O Parque Nacional da Serra do Cipó está localizado a menos de 100 quilômetros de Belo Horizonte, mas a sensação ao visitá-lo é a de que estamos muito longe da civilização. Com uma área enorme e atrações fenomenais, o parque e a região do entorno oferecem aos exploradores belas trilhas e cachoeiras, algumas a poucos minutos de caminhada, outras a vários quilômetros. Indicadíssimo para quem curte o contato com a natureza.
A principal base para a exploração da Serra do Cipó é a cidade de Santana do Riacho. Em seu núcleo turístico, que é cortado pela estrada estadual MG-010, é possível encontrar diversas pousadas e campings, das mais simples às mais sofisticadas. A estrutura da região é muito boa, com dois mercados e alguns restaurantes à disposição.
Não perca a gigantesca Cachoeira do Tabuleiro, em Conceição do Mato Dentro, a cerca de 90 km do Parque Nacional. A terceira maior queda d’água do Brasil não se impõe apenas pelo tamanho, mas também pela beleza…
O Parque Nacional possui duas entradas, que levam a atrações diferentes. Da entrada principal, localizada a cerca de 5 km de Santana do Riacho, partem os caminhos para mirantes, lagoas e as duas estrelas da Serra do Cipó: o Cânion das Bandeirinhas e a Cachoeira da Farofa. Da entrada secundária do parque, a cerca de 4 km da cidade, é possível acessar as cachoeiras do Gavião, das Andorinhas e do Tombador (que acabamos não visitando).
Para conhecer os principais atrativos do Parque Nacional é preciso gostar de trilhas e ter disposição, pois as distâncias são realmente significativas. Para o Cânion das Bandeirinhas, por exemplo, são cerca de 24 km de caminhada (ida e volta). A Cachoeira da Farofa fica numa bifurcação da mesma trilha, a 8 km da entrada do parque (16 km no total). Reserve o dia todo para a aventura e comece cedo, para não estar na trilha quando escurecer.
Uma boa dica para conhecer esses duas atrações é alugar uma bicicleta na entrada do parque. A diária custa em torno de R$ 40 e pode ter certeza que você não vai se arrepender.
Grande parte da trilha é percorrida em uma estradinha de terra que só se torna desafiadora após dias de chuva. Visitei o parque com minha esposa e seu irmão justamente após alguns pés d’água e tivemos de encarar belíssimos lagos formados pela água empoçada na estrada, o que tornou o passeio muito mais divertido e cansativo.
Graças à chuva, encontramos o cânion cheio. Foi preciso atravessarmos pela água para chegarmos ao centro da formação de pedras, mas o esforço valeu a pena. A vontade que dá é continuar seguindo rio acima (são vários níveis de pedras, formando diferentes piscinas naturais), apesar da prudência indicar o contrário.
No caminho de volta para a entrada do parque, faça um desvio para conhecer a Cachoeira da Farofa. Nesta parte a trilha estava ainda mais alagada e exigiu muita força nas pernas. O perrengue mais uma vez foi recompensado, entretanto: a grande cachoeira, que pode ser vista desde a trilha para o Cânion das Bandeirinhas, é belíssima e possui uma ótima piscina para banho.
As cachoeiras do Gavião e das Andorinhas, acessadas pela segunda entrada do Parque Nacional, também valem a visita: apesar de menores que a Cachoeira da Farofa, são muito bonitas. A trilha até as duas (elas estão praticamente uma diante da outra, em braços opostos do Rio Bocaina) tem cerca de 14 km (ida e volta), e é um espetáculo à parte, com muitas paisagens diferentes quebrando a monotonia da caminhada. Isso sem falar nas mangueiras carregadas que encontramos pelo caminho, repletas de mangas docinhas…
A Cachoeira das Andorinhas fica na bifurcação à direita da trilha e foi complicado chegar até sua queda d’água. É preciso atravessar o rio, às vezes pelas pedras, às vezes pela água, e só contamos com a intuição para escolher os melhores caminhos. A aproximação final se dá por algumas pedras grandes e inclinadas, o que aumenta o risco de acidentes …
A Cachoeira do Gavião é mais convidativa para os turistas: o acesso é fácil e a queda d’água acontece numa grande piscina natural. É ideal para um mergulho.
Fora do Parque Nacional, a atração imperdível é a Cachoeira do Tabuleiro. Localizada no município de Conceição do Mato Dentro, ela só é acessível para quem está de carro – inclusive demos carona para um turista que tinha ido de Santana do Riacho até Conceição de ônibus, mas não tinha como chegar ao início da trilha (que fica a 22 km do centro da cidade).
Apesar da distância considerável para quem está na Serra do Cipó, a visita definitivamente vale a pena. Com 273 metros, é a terceira maior cachoeira do Brasil, atrás apenas da Cachoeira do Aracá (AM), com 365 m, e da Cachoeira da Fumaça, na Chapada Diamantina (BA), com 340 m.
Localizada dentro de um parque municipal bem cuidado, antes do começo da trilha para a cachoeira recebemos coletes salva-vidas e instruções de segurança. Para quem não tem pique para encarar a caminhada até a base da cachoeira (são 5 quilômetros de trilha, ida e volta, grande parte sobre pedras), uma boa opção é fazer a caminhada pequena, mas puxada, até o mirante que descortina uma vista incrível para a queda d’água.
A trilha para a cachoeira exige um bom preparo físico e um pouco de experiência em atravessar terrenos irregulares e formações de pedra. Após um longo trecho de descida por uma caminho demarcado você chega ao leito do rio. Aí, vai depender mais da intuição do que de qualquer outra coisa para escolher os melhores caminhos – existem algumas pedras com setas indicando a rota sugerida, mas muitas vezes você não as encontra…
Aqui, como em qualquer trilha, atenção e prudência nunca são demais. É melhor ir devagar, respeitando seus limites, do que lidar com torções ou ferimentos até piores causadas por um passo em falso. Não adianta ter pressa…
Depois da trilha, a recompensa chegou de forma magistral. Visitamos a cachoeira na época de chuvas, então ela estava com uma grande queda d’água, formando uma piscina enorme – tão grande, profunda e com correnteza tão forte que não era indicado tentar chegar até a base a nado. Mas isso não foi um problema, pois das pedras às margens da piscina já levamos um belo banho por conta da quantidade absurda de água que respingava da cachoeira. Saímos ensopados e maravilhados, prontos para encarar a subida íngreme da trilha de volta.
Para quem quer curtir belas cachoeiras, mas não tem disposição ou pernas para as trilhas gigantes do Parque Nacional e do Tabuleiro, a Serra do Cipó também é generosa. Praticamente dentro do bairro turístico de Santana do Riacho estão localizadas as estruturadas Cachoeira Grande e Cachoeira Véu da Noiva (uma das 235 cachoeiras no País com esse nome criativo). Ambas têm acesso pago.
A Cachoeira Grande é acessada após uma trilha fácil de apenas 900 metros e não impressiona pela altura (cerca de 10 metros), mas pela largura: são 60 metros de quedas d’água, uma espécie de Cataratas do Iguaçu em miniatura.
Já a bela Cachoeira Véu da Noiva, que impressiona com seus 70 metros de altura, está localizada dentro de uma propriedade com camping, chalés, áreas de alimentação, lazer e piscinas. A trilha tem apenas 400 metros e conta com escadas e corrimões. Se o que você quer é sossego, chegue bem cedo.
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