Em maio de 2017, eu e uma amiga viajamos 22 dias pela Ilha.
Fomos para Havana (03 noites), Varadero (04 noites), Santa Clara (02 noites), Santiago (02 noites), Trinidad (02 noites), Ciefuegos (02 noites), Viñales (02 noites) e, por fim, voltamos para Havana (04 noites).
Fotos: https://www.instagram.com/despacito_en_cuba/?hl=pt-br Curso de Espanhol: da próxima vez que for à Cuba, quero fazer duas semanas de aula na Universidade de Havana. Eles tem cursos de espanhol e de cultura cubana para estrangeiros: http://www.uh.cu/cursos-de-espanol
Hospedagem: Ficamos em casas de família (+- 20 CUC/noite/quarto). Saímos do Brasil com quase tudo reservado. Grande erro. Em baixa temporada, é possível encontrar boas casas sem reservar antecipadamente e negociar o preço.
https://www.mycasaparticular.com
https://www.airbnb.com.br/
Alimento: Na maior parte da viagem, comemos em restaurantes populares, pagando em moeda nacional (+- 2CUC/noite/prato).
Seguro viagem: Fizemos um aqui no Brasil e não nos foi solicitado em momento algum, porém, uma amiga precisou se internar no hospital por uma crise de bronquite e foi necessário para cobrir os gastos (sim, os hospitais, para os cubanos, não é pago, mas nós não contribuímos com o sistema e precisamos pagar pelos serviços).
1. HAVANA
Em trinta de abril, chegamos à Havana para participar, no dia seguinte, do 01º de mayo. Milhares de cubanos nas ruas. Caminhamos em paz, sem a polícia nos amedrontando com seus carros e cavalos a empurrar os manifestantes e sem suas armas em punho apontadas para a multidão. Trabalhadores, crianças e estrangeiros com cartazes repletos de mensagens pedindo o fim do bloqueio, exaltando seus líderes e suas conquistas revolucionárias.
Ficamos em casas de família e isso nos indaga até hoje. Como conviver com o fato de pagarmos 20 CUCs por noite quando o salário médio é de 18CUCs? Ouvimos que o governo pretende regulamentar a hospedagem particular para evitar que se crie uma grande disparidade social, o que tem ocorrido muito com as atividades ligadas ao turismo.
Os cubanos são especiais. Todos querem conversar, sem pressa, sem o tempo do capital que nos isola e nos escraviza. São abertos, curiosos, adoram ouvir, falar sobre suas vidas e sobre a história de seu país. Voltamos encantadas e com uma saudade incontrolável. Saudade das cores, da vida pulsante nas ruas, da música que se ouve em cada esquina....
Em todos os prédios há placas em homenagem aos mortos que lutaram pela Independência e pela Revolução e até as notas de CUPs são estampadas com seus heróis. Todos sabem dizer quem são e o que fizeram pelo país.
PASSEIOS
Caminhar sem destino por Havana Vieja é viajar no tempo e sentir o paradoxo que Cuba nos traz o tempo todo.
MUSEUS
Visite os museus todos (o de Bellas Artes, o da Revolução, da África...) e converse, pergunte, questione. Os cubanos adoram conversar, contar sobre suas vidas, suas histórias.
Conversar é uma ótima chance de entender o que foi a Revolução e como é o dia-a-dia das pessoas. Em geral, quem tem contato direto com o turista tende a apresentar uma realidade diferente das pessoas que estão fora deste circuito.
MÚSICA
Infelizmente, em maio a FAC (fábrica de arte cubana) estava fechada. Verifiquem se estará aberta quando forem, dizem que é maravilhosa!!!!!
Vá ao Bodeguita del Medio e, se puder, conheça o músico Alessandro. Pessoa doce e inteligente. Diga que brasileiras nipônicas mandaram abraços.
Dance e ouça son pelas vielas de Havana Vieja. Num bar pequeno (se não me engano, o The Tavern), descobrimos a banda "Andy´s son". Simpáticos e talentosos.
Ouça jazz no La Zorra y El Cuervo e, por sorte, também, descobrimos em um restaurante bem pequeno, no meio de Havana Vieja um trio de mulheres tocando jazz. Lindo!
No primeiro dia de viagem, acabamos caindo na conversa de uma cubana que nos disse que haveria um show com alguns integrantes do Buena Vista em comemoração ao Primeiro de Maio. Fomos e o show, apesar de muito bom mesmo sem os integrantes do grupo, foi bem turistão, num prédio antigo super bonito: Sociedad Cultural Rosalia de Castro.
FREE WALKING TOUR
No último dia do retorno à Havana, fizemos o walking tour pro fechamento da viagem. Recomendo. Os meninos são bem preparados e é muito interessante acompanhar os europeus e americanos descobrindo o que foi a Revolução.
LIVRARIAS
Havana tem muitas livrarias e uma feirinha incrível de livros, discos e bottoms históricos perto da Plaza de Armas.
Dicas: livros de fotografias são bem mais baratos que no Brasil.
VARADERO
Fomos para Varadero. Reservamos um apartamento, bem longe dos resorts, num bairro residencial, sem a loucura do turismo. Foi uma das nossas melhores escolhas. Lá, pensei que havia perdido meu passaporte, o que me fez passar um dia na delegacia e conhecer seu funcionamento. A cidade toda se pôs a nos ajudar, os vizinhos abriam suas casas para conversarmos e tomarmos café, saíam pelas ruas a procurar o documento e, quando passávamos, queriam saber se já o havia encontrado.
DANÇA
Em Varadero, saíamos para dançar. Fomos as três noites à Calle 62. Um palco ao ar livre em que uma banda toca ao vivo. Turistas e cubanos se misturam e dançam a noite toda!
Não fomos à Casa de La Música, pois é uma casa fechada, estilo balada.
COMO CHEGAR
Fomos de táxi compartido de Havana (20 CUCs por pessoa).
SANTA CLARA
Visitamos, na cidade, a Federação de Mulheres Cubanas. Lá, conhecemos o trabalho da Vilma Espín, esposa de Raul, que lutou na Sierra e coordenou a implementação dos direitos das mulheres durante a Revolução. Hoje, seu trabalho é continuado por sua filha Mariela, que milita junto à comunidade LGBT de Cuba.
Aprendemos sobre as creches e escolas cubanas, sobre a licença maternidade, que, também, pode ser estendida aos avós ou ao pai. MARAVILHOSAS!
Conhecemos uma farmacêutica que havia participado de uma missão na Venezuela e nos contou suas impressões e o quão importante é conhecer os rincões de miséria do mundo para que as gerações atuais vejam Cuba e entendam seu sistema. Isso nos foi falado por mais de uma pessoa e, perplexas, ouvimos caladas sobre como foi a recepção brasileira aos médicos cubanos.
Há uma escola em Santa Clara em que são ensinados idiomas para os trabalhadores. Conhecemos o Professor Mário, que dá aulas de português. Simpático e curioso. Se puderem, vão até lá e assistam uma aula.
HOSPEDAGEM
Reservamos uma casa pelo airb&b: https://www.airbnb.com.br/rooms/15561338
Os proprietários desta casa são um engenheiro e uma médica. O casal tem uma visão diferente sobre o socialismo. Ele, engenheiro, e quem cuida do turista, é contra o regime. Ela, médica e professora, a favor.
COMO CHEGAR
Fomos de ônibus, Via Azul, de Varadero (+- 200km - 3 horas de viagem).
PASSEIOS
- Memorial e Museu do Che: imperdíveis.
Há uma livraria na entrada, com muitos livros sobre a revolução. Quando fomos, tive uma conversa de longa e imprescindível com o vendedor, que me falou sobre seu dia-a-dia, sobre o funcionamento dos CDRs e da Federação de Mulheres Cubanas, contou-me sobre as eleições e seu cotidiano.
(http://www.parlamentocubano.cu/index.php/x-cuba-aplicacion-movil-para-android/)
Nossa lógica de candidaturas políticas pelo marketing é completamente absurda para eles, que tem representantes de bairros, zonais, distritais...
- Monumento à Tomada do Trem Blindado
- Estátua do Che y el niño e Loma del Capiro
Vale a pena ir à Loma del Capiro e estudar sobre o monumento. Quando fomos, o pintor Michael estava por lá e nos contou a história da tomada da Loma, seu significado e batemos um papo sobre Brasil, Rússia, Cuba...
SANTIAGO DE CUBA
HOSPEDAGEM
Reservamos uma pelo airb&b: https://www.airbnb.com.br/rooms/8591172
Casa grande, arejada e localização boa.
COMO CHEGAR
Fomos de ônibus, Via Azul. A viagem de Santa Clara a Santiago é longuíssima. Quase 12 horas!!!! Se puderem, façam uma parada em alguma cidade intermediária.
ONDE COMER
Em todas as cidades procuramos comer nos locais mais populares e frequentados por cubanos, gastando, no máximo, 2 CUCs.
Aqui em Santiago, decidimos almoçar em um restaurante de frutos do mar e não nos arrependemos! Recomendo o Thoms Yadira Restaurant. MARAVILHOSO e o preço não é caro!
https://www.tripadvisor.com.br/Restaurant_Review-g147273-d12507816-Reviews-Thoms_Yadira_Restaurant-Santiago_de_Cuba_Santiago_de_Cuba_Province_Cuba.html
PASSEIOS
- Cemitério Santa Ifigênia: onde estão enterrados Fidel, José Martí e os combatentes do Quartel Moncada.
- Centro Histórico de Santiago
- Plaza del Céspedes
- Museu Bacardi
- Casa Diego Velazquez
- Catedral Nossa Senhora da Assunção
- Museus
Fomos ao museu do Carnaval, ao Museu Bacardi e ao Museu da Luta Clandestina.
Valem a peNa a visita e solicitem sempre um guia!
Se tiverem sorte, haverá músicos no museu do Carnaval fazendo um som!
- Cuartel Moncada y Hospital Militar
Em Santiago, não se pode deixar de visitar o Hospital Militar e, ao seu lado, o Cuartel Moncada, cuja tomada deu início à Revolução de 1959.
- Livrarias e Galerias de Arte
Infelizmente, a livraria Escalera estava fechada nos dos dias em que estivemos em Santiago. Dizem que é linda, com as paredes repletas de livros e cheia de raridades.
Nas nossas andanças pela cidade, conhecemos uma galeria de arte, bem próxima ao Museu do Carnaval. As obras de "Ache" estão lá expostas e contam as histórias de Alejo Carpentier. Vale a pena a visita e a conversa!
Em todas as cidades que visitamos fizemos as visitas nos museus com guias, que são preparadíssimos. Antropólogos, historiadores e profundos conhecedores do seu país e da sua arte, cujo trabalho é valorizado pelo Estado e pela sociedade.
Voltamos com muitas cartas para escrever e com a vontade de voltar.
TRINIDAD
COMO IR
Santiago a Trinidad, fomos de Via Azul, durante a madrugada. Viagem longa. 10 horas, aproximadamente.
PASSEIOS
Trinidad é um charme! Ruas de pedra e construções coloridas, bem conservadas. Galerias de arte por todo canto e muita música.
Se derem sorte, poderão ver os artistas pintando em seus ateliês.
MUSEUS
Na Plaza Mayor estão localizados diversos museus:
- Museu Romântico:
Antigo palacete, onde é possível ver afrescos originais e móveis da época.
- Museu de Arqueologia:
Objetos de pedra, cerâmica e ferro narram a história de Cuba.
Vale a pena bater um papo com a diretora do local sobre a Revolução e o que esta modificou na estrutura social de Cuba, principalmente, em relação aos negros!
- Casa de Rafael Ortiz
Exposição de artes e uma vista maravilhosa da cidade.
- Torre da Igreja de San Francisco
Bela vista da cidade.
- Museu da Lucha contra Bandidos
Um pouco mais sobre a história de Cuba e as inúmeras tentativas americanas de colonizar a Ilha.
MÚSICA
Por todo lugar, ouve-se música. Afrocuban jazz, rumba, son, salsa.
Fomos a um restaurante pequeno, numa rua qualquer, e lá ouvimos bossa nova!
Há, também, o Palenque de los Congos Reales, que, no dia, assistimos a uma apresentação de música tradicional cubana.
E, à noite, dançamos salsa e ouvimos uma banda ao vivo nas escadarias da Casa de la Musica.
Trinidad é uma delícia de cidade. Gostaríamos de ter ficado mais tempo!
CIENFUEGOS
Em Cienfuegos, visitamos o Palácio de Cienfuegos, hotel onde ficou hospedado Hugo Chávez. Tivemos uma sorte enorme de conhecermos Miriam, uma mulher incrível, poeta e que leu um poema escrito por ela em homenagem a Che Guevara para Chávez.
Cienfuegos foi a cidade dos encontros. Nos hospedamos na casa de duas professoras aposentadas fofíssimas! Milhares de livros sobre a Revolução e móveis que pertenceram aos seus bisavós! Entusiastas e conscientes das mudanças sofridas em Cuba. Em sua casa, diversas homenagens pela participação ativa na formação de crianças e na atuação nos CDRs em prol da construção de uma sociedade melhor.
ONDE FICAR
RECOMENDADÍSSIMAS: https://www.airbnb.com.br/rooms/16749933
Esta é a casa de Gladys e Miriam:
COMO CHEGAR
Fomos de táxi compartilhado. A viagem de Trinidad a Cienfuegos é curta, porém, se decidirem ir de ônibus, comprem os tickets assim que chegarem!!!! As passagens esgotam rapidamente.
PASSEIOS
Fomos para a cidade no feriado do dia das mães, logo, pegamos a cidade vazia e tudo estava fechado.
Caminhamos pelo centro, visitamos os prédios e os museus, que nos decepcionaram bastante. As guias quase nada explicavam e, muitas vezes, fingiam que não havia visitantes.
- Teatro Tomás Terry
Infelizmente, o teatro não está bem conservado, porém, vale a visita.
- Sorveteria Coppelia
Tradicional sorveteria cubana e com ótimo preço (pago em CUP).
- Caminhe pelo Malecón de Cienfuegos.
Quase ao final, visite o Palácio do Valle, cuja arquitetura tem forte influência árabe e, de lá, assista ao pôr-do-sol. Belíssimo!
Ao lado, há o Palácio de Cienfuegos, hotel onde ficou hospedado Hugo Chávez. Se tiverem sorte, serão recepcionados por Miriam, uma mulher incrível, poeta e que te contará como foi a recepção da comitiva venezuelana.
- Punta Gorda
A vista e o caminho até lá são bem bonitos, porém, nos decepcionamos com o lugar. Muito cheio e não nos pareceu que a água seja limpa.
VIÑALES
Dormimos duas noites em Viñales. Cidade com muito verde, casas coloridas, cavalos e céu espetacular. As fazendas, antes pertencentes a poucas famílias, com a Revolução, passaram a pertencer a pequenos agricultores após a Reforma Agrária.
Vá até o mirante e, de lá, observe o sol se pondo atrás dos mongotes ouvindo os passarinhos.
Infelizmente, não tivemos mais tempo para outros passeios. Porém, se tiverem, dizem que os Cayos são lindos, assim como alugar uma bike e ir para as cavernas!
MÚSICA
Pague dois CUCs e vá dançar na Casa de La Música.
Cuba nos deixou com o sonho de que, sim, podemos viver em um país em que o tempo de vida é determinado por aquilo que nos dá prazer, pelo conhecimento do outro, pelo tempo do estar junto e de se formar como ser humano, pensante, musical, culto e altruísta.
O povo cubano é consciente do que vive. Nos davam aulas de história sobre seu povo, sobre o orgulho de terem sempre lutado, por sua independência, pela Revolução e pela manutenção desta. Logo que chegamos, havia em todas as ruas papéis convocando a população para a Assembléia de Prestação de Contas dos CDRs.
A questão do regime é controversa. A impressão que tivemos foi a de que muitos dos que vivem em contato com o turista já não são mais a favor do socialismo, talvez, por pensar que, caso implementado o capitalismo, seriam como essa porcentagem mínima que consegue ter a grana necessária para viajar e ter acesso a bens de consumo, já que a miséria do capital não chega até eles. A maior parte das pessoas que conversamos fora do roteiro turístico é a favor do regime e consciente das conquistas deste.
Cuba nos mostrou o quão desumano é ser criado sob o capitalismo. Vivenciamos e nos percebemos formadas sob a cultura do medo em oposição à beleza e à liberdade da vida cubana, que não tem medo do outro, que ocupa suas ruas e cria suas crianças livres. Que as escolhas profissionais podem e devem ser feitas por prazer, por aptidão.
Hoje, voltamos (e vivenciamos) com a certeza de que a formação do homem sob o socialismo o torna mais humano, mais solidário e empático. Viva Cuba!
Dicas finais:
- Cuba toda é muito segura!
- CONVERSEM! Conversem com todas as pessoas que puderem. Desde os proprietários das casas, os garçons, os guias dos museus, as pessoas que sentam ao seu lado nas praças, com os taxistas. Os cubanos, em geral, são abertos, curiosos e adoram ouvir e falar sobre suas vidas. Voltamos encantadas e com uma saudade incontrolável.
- alugamos uma bicicleta pra nos locomover de Havana Vieja a Miraflores. Conhecemos muitas ruas e bairros diferentes. Foi intenso, diferente, porém, os habaneros não estão acostumados com ciclistas.
- negocie tudo!
- ande com CUCs (pesos convertibles) e CUPs (moneda nacional).
- se possível, leia todo os dias que estiver em Cuba os jornais.
- procurem a Casa de la Musica da cidade. Em geral, a programação é ótima e os prédios, históricos e bem conservados.