Blog: Destinos, Fotos e Sabores
No final de 2014 estávamos meio sem planos para as festas de fim de ano e com uma motoca na garagem. Com 12 dias de folga nos perguntamos: até onde podemos ir (e voltar)? Uruguai foi a resposta.
Rota definida e malas prontas, Jonas (meu marido) e eu seguimos viagem.
Relato abaixo o nosso dia a dia para inspirar a todos os motociclistas (e garupatroas) a encararem uma bela viagem sobre duas rodas.
Veja também:
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Como se preparar para uma viagem longa sobre duas rodas – 5000 Km na garupa até o Uruguai
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Brasil – Uruguai: Mapa completo da viagem
PRIMEIRO DIA: Mogi das Cruzes (SP) – Curitiba (PR)
Tudo pronto, subimos na moto numa manhã nublada e antes de completarmos o décimo quilômetro ela veio ao nosso encontro: a chuva.
Paramos num acostamento, vestimos a capa e boa! Boa? 10 horas de viagem até Curitiba debaixo d’água! Essa foi a minha prova de fogo. Meu marido me confessou que achou que eu desistiria depois desse primeiro dia. Mas eu sou digamos, teimosa, rsrs. Se decido do fundo do coração fazer alguma coisa, poucas coisas podem me tirar do caminho.
Primeira ocorrência
Pegamos um congestionamento na Régis Bittencourt como de costume e, passando no corredor entre dois caminhões parados, batemos em algo. Olhamos, a moto parecia bem e não notamos nada na roda do caminhão então, seguimos. Muitos quilômetros mais tarde, notamos que um caminhão atrás de nós dava sinal de luz e buzinava. Ele ia chegando cada vez mais perto então decidimos parar, a princípio pensamos que estava tentando avisar sobre algo errado na moto. Nada disso, nós havíamos quebrado o RODOAR do caminhão com o bauleto lateral no congestionamento. Quando o motorista do Mercedes já bem velhinho veio falar conosco sobre o incidente, ficamos bem receosos (com medo mesmo, rsrs). Mas na real o motorista na sua humildade queria só evitar o prejuízo e no fim nos custou R$50,00 e seguimos todos em paz
SEGUNDO DIA: Curitiba (PR) – Urubici (SC)
Levantamos cedo e sob os olhares incrédulos da família, vestimos as roupas e seguimos viagem e, novidade: NA CHUVA.
Ao verificar a moto meu marido percebeu que o pneu estava murchando e, em plena manhã da véspera de Natal saímos nós à procura de um borracheiro. Por sorte conseguimos resolver o problema da válvula rapidamente e pudemos seguir. Detalhe: o borracheiro nos presenteou com uma chave válvula para caso necessitássemos ajustá-la novamente!!!!
Escolhemos seguir para o Sul pela BR 116 que supostamente teria menos movimento, mas desaconselho! Apesar de ser verdade que a estrada é menos movimentada, a pista é simples e seguir na chuva com muitos caminhões na sua frente e outros “no pau” na sua cola, dá bastante medo! Em alguns momentos dava vontade de parar e deixá-los passar, mas sair da pista molhada com um degrau acentuado entre pista e acostamento é impraticável.
Chegamos em Lages (SC) com o tempo melhor, tinha até um solzinho tímido. Seguimos para Urubici (SC) no início da noite de Natal, molhados, cansados, mas bem felizes por ter cumprido mais uma etapa.
TERCEIRO DIA: Urubici (SC)
Reservamos o terceiro dia para descansar e principalmente para conhecer a Serra do Rio do Rastro. Levantamos cedo, tomamos um café numa padaria e seguimos rumo ao topo da serra. O tempo estava bom, sol, temperatura agradável, mas durou pouco.
Quando estávamos nos aproximando da serra, entramos numa neblina tão forte que mal dava para enxergar 10 m à frente, frustrante. Simplesmente não dava para descer a serra, seria muito perigoso.
Mas paciência, aproveitamos o restante do dia em Urubici e descansamos para seguir em frente no dia seguinte
QUARTO DIA: Urubici (SC) – Rio Grande (RS)
Na noite anterior o Jonas aproveitou para trocar uma idéia sobre que caminho seguir com o dono da Pousada das Flores de Urubici. Seu conselho foi seguirmos pela Serra do Rio do Rastro que mesmo com neblina, ainda seria a melhor opção. E foi sem dúvida a melhor opção de todas: o tempo estava limpo, maravilhoso para descer e aproveitar a vista e as curvas muito acentuadas, foi show!
Seguimos viagem rumo à cidade de Rio Grande, dia puxado, muitas horas de estrada, mas chegamos antes do pôr do sol.
Agradecimento especial ao Marcus (dono da pousada e também motociclista) que gentilmente nos alugou um quarto, mesmo a pousada estando fechada neste período de festas.
QUINTO DIA: Rio Grande (RS) – Punta del Este (Uruguai)
Mais um dia, acordar cedo (mas não tão cedo como o planejado, zzzz), seguimos em frente.
Dia quente, bem quente e para não fugir à regra, pancadas de chuva ao longo do trajeto.
Cruzamos a fronteira no Chuy, trânsito confuso e lento, foi duro aguentar o calorão embaixo da roupa de proteção, mas, andar de moto tem dessas coisas.
No posto de fronteira, é necessário apresentar os documentos (passaportes) e a Carta Verde, necessária par atravessar com veículo.
A Carta Verde é o seguro obrigatório para veículos que ingressam em países do Mercosul. O objetivo do seguro é proteger terceiros afetados por acidentes de trânsito, no período da viagem e pode ser obtida com diversas seguradoras no Brasil.
Chegamos em Punta del Este no final da tarde, com tempo suficiente para encontrar uma lavanderia capaz de lavar e entregar as roupas de proteção secas na manhã seguinte. Com tanto calor e chuva, era impossível seguir em frente sem lavar, o cheiro de cachorro molhado era constante e incômodo demais, rsrsr.
Feito isso, hora de turistar: seguimos para a Casa Pueblo, uma linda construção branca à beira mar que abriga hotel, restaurante e galeria de arte. Da área externa é possível ter uma vista privilegiada do pôr do sol, vale super a pena ir no final do dia.
SEXTO DIA:Punta del Este – Colônia do Sacramento (Uruguai)
Neste dia o trajeto era curto, então aproveitamos uma parte da manhã para dar uma volta pela Praia Brava e visitar o Monumento Los Dedos (ou popularmente, La Mano), do artista chileno Mario Irrazábal .
Com as roupas de proteção lavadas e cheirosas seguimos em frente rumo a Colônia do Sacramento.
Chegamos no meio da tarde, com tempo suficiente de aproveitar a piscina do hotel, que foi nosso prêmio depois de alguns dias de perrengue na estrada.
SÉTIMO DIA: Colônia do Sacramento – Uruguai
Dia de passear e conhecer a charmosa cidade às margens do Rio da Prata. Muito calma, pitoresca e com construções antigas, aproveitamos o bom tempo para caminhar pelas ruas estreitas do centro histórico, comer muito bem e descansar um pouco mais na piscina do hotel.
Dia de se preparar também para o retorno, muitas horas de estrada pela frente.
OITAVO DIA: Colônia do Sacramento (Uruguai) – Rio Grande (RS)
Dia longo pela frente, saímos cedinho com o objetivo de dormir em território brasileiro.
Neste percurso, pegamos a pior tempestade da viagem: chuva muito forte e com ventos. A sorte é que era uma reta só entre o Chuy e Rio Grande e com muito pouco movimento de veículos. Trafegávamos quase sem enxergar quando vimos dois motoqueiros acenando do outro lado da rodovia, sinalizando um local onde estavam abrigados – solidariedade na estrada.
Paramos para esperar a chuva diminuir e trocamos uma idéia sobre o trajeto.
No Chuy, paramos para umas comprinhas num dos Free Shops gigantes de lá, mas infelizmente, pelo espaço limitado da bagagem, não passou de uns perfumes e cremes, rsrs.
Fim do dia, de volta a Rio Grande, dormimos no mesmo hotel, confortável e com preço justo.
NONO DIA: Rio Grande (RS) – Criciúma (SC)
Pegamos a balsa para atravessar de Rio Grande até São José do Norte pela manhã. A travessia com veículos acontece a cada 2 horas a partir das 8:00h e o trajeto dura aproximadamente 30 minutos. Vale a pena chegar na fila meia hora antes do horário da partida para garantir seu lugar.
Esse não foi o caminho planejado inicialmente, mas devido à previsão mau tempo com muitas tempestades no Rio Grande do Sul, desistimos da estadia já reservada em Gramado para a noite de Reveillón e seguimos pelo litoral.
Mais um dia longo, mas desta vez sem chuva. Chegamos em Criciúma perto do anoitecer. Noite de Ano Novo, nos apressamos em comprar algo para comer no posto onde abastecemos a moto e seguimos para o hotel. Tínhamos a intenção de sair e esperar a hora da virada mas o cansaço não permitiu. Mais uma virada dormindo, rsrs, mas não foi a nossa primeira vez.
DÉCIMO DIA: Criciúma (SC) – Curitiba (PR)
Zero arrependimento de ter dormido cedo na noite anterior – acordamos renovados para o nosso nono dia na estrada. Saímos de Criciúma com tempo bom e assim foi até Curitiba.
O sol nos rendeu algumas boas imagens, mas essa é a minha favorita.
DÉCIMO PRIMEIRO DIA: Curitiba (PR) – Mogi das Cruzes (SP)
Voltando prá casa depois de dias na estrada, uma mistura de alívio com a sensação de superação.
Seguimos pelo mesmo caminho feito na ida, um pouco de chuva na serra, mas a essa altura, nem ligamos mais.
BALANÇO GERAL
Faria tudo de novo, uma distância maior e por mais tempo. Me mostrou que podemos vencer uma dificuldade de cada vez e que, de quilômetro em quilômetro se completam 5000 km. Chuva, calor, dor no joelho e na bunda, tudo isso faz parte, mas de maneira nenhuma se sobrepõem à satisfação de completar uma viagem como essa.
A única desvantagem foi que, com tempo contado para voltar, não tivemos oportunidade de conhecer mais cidades e aproveitar melhor o trajeto. Mas quem sabe na próxima?!
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Texto e fotos: Michelle Melo