Nós já contamos a história de Ignacio Dean, o Nacho Dean por aqui. Um espanhol de 34 anos que deu uma volta ao mundo a pé. Foram 33.000 km percorridos em 3 anos de viagem. Ele publicou no jornal El País, as 23 coisas que aprendeu nesta jornada que abriu seus horizontes. Confira quais são!
1- O corpo humano tem muita resistência
Nacho conta que durante a viagem costumava andar cerca de 45 quilômetros diários, uma distância superior à percorrida por maratonistas. E não só isso: o fez carregando um carrinho pesando 50 quilos, cruzando as mais diferentes e extremas condições climáticas.
“Não deixa de me surpreender que meu corpo tenha se adaptado tão bem às mudanças”. Ele destaca também que sua flora intestinal deve ser digna de um super herói, levando-se em conta todas as comidas que experimentou mundo à fora.
2- As noites na selva são um escândalo
Nacho diz que passar a noite numa barraca na Europa é algo tranquilo: é possível escutar cachorros, gatos, vacas etc; mas a coisa muda de figura em plena selva equatoriana, por exemplo. São sapos coaxando, barulho como se serras cortassem árvores, insetos…
3- As noites na selva são lindas
Se você encontrar a coragem necessária para meter a cabeça para fora da barraca verá um espetáculo com as árvores sendo iluminadas por vagalumes. (Deu pra imaginar?)
4- Uma barraca tem que ser mais organizada que o Palácio de Buckingham
5- Como preparar-se para o ataque de um urso
Ele dormiu em bosques povoados por ursos, mas teve a sorte de nunca encontrar com um. As pessoas insistiam em lhe falar sobre como reagir a um possível ataque. “A maioria disse que o melhor a fazer é deitar-se e fingir-se de morto. Felizmente não posso garantir 100% da eficácia desta técnica”.
6- Google Maps é uma maravilha (ainda que possa melhorar)
Nacho conta que utilizou-se muito de mapas de papel e do Google Maps durante sua viagem, mas que encontrou uma certa carência de informações no Google Maps, especificamente entre as zonas de fronteira entre Índia e Nepal. “Apesar das lacunas, foi um grandíssimo aliado e companheiro de viagem”.
7- É melhor cruzar fronteiras na primeira hora
Nas fronteiras nunca se sabe bem o que você encontrará. Algumas parecem perigosas, outras são zona militar. “É melhor, para reduzir os riscos, atravessá-las cedo para ter tempo de encontrar um local seguro para dormir”.
8- Não faça uma ‘selfie’ na fronteira entre Irã e Armênia
Nacho conta que adotou o hábito de fazer uma selfie a cada fronteira, mas que a prática lhe pregou uma peça na entrada do Irã. “A questão é delicada: se você estiver tirando fotos eles podem confiscar seu equipamento e acusá-lo de espionagem”.
Ele ficou um tempo retido e sentiu que ali poderia ter sido o fim de sua viagem.
9- Se ouvir algo atrás de você, vire-se (para conferir o que é)
O viajante conta que durante uma caminhada em El Salvador ouviu um barulho e ao virar-se era um homem atrás dele, com um enorme facão. “Felizmente os três anos de viagem a pé deixaram-me em boa forma, para que eu pudesse escapar correndo”. Fique alerta durante todo o tempo, indica.
10- Cabeleireiros pré-adolescentes malaios sabem muito de futebol
Nacho que é espanhol, diz não ser muito fã deste esporte, mas bastava mencionar sua nacionalidade na Malásia para automaticamente o assunto vir à tona. “Um dos momentos mais surpreendentes foi quando um cabeleireiro de quinze anos começou a falar toda a formação do Atlético de Madri, citando jogadores cuja existência eu desconhecia”.
11- O mundo das torneiras está repleto de variantes
“Em cada país, as torneiras de chuveiros têm uma lógica própria e você pode gastar cinco minutos tentando descobrir como abri-las. Mas esse não é o único desafio, porque você pode levar mais cinco minutos até descobrir como ativar a água quente”.
12- Não é aconselhável deixar as coisas ao acaso
Em uma viagem do tipo, Nacho diz que é preciso planejamento, pois um mínimo deslize pode sair caro. Você deve calcular as distâncias entre as cidades e quantidades de comida e bebidas transportadas, conhecer os números de emergência, antecipar vistos necessários para entrada em cada país…”As enormes retas nos desertos da Austrália são maiores do que se possa imaginar, então é melhor você dosificar sua água até o último mililitro”, exemplifica.
13- Ainda existem ofícios que imaginava serem extintos
Nacho viu que muitas casas na América Central por exemplo, não têm geladeira e que para abastecer os moradores, um vendedor ambulante (de bicicleta, carroça etc) anda pelas ruas com um enorme bloco de gelo vendendo os pedaços.
14- O ser humano vale a pena
“Muitas pessoas pensam que além de suas fronteiras há algo violento e perigoso, mas depois da minha experiência posso dizer que o mundo está cheio de pessoas maravilhosas. Um exemplo: durante os 1.000 dias de minha viagem, mais de 300 pessoas abriram as portas de suas casa para eu dormir”.
15- Quanto duram os tênis
Em sua viagem, Nacho usou 11 pares de tênis. Foram cerca de 33.000 quilômetros percorridos “podemos concluir que o tempo de vida útil de bons tênis alcança 3.000 quilômetros”.
16- As pessoas mais humildes podem ser as mais generosas
No Irã, Nacho conta que numa noite, um grupo de jovens motoqueiros aproximou-se de sua barraca para incomodá-lo. No dia seguinte, para sentir-se um pouco mais protegido ele pediu a uma família muito humilde que o deixa-se montar a barraca em seu quintal. “Meu anfitrião me obrigou a dormir em sua cama enquanto dormia no sofá. Não havia maneira alguma de fazê-lo mudar de ideia. Isso me fez perceber que temos [europeus] muito ciúme de nossas coisas”.
17 – É possível conviver com as pessoas, mesmo que não fale a mesma língua delas
“Eu só falo espanhol e inglês, mas não tive dificuldades para me comunicar com as pessoas. É possível entender-se com um agricultor sérvio ou um aldeão tailandês através de gestos. Claro que, às vezes você também pode se fazer de mudo e usar o ‘afastamento idiomático’ como mecanismo de defesa, como na fronteira iraniana”.
18- Nem todos os gestos são possíveis
Assim como nós, que levantamos o polegar para dizer algo positivo, Nacho o fez no Irã e ficou sabendo que por lá isso não é bem visto. Ele posou para fotos com um grupo que lhe explicou a questão. Depois de entenderem que não houve má fé do viajante espanhol, prevaleceu o senso de humor e todos posaram para uma nova foto com os polegares pra cima.
19- Algumas formas de cumprimento não são bem vindas
Não há uma forma única para cumprimentar-se. Nos países hindus juntam-se as mãos, já os árabes levam a mão ao coração. “O que não se pode fazer em um país árabe é estender a mão a uma mulher, como tiveram que me explicar em uma ocasião depois que eu o fiz”.
20- Ainda que poucas, não sou a única pessoa a fazer esse tipo de viagem
“Durante meu trajeto cruzei com outras quatro pessoas em mesma situação. O primeiro ia da Romênia até Tarifa [na Espanha]. Infelizmente teve que abandonar [a viagem] na altura da França porque um de seus pés inflamou. O segundo viajava de Singapura a França, mas se viu obrigado a abandonar a jornada na Índia, por culpa da malária. O terceiro, um japonês que cruzava a Austrália, perdi de vista. E, o quarto, que conseguiu cumprir seu objetivo, era um britânico que viajava do Canadá até a Argentina.”
21- O mundo está repleto de contrastes
“Os contrastes são menos perceptíveis quando se viaja a pé, já que você vai se aclimatando pouco a pouco aos diferentes cenários. No entanto, é impossível ignorar por exemplo, o contraste entre dois países como México e Estados Unidos. Ou o contraste entre Indonésia e Austrália. O primeiro, muito mais agitado, povoado e barato; o segundo, mais organizado, despovoado e caro.”
22- Há outras maneiras de se organizar (às vezes mais eficazes)
Ele relatou a experiência que vivenciou com os Aymará na Bolívia. “[por lá] as comunidades são muito menos hierárquicas e burocráticas que as nossas. Em assembleias eles dividem as responsabilidades. Por exemplo, decidindo quem vai lidar com a coleta de lixo durante um período. Esta forma tão próxima de atuar faz com que todos se sintam mais envolvidos e que vivam em maior harmonia com a natureza”.
23- Temos mais afinidades que diferenças
“Nossos costumes, nossas religiões, nossos sistemas políticos podem ser diferentes, mas durante minha viagem cheguei a conclusão de que as pessoas têm mais afinidades que diferenças. Temos a tendência a ressaltar as diferenças e aspectos negativos, mas fazendo um balanço de toda minha aventura chego à conclusão de que [no mundo] predominam as boas pessoas”.
O texto original (em espanhol) está publicado aqui.
Mais sobre a história do viajante, aqui.
Muita coragem, mas tem muita história para contar aos netos
Muito bom o artigo. Top!
Logo farei, talvez não apé
Muito 10. Parabéns!