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  • Membros de Honra
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Desde quando li o relato do Marcos no mochileiros.com que o interior paraibano ficou na minha memória. Isso foi pouco depois de termos conhecido João Pessoa. Acabou que meses atrás encontramos um excelente preço para passarmos o feriado de 2/novembro em João Pessoa. Não hesitamos.

 

Teríamos três dias para explorar alguma coisa do agreste paraibano. Minha ideia inicial era esticar até o Vale dos Dinossauros. Mas acabei deixando o Vale de lado – considerei que seria muito tempo de estrada para apenas 3 dias de viagem. Optamos por focar mesmo no Cariri, na região do Lajedo do Pai Mateus, em Cabaceiras. Dois casais se juntaram a nós -- e ambos já conheciam a região.

 

O Cariri é dos lugares mais cativantes que já conheci pelo Brasil. Sim, é tudo muito seco (e fomos na época seca). É a caatinga brasileira. É belo.

 

Outra ideia que eu tinha, inteiramente por conta do relato do Marcos, era subir a Serra Branca (Serra do Jatobá), que fica nos arredores de Cabaceiras (no município de Serra Branca). Seria nosso programa para o último dia. Chegando lá, havia tantas opções de passeios na região do Pai Mateus que acabamos deixando a Serra Branca para outra ocasião também. Aliás, mencionamos esse passeio a alguns guias e eles geralmente torciam o nariz – era muito tempo de subida sob exposição direta ao sol. Mesmo habituados, eles buscam evitar o sol mais forte do dia.

 

Único ponto que mantivemos do roteiro inicial foi conhecer a Pedra do Ingá, em Ingá, pouco antes de Campina Grande. Um verdadeiro tesouro arqueológico, lamentavelmente pouco divulgado (talvez a pouca divulgação até ajude a preservar o sítio, mas chega a ser triste pensarmos assim – o lugar pode ser protegido e ser divulgado, tornando-se ponto de visitação amplo e movimentando a economia local).

 

[todas as fotos são do Instagram da Katia]

 

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Chegamos em João Pessoa na madrugada de sexta para sábado. Apenas pegamos o carro alugado e partimos para nosso hotel, que ficava no centro de João Pessoa mesmo. Apenas para pernoitar. O escolhido foi o J.R., que tinha boas tarifas e avaliações satisfatórias no booking. De fato, nos atendeu – e com um café da manhã surpreendente de bom.

 

Partimos sábado de manhã para Ingá. Tinha tentado marca com o Dennys Costa, o guia mais conhecido da área, mas ele não poderia naquele dia – já estaria guiando outro grupo. Chegando lá, vimos que não há trilha, a Pedra é logo após a entrada do sítio. A entrada é grátis.

 

Uma das referências que eu tinha da Pedra do Ingá era uma HQ do Shiko (“Piteco - Ingá”), lançada pelo Maurício de Souza. Adoro o trabalho do Shiko e, desde então, aquela pedra ficou ainda mais no minha memória. Mesmo sabendo que a história envolvia lendas.

 

A Pedra do Ingá é impressionante. As inscrições na pedra, em baixo relevo, estão muito bem preservadas. Felizmente há uma cerca separando o público das inscrições, mas você pode subir na pedra. Tentei encontrar paralelos das inscrições com as que eu tinha visto na HQ. Até vi alguns paralelos. Curtimos o momento, inclusive o pequenino museu anexo, com achados arqueológicos da região.

 

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Como disse, infelizmente a Pedra é mal divulgada. Tinha tudo para ser uma grande atração turística, além de foco de estudos (que presumo já ser).

 

Partimos para Campina Grande. Paramos no Açude Velho, onde esperamos pelo outro casal. Tentamos entrar no Museu de Arte Popular, mas estava fechado. Só abre de tarde. Visitei rapidamente as Estátuas de Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga. Depois tentamos também o Monumento aos Tropeiros, também fechado. Se bem que o barato do monumento é vê-lo por fora mesmo. Interessante ver monumentos a tropeiros no interior da Paraíba e no interior de Curitiba (Lapa), por exemplo.

 

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Monumento aos tropeiros, Campina Grande

 

Era quase meio-dia e, depois do café reforçado, não havia fome ainda. Nosso plano original era ter passado mais tempo no Ingá (achávamos que demandava mais tempo, que rolava alguma trilha para chegar até a pedra), depois curtir alguma coisa em Campina Grande, almoçar no Bar do Cuscuz e partir para o Cariri. Mas tudo levou menos tempo, as atrações em Campina Grande estavam fechadas (e não acho que demandariam tanto tempo também), então decidimos partir para o Pai Mateus. Passamos pelo Parque do Povo no caminho, para ver o palco da maior festa junina do mundo. Achei que o espaço seria maior.

 

Chegamos no Hotel Fazenda Pai Mateus (a única – e ótima -- opção de hospedagem se você quer ficar no Cariri mesmo) e já fomos almoçar. Interior da Paraíba tem bode de refeição, e gostamos muito! Mas dessa vez tivemos a oportunidade de experimentar um famoso prato brasileiro, muito rejeitado também pelos brasileiros: buchada de bode! Todos que provaram gostaram. Mas as mulheres preferiram ficar apenas na prova, os homens comeram o restante. Ou melhor, uma buchada para cada um. É bem saboroso. E a comida do Pai Mateus, além de muito farta, é deliciosa. Um sério problema!

 

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Buchada de bode!

 

No fim da tarde fomos conhecer o Lajedo do Pai Mateus, onde curtimos o por do sol. O programa principal para o Lajedo, aliás, é ir para lá no fim da tarde e curtir as diferentes tonalidades do sol na pedra, conforme ele (o sol) vai se pondo. O céu não estava plenamente limpo, mas mesmo assim foi um barato ver as diferentes tonalidades. O lajedo é composto de enormes pedras rolantes (os matacões), mas que impressionantemente mantém-se “de pé”, sem rolar. Viva a ausência de terremotos! O cenário com essas pedras é único. De longe parecem bolas estáticas de pedra num tapete reclinado, de pedra também.

 

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Como esta pedra se mantém de pé?

 

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Um tapete de pedra, e pedras rolantes – que não rolam

 

Curtimos o por de sol e retornamos ao hotel já de noite. Curtimos uma piscina de fim de dia – mas, creia, faz até um friozinho na noite do Cariri paraibano com a combinação água + vento.

 

Via de regra você se desloca com seu transporte até o local, mas a visita deve ser feita com guia. O Hotel disponibiliza guias para os passeios, que devem ser pagos à parte. Os preços são tabelados e descritos na recepção. Ou você agenda antecipadamente com algum guia o seu passeio, ou entra em algum grupo com passeio já definido. Lajedo do Pai Mateus e Sacas de Lã são os passeios habituais. Como a maioria das pessoas passa no máximo dois dias por lá, esses são os passeios considerados básicos.

 

Domingo.

Conseguimos fazer dois passeios numa manhã. Na verdade, deveria ser considerado um passeio só, porque são praticamente um ao lado do outro e bem tranquilos de se conhecer num período do dia. A primeira parada foi no Lajedo Manoel de Souza, onde há diversas pinturas rupestres. Além de matacões e belas formações rochosas. É lugar para você passear bastante por entre as pedras e curtir cada ângulo. Vale também ouvir as explicações convencionadas para as pinturas rupestres – requer imaginação.

 

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Pinturas rupestres no Lajedo Manoel de Souza

 

Nosso guia foi o mesmo do dia anterior, o Ribamar. Fala muito, muito mesmo, quase sem parar. Muito divertido. Com um sotaque bem carregado, por diversas vezes tivemos de pedir “tradução” de algumas palavras. No fim da viagem já tínhamos construído um pequeno dicionário de palavras locais, ehehehe. A história (de vida) do Ribamar é muito bacana, inclusive uma parte dela pode ser vista

– em que ele contou com a ajuda providencial do Nando Reis.

 

 

Depois, seguimos para as famosas Sacas de Lã. É um conjunto de blocos de pedras empilhadas. O conjunto forma uma figura que impressiona. Mais que isso, aliás. Olhar para aquilo e saber que é obra da natureza, é de impactar. Difícil de acreditar. Lembrei-me da perfeição das pedras em Sacsayhuaman, em Cuzco, mas aquelas haviam sido feitas de forma impressionante pelos incas. Ou seja, pelo Homem. As Sacas de Lã estão lá, daquela forma aparentemente perfeitamente empilhada, por força da natureza. Estonteante. Subimos até o topo das pedras (não é simples, não faça isso sem guia), curtimos lá do alto e descemos. Em meio a tantas incríveis e pitorescas formações rochosas na região, as Sacas talvez sejam o que mais impressiona.

 

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As impressionantes Sacas de Lã

 

Voltamos para o almoço, aquela comilança de sempre. Dessa vez não pedi prato nenhum (o café da manhã já era farto e saboroso o suficiente), mas a galera pede. E é tudo muito saboroso. E irresistível.

 

No fim da tarde partimos para um passeio por algumas bacias (tanques) e também para a pedra do cálice. Nessa já chegamos quase de noite.

 

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Tanque das duas serras

 

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Fim de dia na região dos tanques

 

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Coroa de Frade

 

Sobre passeios na região: simplesmente não há passeio no meio da tarde. Parece que ninguém suporta o sol (inclemente) na cabeça por lá. Falei da Serra do Jatobá e os guias em geral diziam que sim, é possível, mas é “programa de índio”. É descampado, com sol direto, e são horas de passeio. Não sei se é por sermos do Rio de Janeiro, mas sempre acho que o calor nessas outras áreas me afeta menos. Foi assim em Varanasi e Khajurahjo, na Índia. Quando dava meio dia, todo mundo se recolhia, e ficávamos eu e Katia flanando pela cidade, na maior paz. Claro, debaixo de um sol de 40 e poucos graus, mas seco.

 

A noite no Pai Mateus dessa vez teve até showzinho. Pousada estava cheia. Sempre tem fogueira.

 

Segunda-feira.

Fomos conhecer o Lajedo do Bravo. Esse passeio é feito com outro guia, o Djair. Pegamos algumas referências de onde procurar por ele e deu tudo certo. As pessoas na região são muito solícitas – é um Brasil bem diferente dos grandes centros nesse aspecto. Djair tem um projeto ousado de fazer uma outra pousada na região, focando também o público de renda mais limitada. Tem ideia de fazer uma parte para camping e albergue, o que, espero, atraia mais gente para conhecer aquela belíssima região da caatinga brasileira.

 

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Fogueira Polinésia, na área onde o Djair planeja construir a pousada e camping

 

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Flor do facheiro

 

Tivemos uma longa aula com o Djair sobre o Lajedo do Bravo. As pedras polidas, os cemitérios indígenas, e, claro, as pedras rolantes, os matacões. Sempre os matacões. Djair é ótimo, muito empolgado com o que faz, e com o projeto que está levantando. Curtimos muito. Espero voltar lá e ver o projeto de pé.

 

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Uma incrível água verde na secura do Lajedo do Bravo

 

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Preços dos passeios: 15 BRL pp. Lajedo do Bravo nós compramos uma camisa em apoio ao projeto do Djair. Ingá é grátis.

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Retornamos no fim da manhã e curtimos outro almoço delicioso. Haja comilança, era tudo saboroso demais. No fim da tarde partimos para Cabaceiras, a Roliúde Nordestina. Conferimos o famoso letreiro, e a igrejinha famosa do Auto da Compadecida.

 

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A igreja Matriz de Cabaceiras

 

Aliás, toda a região é palco de diversos filmes nacionais. Além do Auto, o clássico “Cinema, Aspirinas e Urubus” (dos melhores filmes nacionais a que assisti nos últimos vários anos), “Romance” e alguns outros.

 

Rodamos um pouco e, já no início da noite pegamos estrada de volta para JPA. Ainda reencontrei amigos na orla de Cabo Branco antes de embicarmos para o Aeroporto para pegar nosso voo da madrugada. Dia seguinte já era novamente dia de trabalho.

 

E assim foi mais um feriado explorando algum canto do Brasil.

 

E, dessa vez, comprovando novamente que o Nordeste – e o Brasil – é muito mais que qualquer litoral.

  • Membros
Postado

Lendo os dois relatos fiquei com vontade de fazer esse percurso, ainda mais pela relativa proximidade com Recife... Mas me bateu uma dúvida: tanto o Ingá quanto os Lajedos e as demais atrações podem ser acessadas sem carro??? Ou fica complicado e o automóvel é essencial???

  • Membros de Honra
Postado

Olá, ncgd.

 

Não sei se ir de carro é esssncial, mas ajuda e muito. Os lajedos ficam vários km para dentro de Cabaceiras, em estrada de terra. Não vi ônibus público passando por lá. Vc pode, claro, pegar um taxi desde a Rodoviária de Cabaceiras. Idem para Ingá. Mas acho que sai mais caro que alugar um carro ecnômico.

  • 1 mês depois...
  • Membros
Postado

Muito legal seu relato, minha família é da Paraíba e meu pai é do Lajedo do Bravo. Estive lá entre Natal e Ano Novo de 2015, quando vou ao Bravo tenho que passear pelo lajedo que tem paisagens incríveis. Pego toda energia daquele local.

Parabéns pela viagem incrível.

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