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Inverno no Alaska (23 fotos)


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Preparativos:

Para mim, o Alaska sempre foi um lugar inacessível; conhecido apenas por documentários ou livros de aventuras no ártico.

Foi numa agência de intercâmbio onde vi que este amor platônico poderia ser consumado.

Eu já conhecia os programas de Work & Travel (trabalho de férias no USA para universitários),

então resolvi aliar esta experiência de trabalho com um estágio em uma universidade americana

(University of Alaska Fairbanks), num lugar totalmente diferente de qualquer outro que conheci.

O pessoal da agência de intercâmbio achou meio estranho: “Meus deus! Nunca mandamos

ninguém para lá! Tem certeza que quer ir?” Certeza absoluta!!! Ainda mais depois que o hotel em

Fairbanks me aceitou como camareiro e consegui o estágio voluntário na universidade.

Tudo certo! Em três meses estaria embarcando em uma viagem de 27 horas para Fairbanks

Aí caiu minha ficha! Iria para um lugar onde ninguém que eu conhecesse foi. Enfrentaria uma das

menores temperaturas do planeta e não sabia absolutamente nada sobre The Great Land.

O primeiro passo foi comprar o Lonely Planet – Alaska. Enfim,

algumas dicas úteis! Pude ver algo sobre o lugar onde passaria o inverno todo. Achei bastante coisa

também do Google, mas o livro foi mais útil.

Com minhas pesquisas, vi que o frio era mais intenso que eu imaginava! Eu tinha roupas

para um frio normal, de até –10C. Porém, antes de ir, não comprei quase nada, pois além de não

existirem roupas apropriadas aqui em São Paulo, o pouco que tem é muito caro. Aí vai uma dica: em lugares frios, roupa quente não é artigo de luxo (como em São Paulo), é artigo de necessidade; então, as roupas quentes são MUITO baratas em lugares de frio. Hora de ir! Aproveitei bem meus últimos dias de Sol, já que no solstício de inverno veria o Sol só durante três horas e meia. Parti com uma série de dúvidas e medos, entretanto sorria; pois sabia que seria uma viagem maravilhosa e inesquecível.

 

Chegada:

Após 21h de viagem (com 2 escalas) pisei pela primeira vez no 50o estado do USA. Era somente a última escala, em Anchorage, que é a maior cidade do Alaska. Fiquei muito feliz! Mas ainda faltavam algumas horas até chegar em Fairbanks.

 

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Boas vindas no aeroporto de Anchorage

 

Já em Fairbanks, fiquei meio apavorado com o frio! Só que o que mais me apavorou foi quando me falaram que o clima estava morno devido a uma frente quente! Caramba, como -12C

pode ser ameno?!? Se eu estava tendo dificuldade com -12C, imagina quando a massa de ar quente fosse embora?

Com os passar dos dias, vi que meu maior problema era com a falta de Sol. Cheguei dia 10

de dezembro, faltando apenas 11 dias para o solstício. O Sol aparecia por pouquíssimas horas e

ficava sempre bem baixo, perto da linha do horizonte. Com o tempo meu metabolismo foi se

acostumando à falta de luz. Apesar dos problemas iniciais, era lindo o nascer/pôr do Sol que durava

5 horas!

 

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Nascer do Sol às 11:20 da manhã

 

Logo comprei roupas bem quentes e meu metabolismo também se acostumou ao frio. Em

duas semanas, já me sentia como um local!

Minha rotina era: trabalhar no hotel 5 dias por semana, ir para a faculdade um dia e passear

no outro. Claro que também passeava após o trabalho e a faculdade. Aproveitei cada segundo no

Alaska, pois sabe-se lá quando poderei voltar a este paraíso.

 

Abaixo, está um resumo dos 3 meses:

Fairbanks:

Apesar de ter uma pequeníssima população (35 mil), a cidade tem uma grande infraestrutura,

devido à universidade, com 10 mil estudantes, e às duas grandes bases militares instaladas

ao redor. Grandes hipermercados, lojas de departamentos e redes de fast-food dão à minúscula

cidade ares de cidade média. A vida social também não fica para trás: diversos cinemas, pubs e

boates esquentam as noites geladas do ártico.

 

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Praça no centro de Fairbanks, à margem do rio Cheena

 

Meu primeiro passeio foi até uma cidade chamada North Pole, onde a atração é a Casa do

Papai Noel. Foi a primeira vez(de muitas) que usei os ônibus urbanos (que são de graça no inverno!). De lá, mandei diversos postais para o Brasil. O legal é que os postais vieram com o

carimbo do correio da cidade: North Pole, Alaska! Imaginem o que o carteiro de São Paulo pensou???

 

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Eu, pensativo, na casa do Papai Noel

 

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hohoho! Encomentei meus presentes pessoalmente

 

O frio de verdade chegou em janeiro, a média do mês foi de -37C, com mínima de -54C.

Muito estranha é a amplitude térmica anual. No verão chega a fazer 30 graus positivos! O pessoal

fala que no mesmo rio onde andam de snowmobile no inverno, andam de jetski no verão.

Interessante, não?

 

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-50F! Frio pra *******!

 

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Como se vestir e não sentir frio. Só com os olhos de fora... haha!

 

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O frio era tão intenso, que congelava o suor. Aí está a importância de boas roupas, que transpiram

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Perto da cidade existem vários hotsprings, que são piscinas vulcânicas, como em Caldas

Novas-GO. Fui duas vezes ao resort Cheena Hot Springs, para ir nas piscinas e fazer trilhas. É

muito maluco estar numa piscina quente, com 40 e poucos graus negativos do lado de fora. Se eu

ficasse 20 seg sem mergulhar, o cabelo congelava! Neste resort também tem um bar de gelo e um

hotel de gelo. O martíni no copo de gelo é excelente :)

 

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As piscinas vulcânicas! Ah, que maravilha!

 

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Vista de uma trilha, no Cheena Hot Springs

 

Na universidade, tem um belo museu que conta a história do Alaska. Além disso, existem

diversas trilhas públicas para ski cross-country. Com os esqui emprestados e o mapa que peguei na

atlética, me aventurei pelas trilhas.

 

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Museum of North, UAF

 

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Uma das lindas trilhas de ski cross-country

 

Um caso à parte são as auroras boreais! Quase toda noite podem ser avistadas de

Fairbanks. Mas, o melhor lugar para vê-las e ao redor da cidade, que tem menos luzes artificiais. As

auroras parecem cortinas coloridas e brilhantes, que se mexem rapidamente. São de tirar o fôlego!

 

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Aurora boreal, vista do mirante Ester Dome, em Fairbanks

 

No início de fevereiro assisti à largada da Yukon Quest, corrida de trenós puxados por

cachorros. Eles percorrem 1000 milhas até Whitehorse, no Canadá. A largada é sobre o rio Cheena

congelado, no centro de Fairbanks.

 

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Cachorrada se aquecendo para a largada

 

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Largada em cima do rio Cheena, congelado

 

Nos meus últimos dias em Fairbanks, arrumei de ser segurança no Campeonato Mundial de

Arte no Gelo. Foi ótimo! Sendo segurança, eu podia ver tudo! Além das esculturas da competição,

fizeram um parque para a criançada, com escorregas e labirintos de gelo! Por incrível que pareça,

tinha até um brasileiro na competição! Havia uma parte reservada também para a première mundial

do desenho Era do Gelo II, com um palco e tela de gelo. Pena que não pude assistir, pois eu deixei

a cidade algumas horas antes da première.

 

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Escorrega de gelo, na área das crianças

 

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Escultura de gelo (tem uns 2 metros de largura). Este carangueijo ganhou o primeiro lugar de single-block realistic

 

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Diogo e eu, seguranças

 

Railroad:

Para voltar a São Paulo, ao invés de partir de avião de Fairbanks, fui de trem até

Anchorage, fiquei 2 dias na cidade e de lá peguei a série de vôos de volta pra casa.

A viagem de trem é maravilhosa! São 12h cruzando as maravilhosas florestas geladas e

montanhas enormes! 17 dos 20 maiores picos do USA estão no Alaska. Já era início de março e os

dias estavam durando umas 14 horas. A viagem inteira foi ensolarada!

 

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Embarque na estação em Fairbanks

 

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Canyon congelado, visto do trem

 

Anchorage:

Depois de 3 meses no Alaska, fazia questão de conhecer sua maior cidade. E valeu a pena!

É uma cidade linda! Fiquei somente 2 dias e andei por várias ciclovias e tirei muitas fotos! Pena que

o zoológico e o museu de artes nativas estavam fechados para limpeza...

É uma cidade bem maior que Fairbanks, tem 400 mil habitantes e, como sua irmã menor, tem uma infra impecável (com direito a GPS nos ônibus urbanos).

As temperaturas no inverno são bem menos rigorosas (mínima de -20C). Quando estive lá, em março, faziam mornos (para mim) -5C. Teve até uma cena engraçada:

- Quanto tempo dá andando até o Earthquake Park? - perguntei pra recepcionista do hotel

- Uns 30 min. Mas está muito frio! Tem certeza que vai andando? - respondeu assustada

- Não tem problema! Morei 3 meses em Fairbanks!

haha! Quem diria que um brasileiro iria esbanjar uma alaskana, em questões de frio?

 

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Centro de Anchorage

 

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Ciclovia

 

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Aqui ninguém se perde. hehe

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Pensamentos finais:

Após umas 6 semanas, quando já estava bem integrado ao cotidiano de Fairbanks, percebi

o quanto verdadeiras eram as palavras que um cara me disse no avião, indo para lá : “Alaska has no

fences.” A sensação de liberdade lá é inimaginável! A cidade é cercada por florestas. Eu, brasileiro e tropical, achei que conhecesse florestas. Descobri que o que conhecemos no Brasil, indo para o

interior, são campos cultivados. A quase totalidade da área rural brasileira são fazendas. No sudeste

temos umas manchas de floresta nas serras e na região norte temos a floresta amazônica. Fora isso,

só temos fazenda! Até o pantanal está quase inteiramente loteado! Então, a imensidão selvagem do

Alaska me cativou! Lá, você pode morar no meio da floresta e ter um Wal-Mart a 10 min de

distância. Você agrega a qualidade da vida natural, com o pacote de serviços do primeiro mundo.

Com esta excelente qualidade de vida, as pessoas que moram lá, são diferentes dos

americanos que vivem no lower 48 (expressão que usam para designar os 48 estados ao sul do

Canadá). Não são frios, preconceituosos e nem psicóticos, como o americano médio. Me senti

muito bem acolhido entre a população. Foi uma experiência incrível, pois conheci uma região

maravilhosa que me mostrou que ainda vale a pena lutar pelo mundo.

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marioluc,

o Alaska é uma maravilha mesmo! Me impressionei com a região! Num lugar assim é fácil tirar boas fotos :)

Tem hotéis de todos os tipos e preços. Desde albergues até hotéis super-luxo, passando por chalés no meio da floresta (igual aos filmes).

No verão, as coisas são bem mais caras... nesta época, é o segundo estado americano que mais recebe turistas (atrás somente da Flórida).

A alimentação segue o preço normal dos USA. As comidas exóticas, só são servidas nas vilas de eskimos, são proibidas de vender nas cidades.

Vale muito a pena conhecer The Great Land!

 

furikuri,

De nada, é uma prazer compartilhar essa viagem! Quero incentivar mais brasileiros a conhecerem o Alaska.

Dá sim para ver a aurora boreal no verão. Porém, os dias (no verão) duram mais de 20 horas e, com claridade, não da pra ver direito...

Então, se quer ver a aurora, recomendo ir em outro período. Já que tem problemas com muito frio, vai na primavera ou outono!

 

Até mais!

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