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                                                                                            A Travessia da Serra da Chapada

 

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          O tempo estava muito bom quando embarcamos na rodoviária de Campinas com destino à Caxambuno sul de Minas.  Estávamos no feriado da páscoa e por isso mesmo nosso ônibus sofreu um atraso de meia hora e só acabou partindo lá pelas 10:30 da noite.  Enquanto o ônibus deslizava suave pela rodovia D. Pedro I, eu tentava sem sucesso dormir um pouco, maldito ar condicionado o jeito foi tirar com muito custo, minha blusa do fundo da mochila. Depois de serpentear por várias cidades do Sul de Minas, finalmente, às 03 da manhã, chegamos à Caxambu. Pequena cidade mineira que faz parte do circuito de estâncias hidrominerais, mas o nosso destino era realmente a cidade de Baependi, uns cinco quilômetros à frente e como o ônibus para lá só sairia às 06 da manhã, tratamos logo de aproveitar o tempo de espera para tirarmos uma soneca e para isto bastou apenas esticar o isolante ali mesmo no chão da rodoviária, e como uns mendigos, escançar o esqueleto.

          Antes das 06 estávamos de novo de pé. Para confirmar o horário do ônibus, perguntei a uma senhora que estava no ponto com uma mala enorme. A mulher não sabia do horário, mas nos contou quase toda sua vida e depois do longo papo, eu ainda a ajudei a colocar sua mala no carro da sua filha que havia vindo buscá-la . A mulher ainda pediu para que sua filha nos levasse até Baependi, coisa que recusamos, não queríamos incomodar, além disso, nosso transporte acabara de chegar e em pouco mais de 20 minutos nos deixou no destino pretendido. 

          Baependi é uma pequena cidade, talvez solitária em outros dias, mas neste feriado da semana santa, estava cheia de jovens que voltavam das festividades religiosas. Nossa intenção era chegar até o Bairro da Vargem, e de lá subir a Serra da Careta até o Pico do Chapéu, atravessar a Serra da chapada e alcançar a Serra do Papagaio e consequentemente o próprio Pico do Papagaio, a 50 km e três dias de Vargem. Depois desceríamos do pico até a cidade de Aiuruoca e de lá de volta para casa, mas nessa travessia descobriríamos que querer não é poder e os acontecimentos do destino se encarregaria de mudar nossa rota.

          Foi na minúscula rodoviária que descobrimos que o bairro da vargem ficava a mais de 40 km de Baependi, e para piorar não havia ônibus para lá por causa do feriado, e mesmo em dias comum, só existe um horário por dia. O jeito era tentar uma carona, mas soubemos que seria quase impossível conseguir uma, pois o local é muito isolado e quase ninguém vai para aquelas bandas. Fomos aconselhados a ir até o povoado de São Pedro, distante 18 km e de lá conseguir que alguém nos levasse até o bairro da vargem. Durante a caminhada à São Pedro havia a possibilidade de conseguirmos a tal carona, pois ônibus para lá também não havia. Diante da situação o jeito foi pôr os pés na estrada, e em pouco mais de dez minutos já deixávamos para trás as últimas casas da cidade e adentramos na área rural. Sobre nossas cabeças sobrevoavam os papagaios que davam nome a tal serra que iríamos tentar cruzar no final da nossa travessia. 

          Caminhávamos em ritmo forte. Parávamos apenas para de vez em quando apreciar a paisagem. Vimos também um filhote de uma cobra coral desfilando com desenvoltura no meio da estrada e notamos ainda que seria mais fácil sermos sequestrado por um disco voador, do que conseguirmos uma carona naquela estrada, perdida naquele fim de mundo. Depois de quase três horas de caminhada e com o sol já nos castigando os miolos, resolvemos tomar um banho em uma pequena lagoa de águas limpas que encontramos à beira da estrada. Depois de um banho gelado e de devorar alguns doces, voltamos a caminhar. Subirmos uma estrada muito íngreme, encontramos um dos poucos moradores de alguns sítios à beira do caminho. Perguntamos a ele se a vila de São Pedro estava muito longe. E ele como bom mineiro nos respondeu. “É logo ali”. Levamos mais uma hora e meia para chegar na única mercearia da vila, onde tomamos uma Coca-Cola de um litro, aliás, a garrafa ainda era de vidro, coisa que não existe mais em São Paulo. 

          São Pedro é um minúsculo povoado, com meia dúzia de casas. Vive atualmente do artesanato de bambu, pois com a crise da Parmalat, praticamente a pecuária se extinguiu. Percebemos que carona seria quase impossível, tentamos então conseguir um carro para nos levar até vargem. No povoado só tinham dois fusquinhas, e assim mesmo um não estava disponível, pois estava servindo a comunidade, que tentavam consertar os canos de água que descem da montanha e abastecem as casas. Seu Antônio, o dono do outro fusca nos disse que estava sem gasolina. Comecei a perceber que não seria fácil chegar ao pé da montanha. Foi quando der repente apareceu mais um carro na localidade, mais um fusquinha, é claro. Explicamos a situação para o dono do carro, e ele disse que não podia nos levar, pois tinha que levar sua filha na festa da cidade. Mas se prontificou a ceder um pouco de gasolina para que seu Antônio nos levasse. Empurramos o velho carro do seu Antônio para fora da garagem, pois não queria pegar. Chamar aquele carro de velho é ofender os velhos. O carro é daqueles que você bate uma porta e cai a outra, o assoalho é todo furado, pneu aparecendo o arame, e por aí vai. Colocamos o combustível e seguimos viagem, mas não para vargem e sim para um sítio no pé do Pico do chapéu. Estávamos seguindo a dica de um caboclo que encontramos no caminho. A estrada era horrível, subidas intermináveis e buracos que quase engoliam o carro. Mas o velho fusca não decepcionou, subiu parecendo um jipe. E foi assim que às duas horas da tarde chegamos finalmente ao pé da montanha. Agradecemos ao seu Antônio e pegamos logo a trilha. Passamos por um sítio, aonde tomamos uma água fresca, pegamos algumas informações e seguimos em frente.

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          Olhando de baixo, parecia ser fácil chegar ao topo da montanha. Como na natureza as aparências sempre enganam, o que lá de baixo parecia cerrado, na verdade era uma densa floresta, que tivemos que rasgar no peito. E quando lá chegamos, descobrimos que teríamos que escalar. Cansados, ralados, picados por insetos e arranhados pelos arbustos, agora teríamos que nos pendurar naquele paredão com aquelas mochilas pesadas nas costas. Como não adiantava nada ficar lamentando, tomamos um pouco de água, abastecemos nossos cantis e feito aranhas nos agarramos à parede e fomos escalando em livre, puxando mato, trepando em pedras escorregadias e nos enfiando em fendas perigosas. A temperatura começou a baixar depressa, a neblina começou a fechar o topo da montanha, não podíamos nos demorar muito pois poderíamos acabar ficando presos e teríamos que dormir ali mesmo. Nos apressamos e chegamos logo ao lado de uma solitária formação rochosa, que provavelmente seria o nariz da grande carranca. Em mais dez minutos emergimos ao topo do Pico do chapéu, ponto culminante ali da Serra da Careta com mais ou menos 2030 m de altitude

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          O topo é bem plano, mas o terreno é meio irregular, por isso demoramos um pouco para achar um local bom para acampar. Montamos nossa barraca e tratamos logo de preparar o jantar. Que aliás, não passou de uma mera sopa, enriquecida com um pedaço de língua de porco, já que o Luís fez o favor de tomar toda água do seu cantil, sobrando assim só a água do meu. Foi por isso que optei pela sopa, além de nos alimentar, podia também nos reidratar. E enquanto nossa sopa cozinhava, aproveitei para vestir minha blusa e também para dar uma olhada no meu mapa e já ir tentado adivinhar o caminho que pegaríamos no dia seguinte. Antes das sete da noite eu já tinha me recolhido em meu saco de dormir, foi um dia longo e cansativo e no outro dia teríamos que acordar bem cedo.

          “Divanei, Divanei, nós vamos cair no abismo, cara “. Com esta frase fui acordado de madrugada pelo Luís, o sujeito estava sonhando e falava dormindo. Voltei a dormir. “Divanei, tem alguma coisa mexendo aí fora “. Desta vez o indivíduo não estava dormindo. Por isso fiquei meio puto. O que ele queria que eu fizesse? Queria que eu me levantasse dali e fosse ver se era uma onça, um urso ou lobisomem rondando nossa barraca? Disse para ele voltar a dormir, pois era só o vento fazendo barulho na barraca e nas panelas.

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          Às cinco da manhã já estávamos de pé, e enquanto esperávamos o sol nascer, tratamos logo de desmontarmos a barraca e arrumarmos as mochilas, pois sabíamos que estávamos umas quatro horas atrasados e tínhamos que tirarmos a diferença apertando nosso passo na trilha. O dia clareou e avistamos de cima da montanha, todos os vales ao redor encobertos por nuvens. Uma visão espetacular, que faz valer qualquer esforço. Quando se está no topo de uma montanha você se sente o dono do seu próprio destino. Parece que somos invencíveis, inatingíveis, deuses de nós mesmo.

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          Nosso próximo passo era descer o pico do chapéu e encontrar a trilha no vale, a trilha que teríamos pego se tivéssemos vindo por Vargem, mas mesmo antes de começar a descer, ouvi uma proposta que me deixou totalmente surpreso. “Divanei, vamos voltar “ Eu sabia que não seria fácil terminar aquela travessia porque estávamos com uma descrição muito rústica e tosca da trilha, mas desistir antes mesmo antes de ter tentado, não fazia parte dos meus planos. Fiquei imaginando qual seria o medo do Luís. Talvez ficar perdido naquele mar de montanhas, talvez não ter forças para terminar a caminhada. São apenas suposições, pois é difícil saber o que se passa na cabeça de alguém numa hora dessa, mesmo sabendo que o meu companheiro de aventuras ainda era debutante na arte de enfrentar desafios incertos.

          Consegui convence-lo a seguir em frente. Descemos o vale e adentramos na mata, encontramos o riacho descrito, aproveitamos para matar a sede e comer alguma coisa. A trilha estava confusa, as vezes não levava a lugar algum, tivemos que usar muito a intuição de trilheiros para podermos sair dali. Ao saírmos da mata uma coisa não nos agradou muito, havia baixado uma neblina na serra e não avistávamos mais nada, se já estava difícil navegar, agora com a neblina seria quase impossível. Por não ser mais um principiante em trilhas, deduzi que ela passaria logo, e assim que o sol esquentasse ela desapareceria. Acertei na mosca, em meia hora já podíamos avistar toda a beleza do Pico do Chapéu, que havíamos deixado para trás. Depois de subir até uma montanha próxima, pudemos avistar toda a extensão da Serra da Chapada, por onde teríamos que seguir durante todo o dia. A navegação continuava complicada, caminhávamos por dedução, as vezes sem termos certeza se estávamos no caminho certo. Mas era só dar uma olhada no mapa, corrigir a direção e continuar seguindo em frente, navegando, mesmo que às escuras.

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          A possível chuva, o vento, a neblina, os pequenos córregos a serem transpostos, aquela dorzinha nas pernas, a preocupação em achar água para o jantar, o local ideal para o acampamento. É impressionante como as preocupações nos lugares selvagens são tão diferentes das preocupações que temos aqui nas cidades. Na natureza nos sentimos menos fúteis, é lá que conseguimos exercitar nossos sentidos por inteiro. Sentimos os cheiros, prestamos atenção no sol e na lua, escutamos o barulho dos pássaros e da água correndo sobre as pedras, é lá que nossas mãos tocam a terra, é lá que sentimos o gosto pela vida, é lá que resgatamos a essência da liberdade, perdida há muito tempo.

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          A nossa jornada continuou. Perde-se aqui, acha-se ali, até tropeçarmos no fabuloso Rio Piracicaba. Não, esse rio não tem nada a ver com aquele famoso rio, daquela famosa música. Esse rio é de águas cristalinas, exuberante, nasce aqui no alto da serra e desce montanha abaixo em cachoeiras gigantescas. Antes de chegarmos nas cachoeiras paramos em suas margens para comermos algo. Sentamos em frente a um rancho, que parece ter sido construído ali apenas para indicar que o lugar tem um dono, que por sinal deve morar a quilômetros dali.

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          A habitação é rústica, feita de madeira, passa um ar de simplicidade, ao lado da casa despenca uma pequena cachoeirinha e nossa trilha seguiu o leito do rio e em vinte minutos alcançamos a Cachoeira do Estoco. Uma queda d’água com uns 100 metros de desnível. E em mais dez minutos chegamos à espetacular Cachoeira do Juju, que despenca quase em queda livre de uma altura de 130 metros. É de lá da cachoeira que também se avista o gigantesco Morro Bicudo, que contornamos sem perceber sua real altura. Tomamos um belo banho de alguns segundos na cachoeira do Juju, a água estava um pouco fria. Voltamos a confusa trilha e para variar nos perdemos de novo, mas também logo achamos o caminho. Claro que para isso foi preciso cruzar mais um mato no peito. Vencido esse pequeno sacrifício, nosso próximo objetivo era encontrar uma trilha, cuja única descrição que tínhamos era a de seguir para sudeste depois que atravessássemos a mata. E assim fizemos, seguimos para sudeste sem desgrudar o olho da bússola, e depois de meia hora morro a cima, encontramos a tal trilha. Comemorávamos em silêncio cada vez que achávamos o caminho certo. Nossa trilha adentrou na mata cerrada e seguiu plana e gostosa de ser trilhada.

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          Enquanto caminhávamos alegres, uma tempestade caiu sobre nossas cabeças. Saímos da mata e avistamos um pequeno sítio em um vale a beira de uma pequena cachoeira. Casa de madeira, chão de terra batida, fogão à lenha, sem energia elétrica ou qualquer outro aparelho que lembre modernidade. Em volta da casa um pequeno estábulo, uma plantação de milho e alguns bois e cabritos. Não há estradas para se chegar até aqui e as distâncias se contam em dias, dias de caminhada. Encontramos aqui dona Maria e seu sobrinho, um menino de cinco anos. Ao chegarmos à casa fomos recebidos com um balde de café para cada um, o que veio bem a calhar, pois estávamos bem molhados. Ficamos sabendo que o marido de dona Maria estava sendo operado da próstata e por este motivo não se encontrava ali. Dona Maria, 65 anos, fala pouco, nota se uma vergonha em seu rosto, talvez pelo total isolamento. Ela nos disse que morre de medo de ficar ali sozinha. Medo de que? Perguntei eu. “ Medo das onças ” respondeu ela. Ela ainda nos contou que são frequentes os ataques de onças aos cabritos e bezerros. Enquanto eu tentava decifrar mais uma vez o confuso mapa, um dos cabritos, que infelizmente a onça não comeu, teimava em tentar comer a minha mochila. Assim que cessou a chuva, nos despedimos da dona Maria e voltamos à trilha. 

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          Atravessamos o riacho no fundo do vale e começamos a subir pela íngreme trilha, que em quinze minutos nos deixou no topo. Meia hora depois chegamos ao mirante, aonde pudemos avistar todo o vale do rio Santo Agostinho. Tínhamos informação de uma trilha perpendicular à trilha principal e realmente a encontramos. Era uma trilha quase toda coberta pela vegetação rasteira, que parecia não levar a lugar algum. Seguimos até uma cerca de arame, conforme a descrição do roteiro. Pulamos o arame e descemos até o vale e demos de cara com o rancho abandonado, o tal Rancho do Rio do Charco. O rancho foi construído para servir de apoio aos viajantes a cavalo que passavam raramente por ali cruzando a serra. Foi ali que encontramos um homem a cavalo, que estava pescando nas águas do riacho. Ele nos levou até o encontro do Rio do Charco com o Rio Santo Agostinho, onde obrigatoriamente teríamos de cruzar e retomar a trilha do outro lado. O rio estava muito cheio devido as fortes chuvas que caiu na parte da manhã. Tentei cruza-lo em vários pontos, mas sem obter qualquer sucesso.

 

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          Já passava das 02 horas da tarde e nada de achar uma solução para o nosso problema. Foi quando decidi me arriscar e saltar de uma margem para outra, aproveitando uma língua de rocha que se estendia até a metade do rio. O máximo que podia me acontecer era cair na água e ser arrastado pela correnteza, ou quebrar a perna no tronco solto do outro lado do rio. Tomei distância e saltei. Foi um pulo certeiro, mal molhei minhas botas. Quando me preparava para ajudar o Luís a fazer a travessia, ouvi uma frase, que foi dita alto e em bom som. “Divanei, eu quero voltar “. Era o próprio Luís, com uma cara de medo e apreensão, com os olhos esbugalhados, meio que perdido do tempo e no espaço, sem saber o que estaria fazendo ali. Havíamos chegados até ali com muita dificuldade, cansados, estávamos muito, mas desistir quando iríamos cruzar a melhor parte da trilha era de doer. Minha vontade era de seguir em frente, mas percebi que seria impossível. O cara já estava psicologicamente abalado, perdera o tesão pela trilha. Arrastá-lo comigo seria perigoso. A melhor decisão seria mesmo voltar, a montanha está ali a milhões de anos e não iria a lugar algum, haveria uma nova oportunidade no futuro e arriscar a vida de alguém apenas para satisfazer seu próprio ego seria desumano. 

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          Desolado, chateado e um pouco decepcionado, voltamos a encontrar a tal estradinha que seguiria para o sul, rumo a Cidade de Alagoa. Quando digo estrada, é só jeito de falar, pois se trata de uma mera trilha um pouco mais larga e que há vários anos não recebe nenhum veículo, e mal consegue dar passagem à cavalos. Fomos seguindo nossa viagem pelos altos e baixos da serra, cruzando pequenas matas e pequenos riachos de águas transparentes. O lugar era bonito, mas como eu estava um pouco desanimado por ter abandonado a trilha, pouco curti. O que eu queria naquele momento era arrumar um lugar para tomar um banho e comer uma comida quente.

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          Finalmente, depois de penosa caminhada de quase 05 horas chegamos ao vale que dava acesso a cidadezinha, e em alguns minutos chegamos ao nosso destino. Alugamos um quarto em uma pensão e comemos uma maravilhosa comida mineira. Dormimos como poucas vezes havíamos dormidos em nossas vidas. 

          Alagoa é uma minúscula cidade, praticamente um vilarejo. Meia dúzia de ruas e não mais que isso. Seu nome vem de uma grande lagoa que existia tempos atrás no alto da cidade e que hoje também não existe mais. Em volta, vária montanhas dão um charme todo especial ao lugar, mas sem dúvida alguma sua maior atração é sua gente. Povo hospitaleiro, cordial, e que tratam as pessoas de fora como se fossem da sua própria família. Poucos foram os lugares por onde passei, nas viagens que já fiz, e que eu encontrei seres humanos tão fabulosos e maravilhosos. Se eu tivesse passado por estas serras distantes e beleza nenhuma tivesse encontrado, só o contato com estes últimos representantes da verdadeira espécie humana, a viagem já teria valido a pena.

 

          Acordamos pela manhã renovados, e fomos logo tentar saber o horário do ônibus para Itamonte, cidade a 40 km de Alagoa. Descobrimos que neste lugar distante de tudo só existe ônibus uma vez por dia, e hoje, domingo, ele sairia as 13:30 horas. O jeito foi dar uma volta na cidade atrás de outro meio de transporte. Depois de andarmos muito por quase dois minutos, chegamos na saída da cidade, ou entrada, e conseguimos uma carona até a cidade de Itamonte.

 

          A estrada que liga as duas cidades é de terra e toda esburacada, e o trajeto leva mais de duas horas. No caminho descobrimos que o senhor que nos deu a carona, morava em Cajamar, perto da capital paulista. Acho que por ter ido com a nossa cara ele nos ofereceu mais uma carona até São Paulo. E depois de umas cinco horas de viagem adentramos na quarta maior cidade do mundo. Ele nos deixou em frente à rodoviária, local aonde embarcamos direto para Sumaré, de volta para casa.

 

          Desci na rodovia Anhanguera, que fica a 2 km de casa, e enquanto caminhava ia pensando em tudo que havíamos passado. Eu não estava mais frustrado, havia aprendido uma lição, saber desistir na hora certa não era sinal de fracasso, mas sim uma virtude. Aprendi a respeitar o limite dos outros, aprendi que não se pode decidir tudo sozinho e que a opinião dos outros também conta, afinal de contas, como já disse, a trilha sempre vai estar lá e sempre haverá uma nova oportunidade.

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                                      Divanei Goes de Paula- abril/2004

OBS: Um mês depois voltei para tentar concluir a travessia por toda a Serra do Papagaio, atravessei o Rio do charco e subimos ao espigão da Serra, mas ao chegarmos ao Retiro dos Pedros fomos apanhados pelo mal tempo e sem enchergar um palmo à frente do nariz , ficamos vagando sem rumo na serração e fomos obrigados a navegar com bússola até que um dia e meio depois atingímos o próprio PICO DO PAPAGAIO, mas na sua parte inferior, aonde encontramos uma trilha que nos devolveu à civilização , no Vale do Matutu. Hoje cruzar essas serras tornou-se brincadeirinha de criança, novas tecnologias, mapas de satélites, cartas modernas e gps ao alcanse de todos.

 

 

 

 

 

 

 

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  • 6 meses depois...
  • Membros de Honra

Não sei como esta linda travessia, talvez uma das mais completas da região sudeste ainda não se tornou popular.Muita gente conhece,mas poucas pessoas realmente a fizeram. Segue algumas fotos que só agora consegui digitalizar, quem sabe alguem se anima.

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  • 11 meses depois...
  • Membros de Honra

Graaande Divanei!

Mais uma vez um relato seu foi muito importante no planejamento de uma travessia:

Travessia da Serra do Papagaio - Minas Gerais

 

Muito obrigado meu querido.

 

E isto:

"A possível chuva, o vento , a neblina , os pequenos córregos a serem transpostos , aque-

la dorsinha nas pernas , a preocupação em achar água para o jantar , o local ideal para

o acampamento . É impressionante como as preucupacões nos lugares selvagens são tào

diferentes das preocupações que temos aqui nas cidades . Na natureza nos sentimos me-

nos fúteis , é lá que conseguimos exercitar nossos sentidos por inteiro . Sentimos os chei-

ros , prestamos atenção no sol e na lua , escutamos o barulho dos pássaros e da água

correndo sobre as pedras , é lá que nossas mãos tocam a terra , é lá que sentimos o gosto

pela vida , é lá que resgatamos a essência da liberdade , perdida a muito tempo."

Foi muito singelo e verdadeiro.

 

::cool:::'> Abraço.

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  • Membros de Honra
CARACA ::carai:: !!

pow tava olhando a fotinha do divanei do rancho e tava pensando caraca onde é que tava este rancho que não vimos? ai veio sandrão com a resposta !! destruição total em 6 anos ::quilpish:: !!!!!!!!!

 

Desconsiderando o fato de que a maior parte da casa foi desmontada pela ação humana me lembrou “O Mundo Sem Nós” Bruno.

 

[mostrar-esconder][picturethis=http://www.mochileiros.com/upload/galeria/fotos/20101022161104.jpg 223 334 ][t1]O mundo sem nós - Alan Weisman[/t1]

 

Qualquer um cuja mente seja açodada por um mínimo de imaginação já conjeturou um mundo sem seres humanos. O que aconteceria se nós, humanos - cuja passagem pelo planeta Terra ocupa um ínfimo espaço no calendário global - simplesmente desaparecêssemos? Que catástrofes adviriam desta ausência? E que benefícios? É este o pano de fundo do livro “O Mundo Sem Nós” (The World Without Us), do jornalista Alan Weisman (veja aqui o site do livro).

 

Weisman traça um cenário aterrador sobre a influência daninha que o homem exerce sobre o planeta. Em suas 382 páginas, o livro deixa claro que, longe de ser o provedor que se imagina, o homem tem colaborado para o envenenamento contínuo de sua casa e, extinto, apenas interromperia este processo, fazendo com que a natureza, pouco a pouco, voltasse a ocupar os espaços da qual foi expulsa pelo “progresso”.

 

Diante da nefasta ação humana sobre o meio ambiente, há quem defenda que os seres-humanos tomem a iniciativa de deixar em paz a natureza. É o caso do “Movimento de Extinção Humana Voluntária” (VEHMT), que pretende suprimir a raça humana ao, voluntariamente, deixar de procriar, permitindo à biosfera terrestre retornar à boa saúde. Pode parecer maluquice, mas o movimento é sério e, diante da destruição que proporcionamos, tem fundamento. “Fazer tornar a Terra ao seu esplendor natural e encerrar o sofrimento inútil da humanidade são pensamentos positivos”, afirma o VEHMT.

 

Boa parte do livro se dedica a explicar o que aconteceria com o mundo caso os seres humanos fossem extintos. A partir de entrevistas com zoólogos, biólogos, engenheiros e paleontólogos, Weisman mostra que pouca coisa resistiria à ação do tempo e das forças da natureza, e revela como nosso “lixo tecnológico” continuará envenenando o meio ambiente nos milhões de anos vindouros.

 

Com uma narrativa recheada por pesquisas de campo, Weissman explica como nossa imensa infra-estrutura irá entrar em colapso e, finalmente, desaparecer juntamente com qualquer vestígio de nossa presença no planeta; como nossos artefatos do dia a dia se transformarão em fósseis; como canos e fios de cobre serão transformados em veios minerais; porque algumas de nossas construções poderão ser os últimos vestígios de arquitetura e como o plástico, as esculturas de bronze, as ondas de rádio e algumas moléculas criadas pelo homem poderão ser os últimos sinais de nossa presença no universo.

 

Em “O mundo sem nós”, descobrimos como as selvas de asfalto serão substituídas por selvas verdes em meios às cidades em ruínas; como as fazendas tratadas de forma orgânica ou química irão se transformar em áreas selvagens; como bilhões de pássaros surgirão e baratas sucumbirão sem nossa presença. Em lugares esquecidos ou abandonados pelos humanos (como um pequeno fragmento das florestas primevas da Europa, uma zona desmilitarizada entre as Coréias e Chernobyl), Weisman revela a tremenda capacidade de recuperação de nosso planeta.

 

Sem a presença humana, em dois dias o metrô de Nova Iorque seria inundado devido à paralisação do bombeamento de água. Sete dias depois, a reserva de emergência dos geradores a diesel que mantém em funcionamento o resfriamento de usinas nucleares chegaria ao fim. Passado um ano, um bilhão de pássaros deixaria de ser abatidos quando as luzes de sinalização das torres de rádio e comunicação apagassem e parassem de interferir em seu sistema de orientação. Dez anos depois de o homem desaparecer, o teto de celeiro com um buraco de meio metro quadrado, que já estava vazando na década anterior, já teria desaparecido há tempos. Passados cem anos, populações de pequenos predadores, guaxinins, doninhas e raposas diminuiriam graças à competição com um legado humano: s imensamente bem-sucedidos e ferozes gatos domésticos. Em mais 200 anos, as grandes pontes teriam desabado e barragens em todo o mundo destruídas. Cidades localizadas na foz de rios teriam sido destroçadas. Depois de alguns milhares de anos, qualquer parede de pedra que ainda estivesse de pé no hemisfério norte finalmente cederia ao frio.

 

Seriam necessários 35 mil anos para que o chumbo depositado durante a “era das chaminés” finalmente fosse removido do solo (para o Cadmium serão necessários 75 mil anos). Pelo menos 100 mil anos depois da Terra ter se livrado de nós, o gás carbônico (CO2) terá voltado a níveis pré-humanos. O plástico, que tão orgulhosamente ostentamos em embalagens e produtos de todos os gêneros, precisará de pelo menos 100 mil anos para ser devorado por micróbios. Milhões de anos terão se passado antes de nossa presença física ter sido totalmente apagada. Esculturas de bronze ainda serão reconhecíveis em 10,2 milhões de anos. Ainda assim a vida na terra continuará em formas que jamais sonhamos pelos próximos bilhões de anos, até que nosso pequeno planeta seja queimado por um sol agonizante que, ao se expandir, englobará os planetas que o circundam (o que deve ocorrer daqui há cerca de cinco bilhões de anos). Ainda assim, o legado humano permanecerá para sempre em nossos programas de rádio e TV, cujas ondas, fragmentadas, ainda estarão viajando pelo universo.

 

O mundo sem nós

 

1 dia - Combustível fóssil continuará alimentando usinas (em sua maior parte, automatizadas) por algumas horas. Também em algumas horas, a energia elétrica começará a entrar em colapso. Praticamente todas as usinas dependentes de combustível fóssil irão desligar.

2 dias - Após 48 horas, os reatores de usinas nucleares entrarão em modo de segurança automaticamente. Turbinas de todos os tipos começarão a falhas devido a falta de lubrificação. Apenas áreas dotadas de energia provida por hidrelétricas ou energia solar contarão com eletricidade.

3 dias - Metrôs que precisam operar com sistemas de bombeamento de água estariam inundados em menos de 36 horas.

10 dias - Comida começaria a apodrecer nas prateleiras de supermercados e nos refrigeradores. Enquanto houver água derretida proveniente de refrigeradores e comida deixada à vista, os animais de estimação permanecerão nas proximidades de suas casas. Logo, no entanto, eles terão de procurar alimento em outros lugares. Àqueles que conseguirem sair de casa irão competir pela sobrevivência. Cães e gatos criados por meio de manipulação genética não encontrarão um nicho neste competitivo ambiente e estarão entre os primeiros a perecer. Por exemplo, as pernas curtas e boca pequena de bulldogs e terriers serão problemas para estas raças. Animais aprisionados em zoológicos morrerão de fome e sede.

6 meses - Pequenas formas de vida selvagem não vistas com freqüência em meio à civilização – coiotes, gatos selvagens, lobos, veados etc – começarão a habitar os subúrbios das cidades. Os ratos já terão consumido nossos suprimentos estocados e começarão a deixar as áreas urbanas rumo às áreas selvagens.

1 ano - Plantas começarão a brotar em meio a rachaduras no asfalto de estradas, ruas, passeios e construções. As últimas áreas com eletricidade cederão espaço a escuridão.

Barragens começarão a transbordar e se romper. Incêndios causados por raios terão destruído grandes áreas urbanas e selvagens. Várias espécies de animais terão avançado sobre as cidades.

5 anos - A flora terá coberto a maioria das áreas urbanas com grama e árvores. Estradas serão cobertas por vegetação e, devido a falta de manutenção, desaparecerão.

20 anos - As ruínas de Prypiat, na Ucrânia, abandonadas em 1986 após o desastre de Chernobyl, têm sido usadas como exemplo para demonstrar a decadência de áreas urbanas abandonadas após 20 anos sem a presença humana. Apesar dos altos níveis de radiação, muitas populações de animais, além de uma vasta flora, têm florescido nestas áreas.

25 anos - O mar terá avançado sobre algumas áreas urbanas como Londres e Amsterdã, que são mantidas secas graças à engenharia. Janelas em prédios altos terão sido destruídas devido ao ciclo de frio e calor e devido à falta de manutenção nos seladores. Devido à falta de ajustes, satélites começarão a cair de volta à Terra.

40 anos - Muitas construções de madeira terão se incendiado, apodrecido, ou consumidas por cupins. Árvores e vinhas terão se infiltrado e crescido em meio ao que restasse das construções de alvenaria, já bastante enfraquecidas pela ação dos elementos.

50 anos - Estruturas de metal começarão a mostrar sinais de negligência. A pintura, que normalmente protege estas estruturas, já não existirá, expondo o metal aos elementos e permitindo a corrosão.

75 anos - Muitos dos 600 milhões de automóveis que se espalham pelo globo terão sido reduzidos a escombros irreconhecíveis. Alguns veículos localizados em áreas de clima mais ceco não terão sofrido o efeito da corrosão de forma tão flagrante e ainda serão reconhecíveis.

100 anos - Grandes pontes terão desabado devido à corrosão dos cabos de suporte. Muitas estruturas construídas pelo homem terão desabado em um período de 100 a 10 mil anos.

150 anos - Muitas estradas e metrôs começarão a desabar sobre túneis inundados. Edifícios terão sido totalmente tomados por plantas, criando uma paisagem selvagem em um ecossistema vertical. Descendentes dos cães domésticos terão cruzado com lobos.

200 anos - Grandes estruturas como o Empire State Building e a Torre Eifel terão desabado devido à ação da corrosão, das plantas e da água que terá desestabilizado suas fundações. Todos os livros e vídeos terão desaparecido sob a força do mofo.

500 anos - Itens feitos com concreto começarão a ruir devido à expansão das barras de ferro que os reforçam.

1000 anos - A maioria das cidades modernas terão sido destruídas e/ou cobertas pelas florestas. Os amontoados de escombros se transformarão em montanhas e colinas. Rios voltarão as suas margens originais. Haverá poucas evidências de que uma civilização humana tenha existido a Terra. Certas estruturas feitas de tijolos de pedra ou concreto, como as Pirâmides do Egito ainda estarão de pé com danos mínimos.

10.000 - anos As construções de concreto cederão devido à erosão e aos efeitos cumulativos da ação sísmica.

Neste período, qualquer evidência substancial da humanidade terá desaparecido. Apenas algumas coisas ainda permanecerão, como os pedestais de granito ou concreto sólidos da Estátua da Liberdade. As Pirâmides de Gizé ainda estarão de pé, embora bastante enterradas na areia do deserto. Porções do Grande Muro da China também permanecerão visíveis. As faces do Monte Rushmore ainda estarão reconhecíveis por centenas de milhares de anos. Nossos ossos, escombros, plástico e poliestireno (isopores) poderão ser os últimos sinais da humanidade.

 

Alan Weisman é autor de cinco livros, incluindo “O mundo sem nós”. Seu trabalho já apareceu na Harpers, New York Times Magazine, Los Angeles Times Magazine, Discover, Atlantic Monthly, Condé Nast Traveler, Orion e Mother Jones. Weisman tem um programa na National Public Radio e na Public Radio International e é produtor sênior da Homelands Productions, organização jornalística que produz séries independentes de documentários para a rádio pública. Ele leciona jornalismo internacional na University of Arizona.

 

:arrow:Fonte: Escrevinhamentos

 

Este livro inspirou muitos outros ensaios com esta temática, inclusive um documentário "O Mundo Sem Ninguém" e o filme “Eu Sou a Lenda” com o Will Smith.

 

Leiam mais sobre o assunto na Scientific American Brasil:

http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/uma_terra_sem_humanos.html

 

Abraços. ::otemo::[/picturethis][/mostrar-esconder]

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Sandro,

Na segunda vez que passei por lá tive o imenso prazer de dormir no rancho. Chovia desgraçadamente e os habitantes nos convidaram para passar a noite lá. O senhor , dono da casa estava se recuperando de uma operação na próstata. Acenderam uma fogueira dentro da cozinha para que pudessemos secar as nossas roupas. As pessoas que encontrei por la, naquela região, me fazem ainda hoje choarar de saudades. veja a foto com meu primo, junto a cozinha :

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