Nando,
Cansou o braço? kkkk Eu era guia por vocação e altruísmo... Fazia as minhas trilhas e os agregados iam aparecendo e iamos todos junto. Bons tempos aqueles...
Se for desvio do tópico peço orientação.
Por sorte comecei a ir a Morro de São Paulo e Chapada Diamantina quando eram destinos isolados. Só depois com a vinda dos "paulistas" é que as coisas mudaram, e muito. Consegui acompanhar o processo do turismo e os seus impactos. Tenho até uma máxima de que todo turista é nocivo, sem excessão. A minha mongrafia de primeira graduação foi sobre o tema ecoturismo e chapada diamantina (mas isto não vem ao caso agora).
O primeiro problema, quando da implantação do turismo, é o abuso da boa vontade do nativo. Normalmente é o mochileiro (peço muita paciência na interpretação do argumento) que abre os caminhos, descobre as dicas e amansa os locais com ajuda, troca de informações. Junto aos mochileiros chegam os porra-loca. Estes são os naturalistas que, na maioria das vezes apresentam as drogas aos nativos (segundo problema) e, por serem pessoas com poder aquisitivo razoável acabam por começar a comprar as terras dos nativos (claro que não são todos, somos adultos e conseguimos interpretar tendências).
A compra da terra (terceiro problema) expulsa o local dos seu histórico de vida e da sua forma de lidar com aquele local. Lentamente os porra-loca crescem ou perdem a mesada do pai e vão embora, a terra, então, é vendida para o especulador que vai e abre o restaurante, pousada, estrutura de turismo. O Nativo passa, então, a trabalhar para este "de fora" e sempre nos piores cargos, afinal, é uma pessoa desqualificada.
As mulheres para cozinha, copa e limpeza; os homens para limpeza, serviços gerais e guias. Pronto, de maneira caricatural é assim que se processa o fenomeno turismo. Podemos tirar algo de positivo? claro... O desenvolvimento social, a possibilidade de emprego, melhoria das condições de vida, mas os nativos sempre à parte. Como se vê em Costa do Sauípe, Jamaica etc...
É bom, para o local e melhor para o "de fora". E neste fenômeno o meio ambiente tb sofre. òbvio que eu quero ver golfinho em noronha, tartaruga nas galápagos, condor nos andes, baleias em SC e pinguins na patagônia. Qual o crime nisto? afinal, são estes os motivos que nos fazem sair de casa. Se realmente quiséssemos preservar a natureza pediriamos isolamento da área e veríamos por foto.
Mas voltando ao meu trabalho de monografia. Fiz alguns levantamentos de impacto de frequencia, capacidade de carga e estes trens.. Existia um caminho na Chapada que ligava lençóis ao ribeirão do meio. Já tinha uns 70cm de profundidade (1997), quando chovia virava uma poça e as pessoas, fizeram outro caminho. Quando estive lá pela última vez já eram 3 caminhos e os dois primeiros bem fundos.
O que quero dizer com isto é que o impacto negativo vai acontecer independente do nível de esclarecimento ambiental ou espiritual do indivíduo. O andar na trilha gera impacto. Mas e se limitarmos o acesso? bem, seria no mínimo injusto com aqueles que não podem agendar uma viagem por condição do ambiente. Além de que é isto que aumenta o preço dos destinos, este exclusivismo resultante da capacidade de carga faz com que o preço seja maior. Como por exemplo Bonito, o destino mais caro do Brasil... Esta discussão é longa, antiga e chata.... Sem contar que cheia de falsidades e mentiras. Tem solução? se eu soubesse escreveria um livro daria palestrar e ficaria rico... Uns acham que não tem que restringir, outros que tem, mas todos querem ir... De preferencia que se restrinja o outro, claro.
Na trilha da fumaça por baixo, encontrei com um outro grupo de trilheiros. Estrangeiros guiados por uma mulher. À tarde fui tomar banho com o meu grupo e uma pessoa perguntou se poderia usar sabão de coco. Eu disse que não seria interessante, mas por ser uma mulher e a higiene ser algo fundamental, se ela precisasse muito... Poderia usar com cuidado. A guia ouviu e fez aquele fuzuê.... Eu fiquei até com vergonha... Eu passei a ser um destruidor da natureza... Nem dormi durante a noite..
Pela manhã fui acelerar a trilha num esclarecimento de terreno, antes do grupo sair, e quase 1km rio acima quem eu encontro? a tal guia com um dos gringos... Cochicho daqui, cochicho de lá.. Pensei, tá rolando um affaire (coisa muito comum entre guia e guiado), quando vou dar aquela espiadinha despretenciosa... Estavam os dois escovando os dentes com pasta de dente e coisa e tal... Eu só pude rir... O falso moralismo em alta escala.
E acreditem é assim o tempo todo. A degradação ambiental é o preço que o meio ambiente paga pela sua beleza... Não fosse assim os alemães e austríacos não odiariam cada vez que se cria um parque nacional, pois vira local de peregrinação e destruição.
Alexandre