coisa, subir é outra, então teve uma hora que não suportando mais ficar nos esgueirando por baixo de troncos podres e vegetação espinhenta, resolvemos mirar nossa bussola direto para a montanha, abandonando o rio em definitivo. Mas o que nos pareceu ser uma boa ideia, acabou por se tornar outra grande furada porque a saída da garganta do rio acabou por nos levar para uma borda alta onde ficou quase impossível passarmos pelo mar de bromélia gigante que nos fechou o caminho. Com uma cargueira nas costas, a gente lutou bravamente para sustentar o peso e tentar se elevar para fora do buraco, mas a cada tentativa, éramos jogados de volta e tínhamos que recomeçar. Tentávamos novamente, mas os espinhos nos furavam o rosto, a cabeça e lá íamos novamente parar barranco abaixo. Cada qual lutou como pode, do jeito que pode e quando emergimos para fora, éramos um traste humano, cansados pela jornada que havia começado as 10 horas da noite anterior. Reencontro o Caio, mas não vejo mais o Ary, que simplesmente sumiu das nossas vistas e nos deixou sem saber o que tinha acontecido com ele. Ganhando agora uma vegetação rala de campos de altitude, vamos seguindo e vou procurando reconhecer qual daqueles topos de montanha poderia ser o cume, sem perceber que ele estaria escondido atrás de um cume falso. E quando lá chegamos, é que avistamos o Ary que havia se adiantado e já se preparava para ganhar o ponto mais alto. Subimos o ultimo cone rochoso dessas serras e nos pomos definitivamente no CUME DO PICO PARDO (1318 M) ou (1323) nessa segunda medição, na divisa São Sebastião com Salesópolis. O cume é marcado por uma elevação rochosa, pontilhado por pequenos arbustos e em um deles, reencontramos a capsula onde havíamos instalado o LIVRO DE CUME quase 2 anos atrás. Ao abrirmos, não nos surpreendemos ao encontrar apenas os mesmos nomes de nove aventureiros que estavam no dia da conquista, mais uma prova definitiva que montanhista algum anda por essas paragens, o que vem só corroborar com a minha tese de que a Serra do Mar Paulista é um dos lugares mais isolados e inacessível, se comparado a quase maioria das serras do Brasil. E a paisagem lá de cima não fica devendo muito a outras montanhas da Serra do Mar, mesmo estando um pouco mais distante do oceano, é possível se deslumbrar com as paisagens a beira mar, como a grande Ilhabela, Montão de Trigo e outras tantas ilhas. Quase ao sul, a espetacular Pedra da Boracéia é nos mostrada em um ângulo surpreendente, 2 bicos rachados, lindo de ver. Mas o tempo passou, a tarde chegou e precisávamos nos voltar para o grande objetivo daquela expedição, que era localizar a nascente do Rio Cubatão do Norte, mas antes a gente tinha que rever a gruta que encontramos da outra vez, um abrigo perfeito ao lado do cume, onde uma fonte de água serviria para uma emergência. E ao adentrarmos na gruta, já localizei uma loninha que havíamos deixado lá, justamente para quando voltássemos, além de algumas latas de atum que deixamos também . Jogamos as mochilas às costas e partimos. Primeiro vamos partir para leste, que é direção onde está o vale que nasce o rio que buscamos, mas assim que descemos a rampa de vegetação rala, empreendemos uma diagonal para o sul, descendo e subindo pequenos vales secos, varando uns arbustos de baixa altitude, forçando caminho em meio a uma vegetação fechada, sempre tentando perder altitude. O Ary vai à frente, navegando com o gps do celular, enquanto eu e o Caio, vamos orientando ele, tentando nos manter na direção que poderá nos levar direto para as nascentes. Não é um caminho fácil e a gente já está capengando, cansados, doidos para acampar e também vai nos preocupando o fato de que a chuva está se avizinhando. A descida final é um paredão forrado por vegetação cretina e logo quando nos deparamos com um pequeno afluente, nos apegamos a ele até chegarmos no fundo do vale e finalmente, cerca de pouco mais de uma hora e meia após deixarmos o cume do Pico Pardo, o RIO CUBATÃO DO NORTE se apresenta para a gente e aquilo que sempre foi um ponto perdido no mapa, se materializa instantaneamente. E é realmente como imaginávamos, um córrego com 3 dedos de água, apenas um lamina d’água cristalina, uma nascente intocada ainda. Ganhando o rio em definitivo, vamos descendo ainda por um planalto reto, perdendo altitude muito lentamente. É uma floresta bonita, de arvores altas e já vamos ficando de olho em algum lugar mais favorável para acampar, sempre prestando atenção no vento que começa a soprar com mais intensidade, denunciando que a chuva agora vem com força. Uns 15 minutos nos leva para uma curva do rio, onde uma área plana nos pareceu favorável, mas acabamos passando batido, só que menos de 10 minutos à frente, o rio já resolve se enfiar numa garganta e aí tivemos que parar, analisar nossa situação e de comum acordo, retornamos para a área anterior e ali jogamos nossas mochilas ao chão e demos por encerrado aquele dia intenso de caminhada, que havia começado justamente nas primeiras horas, ou seja, estávamos no ar desde a meia noite, éramos agora seres que vagavam feitos zumbis, arremedo de homens havidos por uma boa noite de sono. A área do acampamento era realmente perfeita, mas tivemos que nos apressar porque a chuva que ameaçava cair, desabou violentamente e um temporal varreu toda a floresta, por sorte estávamos bem acima do leito do rio, que mesmo não passando ali de pouco mais de 20 cm, acabou por subir um pouco. Com as redes montadas e bem abrigados, fomos cuidar da janta, que acaba por se tornar a única refeição quente do dia, é a hora de se deleitar e comer até não aguentar mais. E sinceramente, poucas coisas são tão prazerosas quanto essa, poder tirar as botas, a roupa molhada, comer uma comida quentinha e antes mesmo do sol se pôr, nos jogarmos para dentro do saco de dormir e praticamente apagar por 12 horas seguidos. O dia amanhece sem chuvas, mas uma neblina espessa toma conta da floresta, o que torna o lugar um cenário incrível e sombrio ao mesmo tempo. Estamos animados e agora descansados, fazemos planos ousados de atingirmos a cota 600 ainda hoje, mas ainda estou pensativo, dentro de mim um sentimento estranho e ao mesmo tempo uma sensação de curiosidade pelo trecho que teremos que cruzar, um mistério que teríamos que desvendar, como nunca antes na história das expedições selvagens na Serra do Mar Paulista. Logo pela manhã, é preciso enfiar as botas na água fria, mas não leva nem 15 minutos e já estamos imersos com o corpo todo na água gelada, nos esgueirando por baixo de arvores caídas no leito do rio e já nos enfiando em pequenas gargantinhas profundas, tendo que desescalar pedras lisas. E é mesmo surpreendente como mesmo nessa altitude, o rio já começa se desembestar para baixo, sendo que na maioria dos outros rios só abaixo dos 900 metros é que acaba o planalto e os rios se jogam nas suas bordas. O Rio começa a perder desnível e vai se enfiando em pequenas gargantas e aí vamos desescalando pequenas quedas d’água, tendo que descer no meio de algumas gargantas potencialmente perigosas até nos depararmos com grandes lajes que acaba por facilitar no nosso avanço e quando é necessário, apenas deixamos que a inercia nos ajude e vamos soltando o corpo nessas rampas, apenas protegendo nossos tornozelos ao explodirmos nos poços mais abaixo. Lá pela cota 920 de altimetria o rio começa a correr por baixo de imensos blocos de pedra e o nosso avanço começa a se complicar de vez, aí temos que nos valer da corda para podermos perder altitude. O dia vai escorregando pelos dedos, a gente vai se enroscando em inúmeras descidas, desescaladas de cima de matacões extremamente gigantescos até que surpreendentemente, NÃO HÁ MAIS RIO PARA DESCER, o enigma está esclarecido. Quando comecei os estudos topográficos associados a imagens de satélites, tomei um susto. Pouco acima da cota 800 de altimetria, simplesmente não conseguia mais enxergar o rio e apesar de prever que ele estaria confinado entre duas paredes colossais e com possibilidade de apresentar grandes cachoeiras, foi totalmente impossível ver qual o rumo que ele tomava, tanto que nem consegui marcá-lo no traklog prévio, tendo que usar os meus conhecimentos da carta para poder riscar o caminho. Claro que várias vezes já havíamos nos deparados com pedaços de rios que simplesmente começam a correr no subterrâneo, mas isso só acontecia em partes planas e era por pequenos pedaços. Mas agora o rio simplesmente não mais existia e o que sobrou foi tão somente um amontoado de pedras, onde não era possível nem ouvir nenhum barulho de água, na verdade, não tínhamos mais água nem para beber caso precisássemos. Nos mantivemos firmes, acreditando que uma hora ele ressurgiria e torcendo para que não houvesse bifurcações para nos confundir. E a gente andou, e a gente lutou com nossa ansiedade, tentando manter o nosso moral em alta, tentando acreditar que estávamos onde deveríamos estar e que alguma hora veríamos água novamente e essa angustia durou mais de 2 horas até que nos deparamos com uma fenda e vimos a água novamente, até que essa fenda se fechou outra vez e o caminho nos empurrou para a direita, tendo que varar uma mato qualhado de pedras arredondadas e no meio da floresta, no coração da Selva Paulista, novamente avistamos a água presa em forma de uma grande poço e para nossa surpresa, demos de cara com a boca de uma gruta. Já passava das três da tarde. Havia sido um dia intenso e cansativo e toda aquela angustia que vínhamos sofrendo, simplesmente desmoronou e os olhares tensos das últimas horas, despareceram e os meninos estavam irradiantes diante daquele espetáculo da natureza. A água que até então havia se escondido da gente, ressurgiu com força dentro daquela gruta, despencando de uma cachoeira onde andorinhas faziam sua morada. Na frente da gruta, um lago se formou e o terreno amansou de vez e essa foi a deixa para a gente se jogar na água e deixar um pouco o tempo passar, dar oportunidade para que nossas lembranças nos levasse ao passado, nos remetesse aos contos de aventuras lidos e assistidos e concidentemente era o ano em que víamos novamente a volta de um clássico do cinema retornar as telas e não por acaso, resolvemos batizar aquela cavidade perdida no centro selvagem da Serra do Mar Paulista de GRUTA DO SR. JONES , uma justa homenagem ao maior aventureiro cinematográfico de todos os tempos. Retomamos a caminhada e a cada metro percorrido, o terreno ia ficando mais plano e meia hora depois, o rio de planalto se transformou em rio de planície. As pedras simplesmente desapareceram e surgiram fundos de areia. Essa característica eu jamais havia presenciado nesses anos de exploração selvagem na Serra do Mar, pelo menos não estando a cerca de 800 metros de altitude. Era como se estivéssemos caminhando no litoral, com margens planas e largas, pontilhadas por grandes árvores e como a tarde já pedia passagem, antes das 17 horas, descolamos uma área sensacional e resolvemos acampar, hora de jogar as mochilas ao chão, montar nossas redes e preparar uma janta quentinha e aproveitar aquele paraíso. O momento de acampar é simplesmente mágico. É quando você retira sua roupa molhada, coloca uma seca e limpinha, bota um chinelo e consegue relaxar, ouvindo o murmúrio do rio, o cantar dos passarinhos e o barulho da bicharada na floresta. É nessa hora que os seus sentidos ficam aguçados e você sente o poder da floresta te envolvendo e ali sentimos o isolamento da vida, que por livre escolha, fomos buscar. É quando nos sentimos mais protegidos do que em qualquer outro lugar. É na selva que nos encontramos como raça humana, é uma volta forçada ao passado, reencontrando nossas origens, nosso instinto de liberdade a muito tempo perdida na selvageria das cidades grandes. Ali não somos caça e nem caçador, somos parte do meio, em harmonia com o todo, não somos mais e nem menos, somos só o necessário. A área de acampamento era linda, um espaço plano e com muitas árvores para montarmos nossas redes. Imediatamente fomos cuidar da janta e mais uma vez o meu queixo se joga no chão de ver o Ary, o maior morto de fome que eu já conheci na vida, simplesmente abocanhar uma panela de comida que daria para umas 4 pessoas comer até se satisfazer. Depois da janta, um café para satisfazer nosso ego e vários papos e conversas fiadas, até que sem percebermos, aquele mundo já não nos pertencia mais e fomos morar no mundo da imaginação e dos sonhos. Antes das sete da manhã já estamos de pé, desmontando tudo preguiçosamente, sem nos importarmos com o tempo e pouco depois das nove, partimos. Já no início eu tento me livrar da água gelada, tentando de qualquer maneira achar uma passagem entre as pedras que me leve para o outro lado da margem, mas dou uma bobeira e já vou parar com a fuça dentro de um poço fundo. O dia amanheceu muito embaçado, não parecia que iria chover, mas a neblina nos avisava que não daria trégua e em meio a cerração densa, vamos avançando, perdendo altitude como dá, apressando o passo porque hoje é preciso terminar a travessia. Quando a parte plano do rio termina, mesmo estando numa altitude considerável, vão aparecendo lajes pelo caminho, precedidas de pequenas cachoeirinhas e poços interessantes. A neblina continua, mas a temperatura ainda é extremamente agradável, até que lá pelas 11 horas da manhã, tropeçamos numa grande laje que precedia uma grande queda, uma rampa gigante que tratamos de descer com todo cuidado pela lateral esquerda, vendo que uma cachoeira despencava ao nosso lado. A chegada aos pés dessa cachoeira foi com grande entusiasmo, porque ela marcava o encontro do grupo que partiu das nascentes do Rio Cubatão do Norte, com o grupo que fez a exploração vindos do litoral, era o fechamento glorioso, que uniu determinação e persistência de todos os envolvidos, para que mais um rio fosse tirado do anonimato e entrasse para a galeria das grandes expedições selvagens da serra do Mar Paulista. Estamos a exatos 694 metros de altitude, quase no coração da serra, ainda muito alto para quem pretende chegar ainda hoje no litoral e o dia já indo pela metade. Junto ao lado direito da cachoeira, pendurado numa árvore, os meninos da primeira expedição via litoral, deixaram uma capsula com o livro, na verdade, um caderno enorme para uma expedição selvagem, haja visto que durante anos é certeza que não constará mais que meia dúzia de nomes. Deixamos nosso registro, claro e para homenagear o esforço dessa outra parte do nosso grupo que esteve ali naquela cachoeira antes de nós, batizamos a linda queda d’água com o nome adotado por eles como CACHOEIRA DOS SONHOS. ( Foto VGN VAGNER) Aproveitamos a parada nessa cachoeira para fazer um almoço rápido, na verdade somente um lanche mais elaborado e perto do meio dia partimos em definitivo, era hora de acelerar o passo, tínhamos uma montanha para descer ainda. O Rio dá uma afunilada e meia hora depois, somos obrigados a nos enfiarmos num corredor de águas um pouco mais rápidas e que me faz tomar ainda mais cuidado para não ser arrastado. Logo a frente nos apresentados a mais uma cachoeira, que despenca num poço profundo, onde o Ary insiste em dar uma parada para saltar de uma pedra gigante do lado esquerdo. E é mesmo bonito ver os meninos despencar feito um míssil de uma altura considerável, ainda mais sob um cenário sombrio, coberto por neblina espessa. Apertamos o passo e vamos nos livrando dos obstáculos como podemos, hora pela esquerda, hora pela direita, hora escalando, hora varando mato no peito até que somos surpreendidos por mais uma cachoeira espetacular, uma queda bem larga e com um bom poço para banho, mas mesmo assim, resolvemos apenas bater uma foto e passar batido, mesmo porque o dia já se aproxima das 2 da tarde e já começamos a sentir que aumentou a possibilidade daquela neblina se transformar numa chuva e ainda estamos na cota 630. Vamos perdendo altitude rapidamente. Já começo a ter dúvidas de que conseguiremos sair do rio ainda hoje e para piorar, a temperatura começa a despencar e eu já começo a querer escapar da água mais gelada até que interceptamos outra CACHOIERA na cota 535 e novamente passamos batidos, caímos no mato e tentamos nos manter em nível, mas um pouco afastado do rio, na ânsia de cortar caminho. A velocidade vai aumentando, mas o terreno começa a ficar escarpado e em alguns barrancos passamos beirando perigosamente. À frente vamos eu e o Ary, enquanto o Caio, que já me pareceu bem cansado, vai meio que se arrastando atrás, até que escutamos quando ele dá um grito. Pensamos que ele apenas estava pedindo para que diminuíssemos o ritmo, mas logo notamos que a coisa era mais séria. O Caio ao tentar se equilibrar para não precipitar barranco a baixo, se apoio num bambuzinho parecido com uma navalha e na ânsia de se salvar, viu que a planta foi quase que dilacerando seu dedo. O estrago foi grande, era um ferimento digno de respeito e imediatamente já retiramos os estojos de primeiros socorros da cargueira e comecei o procedimento de tentar estancar o sangue. Lavamos, fizemos assepsia, uma sutura com pontos falsos com esparadrapo e em seguida enfaixamos e avisamos para ele que se a dor aumentasse, iríamos ministrar uns analgésicos até podermos chegar num lugar habitado para um procedimento mais profissional. Quase as 16 horas em ponto, interceptamos o RIO CRISTINA, na mesma hora em que um temporal se abateu sobre nós. Estávamos na cota 300, ainda tínhamos muito chão pela frente, mas ali no encontro daqueles 2 rios, tivemos a certeza de que nossa expedição acabara de ser um sucesso, o Cubatão do Norte havia sido conquistado em definitivo, aquele projeto sonhado quase uma década atrás, passou do papel e entrou para a historia. O Rio Cristina é um lindo rio, mais largo e mais volumoso que o próprio Rio Cubatão do Norte. A intenção nossa, era subir um pouco e visitar umas cachoeiras, mas diante do temporal de final de tarde, não tínhamos outra coisa a fazer, senão começar a descê-lo imediatamente. Pela esquerda o terreno já nos dá condições de navegação um pouco mais rápida, mesmo porque, já há vestígios de picadas de moradores que se animam por chegar até ali. Descemos rapidamente até que de supetão, interceptamos a própria CACHOEIRA PRINCIPAL do Rio Cristina, a turística, onde o condomínio mais abaixo sobe por trilha para visitar, mas antes de nos pormos de frente dela, o Ary resolveu saltar de cima de um barranco lateral e se deliciar com suas águas, um tanto geladas para o horário do dia. Estamos mais ou menos na cota 200 e agora é preciso cruzar o rio para o seu lado direito (de quem desce). Por causa das chuvas, que agora arrefeceram bastante, o rio se encontrava cheio e, dando uma bobeira na hora de atravessar, quase fui arrastado pela correnteza, mas consegui me segurar numa pedra da margem e aí ganhamos a TRILHA LARGA e desimpedida, em definitivo. A nossa vida de andarilho aquático acabara de ficar para trás. Por essa larga trilha, quase uma estradinha, vamos andar por cerca de 2,5 k até que ela vira para a direita e se afasta do Rio Cristina de vez e em mais 500 ou 600 metros, interceptamos um final de estrada e nos reencontramos com a civilização depois de mais de 3 dias de caminhada. A tarde já se foi e a noite já se avizinha. Nós já estamos só o trapo humano, mas ainda temos quase 4 km de pernadas até a saída do condomínio, que fecha a passagem, mas como estamos saindo, só nos resta esperar que nos enxotem para fora, sem nos criarem quaisquer outros problemas. Passamos encima da ponte sobre o Rio do Pouso Alto e vamos nos arrastando nesse estirão final, até que um funcionário da guarita nos oferece uma salvadora carona e nos deixa na portaria do condomínio, onde somos tratados muito bem e todos querem saber sobre nossa empreitada, sobre quem somos e que grandes aventuras nos levaram até ali. Aproveitamos a gentileza dos guardas da guarita do condomínio, tomamos banho, trocamos de roupa e conseguimos chamar um Uber que nos levou até o ponto de ônibus mais próximo e de lá conseguimos um coletivo que nos deixou na Rio – Santos e mais um ônibus nos desovou na Riviera de São Lourenço, onde aproveitamos para jantar e conseguimos um outro Uber que nos levou até a casa do Ary em Biritiba-Mirim, onde tudo havia começado e agora acabara de terminar. E assim, uma década depois, aquilo que era só um projeto idealizado por um explorador sonhador, pensado numa madrugada vazia, finalmente virou realidade, claro, contando com a ajuda de outros tão sonhadores quanto eu. Gente que comprou o projeto ou parte dele e que ajudou a desvendar esse quebra cabeça. O RIO CUBATÃO DO NORTE foi esmiuçado, por baixo e principalmente, partindo de sua nascente, mas continua e continuará por muitas décadas tão selvagem como sempre foi, porque ali é terreno hostil, um rio misterioso que brinca de se esconder nas profundezas da terra, mas é só mais um, de tantos mistérios dessa fantástica Serra do Mar Paulista. DIVANEI GOES DE PAULA - 2022
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  4. Divanei Goes de Paula 11/10/2024 15:48 Editar TRAVESSIA PAREDÃO: Guapé X Itaci . Uma travessia ainda pouco explorada no LADO C da Serra da Canastra. Um paraíso perdido a meio caminho de lugar nenhum, no Cerrado Mineiro. Trekking Canionismo Acampamento Relato Fotos Rox 0 0 TRAVESSIA PAREDÃO O nome CANASTRA já carrega um poder avassalador para quem é do mundo da aventura, mesmo que a maioria só se entregue aos prazeres do turismo normal, o que já não é pouca coisa diante da beleza desse bioma. E quando a Canastra é acompanhada do LADO B , aí chega ser covardia e colocá-lo entre os lugares mais encantadores do país, não será nenhum exagero, mas há um lado dessa querida serra mineira, cercada de cerrado por todos os lados, que poucos conhecem ou se deram conta da sua GRANDIOSIDADE , é o lado negro da serra, longe das burocracias do Parque Nacional, onde não é preciso se esgueirar na clandestinidade para viver uma aventura autentica , legítima e verdadeira e a esse lado da serra, chamamos aqui de LADO C DA CANASTRA , onde o turismo de massa simplesmente inexiste e do qual será narrado nessa travessia incrível. Eu estava às voltas com a montagem da minha mochila para mais uma travessia selvagem na Serra do Mar Paulista, quando recebo uma mensagem dos integrantes da expedição, dizendo que estavam pensando em trocar o roteiro por causa de uma possível virada de tempo no litoral norte. Confesso que aquela notícia do “arregamento” me deixou muito puto, ainda mais porque a quantidade de chuvas não passaria de míseros 7 milímetros, muito pouco para uma desistência repentina. Mas como o grupo foi se desintegrando, fui obrigado a enfiar o rabo entre as pernas e ouvir a proposta que nos foi jogado à mesa. Quando me sopraram que estavam direcionando nosso radar para a Serra da Canastra, já protestei, não pelo lugar, mas pela grande distância da serra, sendo que teríamos apenas 3 dias. Mas logo que apareceu o roteiro e vi que não se tratava do Parque Nacional e sim de arredores distantes e poucos explorados, fui me animando, ainda mais quando me lembrei de que parte do roteiro já havia nos sido apresentado pelo amigo Hortenciano, uma década atrás e nos restava agora transformar o roteiro numa grande travessia, daquelas aventuras autênticas, era nos debruçarmos sobre os mapas e fazer o que deveria ser feito. O roteiro foi traçado a 5 mãos e foram discussões acaloradas até chegarmos no projeto final e num piscar de olhos, numa sexta-feira à noite, já estavam todos reunimos na minha casa, no interior Paulista, tomando aquele café reforçado antes de partirmos em definitivo para a minúscula cidade de Guapé, nos confins das Minas Gerais a bordo no super 4x4 do Alan Florido. A EQUIPE ( Potenza, Fernandinho, Divanei , Flórido e Morato) A viagem varou quase a noite toda e seguindo as indicações do gps, acabamos nos enfiando num caminho de corno, uma estrada destruída, no meio das montanhas e só passamos porque estávamos de jeep. E o caminho ruim nos deixou na portaria do PARQUE ECOLÓGICO DO PAREDÃO, já depois das 3 da manhã e como a portaria estava fechada, nos jogamos ao chão para tentarmos dormir um pouco até que ele abrisse. O guardião da portaria nos acordou com um copo de café e já nos conquistou com a hospitalidade mineira, mas eu mesmo nem vi a cor do café, já que me mantive deitado por mais algum tempo e só fui acordar com uma lambida do Paulão, o cachorro xodó do parque. O parque abriu as 8 da manhã, mas não foi nem preciso passar pela porteira para nos darmos conta que estávamos num lugar especial, uma espécie de fortaleza cercada por paredões de mais de uma centena de metros. Estacionamos o carro lá dentro e nos dirigimos para o restaurante, onde é feito o pagamento para adentrar o parque. O cobrador chegou, e antes de dar bom dia, já anunciou que teríamos que morrer com 20 reais apenas, o que já nos deixou bem feliz pelo valor irrisório. Mas acontece que nem ficaríamos no parque, apenas usaríamos para entrar, já que nesse primeiro dia, a intenção era subirmos todo o Córrego do Paredão até as suas nascentes, onde acamparíamos. Só que ficamos meio perdidos entre contar o nosso projeto, já que só voltaríamos em 3 dias e corrermos o risco de sermos barrados e acabarmos com nossa travessia antes mesmo de começar. Bom, como nos apresentamos com as cargueiras e munidos dos nossos capacetes e ninguém nos questionou nada, imaginamos que eles estariam acostumados com essas atividades partindo do parque, então botamos as mochilas nas costas e partimos em busca de aventura. As trilha para as cachoeiras do parque , partem atrás do restaurante, levemente para a direita, mas nós nem nos demos conta disso, já caímos no leito rochoso do rio e fomos subindo, pulando de pedra em pedra até tropeçarmos em um cabo de aço que é usado para atravessar o rio para sua esquerda, mas antes disso, somos apresentados à sua Cachoeira principal, a CACHOEIRA DO PAREDÃO, que por estarmos a mais de 100 dias sem chuvas, estava com pouca água, diferentemente do seu POÇÃO, um espetáculo aquático ,mas como ainda não passa das nove da manhã, não achamos que seria a hora de nos atiramos para dentro dele e deixamos para apreciá-lo apenas na volta da travessia. Abandonamos a primeira cachoeira, atravessamos o rio para a esquerda e ganhamos a trilha que vai subir sem dó, até atingir outro patamar, onde somos apresentados a SEGUNDA QUEDA, igualmente com pouca água, mas assim mesmo muito bonita. Continuando a subida, ainda pela esquerda, em mais 10 minutos estamos no topo da Cachoeira, onde o rio agora se nivela e de onde podemos apreciar todo o esplendor dos paredões que nomeiam o parque. Agora é hora de atravessarmos para o lado direito, ganharmos um arremedo de trilha e em 2 minutos, estamos dentro do rio novamente, o grande desnível ficou para trás, ainda que hajam outros pela frente. Agora, praticamente, o Parque Ecológico, deixa de existir, pelo menos com acesso aos turistas. Pela frente um mundo ainda desconhecido para nós, porque não achamos nenhum roteiro que tenha rasgado todo o cânion, que teremos pela frente, ainda que grupos frequentem essa parte inacessível aos turistas, nos faltou informações, já que muitos acessam só parte do rio, vindo por cima e indo até sua metade e retornando, por isso da nossa preocupação, inclusive essa pergunta ficou no ar: POR QUE NÃO DESCEM OU SOBEM OS CÂNIONS? O que haveria no meio dessa travessia que faz com que parte dos aventureiros recuem? Fomos atrás de respostas, fomos atrás de aventura. Nesse primeiro momento, nosso caminho segue pela margem esquerda. Vamos desfilando e apreciando os poços transparentes que vão nos sendo apresentado, mas por ser cedo ainda, cada qual vai tentando escapar das águas geladas dessa manhã de final de inverno, até que meia hora depois, as paredes se abrem dos dois lados e um descampado vai surgindo, onde uma estradinha aparece do outro lado do rio. Pensamos em andar pela estradinha, ganhar terreno, mas ainda sem nos darmos conta que o nosso caminho era sempre por dentro do rio. Nesse novo trecho, chegamos a ficar surpresos com a planura do rio e a facilidade que ele nos oferecia para podermos avançar, pulando pedras aqui e ali, usando a sua margem como caminho fácil e desimpedido, mas por volta da 10 da manhã, um grande poço com águas sensacionais, nos obriga a uma outra parada, onde alguns mais corajosos se livram das mochilas e se jogam para inaugurarem o primeiro banho do dia. Aquele poço era realmente lindo, mas nem se compara com o trecho a seguir, onde as paredes voltam a se fechar e o rio se espalha sobre o lajeado esculpido pela água, onde formações rochosas vão dando o tom e aí nos sentimos entrando em definitivo nos cânions, sabendo que agora não tem mais volta, é o abraço do rio que nos espreme e nos convida para entrarmos num mundo de sonhos, nos desafiando pelo resto do dia, no estilo pague para entrar, reze para sair. Pelos próximos 15 minutos, o rio nos espremeu e eu e o Fernandinho tentávamos a qualquer custo escapar das águas fria da manhã, enquanto outros já se meteram nos poços profundos e passaram nadando. As margens são um convite para quem quer se desafiar na arte da escalada, com pedras escarpadas, que faz a gente ir achando uma solução para nos mantermos seco, mas é claro, quando alguém erra um movimento, é atirado pela força da gravidade para dentro dos poços, para delírio dos que já estão molhados, que ficam torcendo para você despencar. Mais uma cachoeirinha em forma de escada é transposta, mas não sem antes atravessarmos poços incrivelmente transparentes. E à frente mais lajeados, tão bonitos que fica impossível andar 5 minutos sem sacar uma foto, até que às 10:30, somos obrigados a nos determos mais uma vez para apreciarmos um outa cachoeirinha e seu poço. Não é possível, é muita beleza num só lugar, e que cor de água é aquela? Nossa travessia está apenas no começo, mas estamos encantados com o rio, com a beleza daquele lugar, para onde você olha, a natureza explode em tons de cores diversas. O fundo do rio brilha feito ouro e logo que escalamos a cachoeirinha, fomo jogados para o pé do paredão, onde um poço extremamente verde, nos confundia os sentidos e para esculachar com a nossa capacidade de admirar aquele mundo aquático, logo à frente mais 2 poços se juntaram para derrubar nos queixos ao chão. Outra sequência de lajeados é cruzada, até que somos obrigados a nos jogarmos para dentro de poços profundos, que apesar de estarmos com uma temperatura acima de 30 graus, a água gelada ainda faz com que eu e o Fernandinho soframos muito. É sempre um tormento para nós dois, desprovidos de gordura para aguentar baixas temperaturas. Enquanto o Flórido, o Morato e o Potenza se divertem nas passagens aquáticas, nós dois tentamos a todo custo ganhar terreno na base da escalada lateral, mas chega uma hora que as paredes se fecham de vez, aí a gente se atira no rio e nada o mais rápido que conseguir e quando chega ao outro lado, somos dois homens atormentados pela nossa incapacidade de conseguir gerar calor, a sorte é que temos muito sol para nos trazer de volta à vida. O rio volta a ficar tranquilo por um instante, até que perto do meio dia, demos de cara com uma outra cachoeirinha, com um poço de tirar o fôlego, precedido por uma prainha de pedras brancas, aí não teve jeito, foi hora de estacionar, jogar as mochilas ao chão e fazer uma longa parada para o almoço e um mergulho mais que refrescante e aproveitarmos para analisar a sequência do caminho, que de antemão, não vislumbramos nenhuma possibilidade. Estamos envoltos num cânion largo, com paredes afastadas, mas muito altas. Enquanto a galera se diverte no poço, eu e o Potenza tomamos a lateral esquerda e fomos analisar como subiríamos aquela cachoeira: Era uma altura irrisória, talvez apenas uns 4 metros de altura, mas de um lado ao outro do rio e não havia nenhuma possibilidade se escalá-la, mas encontramos uma corda amarrada num arbusto, que descia da parte alta até o chão. Era uma cordinha bem mequetrefe, posicionada numa parede negativa, sem chances de subir por ela apoiando os pés na parede. Ficamos vendidos, era claro que aquela cordinha havia sido instalada para descer e não para subir. Se houvesse como subir, certamente não seria por ali, teríamos que tomar o caminho da parede da direita, subi-la e achar uma passagem descendo na diagonal. Eu achei que num esforço sub-humano, eu poderia até subir a corda no braço, caso ela aguentasse e depois instalar umas fitas para o resto da galera subir, mas talvez alguns não conseguisse subir nem com esse recurso, então fomos à procura de novos caminhos e como não achamos nenhum nome para sinalizar essa queda d’água, vou usar o óbvio e chama-la de CACHOEIRA DA CORDA, apenas como referência. O Flórido tomou à frente e eu segui na rabeira. Nos afastamos uns 20 metros da cachoeira e ganhamos o barranco da direita e ascendemos ao alto da parede, até que o terreno estabilizou um pouco e conseguimos andar em nível para a esquerda, com quem vai em direção a própria cachoeira e quando nos posicionamos quase encima dela, o Flórido resolveu recuar, achou que não compensava nos expormos nos abismos. Assim que os outros 3 se aproximaram, a gente se juntou para tentar um plano, mas o Flórido não queria nem saber, foi procurar outro caminho, mas quase convicto que não existiria outro, a parede era abrupta, intransponível. De onde estávamos, a visão nos abismos era prejudicada. Me aproximei, segurei-me numa árvore e identifiquei uma possível descida, mas sem a certeza de que, após conseguir descer, eu poderia avançar para um outro patamar, mesmo assim, o Potenza montou a segurança com as fitas e a cordinha que carregávamos e consegui baixar. Me livrei da corda e fui até o próximo vão e me pus a analisar, mas sem a certeza de que poderia chegar ao chão com a corda que dispúnhamos. Voltei e solicitei que alguém descesse para me ajudar a analisar e chegamos à conclusão de que poderia ser possível sim ganharmos o rio, então o Potenza desceu todo mundo no primeiro lance, retirou a corda e ficamos todos, num patamar no meio da parede, torcendo para dar certo. Me lancei no vazio, com a proteção de Nossa Senhora dos Abismos, mas logo percebi que haviam muitos degraus na parede, o que me fez ir descendo lentamente até que ganhei o chão e anunciei que o plano tinha sido um sucesso. Um a um foram se jogando no buraco até que todos nós, nos vimos a salvos no topo da cachoeira e foi assim que descobrimos que provavelmente ninguém sobe aquela rota, mais uma vez havíamos feito história naquela travessia incrível. Nessa operação de tentar transpor a cachoeira da corda, acabamos perdendo quase uma hora, então apertamos o passo para ganharmos tempo e alguns minutos de caminhada já nos levou ao encontro de paredões magníficos, de onde brotavam paredes íngremes, que iam fechando a rio e nos apresentando piscinas e poços cada vez mais incríveis com águas de tons esverdeados e quando onde éramos obrigados a nadar até que os paredões se afastaram um pouco e o rio se transformou novamente em lajeados onde escadas e tobogãs naturais , iam surgindo pelo caminho, um ode a diversão. E tome mais poços, mais piscinas naturais, mais lagos incríveis nos fechando a passagem, alguns a gente conseguia evitar, mas outros tínhamos que nos jogar e nadar, nadar sem parar, principalmente eu e o Fernandinho, que já nos encontrávamos em quase hipotérmicos. Eu tentava o máximo possível me valer das minhas habilidades na escalada e por vezes virava alvo dos amigos que torciam para que eu despencasse da parede e fosse jogado no fundo dos lagos pela força da gravidade. Numa dessas paredes, eles se sentaram para assistir ao espetáculo, queriam ver até onde eu iria, já que as apostas eram que eu cairia em pouco tempo. Me segurei na borda da parede. Eu não queria cair, não porque queria contraria a torcida, mas porque eu estava extremamente com frio, em um estado já muito preocupante. Fiquei procurando as micros agarras, mas não é fácil se segurar com bota de caminhada, ao invés de sapatilha de escalada. A mochila vai pendendo para o lado e a minha vontade de não cair, pendendo para o outro. Estico a perna, mas não alcanço um degrau mais à frente, enquanto isso, a plateia vai ao delírio, já preveem a minha derrota e é nesse momento que meu orgulho se torna maior que a força da gravidade. Com um dedinho dentro de uma cavidade minúscula, seguro meu corpo até as últimas energias, mas a queda parece inevitável, e realmente foi. Despenco feito jaca madura, mas antes de ganhar as profundezas das águas geladas, me jogo para um patamar mais abaixo, já meio metro dentro da água e alcanço um outro degrau, enquanto a plateia de filhos da puta vai ao delírio, pensando que eu tinha caído, muito porque, fiquei escondido na curva da parede e quando ressurgi, ficaram surpresos e decepcionados com a minha audácia. Eu sobrevivi a queda, mas foi completamente inútil, porque mais à frente o vale simplesmente se fechou, as paredes se juntaram depois que atravessamos por mais 2 poços profundos, onde o pessoal nadou, mas eu cortei pelas laterais. O cânion afunilou e nos espremeu entre torres de pedras gigantes. A passagem não tinha mais que um metro de largura , era como uma porta aberta para o além, um caminho para um outro mundo, que de onde estávamos, conseguíamos ver apenas uma grande escadaria de água, que parecia nos levar para o céu. Eu ainda estava molhado, ainda com muito frio e fiquei ali, parado, desolado com a possibilidade de ter que nadar, mas totalmente absorvido com a beleza daquele lugar. Um a um, os meninos foram saltando para dentro do cânion estreito e foram nadando, graciosamente, como se fossem “bailarinas aquáticas” e era bonito de ver eles passando pelo portal de pedra, uma cena que não sai da minha cabeça e quando chegou a minha vez e a do Fernandinho, nadamos feito galinhas d’água, o mais rápido que a gente podia, o mais veloz que conseguíamos, querendo nos livrar a qualquer custo da água gelada e quando emergimos vivos aos pés da CACHOEIRA DO FUNIL, reencontramos nossos amigos aventureiros, cada qual absorvido em suas emoções diante de um cenário deslumbrante, agradecidos pela oportunidade que a vida nos deu. De cima da cachoeira em forma de escadaria, porque obviamente o nome Funil, provem da passagem estreita do cânion, partimos para o final da nossa jornada naquele dia, já que nos aproximávamos da 3 da tarde. E o caminho não fugiu dos deslumbramentos anteriores, as águas pareciam saídas de um conto de fadas, os poços iam surgindo às dezenas, coloridos, transparentes, por vezes pareciam uma paleta de cores, uma aquarela de sonhos. Mas eu continuava com frio, ainda mais quando éramos obrigados a passar por grandes poços nadando, mas quando nos vimos caminhado sobre lajeados escorregadios, eu sucumbi de vez , bobeei, perdi a concentração e num pulo mal dado, fui parar com a fuça no fundo do rio raso e para não quebrar a cara, me protegi com as mãos, que deslizou por uma pedra afiada e o sangue velho ( mas não tão velho assim) jorrou com vontade, o dedo mindinho saiu com uma luxação e um corte profundo, fora a vergonha passada pelo tombo cinematográfico. Por minha causa, o grupo parou, foi obrigado a interromper a caminhada para que eu pudesse ser socorrido, porque o sangue não parava de correr. Paulo Potenza fez as vezes de socorrista e se encarregou de fazer o curativo. Mas não era só isso, não era só eu quem sofria com as baixas temperaturas da água, apesar de estar um tempo quente e com sol. Fernandinho já estava em ponto de sucumbir também, então tentamos achar uma saída para aquele problema, inclusive vislumbrando até uma saída estratégica do rio, ganhando a altura dos paredões, mas no fim, nem foi viável e ainda bem porque iríamos perder o espetáculo que viria pela frente. Passamos por mais uma cachoeirinha lindíssima, com as águas transparentes e logo à frente, o rio simplesmente que para a esquerda junto a um afluente. Nesse afluente estava marcado no nosso traklog a presença de uma cascatinha, mas eu e o Fernandinho já não estávamos mais em condições para nos desviarmos do nosso caminho e aproveitamos para nos sentarmos ao sol e nos aquecermos, enquanto o Morato, o Flórido e o Potenza, foram lá conhecer a queda d’água do afluente. Voltaram falando que a queda não era nada de mais, só que o Marcelo Morato acabou escorregando e sofrendo uma queda e por pouco não fraturou o cóccix. Partimos do afluente às 16 horas, já loucos para chegarmos na área que escolhemos para acampar, mas antes teríamos que enfrentar a passagem pelos paredões abruptos, que surgiram como fortalezas de quase uma centena de altura, espremendo a gente num mundo de formações rochosas, onde algumas se assemelhavam com catedrais, num dos cenários mais lindos de todo esse lado selvagem da Serra da Canastra. Nós ficamos absolutamente sem palavras, já nos faltavam adjetivos para elogiar o rio e agora ficamos viúvos de elogios para dedicarmos aos cânions. Aquele lugar, cercado de rocha e água era tão fascinante que a gente caminhava tão lentamente a ponto de parecer que não sairíamos mais dele e nem as águas geladas mais nos importavam, quando era preciso nadar, nadávamos, quando era preciso nos jogar nos poços exprimidos pelas paredes, nos jogávamos com um sorriso no rosto. A gente estava feliz, radiantes e quando finalmente tropeçamos na CACHOEIRA DO SUMIDOURO, nos sentamos por alguns minutos, precisávamos baixar a adrenalina, havia sido um dia de intensas aventuras e era preciso parar um pouco, desacelerar, estudar o caminho a seguir. A cachoeira era linda, como tudo naquele lugar, mas estava claro que o caminho não era mais por dentro do rio e pela primeira vez, abandonamos a água em favor de uma trilha que subia nitidamente no barranco da direita, escalava um terreno cheio de cascalho solto e ganhava o alto e uma trilha bem batida que nos levaria em uns 15 ou 20 minutos até o final da nossa jornada naquele dia. De cima da parede, avistávamos mais 2 grandes poços rio acima, mas se quiséssemos, poderíamos ir conhece-lo no dia seguinte, já com o acampamento montado. A trilha praticamente se torna uma estrada para 4 x 4, vira à esquerda e desce definitivamente para a área de acampamento, marcado no nosso mapa como ACAMPAMENTO DO CHAPADÃO, hora de largar as mochilas ao chão e dar por encerrado esse DIA GLORIOSO DE caminhada. O acampamento fica no fim da estrada, antes de descer uma curta trilha que nos levaria de volta ao rio. Ali, já deslumbramos o grande lajeado, onde poderíamos montar nossas barracas, mas o Potenza e o Morato resolveram subir o rio por mais um minuto e acampar quase dentro do leito , acima da cachoeira, enquanto eu , o Fernandinho e o Flórido, resolvemos nos arrumar por ali mesmo. Os meninos da cabeceira da cachoeira, montaram suas barracas individuais, enquanto o Flórido e o Fernandinho dividiram outra barraca e eu apenas resolvi construir um BIVAC, mas não era um bivac qualquer, simplesmente construí um bem elaborado, aproveitando que dispunha de uma infinidade de pedras para fechar meu toldo. Montado o acampamento, fomos cuidar da janta, colocar roupas secas e limpas e nos dedicar ao ócio, ver as estrelas cruzarem o céu, numa noite estrelada e de sonhos. É nessas horas que a gente se dá conta, que a vida está sendo vivida como se deve, ficamos ali, batendo papo, conversando sobre o dia incrível que tivemos, sobre a nossa jornada através daquele rio que nos faltavam palavras e adjetivos para descrevê-lo, sobre a vida e sobe aventuras passadas e sobre os planejamentos de aventuras futuras. Estávamos surpresos de encontrar um lugar como aquele, ainda longe das multidões barulhentas, onde ainda se pode cultivar a paz e o sossego, coisa rara e escassa no mundo de hoje. Cansados, dormimos até que o sol viesse nos despertar para mais um dia de deslumbramentos e enquanto a água do café fervia, descemos a trilha para sermos arrebatados pela grandiosidade do cenário. Um poço fascinante, seguido por uma cachoeira em forma de escada, que poderia muito bem ser a rota para o paraíso. A CACHOIERA DO CHAPADÃO é uma graça, faz os olhos sorrirem e a gente parece não querer arredar pé daquele lugar, faz bem para alma ficar olhando para ela. Mas como não é possível ser feliz para sempre, desmontamos nosso acampamento, tomamos café e partimos atrás de mais felicidade. Nossas pernas a partir de agora irão caminhar para sudoeste, abandonando definitivamente o Córrego do Paredão, se lançando para a calha de outro rio, que irá correr no sentido contrário, indo em direção a grande represa que já faz parte do gigante RIO GRANDE, aliás, todas as águas dessa região pertencem a bacia hidrográfica desse rio, um dos maiores que se juntará ao Parnaíba para formar o também grandioso Rio Paraná. Tomando, portanto, a estradinha que chegamos, uns três minutos acima dela, a abandonamos em favor de uma trilha que corre no sentido que desejamos. No início é só um arremedo de caminho, mas depois ela se torna bem consolidada pela passagem das motos. Logo à frente iremos subir o morro, quase arrastando a língua no chão de tão íngreme e cascalhado e ao ganhar o alto, o terreno se estabiliza e a paisagem muda para o cerrado clássico, ainda que um pouco machucado por mais de 150 dias sem chuvas consideráveis. Mesmo assim é uma paisagem lindíssima, pontuada por várias formações rochosas e plantas que ainda florescem e vão pintando um quadro quase surreal. Passamos por alguns bons pontos de água, onde alguém achou que poderia escapar do mundo e se enterrar num isolamento desolador, mas os casebres que lá foram construídos, hoje jaz no abandono. Uns 5 km de andanças e quase 2 horas depois, machucados pelo sol inclemente da manhã, fizemos a curva para a esquerda, ganhamos uma estradinha que não comporta nem 4 x 4 e descemos em definitivo ao vale escavado pelo rio que acabamos de cruzar uns minutos antes, tropeçando de vez na sensacional CACHOEIRA SETE SETE , com pouca água por causa das secas recentes, mas com um poço incrivelmente verde, deslumbrante, onde uma família preparava um churrasco fora da sua prainha. Esse córrego é mais um achado nessas paragens distantes e por hoje, será o nosso objetivo até quase atingirmos o seu final, mas antes, uma pausa nessa cachoeira para um lanche mais reforçado, um banho gelado e para uma contemplação mais demorada. Aos poucos, vamos recebendo mais companhia, principalmente da galera das bicicletas, mas está na cara que essa linda cachoeira é um pequeno point para os moradores ali da região, justamente por ser de acesso mais fácil, mesmo assim, só alguns gatos pingados. Os mais corajosos, se jogam de cima de uma árvore, onde foi instalado uma corda, mas eu mesmo ainda não me curei da quase hipotermia do dia anterior, prefiro ficar na areia fazendo castelinho e admirando as cores intensas daquele poço translúcido, até que resolvemos abandoná-lo e continuar com nossa travessia. Pegamos uma trilha que sai a direita e se afasta um pouco do rio, mais em cinco minutos vamos cruzá-lo novamente, passar encima de uma afluente e ganhar uma trilha que vai descer meio paralela ao rio, evitando que a gente tenha que descer por dentro dele, até que uns 15 minutos de andanças, interceptamos um novo afluente, que iremos descer com todo cuidado até voltarmos novamente para o rio, bem encima da CACHOIERA DO TROVÃO. Essa cachoeira se enfia num vale profundo e só seria possível descer com uma grande corda, coisa que não temos, muito porque, não viemos preparados para cânioning. Então apenas nos contentamos em vê-la de cima e batemos em retirada, voltando pelo mesmo caminho que chegamos, até reencontrarmos a trilha, virar para a direita e continuar caminhando pela vegetação aberta, mas dessa vez, andando quase uns 500 metros afastados do rio. Claro, poderíamos optar por tentar descer por dentro do rio, assim que nos livrássemos dos cânions do Trovão, mas certamente isso tomaria mais um dia, coisa que não tínhamos, então optamos por ir direto conhecer outra cachoeira. O sol não dava trégua e as vezes, não havia uma só árvore para refrescar a moringa. Por umas 2 horas a gente se arrastou num calor insuportável, no horizonte a grande represa do Rio Grande nos alegra a alma e sonhamos com um mergulho refrescante, até que paramos num outro afluente, onde analisando, vimos que era por ele que deveríamos descer de volta para o rio. Um lajeado gostoso de andar, em forma de escadaria, que aos poucos foi se enfiando dentro de um cânion, até que finalmente reencontramos o rio depois de desescalarmos umas paredes altas e cairmos diretamente dentro de um poço. Estamos dentro de um cânion fechado, parede dos 2 lados. Subindo o rio, uma cachoeirinha nos fecha a passagem e eu e o Flórido nos dirigimos até ela, passando com a água até o a cintura, num rio tão transparente que fica difícil descrevê-lo. Já os outros meninos optam por descer o rio por 2 minutos até se depararem com uma joia em forma de poço, que se destaca com várias cores de tons verdes, enfim somos apresentados ao POÇO DO CALAFRIO, um poço padrão Canastra, nem sei se merecíamos tanto. Imediatamente, já fica decretado que faremos uma pausa de 1 hora e ninguém tem mesmo pressa de ir embora, na verdade, a vontade é de ficar para sempre. Enquanto uns resolvem comer, outros já se jogam para dentro do poço profundo e permanecem por lá, nadando até descolar a pele do corpo. Confesso que a água está fria, mas mesmo assim, achei que não poderia sair de lá sem dar um mergulho e ao saltar de cima da parede, meu corpo explode na água e ao emergir, me pergunto se ainda continuo vivo. A Canastra no verão sempre tem águas quentes, mas nesse final de inverno, ainda continua fria, pelo menos para gente como eu, desprovida de proteção adiposa. Nado o mais rápido possível e alcanço o outro lado, onde o calor do sol reina absoluto e fico ali, parado, emocionado com a beleza daquele lugar mágico e único e com a certeza que ali, são bem poucos que conseguem conhecer, devido à dificuldade de acesso. Esse é um lugar exclusivo, como tantos outros que tivemos a felicidade de conhecer nessa vida de aventuras insanas. Esse rio, como o Córrego do Paredão, é simplesmente encantador e vai seguir se jogando nos cânions até desaguar no braço do Rio Grande. A gente poderia continuar descendo e finalizar nossa travessia perto da cidade de Itací e de lá tentar voltar para Guapé, mas ainda teríamos que conseguir alguém para nos levar de volta à portaria do parque, onde deixamos nossos veículos estacionados, uma logística de merda, então resolvemos abandonar esse rio e voltar para o parque cruzando os chapadões e como o dia já vai muito além da sua metade, temos 3 horas de sol para retornarmos até as nascentes do próprio córrego do Paredão, onde pretendemos acampar hoje. O caminho é o mesmo pelo qual chegamos, subindo por dentro do grande afluente até interceptarmos novamente a trilha que chegamos até ele. Mas agora viraremos para a direita e vamos começar a subir para valer até atingirmos no alto, uma plantação de pequenos pés de café, de onde parte um final de estrada que irá curvar para o norte/nordeste, em direção às nascentes do Córrego do Paredão. É uma estradinha cascalhada por restos de pedras tipo São Tomé, que vai cruzar chapadões por quase 4 km até interceptar uma estrada maior, mas é um fim de mundo perdido no meio do nada e os poucos sinais de civilização, são um ou outro casebres abandonados. Por 500 metros, vamos nos arrastando nesse caminho mais largo, um calor dos infernos que faz o próprio sol já ir abandonando o dia e sem perceber, já ganhamos outro caminho menor e vamos desce-lo por quase 2 km em direção a calha do rio que tanto almejamos, até que lá chegamos e sem pensar muito, jogamos as mochilas ao chão e iniciamos a montagem do nosso acampamento. Estamos nas cabeceiras do Córrego do Paredão, que nasce um pouco mais acima, na Serra da Rapadura. Aqui chamaremos o local de ACAMPAMENTO CHAPADÃO DE CIMA para não confundir com o outro acampamento que também consta como acampamento do chapadão. E é um lugar fascinante, lajes planas à beira do córrego e como não temos qualquer previsão de chuvas, iremos montar nossas barracas praticamente acima no nível da água. Cada qual escolheu seu lugar, conforme as suas convicções, mas eu tive que me virar para montar meu BIVAC, já que agora não contava mais com a farta distribuição de pedra para poder deixar minha casa em pé, o que levou meus companheiros de aventura a zombarem da minha cara, dizendo que agora eu tinha me lascado. Mas aí é que entra a arte do improviso e então me pus a fazer a transferência de um punhado de areia para outro local, a fim de melhorar minha habitação, quebrei 2 pequenos galhos de um arbusto e a minha tenda se armou, como num passe de mágica, o primitivo nasceu, o raiz tomou conta do lugar, chupa seus trouxas….( rsrsrsrsrsr) Lá pelas sete da noite fomos jantar sobre a luz do luar, num lugar isolado, totalmente desconectados do mundo, absorvidos pela solidão de uma noite quente num final de inverno. Ali éramos homens primitivos, vivendo com quase nada, se comparado ao mundo moderno e quando um novo dia nasceu e a luz do sol acendeu nosso amor pela aventura, foi que nos demos conta do lugar onde estávamos, parecíamos saídos de um comercial dos anos 80, como se vivêssemos no mundo de Malboro. Nossa jornada por esse último dia, começa por voltar um pouco e pegar uma trilha para a direita, que vai descer quase paralelo ao rio, mas não tão perto e vamos percorrê-lo por uns 2 km, até voltarmos definitivamente ao rio e cruzá-lo para o outro lado e abandoná-lo de vez ao acessarmos uma estrada mais larga e tomar em definitivo a parte alta dos chapadões. Cerca de de 1,5 quilômetros de andanças, após cruzarmos o rio, viramos a esquerda num final de estrada, que virou quase trilha e 500 metros depois, vamos virar à direita e subir um caminho íngreme até que estacionamos num mirante para um gole de água e um lanche. Por mais 1,5 km vamos passar por várias formações rochosas enormes, avistarmos o outro lado da represa e ao nos depararmos com um morrote isolado à esquerda, varamos o cerrado por uns 5 minutos até interceptarmos uma outra estrada, na qual desceremos sem dó, andando por um caminho cascalhado, interceptar uma porteira e despencar rumo a estrada principal. Estamos perto do meio dia, o sol queima tudo que pode. Passamos por umas casas de fazenda, cruzamos o próprio córrego do Paredão e tropeçamos na estrada do parque, agora em definitivo. Quando estávamos subindo a estrada, uns 300 metros antes da portaria, tropeçamos com os caras do parque. Nesse momento a gente pensou: “ Viche, estamos ferrados, os caras vão vir para cima da gente feito um búfalo com cólica de rim”. Pararam o carro e a primeira coisa que disseram, foi: “Graças a Deus, seis tão bem”. Falaram que estavam preocupados e já tinham acionado a polícia sobre o desaparecimento, inclusive, já tinham puxado a placa do carro e já estavam com a capivara do Flórido no celular e quando nos mostraram, caímos na gargalhada e a apreensão se tornou alivio para todos. Pedimos desculpas pelo ocorrido e eles já avisaram a polícia que tudo estava bem. Aproveitei a generosidade dos mineiros e já combinei com eles o almoço, haveríamos de recompensá-los, gastando algo no restaurante deles e enquanto preparavam um banquete, subimos novamente às cachoeiras para um último banho, o derradeiro daquela travessia memorável. Saímos atrás de novas aventuras, em busca de novos lugares, afim de transformar um roteiro turístico, numa verdadeira expedição, traçando nossa própria rota. Esse lado C da Serra da Canastra teve o poder de nos arrebatar com suas belezas naturais, nos desconcertou com seu isolamento e com o seu poder de nos cooptar com a grandiosidade das suas paisagens ainda selvagens. E o Brasil está mesmo cheio de lugares incríveis. Saímos para ver o mundo e vendo que ele era muito maior que a nossa capacidade de enxergá-lo e compreendê-lo, voltamos mais cego do que fomos. Divanei, setembro/2024 Divanei Goes de Paula
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  5. Pois é meu caro amigo, depois disso foram dezenas de rios explorados, montanhas selvagens subidas na Serra do Mar Paulista, cruzamos quase todos os grandes rios do Estado a partir da sua nascente, fomos ao cume de montanhas que ninguém nunca nos disse como chegar e quem já botou os pés nelas, viajei por quase todo o Brasil atrás de aventuras e fui a 7 países Sulamericanos. Hoje, apesar da idade, ainda continuo na ativa e ao invés de sossegar, acabo me metendo em encrencas piores ainda, rsrsrrsrssrs. Abraços.
  6. A Serra do Mar Paulista tem um clima bem próprio, por isso é o paraíso dos rios e cachoeiras selvagens. Em Ubatuba a serra se aproxima do mar e no verão chove muito mesmo. Agora no inverno, o céu é bem limpo e seria a melhor época para fazer as inúmeras trilhas, mas eu prefiro ariscar no verão e pegar águas quentes.
  7. UBATUBA, pequena cidade no extremo Litoral Norte de São Paulo, uma joia encravada na divisa com Estado do Rio de Janeiro, espremida de um lado pelo Oceano Atlântico e do outro lado, pela muralha da Serra do Mar Paulista , um dos mais belos ecossistema de todo o planeta. Detentora de mais de 100 praias , ilhas e trilhas incríveis, por isso quando me perguntam qual o melhor lugar para quem quer começar no mundo das trilhas , a minha resposta é sempre a mesma: - Vá para Ubatuba. Andei muito por Ubatuba nesses últimos 30 anos , explorando rios e picos selvagens e claro, percorrendo praticamente todas as praias , a maioria delas com os meus próprios pés, tendo me escapado uma ou outra mais turística , mas que logo também serão riscadas da minha lista. Mas tinha uma das praias que eu já não pisava os pés há 25 anos , então aproveitando uma parte das minhas férias na cidade, resolvi levar minha filha e o namorado pra conhecer, numa caminhada descompromissada, mesmo porque , o dia apesar de quente, estava um pouco embaçado. Deixamos o centro, passamos pela enorme Praia Grande na direção sul e uns 15 km depois , abandonamos a Rio-Santos pegando o acesso para o SACO DA RIBEIRA . Aqui na Ribeira é onde nos sentiremos um nada economicamente diante da quantidade de lanchas, barcos e veleiros que por certo chegam a custar milhões, mas não viemos para reclamar do sistema e nem das desigualdades sociais que assolam esse país, pelo contrário, estamos aqui para nos desapegarmos do máximo de coisas que conseguimos, então largamos nosso carro num quase final de estrada, onde uma placa nos avisa das dificuldades de seguir enfrente motorizado, jogamos uma pequena mochilinha às costas, contendo o mínimo do mínimo e nos pomos a caminhar, sem pressa, sem compromisso com coisa nenhuma. Já após a placa , nos deparamos com uma singela pracinha junto ao mar, um lugar aprazível para se passar um tempo apreciando os veleiros na baia. A estradinha a beira mar vai se estreitando , com um recuo aqui e ali , onde daria para estacionar o carro, caso quiséssemos nos adiantar um pouco, mas não vejo necessidade, porque 15 ou 20 minutinhos depois, a própria estrada deixa de existir e iguinoramos uma saída à direita, que vai morrer numa casa e pegamos intuitivamente para a esquerda , adentrando num beco sombreado, que passa entre dois paredões e nos leva para beira do mar, estamos definitivamente na PRAIA DA RIBEIRA. A Ribeira é uma joia, mesmo estando nublado , a água ainda se mantém transparente. Ao longo, vamos passando por várias casas bem bonitas, algumas mais sofisticadas e outras mais charmosas , lembrando antigas casas de sítios . Passamos por toda a praia até atingirmos quase o seu final, onde uma trilha à direita, nos conduz para cima até atingirmos um mirante da própria praia da Ribeira. Em 15 minutos de trilha, já estamos descendo à PRAIA DO FLAMENGO , que nesse dia de tempo instável, praticamente está vazia e silenciosa. A Praia do Flamengo é uma praia bem extensa e igualmente a Ribeira, também tem águas calmas e transparentes e como não me lembrava mais de onde partia a trilha que nos levaria a próxima praia, simplesmente acabamos passando reto e fomos até o seu final , tendo que retornar até uma placa junto a um bar. Ali, bem num beco estranho, parte a trilha. Mas é tão esquisito, que se não fosse a placa , jamais saberíamos , já que parece que estamos invadindo uma residência. Mas não tem erro, é só entrar, passar numa porta que vende pastel e ganhar o beco em definitivo, espremido entre paredes que vai nos levar para a trilha . A trilha vai ganhar altitude, não muito e quando atingir uns 100 metros vai descer . Ainda chuvisca um pouco e a Julia e o Murilo ficam um pouco para trás. Quando o terreno estabiliza , deixamos uma bifurcações à direita e passamos por um beco entre 2 Cabanas e ganhamos a enorme PRAIA DAS 7 FONTES . Da Praia do Flamengo até as 7 Fontes , gastamos pouco mais de 30 minutos . A praia é realmente linda , mesmo que o mar esteja batido nessa tarde chuvosa . Junto a um quiosque, meia dúzia de pessoas, que chegaram aqui de barco , terminam suas refeições e aproveitam que o mar deu uma acalmada, para irem embora , mas por pouco o bote que os levaria para o barco maior , não virou. Ficamos sós, apenas nós 3 numa praia isolada , com um tempo cretino, um chuvinha fria que varre tudo . Os bares estão todos fechados , mas um pescador , aproveitando que o mar não está pra peixe , conserta sua rede e ficamos lá, jogando conversa fora com o pescador e admirando a beleza insólita daquele oceano que parece não querer nada com gente. Daqui , poderíamos nos estender até a GRUTA DO PIRATA , mas não será hoje, com esse tempo ruim, então aproveito para ir até o canto direito , onde uma gruta guarda uma SANTA e subo em algumas pedras para tirar uma foto de toda e extensão da praia O dia já da sinal de que não tem mais interesse em nos favorecer, não vai ser hoje que veremos a cara do sol e quando a chuva da uma diminuída, abandonamos o paraíso e picamos a mula de volta para a praia do Flamengo e lá chegando , não nos demoramos para ganharmos a trilha e voltarmos à Praia da Enseada , subirmos o beco e interceptamos novamente a estrada que nos levou de volta ao nosso carro, fim da nossa caminhada , estamos ensopados e com a barriga roncando de fome, mas com a alma lavada e o dia ganho. Divanei - novembro/ 2023 Divanei Goes de Paula
  8. Muito bom seu relato, já passei inúmeros perrengues pela américa do Sul, que poderia escrever um livro. Meu amigo, ultimamente tenho levado até Certificado Internacional de macho, quanto mais de antecedentes criminais. Levo tudo, exatamente tudo que precisa e o que não precisa . rsrsrsrsrs
  9. Valeu Izazt, eu tenho uma página na plataforma AVENTUREBOX.COM , onde postamos relatos de trilhas, travessias , algumas viagens e tudo relacionado ao mundo da aventura. quanto ao Equador, com certeza um dos pais mais legais da América do sul para se conhecer, um lugar onde praticamente não vemos brasileiros e que parece concentrar tudo que vemos no nosso continenbte, com paisagens diversas.
  10. DE SÃO PAULO À QUITO O avião , que partiu de Guarulhos rumo ao Panamá, estava abarrotado de gente. Todos ali pareciam ter como destino algum lugar que os deixassem mais próximo da Disney, só nós mesmos é que não tínhamos cara de que aguentaríamos 3 horas numa fila, para ver um homem vestido de rato. Voar de avião é chique, mas tem as suas aporrinhações burocráticas, as vezes ou quase sempre , perde-se mais tempo com essas chatices do que com a própria viagem. Descemos no Panamá apenas para pegar uma conexão com destino à QUITO , a capital do Equador e para nossa NADA surpresa, apenas nós iríamos para a SEGUNDA capital mais alta do planeta , os outros 200 passageiros, se não foram pra fila do rato, se perderam para algum lugar do Caribe. Dentre as burocracias mais chatas, nada supera a da IMIGRAÇÃO, é ali que o cara decidem se você entra ou se volta pra casa , existem regras, mas ali ele (o agente de imigração) é um Deus, se não foi com sua cara, ele te chuta de volta e não há o que fazer. Eu sempre fico nervoso e não importa que tenha feito isso outras quase 20 vezes pelos 7 paises que ja visite no continente, sempre é tenso. Mas eu havia feito o trabalho de casa: juntei passaporte , seguro viagem, comprovante de hospedagem, comprovante de endereço, holerite , comprovante de férias , antecedentes criminais, certificado internacional de vacina de febre amarela , COVID, dinheiro em espécie , cartão de crédito e certificado internacional de macho e estava disposto e enfiar na fuça do AGENTE DE IMIGRAÇÃO , se ele viesse com gracinha. Descemos em QUITO, aeroporto acanhado se comparado ao gigante Paulista. Descemos uma escada e já demos de cara com a IMIGRAÇÃO, sem tempo nem pra sentir medo, já fomos logo conduzidos por um policial que nos jogou na cova dos leões. - Brasileiro né? - Primeiro vez no Equador? - Vão ficar quantos dias? - Trabalha com que? - Casados né? As perguntas me soaram mais como curiosidade, do que como entrevista e assim foi nossa entrada no país, com um belo visto no passaporte, mas poderia ter sido apenas o RG e um sonoro: SEJAM BENVENIDOS , dito por uma simpática senhora da imigração. 😁😁😁😆 QUITO, CAPITAL. QUITO , capital do Equador, localizada na Cordilheira dos Andes numa altitude de 2.850 m , sendo a segunda capital mais alta do mundo. Uma das primeiras cidades a ganhar o título de Patrimônio da Humanidade, concentra um patrimônio histórico inigualável. E é uma cidade vibrante , é como se tivessem batido o Peru e a Bolívia num liquidificador e jogado aqui . Igrejas monumentais , praças sensacionais para todos os lados, pessoas com traços indígenas desfilam de um lado para o outro, desafiando a nossa capacidade de compreender o que os nossos olhos enxergam . A gente está usando o transporte público, nos misturando aos nativos, que além de nos ajudar nessa compreensão, ainda é o jeito mais barato de ir aos lugares. O metrô só tem uma linha, mas é moderno e limpo . O transporte aqui é muito barato, em média custa menos de 50 centavos de dólar. Isso mesmo, a moeda no Equador é o dólar, mas os preços aqui seguem uma média de Peru e Bolívia, sendo o custo de vida muiiiito mais barato que no Brasil, que aliás, é um dos países mais caros pra viajar no nosso continente. DE QUITO À LATACUNGA. Cholas, cholitas e choludas . Ao desembarcamos em LATACUNGA, uma cidade que já foi destruida duas vezes por um vulcão e sem aviso prévio nos é jogado à cara uma salada cultural que nos faz rodopiar os sentidos. A cultura indígena nessa parte do Equador é fortíssima . Mas não deu tempo nem de pegar o queixo no chão, já fomos obrigados a embarcar rumo ao alto dos Andes, num ônibus velho , apinhado de gente . Vendedores entrando a toda hora , vendendo suas mães em troca de um dólar. O ônibus com umas 100 pessoas e o motorista achando que cabia mais outros 100, e suas galinhas e seus sacos de milho e seus sacos de batata e suas ferramentas e suas despesas. Índio entra , Índio sai , ônibus para, ônibus vai . O caminho é tortuoso , as estradas fazem curvas à beira de precipícios e no auto falante, uma música andina me desconcerta os pensamentos e nos faz lembrar que estamos viajando literalmente no meio do mundo, onde respirar não é prioridade estando a quase 4 mil metros de altitude. QUILOTOA , a dura vida nas bordas de um VULCÃO. A vida a 4 mil metros é dura , sofrida e o vento que assola quem ali resolve viver, é impiedoso . E se já é difícil para os nativos , imagina pra gente que mora nas baixas altitudes. A mulher sucumbiu , acordou na gélida madrugada ,sem conseguir respirar e pra ela , a noite demorou três dias pra nascer . Hospedados numa estalagem nativa , onde a tradição é algo inegociável , somos atendidos pelas cholitas e sua família e tudo isso nos é desconcertante , por estarmos diante de algo tão diferente à nossa cultura, que olhamos para aquilo com deslumbramento e se já tenho que gastar meu espanhol porco, ainda me toca ficar boiando com o incompreensível quíchua . Mas o dia nasceu e com ele incontáveis sensações num mundo de paisagens tão sensacionais quanto o próprio povo dessas paragens que beiram o fim do mundo, mas que na verdade vivem na beira ou nas bordas da cratera de um vulcão , que hoje deixa de significar morte e destruição e foi alçado a sobrevivência de um povo. As cores do lago, que inundam a cratera, mudam com a dança da luz do sol , vão de azul para um verde vibrante . Mas nada vibra mais que a nossa alma aventureira a observar tudo lá de cima ou la de baixo, com as mãos tocando a água que se estendem por incríveis 250 metros de profundidade . Ali não parecemos ser nada diante da grandeza da cratera e eu só faço imaginar o dia que aquilo tudo explodiu e damos graças por saber que, por hora, está extinto e o unico perrengue que vamos passar, é ter que retornar para o topo do vulcão, tentando achar ar e energia para que nós mesmos não sejamos extintos como o GIGANTE QUILOTOA. COTOPAXI Da mais longa estrada do mundo, o " Pescoço da Lua " simplesmente resolve não dar as caras. Estamos apreensivos . Não é possível que tenhamos viajados de tão longe e não teremos a sorte de sermos agraciados com a beleza do maior vulcão em atividade no mundo. O COTOPAXI (5.897 m) tem causado destruição ao longo dos séculos, chegando a varrer cidades que se metem em seu caminho e mesmo que a um bom tempo tenha se mantido mais calmo, vez ou outra ele acorda e põe de joelhos parte da população ao redor. Nosso 4x4 vai subindo , quilômetro à quilômetro e mesmo que o motorista nos confirme que ele irá dar as caras , eu olho aquela informação com desdenho , mas quando tomamos outro rumo, quase que nos dirigindo para o lado contrário de onde estamos, rajadas de vento descobrem a lenda equatoriana e aí nos damos conta da grandeza que temos à nossa frente. Na luguna Limpiopungo , somos oficialmente apresentados a ele . É um encontro alegre e amistoso , mas não passa de uma armadilha, uma arapuca para pegar os desavisados, que logo em seguida irão subir suas encostas , porque os desaclimatados e os fora de forma , serão trucidados por ele . BAÑHOS Quando respirar já não era mais possível, ao menos com tranquilidade, resolvemos dar um alívio para o corpo e picamos a mula para as portas da Amazônia Equatoriana, que se encontra a 1800 metros. BAÑHOS é a capital da aventura no país, aqui pode-se fazer de tudo a custos irrisórios, qualquer desgraça que te faça ter uma descarga de adrenalina pode ser feito por uma ninharia. Optamos por despencar montanha abaixo encima de uma bicicleta, beirando precipícios donde despencam as maiores cachoeiras do Equador . Alugamos um bike muito boa por 5 dólares cada uma por dia e partimos da praça central. Pelo caminho tortuoso as placas indicam para onde devemos fugir se o vulcão Tungurahua for pelos ares. Um túnel escavado na rocha é cruzado e outros são desviados para beira do desfiladeiro . Enquanto me divirto, a mulher hirta de medo, se assombra com o desnível. E assim vamos seguindo , vamos cruzando pequenos vilarejos, minúsculos povoados jogados à beira do caminho e vez ou outra, somos interceptados por uma cholita que tenta nos vender algo. Mundos perdidos, descolados da nossa realidade, que não me canso de admitirar, de tentar compreender, de assimilar . Vamos passando por meia dúzia de grandes cachoeiras, parques, pontes pênsil e uma infinidade de atrativos dedicados aos esportes de aventura, até desembocarmos definitivamente na mais famosa cachoeira do Equador . A PAILÓN DEL DIABLO( caldeirão do Diabo) é quase um símbolo da região de Bañhos e atração mais visitada do lugar e mesmo sendo a rainha das águas do país, custa míseros 3 dólares, um valor ínfimo se comparado a qualquer cachoeira mais sofisticada no sudeste do Brasil. O dia chega ao fim e para voltar à cidade, jogamos as bike num caminhão e subimos de carona, porque é humanamente impossível subir pedalando, não há mais energia e nem tempo hábil , o dia já está ganho e quando devolvemos as bicicletas, imediatamente fomos nos perder numas piscinas de águas termais noite à dentro, aproveitar a energia térmica dos vulcões , enquanto eles fingem que dormem.😁 RIOBAMBA E CHIMBORAZO O vento gelado vai batendo no rosto, enquanto eu e um casal de amigos colombianos , vamos despencando ( 5.300 m), correndo o mais rápido que conseguimos pelas encostas do VULCÃO CHIMBORAZO (6.310 m) , simplesmente a maior montanha da Terra se medida do seu centro. E é preciso medir os passos para não tropeçar numa rocha e se arrebentar, porque a lei da gravidade ainda vale na altitude. Quando chegamos de volta ao abrigo de montanha à mais de 4800 metros, estamos emocionados pelo momento, pela oportunidade que cada um está tendo, pela superação física do novo amigo colombiano de menos de 30 anos. Eu estou em êxtase total, fisicamente aos 54 anos me sinto muitíssimo bem e emocionados, nos abraçamos os três antes de entrarmos no carro que nos devolveria para a entrada do Parque Nacional . E o Equador vai sendo varrido , a cada dia estamos num lugar, numa cidade , num povoado, num vilarejo diferente, vendo vulcões, montanhas, cachoeiras, cidades históricas , comendo uma comida diferente, conhecendo novas culturas, novas pessoas, aprendendo a língua e negociando os perrengues conforme eles vão surgindo , porque viajar é uma ciência , que vai sendo dominada aos pouco .😁 CUENCA . Eu poderia simplesmente ficar sentado aqui , parado, sem sair do lugar , por uma eternidade. De cima de uma cobertura de um hotel barato, bem no meio do mundo, lá embaixo a praça desafia a minha capacidade de compreender onde realmente estou. Quando ouço o apito do trem que se aproxima, meu coração dispara, estou completamente apaixonado por ele. CUENCA nos desconsertou, simplesmente nos fez perdermos a noção do que era real ou do que era sonho. Uma explosão de culturas e costumes que nos fez rodopiar a mente . Ficamos perdidos na história, nos prédios e igrejas centenárias, envolvidos num mundo que não nos pertence, mas nos encanta . Um homem carrega 4 cabritas enquanto oferece leite pra quem quer comprar. Um porco assado inteiro nos é oferecido numa praça de alimentação, enquanto num canto obscuro , dezenas de cholas Equatorianas fazem benzimento em seção de descarrego . Numa pracinha , outras índias vendem as flores mais bonitas que eu já vi na vida, enquanto um homem vestido de cuy( porquinho da Índia) tenta nos vender uma foto com ele. Frutas, frangos pendurados, vendedores de todo tipo de comidas estranhas, tentam nos cooptar para sua barraquinha. Churros de queijo, amoras azedas, chapéus Panamá, que são do Equador. Bateram a América do Sul e jogaram em Cuenca . Cheiros, cores , ervas. E o trem? Haaaa o trem , esse ilustre veículo que vai cortando o centro histórico, dividindo espaço com gente, com carros, com vendedores de ilusões por um dólar. O trem carrega gente, carrega a gente , carrega a fama e o símbolo de uma das cidades mais vibrantes da América do Sul , patrimônio da humanidade , ela agora também nos pertence ou nós pertencemos a ela , porque mesmo voltando para a nossa vida pacata no interior de São Paulo, vamos sempre nos lembrarmos dos dias que aqui passamos e quando nos perguntarem qual a cidade mais bonita do nosso continente, ei-me de responder : CUENCA, a cidade do trenzinho.❤ DE CUENCA À MONTAÑITA. Uma EXPLOSÃO é ouvida. PÂNICO, GRITARIA !! O ônibus dança de um lado pro outro à beira dos abismos da Cordilheira dos Andes . Imediatamente já nos preparamos emocionalmente para a tragédia. Minha esposa já dá o raio X da desgraça: " Uma pedra rolou do barranco e atingiu nosso ônibus ". Olho para a muralha e só vejo árvores e nada que pudesse chancelar a história fantasiosa da minha mulher. O ônibus finalmente consegue se deter e logo imagino a possibilidade de ter sido apenas um pneu que estourou, BINGO ! Por sorte , o acontecido foi justamente a 50 metros de uma borracharia e por incrível que pareça, o tempo entre entrar de ré nela e substituir o pneu , foi de exatos 20 minutos, se fosse no Brasil teríamos esperado por umas 3 horas até que outro ônibus viesse nos socorrer. Aqui no Equador, vamos deixando a altitude para trás e descendo lentamente para o litoral do país, mas o processo é lento, moroso, porque não é fácil enfrentar horas a fio em estradas com curvas tenebrosas. Chegamos a GUAIAQUIL, já não vemos mais os nativos que são tão característicos na Cordilheira , só nos deparamos com o cáus , um calor insuportável, gente para todo lado, entulhados numa rodoviária tão grande que me remeteu a São Paulo, mas com uma desorganização que a maior cidade da América do Sul não tem. Claro, Guaiaquil não será o nosso destino , apenas a usamos como trampolim para ir a MONTAÑITA , mais umas 3 horas seguindo para o norte do litoral do país. O SOL se pôs no mar. Só por isso me dei conta de que, eu mais uma vez, acabara de atravessar o continente de um lado para o outro, o OCEANO PACÍFICO agora é a minha casa. MONTAÑITA. A nossa chegada à MONTAÑITA é a noite. Dois mochileiros oriundo do Brasil, se põe a caminhar pelas ruas iluminadas desse vilarejo peculiar, que muitos costumam chamar, com um certo exagero, de IBIZA sulamericana. Aqui tudo tem cara de festa , de sofisticação, uma mistura de Las Vegas com zona , tudo é colorido, iluminado, barulhento , alegre . Comida e bebida farta , de todo canto e daqui mesmo, um encanto, um espanto. A praia não é feia, mas claro, não tem o encanto das praias do Brasil, que aliás, poucas tem nesse planeta. Mas estar aqui no PACÍFICO, significa muito mais que querer só conhecer uma bela praia, para nós é mais um ritual pessoal, saber que atravessamos todo um continente para navegarmos em outros mares , em outros oceanos, vencemos a distância e a dureza da viagem , a aspereza da vida para chegarmos tão longe , para vermos o sol se pôr no mar. Essas viagens pela América do Sul, nos engrandece enquanto gente, andar por um país estranho e tão desconhecido, nos faz termos que aprender na marra, tomar decisões rápidas porque aqui estamos sós e se algo acontecer, só podemos contar com nós mesmos. Mas surpreendentementemente , essa parte do Equador é muito quente e o Pacífico tem as águas tão CALIENTES como as do nordeste do Brasil . Conhecida por ser um dos melhores lugares para se surfar no continente, aqui tbém não encontramos um só brasileiro além de nós, mas os nativos ligados ao Surf , lembram do Brasil por estarmos no topo do surf mundial . PUERTO LOPES E LOS FRAILES Deixamos Montañita e nos dirigimos à Puerto Lopes, uma praia comum destinada a abrigar uma imensa frota pesqueira, como o nome já entrega, é um pequeno porto espremido entre dois costões rochosos. A parte periférica da minúscula cidade não lembra nem de longe que estamos no litoral, mas a parte litorânea é bem agradável , envolto por dezenas de barracas e outros pontos mais sofisticados. Mas Puerto Lopes é apenas base para que pudéssemos ir ao Parque Nacional MACHALILA, que abriga , segundo muitos, as mais belas praias do Equador na sua porção continental. É tuk-tuk que vai, é tuk-tuk que vem. Esses veículos transformes, meia motocicleta e meio carroça, transitam para todos os lados em algumas cidades do litoral do Equador, como é muito comum na Bolívia e no Peru. De tuk-tuk fomos até o terminal rodoviária e já embarcamos imediatamente num ônibus de viagem que ia para o norte e nos cobrou 1 dolar para nos deixar em pouco mais de 20 minutos na entrada do Parque Nacional, com entrada gratuita , como são todos os parques do país. Do parque até a famosa PRAIA DE LOS FRAILES são uns 2,5 km e como estávamos a pé e não queríamos encarar o sol inclemente, pegamos outro tuk-tuk até a praia. No Equador, a natureza tem direitos constitucionais e aqui isso é levado a sério. No parque não se pode entrar com comida, nada, somente líquido e sem álcool , todas as mochilas são revistadas. O calor está sufocante e quando chegamos ao final da PRAIA LOS FRAILES , abandonamos a areia e nos jogamos ao mar, um refresco e tanto. Águas quentes, mar azulado, mas praticamente não existe uma só árvore para se abrigar. Retomamos a trilha , que sobe um pouco até a saída para o mirante à esquerda , a qual ignoramos e passamos reto e continuamos por mais uns 10 minutos até tropeçarmos na PRAIA TORTUGUITA , silenciosa, selvagem e onde é proibido nadar por causa das correntezas perigosas. É um cenário deslumbrante e desconsertante, então lentamente caminhamos até seu final onde uma nova trilha nos leva em mais 15 ou 20 minutos até a PRAIA PRETA, onde mais uma vez, nos pinchamos para dentro do mar. A volta foi rápida e quando novamente chegamos ao mirante, a Rose seguiu de volta para Los Frailles e eu meti o pé pra cima , para ter uma visão incrível de cima do MIRADOR LAS FRAGATAS , um último adeus ao OCEANO PACÍFICO, pra guardar na memória, pelo resto da vida. OTAVALO. Como num passe de mágica, como se entrássemos numa passagem secreta, quase 12 horas de viagem nos devolvem à Quito, a capital do meio do mundo e mais duas horas, estamos saltando em OTAVALO , uma joia encravada aos pés do vulcão Imbabura, onde os povos originários fizeram de sua capital. A cidade é um charme , com ruas planas e calçamento padrão, exige uma limpeza irretocável, com suas praças e espaços públicos bem cuidados. Há muito o que se fazer ao redor dessa simpática cidade, mas nós já estamos com o tempo contado e ficamos perambulando simplesmente pela MAIOR FEIRA DE ARTESANATO INDÍGENA do continente. A feira disposta num quarteirão inteiro( Plaza de los Ponchos), além de ter tudo que se imagina, trás como sua grande atração, os nativos caracterizados. É uma gente linda , com suas vestes características, as mulheres com roupas brancas que remete a limpeza e homens se caracterizam pelo chapéu e seu rabo de cavalo. São diferentes das cholitas , as mulheres coloridas que vagueiam por toda a Cordilheira, principalmente em Quito e Cuenca . Não pude deixar de fazer comparação dos povos de Otavalo com os índios Americanos. E não é só isso, a cidade e obviamente a feira, tem uma explosão de cores que nos encanta , nos seduz , é tanta beleza, é tanta cultura, que simplesmente ficamos hipnotizados, eufóricos e lamentamos ter que deixar tudo aqui para trás, a vontade é de ficar, ficar parado, parar o tempo. MONUNENTO MEIO DO MUNDO Quando crianças , reunidos à mesa com nosso pai , ouvíamos ele contar das maravilhas que eram a nossa Terra Natal , a nossa aldeia no interior Paulistas às margens do Rio Grande . Escutávamos atentos suas narrativas e nos deslumbrávamos com a possibilidade de um dia sobrar dinheiro para que pudéssemos rever nossas ancestralidades. Dinheiro esse que só dava para não morrer de fome e não poderia ser desperdiçado com uma viagem de meros 550 km , num tempo de dificuldades terríveis, onde a única coisa possível era sonhar. E agora , eis me aqui , na METADE DO MUNDO , com um pé no norte e outro no sul do planeta , perdido na latitude ZERO. Se as dificuldades extremas da vida foram deixadas para trás, é preciso que nunca nos esqueçamos de quem somos e de onde viemos, mesmo que a grandezas dos nossos feitos , só sejam grandes para nós mesmos. ÁREA RESTRITA, QUIPROQUÓ NO AEROPORTO. No Aeroporto de QUITO, somos direcionados para uma esteira de RAIO X isolada . Os agentes da Polícia Federal ou sei lá que diabos de polícia eles eram, já nos encurralaram num beco e dão ordens para que tiremos os sapatos e a jaqueta e que coloquemos nas caixas que vão na esteira do raio X. Mas ainda tínhamos grudado ao corpo, celulares, passaporte, passagens, relógios e outros badulaques que foram entulhando na esteira juntamente com 2 mochilinhas e 2 mochilas grandes, obviamente nossa bagagem. A Rose passa no dector de metais , onde vc tem que pisar numa área específica e ficar mudando de posição. O agente fala algo para outra agente, num espanhol porco, a ROSE está detida provisoriamente. Vou para o matadouro, opsss ,detector de metais, aquela porta parecida com portas de banco. Me detenho por alguns instantes, seguindo o comando que me é dado pelo agente carrancudo. Saio do detector pensando estar livre, mas sou imediatamente interceptado por outro agente que diz que vai me revistar. Sou amassado, apalpado por todo o corpo, minha bunda é vilipendiada várias vezes, nem a ROTA é tão ousada. Pedem meu passaporte e minha passagem aérea, mas ao apresentar o documento, só ouço a voz da mulher da esteira : Haaa eles são Brasileiros e o passaporte não é nem aberto e vai parar novamente na esteira, onde estão nossas coisas. Um dos agentes chama outra policial e a Rose é sequestrada para uma SALINHA do aeroporto , enquanto eu, sem poder ajudá-la, recebo ordens expressas pra me arrancar de lá e carregar toda as nossas bagagens. Descalço, perdido com a confusão que foi criada, saio na minha humilde mulâmbencia, arrastando tudo pelo saguão do aeroporto até um canto isolado, fora da passagem dos transeuntes . A situação que por hora parece cômica, acaba sendo tensa, principalmente quando a Rose sai da salinha acompanhada pela agente, as duas com cara de poucos amigos, mas a Rose extremamente putaça com a situação. A agente se aproxima, pede o passaporte dela, que está comigo, aponta o celular, faz a leitura dos dados e nos libera definitivamente. Na salinha, me contou a minha mulher, a agente meteu uma pressão psicológica, falando rápido, num espanhol incompreensível, ainda mais pra ela que não fala o idioma. Perguntas eram feitas, que obviamente ela não respondeu, sua pequena mochila, que havia sido levada pela agente é destrinchada e em seguida dada a ordem para que a acompanhe até mim, que estou com o passaporte. A Rose está psicológicamente abalada , mas pra piorar, quando vamos apresentar os documentos e a passagem para ingressar no avião que vai nos levar ao Panamá, um giroflex se acende na nossa cara e somos convidados pela agente de embarque a esperarmos num canto isolado. A Rose simplesmente tem o brilho dos olhos apagados, ficamos vendidos, esperando ( na nossa cabeça) que apareçam uns 2 polícias da Federal e nos leve definitivamente, mas a única coisa que aconteceu foi imprimirem novas passagens com assentos diferentes e liberados pra embarcar de volta pra casa.🤣🤣🤣🤣🤣 RAIO X da comida no Equador ( só para mochileiro lascado). Esse post é destinado apenas para os mochileiros/viajantes raiz , trabalhadores comuns , que mesmo com um salário de merda, se recusa a passar pela vida sem ariscar uma viagem fora das nossas fronteiras, nem que seja na nossa sensacional América do Sul. Se voce não pertence a essa classe, apenas passe batido, essa postagem não é pra você. 😀😀😀😀 Sempre nos perguntam se a gente não vai passar fome, ou ter dificuldade em se alimentar nesses paises, o que tem pra comer, se é caro, se tem arroz , se tem café que presta , essas coisas, curiosidade de quem ainda não conseguiu conhecer nenhum desses países e pensa ir um dia. Pois bem, comecemos pela média de preços , mas são valores da comida de um trabalhador comum, onde o nativo come , o povão mesmo , que na minha opinião é o melhor jeito de se integrar ao país, não que seja proibido comer no MacDonald , nada disso, mas eu quando estou viajando para outro país, evito ao máximo. Uma refeição num restaurante popular no Equador nos custou em média 3 dólares , isso mesmo, a moeda no país é o dolar americano desde 2.000 e vamos aqui arredondar a cotação de abril de 2024 para 5 reais , então uma simples e nutritiva refeição no Equador custa 15 REAIS. " OCHE", mas no que consiste esse rango tão barato até para os padrões do Brasil? Vamos lá, quase sempre ou sempre voce come o "menu do dia" . De cara já lhe trazem um tijela enorne de SOPA, mas sem macarrão. Geralmente é peixe , frango , porco , acrescido de varios legumes, pode ter meia espiga de milho dentro, temperos diversos, as vezes queijo, batata, mandioca . Às vezes tudo dentro de um caldo ralo, mas outras vezes, um caldo grosso, com batatas batida. Tudo é cheiroso e extremamente saboroso e muito temperado e com essa sopa , já acompanha um enorme copo de suco, na maioria das vezes, um suco ralo e sem muito gosto, de MORA, uma fruta igual a nossa amora , mas umas 5 vezes maior e azeda ou qualquer outra fruta, mas na maioria das vezes, dificil de advinhar, até mesmo o nosso bom e velho maracujá. Pronto, vc encheu sua barriga de sopa , que pra mim já seria o suficiente, aí o garçom trás o SEGUNDO , como eles chama o outro prato. Arroz, 2 colher de salada, ervilhas ou lentilha e se der sorte , pode ser um tipo de feijão. Uma porção pequena de banana chips ou banana frita e por fim, uma porção até que generosa de proteína, que pode ser frango, peixe ou porco e passmem, até camarão empanado , que aliás tem em abundância no pais , tanto na Cordilheira ou no litoral. Claro que há variações, vc pode entrar e escolher o que comer, montar seu prato como quiser, não comer carne se é vegano, tudo é negociável, como em qualquer outro lugar, mas vai pagar mais caro, ainda que se comparado ao Brasil, seja extremamente barato. Quanto ao CAFÉ DA MANHÃ, os caras tem o hábito de comer muito , um pouco parecido com o nordeste e norte do Brasil, porque aqui em São Paulo , ficamos com o tradicional café com leite e pão com manteiga , com algumas variações. Antes de escolher ir para o Equador, havia lido que eles tem ótimos cafés , estão fiquei tranquilo , mas chegando lá, aquela decepção como foi na Bolívia e no Peru . A velha mania de usar café solúvel e olha só, boa parte o Nescafé , produzido e industrializado no Brasil. Você pede um café, eles te trazem uma xicara de água quente e o maldito café solúvel ou pior , já trazem pronto, uma aguá de batata horrorosa e intragável. Bom, por fim, a gente decidiu que o melhor mesmo era não tomar mais café, estão sempre pedíamos um copo de leite e acrescíamos o café solúvel e ate chocolate, o que realmente resolvia o problema. Então, basicamente os caras comem de tudo no café da manhã, mas o básico eles chamam de DESAYUNO CONTINENTAL( café da manhã) , que custa uns 12 REAIS e consiste em : Café , leite, pão com queijo fresco, ovos mexidos e um copo de suco, mas esse suco era bom, batido na hora e bem grosso e saboroso. A gente não tem o hábito de comer tudo isso pela manhã, estão negociávamos apenas o cafe com leite e o pão com queijo , porque é raro ou quase nunca , eles usarem manteiga ou margarida no pão, que aliás, é um pão bem meia boca se comparados ao nosso pão francês, mas como não estávamos no Brasil, comíamos tudo com agradecimento e satisfação. Mas o país tem uma gastronia diversa , há dezenas de pratos a base de banana, mesmo porque, o Equador é o maior exportador do planeta . O churros alem de doce, também tem com queijo fresco, comprado nas praças e ruas, vendidos por ambulantes, que vendem de tudo nas ruas, as vezes, parece Índia, mas longe daqueles vídeos bizarros que vemos na Internet sobre as comidas indianas. Frutos do mar também é abundante e é possível comer um ceviche até por 15 reais, acompanhado com arroz e outros completamente que ja citei acima . Também é possível experimentar uma infinidade de sucos de frutas diversas, tomar a famosa INKA KOLA, um refrigerante amarelo e doce, com as mesmas características do nosso Guaraná Jesus do Maranhão e a Cajuína do Piauí, guardada as devidas diferenças, claro. Outra coisa interessante: Em 20 dias, viajando por todas regiões do Equador, não vimos uma só pessoa bebendo nos restaurantes populares, muito porque, É PROÍBIDO beber álcool nas ruas do país e há horários específicos para o comércio vender cerveja, geralmente só apos as 16 horas e proíbido aos domingos . Não há bebedeira nas ruas do pais, não há desocupados reunidos no meio do dia pra beber, não há farra, gritaria e desrespeito, não que tenhamos vistos . Nos mercados municipais, é possível experimentar de tudo, desde frutas até as comidas típicas. O Cuy, que não passa do nosso porquinho da Índia e que é saboroso, mas que só comi no Peru. Porcos inteiros são assados e servidos na hora e os famintos são disputados a tapa pelas dezenas de barraquinhas do Marcado, sempre com preços populares , para o povão, para o trabalhador e para nós, mochileiros mãos de vacas que queremos experimentar de tudo . Nas ruas das cidades, é comum ver pessoas arrastando 3 ou 4 cabras e vendendo leite tirado direto da fonte .Nas esquinas, Cholas vendem de tudo que sirva pra comer . Eu não tô nem aí , com estômago de avestruz, como tudo que posso, bebo tudo que encontro, mas minha esposa , depois que voltou do Peru com um bactéria dificil de curar, evita os sucos com água de procedência duvidosa . Um dia estou com diarreia, dois dias depois, já estou bem e 3 dias depois a minha barriga já está reclamando novamente, mas faz parte, viajar é isso, se jogar no desconhecido da cultura local, da comida , que é a essência de um povo. TRANSPORTE NO EQUADOR. Viajar pelo Equador de transporte público, talvez seja a coisa mais sensata que fiz na vida em todos esses anos viajando pela América do Sul . Já devo ter contado, pelo menos pra quem me conhece a mais tempo ou tem uma vivência proxima a mim, sobre os perrengues passados pelo Peru e principalmente pela maravilhosa Bolívia , onde andei até em caminhão de carregar boi, quando nosso ônibus quebrou na Cordilheira dos Andes. Mas o Equador é simplesmente diferente de tudo que já vi em matéria de eficiência, lá o transporte público , além de funcionar, é extremamente BARATO. Pra ter uma ideia, o metrô, que é moderno , limpo e rápido, custa míseros 45 centavos de dólar, ou seja , 2 reais em média, mesmo preço de qualquer ônibus que integra o sistema publico de QUITO. Uma passagem para uma cidade distante uns 100 km, custa em média 20 reais , sendo que aqui no Brasil, ir de Campinas à São Paulo, que tem essa mesma distância, custa 51 reais . Chega a ser inacreditável como eles conseguem manter um intervalo de não mais de 15 minutos entre uma cidade e outra numa distância até uns 200 km uma da outra. E o melhor, todo trecho é proporcional, paga-se somente até onde vc vai. Como exemplo, digamos que um ônibus saia de São Paulo e esteja indo para Salvador , se tiver vaga , vc sobe e pode descer em Jundiaí, pagando pelo trecho. E assim funciona em todo país. E não tem frescura,vc sobe com mochila cargueira e leva lá dentro com você, que pode por no bagageiro interno, como no avião. Na maioria das cidades, os táxis tem preço fixo na cidade inteira, você sobe e vai pra qualquer lugar pagando 2 dolares( 10 reais) e isso facilita muito, porque taxi tem às centenas. Os onibus , que ligam um lugar a outro , na sua grande maioria são onibus de viagens, confortáveis, nada desses coletivos mequetrefes fedendo a dieesel. Basta vc dar com a mão e subir no ônibus, as vezes até em movimento e tomar seu assento , que logo mais virá alguem te cobrar a passagem pelo trecho proporcional e engraçado, você pode fazer isso até dentro das rodoviárias, nem precisa ir no guichê. Quanto se chega nos "Terminais Terrestres" , já ouve a gritaria : " À QUITO, À QUITO, À QUITOOOOO" . Em algumas cidades, tem transportes específicos, como em BAÑHOS, que tem caminhões para te trazer de volta à cidade quando vc faz o roteiro de uns 20 km descendo a rota das cachoeiras, de bicicleta e custa míseros 15 reais com bicicleta e tudo, alias o próprio aluguel de uma bike top, custa 25 reais para o dia todo. Em Parques Nacionais, principalmente nos Vulcões COTOPAXI e CHIMBORAZO, vc pode alugar um 4 x 4 com motorista, que também será o guia por 40 ou 50 dolares para 4 pessoas, que dividido é uma merreca , que não paga uma cachoeira barrenta em Brotas-SP. Fora mulas e cavalos em lugares que não passa veículo. Em cidades do litoral, temos os TUK-TUK que servem de taxi e cobram míseros 5 reais para te levar para qualquer lugar do municípios. Eu , aqui no Brasil, fico imaginando porque ainda temos um transporte público MISERÁVEL, principalmente no interior, onde a passagem é cara , os ônibus são ruins, com intervalos longos e ineficientes . O Equador, que obviamente é um país imensamente mais pobre que o Brasil, consegue proporcionar ao seu povo, um transporte descente. Será que esses nossos políticos não conseguem ter uma mínima visão do que acontece em outros países pra tomar como exemplo ou estão sempre vendidos ao sistema de empresas de ônibus, que só visam o lucro acima de tudo, ( as empresas e os políticos). FINALIZANDO Por quase 20 dias, rodopiamos pelo Equador, ainda que eu tenha ouvido de muitos a indagação do que iríamos cheirar lá, num país pouco ou nada conhecido por brasileiros, exceto os mochileiros mais ousados. OUSAMOS, saímos do óbvio , como sempre fizemos . Mochilas nas costas , a cara e a coragem de descobrir lugares, paisagens deslumbrantes , cidades históricas, povoados isolados, vulcões, montanhas gigantes, vales , cachoeiras , experimentar comidas diferentes ao nosso paladar, interagir com gente tão diferentes de nós que parecíamos viajantes de outro planeta. Nos jogamos nas culturas locais, por hora derrapamos no idioma, mas no fim, sai de lá como um fluente na língua local. Viajamos de avião, de trem, trólebus, 4x4, a pé, de carona , de ônibus, de tuk-tuk, metrô, caçamba de caminhote, de caminhão, de bicicleta e por incrível que pareça, até de mula andina. Um dia em cada lugar, vendo o mundo passar diante dos nossos olhos, da Cordilheira do Andes às portas da Amazônia, pelas altitudes acima dos 5.000 , ao nível do mar no fantástico Oceano Pacífico. Uma hora enfiado nas bordas das geleiras de um vulcão, outra hora imersos nas águas quentes das piscinas termais , um noite deitado num hostel perdido à beira de uma rodoviária, outro dia num hotelzinho nas bordas de um vulcão alagado a quase 4 mil metros de altitude. Eu disse, viajar é uma arte, mas viajar com os proventos de um trabalhador comum, é uma ciência. Tudo foi estudado, planejado, ainda que viajemos ao sabor do vento, tudo é minunciosamente pensado para que a aventura saia do papel . E o resultado foi simplesmente MÁGICO, tudo , exatamente tudo, correu como o planejado, com pequenas mudanças ( também pensadas) ao longo da viagem. E o EQUADOR fica para trás e a certeza de termos mergulhados num dos países mais incríveis da América do Sul, povo sensacional, educado, pacífico , receptivo. Em nenhum, mas nenhum momento mesmo, nos sentimos inseguros ou ameaçados por algum tipo de violência. Voltamos para o Brasil , saímos do Equador, mas o Equador jamais sairá de nós e é bem provável que no futuro, quando me perguntarem desse pequeno grande país do MEIO DO MUNDO, responderei com a voz embargada e me lembrarei desses dias que lá passamos, mais um capítulo das nossas vidas de viajantes, num livro que já tem páginas de mais , mas que está longe de terminar, porque nas nossas cabeças, mal passamos do prefácio . Divanei Goes de Paula , Abril - 2024 Divanei Goes de Paula
  11. Valeu muito menina, num mundo onde algo que tem mais de 2 parágrafos praticamente não é mais lido, fico feliz que alguém aianda perdeu seu tempo com um relato. Obrigado, abraços.
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