Talvez o erro mais comum de quem está planejando uma viagem até Machu Picchu seja imaginar Cusco como apenas uma base para explorar a mítica cidade sagrada encravada nas montanhas. Erro comum e lamentável, porque Cusco, antiga capital do império inca, é um destino que merece muito mais atenção (e tempo) dos viajantes.
Além de oferecer diversas opções de passeios para conhecer os resquícios do poderoso império andino – e a posterior influência colonial espanhola -, Cusco tem ótima estrutura turística, com muitos hotéis, pousadas e restaurantes para todos os bolsos e gostos. E, somado a isso, uma população muito receptiva a acolhedora.
A primeira coisa que muitos turistas sentem ao chegar a Cusco é tontura. A segunda costuma ser dor de cabeça. Isso porque a cidade está localizada a incríveis 3.400 metros de altitude, o que torna o ar muito rarefeito e um verdadeiro desafio para as pessoas que não estão acostumadas a viver entre as nuvens. Eu pessoalmente não tive problemas de adaptação ao chegar (apenas o tradicional cansaço extra pela falta de oxigênio), mas minha esposa sentiu dores de cabeça e teve dificuldades para dormir na primeira noite.
Ao chegar a Cusco, a dica é não fazer passeios no primeiro dia, dando um tempo para o corpo se adaptar à altitude – aproveite para curtir a Plaza de Armas e comprar folhas de coca em alguma farmácia: mascar a folha amarga realmente dá uma força extra para encarar as escaladas e caminhadas nos diversos sítios arqueológicos incas. O chá e as balas de coca também são comuns na região.
A Plaza de Armas talvez seja o local onde a sobreposição entre as influências inca e espanhola fique mais evidente em Cusco. Aliás, sobreposição é a palavra exata, já que os conquistadores espanhóis muitas vezes levantaram suas casas e igrejas sobre antigas construções incas. Na praça estão localizadas a Catedral de Cusco e também o Templo da Companhia de Jesus.
Quanto aos restaurantes, fuja das cadeias de fast food (sim, elas também estão aqui) e se deixe deliciar com pratos da culinária peruana, como o sucesso internacional ceviche e a carne de alpaca. Não experimentei o cuy (porquinho da Índia), que é caro e tem toda a pinta de armadilha para turista – um guia local explicou que os peruanos não costumam comer aquele pouco apetitoso rato assado, servido com rabo e patas…
Nunca sente nas mesas colocadas pelos restaurantes nas calçadas, a menos que você adore ser abordado a cada 30 segundos por insistentes vendedores ambulantes.
Nesta região estão concentradas as agências turísticas de Cusco (especialmente na Calle Plateros) e também as casas de câmbio. Quem está acostumado com os preços dos passeios em cidades turísticas brasileiras vai ficar feliz em terras cusquenhas: um tour de dia inteiro para locais como o Vale Sagrado dos Incas não chega a custar 50 soles (a moeda peruana tem cotação semelhante ao real). É preciso comprar também o boleto oficial turístico que dá acesso às atrações e custa entre 70 (parcial) 130 (geral) soles, com validade de dez dias.
Cusco também possui alguns pequenos museus com acervo de arte pré-colombiana, com destaque óbvio para objetos incas. Entretanto, o acervo mais importante de artefatos desta civilização está exposto no Museo Larco, em Lima, capital do Peru.
As opções de passeios partindo de Cusco (Machu Picchu é um caso a parte, para ser visto em outro post) são vastas e diversas: desde o inescapável tour do Vale Sagrado até visitas à distante Puno, no Lago Titicaca.
Confira abaixo algumas das principais atrações localizadas nas cercanias da cidade:
Vale Sagrado
A região às margens do Rio Urubamba é conhecida como Vale Sagrado dos Incas. Antigo celeiro do império, essa área concentra diversos sítios históricos interessantes, com destaque para Pisac e Ollantaytambo. Os passeios turísticos incluem paradas em pequenas vilas para a compra de artesanato local.
Pisac
Ao se aproximar de Pisac você se surpreende com o que parecem ser enormes degraus encravados na montanha. Na verdade essas construções, que datam dos séculos X e XI, eram uma espécie de celeiro agrícola para os incas: cada degrau simula um microclima diferente, permitindo a experimentação e cultivo de novas sementes – não surpreende que na região você encontre dezenas de tipos de milho, por exemplo. Outra vantagem do sistema é que os terraços escalonados aumentam a área de cultivo nas encostas das montanhas e reduzem a erosão do solo.
Pisac também tinha importância religiosa no império inca, com templos em sua parte mais alta e um cemitério com túmulos escavados na montanha.
Ollantaytambo
A cidade de Ollantaytambo só perde para Machu Picchu entre os destinos incas mais sensacionais. Uma visita a estas construções monumentais, a cerca de 90 quilômetros de Cusco, já seria motivo bom o bastante para viajar ao Peru: os enormes terraços em forma piramidal do local conhecido como Fortaleza, as pedras diligentemente polidas nos antigos templos religiosos, as edificações que abrigavam alimentos com refrigeração natural, tudo isso mostra aos turistas um pouco do esplendor do império inca.
A localização das construções, entre belas montanhas, é outro ponto (literalmente) alto de Ollantaytambo. Além do sítio arqueológico, é possível visitar também a vila de Ollantaytambo, que continua habitada e preserva canais de água construídos pelos incas. Daqui também parte o trem que leva os turistas a Águas Calientes, cidade base para se chegar a Machu Picchu.
Se você tiver a oportunidade, fique ao menos um dia inteiro em Ollantaytambo, aproveitando para conhecer esta simpática vila com mais calma – a visita como parte do roteiro do Vale Sagrado dura apenas algumas horas.
Moray
As ruínas de Moray são formadas por interessantes terraços circulares que lembram um grande anfiteatro. A maior série conta com 12 terraços que serviam para simular microclimas agrícolas – de acordo com pesquisadores, mais de 250 espécies vegetais diferentes eram cultivadas no local.
Para as pessoas mais místicas, Moray é considerado um local de relevância religiosa e cerimonial. Graças a sua acústica especial, o ponto mais baixo do complexo é palco de algumas celebrações indígenas.
Salinas de Maras
As Salinas de Maras são um desvio na exploração de destinos incas – elas já produziam sal muito antes do surgimento do império e continuam dando sustento aos moradores da região. O sal é produzido artesanalmente no local a partir do empoçamento, em piscinas artificiais, da água extremamente salgada que nasce na montanha e deságua no Rio Urubamba.
Além da vista fenomenal das piscinas de água salgada, a visita às salinas permite aos turistas conhecerem produtos artesanais feitos a partir dos diferentes tipos de sal retirados do local. Aproveite para comprar alguns temperos nas barracas do complexo.
Centro Artesanal de Cusco
Localizado a 1,3 km da Plaza de Armas, no encontro das avenidas El Sol e Tullumayo, o Centro Artesanal de Cusco é um ótimo lugar para comprar as tradicionais lembranças de viagem a um preço muito amigável. Quem gosta de artesanato, roupas típicas andinas ou até camisas de clubes de futebol peruanos não pode perder esta chance.
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