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Aventura na região de Diamantina

 

Nas trilhas dos diamantes, de 26 de dezembro de 2015 a 01 de janeiro de 2016

 

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Minha primeira aventura em uma moto de pequeno porte. Foram cerca de 1500 km de ida e volta percorridos entre a cidade de Vitória da Conquista, situada na Bahia e a localidade de Milho Verde, em Minas Gerais.

Depois de pensar muito sobre essa aventura e o que poderia acontecer no decorrer da viagem, após ler inúmeros relatos de amigos aventureiros com motos de pequena cilindrada, e do incentivo do meu amigo Pepe Chaves, tomei coragem e decidi meter o pé na estrada. Nesse tempo, apenas uma troca de óleo e dois ajustes na corrente, nada mais, encarando buracos, caminhões, chuva e muita poeira.

Agradeço a Deus por ter corrido tudo bem. Voltei intacto, sem nenhum arranhão, nem ao menos um susto. Essa foi apenas a primeira aventura desse porte de outras que virão. Não sei se farei um percurso tão grande novamente, pois o cansaço é enorme, ainda mais quando se encontra um caminho de terra pela frente, cheio de pedras, buracos, costelas de vaca e poeira, intermináveis.

Peguei um trecho na viagem que gastei duas horas para vencer 42 km de estrada de chão. Em certos locais havia tanto pó que a moto derrapava até em primeira marcha. Não poderia extrapolar o limite de velocidade além dos 15 ou 20 km/h, pois senão minha moto poderia ficar pelo meio do caminho.

Para piorar a situação, ao longe vi uma enorme nuvem cinzenta se aproximando, com relâmpagos e trovoadas. Não tardou para que o céu desabasse. Minha salvação foi uma barraca na beira da estrada onde se encontrava um rapaz vendendo abacaxis. Aproveitei para dar uma parada, saborear um suculento fruto, enquanto aguardava a chuva passar. Fiquei ali por volta de trinta minutos já preocupado com o fato de não chegar no horário combinado. Tentei me comunicar com o Pepe, que estava vindo de Belo Horizonte, mas não havia sinal para o meu celular. O jeito era seguir caminho assim que a chuva estiasse.

Passei por Itaobim, onde, para meu alívio, deixei a temida BR 116 para trás. Tomei uns goles de água e comi mais bananas. Descansei um pouco, para não muito, pegar a pista outra vez. A próxima parada foi em Araçuaí, de onde consegui enviar a última mensagem para o Pepe.

Foi um imprevisto que me fez chegar atrasado à cidade onde combinamos, eu e o Pepe Chaves, que nos encontraríamos: a cidade de Couto de Magalhães de Minas, não muito distante de Diamantina. Caso contrário teria chegado a tempo, conforme meus cálculos.

O calor era infernal. Quando se faz uma viagem assim, não cabe apenas registrar as belas paisagens. A seca que paira às margens do rio Jequitinhonha é notória e preocupante. Parte do rio só se vê bancos de areia.

Após vencer o terrível obstáculo com 42 km de terra entre Virgem da Lapa e Lelivéldia, no Estado de Minas, passei por outros pontos do meu roteiro com pista de melhor qualidade até chegar em Couto, mais ou menos após as 19 horas, imaginando que o Pepe já estaria por lá. Para minha surpresa, ele havia enfrentado o mesmo problema que o meu: chuva e poeira pelo caminho.

Antes eu tentei novamente entrar em contato com o Pepe, mas, sem sucesso. Não havia sinal para o meu celular. Pedi então a um rapaz que estava no bar, o celular dele emprestado, uma vez que era da mesma operadora do Pepe. A princípio não consegui com a primeira ligação. Optei por passar-lhe uma mensagem, dizendo que já havia chegado a Couto. Quando estava saindo do bar, o mesmo rapaz me chamou, dizendo que estava recebendo uma ligação do Pepe. No final deu tudo certo, com ele me informando sobre os problemas enfrentados e que logo estaria chegando ao nosso local marcado.

Passados alguns minutos, finalmente nos encontramos. Pelo fato de já ser noite, decidimos procurar um local para dormirmos, para no dia seguinte, tocar rumo a Diamantina, dali para Milho Verde.

A imagem abaixo ilustra a nossa saída da cidade de Couto de Magalhães

 

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No início, quando o meu amigo Pepe Chaves perguntou se alguém topava ir com ele para Milho Verde, um pequeno e aconchegante povoado turístico de Minas Gerais, onde se encontram algumas belas cachoeiras, comida saborosa e pessoas receptivas, como o dono do acampamento, o senhor Ademar e sua esposa Ângela, logo respondi que topava.

Apesar de não ter sido uma resposta definitiva e das dúvidas que pairavam sobre a viagem, pedi um tempo ao Pepe Chaves para poder refletir. Nunca havia encarado antes um percurso tão longo em uma moto de 125 cilindradas. O meu desejo de participar dessa aventura era imenso, porém sempre ficava imaginando o que poderia encontrar pelo caminho. Uma das principais dúvidas era se a moto aguentaria tamanha jornada. Então comecei a buscar freneticamente relatos de pessoas aventureiras, que encararam enormes distâncias munidos de suas pequenas motocicletas. Num desses relatos que encontrei, um me chamou bastante a atenção: a incrível aventura de um professor, percorrendo aproximadamente 4500 km em uma Hunter de 90 cilindradas. À medida que ia lendo tais relatos, minha coragem aumentava na mesma proporção. O medo não era da viagem, era de ficar pelo meio do caminho, que a moto não suportasse tamanho esforço.

Enfim, o amor pela aventura e a natureza acabaram decidindo a seu favor. Um dia antes de partir, arrumei toda a bagagem na traseira da moto. Roupas, colchonete, barraca, material de primeiros socorros e algumas ferramentas. A carga ficou enorme, mas consegui deixar tudo bem preso usando as cordas de elástico, muito úteis para tal eventualidade. Em outra mochila de menor tamanho, apenas material de uso frequente como água, alimento e outros itens essenciais de uso pessoal.

Detalhes da bagagem na imagem abaixo. Parada na ponte sobre o rio Jequitinhonha

 

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Coloquei o celular para despertar às 5 horas, porém acabei levantando mais cedo. Tomei um banho, fiz um café, peguei meu material e parti no sábado, dia 26 de dezembro de 2015. Na saída senti um desconforto por causa da mochila nas costas, então mudei de posição, colocando-a em minha frente. Assim ficou mais confortável durante toda a viagem. O resultado disto foi por causa das duas pencas de bananas que coloquei ali dentro. No final nem comi todas. Ao término da viagem, já não eram mais bananas que eu estava carregando.

Ao sair de Vitória da Conquista, Bahia, o sol ainda estava adormecido. Quando cheguei aos limites da cidade com a BR 116, comecei a pensar no tráfego intenso de caminhões. Respirei fundo e fui em frente, tentando manter a tensão sob controle. Graças a Deus tudo correu bem, sem maiores sustos. A pista muito boa, com acostamentos e trechos de faixas adicionais, contribuiu para a minha segurança. Meu olhar não saia do retrovisor por mais do que 10 segundos. Quando eu avistava um caminhão se aproximando, logo jogava a moto para a direita, procurando manter a maior distância lateral possível. Alguns caminhoneiros até buzinavam em sinal de agradecimento, o que retribuía de imediato.

Cheguei a Cândido Sales, uma das cidades cortadas pela BR 116, por volta das seis e meia. Descansei um tempinho, enviei uma mensagem para o amigo Pepe Chaves, informando sobre a minha localização naquele momento. Segui em frente, passando por Divisa Alegre, cidade na Divisa de Minas com Bahia. Fui tocando adiante quando decidi parar para tirar uma foto de uma placa indicando os limites da divisa entre os dois Estados.

Na manhã seguinte, dia 27 de dezembro de 2015, abastecemos as motos e partimos rumo a Diamantina, cidade onde está localizado o Parque do Biribiri. Chegando lá, na entrada da cidade, tiramos fotos das placas indicadoras de localidades. No caminho para Biribiri, encontramos um personagem simpaticíssimo, o senhor Wandir, dono do Bar da Pedra. Simplesmente uma pessoa humilde e muito atenciosa. Conversamos bastante sobre os locais que pretendíamos visitar, tomando um refrigerante para matar a sede, enquanto o ouvíamos falar.

Imagem ilustrativa de uma das placas em Diamantina, indicando o caminho para o Parque Biribiri

 

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Na imagem abaixo, Pepe e o Senhor Wandir, fazendo uma selfie

 

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Eu fazendo uma pose no Bar da Pedra

 

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Despedimos do senhor Wandir, agradecendo sua gentileza. Logo acima do Bar da Pedra, na porta de entrada do Parque, fomos orientados sobre os procedimentos a serem seguidos durante nossa estadia por lá. Continuamos por uma estrada de terra até a primeira atração, a Cachoeira dos Cristais. Deixamos as motos estacionadas, passamos sobre uma velha ponte de madeira, provavelmente construída pelos escravos, tiramos fotos e aproveitei para tomar um delicioso banho nas águas geladas dos Cristais.

Placa indicando a Cachoeira dos Cristais e a Vila do Biribiri

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Pepe na ponte de madeira que dá acesso à Cachoeira dos Cristais

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Aqui, a Cachoeira dos Cristais

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A segunda atração, a Cachoeira da Sentinela, no caminho para a Vila de Biribiri. Passamos um tempo ali tirando fotos e filmando o local. O único ponto negativo foi uma placa indicando área proibida para banho. Indagamos a um turista que estava no local sobre o porquê de aquela placa estar ali, mas ele não soube responder. O Pepe suspeitou que fosse um esgoto, o que foi confirmado mais tarde pelo senhor Wandir, quando retornamos do parque.

Placa indicativa da Cachoeira da Sentinela

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Cachoeira da Sentinela no Parque Biribiri

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Fomos em frente, em direção à antiga fábrica de tecidos que operou tempos atrás no local. A tarde já estava se esvaindo e precisávamos encontrar um ponto onde passar a noite acampados. A questão é que todos os locais estavam proibidos de receber acampamentos. Na Vila de Biribiri perguntamos a um morador local se ele sabia de um lugar onde pudéssemos acampar. Segundo ele, não era permitido dentro dos limites do parque, mas que havia um local próximo onde costumava indicar. Não era da sua responsabilidade, porém ele o fazia.

Eu e o Pepe demos uma vasculhada na área. Infelizmente não encontramos um lugar apropriado para armar as barracas. O Pepe sugeriu um lugar onde havia uma areia no leito do rio que passava ao fundo. Achei pouco apropriado, uma vez que poderia chover e a água nos pegar de surpresa. Sem contar o fato de que répteis como cobras costumam ficar naquele tipo de ambiente.

Detalhes da antiga fábrica de tecidos e a Vila de Biribiri

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Enfim, concluímos que deveríamos voltar para a Cachoeira dos Cristais e procurar um lugar onde fosse possível firmar acampamento sem chamar a atenção de ninguém. Separamos-nos para agilizar a busca. Encontrei uma pequena trilha que acabava num local perfeito para acampar. Havia até indícios de que alguém já havia montado acampamento ali antes. Mostrei ao Pepe, esperamos que algumas pessoas que estavam na cachoeira fossem embora para não levantar suspeitas. Pegamos nossas motos e escondemos dentro do mato.

A noite se precipitava. Abreviamos a montagem das barracas, pois além da noite, uma chuva poderia cair a qualquer instante. Não tardou para que isto acontecesse. Foi apenas o tempo necessário para deixar tudo pronto. A chuva veio, com intensidade moderada, porém o suficiente para deixar a minha barraca com gotas de água pingando pelo teto. O Pepe também estava com problemas, mas conseguiu resolver colocando um pedaço de sacola plástica e uma camisa sobre o teto da barraca. Segui a ideia dele, conseguindo estancar a goteira, mas o piso ainda ficou molhado. Passei um pano para secar. Só não foi possível acender uma fogueira, ficamos um tempo conversando, em seguida fui dormir.

Local onde armamos as barracas para passar a noite. Pepe Chave e Al Cruz

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Saímos do Biribiri na manhã de domingo, dia 28 de dezembro de 2015. Na volta passamos novamente no Bar da Pedra. O senhor Wandir havia preparado um bolo de milho. Eu e o Pepe não havíamos tomado café até então. Aquele bolo simplesmente caiu do céu. Mais uma vez passamos um bom tempo ali. Impossível deixar de ouvir alguém tão agradável quanto o senhor Wandir. Foi difícil, mas tínhamos que seguir caminho.

Paramos em Diamantina onde almoçamos em um pequeno restaurante. Comida boa, barata e à vontade. Tiramos fotos da Catedral e mais construções antigas. A arquitetura da cidade ainda conserva seus ares do passado. As ruas de pedras e as inúmeras ladeiras incomodam tanto quem anda a pé quanto quem anda de carro ou moto. Manter a originalidade da cidade é, sem dúvida, o mais importante.

A imponente Catedral em Diamantina e detalhes de um dos antigos casarios

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Após abastecer as motos, partimos rumo ao Serro. Antes de chegar a Serro, paramos em Datas, outra cidade não muito distante de Diamantina, onde tiramos fotos da Igreja local. Ficamos por pouco tempo. No céu as nuvens cinzentas anunciavam a chegada de outra chuva. Ainda bem que não fomos pegos por ela.

Parada em Datas para mais um registro

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Chegamos a Serro recebidos pelas cores da noite. Hospedamos no Dormitório Senhora Aparecida, do senhor Eli e dona Neiva. O senhor Eli era marido da dona Neiva. Infelizmente ficamos sabendo que ele havia partido há poucos dias. Mesmo assim a dona Neiva, outro personagem acolhedor da nossa viagem, nos tratou muito bem.

Dona Neiva no meio, Pepe à esquerda, Al Cruz à direita na Pousada Senhora Aparecida

 

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De Serro até Milho Verde, nosso destino final, passamos por algumas placas indicando cachoeiras. Era segunda feira, dia 29 de dezembro de 2015. No entanto a prioridade era procurar logo um lugar para acampar. Sondamos os arredores, consultando os preços até encontrar o acampamento do senhor Ademar. O Pepe foi o responsável por fazer os acordos financeiros. No final o preço ficou bem atrativo para nós dois.

O Ademar é mais um personagem que merece nosso reconhecimento. Tanto ele quanto a sua esposa, Ângela, responsável pelos afazeres culinários. São pessoas que merecem uma visita sempre que possível.

No acampamento barracas de outros visitantes já estavam instaladas. Montamos as nossas e saímos para conhecer as cachoeiras.

O senhor Ademar, dona Ângela e detalhes do acampamento, em Milho Verde

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Milho Verde é um vilarejo próprio para quem procura um lugar para viver sossegado. Foi assim que fez o Nelcir, cidadão que saiu de Serro para ir morar lá. O conhecemos por acaso, quando saímos para comer algo à noite, depois de termos visitado as principais cachoeiras locais. A Cachoeira do Moinho, muito bela, mas que estava com pouco volume de água na ocasião. No caminho encontramos uma aranha caranguejeira passeando pela trilha.

A Cachoeira do Carijó, cerca de 1 km da Cachoeira do Moinho, estava com volume de água bem maior. Aproveitei para tomar um banho. O Pepe preferiu não se aventurar, ficando apenas no banho de gato.

Na terça feira, dia 29 de dezembro de 2015, fomos para a Cachoeira do Piolho, aproximadamente 3 km de distância. O Pepe queria ir de moto, mas preferi ir andando para visualizar melhor as redondezas. O sol e o calor estavam ardendo. Acho que o Pepe sentiu o esforço.

As cachoeiras do Moinho, do Carijó e um visitante ilustre na trilha

 

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A Cachoeira do Piolho também estava fraquinha com seu volume de água. Apesar das constantes chuvas na região, parecia que os leitos dos rios não haviam recebido água nenhuma. Nada que impedisse um banho sob um chuveiro natural que despencava lá do alto. Foi até melhor do que os banhos anteriores. Era como a sensação de uma chuva forte. O Pepe preferiu nadar no poço que se forma com a queda d´água.

Uma pose na Cachoeira do Piolho

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Retornamos para Milho Verde. No caminho, resolvemos dar uma parada para descansar sob a sombra de uma árvore. O calor estava intenso e a fadiga era grande. Avistamos um carro que se aproximava e pedimos carona. Como de costume, fomos bem recebidos pelo motorista. Assim chegamos mais aliviados a Milho Verde.

O Pepe pretendia retornar para a cidade de Serro, de onde pegaria estrada para o Pico de Itambé. De acordo com informações de um visitante que estivera antes por lá, o lugar era muito bonito, que valia a pena uma visita. Gostaria de ter ido junto com o meu amigo, mas teria que mudar meus planos. Estava decidido a voltar para Diamantina pelo caminho mais curto. Acertamos nossas pendências com o senhor Ademar e a esposa dele, levantamos acampamento e nos despedimos de Milho Verde. Ali, eu e o Pepe nos separaríamos.

Enquanto o Pepe partia rumo a Serro, fiquei sabendo por intermédio de um cidadão que o caminho mais curto por onde eu retornaria à Diamantina, era estrada de terra. Resolvi de imediato contatar o Pepe, pois eu não estava nem um pouco animado para encarar outros 42 km de chão, apesar de ser mais curto. Mandei-lhe uma mensagem pedindo para que me aguardasse no caminho. No entanto a mensagem chegou tarde. Cheguei a Serro antes dele e fui direto para o dormitório da dona Neiva onde passaria outra noite. Ao sair para tirar fotos, percebi uma moto estacionada em frente a um bar. Ali, estava o Pepe saboreando um salgado. Foi uma surpresa. Reunimos-nos outra vez.

Na quinta feira, dia 31 de dezembro de 2015, peguei a pista de volta à Diamantina. O Pepe seguiria o seu caminho para o Pico. Foi nosso último momento juntos.

Cheguei a Diamantina entre 10 e 11 horas da manhã. Saí a pé para dar uma volta pela cidade e tirar mais umas fotos. Percorri um pedaço do Caminho dos Escravos, andando a pé por cerca de 7 km. De volta à Pousada, lá pelas 16 horas, vi um cartaz sobre a gruta do Salitre. Perguntei ao Jefferson, filho da dona da pousada, se ele sabia algo a respeito. Ele me disse que era estudante de turismo e que já havia visitado a gruta umas três vezes. Disse que o lugar era maravilhoso. Realmente é.

Meu objetivo era ficar mais um dia em Diamantina para conhecer melhor a cidade, conforme havia dito antes ao Pepe. Foi uma pena eu ter ficado sabendo sobre a gruta quando era tarde. No dia seguinte, sexta feira, dia 01 de janeiro de 2016, decidi visitar a famosa gruta, pois o Jefferson havia dito que ficava há uns 9 km de distância. Ia atrasar um pouco o meu retorno para Vitória da Conquista, mas não poderia deixar de conhecer aquele monumento esculpido ao ar livre. No final acabou valendo a pena, pois a gruta é sensacional. Nunca tinha visto algo comparado àquilo. Ao longe o topo da gruta parece um castelo medieval surgindo no meio do mato. Uma arquitetura fantástica produzida pela natureza. Fiquei imaginando a sensação que o Pepe sentiria ao ver aquela magnífica formação.

Deixei a moto no início da entrada. Aparentemente havia outras pessoas na gruta, visto que um carro estava estacionado por ali. Após contemplar a belíssima arquitetura rochosa, fui descendo os degraus de acesso à gruta. Aos poucos a visão deslumbrante da entrada foi ficando ainda mais impressionante. Uma senhora aguardava sentada em uma pedra, o pessoal que havia entrado há pouco. Apressei os passos para poder alcança-los, porém eles já estavam retornando.

Não consegui localizar um ponto de entrada para o interior da gruta. O Jefferson me dissera antes que o acesso era por uma fenda estreita, que existia um desnível o qual era possível descer apenas usando cordas. Sondei o máximo que o meu tempo permitiu. Em certas partes localizei algumas fendas. Talvez a entrada fosse por uma delas. O bom senso falou mais alto e preferi não me arriscar. Entrar em uma gruta desconhecida, sem equipamentos adequados é suicídio. Para mim já bastava apenas a sensação de estar ali, contemplando aquela obra prima erguida provavelmente em uma era quando a região vivia sob os domínios dos mares.

Vista da Gruta do Salitre

 

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Aquele foi meu último atrativo. Foi rápido, porém de grande valia. Estar em contato com a natureza, apreciando o som das cachoeiras, a melodia dos pássaros e o abraço do vento, é uma energia que revigora a nossa alma.

Dedico tudo isto às pessoas acolhedoras e inesquecíveis por onde passamos, ao amigo Pepe Chaves em especial, agradecendo a Deus por tudo ter corrido bem no começo, durante e no término dessa esplendorosa viagem no tempo. Viajar por esses lugares é voltar no tempo, conhecendo pessoas que nunca vimos, que jamais veremos neste mundo. Graças a elas pudemos apreciar construções surgidas em épocas marcadas pela busca frenética dos diamantes. Muitos diamantes ainda estão por serem descobertos, mas é melhor que eles continuem em seus locais de origem. A riqueza está dentro de cada um de nós. Um diamante é belo e fascina, então seja como um diamante.

Quem ama a natureza e aventura não deve ter medo de encarar os obstáculos. A poeira, a chuva, são partes dela. Até a próxima.

* * *

Al Cruz

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